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DUELO SOBRENATURAL*

Adrian Mitchell

Nome: Adrian Mitchell


Série de Livros: Renegade Angels
Função: Capitão dos Sentinelas, uma
divisão de elite de serafins cuja missão é
punir os Caídos
Altura: 1,90 m
Peso: 90 kg (descontando o peso das
asas)
Cabelos: Pretos
Olhos: Azuis cintilantes
Localização: Atualmente sediado no
Orange County, na Califórnia.
Par: Lindsay Gibson/ Shadoe
Movimento característico de combate:
Abertura das asas, que são impenetráveis
às armas dos mortais e têm penas
cortantes como lâminas.
Assassinatos mais notáveis: Remoção do
coração de vítimas ainda vivas,
decapitação, evisceração, mutilação,
tortura psicológica.
Inimigos: Syre, capitão dos Caídos e
líder dos vampiros.
Passatempo predileto: Voar (usando
suas asas ou os aviões moderníssimos de
sua própria companhia aérea) e seduzir
Lindsay — de preferência as duas coisas
ao mesmo tempo.
Fatos diversos: Com exceção de abrir
mão de Lindsay, não há nada que Adrian
não faça para cumprir sua missão:
mentir, torturar, levar suas vítimas à
loucura, matar… O fim sempre justifica
os meios.

Eu me lembro muito bem de como


vim parar aqui neste duelo sobrenatural.
Estava trabalhando no escritório da
minha casa quando Damien anunciou
uma visita. Desviei os olhos da mesa por
apenas um breve momento, numa
tentativa de mostrar para a sra. Day que
estava ocupado demais naquela tarde,
mas o vermelho vivo da calça que ela
vestia chamou minha atenção. Eram de
flanela, percebi antes de olhar pela janela
e notar que era um típico dia de sol do
sul da Califórnia. Eu a observei enquanto
ela puxava uma cadeira diante da minha
mesa e se sentava. Estreitei os olhos e
tentei identificar a estampa horrenda
daquelas calças.
Eram bonecos de neve, eu percebi,
ainda mais horrorizado. A mulher tinha
ido me visitar de pijama.
“Senhora Day”, eu falei, recostando-
me na cadeira. “Eu sei que você passa um
tempo absurdo escrevendo seus livros,
mas alguém com certeza já deve ter lhe
dito que estamos em setembro.”
Ela removeu uma mecha de cabelos
da frente do rosto. “Eu sei em que mês
estamos, Adrian. É por isso que estou
aqui.”
Reparei na forma apressada como ela
havia prendido os cabelos, além da falta
de maquiagem no rosto, e suspirei
silenciosamente. Ela até que ficava
bonitinha quando se produzia, mas, pelo
jeito, falar comigo não compensava esse
esforço. “Então diga logo o que quer.
Estou ocupado.”
“Não fala assim comigo”, ela
respondeu, ingenuamente acreditando
que eu não lhe faria mal caso fosse
necessário. Essa confiança toda se baseava
no fato de eu tê-la procurado. Ela devia
achar que era importante, ou necessária,
para mim. “Você tem um compromisso,
e se não sair agora mesmo vai se atrasar.
Já me mandaram um e-mail perguntando
onde você está”, disse ela.
Apoiando os cotovelos nos braços da
poltrona, juntei os dedos como se
estivesse rezando. Às vezes eu tento
comunicar o Criador sobre o andamento
da minha missão, mas Ele já deixou de
prestar atenção em mim faz tempo.
“Eu nunca me atraso”, esclareci para
ela. “Pelo menos não quando sei que
estou sendo aguardado em algum lugar.”
Ela, por sua vez, quase nunca é pontual.
Nestes dois anos que estamos
trabalhando juntos, já perdi a conta de
quantas vezes me vi esperando por ela.
“Não me diga que você se esqueceu
do Duelo Sobrenatural. Eu sei que
Lindsay falou com você a respeito.”
O evento me parecia vagamente
familiar. Apoiei a cabeça no encosto e
pensei melhor. “Ah, sim. Agora me
lembro.”
“Ótimo. Vá até lá e acabe com eles.”
Eu me animei com a ideia de um
banho de sangue. Estava agitadíssimo
fazia dias, e ainda estava tentando seduzir
Lindsay Gibson para a minha cama.
Como o sexo ainda não era uma
possibilidade, uma batalha mortal
poderia ser um bom substituto.
“Eu conheço esse olhar”, comentou a
sra. Day, estreitando os olhos. “Não se
esqueça de que é só uma luta de exibição.
Nada de matança.”
Eu até parei de me mexer. “Como
é?”
“Você não pode matar ninguém. É
um evento esportivo.”
“Ah, não”, eu disse baixinho, me
levantando bem devagar. “Se está
achando que eu vou participar de um
showzinho qualquer, está tão enganada
quanto eu ao procurar você para contar a
minha história em vez de ter ido falar
com Kresley Cole ou J. R. Ward.”
Ela tentou esconder, mas acusou o
golpe. “Que comentário mais maldoso.
Não é nada fácil trabalhar com você. Eu
fiz o meu melhor. Nunca me esforcei
tanto para escrever um livro.”
Eu contornei minha mesa, sentindo-
me desagradavelmente arrependido.
Apesar dos defeitos e das fraquezas, ela
não era tão ruim para uma mortal. Às
vezes eu sentia até… que gostava dela.
“Sinto muito.”
Ela piscou os olhos, confusa. “Ai,
meu deus, vou ter que anotar isso para a
posteridade.”
O sentimento de afeto se desfez com
a mesma facilidade com que apareceu.
“Mande Lindsay no meu lugar.”
“Eu não posso.”
“Por que não? Ela é uma especialista
no manejo de facas, tem uma pontaria
excelente e é destemida até demais. Vai
fazer um sucesso enorme.”
“Eu adoro a Lindsay”, respondeu a
sra. Day. “Caso contrário vocês não
ficariam juntos no meu livro.”
Fiquei enfurecido só de pensar, e as
minhas asas se materializaram em uma
manifestação visível da minha irritação.
Elas surgiram como lufadas efêmeras de
fumaça antes de se solidificarem em
penas brancas com ponta vermelha. Eu
as estendi e sacudi para espantar um mau
humor que parecia se enraizar cada vez
mais.
“Está vendo?”, ela murmurou, com
os olhos marejados de admiração. “É por
isso que precisa ser você.”
Eu estalei os dedos bem perto do
rosto dela. “Senhora Day, vamos parar
para pensar, por favor. Os mortais não
podem saber que nós estamos entre eles,
esqueceu?”
“É uma ocasião especial. Todo
mundo vai se reunir para esse evento,
para exibir suas melhores habilidades de
combate. Você precisa mostrar como
consegue parar até tiros com suas lindas
asas. E como elas rodopiam em torno de
você com tanta fluidez na batalha, como
uma capa.”
“Eu não sou mico de circo. Encontre
outra pessoa. Ou então me deixe matar
alguém. A escolha é sua.”
Ela me lançou um olhar de
compaixão dos mais incômodos. “Você
não sabe por quanto tempo ainda vai
poder mantê-las”, ela disse baixinho.
“Agora que está com Lindsay.”
Não era preciso dizer mais nada. Eu
sabia o que estava arriscando ao me
apaixonar por uma mortal, mas isso não
mudaria em nada o que sentia por
Lindsay. Ela era tudo para mim. A razão
pela qual eu suportava todos os meus
dias e ansiava todas as minhas noites. O
motivo pelo qual algum dia perderia as
minhas asas.
“Tudo bem”, eu falei, estendendo a
mão. “Me passe o endereço.”
Então aqui estou eu. Quem quer
sentir o poder das minhas asas?

* Publicado originalmente em DarkFaeries.com,


em setembro de 2011.
AGNES NEGRA*
Adrian Mitchell

Adrian Mitchell atirou as fotos da


cena do crime sobre a mesa de jantar da
suíte que ocupava no hotel, observando-
as enquanto deslizavam pelo tampo de
vidro. “Ainda vamos ficar aqui por um
bom tempo.”
Os dois licanos sentados à mesa
apanharam as imagens e as dividiram
entre si.
Sem disposição para continuar
olhando para elas, Adrian se virou e
caminhou na direção das janelas
enormes com vista para a cidade de
Phoenix, no Arizona. Tentando conter
um indesejado sentimento de agitação,
ele abriu as asas, que surgiram como
uma lufada de fumaça antes de se
solidificarem em penas branquíssimas
com ponta vermelha. Ele as estendeu e
movimentou, escondendo seu sinal de
inquietação na forma de algo que seria
visto pelos licanos como um simples ato
de relaxamento.
“Agnes Negra”, disse um deles.
“Como é?” Ajustando melhor sua
posição, ele se virou para os dois que
examinavam as fotos. Um era atarracado,
pura força bruta. O outro era mais alto e
esguio, mas ainda assim parecia mais
forte. Adrian observou a ação da dupla,
notando seus pontos fortes e fracos. Os
dois formavam uma boa equipe e
trabalhavam bem com ele. Juntos,
tinham matado três vampiros nômades
em menos de duas semanas. Eles
esperavam acrescentar mais um à lista
antes de voltar para casa.
O mais alto dos dois, Elijah, ergueu
a cabeça e encarou Adrian com os olhos
verdes flamejantes de uma criatura
portadora de sangue de demônio. Era
aquele toque demoníaco que permitia
aos licanos mudar entre as formas de
lobo e humano. Era também o que os
fazia dever sua lealdade a Adrian. “É uma
lenda urbana sobre uma estátua de
cemitério, duas na verdade, de uma
figura enclausurada. Dizem que uma
delas tem poderes sobrenaturais. Os
universitários usam isso como trote para
quem quer entrar em uma fraternidade
ou irmandade. O candidato precisa passar
uma noite sentado no colo da estátua,
mas uma vez uma menina foi encontrada
morta na manhã seguinte, com
hematomas e machucados que sugeriam
que a estátua tinha ganhado vida e a
esmagado até que ela parasse de
respirar.”
“Essa não é uma figura coberta com
um véu”, assinalou Adrian, tomando o
cuidado de manter um tom de
neutralidade na voz, apesar da fúria que
sentia. Ele era um serafim, um Sentinela.
Deveria estar acima da trivialidade das
emoções humanas. No entanto, ele não
conseguia se segurar ao ver aquelas fotos
espalhadas diante de si, imagens de uma
linda jovem dramaticamente desfalecida
nos braços de uma enorme estátua de
mármore de um anjo. Um anjo cuja
cabeça baixa parecia lamentar a
existência do corpo exangue deitado
sobre suas coxas.
Era uma provocação. Uma
inconfundível demonstração de
desrespeito da parte do vampiro que
havia sugado até a última gota do que
parecia ser uma vida promissora.
“Não mesmo”, concordou Elijah.
“Esse nômade é jovem. E burro demais
para se pôr em seu devido lugar.”
Apenas um vampiro muito jovem e
tolo faria algo para atrair
deliberadamente a atenção de um
Sentinela. Adrian abriu um sorriso
amargo. “E ele vai ter o que merece.”
Quando caiu a noite, eles se
separaram e se espalharam pelas festas e
pelos bares que eram ponto de encontro
dos universitários. A presença deles
chamou a atenção como a de predadores
no meio das presas. Os homens se
afastavam instintivamente, mas as
mulheres pareciam atraídas pela sensação
de perigo. Mantendo a concentração e
deixando a sedução rolar solta, não seria
difícil fazê-las falar. Quando Adrian se
reencontrou com Elijah e Trent, eles
juntaram as informações que obtiveram
sobre rituais de iniciação, e muitas delas
apontavam para a tal estátua do
cemitério, em virtude de sua mórbida
notoriedade.
Adrian olhou para a lua. “Nosso
vampiro não vai querer esperar. Nós
estamos aqui, e agora ele sabe disso. Meu
palpite é que ele vai atacar mais uma vez
hoje à noite, em uma última
demonstração de arrogância antes de
seguir em frente.”
“Para o cemitério, então?”,
perguntou Trent.
“Isso mesmo. Vamos lá.”

Adrian já tinha vivido por milênios,


nada mais o surpreendia. Ele havia visto
de tudo, e inúmeras vezes.
Do seu ponto de observação, no alto
de uma árvore a mais ou menos
oitocentos metros da estátua, ele
observou o casal que caminhava na
direção do enorme anjo, rindo baixinho e
parando de vez em quando para se beijar
lascivamente. Ao chegarem aonde
queriam, eles se debruçaram sobre o
mármore em um abraço apaixonado. A
moça passou as mãos pelos cabelos do
jovem, que beijava sua boca mais na base
do entusiasmo que da habilidade. Ele a
deitou no colo do anjo, colocando-a na
altura perfeita para se posicionar no
meio das pernas dela e puxar sua
minissaia para cima.
Saltando da árvore, Adrian se
aproximou com cuidado, examinando a
cena com atenção para tentar determinar
se estava diante de algo mais do que um
casal de estudantes cheios de hormônios.
Ele tinha ciência de que Elijah e Trent
estavam por perto, mas mantendo uma
distância suficiente para que seu cheiro
não interferisse no olfato do Sentinela na
caçada ao vampiro.
A garota jogou a cabeça para trás
com um suspiro de prazer, expondo toda
a extensão de sua garganta para os lábios
abertos e famintos do parceiro.
Foi quando Adrian notou o brilho
cor de âmbar nos olhos dela.
Ele ergueu as sobrancelhas. Ora essa.
O sinal furtivo que ela fez com a
mão o alertou para a presença de outros
vampiros, e ele se escondeu à sombra de
uma grande árvore ali perto. O bando foi
surgindo de todas as direções atrás do
jovem, com as presas reluzindo à luz do
luar. O gênero da agressora o
surpreendeu, algo que mais tarde ele
chegou à conclusão de que não deveria
ter acontecido. Apesar de serem mais
discretas, as vampiras eram ainda mais
violentas que os vampiros.
A garota deitada no colo do anjo
empurrou o pretenso amante para os
braços de seus amigos, que gargalhavam.
Adrian entrou em ação, projetando-se em
alta velocidade na direção da vítima,
sacando-o do meio do bando, abrindo as
asas e girando com movimentos fluidos.
As pontas afiadas de suas penas cortavam
como uma serra circular, tirando os
vampiros de ação em menos de um
segundo. À medida que os pedaços de
corpos iam caindo ao chão com baques
surdos e arrepiantes, Adrian invadia a
mente do jovem e removia todas as
lembranças daquela noite,
interrompendo suas recordações no
momento em que ele conheceu a
vampira na festa.
Foi quando ele a encarou, a líder do
bando. Ela fugiu para os braços da
estátua do anjo, cercada por Elijah e
Trent em sua forma lupina. Quando seus
olhos se encontraram com os de Adrian,
porém, eram a expressão do desafio,
temperado pela loucura.
Arrancando-a de cima da estátua,
Adrian vasculhou suas memórias,
confirmando que ela era culpada pelo
ataque anterior e revelando a tragédia por
trás de sua Transformação. Ela havia sido
pega dessa mesma maneira por um
jovem vampiro nômade e seus amigos. O
ataque consumiu sua sanidade — a
Transformação roubou sua alma, como
acontecia com todos os vampiros lacaios.
O que restou do que ela havia sido foi só
um dos monstros que Adrian caçava.
Ainda assim, ele se lamentou por
dentro.
“Vou encontrar quem fez isso com
você”, ele prometeu baixinho antes de
acabar com ela.
Pela manhã, dezenas de lírios
brancos foram encontradas no colo da
enlutada estátua do anjo. Nos anos que se
seguiram, o local se tornou conhecido
por ser particularmente pacífico, um
lugar onde os visitantes se sentiam bem,
e partiam com um sentimento renovado
de esperança nos dias que viriam.

* Publicado originalmente em
AllThingUrbanFantasy.blogspot.com, em outubro
de 2011.
PRIVILÉGIO AUTORAL*
Uma entrevista com
Adrian Mitchell

Não fiquei nem um pouco surpresa


ao me deparar com Adrian todo
pensativo quando o visitei para esta
entrevista. Sei muito bem que ele está
enfrentando uma enorme pressão no
momento, apesar de ele esconder isso
com maestria, como sempre.
Eu o encontrei em seu escritório,
contemplando pela janela a paisagem
natural do sul da Califórnia. Estava com
as mãos para trás, agarradas uma à outra
sob as asas abertas. Os cabelos escuros
roçavam o colarinho da camisa, mais
compridos que de costume nas semanas
anteriores, quando seu mundo virou de
cabeça para baixo. Suas belíssimas asas,
imaculadamente brancas a não ser pelas
pontas manchadas de vermelho, revelam
muita coisa a seu respeito. Não sei ao
certo se ele tem ciência disso. Ele pode
escondê-las de acordo com sua vontade, e
o fato de não ter feito isso naquele dia
me alertou sobre sua inquietação. Elas se
estendem e se flexionam quando ele está
irritado, o único sinal visível de como
está se sentindo.
E são justamente esses sentimentos a
causa dos problemas que ele vem
enfrentando. Afinal de contas, ele é um
Sentinela. Um anjo criado para caçar e
punir outros anjos. Projetado e criado
para não sentir nenhuma emoção, para
funcionar quase como uma máquina.
Um exterminador, talvez, como o do
cinema. Uma missão, um propósito,
nenhuma distração. Mas ele tem se
distraído um bocado ao longo dos anos.
E ultimamente mais do que nunca. Ele
pagou um preço por isso. Continua a
pagá-lo até hoje.
“Olá, Adrian”, eu cumprimentei,
apesar de saber que ele já tinha sentido a
minha presença.
Quando ele se virou para mim,
fiquei embasbacada, como sempre, com o
brilho azulado de seus olhos. Todos os
Sentinelas têm olhos azuis, e o motivo
disso Adrian já havia me explicado em
outra ocasião. Os Sentinelas são serafins
— os anjos “incendiários”. O azul de suas
íris representa a chama que arde dentro
deles. Puro e intenso. Lindíssimo, apesar
de assustador e sobrenatural.
“Senhora Day”, ele respondeu, com
sua voz profunda e macia, com uma
ressonância única. Era uma voz que
emanava autoridade, mas até aquele
momento ele nunca havia me obrigado a
fazer nada que eu não quisesse. Pelo
menos não que eu tenha notado… “Ah,
hoje você pôs uma roupa decente. Já
tinha quase me esquecido da sua
aparência quando não está de pijama.”
Eu sorri. “Ei, esse é um dos preços a
pagar por ser uma escritora. Como você
está?”
“Estou bem, na medida do possível.”
“E Lindsay, onde está?”
“Treinando.”
Eu balancei a cabeça, pois sabia do
que ele estava falando. A mulher que
Adrian amava era boa de briga, mas
frágil demais em comparação aos
vampiros que caçava e aos Sentinelas
com quem treinava. “Está pronto para a
entrevista?”
“Não.” Mas ele foi até sua mesa, e
me fez um sinal para sentar.
Suas asas se dissiparam como uma
névoa quando ele sentou, uma cena que
sempre me fascina. Apesar de serem
parte integrante de seu corpo, elas
podiam ser escondidas facilmente para
que mortais como eu não as vissem.
Eu o observei melhor quando ele se
ajeitou, admirando a beleza intocada de
seu rosto. Ele é lindo, e tem uma
sensualidade pulsante e sombria que o
faz parecer muito mais um anjo Caído do
que seu executor.
“Do que você mais gosta a respeito
de si mesmo?”, eu perguntei.
Ele ergueu as sobrancelhas, se
recostou na cadeira e ficou me
observando. “Isso já é para a entrevista?”
“Pode ser.”
“Humm… O fato de eu ainda ter o
que aprender, imagino. Poder mudar de
ideia, ser surpreendido, descobrir algo
novo.”
“Continuar evoluindo.”
“Sim, acho que dá para dizer isso.
Depois de tantos anos… depois de tudo o
que vi, eu ainda consigo formular novas
opiniões sobre coisas que já não
deveriam trazer nenhuma novidade.”
“Do que você menos gosta a respeito
de si mesmo?”
Ele abriu um sorriso malicioso.
“Quanto tempo você tem para fazer esta
entrevista?”
Foi a minha vez de erguer as
sobrancelhas. “Sério?”
“Parte da evolução se dá por
tentativa e erro, e eu cometi muito mais
erros do que gostaria. E, infelizmente,
continuo errando.”
“Errar é humano”, eu assinalei.
“Mas eu não sou humano.”
Pois é. Eu o observo mais um
pouquinho. “O que você nunca fez e
gostaria de fazer?”
“Passar um tempo a sós com
Lindsay”, ele respondeu sem hesitar.
“Uma semana, pelo menos, já que nem
isso nós tivemos.”
“E para onde vocês iriam?”
“Ela gosta de água. E eu, de
montanhas.”
“E você voa.”
“Pois é.” Ele sorriu, um sinal da
mudança que Lindsay está produzindo
em seu espírito. “Então eu acho que vai
ser em alguma montanha perto do mar.”
“É bom fazer planos para o futuro.”
“Isso mesmo.”
“Do que você mais tem medo?”
“Do fracasso”, ele respondeu, com a
mesma prontidão da pergunta anterior.
“Muita coisa depende de mim… minha
missão determina o destino de muita
gente. É uma aposta de alto risco. E agora
eu tenho Lindsay.”
“Você não vai fracassar.” Eu não
tenho nenhuma dúvida nesse sentido.
“Não mesmo”, ele afirmou, convicto.
“Eu não vou fracassar.”
E, de fato, essa é a principal coisa
para se saber a respeito de Adrian.

* Entrevista foi publicada originalmente em


UnderTheCoversBooklog.blogspot.com, em
outubro de 2011.
O HOMEM DO MOMENTO*
Uma entrevista com
Adrian Mitchell

Você alguma vez já travou as teclas do


seu Blackberry?
Não, mas já esmigalhei vários deles
com as próprias mãos em momentos de
irritação.

O que você acha mais interessante nos


mortais?
O fato de eles considerarem as
próprias decisões uma coisa mutável. De
poderem dizer que “regras existem para
serem quebradas”. Mesmo quando os
limites são bem claros e tudo indica que
foram ultrapassados, as emoções têm o
mesmo peso na reação a essas
transgressões que a letra da lei. Isso me
fascina. Existem pouquíssimas regras
imutáveis na vida dos mortais, e
inúmeras razões para explicar por que
cada uma delas se aplica a alguns casos e
a outros não.

Olhando para trás, agora que Lindsay faz


parte da sua vida, você teria feito alguma coisa
diferente em relação a Helena?
Está aí uma pergunta difícil. Helena
me procurou por dois motivos: queria
permissão para infligir uma lei e a
minha ajuda para isso. Era como se uma
policial fosse até um colega e pedisse
permissão para roubar um banco, uma
ajuda para desativar o sistema de alarme
e ainda tentasse obter uma promessa de
que não seria responsabilizada pelo
crime. Você entende que para mim era
impossível conceder o que ela me pediu?
Existe um precedente para o que
poderia ter acontecido caso a minha
decisão fosse outra. Syre enfrentou a
mesma situação quando se apaixonou
por uma mortal, e agiu de outra maneira.
Ele permitiu que os Vigias fizessem o
mesmo, e o resultado foi que todos eles
perderam as asas, inclusive aqueles que
não tinham feito nada. O erro dele
condenou a todos. Naquela situação, a
maioria dos Vigias teria incorrido no
erro de uma forma ou de outra, e com
certeza a permissão dele serviu como
incentivo para alguns, mas os meus
Sentinelas ainda são fiéis à sua missão.
Com exceção de mim e de Helena, o
restante deles se mostrou incorruptível.
Como arriscar a pele de todos por causa
da transgressão de apenas dois?
Dito isso, eu também acho que
poderia ter sido um amigo melhor.
Eu tinha dois papéis a cumprir em
relação a ela, o de líder e o de amigo, e
me concentrei no primeiro em
detrimento do segundo. Eu poderia ter
pedido um tempo para pensar. Não
deveria ter agido tão rápido, enquanto
ainda estava sob o impacto da notícia. A
minha cabeça estava um turbilhão. Logo
depois, Lindsay foi embora, e eu não
conseguia pensar em mais nada. Talvez
Helena não tenha percebido que na
verdade eu não escapei ileso dos meus
pecados. Lindsay também acreditava que
o meu castigo seria o mesmo do dos
Vigias, mas não é esse o meu destino, e
eu sempre soube disso. Perder Shadoe
tantas vezes, perder Phineas, saber que eu
não sou diferente daqueles que puni, o
sacrifício que Lindsay teve que fazer por
mim… Até mesmo a existência de Elijah.
Não foi à toa que ele entrou na minha
vida na mesma época que Lindsay,
exercendo todo esse poder sobre os
demais licanos.
O meu castigo é capcioso, como uma
infecção que se espalha aos poucos,
destruindo tudo o que é importante para
mim. Tudo por que eu trabalhei, tudo
em que acreditei, está desmoronando ao
meu redor. É esse o meu castigo, e eu
deveria ter dito isso a Helena, fornecido
o conhecimento de que ela precisava para
tomar sua própria decisão sem pedir a
minha permissão.

* Entrevista foi publicada originalmente em


DarhkPortal.com, em outubro de 2011.
UM TOQUE DE
VERMELHO
Se você ainda não leu,
não perca a história de
Adrian

“Uma aventura emocionante em um


ousado mundo de anjos e demônios… vai
deixar os leitores fascinados.”
— Publishers Weekly

“Ela é minha. Adrian saboreou aquela


sensação avassaladora de triunfo.
Se Lindsay Gibson soubesse o
instinto predatório e brutalmente sexual
que havia por trás daquela conquista,
talvez pensasse duas vezes antes de
aceitar jantar com ele. A primeira coisa
em que ele pensou quando a viu foi
prensá-la contra a superfície plana mais
próxima e possuí-la com ardor e
vontade. Do ponto de vista dela, era a
primeira vez que se viam. Na verdade,
estavam se reencontrando depois de
duzentos anos de separação. Dois
malditos séculos de espera e sofrimento.”

Adrian Mitchell não é um homem


qualquer. Além de ser o mais sensual,
elegante e charmoso dos seres, ele é
também o grande líder de uma unidade
de elite de operações especiais dos
serafins.
No entanto, enquanto controla
duramente vampiros e licanos e mantém
todo o universo em ordem, Adrian se
depara com a sua maior tentação: depois
de quase duzentos anos, a alma de
Shadoe, a mulher que ama, mais uma vez
está habitando um novo corpo.
Ao encontrar Adrian por acaso em
um aeroporto, sem nenhuma lembrança
do seu passado como Shadoe, Lindsay
Gibson sabe apenas que se sente
enlouquecidamente atraída por esse
homem maravilhoso que cruza seu
caminho.
Levada para um mundo perigoso,
dividida entre uma complicada paixão e
um conflito sobrenatural, Lindsay se vê
entre seu amor por um anjo, seu pai
vampiro e um revoltado licano. Nesse
jogo, Lindsay pode estar colocando em
risco muito mais do que seu amor e sua
própria vida…

SYLVIA DAY ocupa o primeiro lugar


na lista de mais vendidos do New York
Times e nas listas internacionais e é
autora de diversos best-sellers premiados,
publicados em 40 países. Foi nomeada
melhor autora pelo Goodreads Choice
Award, e sua obra foi considerada a
melhor do ano de 2012 pela Amazon na
categoria romance. Ganhou o RT Book
Reviews Reviewers’ Choice Award e foi
duas vezes indicada ao prestigioso RITA
Award. No Brasil, já publicou pela
Paralela os best-sellers Toda sua,
Profundamente sua e Para sempre sua.

Mais informações:
www.sylviaday.com
www.facebook.com/AuthorSylviaDay
@SylDay
Copyright © 2011 by Sylvia Day

A Editora Paralela é uma divisão da Editora Schwarcz


S.A.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

TÍTULO ORIGINAL Adrian CAPA Aline Temoteo

PREPARAÇÃO Lilia Zambon REVISÃO Luciane Helena


Gomide e Renato Potenza Rodrigues ISBN 978-85-
8086-885-2

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA SCHWARCZ S.A.
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
04532-002 — São Paulo — SP
Telefone (11) 3707-3500
Fax (11) 3707-3501
www.editoraparalela.com.br
atendimentoaoleitor@editoraparalela.com.br
Capa
Rosto
Duelo sobrenatural
Agnes Negra
Privilégio autoral — Entrevista com Adrian Mitchell
O homem do momento — Entrevista com Adrian
Mitchell
Créditos

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