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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo trazer o questionamento a respeito da objetificação
da mulher no âmbito da indústria musical do século XX. Abordar o assunto estudado em aula,
tema citado com o artigo sobre mpb, indústria cultural e identidade, com a temática da
misoginia. Observar, analisar e denunciar como a música carrega responsabilidade cultural e
influenciam diretamente quem a escuta, e como essas músicas são agentes de formação de
cultura e de indivíduos, valores e preceitos. E ainda, perceber a normalização da violência contra
a mulher, expressa em letras de sambistas conhecidos desde o começo do século XX, porem
pouco notada e que prevalece ate os dias atuais. Também será abordada a importância de leis que
defendam os direitos da mulher. Tudo isso tomando como apoio a analise de conteúdo, de artigos
e textos.
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO
Por mais que os tempos de Noel Rosa fossem outros, talvez até mais aceitável que letras
misóginas não fossem questionadas naquela época, já que se tratava dos anos 40 - ainda assim, a
apologia ao feminicídio é inaceitável em qualquer tempo. Existe uma romantização das relações
abusivas, da submissão da mulher. Canções que colocam a mulher no papel de traída, violentada,
mas que continua lá, ao lado do homem. Vivemos em um tempo onde a violência já não
consegue ficar mascarada. Os porquês estão cada vez mais expostos, as mulheres mais
conscientes de que não precisam viver em situações abusivas, e o mais importante, elas tem
encontrado rede de apoio para que consigam sair de relacionamentos tóxicos. Outro exemplo
escancarado de misoginia ‘e a musica Se te pego com outro, composta por Sidney Magal:
Sem dúvidas essa música pode ser considerada uma ameaça, além de um reflexo do que
a sociedade vive. Inúmeros casos de violência contra a mulher e morte, são provenientes de
ciúme doentio. Recentemente foi feito um site que denuncia letras dos tempos atuais, questiona e
escreve o porquê do conteúdo ser improprio para a formação de cidadãos conscientes. O site é o
http://www.mmpb.com.br. Feito exclusivamente por mulheres, com o intuito de conscientizar as
pessoas do quão desnecessário para a sociedade é a criação de músicas com apologia à violência.
E ainda, o quanto esse tipo de letras ainda constitui parte do caráter de muitos homens. Olhando
para o lado da defesa da mulher, apenas em um passado recente foi aprovada a Lei Maria da
Penha. Apenas no século XXI, aprovada uma lei que visa defender os direitos da mulher.
A taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo. De acordo com o Instituto Patricia
Galvão, “Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas
motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da
propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis
discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro”.
E a lista poderia seguir por muitas páginas. E como um absurdo desses se tornou algo
normal? Como a sociedade é conivente com esse tipo de comportamento? Artista famoso e
reverenciado, da velha guarda até os mc’s da atualidade, todos eles fazendo sua fama através da
violência, criando cultura, disseminando o ódio, é realmente inexplicável como a sociedade
muitas vezes se deixa levar pela onda da moda, sem qualquer questionamento. E do outro lado,
mães, irmãs, tias, avós, amigas, todas sendo cruelmente violentadas todos os dias. Ao analisar
historicamente, é notável que todo o século passado viveu com o consentimento da cultura
midiática musical brasileira em tratar com normalidade a violência, a subalternidade do sujeito
feminino. Ao apoiar a permanência de tais estereótipos, ha uma conivência com o
comportamento de massa, e isso reforça a nulidade da mulher, a coerção para que ela abaixe a
cabeça, obedeça e não tenha voz. Isso dificulta o acesso da mulher ao respeito e aos direitos nos
mais diferentes aspectos sociais.
Por mais que o movimento feminista e sua luta tenham conseguido conquistas para a
mulher, a existência de musicas que diminuam e façam a apologia a qualquer diminuição do
sujeito feminino, fazem com que a mulher precise remar contra a corrente. São aspectos sociais
que obstaculizam as conquistas de direitos iguais, de poder viver em uma sociedade que respeita
e valoriza essa mulher. A mídia, ao propagar conteúdos sem reflexão, sem uma peneira de
dignidade social, faz o papel de vila e formadora de indivíduos machistas, patriarcais, e por trás
disso, os números de feminicídio aumentam a cada dia.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recentemente o cenário está um pouco mais atento, e artistas do sexo masculino já não
saem tão impunes e estão sendo expostos para que revejam seu comportamento, como é o caso
do MC Diguinho, que precisou se desculpar publicamente após protestos no carnaval de
Pernambuco. Movimentos onde os homens reconhecem a misoginia e voltam atrás, como o caso
do musico Criolo, que refez muitas de suas letras para gravar seus discos quando percebeu que
eram misóginas, são bem raros. Talvez seja irrelevante e insignificante para muitos homens, ter
contato com esses dados, com essa realidade. É mais fácil ficar tranquilo quando não somos
vitimas de preconceito, de violência. É algo que fica distante, que não nos diz respeito. E é
também por isso que a violência precisa ser denunciada, para que não aja mais impunidade. E
situações que fazem apologia a violência contra a mulher, precisam ser escancaradas, para que
cesse o movimento destruidor e que a mídia apoia e se vincula, dia a pós dia. Porque quem está
sentado no privilégio não se importa muito com o que acontece ao redor.
Qualquer estilo de música, sem importar de que artista se trata sua relevância ou
popularidade, precisa respeitar a dignidade e o valor da mulher como ser humano. Se
conseguirmos ultrapassar as armadilhas do patriarcado, chegaremos a um ponto onde reflexões
como essa não serão mais necessárias.
REFERÊNCIAS
FISCHER, Luís Augusto. Como ensinar o que aprendi sem perceber. In: FISCHER, Luís
Augusto; LEITE, Carlos Augusto Bonifácio. O alcance da canção: Estudos sobre música
popular. Porto Alegre: Arquipélago, 2016. p. 10-29.
VELEDA, Suelen Gomes. A cultura da violência contra a mulher na música brasileira (1930-
2017). Mafuá, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, n. 31, 2019.
https://artigo19.org/wp-content/blogs.dir/24/files/2017/12/Os-Dados-Sobre-Feminic
%C3%ADdio-no-Brasil.pdf