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Teófilo Otoni
2019
RESUMO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................3
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO................................................................................................7
2.1 Termo de Colaboração e seus impactos socioeconômicos...............................................7
2.2 A tragédia anunciada........................................................................................................11
2.2.1 Surgimento da Fundação Renova..................................................................................13
2.3 O subdesenvolvimento econômico brasileiro..................................................................14
3 OBJETIVOS........................................................................................................................22
3.1 Objetivo Geral..................................................................................................................22
3.2 Objetivos específicos........................................................................................................22
4 JUSTIFICATIVA................................................................................................................ 23
5 METODOLOGIA............................................................................................................... 23
6 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO..................................................................................23
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................24
3
1 INTRODUÇÃO
1
Vide SAMARCO, In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2019. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Samarco
2
TJMG. Termo de Colaboração Gecont/Contrat. Cv 079/2017, p. 1. Disponível em:
http://www.tjmg.jus.br/data/files/52/63/16/80/A781C510495681C5480808A8/image2017-03-28-153458.pdf.
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dependência externa na periferia somente pode ser apreendida a partir de seus nexos com o
imperialismo” (RODRIGUES, 2017, p.16). Será utilizado, para tal, a obra “Imperialismo, fase
superior do capitalismo”, do autor Lenin (2012), que expõe o avanço do sistema capitalista
mundial, iniciando na fase da livre concorrência, passando pela formação dos monopólios e o
imperialismo como fase particular do capitalismo; e, por fim, as consequências partilhas do
globo em razão dessas fases.
Serão explorados os impactos dessa estrutura capitalista para o meio ambiente
tendo em vista a emergência deste assunto em escala local e global, em virtude de impactos
crescentes gerados pelo modo de produção capitalista. Ademais, a expansão do modo de
produção capitalista e novos contornos adquiridos pela economia na contemporaneidade,
intensificam ainda mais tais contradições. Diante desta emergência ambiental, a população
atingida por esses impactos espera que o Estado atue com proporcionalidade, transparência e
justiça.
O termo de colaboração – supostamente criado para atendimento dessa população
– revela procedimentos incoerentes com tais princípios e o objetivo desta pesquisa está em
explanar como esta prática judiciária representa o retrato do subdesenvolvimento brasileiro; e,
por fim, como as atividades econômicas minerárias – lideradas por empresas multinacionais –
acirram ainda mais a dependência externa do Brasil, além dos prejuízos imensuráveis ao meio
ambiente.
Para tal, especificamente, será necessário uma análise crítica do termo de
colaboração: sua origem, seus desdobramentos na estrutura do Poder Judiciário Mineiro e
seus impactos para as indenizações das vítimas do crime ambiental da Samarco em
Governador Valadares; um estudo aprofundado do crime ambiental para compreender a
origem e atuação da Fundação Renova; analisar os interesses existentes na relação jurídica
formada pelo termo de colaboração para, assim, analisar seus resultados; e, por fim, uma
análise socioeconômica do Brasil, com suas profundas transformações no decorrer da história.
Desta forma, pretende-se dividir esta pesquisa em duas áreas: no campo jurídico,
apoiando-se nos ensinamentos do processo civil – com advento do Novo Código de Processo
Civil de 2015 – para compreender como se deu o termo de colaboração e seus
desdobramentos na legislação e doutrina brasileira; e, por fim, no campo econômico,
apoiando-se na história econômica brasileira, para compreensão da atuação do Poder
Judiciário na estrutura capitalista.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
7
5
Tendo em vista a ausência de materiais sobre o objeto de estudo – Termo de Colaboração – e a inviabilidade de
execução do método de entrevista, será retratada a prática deste termo de colaboração a partir da experiência da
autora desta pesquisa como Coordenadora de Conciliação do Posto Avançado de Autocomposição.
10
“E os dez mil reais? Eu ganho quando o processo termina?” – Essa frase foi a
mais ouvida pelos conciliadores das audiências no PAA. Estes esclareciam à parte autora que
seu processo não poderia ser julgado, pois se encontrava suspenso e, o que restava a eles
naquele momento, era o acordo judicial, no valor de mil reais. Neste acordo, era discriminada
a porcentagem do pagamento do procurador da parte, restando pra si, apenas, o valor de
setecentos reais. Esclareciam, ainda, que ao invés disso, teriam que aguardar o andamento
processual, que poderia levar anos até a decisão final do processo. A partir disso, muitos se
viam pressionados a realizar o acordo.
O termo ora estudado se sustenta em uma medida judiciária nacional, que
pretende dar tratamento adequado de resolução de conflitos no âmbito do Poder Judiciário,
estabelecida pela Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em notícia divulgada em seu site, diz que “na prática, o
termo de colaboração vai agilizar o processo de indenizações das famílias atingidas pela falta
de água6”. Entretanto, baseado nos ritos procedimentais jurídicos deste termo e no resultado
dessas ações para a população atingida, observa-se certa desproporcionalidade em relação ao
dano e a compensação deste; e, também, foi possível identificar ausência de transparência no
convênio para aqueles que movimentaram o judiciário pleiteando por justiça.
O termo de colaboração tem como objeto a realização de audiências de
conciliação, almejando a solução consensual entre as partes do processo. Com o advento do
Código de Processo Civil em 2015, a Lei de Mediação e as reformas na Lei de Arbitragem,
foram estimuladas práticas de autocomposição, indicando ser o caminho adequado para
resolução de conflitos, estabelecendo-se como uma nova tendência da justiça brasileira.
Contudo, observar-se pelas instruções e procedimentos desse convênio que, na
verdade, seu objetivo está em resolver um problema institucional de “abarrotamento” do
judiciário e não de atender os interesses da população atingida em Governador Valadares,
compensando-as justamente pelos danos sofridos.
Simultâneo aos interesses do Tribunal de Justiça de Minas Gerais está o interesse
econômico das rés, tendo em vista que esta “adequada” resolução de conflito se materializa
em um acordo judicial de valor mísero e vil àqueles impactados pelo crime ambiental.
O PAA, mesmo com a suspensão dos processos em razão dos trâmites do IRDR,
realizava mais de trezentas audiências de conciliação por dia. E, até março de 2019,
6
TJMG, mineradoras e fundação celebram termo de colaboração. Convênio visa à resolução de conflitos
relacionado ao abastecimento e à distribuição de água em decorrência do rompimento da barragem de Fundão.
Disponível em: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/tjmg-mineradoras-e-fundacao-celebram-termo-de-
colaboracao.htm
11
7
“O cenário constitui o maior crime ambiental brasileiro e segue demonstrando apresentar proporções globais. O
evento inicial liberou 34 milhões de m³ de lama, contendo rejeitos de mineração, por 650 km de extensão, o que
acarretou 20 mortes e não 19 como amplamente divulgado, visto que uma grávida abortou no mar de lama. O
desastre é o maior em volumes de rejeito e dimensionalmente é o maior do mundo!” (REIS; SANTOS, 2016, p.
1)
8
“O rompimento da barragem de Fundão não é um acidente, não é algo imprevisível nem fruto trágico de um
conjunto de fatores incontroláveis. [...] há uma relação estrutural entre mineração e rompimento de barragens.
Aonde houver atividade de mineração haverá, intrinsecamente, altos riscos de ocorrência de rompimento de
barragens” (REIS; SANTOS, 2016, p. 2).
12
Há estudiosos que explicam a relação entre os períodos de alta e baixa dos preços
das commodities de mineração e o aumento significativo de rompimentos de barragens 9:
quando se encontra nos períodos de baixa dos preços, há certa tendência de redução dos
custos do negócio e, todo período que sucede o período de alta dos preços, há um aumento na
ocorrência de rompimento de barragens e acidentes de trabalho10.
Compreender o contexto em que ocorreu o rompimento da barragem de Fundão é
essencial para confirmar como, em meio a uma das maiores tragédias do Brasil, as
mineradoras responsáveis ainda passam por período de alta lucratividade. Enquanto assumia
dívidas priorizando seu crescimento, as mineradoras responsáveis pelo crime ambiental
arrecadavam para seus acionistas.
O crime ambiental para essas mineradoras, que priorizam a lucratividade em
detrimento dos Direitos Ambientais e Humanos, compensa economicamente. Sendo assim, é
perceptível a necessidade de atuação do Estado para garantir a segurança e a proteção dessas
atividades, contudo, quando o Estado está inserido – por questões históricas – numa estrutura
de capitalismo dependente, dificilmente atuará em prol da população e do meio ambiente.
Para Krenak, representante indígena, vítima da atividade de mineração, que tem
uma relação espiritual com o Rio Doce – denominado “watu” que significa que “o rio é nosso
parente” –: “Para meu povo mineração para gerar riqueza a natureza não suporta! Homem
produz as suas ações e tem reações. Meu povo luta para participar deste processo desde 1808
e até hoje sofre com a ausência de participação nesses projetos de desenvolvimento. Que
projeto é esse que só tira e não repõe?” (REIS; SANTOS, 2016, p. 3).
9
“Os dados analisados indicam que normalmente o pico de rompimentos de barragens ocorrem dois ou três anos
após o pico do preço dos minérios. Em alguns casos há a redução no número de “acidentes” em determinado
período, mas o aumento na incidência de ocorrências mais sérias, uma vez que as mineradoras buscam
tecnologia para trabalhar em solos de menor concentração mineral e para que isso seja economicamente viável,
se fazem necessárias minas cada vez maiores e, portanto, barragens cada vez maiores. A junção da barragem do
Fundão com a de Germano seguiu justamente essa linha de raciocínio. Esse contexto é fundamental para que se
entenda como a Samarco, joint venture não operada uma vez que efetivamente controlada pela Vale, lidou com
esse processo de boom e pósboom.” (REIS; SANTOS, 2016, p. 3).
10
Relatório disponível em: http://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/PoEMAS-2015-Antes-fosse-mais-leve-a-
cargavers%C3%A3o-final.pdf.
13
11
ZANETI; CABRAL, 2019, p. 451.
14
democráticas através das eleições12, mas, na verdade seu poder está no mandonismo e nos
princípios retrógados, assim como a oligarquia13. Emergem na primeira metade do século XX
com a mesma bandeira nacionalista e democrática das burguesias clássicas, só que não passa
de aparência. No final, seu real objetivo é trazer esses benefícios apenas pra uma minoria
detentora do poder.
Diferentemente dos países de revolução burguesa clássica, no Brasil a dominação
burguesa se inicia pelo espectro político, ensejando o controle direto do Estado a seu favor,
garantindo seus interesses particulares. Ou seja, incumbida de condições ideais para passar
pela transição, modernizando-se e estabelecendo à classe trabalhadora perda no campo da
representação política.
A preocupação de Fernandes (1976) está em estabelecer como e por que a
Revolução Burguesa foi uma realidade histórica particular nos países capitalistas dependentes
e subdesenvolvidos.
Diferentemente de outros países do mundo, como por exemplo, a França, o Brasil
passou por uma revolução burguesa particular. Bastante heterogênea e autocrática, as
burguesias brasileiras tiveram sua essência marcada pelo ultraconservadorismo e
reacionarismo. As burguesias clássicas, por condições históricas, se aproximaram
temporariamente da classe trabalhadora combinando desenvolvimento capitalista com
conteúdo democrático e nacionalista, levantando uma bandeira de independência e liberdade.
Já no Brasil fora diferente: elas se uniram com a oligarquia tradicional e a burguesia externa,
contra a classe trabalhadora e as massas populares, para satisfazerem seus interesses
econômicos (FLORESTAN, 1976).
Entretanto, essa essência conservadora das burguesias brasileiras acaba sendo
desmascarada, tendo em vista que o restante da população passa a cobrar por mudanças, ou
seja, um contexto social, político e econômico condizentes com as promessas e discursos que
as mantinham no poder. Deparam-se tais burguesias, portanto, com a alternativa de permitir
que haja mudanças e a Revolução avance com maior rapidez e alcance, englobando mais
frações da população ou mostrar sua verdadeira face e passar a controlar e reprimir a classe
trabalhadora, as massas populares, os movimentos sociais e sindicais.
12
“Ela se define, em face de seus papéis econômicos, sociais e políticos, como se fosse a equivalente de uma
burguesia revolucionária, democrática e nacionalista” (FERNANDES, 1976, p. 205).
13
“Podia discordar da oligarquia ou mesmo opor-se a ela. Mas fazia-o dentro de um horizonte cultural que era
essencialmente o mesmo, polarizado em torno de preocupações particularistas e de um entranhado
conservantismo sociocultural e político. [...] O burguês que o repelia, por causa de interesses feridos, não
deixava de pô-lo em prática em suas relações sociais, já que aquilo fazia parte de sua segunda natureza humana”
(FERNANDES, 1976, p. 205).
16
14
“A burguesia mostrou as verdadeiras entranhas de maneira predominantemente reacionária e
ultraconservadora, dentro da melhor tradição do mandonismo oligárquico (que nos sirva de exemplo o
tratamento das greves operárias na década de 10, em São Paulo, como puras “questões de polícia”; ou, quase
meio século depois, a repressão às aspirações democráticas das massas)” (FERNANDES, 1976, p. 206).
15
“Poderíamos dizer que se constitui uma nova aristocracia e que foi a oligarquia (antiga ou moderna) – e não as
classes médias ou os industriais – que decidiu, na realidade, o que deveria ser a dominação burguesa, senão
idealmente, pelo menos na prática” (FERNANDES, 1976, p.209),
17
de dominação de classe no país, já que a história brasileira se fez diferente dos países
centrais16.
A particularidade brasileira, um capitalismo dependente e subdesenvolvido,
mostra como não é só uma questão de vontade dessas burguesias determinarem se a bandeira
será nacionalista ou não. A história criou tendências para que fosse assim e, para o capitalismo
se desenvolver no Brasil – objetivo almejado pelas burguesias com suas finalidades
econômicas –, a via conservadora e reacionária era a de menor resistência, tendo em vista a
dependência externa17.
Fechar o espaço político aberto à mudança social construtiva é a maneira que as
burguesias brasileiras têm de conciliar a sua existência com a continuidade e expansão do
capitalismo dependente.
Para Fernandes (1976), o problema central consiste na crise do poder-burguês,
com a transição do capitalismo competitivo para o capitalismo monopolista, que foi
solucionada em prol das classes dominantes com o Golpe Civil-Militar de 1964.
Diferentemente de algumas análises, nessa fase a burguesia não foi vítima de um golpe que a
destituiu do poder e da concretização de sua tarefa revolucionária. Para o autor, a burguesia
fez parte do golpe como meio de consolidar seu poder, ameaçado pela expansão da
democracia e das reformas dentro da ordem.
No Brasil, a passagem do capitalismo competitivo para o monopolista não é fruto
do desenvolvimento e autonomização internos, mas sim, da capacidade de absorção de
padrões/práticas estrangeiras, de produção industrial e de consumo inerentes ao capitalismo
monopolista.
O padrão compósito de dominação burguesa sofria, após a década de 1930, uma
tripla pressão que a colocava em risco. De um lado a pressão externa (pelo capital estrangeiro)
18
; de outro, pressão interna oriunda de duas fontes: o proletariado e as massas populares, bem
como, o Estado na esfera econômica (FERNANDES, 1976).
16
Fernandes abre o seguinte questionamento para expor a particularidade brasileira no desenvolvimento do
capitalismo: “Como conciliar a expansão interna do capitalismo competitivo com os marcos tão recentes do
passado colonial e neocolonial, ainda vivos no processo de descolonização em curso ou, pior, nos processos de
acumulação capitalista recém-adorados, na economia agrária?” (FERNANDES, 1976, p. 214).
17
“Em uma linha objetiva de reflexão crítica, não há como fugir à constatação de que o capitalismo dependente
é, por sua natureza e em geral, um capitalismo difícil, o qual deixa apenas poucas alternativas efetivas às
burguesias que lhe servem, a um tempo, de parceiras e amas-secas. Desse ângulo, a redução do campo de
atuação histórica da burguesia exprime uma realidade específica, a partir da qual a dominação burguesa aparece
como conexão histórica não da “revolução nacional e democrática”, mas do capitalismo dependente e do tipo de
transformação capitalista que ela supõe” (FERNANDES, 1976, p. 214).
18
“Essa pressão continha um elemento político explícito: condições precisas de “desenvolvimento com
segurança”, que conferissem garantias econômicas, sociais e políticas ao capital estrangeiro, às suas empresas e
ao seu crescimento. Mas tal pressão, em sua dupla polarização, não só era compatível com a ideia da
continuidade do sistema” (FERNANDES, 1976, p. 216).
18
Tendo em vista a esta tripla pressão que sofria a dominação burguesa, a solução
dada foi o golpe civil-militar de 1964, com a autoridade militar garantindo o poder político
das burguesias, através: de uma associação mais íntima com o capitalismo financeiro
internacional; da repressão, pela violência, a qualquer ameaça operária ou popular de
subversão da ordem ou até revolução dentro da ordem e; da consolidação do Estado como
instrumento exclusivo do poder burguês, tanto no plano econômico quanto nos planos social e
político.
O golpe de 1964 representa, assim, a aceleração e garantia do capitalismo –
dependente - no Brasil, defendendo a burguesia das pressões que vinha sofrendo e
consolidando o padrão autocrático de dominação burguesa no país.
Fernandes (1976) denomina, portanto, o capitalismo dependente e
subdesenvolvido como selvagem e difícil, tendo em vista os dinamismos ditados no campo
meramente político19.
A transformação capitalista serve como parte do esquema para as burguesias dos
países hegemônicos, possibilitando parcerias sólidas na periferia dependente. E, para o autor,
isto é o retrato do imperialismo total20.
O autor conclui, portanto, que, “para libertar-se do capitalismo dependente e
subdesenvolvido, a burguesia brasileira precisaria livrar-se, com maior urgência, do atual
padrão de dominação burguesa e de solidariedade de classes” (FERNANDES, 1976, p. 306).
Logo, será necessário englobar as prerrogativas do imperialismo, que se estrutura
no período do desenvolvimento da indústria e em seu processo de concentração de capital.
Será utilizado, para tal, a obra “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, do
autor Lenin (2012), que expõe o avanço do sistema capitalista mundial, iniciando na fase da
livre concorrência, passando pela formação dos monopólios e o imperialismo como fase
particular do capitalismo; e, por fim, as consequências partilhas do globo em razão dessas
fases.
Lenin (2012) inicia sua obra apontando o desenvolvimento da indústria e seu
processo de centralização de capital como característica marcante do capitalismo. E que, a
partir do século XX, o antigo capitalismo sai de contexto dando espaço para o novo, onde o
19
“O que sugere que a Revolução Burguesa na periferia é, por excelência, um fenômeno essencialmente político,
de criação, consolidação e preservação de estruturas de poder predominantemente políticas, submetidas ao
controle da burguesia ou por ela controláveis em quaisquer circunstâncias” (FERNANDES, 1976, p. 294).
20
Tanto as burguesias nacionais da periferia quanto as burguesias das nações capitalistas centrais e hegemônicas
possuem interesses e orientações que vão noutra direção. Elas querem: manter a ordem, salvar e fortalecer o
capitalismo, impedir que a dominação burguesa e o controle burguês sobre o Estado nacional se
deteriorem”(FERNANDES, 1976, p. 294)
19
capital financeiro atua como resultado da junção do capital bancário com o capital industrial.
Evidentemente, todo esse cenário atua diretamente nas condições sociais de um país, já que
essas irregularidades no desenvolvimento do capitalismo se apoiam na subalimentação das
massas, sendo esta condição inevitável no modo de produção capitalista.
O capital financeiro, portanto, atua de forma tão poderosa a ponto de influenciar
todas as relações econômicas e de impor a situação de subordinação até mesmo nos Estados
que gozam de uma completa independência política. Segundo o autor, à medida que o
capitalismo se desenvolve aumenta a procura por fontes de matérias primas no mundo inteiro
e mais brutal é a luta pela posse de colônias.
A atuação do capital financeiro, portanto, evidencia quão falaciosa é a ideia de
desenvolvimento como uma repetição histórica em etapas, passível de existência em todos os
países. A superação da dependência externa, da heterogeneidade estrutural e da desigualdade
social interna passa, na periferia do sistema, a vincular-se cada vez mais ao desenvolvimento
imperialista sob a égide do capital financeiro.
Na obra “O mito do desenvolvimento econômico” Furtado (1974), expõe a
estrutura do sistema capitalista sob predomínio da grande empresa, o fenômeno do
subdesenvolvimento e a dependência destes países em relação aos países do centro.
A estrutura do sistema capitalista periférico se forma com a superexploração, com
vistas a atender os ditames dos países cêntricos, dos recursos naturais, não renováveis, dos
países subdesenvolvidos. E é aqui que nasce, para Furtado (1974), o mito do progresso
econômico. Ele ressalta que o subdesenvolvimento nada tem a ver com a idade de um país e
sua jovialidade, mas sim, o seu grau de acumulação de capital. Ou seja, não se trata de fases a
serem cumpridas, mas sim de uma deficiência marcada pela exploração de recursos não
renováveis, exploração da força de trabalho e a imitação de padrões de consumo dentro de
uma sociedade que não reflete a realidade dos países que mimetiza.
Vê-se, portanto, que enquanto os países cêntricos direcionam suas forças para a
acumulação de capitais e avanços tecnológicos, os países periféricos buscam expandir suas
exportações primárias com vistas a garantir a remuneração do capital estrangeiro, sob o mote
de que os aumentos da produtividade dotariam o país de vantagens comparativas.
Toda essa estrutura é fundamental para entender o processo de industrialização
dos países subdesenvolvidos, que tentam adequar uma megaestrutura industrial de um país
cêntrico, dentro de um espaço limitado de um país periférico, reforçando padrões de consumo
desconectado da realidade econômica e social.
20
Os países periféricos tem suas especificidades por não ter criado um sistema
econômico nacional, a periferia passa por um processo de agravação das disparidades internas
à medida que se industrializam pela substituição de importações.
Os impactos negativos dessa estrutura capitalista para o meio ambiente são
imensuráveis e compreender a importância deste tema é fundamental, tendo em vista a
emergência em escala local e global, em virtude de impactos crescentes gerados pelo modo de
produção capitalista. Ademais, a expansão do modo de produção capitalista e novos contornos
adquiridos pela economia na contemporaneidade, intensificam ainda mais tais contradições.
Palco de um dos maiores desastres ambientais do mundo, em 2015 o Brasil
enfrentou um crime ambiental. Resultado de ações predatórias das multinacionais, com a
exploração desmedida dos recursos naturais no solo fértil brasileiro, uma barragem de dejetos
de minério de ferro se rompeu, comprometendo a vida de seres humanos e degradando o meio
ambiente.
O crime ambiental – como foi exposto anteriormente – afetou a cidade de
Governador Valadares (MG), com o desabastecimento de água. E, baseado em uma análise
crítica sobre o Termo de Colaboração, serão evidenciados alguns pontos que permitem
identificar a inércia do Estado e sua conivência com o crime das mineradoras, prejudicando,
assim, as vítimas atingidas pela barragem.
Portanto, pretende-se fundamentar que a atividade econômica minerária das
multinacionais, em vez de trazer o desenvolvimento prometido, aprofunda ainda mais a
condição de subdesenvolvimento no Brasil, já que seus interesses estão em explorar os
recursos naturais e a mão de obra barata, com a finalidade de remeter seus lucros para sua
matriz.
Ademais, esta suposta “adequada resolução de conflito” – fundamento do termo
de colaboração – está intimamente ligada aos dinamismos das burguesias brasileiras, que
possuem influência direta sobre o Estado, superprotegendo essas empresas multinacionais;
garantindo a intensificação do capitalismo dependente; e atendendo os anseios do
imperialismo.
3 OBJETIVOS
4 JUSTIFICATIVA
5 METODOLOGIA
6 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
SEMESTRES
Atividades
1º 2º 3º 4º
1. Equivalência de Créditos X
2. Levantamento Bibliográfico X X X
3. Leitura/Estudo da Bibliografia X X X
4. Análise dos dados X X X
5. Produção de textos para a redação da Tese X X X
23
REFERÊNCIAS
FUNDAÇÃO RENOVA. Quem somos: A fundação. Minas Gerais, 2019. Disponível em:
https://www.fundacaorenova.org/a-fundacao/. Acesso em 27 de agosto de 2019.
PoEMAS. Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade. Antes fosse mais
leve a carga: uma avaliação dos aspectos econômicos, institucionais e sociais do desastre
da Vale/BHP/Samarco em Mariana (MG). Mimeo. 2015. Disponível em:
http://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/PoEMAS-2015-Antes-fosse-mais-leve-a-cargavers
%C3%A3o-final.pdf. Acesso em 27 de agosto de 2019.
PRADO JR, C. Esboço dos fundamentos da teoria econômica. 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1957.