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EXPANSAO CAFEBRA
EORIGENSDA
INDÚSTRIANO BRASl
,", - 0"" .

Durante: os.tíltimosanÇlS,fotiun publicados vá.rios trabalhos que


criticllm ate$e (predominante nos textos clássicos .sobre a formação
<x:~nõmic,abrasileira)segundo a qual a indu~tria1ização surge e avança
noslIlomentos em que o setor eXIWrtadorestá em crise. Entre os
e~~üdiosos.qa, .economia brasileira.>fortaleceu"se inclusive. uma. ten-
dêócja"em favor da tese. contrária: ospriIneitos. passos '.'da:indústria
eStariam diretamente .ligados aos . progréssós do setor exportador, isto
é; ao café, . ;.

'... ôrigen.s da ind.ústriaMBtasilcolócagues-


E~P(lflSªi)caft!t!jrae
iões diferentes d~ que conduziram às teses opostas ,nesse importante
debate, Ao. longo do lívro, destaca-se a nâtureza contraditória das
relaçõescafé-~dústíia, .detal modo. que. aeJ(pa,nsã9 ,cafeeiradeter"
min!!, ao mesmo tempo,. o. nasci111ento .da ..ÍItdústria e .0$ limite$<~~•....
industrialização.Entretanto, 4, tootrlÍdiçãoeotre .'café e indústria
".está'subordinada .aQ f~tQ de que'umbos .faze.m.parte da acumulação
4e capita1cujopúclepéfoOIJlldp peloc:apitalcaf~eiTo. Assím.os
aspect~c(~w.ra4itórios da unidade café-1.ndp:stria.(emgeta1c<mside-
rados 'cor,no."obstác~los" à indüstriali~ãoÇluaodesenvolvjmento)
, sãoânalisa(jÇls comocontradiçôes . próprias ao desenvolvil11eoto do
capitali~(>.noBta$íl .. '. .'''. .' j .' •.... ••. . ..•

Ao f()~19.detlCu.m'41ação qu'etemçomontícleo o capitalc~eeito


~(;onsider~al;ltambémcomo m()d()d.ej~erção do. Brasil na economia
mundial ebifonnação.. As' especificidade.s. dessa. acumulação, 'nei
seio da. quâl'pl:lSceaindústria, defjnemas~pecifiçidades dodesen-'
volvimeoto eXllum país que ocupa uma posiçãosul'xlrdinada na eco,,-
nomia mundiaL Dessa forma as relações de subordinação interna-
cioriaisa.par,*1I1 como elementos constitutivos da' própria economia
brasileira. . .'
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BIBLIOTECA ALFA-OMEGA DE ClINCIAS SOCIAIS t
SERGIO SILVA
Série l~ - Volume 1

ECONOMIA'
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I
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DIREÇÃO
JOÃo MANUEL C. DE MELLO
Expansão Cafeeira ~
I
(da Universidade de Campin!l8 - SP)

e Origens da
"

I
CONSELHO O~BNTADOR.

Lui,z Pinto Ferreira n


i Indústria no Brasil
Reynaldo Xavier Carneiro ressoa
GeraIdinil Porto Witter [ 5.a Edição
Nagib Lima Feres
Dugtas Teixeira Monteiro
Paulo Sergio Monteiro 'V'.ANIE.L VASCON~ f
João Manuel C. de Mello ~
José Sebastião Witter I
Maria de Lourdes Ianotti
Geraldo Galvão Ferraz
I
I
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A
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EDITORA ALFA OMEGA


São Paulo ~
1981 .
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•••
Planejamento Gráfico c Produção
Tereza R, Quilares

Capa
~
Agune, Falanqui & Tedeschi CONTEÚDO

Nota da Editora ,., . XI


Sobre o Autor , ................•.. XIII
Revisão
Nota' do Autor .. , ..•. , .. , . XV
Carlos A. L. Salum

l.' ediçõo Outubro 1976


I. INTRODUÇÃO
2.' edição Setembro 1977 ~. SOBRE A PROBLEMÁTICA
.3,' edição Outubro 1978
4: edição Abril 1980 1. O café e a indústria , .. ,....... 18
.5,' edição Setembro 1981 2. Industrialização e capitalismo ,..... 19
3. Industrialização e transição ••••.......... 22
4. Transição e economia mundial .. , .. ,...... 24

11. CONDIÇõES HISTÓRICAS


DA EXPANSÃO CAFEEIRA
!
1. Condições externas "., .. ',' '~9
1.1. Do mercado mundial à exportação de capitais. 29
1.2. Alguns dados sobre os investimentos britânicos. 36
2. Condições internas . 38
2.1. Capital ...............•.............. 39
2.2. Força de trabalho . 41
Direitos Reservados 44 "
EDITORA ALFA-OMEGA, LTDA;
2,2.1. Efeitos contradit6rios da abolição progressiva.
05413 - Rua Lisboa, 500 - Tel. .280-9972
01000 - São Paulo - SP
IIl, ECONOMIA CAFEEIRA

Impresso no Brasil 1. Plantações . . . . . . . . . . . . .. . . ,....... 50


Printed in Btazil 1.1. Trabalho assalariado .... ,., ,., , .. ,. 50

IX
•. --~--- ----~..: -" --~. _. _. .. ,. -- '. ~ ., .--.-.-.....,.... ,--.-.- -~
-
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F •

1.2. Mecanização " o ••••• o o •• o ••• o • • • S4


1.3. Estradas de ferro o •••••• o ••• o •••••••• o • 56
2. Capital Cafeeiro . o • o o • • • o • • • • • • • • • • • • • • 58
.2.1. Diversos aspectos e. aspecto dominante do capi-
tal cafeeiro .... o • • • • • • • • • • • • •••• o • • • • o • 60
3. Desenvolvimento da Economia cafeeira no iní~
cio do século XX •...•....•....... 0'0. o o • 62
3.1. Superprodução .: .. o ••••••••••••. o • o ••• o • 62 NOTA DA EDITORA
3.2. Valorização •..............•.... o •••• o • 66
4. A questão da terra e da abundância de terras. 70
Com. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil,
de Sérgio Silva, a Editara Alfa-Omega está iniciando a sua c0-
IV. ORIGENS DA INDÚSTRIA
leção de Economia, da Biblioteca Alfa-Omega de Ciências
1. o crescimento da indústria o.............. Sociais. Para dirigi-la, foi convidado o prol. João Manuel C.
77
2. O crescimento da grande indústria o • • • • 81 de Mello, da Universidade de Campinas.
3. Origens da burguesia industrial :.. 91 A Alfa-Omega pretende, com esta série, oferecer ao pú-
4. AspectoS contraditórios das rela~ões café-in- blico univer$itário brasileiro o que de mais recente se tem pro-
d'ÚStria ..•. o •••••••• o • • • • • • • • • • • • • • • • • 97 duzido nas nossas Universidades e divulgar a produção inte-
S. Contradições do desenvolvimento baseado na. lectual de nOSSO$economistas que, de forma geral, .raramente
economia cafeeira ... ..... ... ..•... .• 105 encontram oportunidade para publicar seus trabalhos. Objetiva,
6. O capital industrial 11O
também, formar wna biblioteca especializada, com obras de
autores preocupados com os problemas teóricos e práticos dO(
Economia, voltada essencialmente para a realidade brasileira e
as necessidades econômicas nacitJlUlis.

I .
Na $eqü~ncia desta nova série da Alfa-Omega está pro-
grama40 o livro Capitalismo tardio, de João Manuel Cardoso
de Mello, que aborda os problemas crzu:iais da tran~içãô .(1a
economia. brasileira para o modelo capitalista. Outros trabalhos
estão sendo selecionados para a coleção, sempre dentro do cri-
tério de levar ao público trabalhos de real import4ncia na..for-
mação de nossa cultura e na discu$são de nossos problemas.

x Xl
-_ .. _---_._-.......-.-
-----_ ...
.

'II
SOBRE O AUTOR
I'
Sergio Silva economista, fez os seus estudos universitários
em Paris, COmbbolsista do governo francês, no Institut d'ittudes
du Développement itconomique et Social da Universidade de
Paris I (Sorbonne) e na Faculdade de Letras e Ciincias Huma-
nas da Universidade de Paris X (Nanterre).
Ainda em Paris, fez o curso de p6s-groduação da lieole
Pratique des Hautes Btudes, cujo djploma obteve com o mé--
moire ULe café et l'industrie au Brésil", apresentado à banca
examinad(»'(l formada pelos professores Pierre Vilar, 19nacy
Sacm e Charles Bettelheim.
Retornou ao Brasil, em 1973, e passou a lecionar no De~
partamento de Economia da Escola de Administração de Em-
presas de Siio Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Em 1974, f
traM/criu-se para o' Departamento de Economia e Planeja-
mento Econômico do instituto de Filosofia e Ciêndas Humanas
da Universidade Estadual de Campinas, onde trabalha atual-
mente.
Participou da XXVlI ReuniliQ "Anual da"Sociedade Brlrsi-
leira para o Progresso da CibwÜJ (Belo Horizonte, julho de
1975), com o trabalho "Sobre as Origens da lndústrill no Bra-
sir, e do 111 Encontro Anual da Associação Nacio1Ullde Pós-
Graduação em Economia (Garanhuns, novembro de 1975),
com "Desenvolvimento EcontJmico e Agricultura no Brasil". ""
"" \
Expansão cafeeira e origens da Indústria no Brasil é seu ..
primeiro livro.

XIII

~D'!1t~-- .
.•.
-.-01-'''-'' •...•"'_'_ ~._ ..•~~~ __ .

NOTA DO AUTOR

Esse texto foi preparado dentro do quadro definido por


um conjunto de. pesquisas realizadas nO"Departamento de :Ec0-
nomia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Uni-
versidade Estadual de Campinas, em. convêDio com, o Banco
"Nacional de Desenvolvimento Econômico.
Nele procuro desenvolver teses indicadas em. trabalho
apresentado anteriormente na Ecole Pratique" des Hautes atudes
(Le café et l'induStrie au Brésil, 1880-1930. Paris, 1973), sob
a orientação de Charles Bettelheim.
Aproveito para destacar aqui as minhas dívidas para" com
os colegas que participaram do mesmo convênio d~ peilquisas,
analisando o mesmo" tema, com, as mesmas preocupações, co-
.mo João Manuel Cardoso de Mello "(O copitalismo tardio,'
Campinas, 1975) e Wilson Cano (Rdhes da concentraçilo in.
i
. dustrial em São PQulo, Campinas, 1975) . .A àusência de cita-
.çóes desses trabalhosdeve-se ao fato de que foram elaborados
"simultaneamente com o presente" texto: "
.Devo ainda agradecer a colaboração de Luiz Carlos Cintra
(Auxiliar de Pesqui&as do lFCH-Unioamp) e ao estfm\alo dh8
discussões realizadas com diversos amigos da Escola de Admi. "
Distração de Empresas ..de São Paulo e da UNICAMP, em par-
ticular, Décio saes e Ligia Silva.
,
Campinas, 1976. ''-t.

xv

... _~,
..•

I..

I. INTRODUÇÃO
SOBRE A PROBLEMÁTICA

o objetivo principal desse trabalho é o estudo das _origens


da industrialização no Brasil. A maior parte de _suas páginas
são co!)tudo consagradas ao exame da economia cafeeira. -
- Isso se explica, inicialmente, pela imppssibilidade de exa-
minar nos limites desse trabalho as diferentes regiões do Bra-
sil: dadas as fórtes desigualdades econômicas entre essas regiões,
~~:..;..- um estudo sobre as origens da industrialização em todo o Bra-
sil implicaria -unia série de análises regionais. _
A escolha da economia cafeeira deve-se ao fato de que ela
~ \.\1.\'9 foi o principal centro dll acumulação de capital no Brasil du-
_rante_o período. lê; B8 regiio do café que o denar:elv1meftto
das rela~es cllPÍtali8tas é mais acelerado' e é-lIt que se eQçQn~r
tea a maior parte da indÚstria nascente brasileira
Finalmente; a razão fundamental da posição ocupada peJa
análise da economia cafeeira está em s-uaimportância para ex-
-pIicar as características da indústria nascente brasileira. Toda
a análise da economia cafeeira fundamenta o estudo daS rela-
_çóes entre economia cafeeira e -indústria nascente. " .• -
O aprofundamento do estudo das relações econoDÜacafeei-
ta-indústria nascente está apoiada em uma problemática ~nde
a industrialização aparece como a última fase do período de
transição capitalista. A indústria nascente é então con~idera- ".
da como resultado de um desenvolvimento capitalista prévio. .
. O estudo relativamente detalhado da economia cafeeira,
,mesm~ se por momentos parece afastar-nos do assunto princi-
pal,constitui um momento indispensável à compreensão das
características da indústria nascente brasileira, porque ele é o
estudo dag formaS dominantes do capital durante o período em
questão. .

17

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J
.......=......::::::--.--:.~_. _._----. '-'
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•. 1 . O cale
f' 'd" ustna
e a In
ses laços e ao mesmo tempo, colocar o período estudado aqui
dentro de quadro teórico preciso, onde a expansão cafeeira. e
. O café já era o principal produto brasileiro de exportação a industrialização aparecem como dois estágios da transição
na década de 1840; mas na segunda metade do século XIX, ctJ[1itallsta no Brasil.
sobretudo a partir das décadas de 1860 e 1870, a produção
cafeeira passou por transformações profundas. A história dessas Para melhor precisar essa problemática, toma-se necessá-
transformações é a história .-da formação eJe novas relações, de rio indicar certascaracterlsticas particulares à traç-sição capita-
_. produção não somente na economia cafeeira mas no. conjunto . lista no Brasil; características que .se explicam fundamentalmen-
da sociedade brasileira. te pela ascensão do modo de produção capitalista a seu estágio
supremo, e a constituição de uma economia capitalista mundial.
No seu conjunto, o período da história econômica brasi-
leira aqui estudado caracteriza-se pelo desenvolvimento e a
crise da economia cafeeira; mas esse é também o período da 2. Industrialização e capitalismo
substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, do
desenvolvimento do mercado, da rápida expansão das estradas A industrialização tem sido objeto de numerosos traba-
de ferro, da aparição das primeiras indústrias, Esse período lhos de soci6logos e economistas que estudaram bastante esse
precede e cria condições necessárias à industrialização no problema, especialmente sob seus aspectos sociais. Mas, na
Brasil. sua grande maioria, esses estudos examinam as conseqüências
r' "~"...
. ..o A passagem à industrialização não
se faz automaticamen- sociais da industrialização: trata-se então de analisar as ''vanta-
••.
,..••.•.
~\..:e-. te, pelo simples jogo das pretendidas leis naturais da economia. gens" e os "inconvenientes" de um certo tipo de industrializa-
- ~ Ela é resultado de um sisteJIla complexo de contradições so- ção, muitas vezes com o objetivo de orientar esse processo em
ciais. Representa uma ruptura com o passado (inclusive o pe- direção determinada.
ríodo imediatamente anterior à industrialização), que é a con- O importante é que se. trata de orientar a' industrialização
seqüênCia de um conjunto de lutas econômicas e, sobretudo, e não mudar sua natureza. mesma. Essa é uma conseqüência
lutas políticas e ideológicas.
do fato de que, nesses estudos, a industrialização em si mesma
São justamente as formas dominantes de luta política e é considerada unicamente como progresso das forças produtivas
ideológica pela "industrialização" e pelo "desenvolvimento" 1 ou, para empregar 08 termos correntes nesses estudos, como
. ----t' que, a meu ver, conduziram a obscurecer os verdadeiros laços progresso técnico, a~ento da .produtividade.
eJOstentes entre a expansão cafeeira e a industrialização e a
. Nesse contexto, o estudo dos aspectos sociais da industria-
ressaltar de uma maneira unilateral a ruptura entre economia
lização é reduzido à questão: co~o os frutos da industrialização.
primário-exportadora e indústria.
sãorepartidos? Ou mais precisamente, quais são as relações
A partir do exame do conceito de indústria (e de indus- existentes entre tal ou tal tipo de industrialização e tàl ou tal
trialização), espero poder contribuir para o esclarecimento des- tipo de distribuição de renda. Em outros termos, trata-se de
saber se um perfil determinado da demanda, resultado de um
1 Mais precisamente, a posição dominante da ideologia desenvoI- dado tipo de industrialização, não constitui, em última análise
vlmentista nos meios intelectuais brasileiros. A figura central. dessa
ideologia está na identificação entre desenvolvimento capitalista e de. e a mais ou menos longo prazo, um obstáculo ao pr6prio pros-
senvolvimento econôJiJico em geral., A industrialização aparece ai como seguimento da industrializàção~.
uma fase do desenvolvimento econômico em geral e não como uma .
fase do desenvolvimento capitalista. Enquanto tal, a industrialização 2 Um exemplo de uma questão dessa problemática: a utillzlição de
pode ser oposta a todos os períodos que a precedem, sendo estes carac. técnicas. capital-lntellJive e .suas co~encias sobre um mercado de
terizados pela predominância da agricultura. Em contrapartida, os Ü'lIbalhõ fortemente marcado pelo desempreg~. A esse propósito, ver
ide6logos antf-industrialistas ou anti-desenvolvimentistas se preocupavam Pór exemplo Celso Furtado, Um projeto PDra o Brasil. Editora Saga.
em demonstrar que o Brasil era um país "de vocação agrícola". 1969 .. Cf; especialmente pp. 37-58.

18 19
..... '---~---'. .-.' - - .. -- ..._.... . ..- -.. .• '-i

Sem negar que essas análises possam produzir - e que le; aqui. ele não faz mais do que o seguir. Na manufatura, os
produzam efetivamente - conhecimentos sobre a sociedade trabalhadores formam os membros de um mecanismo vivo. Na
brasileira e as formações sociais "subde5envolvidas" em geral, fábrica,. eles são incorporados a um mecamsmo morto que existe
é necessário notar que elas se limitam ao quadro ideológico re- independentemente deles'; •.
sultante da industrialização. Ou seja, na medida em que a indus-
E mais além: "Em toda produção capitalista, na medida
trializaÇão .em si mesma, além de n~oser posta em questão,
em que ela não cria somente valores de uso mas ainda a mais.,.
permanece sendo o alvo a atingir, socialmente falando, então o
valia, as condições de trabalho dOminam o trabalhador,' bem
objetivo final dessas análises é a identificação dos "obstáculos"
longe de estarem a ele submetidas, entretanto, é a máquina que
à industrlal&ação e dos meios qe superá-los.
primeiro faz dessa transformação uma realidade técnica" li.
Para essa problemática - e os objetivos que
abandonar Nessa mesma ordem de idéias, é interessante examinar os
são obrigatoriamente os sem - é necessário considerar a in- resultados de pesquisas da equipe do Instituto de Sociologia da
dustrialização em si mesma (isto é, a industrialização enquanto Universidade Católica de Milão. Elas ressaltam a ligação exis-
progresso das forças produtivas) como um processo social, e tente entre desenvolvimento "técnico" e desenvolvimento "so-
mais precisamente como o aspecto técnico do desenvolvimento cial":
de relações de produção determinadas, como uma forma do
"As caraclerfsticas essenciais do processo de ~dustriali-
desenvolvimento das forças produtivas adequada a relações de Zl!-ção são, de um lado, a extensão e o alargamento da
produção' determinadas, no caso as relações de produção capi. divisão do trabalho no interior de um mesmo grupo produtivo.
talistas. O que equivale dizer que é necessário considerar que e de outro lado a obrigação dos produtores humanos se con-

=i-
formarem. ao ritmo e ao movimento do processo m.eclinico.
o desenvolvimento das forças produtivas toma as formas adap- Esse deslocamento técnko do centro de gravidade do processo
tadas à reprodução das relações de produção dominantes. tem 0Il efeitOll s6cio-econômicOll seguintes: a dependência cres-
cente do trabalho frente ao capitaI e o papel sempre maior do
O desenvolvimentodas forç-ªª. I?rod!!.tJ~SQ!?_Jl dqm!.~~8:.0 capital enquanto força de coerção e de diSCiplina frente à09
--f'.7 do capr~J9lY:imento das fo!'ÇaS produtores humanos dentro da série de suas operações parti-
~; n-ambem~SeD.vo~ªtQ.,~tas r~~ges-!~~~_~~.__ ta~. culares" e. '
E~alãViài; o reforço da---oãminação do capital sobre
o trabalho. Os dois processos estão intimamente ligados, de E ainda:

~~ª-ª~
modo que um não existe sem o outro~ ~~o_há desen~- " . .. o advento e a generalização do sistema de fábrica
representa com uma evidência particular O 'ponto culminante
'prod~ti~.senão !ob !elaçC!.~~is d~~ da ascensão ao poder da burguesia capitalista na Buropa
~. TOOOôesenvofvimentoae relações de produçao Ocidental" '1.
implica um tipo especifico de desenvolvimento das. forças pro-
dutivas e portanto a transformação 8 das. relações técnicas de A noção de indwtrililiZação in4ica, portanto, a revoluclà-
produção correspondentes às antigas relações de produção. narlzação das forças produtivas pelas relações capitalistas.
A industrialização representa essa transformação (revolu- Mas, tal qual 6 empregada em um grande número dç es-
cionarização) do processo de trabalho pelas relações de produ- tudos, a noção de industrialização esconde o verdadeiro Con-
ção capitalistas.
"Na manufatura e no artesanato - diz Marx - o traba- "Cf. K. Marx. Le capital. Ed. SociaIes, 1951. T. m,
p. 20.
lhador 'Se servê de sua ferramenta; na fábrica, ele serve à má- li Ibid., T. n, p. 104. . .
quina. Lá. o movimento do instrumento. de trabalho parte de- 8 Manoukian e Romagnoli, "R.evoluzlone industriale e sistema di
fabrica". Studi di sociologia,. IX, n9 3/4. Milão; Julho-dezembro 1971,
p. 250. Esse artigo define o campo te6rico de uma pesquisa sobre o
-li O termo "trausformação" é fraco. Não se trata, na verdade, de desenvolvilnento do capitalismo na Itália, da unificação nacional li pri-
simples mudança nas formas, mas da revolução das formas de produção. meira guerra mundial. '
O mais adequado seria empregar o termo: revolucionarizaÇão. f Ibid.. p. 257.

20 21

I
I'

L
J
.'._-_.,-

teúda da processe, fazendo-e passar por pracesse de desenvolvi- Isso é muitas vezes indicado pela noçãO' de resistência do
mentO' neutro (socialmente neutrO') das formas produtivas. antigo modO'de produçãO'dominante. Para recolocar essa ques-
, AO' nível de uma fermação social dada, e que muitos eco-
nemistas e sociólogO'sdenO'minamnível au grau de industrializa~ ,I tãO'na problemática que tento expor, é necessáriO', em. primeira
lugar, distinguiF os problemas da resistência de velhO'modO' de
çãO' indica, de fatO', e nível au e .grau de desenvelvimento de produção domwante antes e durante a fase de transição. Esses
capitalismO'. A relaçãO' entre e valer da produção ,industrial e prablemas são evidentemente ligados, mas também sãO'qualita-
a ~a produtO' nacien~ bruto, por exemplO',pode ser' um índice' tivamente diferentes parque e,modo de produçãO' daminante nãO'
•de desenvelvimenta de capitalismO', na medida em que essa é o mesmO', nas dois casos.
relaçãO' nos dá uma idéia quantitativa da praduçae em que a Se no primeiro case a noçãO' de resistência pode ser justi~
dominação do capital é já tIqla "realidade técnica"; As rela~ ficada. nO' segundo ela deve ser afastada. IssO', pelas mesmas
ções desse tipo constituem, pertanto; nes limites da preblemá- razões que levaram Bettelheim a afastar noções tais como "so-
tica que as engendrau, es índices das formas de daminaçãe de brevivência", isto é porque o que se indica por resistência é, de
j

capital sobre e cenjuntO' da econemia em uma formaçãO' social fatO',um resultado, da conjunto das relações que constituem a
dada. estrutura de 'transição.
O fatO'de que essa estrutura seja entendida enquanto com-
3. lndustritzlização e transição binação de váries mados de produçãO' não justifica o emprego
dessa noção. A estrutura de transição nãO'é uma simples justa-
A industrialização é e estágiO' final de uma fase mais posição de modos de produçãO' diferentes. Os diferentes modas
longa de moda de' proçluçãO'capitalista: e períodO' de ,transi- de produção em presença - digamas, "combinados" - se en-
çãO'8. Na iníciO', e capital subO'rdina a trabalhe nas condi- contram modificadas.
ções técnicas dadas pele desenvelvimentobistóricD anterier. Os mOdos de produçãO'dominados, pela fato mesmo de sua
Essas cendições técnicas implicam a unidade de trabalhader e deminaçãe, "são outros que nãO'em sua pureza . . . e que é ver-
da meia de tI"abalho, aO'nível da prac~se de trabalha, enquan- dadeiro para os modos de produçã,o dominados é verdadeira,
to que a dominaçãO'do capital implica a dissociaç~o farmal de reciprocamente, para o modO''de produ~ãe dominante cujas ca- I-
trabalhader e de meiO' de trabalho. ' , racterísticas são também em parte modificadas pelo fatO'mesmo
, "Essa, não carre~pendência é' abalida em. seguida" pela de seu papel deminante" 10.
revolução industrial, cujo desenvolvimentO'precisamente temou- ~~~\,~. Os conhecimentps que possuímos sebre,.os 'modos de pro-
se possível pela subordin",çãe fermal do trabalho aó capital 9. .• . ~ duçãa não podem constituir mais que um ponte de partida para
, Mas. a transição da subordinação formal, à subordinação' .......c .•,,~ estudo das contradições próprias à estrutura ecenômica da
real de trabalha, ao capital nãO' segue um desenvelvimento I ~.,.......- transiÇãO'. A presença das relações pré-capitalistas, a predami-
linear. O desenvalvimento do capitalismO'em sua fase de tran- ,~-...:-~1.;~'\-)\lttêiadessas relações em certos setores ou mesmO' em certas
sição - assim como o desenvalvimento' do capitalismo em ge- , regiões de uma formaçãO' social' em que. O' modO' de produ-
ral - é e resultado de um conjunta de cOntradições. ção capitalista é e modO'de produção dominante, nãO'podem ser
corretamente explicados por uma "resistência" dessas relações
Sobre a problemática da transição,' ver Charles Bette1heim, lA
.8 às relações capitalistas, perque a própria existência dessas rela-
tTallsitionveTa féconomie socia/lste, pp. 9~28e 153.174. ções é o resultadO' de uma farma determinada de dominação do
9Cbarles Bettelheim. ob. cit., p. 23. Em lugar de "subordinação", capital.
para sermos mais fiéis ao autor, deveríamos falar de subsunção. Em
português esse é também o, termo mais preciso. O termo subordinação A presença de relações pré-capitalistas ,pode assegurar, por
entretanto parece-me suficientemente rigoroso para os' objetivos 'em qpcs- exemplo, que uma parte mais ,DUmenos importante., dos bens
tão. Além disso, sua maior divulgação, (;Crtamentefacilita a comp~n. I
são do texto. l01bic!., p. 13.

22 23

L
II
•.. __ ..-..-'."

',.
que entram na reprodução da força de trabalho não entre no
nância do movimento de capitais sobre o movimento das mer-
pr~o dessa força de trabalho, os trabalhadores dispondo de um cadorias ao nível das relações internacionais.
pedaço de terra que cultivam eles mesmos ou com a ajuda de sua
família; ou ainda - caso mais geral -'- os preços dos produtos . A d~~ção das relações ~a-I:italistas'em escala inter ..•..•.•• ~,~~
alimentares não incluem a reprodução da força de trabalho dos nacional SIgnifica também a subIlllssao do desenvolvimento de '. . :
trabaIbadores agrícolas, que asseguram eles mesmos sua subsis- ...•.•.~
cada economia nacional,. isto é, da reprodução do capital em :--á:
.'t""-""'-
escala nacional, à reprodução -internacional do' capital: :a a ~~
..•
tência.
partir desse momento que podemos falar de economia mundial, "
.Esses sistemas, assegurados pela existência das relações
na' medida em que ela supõe obrigatoriamente 1Jlll todo, estru-
pré-capitaUstas, podem ser indispensáveis à reprodução do ca-
turado e não uma simples justaposição de partes desconexas UI.
pital. .Nesse caso, a transformação das relações pré-capitalistas
não depende simplesmente de uma resistência dessas relações Nos países em que o capitalismo é ainda fracamente do-
mesmas, mlt5 implica a transformação das formas da dominação senvolvido ~ os países que se encontram na fase de transição
do capital. capitalista, os países em vias de ÍlldustriaIização ou em vias de
desenvolvimento (capitalista) - o desenvolvimento do capi-
As relações pré~capitalistas não existem, então, senão
enquanto relações articuladas-subordinadas às relações dominan- talismo apresenta contradições particulares devidas' à posição
tes. O, que nos Íllteressa não são essas relações em geral, mas subordinada que eles ocupam no ~io da economia munclliil.'
seu modo de articulação na transição capitalista, isto é, as for- Essas contradições aparecem em uni primeiro momento da
mas especificas de dominação das relações de produção capita- análise como "obstáculos" ao desenvolvimento do capitalismo
lista. Em última análise 11, são essas formas que explicam as nesses países 18. Essa noção é perigosa, na medida em que
contradições próprias à transição capitalista e portanto o pro- ela faz pensàr em "fatores" extetiores a'~ desenvolvimento.
cesso. de criação das. condições à industrialização.
O que se. indica pela noção de "obstáculo" é de fato um
resultado desse desenvolvimento mesmo, iSto. é, da transição
. 4. TrQIISiçiio e economia mundial capitalista nas condições dadas pela economia mundial. Mais
precisamente, esses "obstáculos" constituem um dos aspectos do
A . fase de transição do capitalismo no Brasil se realiza desenvolvimento capitalista nos países dominados. .O outro
quando o capitalismo já é dominante em escala mundial. Seu aspecto - sem o qual a noção de obstáculo perderia iodo o
estudo.coloca problemas novos, pois essa f~e de transição apre- sentido - é o desenvolvimento das relações capitalistas. Sobre
senta contradições novas; esse ponto, é necessário ir ainda mais longe e afirmar o ,q~ é
indicado (e escondido ao mesmo tempo) pela própria noçlo.
A dominação das relações capitalistas mundiais supõe de "obstáculo": o desenvolvimellto do capitalismo 6 o aspecto
um desenvolvimento anterior do modo de produção capitalista dominante.
e, particularmente, a sua existência sob formas já bastante avan-
çadas de um mercado mundial.
12 Sobre esse conceito de economia mundial, ver Charles BetteIheim,
A dominação interçacional das relações de produção "Remarques th60riques", in A. Hmm.anuel, L'échange inêgal, M~,
capitalistas significa que a. reprodução, ampliada do capital não Paris, 1969, pp. 296-341, especialmente pp. 318-325. Esse te~to está
se realiza mais. somente ao nível nacional, mas ao nível inter- na base da problemática exposta aqui. .. .
13 A Doçiiodo. obstáculo remete também às contradiçaes pr6priu à
nacional.Esse fato já é iridicado na tese sobre a predomi- transição capitalista. que examino na parte precedCDte dc4Ül capitulo
da çrftica da noção (aliás mais precisa) de "resistência" do velha modo
U "Em última análise" porque o desenvolvimento do capitalismo ~
de produção don:únante. .Em suas "Remarques théoriques" sobre a
trOCtJ' desigual, Charlcs Bettelheim apresenta uma crítica da. JlOÇio de
também o resultado das cODtradiçôespolíticas e ideol6gicas, cuja impor- obstáculo (Cf. a propósito da noção de "blocage" das forças ptodutiv••
tância .não deve ser subestimada.. pp. 31••..318). .

24
Z5

l
•. '---- •• -. ---'-' -' -, ". - - " • -', __ -o '.," -- &&!IM' '1

Esse duplo aspecto é melhor indicado pela fórmula se-- vi,mento Capitalista à época da dominação das relações capita-
gundo a qual o imperalismo é ao mesmo tempo' "obstácUlo" listas em escala mundial. "
e "elemento motor" do desenvolvimento capitalist'á nos países ~ necessário ainda explicar como essas contradições ,qU(;
dominados; Ainda uma vez) desse ponto de vista também, o remetem às relações de dominação-subordinação no seio da
aspecto dominante é o desenvolvimento.' , economia mundial, podem ser consideradas. como contradições
Se vamos ao extremo do raciocínio descritivo autorizado próprias ao desenvolvimento do capitalismo nos países domi-
pela noção de "obstáculo", veremos que o "obstáculo" não po- nados. '
de ser pensado senão como um momento do desenvolvimento: A explicação deve ser encontrada na própria natureza das
o capitalismo encontra um obstáculo em seu desenvolvimentó. novas relações que caracterizam a econonUa mundial capita-
Finalmente) esses obstáculos não existem senão porque o capi-
r
!
talismo se desenvolve.
lista. Essas relações, apesar de implicarem em formas de do-
minação políticas e ideológicas tão violentas quanto às da época
Sendo assim, a noção de obstáculo indica um fenômeno colonial, ap6iam~se fundamentalmente sobre relações econômi~
bem real: as desigualdades do desenvolvimento das forças prO- cas., As ,relações de dominação-subordinação internacionais
dutivas nas diferentes formações sociais. O desenvolvimento que caracterizam o mundo a partir do final do Século XIX
desigual é UIi:J.acaraeterís~Ca fundamental do mOdo de piOdu~ são o resultado - ou melhor, uma manifestação - da domina-
ção .capitalista que se manifesta de uma maneira particular;:; ção e reprodução das relações capitalistas em escala mundial.
mente aguda quando ele se toma dominante ao nível inter.:. Além disso - e esse fato é particularmente importante
nacional.
para o presente trabalho - essas relações econômicas interna-
No seio da economia mundial, as diferentes economias cionais estão inscritas nas estruturas econômicas nacionais, de
"nacionais" são ligadas por ,relações de subordinaçãtHlomina- acordo com a posição ocupada por cada nação no seio da
ção. As leis que assegur~ a reprodução ampliada do capital economia mundial, enquanto formas específicas de reprodução
em escala mundiat, asseguram ao, mesmo tempo "uma forma do capital capazes de assegurar (não de modo homogêneo,
determinada de do~ação-subOrdinação das diferentes forma- mas através de um conjunto de contradições) a própria repro- .
ções sociais, a reprodução do sistema das posições correspon- dução internacional do capital.
dentes a essas relações de dominaçã()-subordinação, os ritmos , Por essa razâo, essas contradições aparecem, ao nível de
desiguais de desenvolvimento que resultam 'dessas pOsições e, cada formação social) sob formas específicas a essas formações
as condições de troca que delas resultam" 14.. " ,
sociais, como contradições próprias às suas estruturas econô-
e
Ao nível da formação soclal, obstáculos elementos ma- micas. Por essa mão, também, a mudança das formas de
tores são efeitos contraditórios de uma mesma estrutura, a estru- , dominação do capital em um país dominado, a passage~ a wn.a,
tura 'econômica pr6pria à formação ,Social em, via de, ~~seiivo~- nova fase de desenvolviDiento do capital em um desses países,
geralmente põe em questão as formas vigentes de dominação
14 Cf. Charles Bette1heim, loe. citado, p. 321. A domiDaÇAo das
relações capitalistas mundiais e as relações de subordinação-domiDação internacional e, em todo caso, implica em uma mudança dessas
correspondentes, se impõem através de uma di'lisão ínternaciooal ,do formas. '
trabalho desfavorável, ao desenvolvimento dos países dominados. Ao As características específicas da transição capitalista nos
nível da prática capitalista. essa divisão do trabalho se manifesta no
mercado, mais precisamente como difetellÇa& entre 08 preços do capital países que ocupam uma posição subordinada na economia mun-
(considerado aqui enquanto mercadoria) e da força de trabalho nos dial, esta é a problemática que sustenta esse estudo 'sobre a eco-
paíllC8 "avançados" e n08 pafses "atrasados". Nas análises ocpn6micas nomia brasileira do final do Século XIX à crise de 1929/1930.
feitas ao DÍvel do mercado (das relações de troca), tende-se a privilegiar
um desses dois aspectos do problema.' O "fator trabalho" aparece como 16 Também é impossível traçar uma linha de demarcação histórica
uma preocupação central nOS estudos de A. Emmanuel (A troca. den- e dizer: aqui termina o colonialismo, aqui começa a economia mundial
8UfJI. exp6cada pelo mvel dos salários DOS países dominadOll) ou de capitalista e as relações de dominação-subordinaçãointernacional que
Celso Furtado (8 questão da distribuição das rendas, ín Um projeto a caracterizam. As formas concretas de dominação não são jamais
para o Brasil). "puras". .

26 27
~ .. __ ...--,-,,:;_.,
... _--_._._---_ ~~.._~...........••------------~
....-•...•. .._~ .•..
.., --

11. CONDIÇOES HISTÓRICAS DA EXPANSÃO


: CAFEEIRA
I ~:

::
1.-
',-I -I. Condições externas
'j
11 Na segunda metade do século XIX, o comércio mundial
! cresceu num ritmo sem precedentes. O crescimento do comér-
cio internacional teve uma grande influência sobre -a economia
dos países onde o desenvolvimento do capitalismo ainda era
muito fraco. Ele criou condições favoráveis a esse desenvol-
vimento.
No que se refere -ao Brasil. e em particular à economia
cafeeira brasileira, essas condições foram especialmente favorá-
veis. As cotaçõés internacionais do café, estagnadas ou em
- baixa desde a independência' de 1822, apresentam-se em alta s.
partir dos anos 18501• O aparecimento dos navios a vapor nó
-Atlântico Sul deu um novo impulso ao comércio de longas
distâncias e em particular veio favorecer as relações comerciais
entre o Brasil, de um lado, e a Europa e os Estados -Unidos,
de outro lado.

1 .1. Do mercado mundial à exportação de capitais

A importância da expansão do comércio para a formação


e o desenvolvimento do modo de produção capitalista foi assi.
nalida pela maioria dos estudiosos do problema. Marx destaca
que: -
" ... o comércio exerce uma certa influência sobre a8 co-
munidades enlTe as quais ele é realizado; ele submete cada vez
mais intensamente a produ~o ao valor de troca, fazendo com

-1Sobre esse ponto, a. Celso- Furtado, Formação econ(Jmica do


Brtuil, Fundo de Cultura. Rio de Janeiro, 1964 (6. edição), p. 139.

29

b ---.:.-.,;,.. _
que O prll2er e a subsistência dependam mais d& venda do que países nele envolvidos. Mas essa influência é sempre uma
do consumo direto dos produtos. Desse modo ele desagrega
as antigas condições. Ele aumenta a circulação de dinheiro .. influência 'externa,. enquanto o comércio contínua como. o
i. Ele não. se limita simplesmel,lte a se apoderar do excedente da aspecto p$cipal da~ relações econômicas internacionais. O
produção, mas pouco a pouco ele ataca a própria produção o comércio, em si mesmo. não muda as relações de produção
coloca sob a sua dependência setores inteiros da produção" 2•.
sob o domínio das quais são produzidas as mercadorias que ele
.O desenvolvimento do comércio é indicado então como '~a' transfere de um local,. de uma região ou de um país para outro .
condição hist6rica para o desenvolvimento 'do capitalismo: As condições de produção dessas mercadorias são, elementos fi-
xados previamente e independentemente do comércio, como des-
"Não é nada dificil compreender porque o capital mer- tacava Marx I.
cantil aparece como forma histórica do capital muito àntes
que o capital tenha dominado a própria produção. Sua exis- .~~_~_ c!!1__~~J1a .metaclc__do .-Séc~Q.:xIX:.. -º_sªPJ~~
tência e seu desenvolvimento a um certo nível são eles mesmos não se .limIta ~ais.ao nív~tinternacioll~ .•J~~9c~rQ4~!2~.;
a condição histórica para o desenvolvimento do modo de pro-
dução capitalista ... " 3. ~e se apropria d-ª_pr9..P1iª.p-I04~g9 ª-(t-myel..m.ml.Clial. A P8l'-
tir desse momento, o desenvolvimento do comércio interna-
Do mesmo modo, a existênCia de um mercado mundial e cional toma-se apenas uma parte (aspecto subordinado) do
se~ desenvolvimento até um certo nível constituem condições desenvolvimento capitalista (da produção capitalista) em es-
históricas pata as ~ansformações das relações econômicas inter~ cala ihternacional. :s aliás por essa razão que o comércio
nacionais no final do Século XIX. Entretanto, aqui também mundial passa a desenvolver-se num ritmo sem precedentes:
o que devemos destacar nessas transformações não é o pr6prio "As trocas internacionais de mercadorias •.. são o pr~
desenvolvimento do comércio internacional, mas justamente o duto da penetração do "capital" em todos os modos de produllio
fato que o comércio deixa de ser o aspecto principaIdas rela- . em .escala mundial; capital. que orglllliza pe~ sua pr6pria
..... extensão a corrente de qocas" 6
ções econômicas internacionais. A passagem do' capitalismo ~
um estágio superior do seu desenvolvimento, se caracteriza pre- sãb essas transformações ao nível das relações. econômi-
cisamente, nesse nível de análise, pelo papel dominante que a cas internacionais qlle são indicadas na tese sobré o papel do-
partir dessa época passa a ser desempenhado pelas exportações minante exercido pelas exportações de capitais no ~tágio atual
de capitais 4.
de desenvolvimento do capitalismo. Entretanto, muitas vezes
Existe uma düerença fundamental entre um simples cres- a questão da exportação de capitais é analisada de um ponto
cimento do comércio internacional - por mais importante que de vista puramente quantitativo ou, digamos, contábil.
seja esse crescimento - e um crescimento do comércio domi- :s impossível compreender a. exportação de capitais deste
nado pelas exportações de capitais. Essa diferença está na pró-- ponto de vista porque ele conduz à desfiguração do' pr6ptio
pria natureza das relações econômicas internacionais; no fato conceito de capital. Qj:apitaI é uma ã~~al qJle pode
que, Q.~PQ.cl!~~ q~l? as__exp~~a!&es de ~it!!!.!9!11am:~~ulQ- assumir 1frenteLfQr!Das. Do ponto e vista quantitativo ou
~ !I!!J?!lºt~~l~º_~~~tlY91v.ilri~nto-da~~~~uçãºcapi~~isti! r~!lliza-se contábil. unpossível considerá-lo desse modo. .
~~ .es.çalaw..~n4i~. .
Quando o economista examina o movimento internacio-
O comércio internacional tem uma influência importante,
nal de capitais do ponto de vista da contabilidade nacional
como já destacamos, sobre a evolução econôD'Úcados diferentes
(estudando as balanças de pagamento de diferentes países, por
20b. cit., t. VI, p. 339.
li Ibid., p. 335.
~ Sobre esse ponto, .cf. ob. cit., t. VI. Capítulo XX (ltAper;u
.•A importância das exportações de capitais para a caracterização historique sur te capital marchand"), notadamente p. 334.
da economia mundial capitalista é destacada por V. Lenin. Cf., em 8 Cf. Christian Palloix, "Critica deU'economia política e teoria
particular, L'imperíalisme, stade suprême du capítalisme. Ed. du Pro- deU'imperialismo", Problemi dei socialismo. 1),9 S/6. setembro-dezembro
srê8. Moscou, 1967, p. 79. 1971, p. 696.

30 31

L
--_ _
__.. _w_.
__ .-._ _._ _ .. ... _-~.

..
exemplo), ele não pode senão captar, de passagem, uma das da reprodução, mais uma vez s6Dl captar o movimento real
formas assumidas pelo capital durante .0 seu movimento. O do capital 8. '
próprio movimento não é levado em consideração. Ou, o que
i. é ainda mais grave, ele tende a. desaparecer dentro do .racio~
Em outros termos, me~mo se a noção de exportação de
capitais refere-se à circulação de capitais, a. análise do pr~
dnio que o confunde com uma de suas formas.
,blema não pode ficar restrita a esse nível. Para compreender
.A partir de estudos sobre balanços de pagamentos de. vá. o movimento real, é necessário deslocar a, análise para a re-
rios países, através da comparação da entradà e saída de ca~ produção QO capitaI~ 'Nesse nível, podemos entender o ca-
pitais nos países "desenvolvidos" e "subdesenvolvidos", muitos .pital como uma relação de. produção e colocar a questão indi-
economistas chegam à conclusão de que a exportação de ca- cada pela noção de exportação de capitais sob luzes totalmente
pitais não existe ou, pelo menos, não existe mais, concluem que, düerentes.
11il'
na verdade, os países "subdesenvolvidos" são os verdadeiros Para evitar longos desenvolvimentos teóricos que fogem
exportadores de capitais. ao quadro limitado desse trabalho, tentarei ilustrar essa nova
problemática a partir de um exemplo prático sobre a economia
Essa tese é muito importante porque, pelo menos implici~
brasileira: .o caso dos empréstimos públicos. uma das primeiras
Lamente. ela conduz à negação do principal elemento que _ formas: de exportação de capitais e a forma dominante no
ao nosso modo de ver - caracteriza a economia mundial Brasil durante o período que estudamos.
capitalista em formação. Por essa razão, ela é o objeto de
inúmeros debates. O empréstimo. por definição, deve ser reembolsado com
jUros. No fim. de um certo período mais ou menos longo, o
Em relação a A. Emmanuel, que defende. a tese .sobre pais que tomou o emprés1imo deve devolver todo o dinheiro
exportações de capitais que criticamos aqui. o economista . emprestado e, além disso. uma certa quantia como pagamento
francês G. Dhoquois afirma: de juros e comissões; isto é, ele deve devolver uma quantia
maior do que a recebida inicialmente.
". .. EmmanueI ignora o capital financeiro e. por exemplo,
quando ele estuda as exportaçóes de capitais segundo Lenin, No quadro seguinte. apresentamos os dados relativos ao
as reduz ao simples saldo, ativo ou passivo, dos balanços de serviço da dívida e aos novos empréstimos contraídos pelo
pagamentos, enquanto Lenin, apesar de algumas imprecisões
de linguagem, considerava a circulação do conjunto de capi- Brasil durante o período 1851-1900. A comparação entre
tais em escala mundial, da qual o saldo do 'balanço de paga- duas séries, parece fundamentar a conclusão de que nada ficou
mentos representa somente um dos momentos que, ademais, no Brasil, que. durante esse período, foi o Brasil que "expor-
não é o momento mais importante" 7.
tou" capitais. Ao nível das contas do Brasil com o eXterior,
essa conclusão parece correta. . Ela choca-se. entretanto, cóm
A crítica de Dhoquois parece--nos inteiramente fundada. a impossibilidade de explicar o desenvolvimento do capitalis-
Entretanto, para encontrar o núcleo errôneo da tese em ques-
mo no Brasil. em particular as transform89ÕCs capitalistas da
tão é insuficiente colocar o problema ao nível do conjunto da economia cafeejra, se não. consideramos o papel fundamental
, circulação do capital em escala mundial, a menos que consi':'
desempenhado pelos empréstimos externos.
deremos a circulação como o local para o estudo do conjunto
da reprodução do capital. Se a análise ficar ao nível estrito
da circulação, ela levará simplesmente (emprego .os próprios 8 Por movimento de capital entendemos o conjunto do prousso de '
reprodução do capital. que inclui nlo somente a circulação mas ainda
termos de Dhoquois) ,ao conhecimento de outros "momentos" es procesaos de produção e distribuição. Esse conceito não deve por-
tanto ser confundido com. a noção de movimento de capitais, tal como
ela '6 empregada, por exemplo, nas Contas Nacionais (eoi particular
7 Cf. G. Dhoquois. ''lI contributo di Arghid Emmanuel". Problemi DO Balanço elo Pagamentos) e que representa apeDU \lIIl momento do
dei socialismo, n\' 516, setembro-dezembro 1971. p. 817. mowlmellto (reprodução) do capital ao nfvel da cirçulação.

32 33

... _~_._-

( -) , '" \.
" /
, ',. \.
" I. BRASIL - SERVIÇO DA DIVIDA EXTERNA
E NOVOS EMPRÉSTIMOS 1851-1900
Seu conjunto, devemos destacar o peso do serviço da. dívida ex-
(em milhões de mil-réis ou 1000 contos)
terna, que estrangulava financeiramente o país, apesar dos saldos
significativos da balança comercial brasileira {Cf. tabela abaixo}.

I
Anos
Serviço das Novos 11. BALANÇO COMERCIAL - SALDOS (em contos)
.. dívidas
I empréstimos BRASIL - 185t-1928

1851-1860 5,3 4,1


1861-1870 12,0 . ]0,1
~nOl
I Saldosz
!
Anos
I Saldos

1871-1880
1881-1890
16,7
30,S
9,3 185111860
1861/1870
li - 11,6 -
]8,9
1908 -
1909
138,5 -
423,7
38,1
1871/1880 34,3 1910 233,6
1891-1900 57,3 63,3 1881/1890 30,9- 1911 209,2
1891 62,4 1912 148,4
1892 194,9 1913 - 25,7
Fonte:. Nelson Werneck. Sodré, Formação histórÍca do Brasil, 1893 53,2 1914 193,9
Ed. Brasiliense, São Paulo, 1963 (3ª ed.), p. 262. 1894 - 15,6 1915 459.3
1895 31,5 1916 326,1
1896 - 20,1 1917 354,4
1897 164,9 1918 147,7
Na verdade, esses empréstimos serviram, direta ou indi-
",~~. '-"< retamente, 1898 78,1} 1919 844,4
I balhadores para o financiamento da imigração massiva de. tra-
- e, portanto, pata a organização de um mercado
1899
1900
89,0 ]920 - 325,0
205,4 1921 19,9
'-i de trabalho no Brasil -, para a construção de -numerosas es- 1901
1902
412,4
254,8
1922
1923
679,5
1.029,9
_. ~.,<-.~
n. .'.~ tradas de ferro, para a implantação de vários oultos serviços 1903 256,1 1924 I.G74,O
!:).• -••.•.•,.•. públicos e industriais, tais como a eletricidade, o gás, os trans- 1904 263,8 1925 645,2
; portes urbanos etc., sem falar na própria construção e conso- 1905 230,5 1926 485,0
lidação do Estado. 1906 300,4 1927 371,0
1907 21M 1928 275,8
Esse é o verdadeiro movimento (apenas _indicado aqui)
do capital em' escala mundial; movimento impossível de en- Notas: lOs saldos negativos indicam um exced~nte das importa-
tender se nos situamos unicamente ao nivel do balanço de ções sobre as exportações. .
pagamentos ou mesmo ao nível estrito da circulaç~o.
2 Para as quatro primeiras décadas, o qU:;ldro apresenta saldoS
Ao destacar que o resultado líquido dos fluxos de capi- anuais médios.
tais entre países "desenvolvidos" e "dependentes" é, em geral, Fontes:' Para as quatro primeiras décadas, Werneck Sodré, oh. cit.,
desfavorável a esses últimos, o estudo empírico tem um mé- p. 262. De 1891 a 1928, J. F. Normano, EvolUÇão EconômicG do
Bt(Ull, .Companhia E4itora Nacional, São Paulo, 1939, p. 256.
rito indiscutível. Ele conduz à demonstração de caráter errô-
neo das teses segundo as. quais esses fluxos resultam direta-
mente em uma poupança adicional para os países "dependentes". Dessas observações podemos concluir que, empiricamente,
No caso específico do Brasil, duiànte o período estUdado os dados sobre o crescimento dos investimentos estrangeiros -
aqui, deve-se' destacar que à importância das entradas de ca- por e~empl0 - são bem mais significativos do que os saldos
pital estrangeiro somos obrigados a associar a importância. das do 1.lalanço de pagamentos. Mas mesmo esses dados s6 adqui-
saídas desses capitais, sob diversas formas e, em particular, sob rem toda a sua significação quando examinados do. ponto de
_------de -~erviços
~......forma .. ..
-' '-.. -
da.. -dívida.
. ~~-
Se considerarmos o período no vista da reprodução do capital em escala mundial; porque é so-

34 35

I :~
--..-._- .
..

mente a esse nível que podemos explicar os efeitos contradit6rios Em geral, eles predominavam da mesma forma em quase todos
do desenvolvimentó do capital internacional.
os países latino-americanos. Os dados relativos ao período
. Ao nível da circulação, as saídas de capitais dos países 1825.1913 demonstram o rápido crescimento dos capitais bri-
."subdesenvolvidos" parecem anular o movimento inverso, ao. tânicos na América Latina e, em particular; no. Brasil, sobretu-
qual faz referência a noção de exportação de capitais. Na ver- do a partn- da década de ,1860.
dade, exportação de capitais e saldos. negativos para os países
subdesenvolvidos são dois aspecto~ do movimento do capital Para termos uma idéia da importância relativa desses ÍDve&-
em escala mundial e, entre esses aspectos, a exportação de ca- 'timentos na economia brasileira durante a segunda metade do
pitaisé o aspecto dominante. Século XIX, podemos compará-los ao valor dll$ exportações no
mesmo período, expostos na tabela seguinte.
1.2. ,Alguns dados sobre os investimentos britltnicos IV. BRASIL - EXPORT AÇOES
(milhões de libras)
Durante o período analisado nesse trabalho, os investimen-
tos britânicos eram largamente predominantes 11, representando Exportação
Ano
mais da metade do total de investimentos estrangeiros n~ Brasil. (em milhões de libras)
m. AMÉRICA LATINA - BRASIL
JNVFSTIMENTOS BRITÂNICOS 1825-1913 1850 8,1 .
(em milhões de libras) 1860 13,4
1870 15,5

I
1880 21,2
Ano América Latina
I Brasil 1890
1900
)0,0
33,5
1825 24,6 . 4,0
Fonte: Quadro construído a partir das séries sobre exportações
1840 30,8 6,9 (em contos) e sobre cotações médias do mil-r~is em relação à libra,!
apresentadas em J. F. Normano, Evolução econtSmica do Brasil, Com-
1865 80,9 20,3 panhia Editora Nacional, São Paulo, 1939, pp. 256-261. Os resultados
I, das transformações corresPondem às estimativas de Mircea Buescu, DO
1875 174,6 30,9
que se refere aos anos de 18S0 e 1900. Cf. His16ria econtSmica do
i;
1885 246,6 47,6 Brasil - Pesquisas e análises, APEe, Rio de Janeiro, 1970, p. 284.
1&95 552,S '93,0
vestments In Latin-America. 1822-1949. A case study otalhe ~peTatton
1905 688,3 122,9 of private enterprise.s in retarded reg/ollS, Univeraity of MinncilOta Press, '
Minncapolis. 1959, P,p. 25, 37. 68, 75 e 150-158). '
1913 1.177,5 254,8
INVESTIMENTOS BRITANICOS
Fonte: Irving Stone, "La distribuizione geografica degli inves- (milhões de libras)
limenti inglesi nell'America Ultina. 1825-1913"; in Storia Contemporanea,
Roma, 1971-, pp. 496 e SOO 10 Ano
I América. Latina Bruil
~
Empregamos a noção de .investimento no seu sentido mais largo,
lJ 1880 179,5. 38,S-,
tal como ek é, aliás, usados nas publicações da época. Nesses investi- 1890 425.7 68,6
mentos estão incluld08, além dos investimentos diretos, os financia- 1900 - 90,6
mentos, que predominavam durante o perlodo: 1913 999,2 • 223,8 •
10 J. F. Rippy apresenta cifras um pouco inferiores, mas a tend!n- 1928 1.211,0 287,3
cia é a mesma, como se pode notar na tabela, abaixo (Cf. British in-

36
37

b .L
L
:._--~-_.. ., - .:.._-_..-,-,-_-::..~:_,.'C:---'-l- -:'7:~.. ,-' - "--~'~~ ui

Para os anos de 1850 e 1900, Mircea Buescu estima o pro- A existência dessas desigualdades decorre das característi~
duto interno líquido brasileiro em 22,08 e 132,93 milhões de cas fundamentais do próprio modo de produção capitalista; a

r
Hbras, respectivamente 11. Podemos então .dizer que o valor profundidade dessas desigualdades entre as nações é uma das
total dos investimentos ingleses no Brasil elevavam-se já em 1900 características. fundamentais do modo de produção capitalista
a, aproximadamente, três vezes o valor das exportações e mais dominante em escala mundial. Entretanto, como a economia
de dois terços do produto interno líquido.
capitalista mundial não existe em abstrato, as suas desigualdades .
explicam-se !undamentalmente pelas características das diferen-
tes economias nacionais que a compõem. Em particular, quan-
2. Condições internas do se trata de explicar. o desenvolvimento do capitalismo em um
país determinado, é necessário pôr em evidência e examinar as
o desenvolvimento das relações capitalistas em escala mun- suas contradições particulares, sem perder de vista, é claro, que
dial é muito desigual. As desigualdades desse desenvolvimento 'esse desenvolvimento faz parte do capitalismo internacional (o
aparecem, por exemplo, quando consideramos a direção das que determina inclusive as especificidades dess~ desenvolvi-
exportações de capitais. A distribuição dos capitais ingleses mento).
investidos no estrangeiro é bastante desigual. Como mostra a
tabela seguinte, a partir do final do Século XIX, somente o . 1 . 1. Capital
Brasil e a Argentina recebem cerca de 60 % dos investimentos
britânicos aplicados na América Latina. Após 1808, com a chegada ao Brasil do príncipe regente
V. INVESTIMENTOS BRITÂNICOS NO BRASIL E NA
português que fugia das tropas napoleônicas, são assinados im-
ARGENTINA EM RELAÇÃO AO CONJUNTO DA' portantes decretos que garantem a abertura dos portos brasilei-
AM£RICA LATINA 1825-1913 ros às "nações amigas" (concretamente, o fim do monopólio
colonial português) e a transformação do Brasil em parte do
Reino Unido de Portugal e Algarves e sede deste Reino (concre-
Ano Argentina (%) Brasil (%) tamente, o fim do estatuto colonial). O Brasil adquire então'
uma autonomia de fato. Como se sabe, a independência polí-
1825 4,8
tica de direito é proclamada em 1822, após o retorno à Lisboa
16,2
do Governo real e, em particular, diante da 8.Q1eaç~recoloniza-
1840 3,2 2Z,3 dora da revolução liberal portuguesa de 1820.
1865 '. 3,4 25,1 O processo que conduz à independência do Brasil está. in-
1875 12,9
serido em um quadro internacional preciso, caracterizado, fun~
17,7
dam~ntalmente, pela revolução industrial, pela "decadência" do
1885 18,6 19,3 capital mercantil, pela ascensão das potências industriais, como
1895 34,6 16,8 a Inglaterra, e em particular pela crise do antigo sistema colonial
1905 português. Ele não pode, entretanto, ser entendido sem que
36,8 17,9 consideremos especificamente a crise do sistema colonial por-
1913 40,7 21,6 tuguês no Brasil, de cuja aceleração as .numerosas revoltas de
Minas Gerais (1789). Rio de Janeiro (1794 e 1797), Bahia
(1798) e Pernambuco (1801 e 1817) são manifestações con-
Fonte: Irving Stane, art. cit., p. 500. tundentes 12.

11 00. cit., p. 284. 12 Uma análise de conjunto desse processo é apresentada .por Emília
Viotti da Costa, "Introdução ao estudo da emancipação política", Br(lSil
38
39

,J
A abertura dos portos (1808) e a independência politica 2 .2. Força de trabalho
(1822) são as datas. magnas da burguesia. comercial brasilei-
ra lS.. O fim do monopólio comercial português e o fim do Contudo as possibilidades de expansão sobre a base do
estatuto coIonialdetenninam o acesso dos comerciantes brasi- trabalho escravo eram muito limitadas. Após a independência
leiros (no caso, não necessariamente nascidos no Brasil) ao de 1822, a Grã-Bretanha exigiu que o governo brasileiro inter- .
setor ceJ;itralde uma economia ainda colonial: o.grande comér- ditasse esse tráfico. Um acordo assinado entre os dois países
cio de importação~exportação A partir -dessas datas, a burguesia estipulava mesmo uma data para essa interdição: 1830. Este
comercial brasileira desenvolve-se rapidamente graças, sobre- acordo não foi cumprido. Em 1845, o Parlamento britânico
tudo, à consolidação e expansão das fazendas de café, que essa adota um projeto de lei autorizando a marinha de seu pais a
burguesia organiza juntamente com a aristocracia fundiária locaI. fiscalizar qualquer navio suspeito de participar do tráfico de
Durante a primeira metade do século XIX, as plantações escravos e, eventualmente, prender os responsáveis para sub-
de café foram desenvolvidas sobre a base do trabalho escravo. metê-los ao julgamento da justiça militar britânica, sob a acusa-
, Os fazendeiros do café encontravam os escravos necess~os ao ção de crime de piratmia.
desenvolvimento das plantações graças, em parte, às migrações Em 1851, com a adoção pelo parlamento brasileiro da Lei
internas, isto é, graças à compra de escravos vindos do Nor- Euzébio de Queir6z, a interdição do tráfico de escravos tor-
deste e sobretudo de Minas Gerais, onde havia um número re- nou-se efetiva no Brasil 18• Essa lei marca o início de um pro-
lativamente importante de escravos "disponíveis", dado. o declí- cesso onde diferentes leis e decretos representam diferentes mo-
nio das atividades das minas de ouro muito desenvolvidas nessa mentos ou simples - mas não inúteis - reafirmllÇÕsdo prin-
Província durante o Século XVIll. cípio da abolição progressiva da escravidão no Brasil 1'/'.
Mas a África foi sem dúvida a principal fonte de escravos
para o café. Furtado estima que o número de escravos que Entretanto, a produção continuava apoiada fundamental- -
entraram no Brasil durante a primeira metade do século XIX foi mente sobre o trabalho escravo. Segundo uma pesquisa cujos
superior a 750000 e inferior a 1000000, isto é, entre 15 ~ resultados foram apresentados no Relatório do Presidente de
20 000 em média por ano. O tráfico e~rno era muito im- São Paulo à Assembléia Legislativa, em 1855, em 2.618 plan.;'
portante porque a população escrava local, em razão de suas taçóes de ca(é dessa .Província havia 55.834 escravos para
condições de vida e de trabalho, decrescia 14. 62.216 trabalhadores 18. A compra de escravos fora das regiões
do café não podia assegurar a mão-de-obra necessária à expan-
A produção de café desenvolve--se sobr~ essas bases ao são cafeeira. Entre .1840 e 1851, vieram da Africa 371.625
longo da. primeira metade do Século XIX, atlStomar-se, na dé- escravo~, isto é, cerca de 31.000 por ano, enquanto que de 1852
cada. de 1840, responsável pelo primeiro produto brasileiro de .a 1859, a entrada de novos esçravos, reduzida às COIJ:lpras.DO
exportação, representando sozinho mais de 40% do valor total país, foi de 3.430 por ano lU.
das exportações lI!. Em conseqüência, na década de 1860 já
existe no Brasil uma classe de capitalistas comerciais bastante
18 Para um' estudo detalhado dessa questão,. ver L Bcthell. The
rica para aproveitar as condições favoráveis do mercado inter- aboUt;on o/ the BrazjliaIJ S1t1ve Trade, Cambridgo University Press, 1970.
nacional. I'/' Ver, sobre essa questão, P. Beigue1m1l.D,
 formação do povo riO
complexo cafeeiro: upectos. politlcoa, São Paulo, Livraria Pioneira,
em perspectiva, Pifusão Européia do livro, Slio Paulo, 1973 (4' ed.), Editora, 1968. .
pp. 64-125. . . .18 A pesquisa foi realizada em 1854. Cf. A. d'E Taunay, História
13 Isso não implica em considerar que o processo de independên. do café no Brasil, DNC, Rio de Janeiro, 1939-1943, vai. UI, p. 134..
011 outros trabalhadores eram.: 1) os agregados, Dome 80b o qual se
cia política do Brasil realiza-se entre essas duas datas. A independência,
entendida como um processo complexo de lutas sociais, estende-Se pra- designa em geral no Brasil aqueles que trabalham em uma fazenda
ticamente até a abdicação de Pedro I, em 1831. principa!mente contra o direito de explorar um pedaço de. tura para .
14 Cf. Celso Furtado;
l11lbid., p. In
oP. cito, pp. 141-142. sua 8ubsistência; 2} 08 colonos: trabalhadores imigrados, quo eram em
acral, nessa época, submetidos ao sistema de parceria.
19 Cf. A. d'E TaUDaY,ob. cit., vol. IV, pp. 152.153.

40 41

L
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As possibilidades de encontrar a "força de trabalho no


Brasil mesmo eram muito reduzidas. Onde a produção não Como encontrar a força de trabalho necessária à rápida
estava apoiada no trabalho escravo, predominava um sistema expansão' das plantações (e, por conseguinte, à acumulação de
que retinha o trabalhador à terra. Nessas regiões, em geral capital)? Essa. era uma das preocupações principais, ou mes-
no interior dó país, fora das plantações escravagistas situadas mo"a preocupação fundamental, dos fazendeiros e grandes co~
sobretudo no litoral, a agricultura e a pecuária eram organizadas merciantes 22, que não podiam partilhar das ilusões recentes
sobre a base de vastas propriedades fundiárias em geral explora- sobre a abundância da mão.de~obra criada pelos modelos eco~
das por um modo extensivo. Esses eram os latifúndios. nômicos de "oferta ilimitada de mão~de-obra" 23. Nessas con-
Este sistema estava apoiado na auto-subsistência. Aquele dições, os "pioneiros" do café voltaram-se pouco a pouco para
que poderíamos chamar de o camppnês brasileiro devia assegu- a imigração, vista como o único modo de resolver esse pro~
rar ele próprio a sua subsistência, explorando por seus meios as blema crucial.
.. terras que lhe eram concedidas pelo latifundiário. Em contra- f As primeiras experiências nesse sentido datam, com efeito,
partida, devia trabalhar para o latifundário, recebendo por esse
da década de 1850 Z4. Elas estavam baseadas no seguinte
trabalho uma refribuição mínima e, em geral; in natura .(uma
sistema: de um ladei, para arcar com as despesas relativas à
parte da colheita ou uma certa porcentagem do, gado que ele
viageJ!1e aos gastos de instalação dos trabalhadores imigrados,
"avia criado, conforme o proprietário dedicasse as suas terraS 11

~ agricultura ou à criação). . o fazendeiro obtinha financiamento do Estado; de outro lado,


Assim, apesar dQ fato que esses "camponeses" não eram os imigrantes se comprometiam a reembolsar o fazendeiro com
proprietários e de que viviam bastante pobremente. eles per- o seu trabalho futuro. Os trabalhadores' eram contratados
maneciam muitc),ligados ao latifúndio, }'Qrque ele assegurava como parceiros. Eram então pagos wlicamente em função da
sua 'Subsistência. Não é senão com o desenvolvimento da colheita, que era comprada pelo próprio fazendeiro~ Esse
agricultura' comercial e na medida em que esse des~v'olvi- sistema conduziu o trabalhador a uma situação próxima à da
menta conduz o latifundiário a retomar (no todo ou em pane) escravidão. Segundo Denis, os trabalhadores imigrantes eram
" vendidos nos mercados: podia-se comprá.los pagando suas dí-:-
áS terras que os camponeses exploram eles próprios, que e.ss-es
trabalhadores serão levados a abandonar os latifúndios. A vidas com os seus antigos patrões 2$.
inexistência de uma rede de comunicação ligando as diferentes
Muito bem adaptado à mentalidade escravista das classes
regiões -do Brasil e a dispersão dos latifúndios, reforçavam '06
laços entre os_trabalhadores e o latifúndio 20. - dominantes brasileiras, um .tal sistema apresentava contudo um
inconveniente maior: não era capaz de provocar uma imigração
Em resumo, es'ses trabalhadores, apesar de não disporem
de tenas e não contarem senão com a sua força de trabalho massiva, e essa era uma condição para o crescimento "rápido
para viver, não constituíam. um verdadeiro. mercado de tra- das plantações de café. . Uma yez que a realidade do 'paraJsci
ballio para as plantações de café. brasileiro foi conhecida na Europa, a imigração foi entravada.
Os .pequenos proprietários, não muito numerosos~ eram Certos governos chegaram até a interditar a imigração para o
tncontrados, Principalmente, nas regiões meridionais, atingidas Brasil. Foram necessários mais de 10 anos para que os fa-
pela imigração de origem européia esthntilada após a Indepen.
dência. A maior parte deles vivia, também, praticamente da 22 Essa preocupação aparece praticamente em todos os relatórios
auto-subsistência em um isolamento quase tota121. dos Presidentes da Província' de São Paulo, entre 1850 e 1880, comen.
tados por Taunay, Cf. ob. cit., vaI. 1I1, ClipS. XVII a XXI, pp. 101-221.
:.lO Sobre o Iatifllndio no Brásil, ver especialmente: Alberto P~OB
23 Para uma critica dessas ilusões, apoiada na análise concreta
Guimarie8, QUQtro sêcillos de latifúndio. Paz e Terra, Rio de Janeiro,
1968; .e M. Vinhas, Rroblemar ogr4rlo-eomponeses do Brasil, Editora do processo complexo de transição para o trabalho assalariado, ver
Civ.i.1ização Brasileira, Rio de Janeiro, 1968. , João Manuel Cardoso de Mello, O capitalismo tardio, Unicamp, 1975
(minieo.), pp. 69-89. . '
~1 Sobre esse POllto, ;ver Piem Dennia,.ú Brésil ou XX ~me siecrt"
ArJDllDd Colin, PIlris, 1909,. notadamente çaps. X e XI, pp. 207-250. 24 Cf" por exemplo, Nelson Werneck SodTé, ob. cit., pp. 25().251.
2~ Cf. Picrre Dennis, ob. cit., pp. 121-124.
42
43
zendeiros de café, obrigados pelas exigências da acumulação de se tornava massiva e o trabalho assalariado já havia podido
capital, se decidissem a abandonar seus métodos pré--capita- mostraras suas vantagens em relação ao trabalho escravo.
listas e oferecer aos trabalhadores condições de trabalho basea- Antes disso, dois golpes parciais foram desferidos contra a es--
das em. contratos salariais, facilitando assim a imigração.. cravidão pelo Governo do Império, de modo que a aboliçãO foi
Finalmente, os braços necessários ao desenvolvimento do progressiva e seguiu, de fato, o desenvolvimento do mercado
café foram encontrados na Europa, mais precisamente na Itá- de trabalho. Em 1871, uma lei proibiu que OS filhos de es-
lia. .O povo italiano, sobretudo o povo do sul da Itália pas- cravos nascidos. a partir desse momento fossem reduzidos à
sava por dias particularmente difíceis após a Unificação Na- condição de seus país. Em 1884, uma outra lei declarou
cional. Os trabalhadores italianos, sobretudo os do Mezzo- "homem livre" todo escravo com mais de 60 anos de idade.
giorno, vieram, então, por dezenas de milhares em cada ano, Mas em 1888 havia ainda cerca de 700.000 escravos no
povoar as terras de São Paulo. Eles constituíram a grande nrasil28•
maioria (cera de 65 %) dos imigrantes que chegaram ao Brasil . ,A eficácia das medidas governamentais que compõe o pro-
nos dois últimos 4ecênios do século XIX~. cesso progressivo de abolição ~ escravidão podem ser discuti-
Após 1870, o governo da Província de São Paulo tomou das. A abolição do trabalho, escravo para os sexagenários, além
a seu cargo todas as despesas relativas à imigração: pagamen- de tardia, não deveria atingir um número relativamente elevado
to da viagem dos trabalhadores e de suas famílias, criação de de pessoas,. tendô em.vista as condições de vida dessa parte
um organismo encarregado de dirigir a. imigração, através de da pop.ulação brasileira: Em relação à "lei do ventre livre".
agências fixadas em vários países da Europa (sobretudo na pode..;Seimaginar a liberdade de que dispunham os filhos de
Itália). A partir dos anos 1880, a iinigração tomou-se mas- escravos nas fazendas dos proprietários de seus pais. .
siva. Entre 1887 e 1897, 1.300.000 imigrantes chegaram ao Nem a abolição progressiva da escravidão nem mesmo sua
Brasil. A título de comparaçãõ entre 1890 e 1900, a popu- proibição total em 1888 foram sufici~tes ~a assegurar o
láção do Brasil aumentou cerca de 3.000.000 de pessoas, pas- rápido desenvolvimento do mercado de trabalho. Isso deve
sando de 14a 17 milhões. A maioria dos imigrantes foi para
ser explicado fundamentalmente por razões ideológicas, ligadas
São Paulo: 909.417, entre 1887 e 1900 (essa cifra corresponde
a um certo estágio de desenvolvimento do capital.
a 82 % do crescimento demográfico desse Estado no mesmo
período) :n. . .~ª,a 9.ue o trabalhador v~nda sua força de trabalho 8.0
':!I.P!ta1,._é.neCe~s~ô que ele :1iãQ._possa viver senão d.a vellda
Foi fundamentalmente graças a essa imigração massiva de
trabalhadores de origem européia que o mercado de trabalho d.é sua força de tràbalho, isto é, que ele seja despossuido de
formou-se e desenvolveu-se no Brasil até. a década de 1920. .!9.Q!>.. mei~
_de produção. Essa condição material é uma .con-
E nesse l!!ercado de trabalho, formadQ. ,pelos trab-ªU!!lr;1.º-~~ diçãoprhneira do desenvolvimento do capital. Mas'é neces-
J!iíWâao8,' se.:i1iastC'C{;J:aJ~r~.~osomenfeos f8z~n"ª~~.d~..ç~é, sário ainda que o trabalhador esteja disposto (ideologicamen-
~~Mm o$...prlmeito.s,~~~tr!aJ.s. ,,~~~~~, ~IP9_.veremos te) a. vender sua força de trabalho e que ele não prefira, à
.
°o;!

!l
; no capItulO consagrado à mdústrta. . . condição de assalariado, a miséria e a mendicidade. Ora; dado
que os fundamentos ideológicos e polfticos da produção capi-
talista são ao mesmo tempo condições é resultados da reprodu- .
2.2.1 . Efeitos contradit6rios da abolição progressiva. ção. do capital,' nas origens da produção capitalista a coaçãç e
i .\0" a violência ocupam sempre uma posição determinante 28.
I A escravidão não foi totalmente proibida em todo o ter-
ritório nacional senão em 1888, isto é, quando a imigração já
28Cf. Werneck Sodré, ob. cit., pp. 251.252.
28Cf. dados apresentados por DeDDis, oh. cit., p. 131. 29Sobre essa questão, K. Marx. O. capital, Livro Primeiro, Oitava
111 Cf. Azis Simão, Sindicato e Estado. Domminus, São Paulo, 1966,' Seção (A acum.ut~ão primitiva), especialmente caps. XXVII e XXVDl,
'i
o:! p. 3~. Cf. ob. cit., voto I1I,pp. 157-183.

44 45
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Os antigos escravoS:, cuja exploração implicava um :e~ .>


curso sistemático e direto à violência, estão entre os trabalha- o processo concreto da abolição da escravidão no .Arasil '.~
..

dores menos adaptados ideologicamente às formas superiores - a chamada "abolição progressiva" - implica em uma con-
d~,dominação do capital. Nos países como o' Brasil, 'dadas as tradição particular. Essa-contradição pode ser notada com des-
possibilidades mais ou menos grandes de viver em auto-subsis- taque na análise de Celso Furtado, onde ela aparece como um.a ',o

tência ou integrar-se a formas pré-capitalistas de produção pre-


dominantes, no 'campo, os antigos escravos "escapavam" mais
ou menos facilmente ao trabalho assalariado. Mesmo os anti-
,I
contradição formal SI. Após destacar o "nível mental reduzido.
do ej;cravo" e suas "conseqüências negativas para o desenvol-
viménto econômico") Celso Furtado afirma, de um lado, que
"
gos escravos que estavam' nas cidades das regiões mais desen- a abolição da escravidão "foi uma medida mais política do que
volvidas e aí permaneciam, submetiam-se dificilmente à discipli- econômica", incapaz de provocar uma "modificação importante
na própria à produção capitalista 30. Sabe-se que os precon- na forma de produção" e, de outro lado, que a manutenção da
ceitos raciais encontram, muit~s vezes, as suas origens na escra- escravidão durante o Século XIX foi um fator de estagnação
vidão. As dificuldades da plssagem do trabalho escravo para econômica 32.
o trabalho assalariado, em particular a resistência do ex-escravo ) Se, de um lado) a "abolição progressiva" evitava que o
à disciplina capitalista do trabalho, está certamente ligada à \ valor da massa de escravos desaparecesse de um dia para outro,
manutenção de tais preconceitos.' _ 1 de outro lado ela mantinha o quadro escravista e retardava a
Para entender as contradições particulares do desenvolvi- I passagem ao trabalho assalariado, inclusive e em particular a
mento do capitalismo nas condições históricas determinadas pela i transformação dos homens livres e exwescravosem trabalhadores
, assalariados.
economia colonial, é necessário dar o devido destaque ao fato
de que a manutenção do trabalho escravo constitui um obstá- Em outros termos, a "abolição progressiva" não implicava,
culo fundamental ao desenvolvimento do mercado de trabalho. em uma "introdução progressiva" do trabalho assalariado; e na
A passagem ao trabalho assalariado requer a abolição daescra- medida ,.em que isso não acontecia, ela retardava na mesma
vidão.
proporção o desenvolvimento do capitalismo. Desse modo, ao,
Não se examina neste trabalho a passagem de uma econo: defender as antigas fomas da sua dominação - formas que lhe
mia escravista antiga para uma economia capitalista. O capital garantiram uma acumulação primitiva 'necessária - as classes
já domina a economia "Ç.olQ!!i~,-Trata-:~.p-prtanto) de um,~Cpãs": dominantes retardavam a própria acumulação. '
sagemã--novas -fomas de domimiçãó--do capitãI.~-:~~::~specifici-
4ade-dessa passagem CQp.sist~.ná -iie~sstdH<!.~. ~a ~~!:'J!u1ç[(?:das Em conclusão, as classes dominantes encontraram um
.(elãçõesãeproaüçooescravisüis; em lugar da sua simples su- meio -tão formidável para amortecer o golpe da abolição q.ue,
~~~~açao. -~- ---- ---- -,_ ..' no final das contas) a própria abolição parece não ter em ,si
mesma efeitos econômicos positivos... Mas, evidentemente.,
SO Não se trata, contudo, de uma contradição própria unicamente os seus representantes políticos não deixaram de culpar os bra-
ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Outros países, onde o sileiros livres ou libertados pelos atrasos na passagem ao tra-
capitalismo também é parte da ecoDomia colonial,' essa contradição está ballio assalariado: deputados e dirigentes rurais não se cansa-
presente; muitas vezes, inclusive, sob formas ainda mais violentas. Em
um estudo sobre a Guiana francesa,M. J. loJivet afirma: ''Todos os' vam de denunciar a preguiça) a irresponsabilidade e a indisci-
países que oonhecerama escravidão, conheceram igualmente uma crise plina dos trabalhadores livres da economia escravista brasileira,
econômica e social após a emancipação. Nas Guianas vizinhas, a com os quais lhes parecia impossível levar adiante um bom ne-
crise econômica foi resolvida por llma política de imigração intensiva:' gócio e constituir o mercado de trabalho que tanto desejavam.
no Suriname e, sobretudo. na Guiana, a numerosa mão-de-obra necessá.
ria à manutenção das grandes plantações 'de cana-<ie-açúcar que os
escravos haviam abandonado foi buscada-lias índias Orientais." Cf. "Une
approche sociologique de la Guyane française - crise ct niveau d'unité ,31 Uma contradição formal não significa um simples erro. Muitas
de la société créole". Cahiers de /'ORSTOM, Série Sciences Humaines. vezes ela. indica - como é o caso aqui - a contradição real.
vol. VIII, n~ 3, XX, 1971, p. 293. 32Cf. Celso Furtado, ol:S. cít., Capo XXIV; pp. 162-167. O pará-
grafo onde se encontram as afinnaçães citadas está na página 167.
46
47 I' ,

1
;1

I' 1I
I [
r

-t ~
(III~ ECONOMIA CAFEEIRA

A produção brasileira de café cresceu muito rapidamente


durante todo o século XIX. No começo da segunda metade
. do século, ela toma proporções muito importantes: a cifra se
aproxima de 3 milhões de sacas em média por ano. A partir
da década de 18.1.Q. e sobretudo a partir de 1880, quando a
produção média anual. ultrapassa os 5 milhões de sacas por
ano, ~_café t0.!.!M!:~Q_ceg~~motPJ'_4o_4~s_~volY.int~tQ49 ca-
no
PL~mo------ .------..
Brasil. . .
I. BRASIL - PRODUÇÃO DE. CAF~ - 1821-1900
(em milhões de sacas)

Anos Produção

1821-1830 0,3
183J.1840 1,0
1841-1850 1,7
t8~1.1860 2,6
1861-1870 2,9
".
1871-1880 3,6
1881-1890 5,3
1891.1900 7,2
.

Fontes; A. d'B Taunay, ob. cit., vol, IX, pp. 16-17. e Pierre
Demús, ob. cit., p. 116. .

'0 rápido crescimento da produção cafeeira nas' décadas


de 1870 e 1880 é acomp~ado por um deslocamento do
centro geográfico das 'plantações: durante a década de. 1880

49
'--1 .--_._.. ,

" '.'

a produção de São Paulo ultrapassa a produção do Rio de dos_im~~rantes chegados a São Paulo, são empregados nas plan-
Janeiro, os planaltos de São Paulo praticamente substituem o taço.e~ .' UI,TI ~ontr~atode trabalho padrão é preparado pelo
Vale do Paraíba. Em 1852-1857, o porto de Santos não es~ _escntono de lmtgraçao. Trata-se de um contrato de um an '
coava mais que 6% da produção nacional do café, enquanto podendo ~er rescindido pelas duas partes,. com um aviso prév~
que o do Rio de Janeiro era responsável por 92 % das expor- de um mes.
tações desse produto. Em 1867-1872, é ainda o porto do
. Rio de Janeiro que escoa 81 % <ta produção cafeeira brasilei- •. '-~ Esse contrato previa o pagamento de um salário base pro-
ra. Mas a partir da década de 1870, a Província de São porcional ao número de pés de café atribuídos ao trabalhador
Paulo é de longe a principal responsável pela expansão cafeei- (o trabalhador se engajava de fato cOJUsua família Q número
ra. Se tomamos como base "de cálculo o ano 1877-1878, os de pés que lhe eram atribuídos podiam varlài'eni--flmçãi:i";por
índices da produção cafeeira em 1907-1908 são, para o Bra- exemplo~ da idade de seus filhos). A esse salário~base junta-
sil corno um todo 530, para o Rio .de Janeiro 166, para São va-se uma soma variável (uma espécie de prêmio), em função
Paulo" 1-5441• da colheita obtida. Além disso, o traba1hado~ comprometia-se
a efetuar trabalhos exteriores à plantação (por exemplo: par-
, A importância do rápido crescimento da produção e desse ticipar nos trabalhos de beneficiamento, ensacamento e carre--
JdesloeamentQ geográfico s6 poderá ser entendida se conside- " gamento da produção). O preço da jornada de trabalho fora
! rarmos as si;multâneas mudanças ocorridas ao nível das rela,- da plantação era fixado no contrato.' "
'I ções; de.pródução. Â.Q... subir os planaltos de São Paulo, as
. plànJ,a _êi~Lªbtmdçm~mo traõãllío--escravo ~gl~ va6i1no assa':' Ao lado dessas retribuições monetárias, o trabalhador re-
. ana o. om o 11'aalho assalaria o, a pro uçao c eeiea co- cebia um 'pedaço de terra que podia cultivar por sua conta .
nhece a mecailização (pelo menos uma mecanização parcial, O local desse terreno, assim como as culturas que nele podiam
ao nível das operações de beneficiamento do café) • Além ser estabelecidas, eram precisadas no contrato. Em. geral, as
disso, a possibilidade desse deslócamento é determinada pela culturas autorizadas eram o milho, a mandioca e o feijão preto,
construção de uma rede de estradas de ferro bastante impor- isto é, culturas de subsistência. O produto dessas culturas era,
tante. Finalmente, o rmanciamento e a comercialização de em geral, inteiramente consumido pelo trabalhador e sua fa- .
Um<L produção 'que atinge milhões' de sacas implica o desen~ roília. Contudo, nos bons anos, os trabalhadores levavam ao
volvimento de um sistema comercial relativamente avançado, mercado local o excedente da produção alimentar realizada na
formado por casas de exportação e uma rede bancária. terra destinada à subsistência 3.
a fund~entalmente por essas razões que o café se tomou .Em vez de conceder ao trabalhador um pedaço" de,tena
exterior às plantações, o fazendeiro podia' autorizar....&-:tr.a-
o centro motor do desenvolvimento capitalista no Brasil. Con~
:vém então examiná-las mais de perto para compreender as lhador a realizar culturas intercaladas. Esse sistema era,..omais
características do capitalismo no Brasil. corrente nas plantações novas, dado o tamanho relativarnentç
reduzido dos pés de café e o estado c;1aterra, ainda muito. tic~.
Esse sistema tinha a preferência dos trabalhadores, porque...~le~
1. Plantações podiam, dessa maneira, manter com menos trabalho.as duas.cu1; .
turas. Dennis observa que os trabalhadores preferiam gaDbar 60
mil-réis (por mil pés) nas fazendas onde a cultura intercalada
1. 1. Trabalho assalariado
era autorizada do que 80 mil-réis nas culturas onde a terra des-
tinada à lavoura de subsistência estava fora das plantações,
~ Com a imigração massiva, o trabalho escravo cedeu lugar
J ao trabalho assalariado nas plantações de café. Dois terços
~ Pierre Monbeig, Piolllliers et planteurs de São Paulo, Atmand
COliDo Paris, 1952, p .. 132. .
1 Cf. A. d'E. Taunay, ob. cit., 'vol. IV, p. 176 e vol. XI, p. 134. a Cf, Pierre Denni8', ob. cit., p. 141.

50 51

~'
obrigando-os assim a longos percursos diários 4. Esse fato
em São, Paulo. A chegada de trabalhadores cieMinas,e..so,.
mostra a importância dessas culturas de auto-subsistência, apesar
bretudo da Bahia permitiu aos fazendeiros baixar os salários
do papel dominante do regime assalariado. nas plantações.
Progressivamente, o sistema das culturas intercaladas' tor-
nou-se bastante raro. Dois fatores de ordem "técnica" podem Até os anos 1920, os imigrantes de origem estrangeira são
ser considerados na explicação desse fenômeno: o envelheci- ., em maior número. E eles não aceitam sem luta a exploração
mento das plantações (isto é, com o tempo o número de plan- ! à qual são submetidos. Essas lutas tomam as formas mais
tações velhas tende a ser mais importante em relação às plan- diversas, e muitas vezes violentas, dada a repressão exercida
tações novas, apesar dô deslocamento constante das fronteiras pelos fazendeiros que proíbem, por exemplo, aos trabalhadores <J __
do café e o abandono de um certo número de plantações) e aB todo direito de associação. E assim que as plantações são o
características físicas das novas terras. A interdição cada vez palco de várias greves e que muitas vezes as divergências entre
mais freqüente das culturas intercaladas aparece como um meio trabalhadores e fazendeiros ou seus ,administradores tern:Íina-
de aumentar a rentabilidade das plantaçõe~ às custas dos tra- vam em tiros e assassinatos 6.
balhadores. ' Em razão das condições sociais e da remuneração, os tra-
1 Essa tendência reforça-se com a crise de superprodução do balhadores abandonam voluntariamente as plantações ao fim !

) café, que conduz ao aumento das taxas de exploração nas plan- do contrato (1 ano), para procurar uma situação mais vaIita- I'
, tações. Ela é çertamente estimulada com a chegada dos pri- josa nas novas plantações, nas cidades, ou mesmo em outros I
meiros contingentes importantes de trabalhadores de origem países da América Latina, como a Argentina. No limite,' se "
brasileira, após a Primeira Guerra Mundial. não havia mais esperança de melhorar sua sorte deste lado do I
O número de imigrantes brasileiros (brasileiros vindos de Atlântico, retornam para a Europa. As saídas são importantes, I
outras regiões do Brasil) é praticamente nulo durante os últi- sobretudo a partir Aas grandes crises de superprodução, no co-
mos decênios do século XIX; eles representavam apenas 5,5% meço do século/XV(. >.
do número total de imigrantes chegados entre 1908-1917. Du- A esse propÓsito é interessante comparar as cifras das en-
rante o período 1918 1927 eles já representavam 23,4% dos
w

tradas .e saídas entre 1902 e 19061;


novos imigrantes 11. -

As migrações no interior do Brasil são uma conseqüência


do próprio desenvolvimento das relações' capitalistas que' tinha
n. ENTRADAS E SAíDAS DE TRABALHADORES, 1902-1906,

I I
como centro a economia cafeeira. Progressivamente, esse dl> 'Entradas Saídas
senvolvimento começa a subverter o sistema latifundiário e c0- Ano
(em milhares) (em milhares).
meça a "libertar" força de trabalho. Esse desenvolvimento
traz com ele as estradas de ferro, que facilitam as grandes mi- .... 1902 40,4 31,4
grações. As estradas de ferro desenvolveIIHe também no E&-
tado de Minas Gerais e, ligadas às de São Paulo, serviram 1903 18,2 36,4
para transpOrtar trabalhadores brasileiros que vinham não so- 1904 27,8 32,6
mente de. Minas; mas ainda da Babia,. para procurar trabalho 19{)S 34,4
48,1

' 4 Ibid., p. 140. Esse fato 6 também observado por Monbeig:


"A atração das Zonas novas sobre os colonos (assim eram chamados
no Brasil os trabalhadores imigrantes) não provinha exclusivamente
1906 48,4 41,3

J dos salários, mas também, e talvez mais ainda, das condições doe
contratos e particularmente das possibilidades de praticar culturas in-
'ij fercaladag". Cf. ob. cit., p. 140.
(íí;'.pierre Monbeig, ob. cit., pp. 138-139.
7' Cf. Pierre Dennis, ob. cit., p. 131 e DelgadO de Carvalho. Le
, 11 Cf. Pierre Dennis, ob. cit., p. 131 e Piem Monbeig, ob. cit., pp. Br;sil meridional: une itude sur ler Etats du Sud, Société Anonyme de
136-137. Publications Periodiques, Paris, l~lO, p. 119.

52 53

~
--_._--- ------,

Parece então que Dennis não exagera muito quando afirma:


5
I
, de outros tipos. Do mesmo modo, os grãos passados pelas
"0 final da colheita resultava em um deslocamento geral máquinas Lidgerwood, que são chamados café de máquina,
tinham um preço mais elevado. A técnica melhor acarretava

1
dos trabalhadores agrícolas. Os colonos (isto é, os trabalhado-
. reS imigrantes) são deveras nômades. Todos os fazendeiros uma valorização que compensava as despesas de modernização;
, vivem com a inquietude perpétua de ver seu pessoal abandoná- , ela facilitava as economias de mão-de-obra no momento em
.lloS no mês de setembro. .. Não exageramos aO dizer que um que esta Se tornava rara e mais CMa. Enfim; as colheitas dos
terço das famílias empregadas na cultura do café desloca-se novos cafezais podiam ser manipuladas mais rapidamente. do
de ano em ano... Imagine-se o obstáculo que representa para que pelos processos tradicionais" 9.
a indústria do café essa instabilidade da mão-de-obra" 8.
A. d'E. Taunay atribui uma posição dominante aos pro-
, Ao examinar esse problema da indústria cafeeira, Dennis blemas da raridade de mão-de-obra na mecanização das planta-
não leva em consideração o fato de que essa indústria é em ções. Ap6s ter analisado o relatório do Presidente A. da Costa
grande parte o resultada da luta de trabalhadores' que não Pinto à assembléia Legislativa da Provm.cia de São Paulo (5 de
aceitavam passivamente as condições de trabalho impostas pelos fevereiro de 1871) - relatório que insiste sobre as dificuldades
fazendeiros. Mesmo a mecanização parcial elas fazendas não dos fazendeiros para encontrar trabalhadores - Tàunay afirma
pode ser explicada se não consideramos essa luta (nas formas que a qqalidade d~s cafés, de São ~aulo estava melhorilndo e
mais diversas) entre o capital cafeeiro e os trabalhadores agrí- elê atribui essa melhoria ao pr.ogresso no. tratamento dosU~os
colas. imposto pela "raridade" da força de trabalho. Entre esses pro-
gressos, ele cita também a adoção em numerosas fazendas pau-'
listas da máquina norte-americana Lidgerwood. Isso represen-
1.2. Mecanização tava - diz ele - um investimento importante mas rentável,
porque o café"tratado com essa máquina era pago 200 mil-réis
A substituição do escravo pelo tra~alhador assalariado e mais caro, isto é, cerca de 10% acima dOs preços iriternacionais
o desenvolvimento das plantações de café em todo o Estado da época 10.
de São Paulo, acarretaram a mecanização de uma parte da Apesar de limitar-se às operações de beneficiamento, a me- I
produção: as operações de beneficiamento. Os aparelhos canização não deve ser subestiniada. ma constituiu, de um "

!
construídos principalmente em madeira e movidos pela água la!1o. ~ m~eC~ário ao estabelecimento de plantações a
dos riachos ou pela força humana, predominantes na época ê1istânc~asm~~.iíi~~~"]im--º~u6Hnha li
11
da escravidão, foram rapidamente abandonados a partir da
década de 1870. As secadeiras mecânicas preparadas pelos
~~~~1J!!!l. De outrõTãao,--apesar de a pro~
priedade fundiária ter permanecido sempre o elemento pnnci-
I!'
fazendeiros Taunay e Silva Telles impuseram-se, do mesmo mo- pal', que separava os trabalhadores dos meios de produ9ão, i' '
do que os classificadores a vapor. mecanização desempenha também' um papel importante nesse
sentido. Os produtos eram tratados e ensacados nas fazendas.
Monbeig resume assim essas transformações:
~~~'!i.~~~ã~. ~~.~a pl~.!1!~~~~_~.!'~~nª--imQ~~~~tão.na
"O metal e o vapor triunfaram sobre a madeira e a cQJDprade um eqwpamento CUJO pr~o ultrapassava largamente
água. .. Sua produção (a dos fazendeiros que empregavam ~sreçursoi>. damaSSél de.'trabalhadores. 'Além disso, o funcio-
máquinas modernas) tem venda mais fácil e 'preço melhor. ~s
namento desseSeqüipanlentos supunha grandes phuitações, .ca-
~
1 intermediários e, os exportadores, com efeito,' podem negocIar'
, com mais segurança as diferentes qualidades de café c1assifi. pazes de fornecer uma produção suficiente para tornar rentável
;>
r cados automaticamente. Eles recebem uma mercadoria perfei- esses investimentos. Essa mecanização mesmo parcial repre-
v' . ,K tamente seca e que não corre o risco de se estragar, durante a
sentava um elemento importante do sistema de grandes planta-
~ f fase de transporte. Assim, os cafés tratados p::lo secador
Taunay-Silva Telles obtêm preços superiores em um terço aos ções dominado pelo capital. Como destaca Dennis:

11 Cf. ob. cit., pp. 88-89. .


8 Cf. ob. cit., pp. 143-144.
10 Cf. A. d'E. Tauaày, ob. cit., vol. IIl, pp. 221-223.

54 55
~.
.
.

"Uma fazenda representa, ( ... ) grandes capitais, e mesmo . A importâ~cia das estradas de ferro para a economia ca-
os agri.cultores paulistas não eram bem sucedidos senão graças feelra pode ser Ilustrada por esse cálculo d.e A. d':.g. Taunay'
ao apoio financeiro que recebiam do grande comércio de expor-
tação de Santos. Uma semelhante organit.ação agro-industrial considerando que o preço do transporte pelo tremera seis vezes
não podia adaptar-se ao regime de pequena sociedade" 11. inferior ao das tropas de mulas, ele estima a éC.Q!,1omia...realizadª
somente~~_É~~.<!-ª~U!~,EwõJlêdiõ"~;=iMi:
Esse aspecto da economia cafeeira - a indústria ,cafeeira ~~~ S2Qlente para o ano de 186.8.z. essa ecODQ-
,~. - que caiu um pouco no esquecimento com o desenvolvimento .' é estimada em' 9.393 CO!11Q1 •.•••ou seja. mais de lO~
I) posteriôr da indústria no Brasil foi muito fortemente assinalada valor total das ex orta ões brasileiras de café nessa época ~•.
" pelos autores da época, como Pierre Dennis e também Delgado Em 1858, a São Paulo Railway Co. Ltd. era organizada
/ de Carvalho:
na Grã-Bretanha. Ela foi encarregada de construir uma estra-
"A aparelhagem da. usina. de café atingiu um grau de per- da de ferro ligando o planalto de São Paulo ao porto de Santos.
feição muito notável em São Paulo. ,~hoje a indústria melhor Os trabalhos começaram em 1860, e em 1867, a linha principal
organizada do- Brasil. As grandes fazendas de São Paulo são
instalações modelo, que surpreendem o viajante estrangeiro e (Santos~São Paulo) entrava em serviço.
são dignas de figurar ao lado das indústrias mais bem apare- Outras companhias construíram estradas de ferro para, a
lhadas da Europa" 12.
partir de São Paulo, servir todo o planalto. Essas cÇ)mpanmas
- entre as quais destacaram-se a Paulista, a Sorocabana e a
1. 3. Estradas de ferro Mogiana - foram organizadas pelo capital cafeeiro brasileiro ..
Seus principais acionistas eram os pr6prios grandes fazendeiros;'
o desenvolvimento da economia
cafeeira não teria sido " No caso da Paulista, os fazendeiros de Campinas, Rio Claro, .
~-ªi~esfriCi~j~ .d~._~çn:o.' A
antigas tropas'.de mUlas Limeira e Araras. exemRlo. o QFincipal acionista :da'
'!Jl!!-.2!!.tr.Q.
não podiam escoar ,uma grande produção espalhada por milhares Mogiana era o rei do café de Môii~~lli ..
de quilômetros. Com as estradas de ferro as distâncias dei-
"Em 1879 ..,....afirma Delgado, de Carvalho - a zona C8- 1
xaram de ser obstáculo importante. '~Qf~_.siP feeira encontrava-se quase inteiramente coberta, mas a febre'.
e"au1o e~ pQJtan1QJll!tD JLWSQ.!!g~~.~o ,.Rel..QS.- 'í»o.neirQ$" de construção. longe de diminuir, frente aos belos resultados
do c~é. ~ As plantaçã~ não seri~~~,_~Q~_9P.~ que dava o transporte do cafê, procurava prolongar as düeren-

'I
I
---
de colheitas impossíveIs de ~coar 18.
A
- --
primeira estrada de ferro do café foi a Sociedade de
.
tes redes ferroviárias" 16.

Em 1908~ a companhia Paulista, administrava 1.100 .~


t. Estradas de Ferro Pedro lI, organizada pelo Governo do Im-
de vias férreas. Sua receita, para esse mesmo ano, foi de 22.664 '
-[
'pério. Suas primeiras linhas começaram. a funcionar no, fim
de 1859. Progressivamente ela foi buscar o café em todo o
contos (isto é. 1.000 mil-réis), ou
seja,' ao câmbio médio'do ano,
cerca de 1,5 milhões de libras. A Mogiana e a Sorocabana li
Vale do Paraíba e estendeu-se até o Norte de São Paulo e o
seguiam de perto, a primeira com 1.046. km de vias férreas e
Sudeste de Minas Gerais.

11 Cf. Pierre Dennis, ob. cit., p. 162. 14 Cf. ob .. cit., vol. IV; pp. 405.406.
12 Cf. D. Carvalho, ob. cit., p. 167. Orifosdo A. Para uma des- 15"0 desenvolvimento das estradas de ferro era comandado 'pelos
crição das operãções iJldustriais do café, ver pp. 164-168. interesses dos administradores, produtores e comerciantes de café .. '
18 Calcula-se que em 1855, 500.000 arrobas, ou seja, 'cerca de
seu traçado, por vezes caprichoso e que será IIecessário corrigir ou
120.000 sacas de 60 kg, foram disperdiçadas por falta dos meios ne- suportar penosamente, depende da posição das maiores fazendas e da
cessários para transportá-las. Cf. Pierre Monbeig, ob. cit., p. 8S, Em, localização das cidades do café", P. Monbeig., ob. cit., pp. 157-158,
478 aos 736 km de estradas de ferro construídas no Brasil em 1868
1860, isto é, antes do funcionamento da São Paulo Railway, 06 faz.cn-
deiros não se arriscavam a instalar-Se a 40 léguas (240 km) do porto eram "estradas do café". Cf. A. d'E. Taunay, ob., cit., vaI. IV, p.411.
de Santos (Cf. A. d'E. Taunay, ob. cit., vol. IX, p. 19). ll! Cf. ob. cit., JlP.80-82.

56 57
....
.
.
-~-- _.~--- -- -.
~. -----
(.
J.ll...•
uma receita de 15.579 contos, a segunda com 1.090 km e
11.719 contos 17.
senvolvimento da economia cafeeira é o desenvolvimento do ca- ~.Jf"
pital cafeeiro. Mas a economia e o capital cafeeiros ultrapas-
Com o rápido desenvolvimento da rede de estradas de sam largamente as plantações. A transformação das plantações
ferro brasileira a partir de 1860 (ver tabela abaixo ), consti- faz parte de um processo mais amplo e não pode ser correta-
tuí-se uma infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do mente explicado isoladamente. Em particular, a natureza ca-
capitalismo, em particular na região cafeéira.
pitalista dessas transformações e o desenvolvimento do capi-
m. EXPANSÃO DAS ESTRADAS DE FERRO, DA CRIAÇÃO talismo que tem por base a economia. cafeeira não pode ser
DAS PRIMEIRAS LINHAS EM 1854, A 1929 determinada unicamente ao nível das plantações.
Desde o começo, 9~,princiE~i~ l~~~~.~ha pioneira'
Anos
I Região cafeeira(l)
(km)
.Brasil
(km)
~.ª_.p.!iª~.lZ!i.L~
t<ranU~~~.mc~EJP!a_dores
~~-.1er.râ:
ªJ!.!g~P.~~tªç~C?s ~e. ~ai:é. Eles
.da produção 'do conjunto de
pIes e.xerciam as funções oe
pro~
uni-banco
1854
1859
14,5
77,9
14,5
109,4
~ando o eSlabeI~me~to' ª~!tj~~~j~~an(~ç9:ê.'s _oü.'i'inº~
1864 germzaçâo de Ej.L~9J!lP-a.m.enlº, ..YIl1pn,~t.llJ1dõ aos J~~º"9~jI9s
163,2 411,3 em dificuldade 18.
1869 450,4 713,1
1814 1.053,1 1.357,3 -"--Pó'Uco-a: "pouco, eles se afastam das tarefas ligadas à ges-
1879 2.395,9 2.895,7 tão direta das plantações, que são confiadas a administradores.
1884 3.830,1 6.324,6
1889
Eles se estabeleceram nas grandes cidades, sobretudo em São
5.590,3 9.076,1
1894 7.676,6 12.474,3 Paulo. Suas atividades de comerciantes não se conciliavam
1899 8.713,9 13.980,6 com uma ausência prolongada dos centros de negócios ca-
1904 10.212,0 .16.023,9 feeiros .
1906 11.281,3. 17.340,4
1910 - A medida que a econoroht qgeeira se desenvolve, o papel
1915 -
21.466,6
26.646,6 das câsas -de-o exportãÇão;--'centr.ali~1Úl(io~a'compra '-4,e.=toda .~a
192() - 28.556,2 produçâô~'-cresce.:" ..~J~p6!.!ân~~l.!- ..do~ .capi.~a~~..!l'plic_~dos-!l_e!s.~
1925
1929
- 32.000,3 esfera de economia está ligada ao nascimento dos pr~eit'os
18.326,1 32.000,3
oanéos'orasileircis.. As operações comerciais explicãiri-'o n'às-:'
cíDieíifõ~0'- desenvolvfmentõ--aos' 'baõCõs~-"'-" ._-_.- .._-_ ..
1 Espirito Santo, Rio de Janeiro, Guanabara (antigo distrito Fe- Encontramos, muitas vezes, os mesmos homens que estão
deral), Minas Gerais e São Paulo.
à frente de empresas que desempenham as funções mais div.er-
Fonte: Para os anos de 1854-1906, Centro Industrial do Brasil,
Le Br/si/. Ses richesses naluretles;ses industries, Paris, 1909, vaI. n, sas. Eles estão também -:- é importante destacá-lo - à frente
pp. 40-43. Para os anos seguintes, Ministério da Agricultura, Comér- do aparelho de Estado, seja ao 'njvel regional (Estado de São
cio e Indústria do Brasil, Brasil Alual, Rio de Janeiro, 1930, pp. Paulo), seja ao nível federal. As biografias dos principais fa-
147-149.
zendeiros de café são ricas em informações a esse respeito.
Toledo PÍZa e A. Prado são dois exemplos significativos.
2. Capital cafeeiro Todos os dois eram grandes fazendeiros, isto é, proprietários
de grandes extensões de terras consagradas ao café. Prado foi
O processo de transformação das plantações de café é
também o processo de formação da burguesia cafeeira. O de-
18 Essas funções se concretizavam na figura dos comissários que
desempenharam um papel importante na expansão cafeeira até o final
17 Ibid., pp. 8Q..82. Em sua obra, Taunay apresenta-nos cifras que
do s~lo XIX, quando as grandes casas de exportação e os bancos
confirmam a rentabilidade das primeiras grandes vias f~rreas do café assumiram suas funções. Taunay estuda em dois capítulos a posição dos
(Pedro.1I e São Paulo Railway) desde os começos, isto é, durante os comissários na economia cafeeira dos anos 1872.1889. Cf. op. cit.,
anos 1860 c 1810. Cf. ob. cit., vol. IV, PP. 391-413. vaI. VII, pp. 35.52.

58 59
um dos principais personagens da marcha para o oeste, um divisão da burguesia cafeeira remete à estrutura das relações
dos pioneiros do café. Mas ele era também o proprietário entre as diferentes funções do capital cafeeiro e portanto, em
de_um dos primeiros e um dos principais bancos de São Paulo particular, à dominação da função comerciai.
e do Brasil; um dos principais dirigentes do Ofício de Imigra- Em_~eu conjuE~Q.,~imp.9.J;~ânciado capital cafeeiro está
ção; o mais importante acionista da Paulista (companhia de em ligação ~feta com a importânCia de suas funçã.és. wmei'-
estrada de. ferro) ,. onde exercia as funções de' presidente. J:o- cfâis.lsso é verdade se consideramos cada capital indivi- .
Ieda piza era o proprietário de uma das mais importantes casas düãlmente. Porque o desenvolvimento do capital cafeeiro desde
de exportação de Santos e também "comerciante de terras". essa' fase (segunda metade do século XIX) conduziu à sua
Foi diversas vezes Secretário da Agricultura do Estado de São divisão em duas frações, que podem ser entendidas em uma
Paulo. . primeira aproximação, como uma divisão entre grandes capitais
e capitais médios. À sua base, contudo, encontra-se a estrutura
2. 1 . Diversos aspectos e aspecto dominante do c~pital
cafeeiro ,
do capital cafeeiro. ~andes
s~!.&!!.e..sl~.s:a!e~~~~ =__
eaJillais - isto é a camada
.. ~~f!Ei.8J!l..
l

Jw.c1imentalmente

_º-~_
uma burguesia comerciãI. - Os medios capitais - isto é, a ca-
~guesla Sõbref"WiõUiiiã
cat'eeifa :::::,:c.léliíiiam
caf.eeu:~_tinb~__porta,nto diversos aspecto~; _ele !Lur~esia~!ria, CUjãrrãqüez~-(resultaniC--do'rric(f"aeSêiivol;'
apresenta ao mewQJemp---º _a~J(aracterísticas do capital agx:át::io, vimentodo caPitãlismo-ã"õ--nrvefde produção) a aproximava de
~:s.~il!!,A~_capital ~ª"çário e do capital comerciw,.. uma simples classe de proprietários de terra.
Esses diferentes aspectos, correspondem a diferentes funções ~~~ári~_Í!!sist!r ~~J.!l~o.--º_~.9.º~_~~ª.divisãQ_Jlªº--_é_
~a
do capital e tendem, com o desenvolvimento do capitalismo, a divisão~.!1tre, de uma parte, o capitaL£O~m~Lc; ..9~._º!J:~a
-constituírem funções relativamente autônomas, preenchidas por parte, o. cap~ãi.fu:CoÇmá1õies-iTprodutores" d~_.café..•....
9S
capitais diferentes - o capital agrário, o capital industrial, etc maiores fazenaeiros fazem parte da camada sU"periorda bur-
- e frações de classe particulares (a burguesia agrária, bur- guesíaCãIeeJ(a; ~~:gra.n~~~
..~iji~açõ.êi---sãn~::p.rõPiie..4ades_~:~o
guesia industrial, burguesia comercial, etc.). Na economia ca- &!andecapital. O capital cafeeiro representa a unidade d~
feeira, caracterizada por um grau ainda fraco de desenvolvi- dois, sob a dominação do primeiro. De fato, quando fa1o~
mento capitalista, essas diferentes funções são reunidas pelo como faço neste momento, de capital agrário e capital comer-
capital cafeeiro e não definem .(pelo menos diretamente) fra- cial, faço -uma distinção teórica, que ajuda a compreender a
ções de classe relativamente autônomas: não. havia uma bur- realidade concreta mas não pode ser considerada mais do que
guesia agrária cafeeira, uma burguesia comercial, etc., mas uma uma aproximação. Na realidade da. economia cafeeira dessa
bur~esia cafeeira exercendo múltiplas funções. época, esses capitais não existem de uÍna maneira autônoma.
. Mas se o capital cafeeiro exerce funções diversas, essas A preponderância do capital comercial é, em 'Primêiro
funções estavam estruturadas de uma maneira precisa. As di- lugar, o resultado do desenvolvimento ainda fraco das relações
ferentes funções exercidas pelo capital cafeeiro correspondem a de produção capitalistas no Brasil. A análise. do trabalho
relações reais que mantinham entre si relações específicas. :e assalariado. e da mecanização nas plantações mostrou ao mes-
o estudo dessas relações que nos permite melhor caracterizar o mo tempo a existência e os limites dessas. relações no seio da .
capital cafeeiro, determin!j.Ddoqual, entre os seus aspectos, era economia cafeeira. No Brasil, o capital comercial não se apre-
o seu aspecto dominante. senta de uma maneira. autônoma-, enquanto capital comercial
A análise- dessas relações faz ressaltar a dominação das puro; ele domina diretamente a produção e a submete às suas
exigências 111. Em outros termos, a acumulação capitalista
funções comerciais. Em outros termos, a caracteriz~ o ca-
pital cafeeiro como um capital dominantemente comercial.
. --.._~- ~--------------
Essa mesma análise nos permite também distinguir duas .cama- . 19 Marx. insistiu nos aspectos reacionários do capital J;l:terc:a~til.na
trausição capitalista. Ver particulannente o capítulo "Resumo hlstónc:o
das bastante bem definidas no seio da burguesia cafeeira. A sobre o capital mercantil. Cf. Le capital, vel. VI, PP. 332.345.

60 61
•.
. --.~---_. - .
'--.-.. ••y'"

,@~.a-~~.~oJ~.r~~_~_o ao nível do comercIO, o que açarr~ta um


des~nvolyim~!!t9__mais' leitlo.dàs forçaspródutivas. e 26, 5 pence durante os de~ ~timos ailos do Império, come--
--Em 'segundo lugar, a dominação do capital comercial ex- çou, com o advento da Republlca, uma queda .vertiginosa que
plica-se pela posição ocupada pelo Brasil no-seio da economia a ~eva em dez ~nos, ist? é~m .18~9, a 7,5 penc.e28. ~4 UI

múndial. Dado o fraco desenvolvimento de suas fprças pro~ .~E£~.&!!.esla cafcelU distnbu!.M?bre o conjunto da econo- .
dutivas, o Brasil se vê designado, na divisão intemacional do mia braj~s efeit9S..Jla baiu. doª ~.
trabalho, a posição de país exportador de produtos agrícolas. Contudo, essa política inflacionária tinha limites muito
..... ~ estreitos. ~m...!ado el~ aumento dos preços
Esse efeito do desenvolvimento das relações capitalistas mun-
diais (sobre as condições próprias da estrutura econômica bra- dos ~utQS e
lm;l?otla.,dOl! .PQtl~ c~ da ecopg..
sileira, isto é, um capitalismo ainda fraco) manifesta-se por mia . rasileira da é.£Oca, uma alta geral do custo dê vida. Em
uma dependência em relação ao mercado mundial. Essa de- conseqüência, a l!.~esia cafeeÍra C2..nc0.!!t~~ . !um.9.!!ç~odet<t
pendência vem reforçar o papel dominante do comércio na das as outras c1.~.IDUt.~ª.~_~u ~.W~~l~_.!S!áÉ-()o-exportadçn.l,
economia cafeeira e na economia brasileira em geral 20. des e os im ortadores o~.J,@,:balh.~do~,~~~Cl'õêm. part!cu-
'lar e,ela p~uena-b*iuesia urDãiia. TDe-outro tã3o, se o. áü-
3. Desenvolvimento' da Economia eafeeira no início do sé~ mento do volume das exportações não era tão forte que pudesse
cúloXX compensar a baixa de preços (condição difícil de preencher nas
condições da superprodução), o governo federal encontrava-se
3. 1. Superprodução em. má situação para controlar o serviço das dividas, que devia'
ser pago em libras.
O' problema da superprodução de café apareceu desde o A desvalorização monetária, do mesmo modo que as taxas
) final do século XIX. Em 1882, a produção mundial havia alfandegárias sobre as importações, não pode .ser um meio efi-
I ultrapassado o consumo mundial 21. Com a crise de 1893 nos caz de amortecer os efeitos da
queda das cotações internacionais
I: Estados Unidos, princip~l consumidor do café brasileiro, os pre-
. ços desse produto no mercado mundial caem rapidamente. A
.do café senão dentro de certos limites. .A amplitude da crise
do último decênio do século XIX ultrapassa largamente esses
J. co~ação média anual do saco de 60 kgpass~ de 4,09 libras, em limites; a política dos primeiros governos republicanos cóndlJZ..
\ 1893, a 2,91 libras em 1896, e a 1,48 libras em 1899 22. a um retumbante revés financeiro. O govemó brasileiro des-'
A política inflacionária seguida pelos primeiros governos pede então os ministros comprometidos com essa política e en~
republicanos ea rápida desvalorização da moeda brasileira que via seus representantes para negociar com seu banqueiro, Lord
acompanha a inflação, permitem à burguesia cafeeira amorte-, Rotthschild 24. A saída consiste em uma operação de ftuiding-
cer os efeitos da baixa dos preços.. Com efeito, a moeda bra- loan realizada a primeiro de julhO de 1898. Após essa 'ope~
sileira (na época o mil-réis), após ter variado entre 18, 5 pe1We ração, o pagamento dos juros. das dívidas antigas é 'suspenso
por um período de 13 anos. Em contrapartida, o govemo
20 ~ por essas razões que a grande burguesia cafeeira instala-se brasileiro adota uma politica de estabilização. A moeda bra~
nas grandes cidades e, mais precisamente nos grandes portos. A cidade sileira recupera-se da queda e ao longo dos' vinte primeiros
de São Paulo talvez não possa ser considerada como uma excessão,
na medida em que ele é a porta do corredor que vai do planalto ao anos do século XX encontra uma estabilidade relativa (Cf,. i
POrto de Santos. ~ entretanto importante não menosprezar a 'parti- quadro e gráficos seguintes).j
cipação da indústria nascente - desde IS'80 - na consolidação de
São Paulo como capital econômica da região.
21A produção mundial era .então de 10.415 milhares de sacas 23 Trata-se de cotações médias anuais. Cf. quadro apresentado por
(60 kg) e o consumo de 10.270. Só a produção brasileira representava J. F. Normano, Evolução Econômica do Brasil, Cia. Editora Nacional.
53,5% da produção mundial. Cf. W. G. dos Santos. Introdução ao São Paulo, 1939, pp, 259-261. Sublinhamos que o valor anual médio
J estudo das contradições sociais no Brasil, ISEB, Rio de Janeiro, 1963, majs baixo registrado até então pelo mil-réis era de 17 pence (em 1863).
p.29. 24 Após 1852, o governo brasileirO obteve todos os aeua empr~.
22 Cf, Celso Furtado, ob cit., p. 206. timos com Rothschild & Sons. Cf. o quadro sobre os empréstimos brast.
leiros do estrangeiro, apresentado por J. F. Normano, ob. cit., p. 311.
I 62
:6.3
I .
I ,. ..
Como sublinhou Furtado, é a partir do momento em que
o mecanismo das trocas mostra-se incapaz de amortecer os
efeitos da queda dos preços que o problema da superprodução
passa ao primeiro plano 211 OU, em outros termos, que a bur_'
guesia cafeeira toma consciência da existência desse problema ~! lia Q
e da necessidade de resolvê-lo. O funding:Zoan de 1898, na
medida em que é o resultado do fracasso (a longo. prazo) da

-
política anterior centrada na inflação e na desvalorização, mar-
Ca o ponto de partida dessa nova política. Em. si mesmo, o
funding-loan não é mais do que uma solução provisória, um
W
meio de pôr um pouco de ordem nas finanças da nação. Mas,
uma vez resolvido esse problema, falta resolver o essencial: o ~
problema da superprodução.
~

-
IV. COTAÇõES ANUAIS M£DIAS DO MIL-R£IS (EM PENCE) ::E
1889.1930 w
Cf)
Ano
I
Cotação
I Ano I. Cotação
~iii
o::,
1889
1890
26 7/16
22 9/16
1910 16 13/64
-'
~
1911 .. 16 1/8
1891 1429/32 1912 16 5/32
O~
1892 12 2132 1913 15 61/64
OS!!
1893 1119/32 1914 14 21/32
1894 10 8/32 1915 <t .'
1895 9 15/16
<
12 29/64 -O)
1916 11 15/16 ,O CD
1896 9 1/16 1917
1897 7 23/32 1918
12 45/64
12 57164-
~!!
1898 7 8/16 1919 1425/-64 ...J
1899 7 7/16 1920 14 15/32
1900 9 1/2 1921 8 9132 ~
1901
1902
11 .3/8
11 31/32
1922 7 5/32 z
1903
1923 5 3/8 <t
12
I
1924 5 15/16
1904 12 7/32 1925
1905 6 1/16
15 7/64 1926 7 9/64
I~
1906. 16 11/64 1927 5 27/32 <.>
1907 15 5/16 1928
1908 5 57/64 ~
15 5132 1929 5 55/64 O
1909 15 9/64 1930 5 18/32 ()

FODte: 1. F. Normano, EvolUfiio Econ.5mlca do Brasil, Compa-


1>1
nhia Editora Nacional, São Paulo, 1939, pp. 260-261.

2G Ob. cit., p. 207. g( ~ Sã

64
-cc
I •• __ • •••• _ •••• __ 0- ....-~-_~ •••••

A superprodução aumentava sempre: 7.250 milhares de Dada a larga autonomia con~da ~l~stituição ge
sacas em 1897-98, mais de 9.500 milhares em 1899/1900. A 1889 aos governos dos EStãdos federãdos - que os autorizava
colheita de 1901/1902 atingiu a cifra récord de 16.270.678 ~ra~ c~i,sas, a fixar _e ~~~~~!..ç~J?,~!º-S_-ªg!?tJ!~,ªfLex.-
. sacas~ ou seja' cerca de 82 % da produção mundial, Houve rt ões - c(nraliemrestim~ no estranéo - a grande
inquietação. Nos' anos seguintes,.a produção diminuiu: cerca bur~uesia cafeeira ~ôde a~~~~ ~~~U~l~.JJ.ll~c.ija.!!l.m~~t~.~~~;t-.
de 13;000 em milhares de sacas, em 1902/1903, com 11,000 ffi do governo d Estl!..E.jf~,~ª-Ç:J~,!L1J!o. (O financiamento
. em 1903/1904, 10.600 em 1904/1905 e 11.000 no ano se- externo foi conseguido, junto a outros bancos 28 ~ que se. apro- .-
guinte, Mas a colheita de 1906/1907 foi particularmente veitaram da ocasião para encontrar um lugar num país até en-
grande: ela ultrapassou 'os 20 milhãesde sacas 28. . tão cliente exclusivo da casa RothschildJ .
~maneira, a burguesi~afeeiraimpunha indiretam~n-
te ao ~onjunto do QaíS a politica ~~~a 1!aviª;_C!~ª-(.Le.~ --ér-
3.2 Valorização Tau15ate. O governo centrãl fennmou chamando para si a
uvalo/-'ÍZação"para não perder todo o controle sobre a política
No início do mês de fevereiro de 1906, a grande burgue- econômica nacionat . A grande burguesia cafeeira. mostrava
sia cafeeira, reunida em Taubaté (Estado de São Paulo), de- assim ao governo central e ao conjunto das cla~ses dirigentes,
o

finiu os fundamentos de uma nova política de defesa do café. ..a sua rigidez quando se tratava de seus interesses fundamen-
, Era 'Q inicio da "valorização" •.-cujos priricipais objetivos são tais. Nesses casos. o governo central deveria. segui-la. :ela
assim resumidos por Furtado: afirmava assim, muito claramente, o seu papel hegemônico no
. ' - compra dós excedentes pelo govemo' para. restabelecer seio das classes dominantes .
o equilíbrio entre a oferta e a demanda; .. o Não é por acaso que o regime político da Primeira Repúbli-
.--:- financiamento dessas compras por empréstimos 'de ca adquire as 'suas formas definitivas durante esses mesmos anos,
bancos estrangeiros; , com a institucionalização da "política dos governadores" 29.
o...:.... pagamento do serviço desses empréstimos através de
um. noyo' imposto (fixado em ouro) sobre a exportação de
café;
A revisão da posição do governo federal brasileiro é aCOJD-j
panhada pela revisão da posição de Rothschild, que, uma vez
"valorização" aplicada por São Paulo com o opoio de outroS
a'
- .~ adoção de medidas destinadas a
dese~coraiar a' e,x- bancos estrangeiros, decide contribuir também para seu fiJian-
ciamento. A "valorização" parte a pleno vapor e com.ela toda
pansão das plantações 27.
a economia brasileira, durante os próximos decênios.,
&sa política audaciosa não foi adotada imediatamente pe- o • _ \

lo governo federal. Essa hesitação pode ser, em grande parte, Na medida em ,que assegurou a con~uação da acUJI1U1a~~
o
o

explicada pela posição de Lord Rothschild~ que se declarou na economia cafeeira~ que era núcleo do desenvo1vim'entoca-
publicameilte contra a sua aplicação. Ele pensava ,que caso a pitalista no Brasil, a ''valorização'' tem como resultado principal o

política de. valorização fosse aplicada o governo brasileiro não o prosseguimento do desenvolvimento capitalista. .~.
estaria mais eD;lcondições de cumprir as obrigações assuriridas A RYtit de. ~5t"yQMmento çapitalis~ asséS!;!rado,~
em 1898 (Jundíng-loan). ela "valoriza ã()" é acom d uma' rtlci ão mais'\.
_lTC À o capl~ es!!a~~!fo. A.J2artir dª--,'valorização" a rea,:,
26~ estoques ,quase dobraram de 1900 a 1907,. passando de 5.729 I

a 11.305 milhares de sacas. Em 19 de Iulho de 1907 os estoques'


atingiram 16.380 milhares de sacas., Cf. A. d'E, Taunay, ob. cit., voI. 28 Disconto Gesellschft, de Berlim, Nordentsche Bank, de Ham-
XI, pp. 29.32. Os dados sobre. a produção de café são de Pierre burgo, Shroder, de Londres, Société Généra1e, de Paris, e City Bant.
Dennis, ob cit" p. .176. de Nova York. .'
270b. cit.. p. 207. Ver' também, sobre eSse ponto, P. Dennis, ob. 2& Werneck Sodré observa também (Cf. ob. cit., p. 306) esse "coin-
clt.; 'pp. 191-192. O texto do Acordo de Taubaté é reproduzido em
Le Brésil, ses richessils naturelles, ses inclustries, Pp. 4()..43. cidência histórica".

66 67

.. ----_._---------_._--_ .._-_ __ .---.....-
•...
.. -_ _.~-
•.•.

Hiaçao da mafs valia torna-se praticamente inlpossíyel sem o importação e exportação. c()~verge:lUpa~, el~8S. O impuls'? j~_
financiamento dos bancos estrangeiros. ~ nessa época que o austi'lJIlacssesiüíõs--~-do mesmo modo que, mais geralmente,
capital estrangeiro toma-se dominante ao nível da comercializa. ~s-ii~J-.~-~os-'~~~~~fdo ~é.culoXX--: deve ,ser'relá-
ção do café 30 e as filiais $ios bancos .estrangeiros desenvolvem-se CIõôâaõCom
.j?õaerójõ: __ a eXiStênCJade um SIstema bancáno relativamente
mais rapidamente.
U
H - H. •• •• • •

Mas o capital estrangeiro não domina inteiramente a co- ~ interessante assinalar ainda no que conceme à posição
mer~iaIização do café e as atividades bancárias. A seu lado, dominante da grande burguesia cafeeira, que os organismos ofi-
desenvolvem-se os bancos e casas de exportação pertencentes à ciais encarregados da "defesa do café" (a aplicação da "valori-
burguesia do café, ou mais precisamente, à camada superior da zação" e a gestão dos fundos consagrados a esse fim, liquidação
burguesia do café 81. de estoques, etc.) são dirigidos pelos representantes diretos da
Nós já vimos que, desde o começo, destacam-se à frente grande burguesia cafeeira, que os organismos oficiais encarrega-
da "marcha para o oeste" bomens que não se limitam às ativi- dO. s da "defesa do café" (a aplicação da "valorização" e a gest~ãO
dades agrícolas, que investem nas estradas de ferro, abrem ban- dos fundos consagrados a esse fim, liquidação de estoques, etc.)
cos e casas de exportação, controlam. a administração do Estado são dirigidos pelos representantes diretos da grande burguesia
e da União. Mas até o começo do século XX, o papel desem- cafeeira, isto é, dos homens que, s~bém grandÇj fazeJl-
~"3- penhado pelos bancos e casas de exportação permaneceu limita- ~iros, são ~tes de tudo -º.~~~s :...~ortadores.

}
. do. .E com a crise. que essa camada superior da burguesia ca~ Assim, é necessário distinguir claramente as duas camadas
feeira afirma cJ.aramente sua dominação sobre o conjunto da da burguesia cafeeira para compreender os efeitos da "valorjza-
classe ou, em outros termos, que se realiza o proc~so de sua ção", Apesar dessa política ter sido apoiada pelo conjunto da
delimitação enquanto fração à.parte da burguesia cafe.eira. burguesia cafeeira, seus benefícios são inteiramente diferentes se
. Esses bancos. nacionais e estrangeiros, cujo capital em 1913 'consideramos separadamente -as suas duas camadas. A grande
eleva-se a 3,23 bilhões de mil-réis (ou seja mais de 4,5 vezes .burguesia cafeeira, proprietária dos bancos e das casas de ex-
o capital industrial em 1910), desempenham. um papel impor- portação, pode .resenrar-se uma parte cada vez mais importante
I!
tante no desenvolviniento capitalli;ta no Bra~l. Rapidamente do luéro realíz~do.a partir da produção do café.
I

.
eles penetram em todos os setores da economia brasileira, .finan-
ciando as at:ividades mais deversas: o comércio,. a importação,
A "Valorização'; representa portanto o apogeu do período -I
que estudamos aqui. Nesse sentido, parece-me errado ver nes- ,I
a exportação, o açúcar,. o café e também a indt1strla.
sa política um simples adiamento do fim da dominação da eco- I
I

t
"São eles que adiantam o dinheiro necessário ao finan- nomia cafeeira s~bre o conjunto da economia. Ela não consti-
ciamento da indlistria, do. comércio e da agricultura, quç en- tuí o começo do fim desse período senão na medida e}l1que .
tram em relação com os compradores e vendedores no
estrangeiro, que encaminham 08. investimentos estrangeiros, que representa, de certa maneiia, o seu estágio supremo. :e. neces-
dominam e dirigem toda a vida econômica do país" 82, sário jamais perder de vista que, com a "valorização", o capital
estrangeiro e o capital cafeeiro tomam suas formas .definitivas _
durante esse período.
~.a ~~~~Wt~~~ll.~~~~l:~ãfi~a~]~ ,A ~Y~O~~o-=-fl_~conoD1ia ~~~~eira,~ID..ge_:r:ªI.un.~Q
Pº~~E1
"Dez a trinta casas estrangeiras t&n entre suas mãos o destino ser considerados como um o6staculo ao desenvolvimento do ca-
pitalismo no Brasi[ .Bemao-coritiãiio; eleseslãõnã Base (lesSe
80
da prOdução agrícola paulista". escrevia Delgado de Carvalho em 1910.
Cf. ob. cit., p. 175.
81"08 bancos estrangeiros financiaram o negócio (a "valoriza&ão");
as empresas estrangeiras sobretudo, mas não exclusivamente, foram 38 O capital bancário passa de 3,23 bilhões de mil-rils, em 1913,
encarregadas da liquidação dos estoques". Cf. P. Monbeig,ob. cit., p. 99. a 8,11 bilhões, em 1919. Em 1921, ele atinge 11,3 bilhões de mil-réis,
S2 Leôncio Bashaum. História Sincera da República. 1889.1930. enquanto que após o recenceamento de 1920 o capital industrial era
São Paulo, Ed. Fulgor, 1968 (31/0 ed.) p. 295. de 3 bilhões. Cf. Leôncio Basbaum, ob. cit., pp.. 99 e 112.

68 69
.. -::.:...=:.:::.._.: .:.:_ .._...• _. __ '._..... _...• 'H" •
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..~-.~ .,--~--
... _.~._•...... ~-..._~-~~' __
. -'._--~'
--o

desenvolvimento. Mas a presença do capital estrangeiro e do @.2endência B..olítica;essas .relações constituem o~de
capital cafeeiro, quer dizer as formas específicas da dominação I!..artidad~ e~sã~ita1ista ~~~ car Uma teriã
imperialista no Brasil dessa época, ou ainda as relações específi-
~~-9...L~2.9!i~~!ª-~ e!~..con
J'!l'~~~~.I;1_~~.
càs das quais essas formas são a expressão, determinam contra. º~º.
~da-..cQ.J!!!L~~! _tc::rr~_. Ç)Cupada,..uma. _te~a ..q¥e.' ii~~
dições elas também específicas ao desenvolvimento do capitalis.
mo no Brasil.
.•.. _.~
pertencia
... .---.-.._.,_-....---..
~... a ninguém.
. .' Na medida em que as frontêiras do café desloca1ll-se para
o interior do país, a proporção das terras "devolutas". toma-se
4. A questão da terra e da abundância de terras maior. Então os homens do café ocupam, apropriam-se dessas
terras. Para fazer isso, era necessário estabelecer um título de
Aparentemente, em um estudo sobre o café a questão da ICOpriedãtie,cÕÍsã ffLcil ~ª-.Éli!i~sirêã.Né~~!r..'?'"'
propriedade da terra deveria ser examinada em primeiro lugar. ~e~êii:tê'""~i.-A~sim, de um dia p~ra outro, essas
Quando se pensa no café brasileiro, pensa-se imediatamente ria terras tornavam-se sua propnedade e eles podiam nelas esta-
terra e na propriedade da terra. Quando se fala em burguesia belecer o café. Como essas terras jamais haviam "pertencido"
cafeeira, fala-se de fazendeiros. Estes, quando defendiam seus a alguém, a lei estava do lado do proprietário. Tratava-se
interesses não diziam defender os interesses da lavoura? simplesmente de expulsar os ocupantes. ara isso, a burguesia
De fato, é mais correto expor essa questão após haver exa- ~eira emEre~a homens~_s no gatilho. Se a res!L!1_c1U
minado aquelas que mostram mais claramente o desenvolvimen~ era muito gran e, e!!. apelava para a milíCIaestaãuãIõií mesmõ
to do capital na economia cafeeira. Em. outros termos, a or- para o exército. -
dem de exposição deve corresponder à ordem real das relações Entre os ocupantes incômodos das terras desocupadas, ha-
de produção na economia cafeeira. Ela foi concebida dentro do via brasileiros de origem européia mais ou menos distante (al-
objetivo de' destacar o fato de ue O desenvolvimento das lan- guns já mestiçados com indígenas ou negros), que viviam fun-
ta ões de c.u' é domina el ca 1S el faz.' arte dairÍentalmente apoiados numa agricultura de auto-subsistência.
o desenvo vimento capita .!t!l. E finalmente, que as formas Havia também indígenas. Esses últimos estavam nessas terras
ãa propnec3ade Clã terra õeyem, elas também, explicar-se pelo . há 'séculos. Alguns deles, algumas tribos, ofereceram forte re-
desenvolvimento do capital. sistência aos novos conquIstadores e foi necessário mobilizar
Retomemos portanto o estudo da expansão cafeeÍIa a partir, tropas importantes e travar verdadeiras batalhas para que essas
agora, da propriedade da terra e, sobre a base do que jli foi terras se tomassem realmente disponíveis para as plantações
estudado, examinemos como a dominação das relações capita- de café. Já nessa.época, métodos mais civilizados - como a
listas apresentam-se concretamente nesse nível.. disseminação de doenças contagiosas - eram utilizados' para
As terras sobre as quais o café se estende são fundamen- tornar o local disponível para o capital. 1\4~ • \

talmente de dois tipos: 1 - as terras que já tinh~. um I!!Q- ~_café en~ no ~~nho te..rr8s~
IrietárioJno sentido i1J1@co do termo); 2 - ~~~~ eram ~riedade!2. OB-P!QJ?!ieUri9J._~s.~~Jgf~-!!õiíâin,em
~ tffilí~ "ASp!iõieírãS eram chama as pro- (~ra geral, duas soluções: mtegrar-se na expansão caleelra ou
priedã0e5. as
segundãS terras devolutas. Literalmente: Pt:o- vender ~as terrll~Todas as duas conõuziam ao mesmo re-
prledades e terras não oCupadas. Na verdade, as terras ditas Sültaão: a dominação do capital. Se eles participavam da ex-
devolutas não são obrigatoriamente não ocupadas ou não. apro- pansão cafeeÍIa, tornavam-se eles mesmos membros da burgue-
priadas, no sentido econômico do termo. Simplesmente seus sia cafeeira. Contratavam trabalhadores, compravam máqui-
ocupantes não possuem títulos de propriedade. Essa "con- nas, etc., mesmo se para isso eram obrigados a recorrer aos
fusão" jurídica não representa realmente uma confudo, nem é ricos comerciantes de Santos ou aos fazendeiros-comerciantes
um fruto do acaso; ~1~ ~_~ ..~_!!~Lr~laçõe~..2!9'prie.
~-------._-
dade estabelecidas pela-colOniZação~.-•..•...•
e _ consollaaaãs
---_ .....•. _ ..•..........• após a in-
-- '.
.. -- '- S4 A esse propósito, ver Monbeíg,ob. cit., pp. 112-116.

70 71

I
_____________ ..L_-..;. ~ __ ._.
r ~ ...•
- • ~

-
.- .. ----- -

que dispunham de um grande capitãl e que desempenhavam o


papel de intermediários, comprando os grãos, emprestando di- acesso fácil à propriedade da terra, o capital não encontraria
nheiro aos fazendeiros menos providos, etc. Essa era a única a força de trabalho que tanto precisava. O preço elevado da
.solução, determinada pela 16gica capitalista dominante no con- terra na região do café reflete a apropriação da terra pelo ca-
pital.
junto da economia do café.
Caso contrário eles vendiam as terras; cujos préços tinham Como se sabe, ~ dos f~t~res E~nsiqerados _çomo ~_
dado um salto fantástico com a chegada do café. A alta .ver- e
sáveis ~la eX'p'an~ãocafee!!a ~~Jjtu1do ~la ,abJ!D.dâ.!tEia de
tiginosa dos preços da terra reflete bastante bem o fato de ~J.r~: Em conseqüência do que vimos até aqui, devemos
4 que a expansão cafeeira se faz sob a dominação de relações considerar a abundância de terras como algo relativo. À abun-
l capitalistas. . dân,Eiade terras Pªl'ª fi ~tá .wQ2iada a jtijQ. ªlmpdância __,.,_',
"A febre das plantações de café tiveram por primeira
~aqueles que devem consti!Yir o mercadQ.de trabalho H

conseqüência a elevação do preço das terras... o crescimento


do preço das terras ultrapassa toda medida. .. Fora das man-
chas de terra roxa, férteis e cobiçadas, os preços baixavam;
permaneciam contudo dez vezes mais altos que em outra~
ca it~f;:~e:os ~€~1;:~~l~~:~~1~4rj~:~
~rt Cla no ue ,se 11 ~i.P!:ºmijitã~:.~.-1!!~~~_g~,p~~-. \.,
partes do Brasil meridionaL.. O preço de compra de um~ çao _e, portanto, a formaçao de um mercado g~J~11élJ4º, ...,Ji- .~... v'-.! ..•.....\;.
propriedade de 25 ha.• na. qual uma família podia viver, ultra-
õ
vieo .- :ÃTiiipãiiâiicla -desse'eleiiíêí:ífõ" õêvcresée
:na medida em \
passava os recursos da maioria dos colonos; eles deviam. re-
Dunciar a se tornar proprietários" 3li.
que o capitalismo se desenvolve no conjunto da economia e,
em particular, no campo. eliminando econômica e socialmente
£: portanto a expansão capitalista que está na base da a agricultura de subsistência e as formas primitivas de produção
especulação fundiária 86. Com efeito, a terra em si não tem agrícola destinada ao mercado, nas quais o produtor assegura
. v'--{) ~1?rL-ela g~!~-~r..~~.!!~-~~.fl@_~T'C!.~~.r~p.ffi$}J.!:1~Luiii ele mesmo a produção dos bens - ou de granc:le parte dos
melO gue permI~ a ~Qnaçao J!!.lU ..81S valía. 13m outros ter~ bens - necessários à sua subsistência. .
mos, a especulação fundiária não poaeser-explicada fora da Com o desenvolvimento do capitalismo, a terra perde a
dominação do capital que dá um valor comercial à terra. sua importância como meio de produção, e a separação entre
Também a dominação das relações. capitalistas, mais pre:. trabalhador e meios de produção depende cada vez menos da
cisamen.te as formas concretas das rel~s capitalistas no Bra- propriedade da terra. Nesse momento, a questão da disponi-
sil durante essa época, explica a estrutura da propriedade fun- bilidade de terras é secundária (ou mais precisamente, é su-
diária na região do café. Segundo Denis. pelo menos 90% bordinada à "disponibilidade" de capital) e. em geral, já foi
da superfície das fazendas eram ocupadas pelas propriedades "resolvida" pela ocupação do solo determinada pelo próprio
de mais de 60 ha S1. ~ o capital que subordina a pequena desenvolvimento do capitalismo.
propriedade da região do café, dirigindo a produção, colocan-
do-se ao nivel da produção mesma enquanto capital industrial, ~ nas fases ini~~»alis~~~~~ ..1?ª~_tA.a_.dis-
agrário e fundiário 88 •. Se a massa de imigrantes pudesse ter l?Qnibili~as em ge!!k. mas a JilspoD.J~lliºªº~__4~ <;\--
,rras em J!E11ie ar Pl!!:!Lº.ç-ªpit~.i.mplica .aHDª9. dispo.-
nibilidade .J?'ãrãõs-trabalhad.9l'~s:' ..Mas a questão da disponibi-
P. Dennis, ob. cit.• p. 161.
81S
é necessário lembrar que o movimento de conquista do solo
38 ". ••
taade. ãe terns-põsSüciiâi' ~egundo aspecto.
entre 1890 e 1900 foi, financeiramente falando, uma vasta especulação". Uma vez que suponhamos as condiÇões para a constitui-
P. Monbeig. ob. cit., p. 9S. .
a7 Ob. cit., p. 158. . ção e desenvolvimento do mercado de trabalho, a disponibilida-
38 Os grandes fazendeiros. 'isto é a. burguesia cafeeira, mais parti- de relativa de terras parece constituir um fator independente
cularmente a camada superior dessa burguesia, assim como os capita- capaz de explicar certas características do capital cafeeiro, !J
listas estrangeiros eram também "comerciantes de terras", para empregar seu rápido desenvolvimento de caráter extensivo, o fortalecI-

I
a expressão de Monbeig (Ob, clt., especialmente pp. 128--129). Em
outros termos. eles lucravam diretamente com a especulação fundiária. mento do capital ao nível comercial e o fraco desenvolvimento
do capital ao nível da produção. Esse tipo de desenvolvimen-
72
73

L_....;".,""",==========
'-'--'.2

to parece explicar-se pela abundância de terras, pela possibili-


dade de expandir a monocultura cafeeira com sucessivos avan- Inicialmente esse espaço (sobre o qual o capital desenvol~
ços da fronteira agrícola e com poucos investimentos direta- ve a prOdução capitalista) é reduzido. O capital "concentra"
mente produtivos. Nesse caso poderíamos pensar que a dis. as suas ativiqades ao nível de um espaço reduzido que serVe de
ponibilidade de terras, mesmo sendo apenas uma disponibilida- base física ao estabelecimento da nação. ~ nesse espaço que,
de relativa, seria em si mesma um elemento detenninante das em regra geral, se resolve o problema da disponibilidade da
formas de desenvolvimento do capital SII. terra, que é historicamente limitada por uma ocupação prévia
do solo sob o domínio _de outras relações sociais de produção
Não podemos negar a importância da terra como elemento de cuja desagregação - aliás - resulta o próprio capitalismo.
determinante das formas de desenvolvimento do capitalismo,
Na época da expansão cafeeira do Brasil, o capitalismo
em particular nos seus primeiros estágios. Viemos de afirmá-lo.
Entretanto, essa importância apresenta-se em geral como ma- desenvolve-se sobre outras bases. I!.'!:-l!.~£".le.i!.2 1l:4.ga~.tl .p.-rq-
duçªp . ()(lp{tal~sto: t.0mee QX limit~~' dqs territórios]laç.ipn.r;zi.s.
nifestação de determinadils relações sociais, em particular de
Donde a importância de destacar a relação entre disponibilidade
relações sociais pré-capitalistas, que constituem condições his- de terras e a extensão do território sobre o qual se desenvolve
tóricas para o desenvolvimento do capital. No que se reflire a prOdução capitalista. Mas esse elemento ainda não é sufi.
aos países capitalistas avançados da Europa, por exemplo, a ciente para resolver o nosso problema.
questão da terra apresenta-se através das formas de transição
da produção agrícola feudal para a capitalista, onde destaca-se Em segundo IUN, '!S.º.lJ!.titL!!~ .de .f:!l!I4~çQl1ºmiªJIY:!~-
dial -capitalista J)ermj!ILQU£. ..º_-C{IPUm... pfl.$.se.!! desenJ!Q1~er a
a chamada economia camponesa.
produ.f!!J~ê!.:ügã~ej.f!.~e'!Ê2.~e...E!'.l!l~(u.í!.ái(i-c.i.~WQes.Qrii.iii::
O que chama a atenção no caso brasileiro' é a aparente ra necessanas ao seu de.r.£!nvoll!.!~etgg. Em particular, o seu
ausência de determinantes sociais n~ .questão sobre a abun- desenvolvíiiieni-õ'-naõ-'âepenae maiS unicamente da divisão do
dância de terras. Mesmo depois de mostrarmos o caráter re. trabalho ao nível nacional, mas ainda da divisão internacional
lativo dessa abundância no que se refere aos trabalhadores, ela do trabalho. Podemos afirmar que O marco de referência da
ainda parece constituir, fundamentalmente, um determinante acumulação de -capital não está mais essencialmente DO desen-
puramente natural, físico, uma simples "questão de quantidade . volvimento do mercado interno, mas no desenvolvimento do
de terras. . mercado mundial. Com a seguin~e ressalva: como já vimos
anteriormente, o próprio desenvolvimento do mercado mundial
Examinemos então mais de. perto esse. problema. ':a ob- capitalista entra em nova fase,'com a constituição da economia
vio, :mas não inútil, lembrar que a quantidade de terras é fun- mundial, isto é, com o desenvolvimento da produção capitalista
ção da extensão do território que consideramos. Não é inútil em escala mundial. E o que nos interessa aqui não ..é ,o silI\-.
lembrar esse aspecto da questão porque ele nos' conduz direta. pIes desenvolvimento do mercado, por mais importante que
mente ao fato de que esse território é limitado socialmente; no seja, mas especificamente aE.I!ansão do espaço sobre o qual
caso, ele é o espaço sobre o qual s~ desenvolve o capital. se desenvolve a produção oapitiillslli-:------. _.---.- .. -.- ... -.
".'.'.'E~~~'-~~g~ndâ.' c~õdfçãó-~ .na verdade, a outra face da
89 Nole-se a importância desse fato, visto que muitos economistas primeira - é a principal no que se refere à abundância de ter-
procuram explicar os problemas do capitalismo nos países subdesenvol. ras. Ela nos mostra que é da transformação do capitalismo e
vidos através justamente da abundância dos "fatores tradicionais", como da constituição da economia mundial capitalista que resulta a
a terra e a mão-de-obra. Em relação à mão-de-obra, já vimos. que
ela constitui problema bem mais cõmplexo; vimos que a constituição questão da abundância de terras. :É o desenvolvimento interna-
de um mercado de trabalho supõe a transformação do trabalhador em cional do. capitalismo e a divisão intemacional.,do trabalho que .--L
trabalhador assalariado e não simplesmente a exis.tência de trabalha- "criam" as abundantes terras do Brasil e alhures, permitindo, ~
dores ou de mão-de-Obra em geral; vimos, em particular. as dificuldades por exemplo, a especialização de vastas regiões, antes' pratica-
dessa transformação em wn país como ó Brasil. onde o trabalho era
fundamentalmente um trabalho escravo. mente desocupadas, em determinadas monoculturas. Sem a di-
visão internacional do trabalho, o crescimento da produção de
74 75

_________ ~ ~L ._ _ ._
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.---'---.:.....--"--;.;...----". ,;;;;;;iIilô~••••..• )ÍI.•
-- .•••.•• -----.E...--- .•~-••• ~~;~;
-.-.•;•.•..••
,

café - ou de qualquer outro produto - nos níveis realizados


no Brasil implicaria um desenvolvimento do mercado interno tal
que a questão relativa à disponibilidade de terras seria certa-
mente eliminada. .
No limite. poderíamos ser tentados a afirmar que o capita-
lismo pode en~ão ocupar espaços completamente vazios, impor-
tando todos os meios de produção e toda a força de .trabalho
necessários. TàI affrmáção significa l~var a nossa tese ao limite IV. ORIGENS DA INDÚSTRIA
do absurdo. Na verdade, ela não pode ser deduzida de nossa
tese. dado que não afirmamos que o desenvolvimento do capi 8

talismo em escala mundial suprima a necessidade de condições


prévias ao nível de cada nação especificamente. Tal conclusão 1. O crescimento da indústria
implicaria numa concepção inteiramente abstrata da economia
mundial capitalista, fundada na ilusão do desaparecimento das Até o último quartel do Século XIX, os estabelecimentos'
economias nadon.ais, -quando, na verdade, a economia mundial industriais existentes no Brasil são pouco numerosos e o seu
é uma estrutura complexa formada pelas relações internacionais. ( conjunto inexpressivo. Pax:a Roberto Simonsen, o primeiro \ ~ ,,", ,\Q
l surto industrial ocorre na década de 1880 a 18901•
Afirmamos, entretanto, que o desenvolvimento da produção
capitalista ao nível internacional implica em que. ao nível na- Em 1885, registra-se em São Paulo o funcionamento de
cional, as relações entre, de um lado. a acumulação de capital e, 13 fábricas têxteis com 1.670 operários e 3 fábricas de cha~
de' outro; o aprofundamento da divisão do trabalho 'e o' cresci- péus com 315 operários. No. mesmo ano e no mesmo Estado
mento do mercado são profundamente transformadas. E são sabemos ainda da existência de 7 empresas metalúrgicas que
essas transformações - na verdade. modificação das formas de reunem cerca de SOOoperários. Em 1889. conta-se no .Brasil .
reprodução do capital. ditadaS pela constituição de uma' econo- 63.6 empresas industri"aisonde tra,\>alham54 mil operários. Em.
'. , - :
. mia mundial ~, que se manifestam através de uma acumulação 1901, entre as 91 mais importantes empresas industriais paulis-
relativamente rápida em relação ao crescimento do mercado in- tas, 33 empregam de 10 a 49 operários, 33 de 50 a 199, 22
terno ou outras "deformações" do gênero atribuídas ao subde~ de 200 a 499, duas outras ocupam 600 operários cada e uma
senvolvimento. empresa possui cerca de 800 operários 2.
Em conclusão, essaS formas de desenvolvimento do capital, Para o período que procuramos analisar aqui _. do úl-
onde a acumulação ap6ia-se sobretudo em um desenvolvimento timo quartel do Século :XIX à crise econômica de 1929 -,as
extensivo da produção ~. isto é, com pouco aprofundamento da principais informações estatístÍcas disponíveis são fornecidas
divisão do trabalho ao nível nacional -:- não podem ser atribuí- pela pesquisa realizada em 1907 pelo Centro Industrial do
das simplesmente à abundância de terras. visto que a própria
abundância de terras deve ser explicada por essas novas formas
1 Roberto C. Simonsen, Evolução Industrial do Brasil e outros
de acwnulação determinadas pelas transformações do capitalis- estudos, Cia. Editora Nacional e Editora da USP, São Paulo, 1973,
mo e a constituição da. economia mundial capitalista. Cf. P. 16. Nesse primeiro trabalho, Simollsen indica uma série de
dados sobre a indústria antes de 1880.
2 Os dados relativos a São Paulo são extraídos de Aziz Simão,
Sindicato e Estado, Dominus, EdiIO!lL São Paulo, 1966, pp. 21.23.
Aqueles relativos ao Brasil, do estudo "Evolução Industrial do Brasil",
de Roberto SimoDsen. ob. cit., Ainda sobre. a indústria no Brasil du-
rante o Século XIX, destaca-se o capítulo In do trabalho de J. M.
Martin, PrQcessus d' industria/isatíofl et développement énérgétique au
Brésil, Institut des Hautes Etudes de tAmérique Latine, Paris, 1966.

76
77

_ L.....
'~---~---~-----

Brasil 8 e pelo recenseamento organízado pelo governo federal lI. DISTRITO FEDERAL E SÃO PAULO. INDúSTRIA.
em }<.> de setembro de 19204• 1907, 1920 E 1929.

Os dados gerais - resumidos na Tabela. I - indicam


Número Força
,

uma progressão espetacular da indústria entre 1907 a 1920. Ano de


Capital Nflmero
(Contos) Motriz de
Entretanto, é necessário levar em consideração que a pesquisa Empresas (C. V.) Operários
do Centro Industrial do Brasil não é exaustiva. Os seus au- ~
tores estimam que o valor real da produção industrial brasi- Distrito Federal
leira em 1907 é de aproximadamente um milhão de contos de
réis, isto é, cerca de 35 % superior ao valor encontrado pela
pesquisa. 5 1907 662 167.120 22.279 34.850
1920 1.542 441.669 69.703 56.517
Se admitirmos, como sugere o pr6prio Centro Industrial
do Brasíl, que os pesquisadores deixaram de registrar princi- 1929 1.937 641. 661 (*) 93.525
palmente as pequenas empresas situadas em regiões mais afas-
tadas, 'podemos pensar que .a margem de erro é ainda maior São Paulo
quando consideramos o número de operários e sensivelmente '- ......
inferior quando consideramos os dados sobre capital e força 1907 326 127.702 1ª_)01 ' 24.186
motriz.- 1920 4.145 537.817 94.099 83.998
Consideremos então esses dados gerais como uma refe- 1929 6.923 1.101. 824 (*) 148.376
rência necess-ária, sem preocuparmo-nos entretanto em estimar
a taxa exata de crescimento da indústria durante o período. (*) As fontes não indicam ellse8 dados.

I. BRASIL. INDúSTRIA. 1907 E 1920 . Fontes: Le Brésil et ses rlchesses, vol. n,' tomo lI, p. 273; Recen-
seamento de 1920. vol. 11, tomo li, p. XXIX e vol. V,- p. XXXVI; Minis":,
tério da Agricultura. Indústria e Comércio, Brasil Atual, Rio de Janeiro;
1930; Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São
Número Número Paulo, Estatística Industrial do E$lado de São Paulo, São Paulo, 1930.
A.no Capl'tal Produção Força
de de As duaS últimas fontes são citadas por Boris Fausto. A Revolução de
empresas (Contos) (Contos) Motriz
Operários de 1930, Ed. Brasiliense, São Paulo, 1970, p. 23.

1907 3.258 653.555 731.292 109.284 149.018


1920 13.336 1.815.156 2.95!U76 310.424 275.512
Para analisar corretamente a importância da indústria
nascente no Brasil. é necessário relacioná-la com as transfor.
mações econômicas e sociais por que passa o pais e. em par-
Fontes: Le Brésil et :res richesses, vaI. 11, p. 373, e Recenseamento ticular, a região das grandes plantações de café. isto é, a re.
de 1920. VoI. V, pp. XXII e XXIII. gião formada fundamentalmente pelos atuais &tados do Rio
de Janeiro, Minas Gerais e, principalmente, o Estado de São
3 Centre Industrial du Brésil" Le Brésil, ses richesaes naturelles, Paulo. '
SeS industries, Paris, 1909, 3 vols. A partir de agora, essa obra sem
indicada simplesmente por Le Brésil el ses richesses. ~~tria _~~_d.~s~,ºvolvemu~~__cl~s.jgu~mente_~~ dif~
/
oi Ministério da Agricultura, da Indústria e do Comércio, Recen-
rentes re,giões-~ Br~sil; desôeõ~:çQ.~~~Q~ll!....1@:~a CE!!S.n-
seamento do Brasil, 19 de setembro de 1920, Rio de Janeiro, 1922-1929,
13 volumes. A partir de agora, essa obra será indicada simplesmente tI'ãN"e na reiiao ôo ÇAfé. Na região acima delliiiitada (que
por Recenseamento de 1920. iiiêrüí'o antigo Distrito Federal) concentram-se 61 % dos valor
11 Cf. Le Brisi! el ses richesses, vol. m. pp. IV-VU. da produção industrial em 1907 e 65% em 1920. :B sobre-

78 79-

I !
~ L

-_ ... - .- ... _.

tudo no antigo Distrito Federal (a cidade do Rio de Janeiro e


sua periferia) e no Estado de São Paulo que encontramos a
indústria Dascente brasileira. Essas Quas unidades da federa-
ção realizam 49% do valor da produção industrial em 1987 e
5'2% em 1920. Finalmente, é no Estado de São Paulo que
a. indústria cresce mais rapidamente: 17% do valor da produ-
ção em t 907 e 32% em 1920, contra 33 e 21 % respectiva- ,
I

mente,' no antigo Distrito Federal 8.


As informações relativas aos anos de 1907, 1920 e 1929,
apresentados na Tabela 11, indicam o vigoroso crescimento da
indústria em São Paulo e no antigo Distrito Federal. Aqui
também devemos fazer as ressalvas relativas à pesquisa de 1907,
acima explicitadas.
No centro das transformações econômicas por que passa
o Brasil durante esse peóodo estão a progressiva abolição do
trabalho escravo a partir da Lei Euzébio de Queiroz (1851)
e a rápida formação de um mercado de trabalho graças à. imi-
gração em massa a partir de 1880. Além de suas repercussões
cliretas sobre o desenvolvimento do comércio, a passagem, para ~
o trabalho assalariado é o índice. de .l?ovasformas de produção. -9

Desde o início a rodu o de c ' serve à a I ão de


~. ~. Mas, na ca a e 1 80 a 1890. as necessidades 's- .•
't""'", . .
.Az. _ toncamente determinadas pelo próprio desenvolvimento do C8-
pitalismo no Brasil e. pela sua iQSersão na economia mundial
capitalista em formação conduzem ao rompimento com as for-
2. O crescimento dtJ grande indústria
mas de acumulação no trabalho escravo, características da eco-
nomia colonial.
Ao colocarmos a análise do crescimento da indústria c,
:u..,..l.....--. Essas transformações não podem ser reduzidas à passagem ~m particular, dali relações entre a expansão cafeeira e. o ~s~
~)'~'\:;, ..oao trabalho assalariado, sob o risco de não entendermos a ptÓ- cimento da indústria no .quadro geral definido pelo desenvoM-
""'~$:.S"~ pria passage~ ao trabalho assalariado. O trabalho assalariado mento do capitalismo no Brasil, temos como primeira con-
;;~',.:.<:,;~- é o índice de transformações que incluem as estradas de ferro.
7
seqüência o abandono da divisão puramente técnica entre
.t:<'. . • ..-~ os bancos, o grande comércio de' exportação e importação e. agricultura e indústria. A predominância da agricultura não
inclusive, uma certa mecanização ao nível das operações de be- representa mais um critério absoluto para a dete~ão da ..
neficiamento da produção. .
.•midade de um peóodo histórico. A partir do último quartel
São essas tr:ansforma ões que fazem da economia cafeeira do século XIX, apesar da agricultura manter-se como a ativi.•
o centro de uma r 1 QC, aça. e ita baseadano tra- dade dominante, as transformações das relações de produção
determinam um novo período que, por suas características bá-
8 Le Brésil et sefJ rlehesses e Recenseamento de 1920. Cf. quadro siCllS,está muito mais ligado aos períodO#lposteriores, em par-
apresentado por Octávio Ianni, O colapso do populismo no Braait, Ed.. ticular à industrialização, do que aos períodos anteriores onde
Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1968, p. 34. a acumulação se apoiava no trabalho escravo.

80 81

. .~
, uTFif- L ;~
•• _~_._-.-.- o ~ ••• _ •• _~._ ", __ o •••••••••

I I
Esse tipo de análise possui uma outra conseqüência fun~ vimos, encontra-se a maioria do valor da produção industrial •....•..•.. ,,[\
damenta!, mais importante ainda porque refere-se diretamente brasileira na época. Retiramos do conjunto de empresas in- ,
à indústria. No seio da própria indústria, devemos fazer uma dustriais aquelas que empregam 100 ou mais operários. Den-
L\I .•••.•••...••.••••.•

diferença entre unidades de produção tais como o artesanato, tro desse grupo, fazemos a distinção entre as que utilizam 100
a manufatura e a fábrica. As diferenças entre essas unidades ou mais operários ou um capital igualou superior a 1.000
de produção são fundamentais para o desenvolvimento do ca- contos.
pitalismo.
o critério relativo ao número de operários perroite-nos
I ~.~~~B~~~i~~~:d:1~t~.~;~r~;~~P~~~.,~~
~ primeiras, o número de trabalhadores é tal que o proprietário
regrupar as manufaturas. Os estabelecimentos com ] 00 ou
mais operários podem seguramente ser classificados como ma-
nufaturas de tipo médio ou superior. . O critério relativo ao
i não se ocupa mais diretam~nte da produção e que a sua sub~ capital, permite-nos destacar as fábricas. De acordo com a
. I sistência assim como a expansão da empresa não dependem
taxa média de câmbio do ano de 1907, 1.000 contos de réis
mais diretamente do seu trabalho. Elas são todas' as duas em- correspondem a cerca. de 64 mil libras. Os estabelecimentos
i presas capitalistas. Por sua vez, a fábrica distingue~se da ma- que empregam um capital igual ou superior a 1.000 contos de.-
l nufatura pela importância do capital que emprega; a impor-
I tância do capital manifesta ao nível dó valor uma outra
vem certamente ser classificados como representantes da gran-
de indús-tria. De agora em diante, com o objetivo de tOnlar
i organização técnica do trabalho, caracterizada fundamentalmen- menos pesada a redação desse traballio, chamaremos essas em-
! te pela mecanizaçao. :s na fábrica que a separação. entre o presas, com 100 ou mais operários ou capital igualou superior
I trabalhador e os meios de produção - chave do sistema ca- a 1.000 contos de "grandes empresas".
l pitalista - torna-se uma. realidade técnica.
Os. resultados para o antigo Distrito Federal e para o Es-
: 'Assim vemos que .as diferenças entre esses tipos de uni- tado de São Paulo são apresentados, respectivamente, nas ta-
j... dades de produção estão diretamente relacionadas com as
formas de produção dominantes. A fábrica é' a unidade de
belas IH e IV. A conclusão mais importante diz respeito à
importância relativa das grandes empresas. O conjunto daf'
I produção tipicamente capitalista. Quando falamos em indus- empresas com 100 ou mais 'operários regrupa, de acordo com
,1 trialização, pensamos na passagem para formas de produção Os dados do Centro Industrial do Brasil, mais de 85 % do ca-
I baseadas na fábrica, na mecanização, pensamos no crescimento
pital, em São Paulo, e cerca de 70%, no antigo Distrito Fe-
I da chamada grande indústria. E, nessa passâgem, incluimos
I a manufatura como uma forma de transição historicamente de-
I terminada. 1
deral. Ao nível do número de operários, essa importância pa-
rece também extremamente acentuada. As grandes empx:esas
regrupam 80% do nÚmero total de operários, em SãD Paulo.
Em c~nseqUência, chegamos à conclusão de que a prin- e 57%, no antigo Distrito Federal. . ,
cipal deficiência dos dados até ,aqui apresentados sobre o cres-
cimento da indústria está no nível de agregação. Nesses dados, Devemos lembrar que a pesquisa do Centro Industrial do
sob o título geral de "indústria", encontramos lado a lado arte- Brasil não registra todos os estabelecimentos industriais-exis-
sanato, manufatura e grande. indústria. Para que possamos tentes na 'époCa; nela faltam sobretudo os pequenos estabeleci-
mentos. Entretanto, os dados apresentados nas Tabelas III. e
saber em que nível de desenvolvimento encontra-se o capita-
IV são tais que, mesmo se considerar que o valor real da pro-
lismo no Brasil durante o período em questão - em particular.
dução industrial do Estado de São Paulo (por exemplo) é
,para que possamos aprofundar a análise das relações entre o
simplesmente o dobro do valor da produção das empresas te-
café e indústria - é necessário desagregar esses dados, tentar
separar os três tipos de unidades de produção. gistradas na pesquisa do Centro Industrial e que todas as em-
presas não registradas possuem menos de 100 operários, tert>-
Com esse objetivo reorganizamos os dados relativos ao mos ainda uma elevada importância relativa para as empresas '
antigo Distrito Federal e ao Estado de São Paulo, onde como com 100 ou mais operários.

82 83

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i:o..l:I.O

Menos de 1.000
contos e 100 ou
mais operm06 .. l 11.852:000 6.783
..
25""'''''''1 296:300 170 ...., .••• 1 5,97 6/)7 19,25 11,60
..

j.
.

1.000 contos ou
mais e 100 ou
maisoperm06
24 10.•••••,•.•• 13.'" 17.430:392 4.341:627 553 ,.n.",,1 3,58 61,30 37,66 34,58

1.000 COTItos ou
mais e menos
4.354:786 140 loíZ.856:000 2.177:393 70 6.428:000 0,30 2,56 5,74
de 100 operá. , I 0,40
rios

;Ub-total
I 661120.40S:81611~1961 Ú6.264:034 11.824:3311 306 [1.761:5761 9,851~ , :~311 51,92

I
. "/
rotal da Indú&-I
tria do Estado 670 116~.989:04S 13S.24~ 1223.928:5~21 2S3:7UI 5])1 334:2211 100,00 1100,00 1100,00 100,00

(") Não são consideradas seis emprCllas que forneceram informaçõcs incompletas,
Fonte: lA S,hij et $U 1'Ü:lU£fII1. .vol. m.

40

IV. SÃ() PAULO. 1901

il
;
i
! TIalares Absolutos
-\ MéJias
• Números RelalivoJ (%.)
Empresas segun- ....
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mais operários 16.212,'00 8.422 317:035 196 653:773 13,19 12~70 34,82 23,81
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ntlUS e menos
de 100 operá-
rios
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1.000 contos ou
mals e menos de
100 operários
2 4.000:000 108 . 2.660:000 2.000:000 54 j"330'000
MIl 3,13 0,45 2,15

.Sub-total

Total da Indús-I
I 72 .1109.776: 130 1.19:141 91.419:71011.524:6681 210 /1.269:718 22.081 ~ .. 80,271 77,42

.-
tria do Estado , 3261121.702:191 124:1~~ 1118.087:0911 391:7251 74
.. 362:23°1 100,00 '100,00 1100•00 I. 100,00 .'
Fonte: Le Brúil et JIeJl ~lUUW6, voi
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Mais interessante ainda são os resultados relativos às em. mODStrama necessidade de reestudar as relações entre café e
presas com 100 ou mais operários e um capital igual ou 5U. indústria.
perior a 1.000 contos de réis. Elas regrupam praticamente
todo' o capital e a maior parte dos operários do conjunto das Passemos ao Re~enseamento de 1920. Infelizmente, ele
empresas com 100 ou mais operários. Dadas as considerações não permite o mesmo tipo de análise, pelo menos ao nível em
que ela foi realizada para os dados do Centro Industrial. Po-'
feitas no parágrafo anterior, devemos concluir pela elevada im-
portância relativa, desse pequeno 'grupo de empresas para o demos, entretanto. estudar para o antigo Distrito Federal a
conjunto da produção Jndustrial. distribuição do capital e dos operários empregados. Os resul-
tados desse estudo são apresentados na Tabela V. Para o Es~
Vale a pena sublinhar que, se estimarmos como elevada tado de São Paulo, devemos limitar-nos ao estudo da distribui-
a margem de erro da pesquisa de 1907 e considerarmos que ção dos operários, cujos resultados são apresentados na Tabela
todas as empresas não registradas p0S5uem menos de 100 ope- VI. As conclusões principais desse estudo são a confirmação
rários e capital inferior a 1.000 contos, diminuímos as porcen- da importância relativa das empresas com 100 ou mais ope-
tagens .relativas ao capital e ao número de operários empre- rários e a constatação do rápido crescimento dessas grandes
gados nas grandes empresas, mas diminuímos também, e numa empresas entre 1907 a 1920.'
proporção certamente bastante superior, a relação entre o nú-
mero das grandes empresas e o número total de empresas in- No que se refere à importância relativa das empresas com
dustriais. Em conseqüência, teremos uma participaçã<1 elevada 100 ou mais operários, verificamos que, no antigo Distrito Fe-
ao nível do capital e do número de operários para um gmpó deral, elas empregam 73% do capital e 63% do número total
extremamente reduzido de empresas. de operários. Em São Paulo, nelas encontramos 65% dos
operários. Levando em conta as correções já sugeridas dos
No que diz respeito aos números absolutos, podemos, para dados de 1907, devemos concluir que a importância relativa
os nossos fins,. ignorar as margen.s de erro da pesquisa do Cen- das empresas industriais com 100 ou mais operários acentua-se
i': tro Industrial, e dizer que pelo menos 39 mil operários tra- entre 1907 e 1920 •. Fato que' se destaca quando verificamos
1.,
, balham nas grandes empresas; sendo que essas empresas pos- . que mais de 20 mil operários, no antigo Distrito Federal, e f
Sllem um capital de aproximadamente 230 mil contos. PodeIl)os mais de 30. mil, no Estado de São Paulo, trabalham: em esta-.
j: ainda destacar que mais de 24 mil operários trabalham em
I' belecimentos industriais que empregam 500 ou mais operários.
empresas com 100 ou. mais operários e um capital igual ou
l~!
Afirma-se assim a nossa tese de que são essas empresas - e
I'
I'
superior a 1.000 contos; sendo que nesse pequeno grupo de não as pequenas empresas dispersas pelo país - que melhor
I!.
empresas concentra-se um capital de aproximadamente 200 mil caracterizam ~ estmtura industrial brasileira durante o p,erí~o
li
contos de réis. Em São Paulo, mais de 11 mil operários tra-
I~:!'
estudado nesse trabalho.. ., ~.
balham em empresas que empregam, em média, cerca de 400
op~rárlos e mais. de 3 mil contos de capital. No ex-Distrito Outra conclusão importante que devemos tirar desse es-

Ir Federal, mais de 13 mil operários concentram-se em empresas


que empregam, em média, 550 operários e cerca de 4 mil
tudo refere-se ao crescimento da indústria. Se mantemos a
nossa hip6tese sobre o cadter incompleto da pesquisa de 1:907.
isto é. se consideramos que as empresas não registradas 'pelo' ~
.(:ontos de capital. ,.
Esses resultados parecem-nos fundamentais, tendo em vis- Centro Industrial, são praticamente todas pequenas empresas, "\.
ta, a força da, tese segundo a qual, durante o penodo da he- devemos concluir que o erro ao nível das empresas de 100 ou
, gemonia cafeeira, a indúsuia caracteriza-se por pequenas em- mais operários é praticamente irrelevante. Ao nível dessas
presas voltadas para reduzidos mercados locais. Considerada empresas podemos então comparar com ..relativa segurança os
a importância relativa do antigo Distrito Federal e do Estado dados de 1907 e 1920. .
de São Paulo para a produção industrial brasileira, esses dados Essa comparação mostra que no Estado de São Paulo, o
representam uma revisão dessa tese. Em si mesmos. eles de- número de empresas com 100 ou mais operários passa de 70

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500 ou mais . 32 30.588 0,8 31 956
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19.414 a 54.123. No antigo Distrito Federal, o crescimento é
. também. significativo: 99 empresas em 1920, contra 64 em
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adotamos a evolução do número de operários como índice do
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as chamadas grandes empresas um crescimento semelhante ao
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£videntemente, não pretendemos negar agora o caráte.; in-
Z ~ comple-todas estatísticas de 1907 que não cansamos de~jIf.
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Nem diremos que a taxa. 'de Crescimento do. conjunto da in-
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Q crescimento das empresas com 100 ou mais operários é....pro-
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I vavelmente tão espetacular quanto se pensava ser o crescbnen-.
to do conjunto da. produção industrial; e que são essas "mpre-- '

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= 5 i ~ Para avaliar as implicações do caráter não exaustivo da
De .8...• 8 8 pesquisa do Centro Industrial do Brasil, podemos corrigir os
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lf dados referentes à indústria a partir de uma série de hipóteses
baseadas nas considerações dos próprios autores sobre. a sua
. margem de erro e .todas constr'uídas com a preocupação de

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acentuar aqueles elementos que poderiam contradizer a nossa ~ ~trito Federal e de 50% no Estado de São Paulo (sempre em
tese sobre a importância relativa das empresas industriais com
)' relação ao valor da produção), encontramos que esse grupo
100 ou mais operários ou capital igualou superior a 1.000 ,de empresas passa a representar, nO antigo Distrito Federal,
contos. ~ ! apenas 3,6% do número total de empresas, mas nelas encon-
1. ~Supomos que, no antigo Distrito Federal,. o valor da i tramos 61,3% do capital, 37,7% dos operários e 34,6% do
produção é 35 % superior ao registrado pelo. Centro. Para o I valor da produção. Para o Estado de São Paulo, aplicadas as
antigo Distrito Federal, essà estimativa da margem de erro é \ hipóteses de correção, esse grupo passa a representar 3% do
bastante elevada dado que, ela coincide com a margem de erro ~número de empresas, 53,5% do capital, 31,2% dos operários
estimada pelo Centro para todo o Brasil e que as informações e 34,2 % do valor de produção.
sobre o antigo Distrito Federal são certamente as melhores de Pensamos então poder afirmar que os dados do Centro
toda a pesquisa. Industrial do Brasil são conclusivos no que se refere a impor~
\
2. Consideramos que todas as empresas não registradas tância das empresas com 100 ou mais operários e 1.000 ou " .". ~
pelo Centro Industrial, isto é, as empresas responsáveis peto mais contos de capital. E que ,são essas empresas, e não as '"I'
acréscimo de 35% no valor da pr'Üdução, são todas empresas pequenas empresas de tipo artesanal ou pequenas manufaturas, I

com menos de 100 operários e menos de 1.000 contos de ca. dispersas por todo o país e destinadas a atender um mercado
pital. local, que caracterizam a indústria nascente no Btasil.
3. Supomos ainda que, ao nível do capital e do número
de operários, essas empresas não registradas possuem as ca-
racterísticas médias das empresas registradas com menos de 100 'lV Origens da burguesia industrial
operários e menos de 1.000 contos de capital. O que também
implica em superestimar, nesse nível, a importância das em~ Ante'3 de, passarmos à análise propriamente dita das rela-
,li, presas não registradas. ções entre café e indústria, retomemos alguns resultados das
pesquisas sobre as origem da burguesia industrial no Brasil
...
I Os cálculos nos indicam que, feitas essas correções, as
nossas "grandes empresas" regrupariam ainda no antigo Dis-
que, associados às conclusões acima expostas ganham uma nov~
dimensão e preparam adequadamente o terreno para o apro-
li'!: trito Federal, 58,4% do~capital, 43,7% do número de operá- ~ fundamento desse trabalho.
i
rios e 38,5% do valor da produção. Ao mesmo tempo, o
~.
i. número de "grandes empresas" sobre o número total de em- Na re8Í:ão~._~~ 2:'~a.BraJid.~"p~~. s~E!~~_~~~~!9 ~~
~J presas, cai de 9,9% para 5,2%. 1.!.4~o d"~burgu~~tª".-!Qf~tri9J.!!.~~c~~te
_"~~co.~tr~~
a~ su~s'l.oª- ~\:,:'-
I; . Ao fazermos os mesmos cálculos para o Estado de São
~j.':"'eriiigrnçj~~j,;l. Não seu.trata de um fFnôm~no
passageiro. A burguesia brasileira, em ppticllJar a burguesia
! Pauto, aumentando a margem de erro ao nível do valor da
produção para a elevada ~percentagem de 50%, verificamos que
industrial pa~~~~~stá ~~~~ _~_o$-prº~f.!1.nçlªmentema~<1ª-p'º-r
~ssaori8em: a imigração iniciada no final do ~çCll1oXIX,_ Uma
as "grandes empresas" passam a representar apenas 8,1 % do pesqwsãêeceõieieãrriaãB"~por BresSerPereira mostra que ;cerca
.: "
: i
número total de empresas, contra 22,1% de acordo com os de 84% dos empresários ~de São Paulo eram estrang<$'os, fi-'~~
,
dados do Centro. Esse ~pequeno ~número de "grandes~ empre- lh!ls ou netos de estrangeiros.1• Em .1920, no antigo Distrito
! sas" controlada ainda 65,6% do capital, 55,7% dos operários
I e 51,6% do valor da produção.
'T O grupo de "empresários" é constitufdo, segundo ~Bresser Pereira.
\ Notemos, finalmente, que esses cálculos reafirmam tam- por aqueles dirigentes industriais que não são meros "administradores",
f r mas participam ativamente na criação e no desenvolvimento das em-
! bém a importância decisiva das empresas que empregam ao
presas. Üli grupos estrangeiros mais imponantes são os italianos
mesmo tempo 100 ou mais operários e 1.000 ou mais contos
I.,
I
(34,8%), 08 alemães (12,8%) e os portugueses (11,7%). Cf_ Luiz
de capital. Na hipótese de um erro de 35% no antigo Ois- Carlos Bresser Pereira, "Origens étnicas do empresariado paulista",

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Federal, 595 das 765 empresas industriais individuais recen~ Ou como. Marinh
seadas são. prapriedade de pessoas de nacionatidades estran- "As transformaç&s que se operam na estrutura econ6-
. geiras s. mica durante esse' período. traduziram-se socialmente nO nasci-
mento de uma nova classe média e um novo proletariado; OS
Esse fato fai bastante destacada pelos próprios industriais dois passam a fazer pressão sobre os velhos grupos dominantes
.i que desse modo. se confundem com a massa de imigrantes - para abter um lugar na sociedade poUlica" 11.
!
canstituÍda par trabalhadares imigrantes - e passam a se can-
siderar como verdadeiros self-made men: chegadas ao. Brasil A idéia de uma burguesia industrial de origem modeSta
sem nada au quase nada, canstituíram fartunas graças a um e trabalhado.ra aparece inclusive no clássico trabalho. de Caio.
trabalha árdua e paciente 9. Prado. sobre a história ecanômica brasileira 12:
O imigrante despro.vida de recursas e a pequena empresa "Analisando..seo tipo dos industriais brasileiros, observa-se
são as elementas centrais das teses sobre as características da que boa parte deles se constituiu de indivíduos de origem mO-
desta que, estabelecendo-se com empreendimentos a principio
burguesia industrial nascente no. Brasil. A partir desses ele- insignificantes, conseguiram graças aos grandes lucros dos mO-
mentos caracteriza-se a burguesia industrial nascente como. uma mentos de prosperidade e um padrão de vida recalcado para
camada da pequena burguesia urbana e co.mete-se sérios equí- um m{nimo essencial à subsistência, ir acumulando os fundos
necessários para ampliarem suas empresas. Bste será O' caso,
Vo.cosna análise de .suas contradições com a burguesia cafeeira em particular, de imigrantes estrangeiros, colocados em situa-
e as aligarquias do.minantes em geral. ção social que lhes permitia tal l."egimede vida'. Efetivamente,
a maior parte da indústria brasileira encontrou-se 1080 nas
-Essas teses aparecem nos autares mais diverso.s, co.mo' I mãos de adventícios de recente data ou seus sucessores imedia-
Santiago Dantas: i. tos - os Matarauo, Crespi, Jaife" Pereira Ignácio etc. E 8e
i formou assim por pequenos e sucessivos concursos de econo-
mias duramente reunidas" 18,
"'Imigrantes estraugeU-os ou comerciantes que' começam
com pequenos estabelecimentos e os 'ampliam reaplicando lu-
cros produzidos pelo pr6prio, negócio, com eles se inicia uma Em seu estudo sobre a fo.rmação. da indústria. em São
classe que contrapõe sua. mentalidade pequeno-burguesa .,. à-. Paulo, Warren Dean dá uma co.ntribuiçãa decisiva. para a de-(
li mentalidade feudalista, própria da grande classe agrária" 10. monstração. do. caráter errôneo dessas teses: as imiwmtes que'
li ~ tarnam industrtais .!1.!o....se~~fundem com-a massa de loP-
I Revista de Administraçlio de Empresas, junho de 1'964. Ver também
~nt~. Dean as deno.mina "burgueses imigrantes", ressaltando
sobre esse ponto, em francês, Heinrich Rattner, "L'espace et la diffu- desse modo aquilo que os distingue da massa de imigrantes,
sion de l'iDnovation. Lca élites industrialisante3 en Amérlque Latine", constituída par trabalhadores. Nas co.nclusões de sua pesquisa
~ Revúe Tiers Monde, outubro-dezembro de' 1972. biográfica sobre os industriais ,brasileiros lemos: ~ .•.
. 8 No antigo Distrito Federal, os portugueses dominavam larga-
ili:1 mente: 386 sobre os 59S proprietários estran~iros. Cf. Recenseamen- <l()sdados biográficos que se possuem revelam. que quase
todos, em suas pátrias, bavilim morado em cid.ades,perteDciam .
to de 1920. vaI. n, ti)mo n.. Trata-st aqui, çomo no Estado de São
,.,
Paulo, de dados sobre proprietários estrangeiros e não. sobre empresas ..•.

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estrangeiras.
I! 11 Rui Mauro Marini, "Contradições e conflitos DO Br8sii coa"'i.
I!.1 9 Matarauo, cujo nome' tornou-se sinÔnimo de' indúStria no Brasil, tempor!neo". Perspectivas da situação polftico econlJ1nJco brasileira, ed. ".\.
1
foi um dos principais divulgadores dessas idéillll. Seu pensamento 6 mimeografada. O art. foi publicado tam:bém em Foro InternaclollGt, .
analisado no capítulo, consagrado à ideologia da burguesia industrial abril-junho de 1965. .
brasileira por José de Souza Martins, Emprestirio e empresa na biogra.- 12 Caio Prado 1unior, História econômica do Brasil. Editora Bra~
'I!
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fia do COMe Matarazz.o, 'UFRJ, Instituto de Ciências Sociais, 1967. siliense, São Paulo, 1974 (174 ed.).
:I 10 Santiago Dantas, Dois momentos de Rui Barbosa, Rio de Janei- 1aCf. p. 265. Em seguida, Caio Prado liga essa tese sobre as
origens da burguesia industrial à existência (que ele sugere ser predo-
ro, 1949, cil. por Nelson Werneck Sodré. Formação histdrica do Brasil,
Ed. Brasilicnse, São Paulo, 1963 (3 ed.), p. 336. Werneck. S0dr6 ap6ía minante) de um grande número de pequenos estabelecimentos disper-
.. / a tese de Santiãgo Dantas. sos pelo país.

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a famílias da classe média e possuíam instrução técnica ou,


pelo menos, certa experiência no comércio ou na manufatura. mo no momento de sua chegada ao Brasil, porque a formação
Muitos chegaram com alguma forma de capital; economias da burguesia industrial brasileira s6 pode ser corretamente ex-
de algum negócio realizado na Europa, um estoque de mer- plicada pela dinâmica interna do próprio desenvolvimento do
cadorias, ou a intenção de instalar uma filial da sua firma. capitalismo no Brasil 111, .
Outros haviam sido contratados para trabalhar em empresas
de propriedade de fazendeiros, à semelhança dos colonos e h~~.~.a ~.!gY~i~ ind_~~tri~lnascente, a base de .apoio para
operários têxteis, mas como técnicos ou administradores ...
em geral os burgueses imigrantes chegavam a São Paulo com ~: .Q....i.PJcio_.ll£~n:t.1!Jaçã_õ J:lãQ._~a _p"~u~a .empresa..Jndustríal,
recursos que os colocavam muito à frente dos demais e pra- ~; ma~ o co~~r~.()~,e~ra!~~_~~r 2 gr13~~~_. ~m~!~iC)_~iQ~gt~o
ticamente estabeleceram uma estrutura de classe pré-fabri. ªl:IYldMlILde ....exportaça!LiLUnpQl:tação. Do mesmo
. ~~ª-:t.!;;l_
cada" 14,
modo que na exportação, a importação é controlada em parte
por empresas estrangeiras. Graças às suas origens sociais, o
A oposição entre as teses de Warren Dean e as que apre- burguês imigrante encontra facilmente um lugar no grande co"
sentamos anteriormente pode ser subestimada se consideramos mércio. Ele torna-se representante de firmas. e marcas estran-
de modo parcial ,a importância. dada pelo próprio Dean às geiras e se encarrega da distribuição de produtos importados
drigens da burguesia industrial nas classes médias da Europa. pelo interior do país.
O elemento fundamental consiste.~m que os primeiros. autores
(como Santiago e MarinO consideram .!!._burguesia industrial - r, Nessa época o comércio interno é em grande parte con-
!!ascente como uma fr~,!_das_~~~~s médias brasilei~~s.-Não tro1ado pelos importadores. Dada li. importância das importa-
se trata de discutir aqui se esses imiifãiites devemser classi- ções em relação ao consumo total, as casas de importação eo-
ficados como elementos das classes médias brasileiras no mo- --6 carregam-se não somente de comprar mercadorias estrangciras,
mento da sua chegada. mas também de distribui-las no mercado brasileiro. De modo
.que importação e grande comércio estão intimamente ligados.
Como se sabe, a importância da inclusão da burguesia in~ E a burguesia imigrante acumula também no comércio com. as ~l
dustrial nascente no scio das classes médias reside nas conse- I regiões rurais 16.
qüências ao nível da análise da posição da burguesia industrial
em. relação à burguesia cafeeira e' ao capital estrange4'o du~ A sit~ação privilegiada do importador durante esse pe-{
rante a Primeira República e, em particular, na Revolução dado implica particularmente a possibilidade de dispor de ca-
de 1930. pitais relativamente importantes, seja aplicando lucros de seus
próprios negócios, seja recorrendo ao crédito dos bancos es-
Às 'origens do grupo social que forma o núcleo d~ bur-
trangeiros com os quais ele mantém relações comer~i~ n.
guesia industrial nascente é, para o nosso estudo, uma questão
subórdÍDada.. Isto não significa negar a sua importância. Pre- . Graças ao controle do r e c ital comercial, o im oI1!iºp!
tendemos simplesmente afirmar que li nossa que:stão central . e~á muitas vezes na orisem das e~sas .in: y,stnais que s~
refere-se às origens da burguesia industrial. . As origens do constituem a parti? dos anos 88õ:"" uitas vezes, ele agede
grupo de imigrantes definido por "burgueses iniigrantes" só mo o a assumI[ o contro e de empresas relativamente peql},enas
nos interessa na medida em que contribuem para a nossa ques~ I que, para crescer, apelam para as suas disponibilidades em
ca-
tão central e esclarecemo modo de inserção desse grupo na pital. .
I
sOCiedade brasileira .. Não podemos colocar em primeiro plano
a situação social desse grupo em seus países de origem ou mes- lõ Agradecemos aqui a Luis Carlos Bresser Pereira, que nos indi-
cou a necessidade dessas observ~ões.
16 Sobre esse ponto ver também Fernando Henrique Cardoso, "Des
14 Warren Dean, A industrialitação de São Paulo. Difusão Euro- élites: les entreprenurs d'Amérique Latine", Soeioiog;e du Travail,
péia. do Livro - Editora da UDiversidade de São Paulo, São Paulo, 119 3'. 1967. Em particular, p. 263: ;.
1971. p. 59. José de -Souza Martins chega. às mesmas conclusões no
seu estudo sobre o Conde Matarazro. Cf. ob. cito 171ngleses forneceram os créditos necessários à instalação das fá-
bricas de Matarazzo. .Cf. Souza. Martins, oh. cit., PP. 78-79.

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Dean mostra como o crescimento da demanda conduz o ) A.questão essencial para. o entendimento .da indústria nas- • ~~
~"""\ 1. inmortador a' realiz¥ no próprio Brasil um certo número de j cent~ ~eside na posição dominante do.\c.Qm~rCiO\ na economia ...ã...; ,
~.",. ; ~es}ndustJ.iais 18. Para certas mercadorias, como a cer- brasileua da época; em particular, ela resIêlêlíãS formas ~pe- ~
~
veja por exemPlO~ o transporte do produto acabado torna:-se 'cíficas da dominação do comércio, que r~ultani da .hegemonia' ~.à..
pouco rentável. . Outras, como as massas alimentícias, correm do capital cafeeiro e da subordinação da economia brasileira à ~~ .......••
o risco de sofrer deterioração durante a viagem através do \ economia mundial.
Atlântico. A partir de çertos limites, a arma~enagem de de.
terminados utensílios é pouco rentável. Em conseqüência, com ~bJ!W~~~~_,im~1!t~._ ~m:iq~~ç~~osno.colIl~rçi() cons--
'0 próprio desenvolvimento do mercado uma série de empresas
tituem então Q..E..úc!~~~~!,~r&1:!es:~JRd1!ªtr.ia!_E~~~~~.Ele-
são criadas como se constituíssem verdadeiros apêndices da im- ~os ~ ~~..-E!lgeE.! ~~glM~_.~j~º~._a._ç9D.sti~lJ_J3,bur~,
~esia -:ãus~ n~9.en~ __,p,Q.,J3r3;~.i1.~lg~ms mem~~.Jla
portação; elas são, em geral, controladas por importadores. Te-
mos então que ç,ntre 6S firmas ,de importação existentes no ~ª~_
grande_ urguesla-cafeeira interessam-se desde essa época pefã
b. "Pfª-ao;-üm <los' piônéiros da expansao do cMé
.-
ano de 1910, ,37 ~lo menõS tinham ca£.itBâsaQlicados na in- ~~~~~.!ªmPI~. t!1!!:9.~s:p.i.(j!1eiros -c!fi j,riqpstria bnlsl- ,
dústria 20. -
leira. Por outro lado, o estabelécimento -.de laçOs familiares .-<;_: ...
.Em resumo, ode arte dos mais im Q es r r e- entre a burguesia industrial nascente e a grande burguesia ca- .
) es da bur esia industrial cente m articular da bur- feeira facilitou uma certa fusão de capitais.
.o--~G'v', guesia industpal e!lIilista. a 1!.~0 ª-a J2..urgue~- Note-se, finalmente. que durante o ~ríodo analisado nesse
! . , dustrlaI brasileim, ch~ ao Brasil como_i.mim~.J!9JiDal do gabaJho, os investimentos diretos de capitã! estrangeiro na in-
o XIX ou início do SécUlo XX e trabalha como im Qr- dÍlstda são relativamente pouco importantes. O capital es-
tador. atarazzo começa como importador de leos alimen- trangeiro é investido principalmente em títulos do Tesouro e
tares, farinha e arroz. Os irmãos lafet, Crespi, Diederichsen outros papéis do Estado. Esses investimentos somavam cerca
também começam no setor de importação. Roberto Simonsen de 50% do total de investimentos estrangeiros.
- um dos mais 'importantes líderes da indústri~ brasileira já Os outros terrenos preferidos pêlo capital estrangeiro na t l. .
na década de 1920,- foi também importador .. época são as estradas de ferro, os serviços públicos, como a \
Cabe aqui voltar ao que dissemos acima sobre a deter- eletricidade e o gás, os bancos e as companhias de seguro :n ,!
minação da dinâmica interna do capitalismo no Brasil e o ca-
---fi ráter subordinado da questão relativa às origens sociais ,?U à
.situação inicial dos burgueses imigrantes. Empregando 05 ter~ 4. Aspectos contraditórios das relações café-indústria
~~ mos de Dean podemOs dizer que mat'.. indús' c . Y
(l ~ e não a classe média.európéiá ...--- .. A indústria nascente, em' particular a indústria .de São Ilr
Paulo, encontra a força de traballio necessária ao seu desen-
volvimento no mercado de trabalho constituído pela imigração ir
18 Cf. ob. clt., p. 26. 'II.:
em massa provocada pela expansão cafeeira e organizada pela .~

19 Muito rapidamente a cerveja passou a ser produzida inteira"


mente DOBrasil A Brahm.a, da cidade do Rio de Janeiro (antigo Di,.. grande burguesia cafeeira através do Estado que ela controla
trilo Federal), e a Antártica. da cidade de São Paulo, estão entre as diretamente.
mais importantes empresas resistradas pela pesquisa do Centro Indus-
trial do Brasil, em 1907. A Brahma possuía um capital próprio de {i
5.700 contos tk réu, 700 cavaioa.vaPOre empregava 700 operários. A Cf., em particular, James F. Rippy, British lnvestmlnts in Latin
21
Antártica, um capital de 10.000 contos, 600 C.V. e 362. operários. Cf. Âmerica, Univresity of Minncsota PreSll.Minneapolis, 1950; Irvrog Stone,
Le Brésil et se~ nchesses, voI. DI, PP. 27 e 118. A Antártica era pro.
"La distribuizione geografica degli investimenti inglesi nell'America La.
priedade de uma cas'a de importação alemã. tina .(1825-1913)", Storia contempOT(l1Iea (2),1971; Max Winlr.ler, The
investments o/ U. S. Capital in Latin America, World Peace FondatioD,
20 Cf. Dean, ob. cit., pp. 33.34. 1929.

96 97

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ti..
-_... "'f'" :;. ..•

Em 1901, estima-se que 90% dos operários de São Paulo A idéia de que a economia cafeeira fornece uma "infra- ~
são estrangeiros. Uma pesquisa sobre a indústria têxtil na ci~ estrutura" para a indústria, por exemplo, parece-nos extrema- l
dade de São Paulo, em 1913, indica que em um total de 10.184 mente enganosa. Em primeiro lugar, porque ela obscurece a J
operários não há mais que 1.083 de nacionalidade brasileira unidade entre café e indústria. Em segundo lugar porque,
contra' 6.044 italianos, por exemplo. A porcentagem total de concretamente, é impossível atribuir os progressos realizados ~
operários estrangeiros eleva-se a 82 % . Segundo O recensea'; nessa época em setores como a energia elétrica e a urbanização, l
mento de 1920, o número de operários estrangeiros no Estado , por exemplo, unicamente ao crescimento da economia cafeeira.j
de São' Paulo é de 4.Q%. em relação. ~o Jota1. Mas os' brasi-
leiros são majoritários sõbretüdo - enire
os .operários de menos
. Sabe-se que a potência elétrica instalada no Brasil cresce
aceleradamente no início do Século XX. Assim, em 1890 ela
de 20 anos e entre estes encontram-se certamente numerosos' é de 10.350 C. V.; em 1900, 17.441; em 1905, 60.778; em
filh05 de trabalhadores imigrantes.. Entre os operários com 20 1910, 203.901; em 1925,415.65223•
anos ou mais, a porcentagem de trabalhadores imigrantes el~
va-se a cerca de 50% 22. Ém 1812, o Estado de São Paulo, conta apenas uma ci-
dade com mais de 30 mil habitantes: a cidade de São Paulo,
.A massa _..!!e trllbalhadores Enigrantes q~C? vem para .I!)
capital do E~tado -(na época, Província). Em 1920, o número
B.!~~iji ãn~T~'18g{fj~pr~~~~{~~~~rt.~~iite u~ ~e~~ dessas cidades eleva-se a 34 e reúnem 2.351.613 pessoas. O
ir
cado consum!.2-<>..!-..Q!lraII ~~i~u!~s~ente~ ~~.e.J.â~~pr~~n.:ta crescimento da população das cidades de mais de 30 mil habi-
antéSCfetUao a formação do. mercaao de trabalho. Esse as-
li pecto e essencial pãiããCõi'fi'PiêeJíSf'õdos 'verdâdehos laços que tantes no Estado de São Paulo, entre 1872 a 1920, é de
unem indústria nascente e economia cafeeira. AJJ destacarmos 7.393%, contra um cr~cimento de 448% para a população
f! totill do Estado.
esse aspecto E.-~EL~a~.~a.r () ~~as~!.~_~!!t~5~~ ~~~trill.¥l1@
àãSreJ.ã""ções capitalistas
fêêiri:----- ,~-_ no Bi'ãsil,
..--:; centro la ecrinomJa ca-.
-..- cUJo -_........... Para. o conjunto do Brasil, -durante o mesmo período, o
número de cidades com mais dé 30 mil habitantes passa de
O lugar predominante reservado na maioria dos estudos 67 para 265, e sua população de 3.073.886 para 15.746.525~
econômicos ao aspecto "consumidor" do trabalhador imigrante isto é, um crescimento de 412%, contra 203% para a popu-l
1 conduz a uma interpretação parcial das relações entre o café lação total. Ainda durante o mesmo período, a população do
e a indústria. Nesse erro incorrem inclusive aqueles que, ao antigo Distritó Federal eleva-se de 274.972 para 1.157.813 ha-
destacar a importância da passagem para o trabalho assala- bitantes; e a da capital do Estado de São Paulo, de 31.385
riado, vêm o salário principalmente ao nível das suas conse- para 580 mil24..
qüências sobre a ampliação do mercado e subestimam a sua
O crescimento vertiginoso da eletrificação e da urbariiza~
característica fundamental como índice de novas formas de pro-
11: dução.
ção, elementõSfiíDaànleiltãiSpma}iiª-q~iãiíà~çi~fe~'n~~' <.:y_. .~ .~
i
I ~em ser entéiidídos'séiii-quê' eõõ.si<i'erernos ôs"'progreSsos si-
Ao privileiíar o aspecto "consumidor'" do trabalhador multiDoos'-dà~íiidúsTrla:-" Eie"'Ã "aõ-Djesiii9~lemP9;" córiãiçã~-~
imigrante, a .. maioria dos estudos. econÔmicos superestima a
oposi~~umtr~~ ..ç~~:_e:.w..~Úllgia. ~. é incapaz de pensar a própria ~-ªtã~~~i.:~pr~~_~~~-~~ºfJ!I1!!.~. . '. .
~sãojfci m.e.r.c_ado.sQns~j~ºr.~L9.nª~~!inepto óa indústria Ao nível das questões relativas ao mercado de consumo
l: 'como-partes-õe um único.'pr~sso de desenvolvimento em que intemo,as proposições acima destacadas implicam notadamen-
aecõõõíiííâ"cafeerrãOCií'-
"'-"." " ' pa a.p.. os(ão
ç.. doüiinante.
..
~
ij 28 Cf. Recenseamento de 1920 - Estatfsticas Complementares, cita-
:1 Fontes: A. F. Bandeira Jr., A. indústria no Estado de São PtJulo
22
do por J. F. Normano, Evolução Econômica do BrlJSíl, Cia. Ed. Nacio-
,..li em 1901, Tipografia do Diário Oficial, São Paulo, 1901; Boletim do
nal •. Sijo Paulo, 1939, P. 144.
:
Departamento Estadual de Trabalho, n9s 1 e 2, 1912. Cf. A2ú Simio, 24Cf. Nancy Alessio, "Urbanização, Industrialização ~ EstrUtura
'~~ Ocupacional", Dados, rD 7. 1970. .
Sindicato e Estado, Dominus, São Paulo, 1966, pp. 28-35.
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te que o reconhecimento das relações existentes entre a eco-
-'I tese segundo a qual qualquer enfraquecimento a.o nível da eco-
nomia cafeeira e o grande comércio ~. em particular o co- nomia cafeeira só pode ter efeitos negativos sobre o crescimento
mércio de importação, como é o caso no inicio. desse trabalho da indústria. Examinemos em detalhe as argUmentas levanta-
- ..não Conduz à aceitação da tese segundo a qual a indústria das em defesa dessa tese por Warren Dean,. deixando claro
aparece no Brasil para atender uma demanda até então satis-' desde a início que a crítica dessa lese, e em partiCular da sua
feita' por importações. . defesa e desenvolvimento por esse autor, não deve obscurecer
O elemento essencial do nascimento e ulterior cm;cimcmtG a importância da sua' contribuiçãa para o canhecimento' das
da indústria não pode ser ~ncontrado ao nível da demànda de formas específicas da ind~strialização no Brasil.

----b geral. º
produtos importados, nem mesmo ao nível da de~anda em
_~~~ento e o _cres~ento da indústria é..um dos
Para fundamentar a sua tese, Dean analisa em detalhé os
Índices sobre a produção industrial apresentados por Roberto

1
asp~çt~~.do desenvolvImento do capitalismo no Brasil a partir Simonsen (cf. Tabela VII); índices que serviram de base para
do último quartel do século XIX, do qual a expansão da de- aJpfIDuJ!lção das. tçses segundo as quajs os rápidos .progressos
mái:tdi representa. Ullf simp.les res.ult~~o~. da indústria são ..1:~alizadosnos momentos de _crise dô~etor .e](-
Essa questão é fundamental para que possamos analisar .~::::'~.i!i~'.P.~rt~~~li!i'dü~~~te
tre 1914 e 1918. . . .....-
'~-.pr!m~ija.~:iu.el1a
mundial •..el1-
corretamente as conseqüências da subordinação da indústriã ---...-:.----. __ ..... .. _A_ ...
nascente ao café, subordinação implícita ná tese de que essa A crítica de Dean está baseada em dois pontos principais:
indústria faz parte de um desenvolvimento cujo centro é Cons- primeiro, a ano de 1914 é um ano de recessão industrial, con-
tituído pela economia cafeeÍIa. Só quando afirmamos a uni- seqüência imediata da deflagração da conflito mundial; se-
dade entre café e indústria e a caracterizamos corretamente gundo, os preços dos produtos importados e os impostos cres-
como a unidade de um processo capitalista, podemos analisar cem mais rapidamente, durante a guerra, 'que. os outros preças
os problemas indicados através dos "obstáculos" levàntados e taxas. Como a incidência desses elementos sobre os preços
pelo café diante do crescimento da indústria. Só então pode- industriais é maior do que sobre o conjunto dos preços, o de-
mos entender esses ".obstácul.os" como contradições específicas flator empregado por Simonsendeve superestimar o valor da f
do desenvolvimento do capitalismo na Brasil e conhecer as suas produção industrial 2!i. .
leis particulares.
Mesmo se aceitarmos a possibilidade de uma superestima-
ÀS. teses que destl!~am.!lS.'~Q..~~.~Q1~" colocados à in~us-
ção do crescimento do valor da produção industrial durante
tri 'ZãÇãõ~.i!~Ià-éC~Q.ml~~~~~~~~ ..~J?Õ~~~e"~sJ~!~'..~~:v~~)íJ a primeira grande guerra; parece--nos possível .opor outros da-
.o ca ~ um eitfuiUI à indusm~çãõ; Na verdade, c.omoten-
taremos demonstrar, eSsílS-'teses'sitliãm-se nummésma terreno. dos para afirmar a importância do crescimento industrial du-
Optamos aqui pela crganizaçâo da nossa análise. em tomo da rante esse período. Assim,' par exemplo, as informaçÕes <.to.
c~tica das teses do segunda tipo porque elas foram bastante recenseamento de 1920 so'bre li repartição do capital indus~
desenvolvidas recentemente e, principalmente, porque a afir..• trial segWldo o ano de fundação das empresas, parece confir-
mação da subardinação da indústria nascente à economia ca- mar a importância desse crescimento: 24,2% do capital indus-
feeira assaciada a uma crítica às teses do primeiro tipo poderia trial recenseado em 1920 estavam empregados em empresas
criadas entre 1915 e 192()26.
conduzir a uma interpretação errônea do nosso trabalho, asso-
ciando-o, pcr exemplc, de. uma maneira ou de outra, às teses
que estabelecem uma relação linear positiva entre café e in- 25 A influência da guerra sobre a indústria é objeto de um capítulo
dústria .. do livro de Dean. É. nesse capítulo que ele expóe as suas críticas aos
índices de SimoDsen, que até essa época serviram de. base à maior parte
A subordmação da indústria nascente à- econamia cafeeira dos estudos sobre a industrialização no Brasil, Cf. Warren Dean, ob.
cit., pp. 91-114.
implica que aS movimentos desta repercutam forçosamente sb-
26 Cf. Recenseamento de 1920, voI. V, tomo I, p. XX. Omesmo
bre a primeira. Mas não implica, entretanto, a aceitação da recenseamento indica também que 37,6% do capital industrial estava

100 101
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No antigo Distrito Federal, os estabelecimentos criados VII. VALOR DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL. ~DICE
durante esse mesmo período empregavam (em percentagens SIMONSEN BRAS]L: 1914-1929
sobre os totais): 13.4% do capital e 21,4% dos operários2'l ..
-Entre 1915 e 1917, pelo menos 323 empresas industriais no.
vas foram criadas em São Paulo; Nesse mesmo Estado, são
Ano I Custo de vida , Produção industrial

registradas 41 empresas têxteis com cerca de 18 mil operários.


em 1915, contra 47 empresas e 23 mil operários em 1917~. Nominal Real

Esses dados indicam necessidade de urna pesquisa empírica 1915 108 127 118
mais aprofundada sobre o problema. Mas, além da pesquisa 1916 116 164 140
1917 128 253 197
empírioa, eles trazem à tona o problema da especificação das 1918 144 247 171
relações de subordinação que ligam a indústria nascente à eco-' 1919 148 312 209
nomia cafeeira. Esse é o verdadeiro problema colocado pela 1920 163 308 188
1921 167 315 188
crítica de Dean, dado que esse autor termina por concluir pe- 1922 184 401 218
la_.-.-,.--____
existência uma
-::,--'0 certa
.0__ 0. aceleraçãõ-nocresciinêíitõ--õa--produ-
.0 _'_. 0.0. -'-"_'0' ...._..
o." o 0.--.._.'---
.•..__ 1923 202 616 303
~o i.qj;hlstpw uurãnte 'a priiIl"ira guerra~-o E atribui concre- 1924 236 461 194
.taDiente o crescímento ..da 'prôdução industrial 3çãUriiento das 1925 2S2 4S2 178
~~-saQ~Pã"4!~.:o.~:.::.~ej~_:p~~~3~li!r~-~e. 1926
1921
260
267
504
581
193
217
~º.,..p!11s,,!m particular para o antigo Distrito Federal. 1928 263 747 284
. __ pª=!:a pa1ies:o~stratig~fios~pr6X1nios,coiiioa' ou Argentina," 1929 261 702 269
JmÜ1oAi~tante~l oÇQlJlO.:a Africa.do Sul. . B ~ acreScenta airida
o autor - essas exportações são realizadas por indústrias já Fonte: Roberto Simollsen, A evolução industrial do Bra:Jif Fe-
.,. existentes (como a têxtil ou a açucareira) ou mesmo estão na deração das indústrias do Estado de São Paulo, São Paulo, 1939•
pp. 40-41.
origem do aparecimento de novos setores (a carne em con-
serva. por exemplo) 29.

Dean observa contudo que a expansão da capacidade pro- ela estabelece uma relação unívoca entre a expansão do setor
t:'- '_~~' r"
dutiva das fábricas é bloqueada pelo fato de que o seu apro-- exportador e a industrialização!l. ~ verdade. ao .examinar M

_,_' : visionamento, sobretudo no que se refere aos bens de capital. m..0s os diferentes ~~~t~~d.~~~~~~,_~'Elcl¥fmºLq~~",flSre.~
. ,'.' '.' depende das importações e elas são fortemente reduzidas de-- çoes e:1tre.!! cõ.1if!.!E-tQ .!,xtg..".l!!.t.!JL (!f/!~J!!l~,.£q[e~l..~_~~,¥!P
.. .... pende em grande parte de uma utilização crescente da capa- 1tiãõ, e a iiiilliiria nascente, de outro, implicam, QO mesmo
cidade instalada: funcionamento de fábricas em três turnos. t'=-.mpo, ~ ~iÍkM!.~=~~:Qos.jjfl.(r.ii4ifãó:'"'A '.'unidãdeesid .~(;-iliip +---
fusões e reorganizações de empresas etc.30 • de que o desenvolvimento capitalista baseado na f!..~PE!!!~ ..~
t~t!~rq _pr...tl'!!.OFE.o =~.:(jJfriffrjl??T.!#!I.--ceiio-' â.e~eiivolvfrMntlJ_ .da
Devemos então concluir, em primeiro lugar, pela impos-
indústria; '" cQiitrQá!£ão~._r.w..slimites impostos ao desenvolviM
sibilidade de aceitar a tese inicial de Dean na medida em que '!!!.'!fjJ4.~ "iiii(ustria'Peta .própria p()siçao' dominante d~ eco-
1Wmiil--~feeira.'na acumulação de capital. ..
empregado nas empresas criadas entre 1900 e 1914. Os capitais apli-
cados em empresas cujas datas de criação não são indicadas represen- , :e importante explicitar que a tese acima inclui as rela-
tavam apenas 1,3% do capital total. .j ç(5es entre a indústria nascente e o capital estrangeiro, dado
27 Cf. Recenseamento de 1920, vaI. li, tomo lI, p. XLVII. í que as formas concretas do desenvolvimento capitalista no 'i
28 Paulo Rangel Pestana, A riqueza paulista, São Paulo, 1920, Ci.
'-- Brasil, em particular o papel dominante do setor exportador
tado por Simão, ob. cit., p. 19.
2VOb. cit., pp. 101-103.
80Ibid .• p. 114. BI Cf., notadam.ntc, p. 91.

.102
i 103
I
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Il.-
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- 1

nesse desenvolvimento, são uma conseqüência direta da posi- tes descritivos dessas análises, considerar a indÚstria e o café
) ção subordinada da economia brasileira no seio da economia
í mundial. A própria economia cafeeira, a sua condição como
como duas formas de capital e estudar as relações existentes
entre elas.
centro motor do desenvolvimento do capitalismo no Brasil não
i é senão a forma concreta de inserção no Brasil dentro da
I
l
economia mundial, a forma como se desenvolve o capitalismo 5. Contradições do desenvolvimeniobaseado na economia
em um país que ocupa uma posição subordinada dentro da cafeeira
economia mundial.
Além da guerra de 1914-1918, podemos citar outras m.a~ A dívida externa crescente e as bruscas variações das
nifestações do caráter não unívoco das relações entre café e cotações internacionais do café são os indicadores de traço
.indústria. O êxodo rural provocado pelá- crise cafeeira de característico da economia brasileira durante o período aqui _~::~.
1901, por exemplo, traz às cidades, em particular à cidade de estudado: a dependência comercial e financeira em relação .
São Paulo, uma mão-de-obra relativamente qualificada e bara- ao exterior. Esse problema agrava-se com o desenvolvimento
ta, na medida em que os imigrantes europeus abandonam os do capitalismo.
) cafezais. Esse êxodo rural é um fator importante para o for- Durante um certo tempo, a grande burguesia cafeeira en-
-~~. I talecit'nento do mercado de trabalho das cidades, onde a in~ frenta eSSe "desequilíbrio externo" através da desvalorização
I~dústria vai buscar a sua mão-de-obra 82. constante da moeda brasileira. Essa política entretanto agra-
~'pr6prla polític.a_ .ecc:>.n~~~a.~it:!~.dll. pela(f~de. _b~r- va ainda mais o problema da dívida extf<ma, de modo que,
guesia câf~eitã:.e- -ãpóiada fundamentâlJ::nente- :iiã --política. cam- em 1898, é necessário apelar para uma operação de tundrng-
bial. é-O .aIfan<fegária tem efi:iitós- eoiiíradii6nos.'e-.vãDados;- de loan. Para pagar o funding-loan, o governo federal é obriga-
liêõrdocOOi- ãCõnjuiilürã;-só'bre-- li ril~ií~tiia -ii'ªsce~te.... Esse é do a adotar uma política de austeridade financeira, diminuir
tafvez.'-um--(los-pontos- ceritrlÜs;crudilis das relações entre café as suas despesas e aumentar as suas receitas, isto é, aumentar
e indústria. Mas, se continuamos a analisar o duplo aspecto os oopostos. Ora, as exportações não podem ser taxadas pe-,
das relações café-indústria como aspectos separados e não co- 10 governo sem colocar em questão o equilíbrio político dasl
mo efeitos contraditórios de causas únicas chegaremos a ver- pr6prias classes dominantes e, em particular, a posição bege-
dadeiros impasses de caráter prático e teórico. . . mônica da grande burguesia cafeeira. Na república das oli~
Assim, por exemplo, como destaca Versiani88, as duas garquias, cada oligarquia reserva-se o direito de taxar suas
correntes terminaram por privilegiar, de um lado, os dados exportações. Al~m dissQ,-Q aumento das taxª~ _~ºbre as_ ex-
sobre os investimentos, que variam com. a capacidade para im- portações revefã':'seum- instrom:ent(j. fu:iÇtequado nUDl~.slste1P~
portar, de outro lado, os dados sobre o valor da produção, cjp'Ii~~~iaoni:Ie- o-ce.nfiõ-éfá-aCümuhlção está justamente liga~
cujas relações com a capacidade para importar são justamen- do a ~-'~p'aiisãõº.nexportações. Por isso, os recursos neces-
~~
te inversas. ~ sáiiõS àsfiiúinças federais devem ser encontrados na taxação de
1'" LProdutos destinados ao mercado interno. .
A agudeza desses impasses exprime a necessidade de ul-
trapassar o terreno no qual se situam as análisel\ sobre a in- No que se refere aos produtos destinadós ao mercado
dustrialização no Brasil, a necessidade de ultrapassar os limi- interno, o governo federal pode distribuir os encargos tribu-
tários entre as importações e produção brasileira. A opção
32 Roberto Simonsen. ob. cit., pp. 37.38. entre produtos importados e produtos nacionais é limitada
S3 Cf. Versiani, Flávio Rabelo e Maria Tereza R. O., A indu:triali- também pela própria lógica da acumulação. . A política fiscal
do governo federal não pode voltar~se inteiramente para a tri-

i
laçiio brQ.Yileira antes de 1930: uma contribuição, 11 Encontro Anual da ,i'

Associação Nacional de Centros de Pós-Graduação em Economia, Belo butação da produção nacional, sob pena de favorecer a tal
Horizonte, 29 e -30 de outubro de 1914. ponto as importações que acabaria por agravar o "desequilí~

li;I 104 105


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ri brio externo". O governo federal necessita aumentar os im-
f,.46 •

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da posição subordinada do Brasil no seio da economia mundial
postos" mas ao fazê-lo não pode escolher meios que entrem
e a reprodução do capital cafeeiro - se manifesta principal-
11 ~9JcoJ1tradição com o seu objetivo fundamental: a.. obtenção
mente na não seletividade das tarifas alfandegárias e na di~
do, equ.ilibriofinanceiro indispensável à reprodução'-do.capital
minuição dessas tarifas (diminuição pelo menos em termos
I cafeeiro, do capital comercial e do capital estrangeiro inves~
reais) nos momentos em qué o equilíbrio financeiro é reen-
tido no Brasil. ,~~sim,.. em razão da lógica da acumulação
contrado, ainda que provisoriamente35• O pan,to de vista fis-
det~!min~d~ , pela, posíção hegemônica do capital' cafeeiro e
cal da burguesia industrial nascente é diferente daquele ad~
pela EOSIÇ,ãosubordinada da economia brasileira no seio da
lado pelo governo federal diretamente controlado pela grande
~,~oIúimIá!D.im"dilil,
'o g()verno' é levado a aumentar as taxas
burguesia cafeeira. Ele é explicitado, na época, pelo Centro

'
J..9J'J~_as.importações.
Industrial do Brasil e, mais tarde, pelo Centro Industrial de
Note-se que essa política fiscal é adotada com o acordo São Paulo. Os industriais querem tarifas alfandegárias que fa.
e mesmo sob a pressão dos grandes grupos financeiros ingle- çam a distinção entre produtos que possuem e produtos que ,"

l
\ ,'ses. O equilíbrio financeiro é uma condição para o acor- f}Jo p()ss.uem similares nacionais; e lutam pelo estabelecimen-
',-.- do sobre o funding-loan. Aparentemente os ingleses preferem t~,<J.~,~~ sistema alfandegário que facilite a aquisição no es-
" assegurar as condições para o pagamento das dívida-se remes- trangeiro de equipamentos modernos destinados à expansão .
~--It' sa de juros, dividendos e lucros, em prejuízo das suas pró- de suas fábricag86. , &
prias exportações. Dessa forma, o capital financeiro inglês
demonstra saber que, em última análise, o destino das suas Assim, vemos que,~!a .assegurar a repJ:9duç!~. ~~, .ç.ª~li
exportações depende da expansão dos seus investimentos no ...goY~11i()_é_ "1~:vªdo.,ll.,tld9taru~ª~PQlí-
p!!'~~ni'!:~Lªª~Q!1~1,_9
estrangeiro. E assim o capital financeiro internacional afir~ .~Cl!~_co~.º~~_~a que J~.Y..Q:r:~,~~Lª,~~_,~r!~
..[''?.l1tl:ll,~)n.d.ú.~~ria.~
ma, na prática; o primado da exportação de capitais sobre a os .efeito1..~ii.!~nt~ª-~~J?~I.í~?~ ,~~'?~~micaf~~_~~~.~~o
exportação de mercadorias na economia mundial capitalista. ~ l1~l~s.m~~~,~ .._$>.m~~!I!f~~ ..l[a_.~!l;!!~~,::N!~~~~~ 5a~
fee.u:a.._Çi.QP. c~._~.st:r:t\1!g~l!o. O nosso objetivo aqUl e mos-
A. .política fiscal adotada a parth:" do..flf.ll4.in$;,(0J1n., J9ID.ª- trar que os"- efeitOs contraditórios dessa política econômica e,
t~cl~.dà _p,olítica,ge,y~iorizaç.ão"doç#~,_. um d9!!.in~.tru-
S~.1-..~Q . de modo geral, as aspectos, contraditórios das relaçãés entte
ment~ funda~ment<.li~' d~ pqH,tlç!!,_eco!lô.,mi~a.
bras~~ira. Essa o capital cafeeiro e o capital estrangeiro, de um lade, e .o'capi-
polítíca lís'ciU torna-se o eixo em reláção ao qüar a fiurguesia tal industrial, de .outro. são a manifestação da contradição pró--
industrial nascente deve definir-se, porque ela implica uma pria às formas da reprodução do capital dominantes no Brasil.
certa distribuição do consumo interno entre produção nacio- ~ essa contradição que .o duplo aspecto da política econômica
I1
nal e importações. Ao analisar a história da indústria no e das relações entre café e indústria oculta. Senão, vejamos.
! Brasil, Simonsen esboça uma periodização baseada diretamen- A expansão cafeeira é a base de uma rápida aêumulàção.
te nas variações da política fiscal do governo federal. Uma de capital. Entretanto, os efeitos dessa acumulação ao nível
única exceção: a guerra de 1914-19'18 também determina um 'de transformaçãa do modo de produção são extremamente re-
período. Trata-se de uma exceção que confirma a regra, por- duzidos. A tendência inicial é a de importar grande" parte
que a guerra determina um período na medida em que desem- dos bens necessánOs à reprodução da ferça de trabalho e dos
penha o papel de uma barreira alfandegária que protege a in-
dústria loca]3~.
85 A politica fiscal da Primeira República é analisada por Nícia

l
li
Os efeÍtos positivos dessa política fiscal sobre a indústria Vilela Luz, A luta pela industrialização no Brasil, Difusão Européia do
não permitem entretanto que a caracterizemos como uma polí- Livro, São Paulo, 1961, Cf. Cap, IV. (2{1 ed., Editora Alfa-Omega, '
S. Paulo, 1975).
tica protecionista. Seu verdadeiro conteúdo - a manutenção ••6 O Centro Industrial do Brasíl foi criado em 1904 dentro da luta
por esses objetivos. Ela resulta da fusão do Centro das Indústrias de

1
iI

34 Cf. Roberto Simonsen, ob. cil., pp. 25-26. Fiação e Tecelagem do Rio de Janeiro e a Sociedade de Ajuda à In-
dústria Nacional. Cf., sobre isso. Vilela Luz, ob. cit., pp. 121-131.

106
107

II
r- .~-,

bens de consumo das outras camadas sociais. A produção exatamente as mesmas que estimulam a acumulação: elas de-
local tende a especializar-se em produtos primários. Essa ten- correm da divisão capitalista do trabalho em escala interna-
dênCÍa própria à divisão do, trabalho no seio da economia mun- cional.
dial capitalista' encontra forte apoio ideológico entre os repre~
}J s:ntant~ ~~~ oligarquias brasileiras, defensoras da nossa "voca-
:e essa contradição que
.se manifesta no chamado dese-
, çao agrana . . quilíbrio extern08S• Através do desequilíbrio externo, a re-
produção do capital impõe transformações necessárias à acu-
Como sabemos, a acumulação do capital possui esse incon- mulação: o nascimento da indústria e li! cons~qüente elevação
. veniente de depender, em última análise, das transformações da produtividade tão importante para a expansão do excedente
operadas pelo próprio capital ao nível da produção. A cons- e o prosseguimento da acumulação. Assim, através da cons-
tante revolução do modo de produção é uma característica tan~e solução e recolocação do desequilíbrio externo, o capita-
essencial do capitalismo, na medida em que dela depende a ex- lismo brasileiro segue o seu. caminho, escondendo no palheiro
pansão do excedente econômico, Ora, a divisão internacional das atribulações financeiras a contradição que explica o seu
do trabalho ao mesmo tempo que permite uma rápida acumu- próprio desenvolvimento.
lação de capitais baseada na expansão cafeeira, limita os efeitos
dessa acumulação sobre o modo de produção. Num primeiro ;Privilegiando a análise ao nível do mercado, Furtado ex-
momento, a divisão internacional do trabalho determina que o plica a tendência ao desequilíbrio externo através dos efeitos
Brasil deve especializar-se na produção de café e outros bens do multiplicador a partir da substituição do escravo pelo tra-
primários. Aparentemente, essa divisão do trabalbo é.perfeita- balhador assalariado89• Na verdade, o trabalho assalariado só
mente adequada. à reprodução do capital ao nível da economia pode ser ligado ao caso do desequilíbrio externo na medida em
mundial e ao ní~el de cada economia nacional. que ele compõe necessariamente o sistema de produção capita-
lista. Entretanto, essedesequiliôrio não é uma caracteristica da
Seguindo a conhecida lei das vantagens comparativas, o ca~ economia capitalista em géral: ele está associado a determinadas
pital estaria em todo o mundo e em todos os lugares do mundo economias capitalistas, a formas específicas de desenvolvimen-
reduzindo os seus custos e elevando os seus lucros. Infelizmen- to do capitalismo. Ora, a especificidade dessas formas ná9
te a l~i das vantagens comparativas não tem sido muito "aplica~ pode ser explicada pela simples presença do trabalho assala~
da" nas economias capitalistas. Apesar das reclamações dos riado. A análise das conseqüências da passagem ao trabalho
economistas ortodoxos, parece que tal fato não pode ser explica- assalariado ao nível do mercado não constitili uma explicação
do pela falta de conhecimento dos capitalistas, mas decorre an- convincente do desequilíbrio externo, na medida em que essa
tes de mais nada da comprovada "ineficiência" da própria lei. análise elude o problema principal: as condições históricas no
Como vimos, a divisão internacional do trabalho limita seio das quais se realiza a própria passagem para o; traba,lho
os efeitos da acumulação ao nível da revolução do modo de assalariado no Brasil.. "
produção. Nos limites desse texto, explicitamos unicamente Finalmente, o rabalho assalariado re enta as' a 'á
os efeitos da divisão internacional. do trabalho em uma econo- in~ ~ormas de acumulação, para o problema
mia que ocupa uma posição subordinada, mas pensamos como -.--.1; ~~.9L.Q~rá(::.qQ ..~~.~~'l~i.llli.rJç:.Fit.~r.~?:.E.?~~~"~~
Bettelheim que eS5es efeitos se fazem sentir sob outras formas .prese~ondição necess!.~i!__
P!r!L_!l~..~~ªn~!º~~~a.~.2~~~~!_e!~a-
também nas economias dominantes :17. Em conseqüência des- ~~_~ºªY:Ç.<!Q._~~ ..P.ªXH~9lat..PaJ;a..âJndusma-
ses efeitos, a .própria .base da acumulação de capital, a forma li~o. A única culpa que talvez possamos atribuir com fun-
como o capitalismo aumenta o excedente e dele. se apropria, oamÉmto ao trabalho assalariado consiste em que a sua. pre-
encontra-se afetada. .E as causas desses efeitos negativos são ..i

. 38 Partimos aqui de Celso Furtado, Formação Ec()llâmica do Brasil.


087 Cf. "temarques théorique5" in A. Emmanuel, L'échange ínégal, Fundo de Cultura, Rio, 1964 (6~ ed.), ilP, 182-188,
Mllllpero, Paris, 1969. :lll Ibid.

108 109

, .l t- •...•.
r-' ••

sença marca realmente a passagem para uma fase do desen-


te fundamental da rentabilidade dos investimentos, A impor-
volvimento do capitalismo no Brasil que já não deixa aos capi-
tância do comércio externo é a manifestação não somente do
talistas outra escolha além de desenvolver, sempre e cada ve:t
grau de desenvolvimento ainda relativamente b,aixo do capita-
mais, o próprio capitalismo, apesar dos desequilíbrios externos
lismo no. Brasil, mas ainda das formas específicas desse desen-
e todas as demais atribulações que suas contradições houve-
volvimento determinadas fundamentalmente pelo modo de in-
rem por bem determinar. Fecham-se assim as possibilidades
sersão do Brasil na economia mundial e as conseqüências da
da manutenção de um certo tipo de tranqüilidade que as fa-
zendas de café ainda pareciam assegurar. divisão internacional do trabaJoho ao nível de uma economia
subordinada.
De modo geral, essas formas de desenvolvimento implicam
6. O capital industrial notadamente a predominância do comércio sobre a produção,
em particular, do capital comercial sobre o capital industrial.
De tal modo que a industrialização se transforma, na prática,
Vimos como a indústria. nasce das próprias contradições
como sublinha Souza Martins, em um problema comercial, da-
do desenvolvimento capitalista cujo centro é a expansão cafe-
do que, "essa era a racionalidade dominante e o único meio de
eira. Mas o nosso estudo não pretende limitar-se a indicar
realizar o industriaIísmo"40.
como O desenvolvimento capitalista sob a égide do capital ca-
feeiro conduz à industrialização, mesmo se tal fato constituiu 'As determinações do comércio externo' sobre a industria-
uma grande dúvida para muitos intelectuais brasileiros, du. lização no Brasil são afirmadas na maioria dos estudos sobre
rante muito tempo. Pretendemos também fornecer elemen- esse tema, Entretanto, elas são interpretadas como determi.
tos nec~sários ao entendimentos das formas específicas da re- nações da demanda sobre a produção. Chega-se mesmo a afir-
produção do capital industrial determinadas pela posição da. mar que a especificidade das economias "periféricas", como
minante do capital cafeeiro na economia brasileira e a posi- a economia brasileira, consiste justamente nesse fato particu-
ção subordinada da economia brasileira no seio da economia lar da determinação da demanda sobre a produção. Assim,
mundial. Desse ponto de vista, isto é, do ponto de vista do elimina-se o problema real da especificidade das formas de
objetivo principal de nosso estudo, o que dissemos até agora produção capitalista nos países periféricos. Como vimos, a
-0 representa um passo decisivo, se conseguimos realmente de- posição do comércio externo na economia brasileira s6 pode
monstrar o caráter contraditório das relações entre a indústria ser explicada pelas' formas de produção determinadas pela do-
eo café (e, através do café, a economia mundial). minação do capital cafeeiro e pela s!1~~r~jnação dQ BrªJlil ..!1a
Agora vamos tentar atingir o núcleo do movimento do eC9J:.lo~ia mundial '
capital industrial. Vamos mudar a nossa questão. Em lugar A rentabilidade dos investimentos resulta da estrutura. de
de procurarmos as contradições da reprodução do capital cafe- preços. Através dos preços do mercado internacional, modi-
eiro e das formas de subordinação da economia brasileira, ficados pela política econômica brasileira, é na divisão inter-
procuraremos as contradições do. capital industrial que resul- nacional do trabalho que encontramos a chave para o enteu-
tam das condições históricas em que ele aparece e se desen- dimento das formas específicas da industrialização no Brasil.
volve. Chegamos assim à última parte da nossa análise: últi-
Para aceitar essa tese é necessário ter claro que as modi-

il
ma parte que é também a parte central, dado que o nosso
objetivo principal é o estudo da gestação de novas formas de {icaÇões dos preços internacionais pela política econômica bra-
acumulação cujo centro se encontra na indústria. \) 'lileira não podem ser consideradas como elementos externos
à divisão internacional do trabalho. Opor a política econô- :11
A importância decisiva do comércio exterior, em parti- l~ mica brasileira à divisão internacional do trabalho resulta fun-
cular da pOlítica cambial e alfandegária, advém do fato de que,
na prática capitalista, ele desempenha o papel de determinan-
40 Cf., ob. cit., p. 98.

110 11]

r
I
,........--
,


damentalinente de dois graves equívocos. O primeiro consis-
te em ignorar que essa política visa, antes .de. tudo, assegurar trialização, nem a industrialização implica na destruição dos
a reprodução do capital cafeeiro e do capital internacional, co- laços que unem o Brasil à economia mundial e muito menos
, mo já demonstramps. Ora, a política econômica que assegura ainda na destruição do capitalismo no llrasil. A industrializa~
1 condições da. reprodução da posição subordinada do Brasil na ção pode, simplesmente, levar a mudanças nas formas de su~
bordinação associadas a transformações do capitalismo nO
I economia mundial, é um dos aspectos fundamentais da di,vi.
ll,;ão internacional do trabalho. . . Brasil: .por exemplo, a perda da posição dominante por parte
do capital cafuiro ou mesmo do cap!tal comercial em geral.
. . O segundo equívOco é o mais impol1tan,te porque, ~a
verdade, inclui o primeiro. .Ele consiste em desconhecer as Isso resulta concretamente das própriasfQrmas específi-
. contradições da própria divisão internacional do trabalho. Tal- cas do desenvolvimento do capital industrial no Brasil41 Essas
vez esse equívoco seja ainda mais geral e suas verdadeiras ori- formas de desenvolvimento aparecem quando consideramos
gens .estejam no entendimento errôneo do. que é uma contra- dois a!lpectos fundamentais da indústria brasileira. O primei-
dição. Uma visão parcial e simplista reduz a contradição à ro e mais conhecido desses aspectos é a estrutura setorial da
existência de pólos opostos que se excluem mutuamente, mima indÚstria brasjleita. Como sabemos, o. capital industrial con-
concepção puramente estática, que inclui apenas dois momen- centra-se nos _setor~lLde_bens_deconsUIDo. Como aparece na
tos perdidos no tempo e no espaço; a dominação e a negação Tabela VIU, em 1920, mais de 85 % do valor da produção
dessa dominação. Elimina-se desse modo o essencial da Con- industrial brasileira estão concentrados em setores de bens de
tradição; a luta constante entre os dois pólos, que configura consumo. A especialização do capital industrial brasileiro
a unidade e determina o movimento. aparece de modo mais preciso quando. consideramos as empre-
sas mais importantes. Em 1907, todas as empresas com 1.000
Essa noção sin.lplista obscurece o fato de que o movimen.
to da divisão internacional do trabalho e, portanto, o desen- VIII. VALOR DA PRODUÇÃO POR RAMOS %
INDÚSTRIA, 1~20
I.
volvimento do capitalismo em escala mundial é o fruto de
determinadas contradições. Ela impede 4e ver que os efeitos
aparentemente contraditórios de uma 'política econômica d'esti-
nada a assegurar as condições da reprodução da divisão inter-
nacional do trabalho resulta das contradi~es dessa reprodu-
Grupo I

Têxtil
I Grupo II

ção. Finalmente, a conseqüência mais negativa dessa noção 27,0 Minerais não metálicos 2,7
simplista de contradição consiste na impossibilidade de captar Roupas e calçados 8,2 Metalur.gia 3,4
.Produtos alimentares 32,9 Mecânica 0,1
o próprio movimento do capitalismo mundial, e em particular Bebidas 4,7 Material de transporte 1.3
da posição do Brasil na economia mundial, dado que essas Fumo 3,6 Químiça e farmácia , 5,7 •
contradições determinam as mudanças das formas desse mo- Madeira 4,3 Borracha 0.1
vimento. Couros e peles 2,5 Papel e papelão 1,3 11:
Mobiliário 1,4
Edição e diversos
-o
I
eoDcretamente, a reprodução do capital cafeeiro e das 0,8
.. formas de subordinação da economia brasileira levam ao nas-
cimento e ao dc;s_enYolvimentoda indústria que, por sua vez,
está em contradição com a própria reprodução do capital ca-
Total 85,4
I Total 14.6

feeiro e as formas -de subordinação da economia brasileira.


Mais uma vez afastamos a noção simplista de contradição,
Fontes: Recenseamento de 1920. Tabela organizada por 1. M. Mar-
tin, Processus d'induslrialisation et développement énérgetique au Brésll. I
Institut des Hautes Etudesde l'Amérique Latine, Paris, 1966. Cf. p. 75.
segundo a qual as contradições internas do capitalismo leva-
riam à sua própria destruição. Nem a subordinação do Bra- 41 Sobre esse ponto, ver a noção de "industrialização retardatária"
sil na economia mundial e o capital cafeeiro excluem a indus- em João Manuel Cardoso de Mello, O Capitalismo Tardio, 1975.
pp. 98-130.

112
113

I
.ti li
T~' .~

"
contos de capital estavam no setor de bens de consumo, em ção em geral, e uma rápida acumulação em particular p&:a o
particular nos setores de fiação e tecelagem 42. capital industrial. Graças às possibilidades dejrp''portãÇãõ. de
Praticamente toda a demanda de bens de produção, em equipamentos os mais modernos, o capital industrial brasileiro
pôde "saltar etapas" e, desde o início, adotar técnicas avan.
particular dos chamados. bens de capital, é desviada para os
çadas e garantir-se uma rentabilidade elevada.
países capitalistas avançados, notadamente a Grã-Bretanha, de
modo que em 1929 a -Importação de equipamentos represen- Assim, o Brasil pode passar diretamente à grande indús-
tava 31 % do total das importações brasileiras, sendo que o tria, sem atardar-se nas formas anteriores de desenvolvimento
petróleo já responde porr~~dessas importações 41l. Alguns do capitalismo na indústria. Os resultados da análise dos da-
I estabelecimentos importantes que produziam bens destinados dos sobre a indústria brasileira em 1907, levantados pelo Centro
'li ..",.
ao consumo industrial desaparecem com o progresso da indús- Industrial do Brasil, indicam-nos que no fundamento a grande
tria no Brasil, afinnando assim que esse progresso é ao mes- indústria não resulta, no Brasil, da transfonnação do artesanato
mo tempo a afirmação, sob determinadas fonnas, da divisão e da' manufatura.
internacional do trabalho. Enquanto as importações de aço Entretanto, essa rápida acumulação, baseada na consti-
crescem rapidamente, os altos fomos de Caété e ípanema (Mi- tuição da grande indústria no setor de bens de consumo, resul-
Ir nas Gerais) desaparecem; Na mesma época (última década ta em efeitos extremamente reduzidos ao nível das forças
I
I
do Século XIX), a tentativa da Companhia Nacional de For-
jas e Estaleiros Navais para modernizar sua velha usina de São
Miguel de Piracicaba (São Paulo) fracassa 44.
produtivas, dado que, no setor de bens de produção, o desen-
volvimento da grande indústria fica praticamente paralizado.
Temos assim que é o próprio capital indurtriaL que exprime de
Esse aspecto da estrutura industrial tem sido freqüente- forma mais completa as características das formas de de.~envol-
mente destacado e parece-nos realmente importante. Entre- vimento já presentes no capital cafeeiro e que determinam efeitos
tanto, se o consideramos isoladamente, ele conduz a uma visão reduzidos da acumulação ao nível do modo de produção.
muito parcial das relações entre a indústria, de um lado, o Finalmente, é fundamental destacar que os efeitos das
café e a economia mundial, de outro. Ele limita-se a desta- formas de desenvolvimento ao nível das forças produtivas, não
car os limites impostos ao capital industrial pelas formas do- podem ser classificados como obstáculos ao desenvolvimento
minantes de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. :e im- do capital e muito menos como obstáculos ao desenvolvimento
prescindível ligar a estrutura setorial à própria importância do capitalismo no Brasil. De um lado porque essas formas
do capital na produção industrial, como tentamos fazer no iní- j, determinam ao mesmo tempo a possibilidade de uma acumula-
cio desse trabalho (Cf. Crescimento da grande indústria. IV, 2); ção relativamente rápida na indústria e na economia em geral.
esse é o segundo aspecto da questão que permite destacar os De outro lado, porque esses são efeitos. do próprio desenvolvi-
. aspectos "positivos" do desenvolvimento sobre O capital indus- mento do capitalismo no Brasil. Por isso, o capital industrial
trial. Só dessa forma, considerando os aspectos contraditórios,
il conseguimos captar o movimento real do capital industrial.
não se opõe diretamente às formas de acumulação dominante,
mas procura sempre desenvolvê-las em seu próprio proveito.
Para entender as formas do capital no Brasil não basta
j I destacar os limites impostos pelas formas de desenvolvimento,
. é preciso considerar também que o próprio modo de inserção
I

: I
I do Brasil na economia mundial assegura uma rªpida acumula-
,.
, 4Z Le Brésil et ses richesses, voI. TIl.
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Rio de ianeiro, D. N. C., 1939-1943. CM.2.
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VERSIANI, Flávio R.e Maria Tereza R. O., A industrializa-
ção brasileira antes de 1930 - uma contribuição, II En- V. I. Lenin
contro Anual da ANPEC, Belo Horizonte, outubro 1974.
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Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1968. Obras escolhidas - Vol. 1,2 e 3
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