DIREITO
APS
BASES DAS RELAÇÕES PRIVADAS
RIO DE JANEIRO
2021
ANÁLISE DE CASO - PRIMEIRO CASO: Indenização por dano moral ao nascituro
por morte do pai: STJ, REsp 931.556/RS, Relatora: Min. Nancy Andrighi, Julgamento:
17/06/2008. Órgão Julgador: Terceira Turma, Data da Publicação/Fonte DJe
05/08/2008.
O nascituro é aquele que irá nascer, portanto, trata-se do ser que já foi concebido, mas
que ainda está no ventre materno. Na decisão analisada, é possível verificar que é reconhecido
os direitos referentes à proteção jurídica do nascituro, indicando que o mesmo é titular direito
e viabilizando, portanto, dano moral devido a morte de seu pai. De acordo com a ministra
Nancy Andrighi, relatora do caso:
O artigo 542 do Código Civil diz que “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita
pelo seu representante legal”, identificando, dessa forma, a possibilidade de doação ao
nascituro. Já o artigo 1.779 do Código Civil fala sobre a especificação da curatela do mesmo,
ao afirmar que “Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e
não tendo o poder familiar”. Podemos citar, ainda, o artigo 6º da Lei 1.1804/2008, o qual
prevê alimentos gravídicos ao nascituro, sendo os mesmos convertidos em pensão alimentícia
após o nascimento com vida: “Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz
fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as
necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré. Parágrafo único. Após o
nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em
favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão”.
Esses artigos citados, dentre outros positivados, nos trazem respaldo e fundamentação
para a teoria concepcionsita, que seria uma posição mais avançada dentro do Ordenamento
Jurídico no que tange os direitos do nascituro, uma vez que, ao tratarmos do nascituro,
estamos afirmando, portanto, o início da personalidade desde sua concepção,
independentemente de seu nascimento com vida. De acordo com Gagliano e Pamplona Filho
(2019): “Qualquer atentado à integridade do que está por nascer pode, assim, ser considerado
um ato obstativo do gozo de direitos”.
ANÁLISE DE CASO - SEGUNDO CASO: Retificação de registro civil para inclusão de
matronímico: STJ, REsp 1.393.195/MG, Relator: Min. Marco Buzzi, Julgamento:
27/09/2016, Órgão Julgador: Quarta Turma, Data da Publicação/Fonte DJe 07/11/2016.
O filme “O Círculo” traz à tona justamente esse debate acerca da violação dos direitos
da privacidade e da intimidade, quando um tipo de rede social passa a ter acesso à vida íntima
e privada dos cidadãos nela inscritos, e possui uma proposta de vigilância constante através da
elaboração de câmeras discretas e portáteis que não precisam de autorização para filmar,
gravar áudios, realizar conhecimento fácil e adentrar em todos os aspectos da vida do cidadão.
Essa questão exprime, portanto, a ideia de abuso da personalidade jurídica, uma vez que
através do “Círculo” é garantido nada além de uma ampla relação e interação entre seus
usuários, entretanto, na realidade, a organização perpassa todos os limites entre as esferas
pública e privada, ferindo gravemente os direitos dos cidadãos. Esse experimento acaba
resultando, em determinado momento do filme, na morte de uma pessoa que não fazia parte
do “Círculo”, culminando num ato ilícito, conforme explicitado nos artigos 186 e 187 do
Código Civil:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito;
também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes”.
Conseguimos verificar que não se trata de uma realidade muito distante da qual
vivemos atualmente, uma vez que desde o advento da internet e das redes sociais, a
privacidade de cada um tem ficado cada vez mais exposta e há cada vez mais formas de
explanação de informações pessoais sobre a vida privada de cada pessoa. De acordo com
Gagliano e Pamplona Filho (2019):
BRASIL. Supremo Tribunal da Justiça. REsp 1.393.195/MG. Relator: Ministro Marco Buzzi.
Julgamento: 27 de setembro de 2016.
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil:
Parte Geral. Saraiva; Edição: 21ª de 2019.