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2.

O turismo em áreas rurais e naturais

Márcio Ribeiro Martins (PhD)


Introdução
• As áreas rurais têm assistido a um crescente interesse e
procura com fins recreativos e de lazer.
• Esta tendência encontra-se associada aos processos de
transformação, quer das áreas rurais, quer das áreas
urbanas.
• Surgem novas procuras motivadas pelos valores naturais
e culturais existentes nos espaços rurais, pela possibilidade
de contacto com a natureza e com o “autêntico”, em
oposição ao congestionamento das áreas urbanas.
2.1. Origem e motivação da procura
• Os espaços rurais assumem novas dimensões, associados à sua
valorização enquanto espaços de lazer, recreio e turismo;
• Ao mesmo tempo, os processos de transformação demográfica e
socioeconómica promovem diversas fragilidades e problemas e uma
consequente “marginalização” destes territórios;
2.1. Origem e motivação da procura
• O turismo pode desempenhar um importante papel nestas
áreas mais desfavorecidas, constituindo uma força para o seu
desenvolvimento.
• Os impactes positivos da atividade turística podem traduzir-se
a vários níveis: económico, social, cultural e ambiental.
• Na Europa, o turismo rural surgiu com o objetivo essencial de
“travar o despovoamento, preservar a paisagem rural,
salvar um certo tipo de agricultura familiar, manter um
equilíbrio ambiental saudável e proporcionar a solvência
económica de milhares de famílias” (Godinho, 2004).
2.1. Origem e motivação da procura
• Atualmente, o TER constitui uma importante realidade em termos
económicos, sociais e culturais para alguns países europeus.
• O turismo rural é frequentemente referido como um produto
turístico que pode combater os problemas e as fragilidades das
áreas rurais.
• Verifica-se uma certa contradição entre as elevadas expectativas e
os impactes positivos gerados por este produto, em termos efetivos.
• Na realidade, o seu potencial efeito benéfico poderá não se verificar
havendo até o risco de surgirem alguns impactes negativos.
2.1. Origem e motivação da procura
• Em termos de tendências da procura, as áreas rurais são cada
vez mais procuradas por motivos de recreação, lazer e
turismo devido:
– à grande riqueza de recursos, de carácter natural, histórico e cultural
(Davidson, 1992; Kastenholz, 2002).
• Face a estas tendências e à possibilidade do turismo poder
contribuir para o desenvolvimento ou regeneração das áreas
rurais, é importante identificar as estratégias mais
adequadas para a maximização dos benefícios, as quais se
inserem nos princípios de um turismo sustentável.
2.1. Origem e motivação da procura
• Em Portugal, o turismo rural assume a designação de Turismo em
Espaço Rural (TER);
• É um produto turístico que, em termos legais, data de 1986, tendo
sido criado com os objetivos de estímulo do rendimento
económico das populações e recuperação do património histórico-
cultural.
• Desde a sua criação, o conceito sofreu algumas alterações que
passou pelo alargamento das modalidades de alojamento nele
integradas até à sua mais recente alteração (2008) que conduziu à
sua redução;
– Passou de 7 para apenas 3 modalidades de alojamento: casas de campo,
agroturismo e hotéis rurais.
2.1. Origem e motivação da procura
• Na Madeira, os empreendimentos turísticos incluem as “Quintas da
Madeira” que se podem inserir no turismo em espaço rural.
• Comparativamente a outros países da Europa, o produto de TER encontra-se
menos desenvolvido em Portugal (Kastenholz, 2002). No entanto, tem-se
verificado um crescimento, tanto ao nível da oferta como da procura.
• Em 2007 existiam 1023 estabelecimentos a nível nacional, com a
correspondente capacidade de 11 327 camas (Turismo de Portugal, 2007).
• Em 2020, existiam 1386 estabelecimentos a nível nacional, com
capacidade de 22 912 camas (travelBI, 2020).
2.2. O que é o Rural?
Cavaco (1993) define três tipos de áreas rurais:

❑ os campos periurbanos, que se caracterizam essencialmente por:

(i) densidades populacionais elevadas;


(ii) por acréscimos demográficos;
(iii) por saldos fisiológicos positivos;
(iv) por afluxos de população;
(v) pela diversidade de atividades económicas, sendo a agricultura dominante em termos de
uso do solo e pela sua marca na paisagem.

Nestes espaços, a população ativa não é maioritariamente agrícola, migrando


pendularmente entre a residência e os centros de emprego.
Há urbanização generalizada dos modos de vida, dos sistemas de valores e padrões de
consumo.
A agricultura é uma atividade relativamente instável face à pressão da expansão urbana,
ao preço dos solos entre outros fatores.
2.2. O que é o Rural?
❑ Os campos em vias de extinção ou abandono que se caracterizam
sobretudo pelas terras pobres, difíceis de trabalhar, de montanha, pouco
produtivas, que foram marginalizadas mesmo pelos locais, quando outras
oportunidades surgiram fora destas áreas.

São espaços que se caracterizam como áreas onde dominam os camponeses velhos,
reformados e isolados; alguns emigrantes regressados, algumas residências
secundárias herdadas e fechadas durante uma parte importante do ano.

São igualmente espaços em processo de degradação, tanto da paisagem tradicional,


como das casas e de outros aspetos. As exceções a este cenário são ainda, segundo
Cavaco (1993), pontuais e geralmente constituídas pelos espaços protegidos
institucionalmente (espaços visitados, percorridos e observados) ou igualmente por
certas aldeias recuperadas ou em processo de recuperação.
2.2. O que é o Rural?
❑ os campos intermédios que, como a própria designação indica, se
posicionam em termos de características entre as duas situações
anteriormente referidas.

São espaços onde predomina a população agrícola e apresentam grande diversidade de


formas de uso do solo, arquitetura, povoamento, modos de vida e sistemas de valores.

A atividade agrícola é igualmente predominante em termos da ocupação do solo e também


como fonte de rendimento, coexistindo em muitos casos com situações de plurirendimento e
pluriatividade.

São espaços sobre os quais, no entender de Cavaco (1993) pesam muitas incertezas, na sua
maior parte relacionadas com as associadas à atividade de base – a agricultura.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Segundo Licínio Cunha (2013), a expressão “turismo no espaço rural”, utilizada para
designar o produto turístico baseado no meio rural, tem um sentido extremamente
amplo e ambíguo, não permitindo delimitar o seu âmbito nem definir o seu
conteúdo.
• Nessa expressão cabe uma multiplicidade de situações e modalidades de turismo
que têm, na base da procura que originam (caça, pesca, alpinismo, hipismo…),
motivações muito diferentes daquelas que originam a procura do meio rural com
identidade própria.
• É por isso muito importante precisar o sentido que se lhe atribui e delimitar o seu
conteúdo, sendo que a primeira ideia que a designação “turismo no espaço rural”
sugere é a de que é o turismo que se realiza no campo, isto é, nas zonas rurais.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Dada a insuficiência de qualquer dos critérios referidos até ao momento para definir
zona rural na perspetiva do turismo, Licínio Cunha (2016) refere que se deve utilizar as
suas características económicas, sociais, culturais e ambientais.
• Neste sentido, a zona rural será “aquela cujas atividades económicas dominantes
tenham uma base agrária e florestal com produções de produtos agrícolas,
florestais, pecuárias e seus derivados, se caracteriza pela existência da vida
natural e selvagem, em que a produção industrial é esporádica e a cultura e as
tradições se identificam fortemente com o ambiente e com as forças da
natureza” (p.213).
• A convivialidade que aí se estabelece difere profundamente da dos centros urbanos.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Os espaços rurais, associados à produção agropecuária e á disponibilidade de
valiosos recursos naturais, paisagísticos e histórico-culturais (arquitetónicos,
arqueológicos, artísticos, gastronómicos, artesanais, entre outros), bem como às
atividades de animação (desportivas, recreativas, festivais…) têm gerado crescente
interesse e atratividade para visitantes (com origem em territórios de proximidade) e
turistas (cuja deslocação é motivada, principalmente, pelas potencialidades do
destino).
• As comunidades de acolhimento têm também revelado algum contentamento pela
valorização destes espaços.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• O TER caracteriza-se:
• Pela sua localização numa zona rural;
• Pela utilização dos fatores naturais, culturais e sociais que são próprios destas
zonas;
• Exploração em pequena escala;
• Preservação dos valores existentes;
• Recusa do caráter urbano das construções ou equipamentos.
• A preservação da natureza e da paisagem, a manutenção da arquitetura típica local e a
convivência com a cultura e as tradições próprias do ruralismo, constituem os seus
objetivos fundamentais.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Como produto, o TER identifica-se pelos seguintes aspetos:
• Desenvolve-se no espaço rural;
• Utiliza recursos naturais e culturais próprios do meio rural;
• Oferta turística de pequena dimensão com utilização das construções existentes;
• Integra-se na economia local como complemento da atividade agrária;
• A procura é motivada pelo contacto com a natureza e pela fuga ou evasão dos
meios urbanos.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• O TER como fator de desenvolvimento dos espaços rurais:

Revitalização económica e social dos espaços rurais;

Preservação das heranças culturais;

Proteção e conservação ambiental;

Criação de riqueza para os proprietários de estabelecimentos de alojamento,


restauração, empresas de animação, de comércio de produtos locais…

Geração de emprego;
2.3. Turismo no Espaço Rural
• O TER como fator de desenvolvimento dos espaços rurais:

Fixação de população;

Conservação e gestão das paisagens e do património edificado;

Diversificação das atividades rurais;

Infraestruturação de suporte às atividades turísticas e de lazer;

Dinamização de iniciativas culturais;


2.3. Turismo no Espaço Rural
• No entanto, é importante referir os impactes moderados que TER tem tido nestes territórios, o que
se deve:
• Ausência de qualificações de âmbito turístico dos empresários;
• Criação diminuta de empregos para os residentes;
• Reduzidos salários contratados;
• Escassas oportunidades de progressão profissional;
• As poucas qualificações profissionais dos colaboradores;
• Inexistência de estratégias de marketing que promovam os destinos rurais de modo integrado;
• A carência de parcerias entre as empresas de turismo e entre estas e as respetivas instituições regionais;
• Limitada articulação entre as unidades de TER e outras atividades que contribuem para o desenvolvimento
sustentado do negócio e que vão ao encontro dos interesses dos visitantes e turistas destes espaços,
designadamente as associadas aos recursos naturais, aos eventos tradicionais, ao artesanato, aos produtos
enogastronómicos…
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Motivações da procura:
• Um estudo da UE revela que um número cada vez mais importante de pessoas
procura no campo a satisfação dos anseios de calma e de repouso (que
anteriormente procuravam junto ao mar);
• ¼ da população da UE que se desloca prefere o meio rural para passar férias;
• 40% das pessoas que passam férias fora da residência habitual declara que o
principal motivo da sua viagem é aproveitar a natureza.
• O ambiente influencia 32% dos cidadão europeus na escolha do seu destino.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Motivações da procura:

Fonte: Gonçalves, Patrícia (2020). Estudo das (Des)motivações para a prática de Turismo em Espaço Rural: o caso da Região Centro. Dissertação de Mestrado em Gestão
Turística, Instituto Politécnico de Viseu, 69p.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Motivações da procura:

Fonte: Tsephe, N.; Eyono Obono, D. (2013). A Theoretical Framework for Rural Tourism Motivation Factors. International Journal of Economics and Management
Engineering, 7 (1), pp.273-278.
2.3. Turismo no Espaço Rural
• Motivações da procura:
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• As principais razões que levaram a um maior interesse pelas viagens de contacto


com a natureza foram:
• Generalização da consciência das realidades ecológicas;
• A convicção da finitude dos recursos naturais e da sua consequência para a vida
humana;
• O desenvolvimento de uma nova ética nas relações entre os seres humanos e o
ambiente em que vivem;
• A excessiva concentração urbana desligada do ambiente natural.
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• Surgiram assim novos produtos e subprodutos que têm em comum as relações com a
natureza, dando origem a várias designações, que por vezes originam confusões:
turismo ambiental, turismo de natureza, turismo ecológico, ecoturismo.
• Um dos conceitos mais utilizados é o ecoturismo – viagens para contacto com as áreas
naturais relativamente não perturbadas e com o fim específico de as estudar e admirar
e de apreciar o cenário, as plantas e os animais, bem como quaisquer aspetos culturais
existentes nestas áreas (Ceballos-Lascurain, 1991).
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• Em 1993, a mesma definição foi atualizada: “Ecoturismo é a viagem e a visita, ambientalmente


responsável, a áreas relativamente não perturbadas com vista a gozar e apreciar a natureza e os
aspetos culturais existentes que promova a conservação, tenha reduzidos impactos negativos
provocados pelos visitantes e assegure ativos benefícios socioeconómicos ás populações locais”.
• Apesar de não haver ainda hoje, uma concordância em relação a uma definição universalmente aceite
de ecoturismo, há elementos comuns que merecem concordância e que permitem estabelecer a
distinção com outras formas de turismo:
• 1. observar e compreender a natureza;
• 2. educação e consciência acerca do respeito pelos recursos e cultura local;
• 3. envolvimento das populações locais;
• 4. gestão sustentável.
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza
• Para muitos autores, o Turismo de Natureza caracteriza-se pela procura de vivências
naturais e de contacto com a natureza nos seus múltiplos aspetos, pode ser
caracterizado segundo várias formas de acordo com o grau de relação dos visitantes com
a natureza, a vida selvagem e as atividades humanas que dela derivam (cultura local).

Modelo de potenciais motivações de ecoturismo Fonte: Swarbrooke (2002) in Cunha, L. (2013)


2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• O Turismo de Aventura é baseado na natureza e tem semelhanças com o ecoturismo mas


não se identifica com ele.
• Apesar de se focar em áreas naturais, envolve desafio físico e pode ter três categorias
diferentes: pequena escala com características de ecoturismo (observação de aves,
mergulho…), média escala e orientado para o desporto (rafting, escalada…) e larga escala
com aspetos de turismo de massas (safaris).
• Em alguns países, calcula-se que em média, 20% das receitas geradas pelo turismo têm
origem no ecoturismo;
• No Quénia, é a forma de turismo mais relevante: oito em cada dez visitantes visitam o
Quénia devido à sua vida selvagem.
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• Assumindo uma definição abrangente, pode considerar-se que o turismo na natureza


envolve toda a atividade turística que se baseia em experiências diretamente relacionadas
com atrativos naturais (Tourism Victoria, 2008).
• Como o património natural é também um recurso essencial de outros produtos turísticos e
porque o próprio turismo na natureza pode ser valorizado pelo património cultural é difícil
estabelecer uma fronteira entre o turismo na natureza e alguns desses produtos.
• Pode haver mesmo uma sobreposição, como acontece com o turismo rural e o turismo de
aventura.
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza
ABRANGÊNCIA DO TURISMO NA NATUREZA

Turismo de aventura Turismo rural


TURISMO NA NATUREZA

Turismo náutico Ecoturismo


Circuitos
paisagísticos e
culturais

Golfe Turismo cultural Saúde e bem estar Sol e praia

Fonte: Adaptado de Silva (2013) in Silva & Umbelino (Eds.)(2017)


2.4. Perfil e motivações do consumidor de Turismo em
áreas naturais/Turismo de Natureza
• Definir perfis para turistas na natureza é tarefa difícil devido:
• à sua grande dispersão de interesses e motivações;
• Insuficiência de estudos e investigações direcionadas a este mercado.
• No entanto, verifica-se a existência de duas dimensões interligadas:
• Uma associada à motivação e ao perfil do turista (mais apropriada para a compreensão do
fenómeno);
• Outra mais relacionada com o produto decomposto em atividades (é de aplicabilidade mais
simples pelo setor turístico).
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza

• Segmentação do produto turismo na natureza

Ecoturismo e Turismo de Caça e pesca Observação e Alojamento na


turismo de vida aventura e de turística (turismo relaxar na natureza natureza
selvagem experiências extrativo)

• Estes grupos podem ainda ser subdivididos em segmentos mais específicos (observação de
flora e vida selvagem, geoturismo, turismo educativo na natureza, turismo científico na
natureza, ecoturismo, turismo de aventura, turismo extrativo, eventos na natureza…)
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza
• Motivações para o turismo de natureza
2.4. Turismo em áreas naturais/Turismo de Natureza
• Motivações para o turismo de natureza

Fonte: Santos, J. (2018). Turismo de Natureza: Procura Turística e Imagem dos


Espaços Naturais. Dissertação de mestrado, ESTG de Viseu, IPV.
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal
2.5. Representatividade do TER em Portugal

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