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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR

DIREITO

BARBARA LOPES SOARES

APS
BASES DAS RELAÇÕES PRIVADAS

RIO DE JANEIRO
2021
ANÁLISE DE CASO - PRIMEIRO CASO: Indenização por dano moral ao nascituro
por morte do pai: STJ, REsp 931.556/RS, Relatora: Min. Nancy Andrighi, Julgamento:
17/06/2008. Órgão Julgador: Terceira Turma, Data da Publicação/Fonte DJe
05/08/2008.

O nascituro é aquele que irá nascer, portanto, trata-se do ser que já foi concebido, mas
que ainda está no ventre materno. Na decisão analisada, é possível verificar que é reconhecido
os direitos referentes à proteção jurídica do nascituro, indicando que o mesmo é titular direito
e viabilizando, portanto, dano moral devido a morte de seu pai. De acordo com a ministra
Nancy Andrighi, relatora do caso:

“O dano moral é, repise-se, consequência do fato danoso. A potencialidade lesiva


deste confere à análise do dano moral um mínimo de objetividade, em contraste com
o absoluto subjetivismo – donde imprestabilidade – da discussão sobre a extensão
íntima da dor sofrida. E, nesse ponto, é forçoso admitir que esta – a gravidade da
ofensa – é a mesma, ao contrário do abalo psicológico sofrido – que não é
quantificável – seja ele suportado por filho já nascido ou nascituro à época do evento
morte”.

O artigo 2º do Código Civil preconiza que “A personalidade civil da pessoa começa do


nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”,
condicionando, portanto, o início da personalidade ao nascimento com vida.
Tradicionalmente, a doutrina segue a teoria natalista, levando a entender que o nascituro
possuiria apenas mera expectativa de direito. Entretanto, o Ordenamento Jurídico reconhece e
concede ao nascituro diversos direitos, conforme veremos a seguir.

O artigo 542 do Código Civil diz que “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita
pelo seu representante legal”, identificando, dessa forma, a possibilidade de doação ao
nascituro. Já o artigo 1.779 do Código Civil fala sobre a especificação da curatela do mesmo,
ao afirmar que “Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e
não tendo o poder familiar”. Podemos citar, ainda, o artigo 6º da Lei 1.1804/2008, o qual
prevê alimentos gravídicos ao nascituro, sendo os mesmos convertidos em pensão alimentícia
após o nascimento com vida: “Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz
fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as
necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré. Parágrafo único. Após o
nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em
favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão”.

Esses artigos citados, dentre outros positivados, nos trazem respaldo e fundamentação
para a teoria concepcionsita, que seria uma posição mais avançada dentro do Ordenamento
Jurídico no que tange os direitos do nascituro, uma vez que, ao tratarmos do nascituro,
estamos afirmando, portanto, o início da personalidade desde sua concepção,
independentemente de seu nascimento com vida. De acordo com Gagliano e Pamplona Filho
(2019): “Qualquer atentado à integridade do que está por nascer pode, assim, ser considerado
um ato obstativo do gozo de direitos”.
ANÁLISE DE CASO - SEGUNDO CASO: Retificação de registro civil para inclusão de
matronímico: STJ, REsp 1.393.195/MG, Relator: Min. Marco Buzzi, Julgamento:
27/09/2016, Órgão Julgador: Quarta Turma, Data da Publicação/Fonte DJe 07/11/2016.

Nessa decisão, analisaremos a possibilidade de alteração do Registro Civil para


inclusão de sobrenome materno (após atingida a maioridade), que não foi transmitido de mãe
para filha e que a última adotou como sobrenome durante o tempo em que esteve casada.

No que tange o Ordenamento Jurídico, o prenome é imutável, porém, trata-se uma


imutabilidade relativa, uma vez que os artigos 56, 57 e 58 da Lei 6.015/1973 garantem
exceção nos casos que dizem respeito à erro de grafia, exposição ao ridículo, apelido público
notório e à fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime.
Entretanto, quando falamos sobre o sobrenome, este representa o nome/apelido da família,
indicando nossa procedência familiar e origem ancestral. Trata-se de um direito da
personalidade, no que diz respeito à individualização conforme sua origem familiar. Neste
caso, é possível alterá-lo de duas formas: até o primeiro ano após ter atingido a maioridade
civil, de acordo com o artigo 56 da Lei nº 6.015 de 1973 e, no que diz respeito ao assunto
tratado, de acordo com o artigo 57 da mesma Lei: “A alteração posterior de nome, somente
por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por
sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a
alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei”. Dessa forma, o Relator
Ministro Marco Buzzi afirma que “É legítima a pretensão da Requerente, pois visa perpetuar
os apelidos de sua linhagem materna, estando devidamente comprovado por certidão que sua
genitora chamava-se Eneida Rosa Capucho da Silva”.

O direito a acrescer sobrenome de genitor (pai ou mãe) é direito da personalidade e


não prescreve, em razão da prevalência do princípio da dignidade da pessoa humana e no
direito à individuação conforme a origem familiar, indicando nossas raízes familiares, desde
que não haja prejuízo à terceiros ou à segurança jurídica. Como orientou o Relator Ministro
Marco Buzzi na decisão citada: “O sistema jurídico exige que a pessoa tenha os patronímicos
que identifiquem sua condição de membro de sua família e o prenome que a individualize entre
seus familiares”.
ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO DE PESQUISA DOUTRINÁRIA E
JURISPRUDENCIAL SOBRE DIREITO À INTIMIDADE E À PRIVACIDADE.

A privacidade é um direito da personalidade, tratando-se, portanto, de um direito fundamental


para desenvolvimento da dignidade humana. O direito à privacidade está previsto no Artigo
21 do Código Civil, o qual preconiza que “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o
juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer
cessar ato contrário a esta norma”, garantindo não somente o direito à vida privada como
também o direito à intimidade e ao sigilo. Como fundamentação, podemos citar o Artigo 5º,
inciso X, da Constituição Federal de 1988 que diz que são invioláveis “a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”. Ainda, de acordo com Gagliano e Pamplona
Filho (2019):

“O elemento fundamental do direito à intimidade, manifestação primordial do


direito à vida privada, é a exigibilidade de respeito ao isolamento de cada ser
humano, que não pretende que certos aspectos de sua vida cheguem ao
conhecimento de terceiros. Em outras palavras, é o direito de estar só”.

O filme “O Círculo” traz à tona justamente esse debate acerca da violação dos direitos
da privacidade e da intimidade, quando um tipo de rede social passa a ter acesso à vida íntima
e privada dos cidadãos nela inscritos, e possui uma proposta de vigilância constante através da
elaboração de câmeras discretas e portáteis que não precisam de autorização para filmar,
gravar áudios, realizar conhecimento fácil e adentrar em todos os aspectos da vida do cidadão.
Essa questão exprime, portanto, a ideia de abuso da personalidade jurídica, uma vez que
através do “Círculo” é garantido nada além de uma ampla relação e interação entre seus
usuários, entretanto, na realidade, a organização perpassa todos os limites entre as esferas
pública e privada, ferindo gravemente os direitos dos cidadãos. Esse experimento acaba
resultando, em determinado momento do filme, na morte de uma pessoa que não fazia parte
do “Círculo”, culminando num ato ilícito, conforme explicitado nos artigos 186 e 187 do
Código Civil:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito;
também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes”.

Conseguimos verificar que não se trata de uma realidade muito distante da qual
vivemos atualmente, uma vez que desde o advento da internet e das redes sociais, a
privacidade de cada um tem ficado cada vez mais exposta e há cada vez mais formas de
explanação de informações pessoais sobre a vida privada de cada pessoa. De acordo com
Gagliano e Pamplona Filho (2019):

“Com o avanço tecnológico, os atentados à intimidade e à vida privada, inclusive


por meio da rede mundial de computadores (Internet), tornaram-se muito comuns.
Não raro, determinadas empresas obtêm dados pessoais do usuário (profissão, renda
mensal, hobbies), com o propósito de ofertar os seus produtos, veiculando a sua
publicidade por meio dos indesejáveis spams, técnica, em nosso entendimento,
ofensiva à intimidade e à vida privada”.

A internet trouxe diversos pontos positivos, como o avanço tecnológico e tratamento


de doenças, porém, em contrapartida, gerou uma dependência e um acesso desenfreado e com
limites comumente transpassados. É notório como a internet e as redes sociais vêm
progressivamente adentrando nossa vida íntima, explorando e fazendo uso de informações
pessoais e confidenciais, assim como a venda dos mesmos para outras plataformas,
monitoramento de localização, ativação de câmeras e microfones, dentre outros, sem que nós
precisemos se quer autorizar esses acessos e sua divulgação. Concluímos, portanto, que se faz
necessário maior controle, fiscalização e proteção jurídica no que diz respeito ao desenfreado
crescimento da internet e seus reflexos na privação de direito dos usuários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Supremo Tribunal da Justiça. REsp 931.556/RS. Relatora: Ministra Nancy


Andrighi. Julgamento: 17 de junho de 2008.

BRASIL. Supremo Tribunal da Justiça. REsp 1.393.195/MG. Relator: Ministro Marco Buzzi.
Julgamento: 27 de setembro de 2016.

BRASIL. Código Civil, 2002. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 30 de
março de 2021.

BRASIL. Constituição Federal, 1988. Disponível em <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 de março
de 2021.

BRASIL. Lei 6.015 de 31 de dezembro de 1973. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm>. Acesso em: 30 de março de
2021.

GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil:
Parte Geral. Saraiva; Edição: 21ª de 2019.

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