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I CICLO DE DEBATES DO GEDEB

TÍTULO: Formação Nacional e Desenvolvimento: reflexões a partir de Caio Prado JR.

Tópicos 1 e 2 - Sentido da colonização e liberalismo: Bruna

Caio Prado traz a perspectiva do imperialismo no Brasil em sua obra, como um dos
principais problemas / entraves da formação nacional, considerando os nexos históricos
de dependência externa nos países subdesenvolvidos no capitalismo.

As considerações sobre as dimensões estruturais do desenvolvimento político-


econômico, social e cultural do Brasil perpassam pela compreensão do sentido da
colonização e o caráter essencialmente mercantil do sistema. O que define e explica os
múltiplos espectros na constituição do Brasil, que o conjunto da história, converge para
uma extroversão econômica e social estrutural (PRADO JR., 2000).

Considerando as transformações ocorridas na dinâmica do capitalismo mundial com o


advento do imperialismo, Caio Prado destaca a importância e o caráter dessa
transformações, pois as mesmas determinam e modificam não só o ritmo e a dinâmica
da acumulação capitalista mas também concomitantemente as possibilidades e limites
para o desenvolvimento brasileiro, que é delineado pelas economias de capitalismo
central, principalmente os EUA e demais nações europeias que assumem papeis
importantes neste cenário.

Desta forma, o autor analisa e assimila a relação entre as economias centrais


hegemônicas e as periféricas subdesenvolvidas, especificamente o Brasil. Que ao se
inserir na nova dinâmica econômica mundial, balizada por um processo latente de
expansão imperialista (que direcionava um grande volume de investimentos produtivos
e financeiros nos novos mercados alçados na América Latina como um todo), exacerba-
se o caráter da dependência externa brasileira, do subdesenvolvimento e da
subordinação perante o capital estrangeiro, dadas as especificidades da relação
centro/periferia e os desdobramentos da fase imperialista de expansão.

Para que se possa ter uma compreensão mais aderente com a realidade brasileira
expressada na dependência externa e o subdesenvolvimento, é imprescindível relacionar
o mesmo com a atividade imperialista e o papel das burguesias locais, quanto à
ocupação e aparelhamento do Estado, para a promoção dos ajustes políticos e
econômicos que vão subsidiar e viabilizar o movimento de expansão do capitalismo
mundial, sob um direcionamento do capital internacional.

Caio Prado destaca a relevância importância histórica do processo de colonização


brasileira e os rebatimentos deste período sobre a contemporaneidade, considerando sua
influência didreta nos espectros políticos, econômicos, sociais e culturais que
consolidam a organização econômica e social do país. Este resgate das bases da
formação socioeconômica, permite uma reflexão profunda, das marcas deixadas por
esse momento histórico, bem como as barreiras criadas para a superação desse passado
(PRADO JR., 2000).

Segundo Caio Prado e outros autores que o tomam como referência, é a partir da análise
do processo de colonização do Brasil que se consegue ter ideia do papel assumido pelo
país na distribuição da economia internacional, considerando a objetivação capitalista
pelo mundo. A posição de economia complementar assumida dentro dessa dinâmica
internacional cria um contexto de determinação ou limitação ao desenvolvimento
econômico interno brasileiro, que é conduzido de acordo com as diretrizes e avanço do
capital internacional e as necessidades das nações que ocupavam uma posição de
centralidade no quadro geral das relações internacionais.

Compreender o movimento estrutural da sociedade brasileira contemporânea e como a


mesma se constitui economicamente como um polo dependente, incorre na percepção
da dimensão da sociedade colonial e sua determinação como peça fundamental à
acumulação primitiva (articulada pela exploração mercantil), concatenando as
especificidades do antigo sistema colonial com o processo de constituição capitalista no
Brasil (NOVAIS, 1986).

Pois, as relações de exploração e dominação que constituem o sistema colonial não se


limitaram as condições históricas deste determinado momento. Perpassam por toda a
história de desenvolvimento das relações econômicas e do comercio internacional, onde
o “sentido da colonização” não se restringe apenas as estruturas da sociedade colonial.
Determina as especificidades das relações de produção no Brasil e todos os demais
países da periferia, que são organizados socioeconomicamente sob as bases dos
preceitos coloniais de escravidão, grande latifúndio e cultura agraria exportadora
(NOVAIS, 1986).

Ao considerar que as especificidades do capitalismo brasileiro são delineadas


inicialmente pela exploração colonial, cujas estruturas são conservadas ou reorganizadas
ao longo da história, coexistindo com as novas feições e pautando o desenvolvimento
social nos direcionamentos político/econômicos do Brasil, Prado Jr.(2000) aponta que
tal estrutura contribui para moldar uma burguesia interna que, em sua essência, é
incapaz de promover uma integração nacional e assumir um papel revolucionário, dados
seus traços de conservadorismo colonial (PRADO JR., 2000).

Ao passo em que se determinou a emancipação política do Brasil, não há no país uma


alteração significativa da relação econômica estabelecida com o exterior. Mas sim, uma
metamorfose desses processos históricos, no qual o papel que cabe à economia
brasileira na divisão internacional do trabalho mantém-se em sua essência colonial, por
não superar o caráter da dependência e subordinação perante o capital estrangeiro.

Contudo, percebe-se que as transformações no padrão de acumulação do capital e as


exigências da reprodução em escala mundial, contingenciam os espaços políticos,
econômicos e sociais do Brasil. Tornando-se possível assim, analisar a especificidade
do desenvolvimento capitalista nos países da periferia (caso Brasil), e como esse
capitalismo é “moldado”, dadas as diferentes condições de reprodução e expansão do
modo de produção vigente em âmbito global.

Tendo em vista as particularidades das estruturas sociais e produtivas consolidadas por


uma objetivação capitalista nos países periféricos e dependentes, via colonização,
destoantes das economias centrais e hegemônicas, conclui-se que, o imperialismo,
impingiu direcionamentos substanciais no processo de ocupação dos espaços urbano-
industriais das economias periféricas, especialmente no período pós-Segunda Guerra
Mundial. No Brasil, a consolidação e efetivação das transformações sistêmicas das
estruturas imperialistas têm sua legitimação jurídica e política, além de sua aplicação
prática exacerbada na economia, a partir do Golpe Civil-Militar de 1964.

A expansão capitalista por todo o globo no século XX, desdobramento de uma limitação
ao crescimento econômico relacionada a consolidação dos mercados internos por parte
dos monopólios já estabelecidos nos centros hegemônicos, impulsiona financiamentos
produtivos dos grandes centros para os mercados dos países periféricos, delineando a
expansão capitalista nestes, com uma particularidade especifica de controle total das
esferas produtiva e financeira por parte do capital externo (LENIN, 2012).

A necessidade de exportação de capitais, para conquista e consolidação de novos


mercados por parte dos grandes centros monopolistas, cria uma conjuntura de partilha
do mundo, onde os países da América Latina se integram nesse sistema politicamente
independente, mas extremamente dependentes por uma perspectiva econômico-
financeira. Esse determinado momento histórico do Pós-Guerra é orquestrado pela
consolidação da hegemonia dos Estados Unidos da América (LENIN, 2012).

A expansão imperialista do Pós-Segunda Guerra via Investimento Direto Estrangeiro,


delineou-se inicialmente para os países do centro. Especificamente Alemanha e Japão,
que estavam com seus parques produtivos completamente destruídos por consequência
da guerra e necessitavam de investimentos para a reconstrução de suas economias. Os
Estados Unidos, enquanto novo protagonista nas relações internacionais, detinham
grande parte de toda a produção industrial do mundo, das reservas de ouro, e o dólar
emergia no cenário econômico como moeda de troca internacional, permitindo assim,
direcionar seus investimentos produtivos e financeiros para a reconstrução da Europa e
Japão através do plano Marshall (CAMPOS, 2009).

Essas nações reconheciam a importância e a contribuição da potência hegemônica


norte-americana para sua reconstrução, mas ao mesmo tempo em que recebiam esses
investimentos, fortaleciam seus Estados Nacionais e sua indústria com medidas
econômicas e fiscais de proteção dos seus mercados internos, sem comprometer a
reorganização da ordem capitalista mundial (CAMPOS, 2009).

No caso da periferia, após os mercados centrais estarem estabelecidos, conquistando um


novo patamar de crescimento e desenvolvimento econômico, essa etapa de estruturação
se delineou na sua fase inicial, através da transferência de plantas produtivas e a criação
de filiais das grandes corporações norte-americanas e europeias, que em um primeiro
momento pareciam portar o potencial para suprir as necessidades e anseios de
crescimento econômico dos países latino-americanos, que aspiravam um
desenvolvimento nacional e autossustentado, como nos países de capitalismo central.
Desta forma, essas corporações foram muito bem recebidas pelas elites latino-
americanas e consequentemente pelo Estado e seu arcabouço institucional, que é
ocupado e aparelhado por elites nativas que estão em perfeita sintonia com as
burguesias externas (FURTADO, 1974).

Essa transferência dos monopólios do centro para periferia vai beneficiar e subsidiar
setores econômicos específicos, principalmente os que requer menos incorporação
tecnológica, esvaziar o poder de decisão nacional, destruindo valores culturais do
passado e do patrimônio natural dos países periféricos. Ao ganhar abrangência, o
progresso agravou sua tendência concentradora” (FURTADO, 1992. p. 17).

Então analisar o processo de industrialização do brasil via investimento direto


estrangeiro, expressa um contexto em que se aprofundam os nexos de dependência e
subordinação, visto que o mesmo não se efetiva de maneira autônoma e auto sustentada.

A oligopolização dos mercados periféricos inviabiliza oportunidades aos pequenos


capitais nacionais o que conota a propriedade industrial brasileira ao capital estrangeiro,
que retorna para suas origens os lucros, juros e dividendos dada a plena abertura da
economia para o capital internacional (FURTADO, 1980).

Os limites históricos da Revolução Brasileira no sentido de uma construção


emancipatória, autônoma e nacional, se expressam numa continuidade, quase
indissociável, que preserva uma aliança solida com um passado colonial que se faz
presente no Brasil contemporâneo. Caio Prado (1977) compreende o processo de
Revolução no Brasil como um “complexo de transformações em curso ou potenciais,
que dizem respeito à estrutura econômica, social e política do país, e que, contidas e
reprimidas pela inércia natural a toda situação estabelecida, se desenrolam de maneira
excessivamente lenta e não logram chegar a termo” (PRADO JR, 1977, p. 133).

É elemento fundamental para a revolução brasileira a retomada da soberania nacional,


encarando como ponto central desse posicionamento, a independência econômica e
política perante os grandes centros capitalistas. Essa análise, elaborada pelo autor de que
o Brasil se constituiu delineado por suas relações externas, denotando que sua economia
e toda sua dinâmica social são voltadas para anseios que não são os nativos,
demonstram sua grande preocupação com o caráter nacional e reforça o desafio para
uma reconstrução da estrutura econômica vigente, com a emergência de um mercado
interno que seja capaz de conduzir a produção de acordo com a satisfação das
necessidades nacionais, e não da dinâmica capitalista internacional.
Neste sentido, o autor identifica os limites históricos do processo de revolução brasileira
e as dificuldades de construção da emancipação nacional sob os marcos do capitalismo,
elencando as condições da realidade brasileira nas relações com o mercado mundial e as
disparidades sociais. Cenário que não aponta para mudanças, na concepção do autor,
mas sim, para uma continuidade da aliança solidificada entre o Brasil moderno e seu
passado. Essa reprodução contínua do “sentido” faz urgir a revolução brasileira como
sendo, antes de tudo, anti-imperialista.

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