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CALÚNIA

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou


divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

Crime comum, de forma livre, uni ou plurissubsistente, instantâneo,


unissubjetivo (em regra), comissivo, de dano e formal.

OBJETO JURÍDICO

A honra objetiva (reputação) do ofendido.

Objeto material: a pessoa ofendida.

NÚCLEO DO TIPO

Caluniar: atribuir a alguém a prática de fato falso definido como crime.

* O tipo penal é redundante: “caluniar alguém, imputando-lhe”, pois o


imputando-lhe equivale ao caluniar algúem, e os dois significam atribuir.

O fato deve ser criminoso, a atribuição de contravenção penal não caracteriza


calúnia, mas difamação. Também, se houver a abolitio criminis do fato
imputado, não haverá mais calúnia, mas poderá ser difamação.

O fato imputado deve ser determinado e atribuído a pessoa certa e


determinada, significa que deve haver uma situação concreta, com autor
definido, objeto e circunstâncias (ex: Schwazenildson matou Antônio com 3
tiros na Rua Final Feliz ontem à noite, por volta das 8 da noite. Portanto, não
basta chamar alguém de assassino ou de ladrão, o que seria crime de injúria. O
fato deve ser falso e verossímil (parecer verdadeiro). Dizer que um cego
matou 20 pessoas num tiroteio, não será verossímil.
Resumindo, o fato deve ser falso, criminoso, determinado, verossímil
e atribuído à pessoa certa e determinada.

Elemento normativo do tipo: “falsamente”. E a falsidade pode ser sobre o


fato (o crime não aconteceu) ou sobre o envolvimento no fato (houve crime, mas
foi cometido por outrem). Portanto, se a imputação for verdadeira, a conduta
será atípica, ou se a imputação é falsa, mas a pessoa acredita estar falando a
verdade (age de boa-fé), haverá erro de tipo, então não terá cometido calúnia.

TIPOS DE CALÚNIA

a) Inequívoca ou explícita: ofensa direta, que não deixa dúvidas sobre a vontade
de atingir a honra alheia. Ex: Anteontem, James invadiu a casa de Mario.

b) Equívoca ou implícita: ofensa velada, discreta, feita de forma desfarçada. Ex:


eu também seria tão rico quanto o prefeito A, se eu tivesse desviado dinheiro
público durante todos esses anos.

c)Reflexa: se calunia uma pessoa atribuindo falsamente a prática de fato


criminoso também a pessoa diversa. Ex: João ofereceu 100 reais para o
examinador do Detran para que ele o passasse no exame prático.

CONSUMAÇÃO

Quando a falsa imputação de crime chega ao conhecimento de terceiros (de pelo


menos 1 pessoa), isto é, alguém que não seja a vítima nem o autor.
Independente do conhecimento da vítima. A honra do ofendido pode ou não ser
lesionada (crime formal).

Tentativa: a calúnia verbal não admite tentativa, pois é crime unissubsistente.


Já na calúnia por escrito, é possível o conatus. Ex: carta extraviada.

SUJEITOS

Ativo: qualquer pessoa. * O advogado também pode cometer.

Passivo: qualquer pessoa. * Pessoa jurídica pode ser vítima quando o fato for
relativo a crime ambiental.

ELEMENTO SUBJETIVO

O dolo + animus calumniandi (intenção de ofender a honra da vítima).

Se o agente não tem certeza acerca da veracidade da informação, mas ainda sim
a divulga, está agindo com dolo eventual (assumindo o risco), portanto
responde por calúnia.

SUBTIPO DA CALÚNIA (§ 1º)


Pune-se aquele que fica sabendo da imputação falsa e transmite a informação a
outras pessoas. Essa modalidade não admite o dolo eventual, só se pune
aquele que sabe que a imputação é falsa.

Propalar: expor verbalmente.

Divulgar: expor por qualquer meio que não seja o verbal (ex: gestos, cartazes,
imagens, etc.).

Ainda, a propagação deve se dirigir a diversas pessoas para configurar o


crime. Não basta o conhecimento de uma pessoa apenas. Não admite
tentativa (doutrina majoritária), por ser crime unissubsistente (ou o agente
expõe o que ouviu, ou fica quieto). Porém Cléber Masson entende que quando o
agente divulga, pode haver tentativa (ex: o agente coloca uma imagem caluniosa
no facebook, mas a vítima denuncia a imagem antes que outros a vejam).

CALÚNIA CONTRA OS MORTOS (§2º)

A falsa imputação deve se referir a fato criminoso correspondente ao tempo em


que a pessoa estava viva. Visa proteger a memória da boa reputação do ofendido
e o interesse da família em preservar a dignidade de seu membro falecido. As
vítimas do crime são o cônjuge e os familiares do morto, que não pode
ser vítima pois não tem mais direitos a serem protegidos.

EXCEÇÃO DA VERDADE (§ 3º)

Em regra, se a imputação for verdadeira, não há crime. Mas a falsidade da


imputação é presumida (presunção relativa, chamada presunção iuris
tantum), presunção que admite prova em contrário.

A exceção da verdade é o instrumento para viabilizar a prova da verdade, e tem


fundamento no interesse público de saber a real responsabilidade criminal de
um sujeito, para que ele seja punido. Ela é incidente processual e
prejudicial, pois impede a análise do mérito do crime de calúnia, devendo ser
solucionado antes da ação penal. É também medida facultativa de defesa
indireta, pois o acusado pode usá-la ou não, e se defender diretamente (ex:
alegando animus jocandi).

* Se algúem imputou fato criminoso a uma autoridade pública com prerrogativa


de foro, e foi processada por calúnia, a admissibilidade da exceção da verdade
será decidida pelo juízo originário em que tramita a ação penal, e sendo
admitida, esse juízo remeterá os autos para o Tribunal competente, este sim,
que irá julgar o mérito da exceção da verdade. Esta é a jurisprudência do STJ.

Hipóteses em que não se admite a exceção da verdade:

a) Inciso I: nos crimes de ação penal privada, como muitas vezes a publicidade
da persecução penal pode ser mais prejudicial à vítima do que a impunidade do
autor do crime, não se admite a exceção da verdade para a calúnia referente a
um desses crimes se o agente não tiver sido condenado com trânsito em julgado.
Ora, se o indivíduo que está sendo processado por calúnia pudesse provar que
sua imputação de crime é verdadeira, isso seria prejudicial à vítima do crime
imputado, que sofreria constrangimento em virtude da publicidade do fato.

Então, se a vítima escolhe não propor a ação penal (pois é seu direito propor ou
não), a admissão da exceção da verdade no processo de calúnia seria uma
violação de sua vontade de manter em segredo um assunto pessoal. E ainda que
a vítima do crime de ação privada a entre com a ação penal, será necessária a
condenação por sentença irrecorrível para a admissibilidade da exceção da
verdade, em virtude do princípio da presunção de inocência.

b) Inciso II: em virtude de o julgamento do Presidente da República em


infrações penais comuns ser de competência do STF, e somente se a acusação
for admitida por 2/3 da Câmara dos Deputados, é que não se admite a exceção
da verdade. Se fosse admitida, implicaria no descumprimento de normas
constitucionais, pois se estaria tentando provar a responsabilidade penal do
Presidente da República numa ação penal comum e sem a aprovação da
Câmara. E quanto ao chefe de governo estrangeiro, a não admissão da exceção
da verdade se justifica nas imunidades diplomáticas, pois essas pessoas são
imunes à jurisdição brasileira, respondendo penalmente apenas em seus países.

* Vicente Greco entende que esse inciso não foi recepcionado pela CF/88, pois
devido à plenitude do regime democrático vigente, a exceção da verdade não
admitiria restrição.

c) Inciso III: se justifica em respeito à garantia constitucional da coisa julgada,


que torna impossível a revisão criminal pro societate. Um mero incidente
processual não poderia incriminar alguém absolvido depois de cumprido todo o
devido processo legal e ter havido coisa julgada. Porém, se o que houve foi a
extinção da punibilidade quanto ao crime imputado, será admitida a exceção da
verdade, já que não houve julgamento de mérito.

DIFERENCIAÇÃO DA DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Na denunciação caluniosa (art. 339) o agente atribui falsamente a prática de


crime a alguém, perante autoridade pública, fazendo movimentar a máquina
estatal por meio de investigação policial, processo judicial, instauração de
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra a vítima inocente do crime imputado. Esse crime é mais
grave, pois atinge a Administração da Justiça, já a calúnia atinge a honra.

DIFERENÇA DO CRIME CONTRA A SEGURANÇA NACIONAL

Se o crime for cometido contra os seguintes sujeitos passivos, incidirá a lei


7.170:
Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da
Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato
definido como crime ou fato ofensivo à reputação.

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, conhecendo o caráter ilícito da


imputação, a propala ou divulga.

QUESTÃO DE CONCURSO: EXISTE CALÚNIA COM A IMPUTAÇÃO


VERDADEIRA DE FATO DEFINIDO COMO CRIME?

Sim, existe nas hipóteses em que não se admite a exceção da verdade.

AÇÃO PENAL

Ação penal privada.

Exceções:

a) Quando praticada contra Presidente da República ou chefe de


governo estrangeiro: ação penal pública condicionada à representação do
Ministro da Justiça.

b) Crime contra funcionário público em razão de suas funções: ação


penal pública condicionada à representação do ofendido ou ação penal privada.
A súmula 174 do STF deu ao funcionário público a chance de escolher com qual
ação penal ele deseja entrar, para não obrigá-lo a arcar com os custos de
constituir um advogado para proteger sua honra, que foi atacada enquanto
desempenhava sua função pública. OBS: A ofensa àquele que deixou de ser
funcionário público é hipótese somente de ação privada.

COMPETÊNCIA

Em regra: Jecrim

Quando cometido contra índio envolvendo assunto relacionado a direitos


indígenas: Justiça Federal

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