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CARTA ABERTA A SUPERINTENDÊNCIA DO CENTRO PAULA SOUZA

REFERENTE ÀS CONDIÇÕES DE TRABALHO E ANÚNCIO DE RETORNO


DAS AULAS PRESENCIAIS

A situação da pandemia da Covid-19 em nosso país é lamentável. O número de


infectados passa de 2 milhões, e já são mais de 80 mil mortes em todo país. O
estado de São Paulo tem sido por meses o local de maior foco da doença com
mais de 20 mil mortos. No entanto, conforme anunciado pela Profª Laura Laganá,
Superintende do CPS, em transmissão ao vivo com o DCE da FATEC, os
terceiros módulos e anos retornarão às aulas presenciais nas FATECs e ETECs
para cumprir a parte prática (técnica) em laboratórios em 17.08, e os segundos
e primeiros módulos e anos retornarão em 08.09. Nosso posicionamento é
contrário a esse retorno, e contraditamos os problemas do memorando 025/2020
que aponta seguintes termos para o retorno:

Para os alunos que não se enquadrarem no item 1), a equipe de


gestão terá autonomia para definir entre os dois processos a
seguir, levando em consideração o número de docentes do
grupo de risco e a quantidade de laboratórios/equipamentos
existentes, bem como as demais condições necessárias,
respeitando o previsto nos artigos 3º e 4º, do Decreto Estadual
65.061, de 13 de julho de 2020, bem como o Protocolo Sanitário
Institucional CPS (a ser divulgado):
Processo 1 - retorno antecipado às aulas práticas: após o
recesso escolar previsto para o mês de agosto, ou seja, a
Unidade poderá retornar às aulas presenciais em laboratório,
dos componentes práticos não concluídos satisfatoriamente,
para os alunos concluintes do 1º semestre de 2020, valendo-se
de um cronograma concentrado de aulas práticas, como um
Regime Especial de Estudos.
Processo 2 – retorno concomitante com as turmas em
continuidade das demais séries e módulos: durante o segundo
semestre letivo de 2020 os alunos cumprirão os componentes
práticos não concluídos satisfatoriamente, indicados durante a
avaliação do Conselho de Classe Final, quando do retorno às
aulas presenciais.
O memorando evidencia que o retorno previsto para agosto não leva em
consideração uma série de problemas decorrentes do sucateamento de nossas
unidades de ensino, com laboratórios cujo espaço e ventilação, inadequados do
ponto de vista sanitário, dificultarão ou inviabilizarão uma quantidade, ainda que
mínima, de alunos nos laboratórios. Lembremo-nos de que cada unidade tem
uma realidade diferente e, isso deveria ser ponto de discussão com a
comunidade escolar.
Ressaltamos ainda, referente à publicação no site do Centro Paula Souza, que
além de todas esses problemas sanitários, há a informação de que não haverá
a oferta de máscaras PFF2 e óculos de proteção para estudantes, docentes e
funcionários administrativos, assim como a troca a cada 2 horas destas,
colocando em risco a todos, inviabilizando o processo de retorno às aulas, pois
não há garantias sanitárias mínimas.
O CEETEPS parece ignorar que não tem condições de garantir a saúde e
segurança dos trabalhadores, conforme determina as Normas Reguladoras
Técnicas de Segurança do Trabalho:
NR 6 – item 6.3: A empresa é obrigada a fornecer aos
empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito
estado de conservação e funcionamento, nas seguintes
circunstâncias:
a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam
completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou
de doenças profissionais e do trabalho;
b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo
implantadas; e,
c) para atender a situações de emergência.
https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_N
R/NR-06.pdf

Vale salientar aqui que o Centro Paula Souza não promoveu nenhuma avaliação
qualitativa ocupacional da exposição ao Corona vírus nos ambientes onde irão
ocorrer as supostas atividades, fazendo a devida prescrição dos EPIs para inibir
o risco de contaminação (e não neutralizar), a saber: óculos de segurança,
protetor facial, vestimentas impermeabilizantes, máscaras do tipo PFF2, etc.
Também não apresentou ou comentou sobre a limpeza e a esterilização dos
aparelhos de ar condicionados instalados em salas de aulas e laboratórios, focos
de proliferação e transmissão massiva de agentes contaminantes, con forme
prevê os procedimentos do PMOC - Plano de Manutenção, Operação e Controle
dos equipamentos de sistemas de climatização de ambientes, instituído pela Lei
Federal Nº 13.589, DE 4 DE JANEIRO DE 2018.
Como prova grave do descaso público, o site diz que cada docente deve arcar
com o seu próprio material como giz e apagadores, canetas de quadro branco
etc. Sem recursos, o Centro Paula Souza onera ainda mais o professor. Agrava-
se ainda mais a situação quando sabemos da falta de funcionários
administrativos em toda a rede do Centro Paula Souza, pois não há concurso
público desde 2009. Em situação normal as unidades e principalmente os
funcionários administrativos sofrem com a sobrecarga de trabalho, em situação
de pandemia a situação se complicará.
Consideremos o que matemático Eduardo Massad afirmou em debate virtual
com especialistas realizado pelo Fundo de Amparo à Pesquisa (Fapesp):

"As aulas absolutamente não podem voltar em setembro. Nós


temos hoje no Brasil 500 mil crianças portadoras do vírus
zanzando por aí. Se você reabrir agora em agosto, mesmo
usando máscara, mesmo botando distância de dois metros. No
primeiro dia de aula nós vamos ter 1.700 novas infecções, com
38 óbitos. Isso vai dobrar depois de 10 dias e quadruplicar
depois de 15 dias. Então, abrir as escolas agora é genocídio",
declarou.

A orientação da Superintendência do Centro Paula Souza de retorno traz uma


série de preocupações para a comunidade escolar por não propor a oferta de
EPIS, não prever a regulamentação da NR 15 – Anexo 14 – agentes biológicos,
definida pela relação das atividades que envolvem agentes biológicos, cuja
insalubridade é caracterizada pela avaliação qualitativa, prevendo, portanto, o
direito a 40% de pagamento de insalubridade de grau máximo e, ainda, trabalho
ou operações, em contato permanente (ou intermitente: Súmula 47 do TST ) com
pacientes em isolamento por doenças infectocontagiosas, bem como objetos de
seu uso, não previamente esterilizados.
Posto isso, caso algum profissional da educação fique contaminado por SARS
COV 19 - corona vírus ou outra patologia infecto contagiante, em função de sua
exposição presencial em salas de aulas, ficaria, portanto, caracterizado o
acidente de trabalho, e consequente abertura de CAT. Independentemente deste
profissional vir a óbito ou não, ele ficaria sujeito a indenização por danos morais,
e possivelmente dano material, dependendo das circunstâncias. Se o
afastamento for superior a 15 dias, este trabalhador adquire a estabilidade de
um ano após o retorno ao trabalho, com todos os direitos garantidos em lei.
Neste sentido organizamos uma reunião em que estavam presentes 53 pessoas
entre funcionários administrativos e docentes, representando diversas regiões
do estado, além de várias unidades da capital de Fatecs e Etecs, para requerer
o não retorno às aulas, e a garantia dos nossos direitos trabalhistas.
Com o intuito de apresentar pontos que estão nesse momento afligindo toda a
categoria, para além do retorno às aulas, apresentamos tópicos de
reivindicações as quais esperamos uma resposta:
1 - Vestibulinho
Considerando que o governo não suspendeu o calendário letivo e que haverá
vestibulinho e vestibular no meio do ano, com um número de inscritos ainda
baixo em algumas ETECs e FATECs, defendemos:
- a abertura de salas com o número de inscritos, seja qual for o número, abolindo
os critérios de 1,5 candidato/vaga para garantia do direito à educação pública;
- a prorrogação do prazo para inscrição;
- o não ao fechamento de salas por meio da suspensão dos critérios de evasão
para não abrir os cursos;
- a ampla divulgação na grande imprensa do vestibulinho e do vestibular.

2 - Direitos Trabalhistas

2.1. NOVOTEC
Considerando que há uma pressão para abrir o ensino híbrido na rede estadual
com a oferta da parte técnica por professores da rede Paula Souza, defendemos
que:
- não seja feito contrato de professores autônomos, mas que se sirvam dos
professores das ETECs, e quando se esgotem as possibilidades que sejam
abertos concursos públicos;
- haja a garantia de laboratórios e condições de trabalho;
- haja a gratificação de difícil acesso, quando for o caso.

2.2. AULAS REMOTAS


Considerando que durante a pandemia é necessário o atendimento remoto aos
alunos, entendemos que é preciso garantir:
- condições de trabalho, como oferta de equipamentos ou auxílio financeiro para
a compra de computadores, mesas e cadeiras adequadas para professores e
funcionários administrativos;
- a readequação do tempo de acordo com as unidades escolares. Autonomia
para decidir se as aulas remotas serão realizadas nos mesmos horários das
aulas presenciais. Não podemos ficar mais de oito horas em frente ao
computador. Dessa forma solicitamos readequação do tempo das aulas, levando
em consideração o tempo de preparo a mais exigido para o ensino remoto;
- a não apropriação das aulas dadas pelo CPS ou pela Microsoft;
- uso de plataformas públicas e acesso livre (dados móveis) aos docentes e
alunos para as aulas e aos administrativos para o trabalho remoto;
- a não obrigatoriedade de fechamento de notas, atender aos alunos com
atividades pedagógicas e inclusivas, levando em consideração as questões
socioemocionais do momento;
- não à exclusão dos alunos que não estão acessando;
- o respeito ao docente e suas limitações em lecionar de sua residência. N ão
aceitamos assédio moral, bem como orientações que dizem para não ter
crianças no ambiente, barulho de cachorro, etc.

2.3 – DIREITOS TRABALHISTAS


Além da garantia de condições de trabalho nas aulas remotas, reivindicamos:
- evolução e progressão funcional para todos e todas seja colocada em curso;
- pagamento do bônus imediatamente;
- acesso dos funcionários do CPS ao IAMSPE;
- depósito do FGTS;
- abertura de concurso público para funcionários administrativos;
- a garantia de nenhuma demissão, e manutenção da carga horária docente;
- que os contratos de professores determinados sejam excepcionalmente
prorrogados durante a pandemia para as aulas em substituição;
- que sejam abertos imediatamente concurso público para docentes para as
aulas livres;
- a revogação da Lei Complementar 173 de 27/05/2020 que proíbe até
31/12/2021 a contagem de tempo de serviço para a aquisição de anuências,
triênios, quinquênios, licenças-prêmio e demais mecanismos.

Atenciosamente,

Sirlene Sales Maciel


Presidenta Eleita nas últimas eleições do SINTEPS
Coletivo de Oposição Muda SINTEPS
São Paulo, 21 de julho de 2020.

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