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HISTÓRIA

5
ENSINO
MÉDIO
HISTÓRIA
Gislane Azevedo
Reinaldo Seriacopi

IDADE MODERNA I: DA FORMAÇÃO DO ESTADO


MODERNO À CONQUISTA ESPANHOLA
1 A formação do Estado moderno. . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2 A revolução cultural do Renascimento . . . . . . . . . . . 15
3 A Reforma protestante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4 As Grandes Navegações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5 Os impérios coloniais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
6 O absolutismo monárquico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
HISTÓRIA

7 Civilizações americanas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8 A conquista espanhola. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

2137789 (PR)

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


MÓDULO
Idade Moderna I: da formação do Estado
moderno à conquista espanhola

Vista de Ceuta, atual Marrocos. A tomada de Ceuta


pelos portugueses, em 1415, marcou o início das conquis-
tas europeias durante as Grandes Navegações. Gravura
em cobre (1582) de Georg Braun e Franz Hogenberg.
AKG-IMAGES/ALBUM/LATINSTOCK/BIBLIOTECA BRITÂNICA, LONDRES, INGLATERRA
REFLETINDO SOBRE A IMAGEM

Qual é a origem dos Estados nacionais como os


conhecemos hoje? E do processo que denomi-
namos globalização? Será que sempre foi fácil
viajar de um lado a outro do planeta como é
atualmente?
Neste módulo estudaremos como a formação
do Estado moderno contribuiu para uma série
de mudanças econômicas, culturais, sociais e
políticas que levaram à ampliação do mundo co-
nhecido até então.

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CAPÍTULO

1 A formação do Estado
moderno

Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo.

Objetivos: Existem atualmente cerca de duzentos Estados soberanos no mundo. Todos contam com
unidade territorial, sistemas jurídico e econômico unificados e mecanismos centralizados de ar-
c Perceber as disputas, recadação de impostos para custear as despesas com saúde, educação, forças armadas, funciona-
os mecanismos lismo público, etc.
e as estratégias Tal forma de organização é fenômeno relativamente recente na História. Durante a Idade Média
empreendidas pelos europeia, por exemplo, muitas das atividades hoje atribuídas ao Estado, como a cobrança de impos-
monarcas para a tos, a defesa territorial e a aplicação da justiça, estavam sob a responsabilidade dos senhores feudais,
centralização do poder.
que concentravam um enorme poder dentro dos limites de suas terras.
c Reconhecer o papel e as Essa situação começou a mudar a partir do século XI, quando teve início um lento processo de
reações dos diferentes centralização do poder nas mãos dos reis. A formação das primeiras monarquias nacionais europeias
grupos sociais – clero, é o tema deste capítulo.
nobreza, burguesia e

LOOK AND LEARN/PETER JACKSON COLLECTION/THE BRIDGEMAN/KEYSTONE


as camadas baixas
(camponeses pobres) –
durante esse processo.

c Identificar os principais
acontecimentos e
interesses envolvidos
no processo de
formação das primeiras
monarquias nacionais
europeias.

A Rainha como chefe do Parlamento. Gravura inglesa do século XIX representando a rainha Elizabeth, que
governou a Inglaterra entre 1558 e 1603, diante dos parlamentares ingleses.

4 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


O FORTALECIMENTO DO PODER REAL
A “explosão” comercial e urbana iniciada no século XI na Europa ocidental deu lugar ao surgi-
mento de um novo grupo social: a burguesia, formada principalmente por mercadores. Entretanto, a
fragmentação política e econômica dos reinos em feudos dificultava a expansão dos negócios. Como
poderiam os comerciantes calcular o preço de seus produtos se os senhores feudais dos lugares pelos
quais eram obrigados a passar com suas mercadorias utilizavam moedas, pesos e medidas diferentes?
Além disso, a quem se queixar contra os abusos praticados por esses senhores?
Reagindo a essa situação, os burgueses procuraram se aproximar dos reis, em busca de ajuda.
Alguns monarcas, interessados em ter acesso ao dinheiro da burguesia, passaram a adotar medidas
em favor desse grupo social. Em algumas regiões, os senhores feudais também recorriam ao rei em
busca de apoio militar para conter rebeliões camponesas em seus feudos, ou para intermediar dis-
putas com outros senhores. Ao mesmo tempo, nas camadas baixas da sociedade, muitas pessoas
começaram a ver no soberano um defensor dos pobres contra a opressão dos senhores feudais.
Dessa forma, o rei foi deixando pouco a pouco de ser mais um senhor feudal entre muitos.
Na qualidade de árbitro de disputas e protetor de certos grupos sociais, seu poder tornou-se cada
vez maior. Essa mudança foi lentamente acompanhada de alterações importantes no sistema de
lealdades. As pessoas que, no auge do feudalismo, deviam prestar lealdade em primeiro lugar ao
senhor feudal ao qual estavam ligadas, voltavam-se agora para o rei, que passava a ser o principal
destinatário de lealdade.
A partir do século XI, de forma lenta e gradual, por meio da ação política ou da força, os monar-
cas submeteram à sua autoridade os poderes locais, centralizaram o comando do exército, estabelece-
ram fronteiras para seus territórios e colocaram os habitantes dessas regiões sob seu poder. Nasciam
assim as monarquias nacionais europeias, chamadas por alguns historiadores de monarquias feudais.
A seguir veremos como esse processo se manifestou em algumas regiões da Europa.

FINE ART IMAGES/HERITAGE IMAGES/BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE RUPRECHT KARL, HEIDELBERG, ALEMANHA

HISTÓRIA

Iluminura representando Venceslau II, rei da Boêmia,


reproduzida do manuscrito alemão Codex Manesse
(1305-1340). Acervo da biblioteca da Universidade de
Heidelberg, Alemanha.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 5


VEJA O FILME A INGLATERRA SOB OS NORMANDOS
O leão no inverno, de Anthony
Em 1066, a Inglaterra foi invadida por um exército normando comandado por Guilherme, o
Harvey. Inglaterra, 1968. (134 min). Conquistador, duque da Normandia – região da França. Depois de vencer os saxões na batalha de
Hastings, Guilherme tornou-se rei da Inglaterra.
O rei Henrique II da Inglaterra
reúne-se com a família para de- Diferentemente do que ocorria em outras regiões da Europa, o novo monarca centralizou o
cidir quem o sucederá. Cada um poder, obrigou os homens livres a lhe prestar juramento de vassalagem e aprimorou o sistema de
de seus três filhos inicia, então, cobrança de impostos.
uma rede de estratégias e alian- Após a morte de Guilherme, em 1087, o fortalecimento do poder real iniciado por ele pros-
ças para ser o próximo rei. seguiu, sobretudo no reinado de Henrique II (1154-1189), que adotou um conjunto de leis a ser
aplicado em toda a Inglaterra, a Commom Law, enfraquecendo ainda mais a nobreza.

A Carta Magna e o Parlamento inglês


Cada vez mais afastados do centro de decisões, os senhores feudais procuraram reagir contra
essa política centralizadora. Sua primeira grande vitória ocorreu em 1215, quando um grupo de no-
bres, chamados genericamente de “barões”, cercou o rei João Sem-Terra (1199-1216) e suas tropas às
margens do rio Tâmisa. Após alguns dias de luta, o monarca concordou em atender às exigências de
seus adversários contidas em um documento que passou à História com o título de Carta Magna.
Embrião das futuras garantias gerais do povo inglês, a Carta Magna tinha por objetivo assegurar
apenas os direitos dos grupos sociais mais ricos, estabelecendo limites para o poder real. Impedia o rei,
por exemplo, de aumentar impostos e criar leis sem a aprovação do Grande Conselho – assembleia
formada por representantes da nobreza e do alto clero – e assegurava proteção contra arbitrariedades
do poder monárquico.
No século XIII, o Grande Conselho passou a ser chamado de Parlamento. Em 1350, ele foi
dividido em duas Câmaras: a dos Lordes – formada por nobres e clérigos – e a dos Comuns – com-
posta de burgueses e de cavaleiros, grupos que até então não contavam com um canal de expressão
de seus interesses.

THE ART ARCHIVE/CORBIS/LATINSTOCK

Detalhe da Tapeçaria de Bayeux (século XI) representando um aspecto da Batalha de Hastings, travada em 1066 e na qual o duque normando
Guilherme, o Conquistador, derrotou as forças do rei saxão Haroldo II e conquistou a Inglaterra.

6 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


AS ORIGENS DA FRANÇA
A gradativa unificação dos diversos feudos em um único Estado na França começou por volta
de 987, ano em que a dinastia dos capetíngios chegou ao poder. A partir do século XI, atendendo
às demandas da burguesia, os reis capetíngios garantiram a segurança das estradas e restauraram a
salvaguarda, figura jurídica que colocava as cidades sob a proteção real. Tais medidas contribuíram
para a expansão do comércio e ajudaram a elevar o prestígio do rei junto à população. Para algumas
pessoas, o rei passou a ser visto como protetor da paz, defensor de camponeses e burgueses e amigo
dos pobres.
Um dos capetíngios que mais contribuíram para esse processo de centralização política foi
Filipe II (1180-1223). Entre outras medidas, ele convidou representantes da burguesia para trabalhar
em seu governo e delegou a agentes administrativos – os bailios – as tarefas de cobrar impostos,
fiscalizar o comércio e intermediar disputas entre senhores feudais (antes, eram estes que cobravam
os impostos).
Já o rei Luís IX (1226-1270), mais tarde canonizado como São Luís, instituiu uma moeda de cir-
culação nacional (antes, cada senhor feudal podia cunhar a própria moeda) e ampliou o poder dos
tribunais do rei, em detrimento dos tribunais controlados pelos senhores feudais.

Confronto com a Igreja


Particularmente importante nesse processo foi o reinado de Filipe IV, o Belo (1285-1314), que
obrigou o clero a pagar impostos (antes, era isento dessa obrigação). Como o papa Bonifácio VIII
se opunha à medida, Filipe convocou uma assembleia de representantes da nobreza, do clero e da
burguesia. Reunida em 1302 e conhecida como Estados Gerais, a assembleia aprovou a cobrança
do imposto. Ao mesmo tempo, Filipe IV proibiu que a renda das propriedades da Igreja na França
fosse enviada a Roma.
Após a morte de Bonifácio VIII em 1303, foi eleito um papa francês, Clemente V, que, sob pressão
de Filipe IV, transferiu, em 1309, a sede do papado para Avignon, na França, onde ela ficaria até 1377.
A concentração de poderes nas mãos do rei não se restringiu a medidas contra a nobreza e o
clero, mas implicou também a mobilização dos sentimentos de identidade nacional do povo francês,
sobretudo a partir da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada contra a Inglaterra.
DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/ALBUM/LATINSTOCK/MUSEU DE BELAS ARTES DE VIENA, ÁUSTRIA

HISTÓRIA

Retrato do século XVI, representando o


rei da França, Filipe IV, o Belo.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 7


As competências e habilidades do Enem estão indicadas em questões diversas ao longo do módulo. Se necessário, explique aos alunos que a utilidade deste
“selo” é indicar o número da(s) competência(s) e habilidade(s) abordada(s) na questão, cuja área de conhecimento está diferenciada por cores (Linguagens: laranja;
Ciências da Natureza: verde; Ciências Humanas: rosa; Matemática: azul). A tabela para consulta da Matriz de Referência do Enem está disponível no portal.

A Guerra dos Cem Anos


Guerra dos Cem Anos é o nome pelo qual ficaram conhecidos os conflitos que envolveram a Inglaterra e a França entre 1337 e
1453. Destacam-se como suas principais causas as disputas pelo controle da coroa da França e o desejo da Inglaterra de dominar a
região de Flandres, na Bélgica atual, produtora de tecidos e sob controle francês.
O conflito teve início quando tropas inglesas invadiram a França com o objetivo de unir as duas coroas. Eduardo III – rei da Ingla-
terra e neto de Filipe IV, o Belo, por parte de mãe – se dizia herdeiro legítimo do trono francês, que passara a ser disputado por vários
pretendentes desde a morte de Filipe em 1314. Durante o conflito, os dois reinos alternaram períodos de vitórias e derrotas, mas a
França acabou favorecida, pois expulsou os ingleses de seu território e consolidou a monarquia.
Um dos pontos de apoio dessa consolidação foi a formação de um nacionalismo embrio-
nário entre a população, para o qual muito contribuiu a ação de Joana d’Arc (1412-1431), jovem VEJA O FILME
camponesa de 18 anos que se dizia enviada por Deus para salvar a França. Com essa mensagem, Joana d’Arc, de Luc Besson.
ela injetou novo ânimo no exército francês, colocando-se à sua frente numa época em que a Estados Unidos, 1999. (155 min).
França perdia o confronto.
O filme narra a história da jovem
Em 1430, Joana d’Arc foi capturada e condenada à morte na fogueira, acusada de heresia pelos heroína francesa.
ingleses. Canonizada mais tarde pela Igreja católica, é hoje considerada heroína do povo francês.

PARA CONSTRUIR

1 A centralização do poder real na Europa foi resultado de uma tifique por que a Magna Carta é considerada uma precursora
m longa luta política alimentada por interesses de diversos gru- das futuras garantias gerais do povo inglês.
Ene-2
C 7
H- pos sociais. Defina quais eram esses interesses e que grupos A Magna Carta estabeleceu limites ao poder real e privilegiou importantes
sociais estavam envolvidos. grupos sociais, como a nobreza, ao impedir que o rei aumentasse os
Os interesses remetem ao renascimento comercial e urbano iniciado impostos ou criasse leis sem a aprovação do Grande Conselho. As
no século XI. Foi então que surgiu a burguesia, formada principalmente garantias do documento também beneficiaram a nascente burguesia,
por mercadores. Ela procurou aproximar-se dos reis, em busca de na medida em que lhe garantia o direito ao livre-comércio no reino.
ajuda para modificar aspectos da vida medieval que prejudicavam
a expansão de seus negócios. Por outro lado, alguns monarcas,
interessados no poder econômico da burguesia, adotaram medidas
favoráveis a esse grupo. Com o passar do tempo, esses interesses 3 Descreva, em linhas gerais, o processo de unificação da mo-
levaram ao nascimento das monarquias nacionais europeias. narquia francesa.
Na França, o processo de centralização do poder teve início durante
2 (UFPR – Adaptada) Leia os seguintes excertos da Magna Car- a dinastia dos capetíngios e contou com o apoio da burguesia. Ao
m
Ene-3
ta inglesa de 1215: centralizar o poder, as medidas tomadas favoreceram o comércio e
C 1
H1
- 12 – Nenhum imposto ou pedido será estabelecido contribuíram para ampliar o prestígio do rei para com a população. O rei
no nosso reino sem o consenso geral. [...] Que tudo se Filipe II (1180-1223) foi particularmente importante nesse processo
passe da mesma maneira no que respeita às contribuições de centralização. Ele integrou membros da burguesia no seu governo
da cidade de Londres [...].
e delegou a cobrança de impostos e a fiscalização do comércio para
61 – [...] Instituímos e concedemos aos nossos barões
a seguinte garantia: elegerão vinte e cinco barões do reino, agentes administrativos. Posteriormente, Luís IX (1226-1270) criou
os quais deverão com todo o seu poder observar, manter uma moeda de circulação nacional e ampliou o poder dos tribunais do
e fazer cumprir a paz e as liberdades que nós concedemos. [...] rei (em oposição aos tribunais controlados pelos senhores feudais).
DAVIS, C. R. C. Magna Carta: the trustees of the British Museum, Finalmente, Filipe IV (1285-1314) convocou uma assembleia
1963. p. 16-23. Apud ESPINOSA, Fernanda. Antologia de
textos medievais. Lisboa: Sá da Costa. p. 326-327. conhecida como Estados Gerais, com representantes da nobreza,
A partir dos trechos acima e de seus conhecimentos sobre a do clero e da burguesia. Essa assembleia aprovou a cobrança de
monarquia inglesa na Idade Média, discorra sobre a relação impostos sobre o clero, resolvendo uma disputa entre Filipe
dos nobres e dos burgueses ingleses com a sua realeza e jus- IV e o papa Bonifácio VIII e fortalecendo ainda mais o poder real.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 e 2 Para aprimorar: 1 e 2

8 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


CRISTÃOS VERSUS MOUROS VEJA O FILME
Nos primeiros séculos da era cristã, a península Ibérica era uma província do Império Romano
El Cid, de Anthony Mann. Estados
conhecida como Hispânia. Com as conquistas germânicas do século V, ela foi ocupada por diversos Unidos e Itália, 1961. (184 min).
povos, entre eles os visigodos, que se converteram ao cristianismo. Em 711, quase toda a península
O filme narra a história de El Cid,
caiu sob o domínio dos árabes muçulmanos (veja o boxe “Os muçulmanos na península Ibérica”, na guerreiro espanhol do século XI
próxima página). que viveu na região da atual Espa-
Sete anos mais tarde, cristãos refugiados nas montanhas das Astúrias, no norte da península, nha, à época dividida entre católi-
deram início a ações de resistência ao domínio muçulmano. Com essas ações, começava a Recon- cos e mouros.
quista, conjunto de lutas empreendidas pelos cristãos com o objetivo de recuperar as terras perdidas
para os muçulmanos e expulsá-los da península.
Foi somente a partir do século XI, porém, que a ofensiva contra os muçulmanos se tornou siste-
mática. Pouco a pouco, ao longo de quase quatro séculos, caíram um após outro os centros da cultura
árabe: Toledo (1085), Córdoba (1236), Sevilha (1248), Cádiz (1262). O último reduto foi Granada, reto-
mada pelos cristãos em 1492 (veja os mapas abaixo).
À medida que os muçulmanos eram expulsos, reinos e condados cristãos expandiam seus territó-
rios. Lentamente, esse processo levaria à formação de dois Estados independentes: Portugal e Espanha.

A Reconquista (séculos IX a XIII)

1000 1085
Santiago de
Santiago de
NAVARRA Compostela
Compostela NAVARRA
ARAGÃO LEÃO
LEÃO CASTELA ARAGÃO
io
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Eb CONDADO CASTELA o

Ri
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PORTUCALENSE ro

Rio Tejo Toledo


Toledo
Lisboa CALIFADO DE
CÓRDOBA Valência Lisboa Valência
Córdoba
o
Córdoba âne
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Ma
OCEANO OCEANO

FONTE: WORLD History Atlas: Mapping the Human Journey. London: Dorling Kindersley, 2005.
ATLÂNTICO ATLÂNTICO

1212

Santiago de REINO DE
Compostela NAVARRA
Rio
E bro REINO DE
ARAGÃO
REINO DE
REINO DE CASTELA
PORTUGAL Rio Tejo

Lisboa Valência HISTÓRIA

Córdoba Las Navas


de Tolosa o
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REINO DE r Me
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N OCEANO GRANADA Domínios
ATLÂNTICO muçulmanos
0 142
Reinos cristãos
km

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 9


A FORMAÇÃO DE PORTUGAL
No fim do século XI, o rei Afonso VI, de Leão e Castela (dois dos reinos que formariam mais
tarde o território da atual Espanha), concedeu ao nobre francês Henrique de Borgonha o Condado
Portucalense, feudo situado no oeste da península Ibérica.
Anos mais tarde, em 1142, Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha, declarou-se rei
e proclamou a independência do condado, que passou a se chamar
DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/GETTY IMAGES

Portugal. Por 240 anos, os reis da dinastia de Borgonha, fundada por


Afonso Henriques, viveram em constante conflito com o reino de
Castela. Nesse período, expandiram o território português em direção
ao sul e fizeram de Lisboa a capital do novo reino.
Em 1383, com a morte do último rei da dinastia de Borgonha,
Castela tentou anexar Portugal aos seus domínios. Diante disso, a
sociedade portuguesa se dividiu entre os favoráveis e os contrários à
anexação. A luta foi decidida em 1385, a favor dos que defendiam a
independência de Portugal – facção formada pelos mercadores, por
uma parte da nobreza e pelos setores mais pobres da população –,
que colocaram no trono o mestre da ordem militar da cidade de
Avis, dom João. O episódio tornou-se conhecido como Revolução
de Avis. Consolidava-se assim o poder monárquico em Portugal.

Azulejo português do século XVIII retrata a vitória de Aljubarrota contra os


castelhanos, ocorrida em 14 de agosto de 1385. O episódio marca o fim da
Revolução de Avis e o início da dinastia de Avis.

Os muçulmanos na península Ibérica


Os árabes influenciaram fortemente a agricultura e o artesanato na península Ibérica, onde eram chamados de mouros.
Após a conquista, surgiram pomares e hortas e foram introduzidas culturas até então desconhecidas na região, como o arroz, a
cana-de-açúcar e a amoreira.
A mineração, praticada na península desde a Antigui-

KAROL KOZLOWSKI/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES


dade, intensificou-se. A confecção de tecidos de algodão, de
lã e de seda e o trabalho em couro também prosperaram. Os
árabes foram os iniciadores do fabrico de papel em Toledo.
Entre as tantas inovações trazidas pelos muçulmanos, a
mais importante estava ligada à arte da navegação. O contato
com os mouros influenciou o aprimoramento da indústria
naval e de diversos instrumentos náuticos, que se fariam es-
senciais às Grandes Navegações iniciadas no século XV.
Fontes: ABRANSON, M.; GUREVITCH, A.; KOLESNITSKI, N.
História da Idade Média: do século XI ao século XV.
Lisboa: Estampa, 1978; RAMOS, F. P. No tempo
das especiarias: o império da pimenta e do açúcar.
São Paulo: Contexto, 2004.

Construída na Espanha entre 784 e


786, a mesquita de Córdoba tornou-se
um dos maiores templos do mundo
islâmico depois de sua ampliação nos
séculos IX e X. No século XIII, porém,
a mesquita foi convertida em catedral
cristã, com a construção de um altar e
a transformação do minarete
em campanário.

10 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Ao assumir o trono com o título de dom João I, o mestre de Avis deu início a uma ampla política
de favorecimento da burguesia. Tal política, seguida também por seus sucessores, criou as condições
necessárias para que Portugal se sobressaísse nas áreas tecnológica e militar e se lançasse ao mar em
busca de novos territórios.

A ESPANHA E A INQUISIÇÃO
Até as últimas décadas do século XV, o atual território da Espanha encontrava-se dividido em
diversos reinos, como Leão, Aragão e Castela. Havia ainda, ao sul, o reino de Granada, último reduto
muçulmano na península Ibérica.
Em 1469, Fernando, rei de Aragão, casou-se com Isabel, filha do rei de Castela. Com a morte
do pai, Isabel tornou-se rainha de Castela. Ela e Fernando decidiram então unir as duas coroas,
dando origem ao reino de Aragão e Castela. Era o primeiro passo para a formação da Espanha
moderna.
O passo seguinte seria dado logo depois, quando Fernando e Isabel – conhecidos como reis
católicos – firmaram com a Igreja uma aliança com o objetivo de expulsar da Espanha muçulmanos
e judeus. Dessa forma, em 1478 o papa Sixto IV assinou uma bula autorizando a criação do Tribunal
do Santo Ofício (ou Inquisição) na Espanha, subordinado aos reis católicos.
Teve início, então, um período de intolerância e perseguições a dissidentes e opositores por
razões políticas e, sobretudo, religiosas. Qualquer acusação anônima podia levar o acusado ao cár-
cere, onde as confissões eram arrancadas sob tortura. O réu considerado culpado era geralmente
condenado à morte na fogueira. As pessoas perseguidas tinham seus bens confiscados e divididos
entre o Estado e a Igreja.
Assim, o Tribunal do Santo Ofício era, para os reis da Espanha, um instrumento inquestionável
de poder: sob o terror da Inquisição, possíveis reações ou revoltas de setores da população contra
a centralização do Estado ou contra qualquer política do governo, nas mãos de Fernando e Isabel,
morriam no nascedouro.

ALESSANDRO MAGNASCO/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

HISTÓRIA

Sala de interrogatório da Inquisição em óleo sobre tela de cerca de 1710-1720, de Alessandro Magnasco (1667-1749).

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 11


ENQUANTO ISSO...
Os algarismos indo-arábicos

YASUYOSHI CHIBA/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE


O sistema de numeração decimal surgiu na Índia, por volta do século VI.
Em 810, ele era citado em um texto do matemático persa Muhammad ibn
al-Khwarizmi, responsável pela difusão dos símbolos de 0 a 9 que hoje conhe-
cemos. De seu nome veio a palavra algarismo.
Em 1202, enquanto os cristãos tentavam expulsar os muçulmanos da
antiga Hispânia, na península Itálica, o matemático Leonardo Fibonacci (1170?-
-1240) tornava-se o primeiro europeu a usar os algarismos indo-arábicos. Até
então, apenas os algarismos romanos eram empregados na Europa.
Finalista do jogo japonês Sudoku,
durante competição nacional em São
Paulo, em setembro de 2012.

Atividade
Experimental

Acesse o Material Complementar disponível


no Portal e aprofunde-se no assunto.

PARA CONSTRUIR

4 Observe novamente os mapas “A Reconquista (séculos IX a a) o enfraquecimento do poder monárquico diante das
m XIII)”, da página 9, e responda: pressões localistas que ainda sobreviviam nas pequenas
Ene-2
C 6
H- a) Em que mapa aparece pela primeira vez o Condado Por- circunscrições territoriais do reino.
tucalense, origem do reino de Portugal? b) o surgimento de uma burguesia industrial cosmopolita
No segundo mapa, que mostra a península em 1085, quando
e afinada com a mentalidade capitalista que se instaura
na Europa.
o Condado Portucalense foi entregue pelo rei Afonso VI ao
c) o início das Grandes Navegações marítimas, que resulta-
nobre francês Henrique de Borgonha.
ram no descobrimento da América e no reconhecimento
da Oceania pelos lusitanos.
d) o início do processo de expansão ultramarina, que levaria
b) Em que mapa a extensão dos domínios muçulmanos é às conquistas no Oriente, além da ocupação e do desen-
claramente menor do que os territórios sob o controle volvimento econômico da América portuguesa.
das monarquias ibéricas cristãs? e) o surgimento de uma aristocracia completamente in-
Apenas no último mapa, que mostra a península em 1212,
dependente do Estado, que tinha como projeto político
quando os muçulmanos detinham apenas o reino de Granada.
mais relevante a expansão do ideal cruzadista.

6 (UFPE) Sobre as guerras e revoltas que fortaleceram a for-


c) Qual é a relação entre a diminuição dos territórios muçulmanos m
Ene-2
mação dos Estados modernos europeus, relacione as colu-
C 7
e a centralização do poder monárquico dos reinos ibéricos? H- nas a seguir.
À medida que os muçulmanos eram expulsos, reinos e condados (1) Portugal (3) Guerra das Duas Rosas
cristãos expandiam seus territórios. Lentamente, o processo (2) Espanha (4) Guerra dos Cem Anos
de lutas, o sentimento de apego ao território e a união de (3) Inglaterra (2) Guerra da Reconquista
alguns reinos (por meio de casamentos ou disputas) levaram (4) França (1) Revolução de Avis
à formação dos dois Estados nacionais, Portugal e Espanha. A sequência correta é: c
a) 1, 4, 2 e 3. Explique aos alunos que a chamada Guerra das
b) 3, 4, 1 e 2. Duas Rosas ocorreu entre 1455 e 1485 e foi um
5 (UFRGS-RS) Durante a Baixa Idade Média, ocorreu em Portugal c) 3, 4, 2 e 1. conflito entre as duas famílias mais poderosas da
nobreza inglesa, os York e os Lancaster, que dis-
a denominada Revolução de Avis (1383-1385), que resultou em d) 2, 1, 4 e 3.
putavam o poder. Avise-lhes que esse tema será
uma mudança dinástica, cuja principal consequência foi: d e) 1, 4, 3 e 2. aprofundado posteriormente.

12 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


7 A monarquia espanhola foi centralizada graças ao casamento dos “reis católicos”, Fernando, rei de Aragão, e Isabel, futura rainha de
Castela, em 1469. Quais foram os fatores políticos fundamentais na consolidação do poder real sobre o território espanhol?
Após a união dos dois reinos, os reis católicos selaram com a Igreja uma aliança com o objetivo de expulsar da Espanha muçulmanos e judeus.
Em 1478, o papa Sixto IV assinou uma bula autorizando a criação de um Tribunal do Santo Ofício na região, controlado pelo governo. Para Fernando
e Isabel, o tribunal da Inquisição funcionava como um braço de seu poder. O Tribunal deu início a um período de intolerância e perseguições a
dissidentes e opositores por razões religiosas e políticas. Sob a ação da Inquisição, as reações contrárias à centralização do Estado nas mãos
de Fernando e Isabel, ou contra qualquer política do governo, partissem essas reações de pessoas das camadas baixas da sociedade, de antigos
senhores feudais ou de representantes da burguesia, seriam sufocadas no nascedouro.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 3 Para aprimorar: 3 e 4

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

d) o pensamento escolástico de Santo Agostinho (1225-


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR -1274) predomina nesse contexto em detrimento da pers-
pectiva cristã de São Tomás de Aquino (354-430).
1 (UEL-PR) No processo de formação das monarquias nacio- e) pertence a esse período a série de conflitos conhecida
nais europeias, o desenvolvimento do comércio e das ci- como Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Entre franceses
dades: e ingleses, essa guerra se iniciou no século XIV, perduran-
a) criou a necessidade de centralização do poder para uni- do até o século XV, e contribuiu para a formação dos Esta-
ficar os tributos, as moedas, os pesos e medidas, as leis e dos nacionais inglês e francês.
mesmo a língua. 3 A península Ibérica foi ocupada por diversos povos ao longo
b) ocorreu sob uma luta de interesses que aliou a burguesia,
m
Ene-2
de sua história. Indique, cronologicamente, como ocorreram
a Igreja, os artesãos e os servos contra o rei e a nobreza. C 8
H- essas ocupações, desde o início da era cristã até a formação
c) contribuiu para que a nobreza e a burguesia impuses- dos reinos de Portugal e Espanha.
sem uma autoridade de cunho particularista no controle
das cidades.
d) criou condições para que a autoridade do rei, no Estado
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
moderno, fosse limitada pelo Parlamento.
e) promoveu a subordinação do poder real aos duques e
condes, que possuíam grandes exércitos. 1 (Vunesp) No século XIII, os barões ingleses, contando com
o apoio de alguns mercadores e religiosos, sublevaram-se
2 (PUC-PR) A peste negra matou mais da metade da população
contra as pesadas taxas e outros abusos. O rei João Sem-Ter-
m
Ene-6
europeia em meados do século XIV. Causada pela bactéria
C 7 ra acabou aceitando as exigências dos vassalos sublevados
H-2 Yersinia pestis, a doença representou uma ameaça às áreas
mais pobres e infestadas de ratos. A partir do contexto das e assinou a Magna Carta. Pode-se afirmar que o documento
adversidades vividas na Europa desse período, marque a al- apresenta importante legado do mundo medieval porque:
ternativa correta: a) reafirmava o princípio do poder ilimitado dos monarcas
a) esse período também é marcado pelo fortalecimento para fixar novos tributos.
do poder e do prestígio do papado. O ideal medieval de b) freou as lutas entre os cavaleiros e instituiu o Parlamento,
HISTÓRIA

uma comunidade cristã unificada e guiada pelo papa foi subdividido em duas Câmaras.
reforçado. c) assegurava antigas garantias a uma minoria privilegiada,
b) marca esse período a assinatura do Tratado de Verdun, mas veiculava princípios de liberdade política.
que acabou com o reino construído por Carlos Magno. d) limitou as ambições políticas dos papas, mesmo tratando-
c) a peste negra influenciou, positivamente, o fortalecimen- -se de um contrato feudal.
to do poder dos senhores feudais e marcou o declínio das e) proclamava os direitos e as liberdades do homem do
atividades comerciais. povo, através de 63 artigos.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 13


2 (UEL-PR) Leia o texto a seguir e responda à questão. 3 (PUC-PR) Em plena Idade Média (1139-1140) nasceu Por-
m
Ene-3 [...] O rei fora um aliado forte das cidades na luta tugal, originário do Condado Portucalense. Enquanto o
C 3
H-1
contra os senhores. Tudo o que reduzisse a força dos ba- feudalismo era a marca política da Europa Ocidental, em
rões fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua aju- Portugal mostrava-se frágil: o pequeno reino nascia uni-
da, os cidadãos estavam prontos a auxiliá-lo com emprés- ficado.
timos em dinheiro. Isso era importante, porque com o Sobre o tema e a evolução posterior, assinale a opção correta:
dinheiro o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vas- I. O Condado Portucalense transformou-se em Estado,
salos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre tendo sua independência proclamada por D. Afonso
a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor. Henriques.
Seria também um exército melhor, porque tinha uma úni- II. Nos finais do século XIV ocorreu uma crise dinástica:
ca ocupação: lutar. Os soldados feudais não tinham prepa- com a morte de D. Fernando extinguiu-se a dinastia de
ro, nem organização regular que lhes permitisse atuar em Borgonha.
conjunto, com harmonia. Por isso, um exército pago para III. A Revolução de Avis levou ao trono D. João, Mestre de
combater, bem treinado e disciplinado, e sempre pronto Avis, apoiado pela burguesia de Lisboa e do Porto, além
quando dele se necessitava, constituía um grande avanço. da adesão entusiástica da “arraia miúda”.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. IV. A dinastia de Avis repeliu a política de expansão marítima,
Rio de Janeiro: Zahar, 1977. p. 80-81.
fixando prioridades da agricultura, meio de agradar à alta
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é nobreza lusitana.
correto afirmar: V. Devido à política da dinastia de Avis, a expansão marí-
I. A organização de exércitos sob o comando do rei contri- tima somente ocorreria com o advento da dinastia de
buiu para o processo de formação dos Estados nacionais. Bragança.
II. A decadência da burguesia possibilitou o fortalecimen- a) As opções I, II e III estão corretas.
to do poder real e a constituição dos Estados nacionais b) Apenas a opção III está correta.
europeus. c) As opções II, III e IV estão corretas.
III. A teoria política do período sacralizou a figura do monar- d) As opções III, IV e V estão corretas.
ca, já que afirmava serem os reis escolhidos por Deus para e) As opções II, IV e V estão corretas.
exercer o governo.
IV. Com os Estados nacionais constituídos, a Igreja continuou
4 Ainda hoje, muitos povos lutam pelo direito de constituir seu
m
Ene-2
próprio Estado: curdos na Turquia e no Iraque, bascos na Es-
a ocupar um espaço importante dentro dos reinados, ba- C 8
H- panha, palestinos no Oriente Médio, entre outros. Com um
seada na autoridade suprema do papa.
grupo de colegas, escolha um desses povos e faça uma pes-
Assinale a alternativa correta. quisa sobre ele. Depois, debata a situação em que tal povo se
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. encontra hoje, procurando identificar os fatores que o impe-
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. dem de formar seu próprio Estado. Monte um cartaz informa-
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas. tivo, com mapas e dados da sua pesquisa, a ser apresentado
d) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. à classe e afixado nos murais (ou paredes) da escola, após a
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. orientação do professor.

ANOTAÇÕES

14 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


CAPÍTULO

2 A revolução cultural do
Renascimento

Objetivo: Cem mil euros. Esse foi o preço que alguns colecionadores se dispuseram a pagar por uma
obra a respeito do artista renascentista Michelangelo, publicada recentemente na Itália. Por que
c Identificar origens,
esse livro custou tanto?
concepções e valores
A razão é que a obra, com tiragem de apenas 99 exemplares, foi feita de forma artesanal,
da corrente de
segundo a técnica de produção de livros de meados do século XV, quando Johannes Gutenberg
pensamento conhecida
(re)inventou a impressão por tipos móveis, que os chineses haviam criado quatro séculos
como Humanismo.
antes.
c Conhecer as principais O papel do livro também foi produzido artesanalmente, e o veludo de seda que cobre a capa
características do foi feito em teares antigos, capazes de produzir apenas 8 centímetros de tecido por dia. Todo o
movimento artístico, processo, desde a fabricação do papel até a impressão e a encadernação de um exemplar da obra,
científico e intelectual durou seis meses.
denominado Se hoje seis meses para imprimir um livro parece muito, no século XV, com os tipos móveis
Renascimento. de impressão, era uma verdadeira revolução.
Na imagem, Fabio Lazzarri (à direita), vice-presidente da Fundação FMR-Marilena Ferrari,
c Compreender aspectos
apresenta o livro Michelangelo: la dotta mano (Michelangelo: a mão sábia) com imagens de famo-
políticos e econômicos
sas esculturas de Michelangelo a Francis Yeoh Sock Ping, diretor da Corporação YTL, em Kuala
relacionados a essas
Lumpur (Malásia).
renovações culturais.
Neste capítulo veremos como a invenção dos tipos móveis de impressão contribuiu para
c Perceber o contexto a rápida difusão dos ideais do Humanismo e das principais conquistas filosóficas, científicas
histórico (Europa e artísticas que ocorreram na Europa ocidental entre os séculos XIV e XVI e definiram o Re-
ocidental) em que nascimento.
se desenvolveu o

SAEED KHAN/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE


Renascimento.

HISTÓRIA

O livro, Michelangelo: la dotta mano, teve edição de 99 exemplares e foi produzido artesanalmente, resgatando
técnicas utilizadas na época do Renascimento. Foto de dezembro de 2008.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 15


A PENÍNSULA ITÁLICA NO SÉCULO XV
No início do século XV, a península Itálica era, do ponto de vista político, uma verdadeira colcha
de retalhos. Outrora unificado sob o Império Romano, seu território reunia naquela época diversos
pequenos Estados, com culturas, regimes políticos, dimensões territoriais e etapas de desenvolvi-
mento econômico bem variados.
Cinco desses Estados gozavam de maior influência na região: o Reino de Nápoles, ao sul; a Re-
pública de Florença e os Estados Pontifícios (pertencentes à Igreja), no centro; a República de Veneza
e o Ducado de Milão, ao norte.
Cidades como Florença, Milão, Roma e, principalmente, Gênova e Veneza haviam se tornado,
no decorrer dos séculos, importantes centros comerciais. Em Florença, por exemplo, em 1472 havia
mais de 350 oficinas têxteis: 270 produziam tecidos de lã e 83 fabricavam panos de seda. Ao lado
disso, a cidade contava com 33 casas bancárias.
Esses números refletem o enriquecimento das cidades da península, acelerado com a reativação
do comércio que se verificou na Europa a partir do século XI.

O Humanismo
A maior circulação de dinheiro e a expansão dos negócios exigiam profissionais especializados
na administração de empreendimentos bancários e mercantis. Em resposta a essa necessidade, teve
início um movimento de reforma educacional, pois o ensino, até então, encontrava-se basicamente
sob o controle da Igreja, que se preocupava em formar
LEONARDO DA VINCI/GALLERIA DELL’ACADEMIA, VENEZA

teólogos, médicos e advogados. Sob a pressão dessa de-


manda, universidades laicas se estabeleceram em diversos
pontos da Europa.
As novas escolas afirmavam a importância central
do ser humano, considerado a obra suprema de Deus.
Conhecida como antropocentrismo, essa concepção
era coerente com o princípio grego segundo o qual “o
ser humano é a medida de todas as coisas”. Ela se cho-
cava com a orientação das universidades controladas
pela Igreja, nas quais o pensamento era dominado pelo
teocentrismo – para o qual Deus (Theós, em grego) é a
fonte de todo o conhecimento e deve estar no centro da
reflexão filosófica.
Assim, o centro principal da reflexão nas novas uni-
versidades passou a ser a atividade humana em suas di-
versas implicações. A individualidade das pessoas come-
çou a ser valorizada, e elas foram estimuladas a utilizar a
capacidade criativa para transformar o mundo de acordo
com sua vontade.

Desenho de Leonardo da Vinci conhecido como Homem


vitruviano (1490). Esse nome é uma alusão ao romano Marcos
Vitrúvio Polião, que escreveu um tratado sobre arquitetura,
no qual estuda também as proporções do corpo humano. O
desenho de Da Vinci representa uma figura masculina inscrita
simultaneamente em um quadrado e em uma circunferência
em duas posições superpostas. Esse estudo é exemplificativo do
Humanismo renascentista, que atribuía particular importância ao
ser humano como “medida de todas as coisas”.

16 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Dessa forma, foram priorizadas disciplinas voltadas para os estudos humanos, como Poesia, Filo-
Portal
sofia, Gramática, Matemática, História e Eloquência, além daquelas ligadas ao antigo Direito romano. SESI
Educação
Esse movimento de ideias, conhecido como Humanismo, foi concomitante com o resgate do www.sesieducacao.com.br
conhecimento e das artes da Antiguidade Clássica e atingiu também outras áreas do saber, como Me-
Acesse o portal e explore a galeria
dicina, Astronomia, Filosofia, Literatura e Artes Plásticas. Textos de autores gregos e romanos, que nos
de imagens Arte renascentista.
séculos anteriores encontravam-se sob o controle da Igreja, foram recuperados pelos estudiosos laicos.
O mesmo ocorreu com as manifestações artísticas da Antiguidade Clássica – esculturas, tem-
plos, palácios, afrescos, peças de cerâmica e objetos de decoração –, que passaram a ser a principal
referência e fonte de inspiração de pintores, escultores, decoradores e arquitetos da península Itálica
a partir do século XV.
Também estavam no centro das preocupações a procura da beleza, o refinamento estético e a
inter-relação entre diferentes áreas do pensamento humano. Assim, um artista deveria se interessar
também por Filosofia, Ciências, Astronomia, Anatomia, etc. Quem mais se aproximou desse ideal
foi o pintor, escultor, arquiteto, anatomista, urbanista, engenheiro, inventor e desenhista Leonardo
da Vinci (1452-1519), autor do quadro Mona Lisa.

SUPERSTOCK/GLOW IMAGES
A expulsão de Heliodoro, afresco
O RENASCIMENTO pintado entre 1511 e 1512 por Rafael
(1483-1520), localizado no Palácio
O Humanismo surgiu no século XIV na península Itálica. De lá, difundiu-se pelo continen- Apostólico, no Vaticano. Foto de junho
HISTÓRIA
te europeu, dando origem a um movimento de renovação intelectual e artística conhecido como de 2012.
Renascimento. Esse nome foi dado pelo arquiteto toscano Giorgio Vasari (1511-1574) para mostrar
o desejo de se fazer “renascer” o pensamento e a arte dos antigos gregos e romanos.
Durante o Renascimento – ou Renascença, como também é chamado –, difundiu-se entre
os estudiosos a ênfase na procura de explicações racionais – e não baseadas na fé – para os fatos da
natureza. Esse tipo de pensamento, conhecido como racionalismo, negava a ideia de que a Igreja e
os livros sagrados eram suficientes para responder a todas as dúvidas humanas.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 17


Portal
Reflexões políticas e religiosas
SESI
Educação
Como reflexo dessas transformações, o próprio pensamento político passou por mudanças,
www.sesieducacao.com.br
graças principalmente ao florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de O príncipe, obra de
Acesse o portal e leia a história ciência política escrita em 1513. Nesse livro, a preocupação de Maquiavel não é o governo ideal,
em quadrinhos O príncipe, de como era para os pensadores medievais. Para ele, era mais importante analisar as formas pelas quais
Nicolau Maquiavel. os líderes realmente exerciam o poder.
O príncipe (ou rei) – dizia ele – não deveria se deter diante de nenhum obstáculo na luta para
conquistar ou conservar o controle de um Estado, mesmo que isso implicasse o uso da força e da
violência contra seus adversários.
Nesse processo de renovação do pensamento, a Igreja católica também foi alvo de críticas:
na esfera da reflexão sistemática e teórica, por pensadores como o humanista holandês Erasmo de
Roterdã (1466-1536), que em seu Elogio da loucura condenava a corrupção existente na instituição;
no âmbito da sátira literária, por autores como o francês François Rabelais (1494-1533) nos romances
Gargântua e Pantagruel.
Tudo isso contribuiu para abalar o catolicismo e preparar o terreno para uma ruptura defini-
tiva no interior da Igreja, que culminaria com o surgimento de um novo ramo do cristianismo, o
protestantismo.

O conhecimento do corpo humano


Na Idade Média, a Igreja não admitia a exploração científica do corpo humano. Com o Renas-
cimento, ao contrário, a prática de dissecação de cadáveres ganhou impulso, permitindo melhor
conhecimento da anatomia humana e do funcionamento dos órgãos. Isso provocou grandes avanços,
tanto na área cirúrgica como no diagnóstico de doenças.
ACESSE O SITE Graças a essas dissecações, órgãos até então desconhecidos foram observados e descritos. Al-
gumas ideias erradas a respeito do corpo humano também foram corrigidas. O fisiologista inglês
Venice connected
William Harvey (1578-1657), por exemplo, constatou que o coração, e não o fígado – como se
Passeio virtual pela cidade de acreditava antes –, era o órgão responsável pela circulação sanguínea.
Veneza (site em italiano).
Essa preocupação com o corpo humano e seu funcionamento era consequência direta do
Disponível em: <http://maps.
veniceconnected.it/en>. Acesso antropocentrismo e teve efeito imediato também nas artes plásticas. Assim, pintores e escultores
em: 10 dez. 2014. redescobriram a beleza da nudez feminina e masculina, cultuada sobretudo na Grécia antiga e que
havia deixado de ser objeto de atenção dos artistas medievais.

GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENCE

O nascimento de Vênus,
de Sandro Botticelli.
Têmpera sobre tela
(cerca de 1486).

18 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Heliocentrismo 3 geocentrismo
Segundo a doutrina da Igreja, a Terra (geo, em grego) era o centro do Universo e o Sol e a Lua
gravitavam ao seu redor. Essa teoria é conhecida como geocentrismo. Levado pelo espírito investi-
gativo, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) contestou essa concepção e colocou
em seu lugar o heliocentrismo, afirmando que a Terra girava ao redor do Sol (hélio, em grego).
As ideias de Copérnico foram retomadas por outros cientistas, como Giordano Bruno (1548-
-1600), nascido na península Itálica e condenado à morte pela Inquisição por defender o heliocen-
trismo, e Johannes Kepler (1571-1630), nascido no Sacro Império Romano-Germânico. Kepler chegou
à conclusão de que a órbita dos planetas era elíptica e não circular, como acreditavam os gregos, e
demonstrou matematicamente a validade da teoria heliocêntrica. VEJA O FILME
Também nascido na península Itálica, o físico Galileu Galilei (1564-1642) foi, assim como Gior-
dano Bruno, um defensor da teoria heliocêntrica. Devido às suas ideias, Galileu foi preso e torturado Giordano Bruno, de Giuliano
pela Inquisição e só não morreu na fogueira porque se retratou perante a Igreja, renunciando às suas Montaldo. Itália e França, 1973.
(114 min).
convicções. Apenas em 1992 o Vaticano reconheceria que errou ao acusá-lo de heresia.
Apoiado no trabalho desses cientistas, em 1687 o inglês Isaac Newton (1643-1727) publicou o O filme narra a história do filóso-
livro Principia, que revolucionou o conhecimento científico. A obra lançou os fundamentos da Física fo Giordano Bruno, condenado à
morte pela Inquisição por defen-
moderna. Ali estão expostos, por exemplo, uma teoria sobre o movimento dos corpos pela ação da gra- der o heliocentrismo.
vidade e os três princípios das leis do movimento: o de inércia, o de ação das forças e o de ação e reação.

PARA CONSTRUIR

1 (Cefet-CE) Considerando as relações existentes entre o Huma- fio consistia em ser absolutamente, radicalmente humano,
nismo e o Renascimento, pode-se afirmar corretamente que: b apenas humano.
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento, 1985.
a) o Humanismo constitui um movimento filosófico contrá-
rio ao Renascimento. Explique a caracterização que o texto faz do Renascimento e dê
b) o Humanismo constitui uma visão de mundo que permi- exemplo de uma obra artística em que tal intenção se manifeste.
tiu o resgate da herança greco-romana. O texto trata do Humanismo e do antropocentrismo, nos quais ocorre
c) o Humanismo e o Renascimento, embora sendo movi- a grande valorização dos elementos relacionados ao homem e
mentos contemporâneos, eram bem distintos e não apre- ao seu conhecimento. Poderiam ser apontadas como exemplo
sentavam semelhanças.
artístico a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, O nascimento
d) o Humanismo fazia uma severa crítica à herança greco-
de Vênus, de Sandro Botticelli, entre muitas outras obras.
-romana.
e) o Humanismo constituía-se num movimento de exalta- 4 (UFPE) O Renascimento – um importante período na história
ção aos valores medievais. da vida europeia – trouxe:
2 (Fuvest-SP) Nos séculos XIV e XV, a Itália foi a região mais rica ( F ) a ruptura da nobreza com o poder da Igreja, reforçando
e influente da Europa. Isso ocorreu devido à: e o fim do domínio político do papa e o crescimento das
a) iniciativa pioneira na busca do caminho marítimo para as aspirações republicanas, relacionadas com as reflexões
Índias. de Maquiavel.
b) centralização precoce do poder monárquico nessa região. ( V ) as redefinições no mundo das artes, com mudanças na
c) ausência completa de relações feudais em todo o seu sensibilidade e na percepção do pensamento e dos va-
território. lores da época.
d) neutralidade da península Itálica frente à guerra generali- ( V ) o fortalecimento do saber científico, com mudanças nas
zada na Europa. concepções da astronomia e da matemática, que con-
e) combinação de desenvolvimento comercial com pujança tribuíram para a secularização da cultura.
artística. ( F ) a aceitação incondicional de crenças religiosas próprias
do cristianismo, anulando as tradições clássicas predo-
HISTÓRIA

3 (Vunesp) minantes no mundo das artes.


m
Ene-1 […] Tudo que os renascentistas pretendiam era assu- ( V ) a busca por espaços literários renovadores com obras
C 5
H- mir a condição humana até seus limites, até as últimas expressivas, como Dom Quixote de La Mancha, impor-
consequências. Nem Deus e nem o demônio; todo o desa- tantes para afirmação das línguas nacionais europeias.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 4 Para aprimorar: 1 e 2

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 19


A ARTE RENASCENTISTA
PAOLO VERONESE/MUSEU DO PRADO, MADRI

Durante a Idade Média, a arte era vista


como um ofício qualquer. Por isso, a criativi-
dade individual dos artistas não era priorizada;
dava-se mais valor à habilidade técnica para se
trabalhar um objeto.
Um dos primeiros pintores a dar caráter
artístico à sua atividade e a assinar suas obras
foi Giotto di Bondone (1267-1337), nascido na
península Itálica. Ele inovou não apenas por
retratar com grande realismo pessoas, animais
e objetos, mas também por introduzir noções
de profundidade na pintura. Dessa forma, abriu
caminho para a introdução da perspectiva, de-
senvolvida mais tarde por Filippo Brunelleschi
(1377-1446), Leon Battista Alberti (1404-1472)
e Leonardo da Vinci (veja, na página seguinte, o
boxe “As três dimensões da pintura”).
Utilizando princípios matemáticos, Bru-
nelleschi criou o conceito de perspectiva exata.
Segundo ele, quanto mais distante um objeto
estivesse em relação ao observador, tanto menor
deveria ser representado na tela, de modo a re-
produzir fielmente a realidade. Tudo era feito para
imprimir o maior realismo possível à pintura.
A perspectiva exigia do pintor conheci-
mentos não só de geometria e de matemática
mas também de óptica. Além disso, ele deveria
saber reproduzir as variações de cor, de luz e
de sombra que a realidade apresentava. Com
todas essas mudanças, pintores, escultores e ar-
quitetos deixaram de ser considerados simples
artesãos e passaram a ser vistos como verda-
deiros artistas.
Moisés salvo das águas, tela do pintor Paolo Veronese (cerca de 1580) representando o momento em
que o profeta bíblico Moisés, recém-nascido, é retirado do rio, onde o colocara sua mãe para salvá-lo
da matança de bebês hebreus ordenada pelo faraó. Por essa época, segundo o Velho Testamento, os
Os mecenas
hebreus haviam sido escravizados pelos egípcios. Observe que nem a paisagem nem as roupas com Essa renovação no campo das artes aca-
que as pessoas se vestem correspondem ao antigo Egito. O artista as representou como se fossem de bou atraindo a burguesia. Interessadas em se
sua época e vivessem na península Itálica.
impor socialmente perante a nobreza e o cle-
ro, as grandes famílias de mercadores e banqueiros passaram a exibir obras de arte em seus
palacetes e a custear o trabalho de pintores, escultores e arquitetos. Esses protetores das artes
– encontrados também na nobreza e no alto clero – ficaram conhecidos como mecenas. Com
o mecenato, a arte, a riqueza e o poder ficaram intimamente associados.
VEJA O FILME Em Florença, por exemplo, os mecenas mais importante eram a poderosa família Médici, que
influenciou a vida política da cidade por quase três séculos. Além de financiar as atividades de diver-
Agonia e êxtase, de Carol Reed. Es- sos artistas, seu patriarca, Cosimo de Médici (1389-1469), chegou a fundar uma academia dedicada
tados Unidos, 1965. (138 min). aos estudos platônicos.
O papa Júlio II encomenda a Contemporâneo dos filhos de Cosimo, o escultor, pintor e arquiteto Michelangelo Buonarroti
pintura do teto da Capela Sisti- (1475-1564), um dos maiores artistas de todos os tempos, criou diversas esculturas para a capela dos
na a Michelangelo. Ao realizar o
Médici, onde se encontram sepultadas várias pessoas dessa família. Ele também trabalhou para o
projeto, o artista se depara com
conflitos entre diferentes con- Vaticano, tendo redesenhado a Igreja de São Pedro e executado as pinturas do teto da Capela Sistina.
cepções artísticas. Outros importantes artistas renascentistas foram Sandro Botticelli (1444-1510), Rafael Sanzio (1483-
-1520), Ticiano Vecellio (1490-1576) e Paolo Veronese (1528-1588).

20 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


As três dimensões da pintura

MUSEU NACIONAL D’ART DE CATALUNYA, BARCELONA/ARQUIVO DA EDITORA


Durante a Idade Média, a representação de
imagens e cenas por meio da pintura era feita em
duas dimensões apenas: altura e largura. Imagens e
cenas tinham, portanto, uma aparência chapada, sem
profundidade, como se as coisas representadas não
tivessem volume. Com a técnica da perspectiva, as
figuras passaram a ser representadas em três dimen-
sões – largura, altura e profundidade.
Com isso, as imagens ganhavam volume e pa-
reciam adquirir vida dentro da tela. A inovação re-
volucionou a pintura, ampliando o espaço pictórico.
Com ela, tinha-se a impressão de que existia algo
para além da tela. Para melhor compreensão, com-
pare as duas imagens apresentadas a seguir.

A luta entre Davi e Golias, painel pintado em 1123 na


atual Espanha. Inspirada em uma passagem da Bíblia,
a cena representa o momento em que Davi, depois
de derrubar o gigante Golias com uma pedrada,
fere seu pescoço com a espada. Observe a ausência
de profundidade na obra. Todas as figuras estão no
mesmo plano, sobre um fundo chapado.

GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENCE

HISTÓRIA

Em contraste com o painel acima, esta Anunciação, pintada por Leonardo da Vinci entre 1472 e 1475, utiliza os recursos da perspectiva, por meio dos
quais é possível representar a profundidade em uma tela plana. Esse efeito é obtido pela convergência das linhas perpendiculares à tela para um único
ponto de fuga situado no horizonte e pela diminuição dos objetos à medida que eles se afastam do observador.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 21


Renovação literária
As condições econômicas, sociais e culturais da Europa no período criaram uma conjuntura
ideal para o aparecimento de novas formas literárias. Muito contribuiu para isso a (re)invenção na
Europa dos tipos móveis de impressão por Johannes Gutenberg no século XV. Com eles, surgiu a
imprensa moderna, que pôs fim ao trabalho dos copistas e permitiu edições de livros com grandes
tiragens (veja o boxe “Os tipos móveis de impressão” na página seguinte).
Na verdade, essa renovação no campo das letras já vinha ocorrendo desde os últimos séculos da
Idade Média, devido principalmente ao trabalho de três escritores da península Itálica: Dante Alighieri
VEJA OS FILMES (1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375).
O poema A divina comédia, de Dante Alighieri, trouxe como grande novidade o fato de ter sido
Shakespeare apaixonado, de
escrito em língua toscana e não em latim, como acontecia até então.
John Madden. Estados Uni-
Petrarca, por sua vez, é considerado o criador da poesia lírica moderna. Buscando nos clássicos
dos, 1998. (83 min).
da Antiguidade inspiração para seus versos, ele elevou o soneto a um dos mais altos graus de expres-
Comédia romântica centrada no
são poética. Com Decamerão, Boccaccio renovou a literatura em prosa ao descrever as ações e as
amor proibido de William Shakes-
emoções que movem o ser humano, como o ciúme, a traição, o ódio, entre outras.
peare e Viola, a filha de um rico
mercador. Iniciada na península Itálica, essa renovação literária logo se espalhou para países como Espanha,
França, Portugal e Inglaterra. Em todos esses lugares, a literatura atingiu o auge no mesmo momento
Rei Lear, de Laurence Olivier. Es-
em que o país se transformava em potência econômica e política.
tados Unidos, 1984. (158 min).
Assim, o apogeu literário de Portugal coincidiu com o período das Grandes Navegações. Nessa
Baseado na tragédia de Shakes-
época se destacaram o poeta Luís de Camões (1503-1580), que usou a forma da epopeia greco-latina
peare, o filme conta a história de
para contar os feitos do navegador Vasco da Gama em Os lusíadas, e o dramaturgo Gil Vicente
um rei que decide dividir seu reino
entre suas três filhas de maneira (c. 1465-c. 1536), famoso por peças satíricas como a Farsa de Inês Pereira e o Auto da barca do inferno.
proporcional ao amor declarado Fenômeno semelhante ocorreu na Espanha, que viveu um período de grande prosperidade
por cada uma delas. no século XVI, graças à exploração das minas de prata de suas colônias na América. São desse
período as obras do poeta Garsilaso de la Vega (c. 1501-1536) e do escritor Miguel de Cervantes
(1547-1616), autor de Dom
PETER HORREE/ALAMY/OTHER IMAGES

Quixote.
Já na Inglaterra, o mo-
mento de maior esplendor
das letras coincidiu com o
reinado de Elizabeth I (1558-
-1603), quando o Estado
passou por forte centraliza-
ção política e a economia
experimentou importan-
te desenvolvimento. Esse
período foi também o de
William Shakespeare (1564-
-1618), considerado por
muitos o maior dramaturgo
de todos os tempos e autor
de peças como Hamlet, Ro-
meu e Julieta, A megera do-
mada, Macbeth e Rei Lear.

Azulejos na Praça da Espanha,


em Sevilha, retratando Dom
Quixote de La Mancha, de
Miguel de Cervantes. Foto de
maio de 2010.

22 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


TROCANDO IDEIAS
Os tipos móveis de impressão
Até meados do século XV, a reprodução de um livro dependia de pessoas que copiavam A invenção de Gutenberg
permitiu a publicação de um
à mão o original. Além de lento, esse trabalho podia incorrer em imprecisões, fazendo com
grande volume de livros, am-
que o mesmo texto variasse de um manuscrito para outro. Nessas circunstâncias, os tipos pliando a difusão do conheci-
móveis de impressão de Johannes Gutenberg (cerca de 1397-1468) causaram uma revolução mento. Entretanto, apenas um
na vida cultural europeia. grupo reduzido de pessoas teve
Vale lembrar que tipos móveis de impressão (feitos de argila cozida e depois de outros acesso efetivo a esse conheci-
materiais) já haviam sido inventados pelo artesão chinês Bi Sheng entre 1041 e 1048. No mento, porque a maior parte da
invento de Gutenberg, as letras do alfabeto eram moldadas em pequenos blocos de chum- população da Europa era anal-
bo – os tipos –, colocados um ao lado do outro para compor palavras e frases. Gutenberg fabeta.
imprimiu seu primeiro livro, uma edição da Bíblia em latim, por volta de 1450. As 180 cópias Atualmente, a internet nos
da primeira edição, impressas em três prensas, somavam 230 mil páginas ao todo e ficaram oferece informações e imagens
do mundo inteiro em instan-
prontas em dois anos. tes. Mas nem toda a popula-
A nova invenção tornou possível a rápida difusão de livros e, consequentemente, dos ção mundial tem condições de
ideais do Humanismo e do Renascimento. acessar a rede mundial de com-
Outro resultado do invento de Gutenberg foram as mudanças ocasionadas na técnica putadores. Em 2015, aproxima-
de produção de imagens. Com as novas formas de impressão, as iluminuras desapareceram damente 3 bilhões de pessoas
para dar lugar a uma nova manifestação de arte gráfica: a gravura. passaram a usar efetivamente
a internet, enquanto 4,2 bilhões
não tinham acesso a ela.
Em grupos, debatam as se-
guintes questões: A internet
ENQUANTO ISSO...

contribui efetivamente para


As constelações indígenas democratizar as informações
Na mesma época em que Galileu Galilei observava as estrelas com seu telescópio e o conhecimento? Qual é o
e a Igreja católica combatia a teoria heliocêntrica, do outro lado do Atlântico os Tupi- impacto da exclusão digital na
nambá também estavam de olho no céu, observando os astros e suas nebulosas. Os vida das pessoas, uma vez que
Tupinambá eram um povo indígena, hoje extinto, que vivia no território que hoje faz no Brasil apenas metade da po-
pulação passou a ter acesso à
parte do Brasil. Eles eram capazes de reconhecer mais de cem constelações diferentes
internet em 2015?
(atualmente, a União Astronômica Internacional tem 88 constelações catalogadas).
Conheciam, por exemplo, a Via Láctea, que chamavam de Caminho da Anta, e
tinham suas constelações próprias, como a da Ema que era formada, entre outras, por
estrelas das constelações que conhecemos como Cruzeiro do Sul e Escorpião.
Eles usavam as constelações para se

GERMANO BRUNO AFONSO/ARQUIVO DA EDITORA


orientar sobre a mudança das estações.
Quando a constelação da Ema se tornava vi-
sível no céu, era sinal de que estava chegando
o inverno. A do Homem Velho anunciava o
início do verão; a do Veado, o princípio do
outono; e a da Anta, o começo da primavera.
O sistema astronômico dos Tupinambá
é semelhante aos utilizados atualmente pelos
índios Guarani no sul do Brasil, e algumas des-
sas constelações são as mesmas identificadas
por outros povos indígenas da América do Sul
e pelos aborígines australianos. HISTÓRIA
Fonte: AFONSO, Germano Bruno. As constelações
indígenas brasileiras. Disponível em: <www.
telescopiosnaescola.pro.br/indigenas.pdf>.
Acesso em: 10 dez. 2014.

Representação da constelação
do Veado, ilustrativa da visão
indígena do Universo.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 23


PARA CONSTRUIR

5 Defina em linhas gerais quais foram as bases da noção de “perspectiva” desenvolvida pelos artistas do Renascimento.
m
Ene-1 O desenvolvimento da perspectiva foi precedido no Renascimento pelas obras de Giotto di Bondone (1267-1337), artista que procurou retratar
C 5
H-
de forma realista pessoas, animais e objetos, introduzindo a noção de profundidade na pintura. Posteriormente, Brunelleschi (1377-1446) criou o
conceito de perspectiva exata, observando que, quanto mais distante um objeto estivesse em relação ao observador, tanto menor deveria ser
representado na tela. Com isso, ele acreditava que seria possível representar os objetos e seres da natureza com maior fidelidade.

6 (UFF-RJ) O mundo moderno está associado, na sua origem, à cultura renascentista. Invenções e descobertas só puderam ser
realizadas porque os intelectuais renascentistas reuniram tradições clássicas ocidentais e orientais, a fim de dar novo sentido
à ideia de “homem” e “natureza”. Assinale a afirmativa que pode ser corretamente associada ao Renascimento. a
a) O livro da natureza foi escrito em caracteres matemáticos. (Galileu)
b) O homem é imagem e semelhança de Deus. (Jean Bodin)
c) O mundo é perfeito porque é uma obra divina e, assim, só pode ser esférico. (Marsílio Ficino)
d) A perspectiva é o fundamento da relação entre espaço humano e natureza divina. (Alberti)
e) A proporção é a qualidade matemática inadequada à representação do mundo natural. (Leonardo da Vinci)

7 (Unifesp) O Renascimento Cultural se iniciou na Itália no século XIV, e se expandiu para outras partes da Europa nos séculos seguin-
tes. Uma de suas características é a: b
a) adoção de temas religiosos, com o objetivo de auxiliar o trabalho de catequese.
b) pesquisa técnica e tecnológica, na busca de novas formas de representação.
c) recusa dos valores da nobreza e a defesa da cultura popular urbana e rural.
d) manutenção de padrões culturais medievais, na busca da imitação da natureza.
e) rejeição da tradição clássica e de seu princípio antropocêntrico.

8 (UFPE) O Renascimento trouxe mudanças nas concepções de mundo dos tempos modernos, embora mantivesse um diálogo
m
Ene-3
histórico com a cultura clássica e seus valores. A sua forma de ver o mundo está presente em obras literárias, como as de Rabelais,
C 1
H-1 Cervantes, Camões e tantos outros. Com efeito, a literatura renascentista: b
a) consagrou princípios éticos do cristianismo medieval, criticando valores da sociedade burguesa que se formava.
b) foi importante para a formação das línguas nacionais na Europa, afirmando uma renovação na forma de se escrever e contar as
histórias.
c) baseou-se na literatura romana, ao afirmar a importância dos mitos para o imaginário social de cada época.
d) consolidou a admiração da sociedade moderna pela tragédia, desprezando outras formas literárias importantes.
e) manteve a estrutura narrativa dos tempos medievais, apesar de seu acentuado antropocentrismo.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 5 e 6 Para aprimorar: 3 e 4

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

de arte uma parte das suas riquezas. Este último ponto


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR implica, evidentemente, que o centro seja um lugar ao
qual afluem quantidades consideráveis de recursos even-
1 (Vunesp) tualmente destinados à produção artística. Além disso,
m
Ene-4
C 6
Os centros artísticos, na verdade, poderiam ser defi- poderá ser dotado de instituições de tutela, formação e
H 1 nidos como lugares caracterizados pela presença de um
-
promoção de artistas, bem como de distribuição das
número razoável de artistas e de grupos significativos de obras. Por fim, terá um público muito mais vasto que o
consumidores, que por motivações variadas – glorifica- dos consumidores propriamente ditos: um público não
ção familiar ou individual, desejo de hegemonia ou ânsia homogêneo, certamente [...].
de salvação eterna – estão dispostos a investir em obras GINZBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios, 1991.

24 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Os “centros artísticos” descritos no texto podem ser identifi- preciso e admirável, na ação é como um anjo; no enten-
cados: dimento é como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo
a) nos mosteiros medievais, onde se valorizava especial- dos animais.
mente a arte sacra. SHAKESPEARE, Willian. Hamlet.
b) nas cidades modernas, onde floresceu o Renascimento Pois o Senhor reinará na terra com seus santos, como
cultural. dizem as escrituras, e nela terá sua Igreja, na qual nenhum
c) nos centros urbanos romanos, onde predominava a escul- mal penetrará, afastada e pura de toda a mancha do mal.
tura gótica. A Igreja se revelará então com grande clareza, dignidade e
d) nas cidades-estados gregas, onde o estilo dórico era he- justiça. Então não haverá prazer em enganar, em mentir,
gemônico. em ocultar o lobo sob a pele da ovelha.
e) nos castelos senhoriais, onde prevalecia a arquitetura Santo Agostinho. A cidade de Deus.
românica.
Os textos permitem constatar o contraste de diferentes con-
2 (Cefet-SC) cepções entre a Renascença e a mentalidade medieval. A al-
ternativa que apresenta o contraste que os textos revelam é:
Que obra de arte é o homem, tão nobre no raciocínio,
tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso a) humanismo 3 laicismo.
e admirável; na ação é como um anjo; no entendimento é b) individualismo 3 coletivismo.
como um deus; na beleza do mundo, o exemplo dos animais. c) antropocentrismo 3 teocentrismo.
SHAKESPEARE, William. Hamlet. d) hedonismo 3 misticismo.
O surgimento, a partir do século XIV, de uma cultura secular, e) naturalismo 3 dogmatismo.
humanista, antropocêntrica e de inspiração greco-romana,
denominamos de: 6 (UFSC) No fim do período moderno, a Europa passou por
profundas mudanças em várias áreas. Nesse contexto se in-
a) Renascimento. d) Revolução Industrial.
sere o movimento cultural conhecido como Renascimento.
b) Contrarreforma. e) Revolução Gloriosa.
c) Iluminismo. Em relação a este tema, examine as proposições a seguir e
assinale a(s) correta(s).
3 (Vunesp)
(01) O Renascimento teve início na península Itálica, centro
m
Ene-3 Galileu, talvez mais que qualquer outra pessoa, foi o
C 5
H-1
responsável pelo surgimento da ciência moderna. O famo- de um ativo comércio no Mediterrâneo.
so conflito com a Igreja católica se demonstrou fundamen- (02) A burguesia em ascensão nesse período, ávida por lu-
tal para sua filosofia; é dele a argumentação pioneira de cros, dedicou-se ao comércio, desprezando completa-
que o homem pode ter expectativas de compreensão do mente a área cultural.
funcionamento do Universo e que pode atingi-la através (04) Uma das marcas mais significativas do Renascimento
da observação do mundo real. foi o racionalismo, o qual se expressava na convicção de
HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. que tudo poderia ser explicado pela observação objeti-
O “famoso conflito com a Igreja católica” a que se refere o au- va da natureza e pelo exercício da razão.
tor corresponde:
(08) Estão diretamente relacionados ao Renascimento ex-
a) à decisão de Galileu de seguir as ideias da Reforma protes- poentes como Leonardo da Vinci, Michelangelo Buo-
tante, favoráveis ao desenvolvimento das ciências modernas.
narrotti, Albert Einstein e Nicolau Copérnico.
b) ao julgamento de Galileu pela Inquisição, obrigando-o a
(16) O Renascimento foi profundamente antropocêntrico,
renunciar publicamente às ideias de Copérnico.
c) à opção de Galileu de combater a autoridade política do por entender que o ser humano era a obra mais perfeita
papa e a venda de indulgências pela Igreja. do Criador. Dessa forma, a arte renascentista passou a
d) à crítica de Galileu à livre interpretação da Bíblia, ao racio- valorizar a realidade da vida humana.
nalismo moderno e à observação da natureza. (32) O Renascimento foi um movimento cultural que se limi-
e) à defesa da superioridade da cultura grega da Antiguidade, tou às artes plásticas, não atingindo a literatura.
feita por Galileu, sobre os princípios das ciências naturais.
PARA APRIMORAR
HISTÓRIA
4 Até o século XV acreditava-se no geocentrismo, ou seja, que PARA PRATICAR
a Terra era o centro do Universo. Como ocorreu o processo de
formação e consolidação do heliocentrismo? 1 (UFPR)
m
Ene-1 Mas não é uma conduta extraordinária, e por assim
5 (ESPM) C 1
H- dizer selvagem, ocorrer todo o povo a acusar o Senado
m
Ene-3
C 4
Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocí- em altos brados, e o Senado o povo, precipitando-se os
H-1 nio; tão vário na capacidade; em forma de movimento, tão cidadãos pelas ruas, fechando as lojas e abandonando

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 25


a cidade? A descrição apavora. Responderei, contudo, ( ) foi condenado à morte pelo Tribunal da Inquisição por
que cada Estado deve ter costumes próprios, por meio ser considerado herege.
dos quais os populares possam satisfazer sua ambição ( ) rompeu com as tradições filosóficas aristotélicas, mo-
[...]. O desejo que sentem os povos de ser livres rara- dernizando o pensamento ocidental.
mente prejudica a liberdade porque nasce da opressão ( ) junto com Kepler, firmou-se na Universidade de Pisa
ou do temor de ser oprimido. [...] Sejamos, portanto,
como um dos professores mais representativos.
avaros de críticas ao governo romano: atentemos para
o fato de que tudo o que de melhor produziu esta Re- 3 (UFF-RJ)
pública provém de uma boa causa. Se os tribunos de-
O Renascimento europeu dos séculos XV e XVI
vem sua origem à desordem, esta desordem merece
anunciava um novo homem, liberto do véu da teologia,
encômios, pois o povo, desta forma, assegurou partici-
envolvido com a natureza que se torna a medida de
pação no governo. E os tribunos foram os guardiões
todas as coisas, capaz de inovar em todos os ramos do
das liberdades romanas.
MAQUIAVEL, Nicolau. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio.
conhecimento e suficientemente curioso para ultrapas-
3. ed. Brasília: Editora da UnB, 1994. p. 31-32. sar as fronteiras da Europa. A inquietação desse homem
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a sociedade re- renascentista deu-lhe a condição de descobridor do
nascentista, é correto afirmar que o pensamento de Maquiavel: Novo Mundo.
RODRIGUES, Antonio E. M.; FALCON, Francisco J. C. Tempos
a) restabeleceu no mundo moderno as formas clássicas do modernos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. Adaptado.
pensamento político, especialmente as da República ro- O texto apresenta a grande novidade dos tempos moder-
mana, que garantiram os mecanismos de representação nos: o novo homem. A partir dessa conclusão, assinale a
popular nas novas Repúblicas em formação na Itália e no opção que indica melhor o potencial de visão desse novo
norte da Europa. homem.
b) introduziu o conceito de desordem no pensamento re- a) O homem renascentista construiu um novo mundo – a
nascentista para explicar os processos evolutivos dos Es- Ásia –, uma nova filosofia – o Iluminismo – e uma nova
tados e das formas de governos possíveis, baseando-se na forma de religião – o politeísmo – todos eles resultantes
proposição do modelo republicano romano como ideal dos contatos com a América.
para os Estados modernos. b) O homem moderno ocupou-se, principalmente, em
c) recuperou os princípios romanos e, afirmando que os fins construir uma nova religião, amparada no conceito de na-
justificam os meios, forneceu para os movimentos sociais tureza, povoada de mitos antigos e baseada no sistema
da Era Moderna uma justificativa para se rebelarem contra politeísta persa.
a tirania e a opressão, em nome de uma boa causa que
c) O homem renascentista, preocupado com o corpo,
legitimaria um governo autoritário de caráter popular.
desenvolveu as artes como primeiro e absoluto ins-
d) inspirou-se nas formas clássicas, especialmente romanas,
trumento de realização de sua beleza, levando-o a um
idealizando-as para afirmar que os conflitos entre os po-
processo de alienação que o fez voltar à religiosidade
derosos e o povo contribuem para a ampliação das liber-
medieval.
dades republicanas e que os modos desses conflitos de-
d) O caráter universal é a marca que recebe esse homem
pendem dos costumes políticos dos povos.
renascentista, pois a universalidade era a virtude que o
e) pretendeu estabelecer o princípio republicano democrá-
colocava no mesmo nível de Deus; por isso, tantas repre-
tico romano como conceito básico da política moderna,
sentações literárias e artísticas voltadas para o universo
afirmando que, para satisfazer suas aspirações, é legítimo
religioso no período.
que o povo se rebele e promova desordens com a finali-
e) O homem renascentista, apegado à natureza, construiu
dade de mudar o regime político e a organização da pro-
um novo mundo, que se compunha de uma nova econo-
dução econômica.
mia – o mercantilismo –, de uma nova política – os Esta-
2 (UFPE) Giordano Bruno, Galileu Galilei e Kepler continuaram dos modernos – e de um novo lugar de onde ele olhava
os estudos iniciados por Nicolau Copérnico, tão revolucioná- todas essas coisas: a cidade moderna.
rios e fundamentais para a ciência moderna. Galileu (1564-
4 Que interesse tinham os mecenas em patrocinar as artes
-1642), por exemplo:
m
Ene-5
durante o Renascimento? Em sua opinião, atualmente os
C 1
( ) tinha profundo conhecimento de Matemática, mas não H-2 políticos e as pessoas públicas também se preocupam
se interessava pela Astronomia. com a própria imagem? Em caso positivo, como eles
( ) utilizou-se do telescópio para consolidar hipóteses de atuam para construir uma imagem junto à mídia e à socie-
pesquisa desenvolvidas por Copérnico. dade? Escolha um exemplo para citar na sala de aula.

26 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


CAPÍTULO

3 A Reforma protestante

Objetivos: Ano após ano, o número de seguidores do protestantismo vem aumentando no Brasil. Em 1996,
eles representavam 15% da população brasileira. Em 2010, já totalizavam 22%, ou seja, aproximada-
c Entender os processos
mente 42 milhões de fiéis.
e os acontecimentos
Os seguidores do protestantismo no Brasil dividem-se em três grandes correntes: protestantes
relacionados à Reforma
históricos – formados de igrejas tradicionais, como a presbiteriana e a luterana; pentecostais – dis-
protestante.
tribuídos por diversas igrejas, entre as quais Assembleia de Deus e Deus é Amor; e neopentecostais
c Conhecer a reação – vertente surgida na década de 1970 e composta de igrejas como a Universal do Reino de Deus e
da Igreja católica em a Sara Nossa Terra.
relação à Reforma O aumento do protestantismo no Brasil deve-se, principalmente, ao crescimento das igrejas
protestante. pentecostais e neopentecostais observado nas últimas décadas.
Como veremos neste capítulo, o protestantismo surgiu na Europa no século XVI como resultado
c Reconhecer, valorizar e
de uma grande ruptura no interior da Igreja católica denominada Reforma protestante.
respeitar a diversidade
religiosa.

LUIZ GUARNIERI/BRAZIL PHOTO PRESS/FOLHAPRESS


c Compreender os
interesses políticos
e econômicos das
religiões no período.

HISTÓRIA

No bairro da Luz, em São Paulo, fiéis participam da Marcha para Jesus, um dos maiores eventos evangélicos do
Brasil. Foto de 2014.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 27


CRÍTICAS À IGREJA
Durante a Idade Média, a Igreja católica constituiu o principal centro de poder na Europa. Sua
influência era tamanha que reis e senhores feudais recorriam a seu apoio para governar.
Tanto poder terreno distanciou a Igreja dos assuntos espirituais. Para muitos de seus integrantes,
riqueza e prazeres físicos tornaram-se mais importantes do que a fé. Essa inversão de valores pôs em
xeque a credibilidade da instituição (veja crítica a essa situação na imagem abaixo).
Assim, por volta do século XIV, a Igreja católica viveu nova crise. Além das disputas políticas
que envolviam o alto clero, voltaram a pesar sobre a instituição denúncias de corrupção e outras
acusações de ordem moral. Nessas circunstâncias, alguns filósofos cristãos, influenciados pelo pen-
Pintura a óleo sobre madeira de samento humanista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus dogmas pela perpetuação da miséria
Hieronymus Bosch, intitulada A nave dos
insensatos (1490-1500). A obra contém
e da ignorância na sociedade europeia.
uma clara crítica à Igreja católica: na cena Um desses pensadores foi o inglês John Wycliffe (1324-1384). Sacerdote e professor da
representada, enquanto uma freira e um Universidade de Oxford, ele dedicou boa parte da vida à crítica indignada da corrupção e da
frade cantam, outra religiosa arrogância vigentes na hierarquia eclesiástica. A mesma atitude adotou Jan Hus (1371-1415),
(à esquerda) oferece bebida a um homem
deitado. sacerdote e reitor da Universidade de Praga, na atual República Tcheca. Além de pregar contra
a corrupção do clero, Hus denunciava a venda de indul-
HIERONYMUS BOSCH/MUSEU DO LOUVRE, PARIS

gências (veja o boxe “A venda de indulgências”). Tanto ele


como Wycliffe foram acusados de heresia pela Igreja e con-
denados a morrer na fogueira.
Apesar da repressão da Igreja, o movimento contrário às
práticas consideradas imorais cresceu de forma contínua. As-
sim, quando, em 1517, no Sacro Império Romano-Germânico,
o monge Martinho Lutero (1483-1546) protestou contra o
comportamento do alto clero e do papado, outras pessoas
sentiram-se motivadas a fazer o mesmo. Esse movimento, que
ficou conhecido como Reforma, tornou-se tão grande que
provocou uma cisão na Igreja, como veremos a seguir.

A venda de indulgências
Indulgência é o perdão que a Igreja oferece àque-
les que se arrependem de seus pecados. Nos primeiros
tempos, ela assumia a forma de penitência pública –
autoflagelação, por exemplo. Por volta do século XI, as
antigas penitências foram substituídas por prestações
de serviço – como amparo aos doentes, construção de
igrejas, etc. – ou pela cooperação com a instituição. Em
1095, o papa Urbano II ofereceu indulgência plena a
quem participasse da Primeira Cruzada.
Nos séculos seguintes, as indulgências se transfor-
maram em cartas vendidas aos fiéis. Aqueles que as com-
prassem recebiam o perdão dos pecados já cometidos e,
de acordo com o valor pago, tinham também o perdão
dos pecados futuros.
Em 1513, o papa Leão X oficializou a venda de in-
dulgências visando arrecadar dinheiro para finalizar as
obras da Basílica de São Pedro, em Roma. A partir de
então, o comércio de indulgências assumiu tamanhas
proporções que passou a ser intermediado pela casa
bancária dos Fuggers, família de banqueiros do Sacro
Império Romano-Germânico, transformando-se, de
fato, em um rendoso negócio.

28 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


AS 95 TESES DE LUTERO
Martinho Lutero era um monge agostiniano que lecionava Teologia na Universidade de Witten-
berg, na atual Alemanha. Em abril de 1517, ele ouviu do frade Johann Tetzel, representante do papa
Leão X na região, um discurso defendendo a venda de indulgências. Seria de Tetzel a frase: “Assim
que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai”.
Convencido de que tal prática não encontrava respaldo na Bíblia e que era apenas mais uma
forma de a Igreja tirar proveito da credulidade das pessoas, Lutero protestou. Em uma carta dirigida
a seu arcebispo, formulou 95 teses nas quais tecia profundas críticas à venda de indulgências e a
outras práticas da Igreja.
Dadas a conhecer, as teses de Lutero logo obtiveram o apoio de amplos setores da população do
Sacro Império Romano-Germânico, entre os quais diversos príncipes e outros integrantes da nobreza,
interessados no enfraquecimento da Igreja – dona da maior parte das terras da região.
Em janeiro de 1521, Lutero foi excomungado pelo papa. Percebendo a gravidade da si- Roteiro de Estudos
tuação, o imperador Carlos V convocou representantes de todo o Sacro Império Romano-
Acesse o Material Comple-
-Germânico para uma assembleia – denominada dieta – a ser realizada na cidade de Worms mentar disponível no Portal e
para que Lutero se retratasse. aprofunde-se no assunto.
Em abril de 1521, diante de mais de 150 príncipes presentes à dieta, Lutero se recusou a voltar
atrás em suas afirmações. Para escapar à repressão da Igreja, ao sair de Worms, refugiou-se no castelo
de um príncipe que o apoiava. Durante o ano em que ali se escondeu, traduziu o Novo Testamento
para o alemão e produziu um grande volume de textos condenando a Igreja. VEJA O FILME
Os escritos de Lutero foram reproduzidos aos milhares na imprensa de tipos móveis, (re)inventa- Lutero, de Eric Till. Alemanha e
da havia menos de um século por Gutenberg, e passaram a atingir um número cada vez maior de pes- Estados Unidos, 2003. (123 min).
soas. Em pouco tempo, as ideias reformistas saíram do âmbito religioso, ganharam as ruas e os cam- O filme conta a história de Mar-
pos e passaram a estimular sentimentos de revolta social e de mudança entre a maioria camponesa tinho Lutero.
(veja o boxe “Convulsão social no Sacro Império” na próxima página).
DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/A. DAGLI ORTI/THE BRIDGEMAN/KEYSTONE

HISTÓRIA

Detalhe do retábulo da Igreja de Torslunde, Dinamarca, de 1561. Nele, a pregação de Martinho Lutero é retratada em meio a símbolos do catolicismo, como a pia
batismal, a hóstia e a cruz.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 29


Protestantes × católicos
ACESSE O SITE
As propostas reformistas de Lutero se difundiram rapidamente. Enquanto adeptos de suas ideias
Basílica de São Pedro percorriam as cidades fazendo pregações, autoridades de várias regiões do Império, pressionadas pela
Passeio virtual pela Basílica de São população, viam-se obrigadas a expulsar sacerdotes católicos das igrejas e a substituí-los por religiosos
Pedro, no Vaticano. Disponível em: com formação luterana.
<www.vatican.va/various/basili- Atendendo às pressões da Igreja, em 1529 o imperador Carlos V realizou nova reunião com
che/san_pietro/vr_tour/index-en. os príncipes do Império. Na ocasião, exigiu que eles proibissem o culto luterano em suas regiões e
html>. Acesso em: 15 dez. 2014. retomassem os rituais católicos.
Seis príncipes e representantes de 14 cidades protestaram contra a exigência do imperador. Esses
principados e centros urbanos ficaram conhecidos como Estados protestantes. A partir de então,
MATERIAL COMPLEMENTAR todos os adeptos de Lutero e de outros reformistas seriam chamados de protestantes.
Verifique no Portal SESI os ma- Temendo represálias do imperador, os Estados dissidentes se uniram em torno da Liga de
teriais complementares com Schmalkalden e formaram um exército para agir caso sofressem ataques. As hostilidades duraram
atividades relacionadas aos até 1555, ano em que o imperador assinou a Paz de Augsburgo, garantindo liberdade religiosa aos
conteúdos deste Capítulo. protestantes.

Atividade Experimental
Convulsão social no Sacro Império
Mudança de Referencial Embora Lutero defendesse apenas mudanças de caráter religioso, suas ideias contribui-
riam para inaugurar um período de grandes convulsões sociais no Sacro Império.
Cavaleiros e nobres de poucos recursos aproveitaram a crise para tentar criar um Esta-
do independente. Esse movimento, iniciado em 1522, foi sufocado no ano seguinte e ficou
conhecido como Revolta dos Cavaleiros.
Em 1524, camponeses arma-

AKG-IMAGES/LATINSTOCK
dos de várias regiões do Império
se insurgiram sob a liderança de
um monge franciscano, Thomas
Münzer (1486-1525), que pro-
punha uma sociedade sem dife-
renças entre ricos e pobres e sem
propriedade privada. Münzer foi
TROCANDO IDEIAS preso, torturado e executado em
1525, mas o movimento conti-
Atualmente, verificam-se no
Brasil e no mundo protestos e nuou por mais dez anos. Nesse
manifestações sociais de todo período, cerca de cem mil cam-
tipo: lutas dos trabalhadores poneses foram mortos.
rurais sem-terra, greves de tra- Radicalmente contrário à re-
balhadores urbanos, passeatas volta camponesa, Lutero alegava
e comícios, etc. Quase sempre, que a existência de senhores e ser-
essas manifestações reivindi-
vos era fruto da vontade divina.
cam melhores condições de
vida, aumentos de salários, mais Ele chegou a escrever: “Contra as
segurança nas ruas ou o direito hordas de camponeses assassinos
ao trabalho. Você considera essas e ladrões, quem puder que bata,
manifestações legítimas? Em sua mate ou fira, secreta ou aberta-
opinião, como o Estado brasilei- mente, relembrando que não há
ro deve tratar os grupos sociais nada mais peçonhento, prejudi-
que se manifestam e expressam cial ou demoníaco do que um
seu descontentamento? Discuta
essas questões com um cole-
rebelde”.
ga. Depois, escrevam um texto
com a opinião de ambos. Para Thomas Münzer, teólogo protestante
finalizar, apresentem oralmente e revolucionário, antes da batalha de
o resultado numa roda de Frankenhausen, na qual acabou preso,
conversa, sob orientação do em 1525. Litografia colorida, 1832, de
R. Wibezahl.
professor.

30 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


PARA CONSTRUIR

1 A partir do século XIV, a Igreja católica tornou-se alvo de críti- proposta, alguma reforma, um tipo novo de organização).
m cas de intelectuais e religiosos. Indique que processos histó- Identifique, nesse manifesto, quais são as denúncias e o que
Ene-3
C 3
H-1 ricos motivaram essas críticas. ele propõe para transformar a ordem social.
O enriquecimento e a ampliação do poder material da Igreja haviam Os camponeses denunciam a sua condição de escravidão, a

transformado os valores defendidos e praticados por boa parte do proibição da caça e o pagamento de impostos para retirar
madeira ou lenha da floresta. Contra essa situação de injustiça,
clero católico. A fé e os valores espirituais tornaram-se secundários
o manifesto propõe o fim da servidão e a restituição das
diante dos prazeres físicos e do acúmulo de bens. Essa deturpação
florestas tomadas ilegalmente das comunidades camponesas.
dos valores cristãos colocou em xeque a credibilidade da instituição.
A partir do século XIV, a Igreja viveu uma grave crise provocada pelas
denúncias de corrupção e de perda de valores morais. Nessas b) Qual é a autoridade legítima invocada pelo manifesto
circunstâncias, alguns filósofos cristãos, influenciados pelo
para justificar o fim da servidão e garantir a liberdade aos
camponeses?
pensamento humanista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus
O manifesto utiliza frequentemente a religião como fonte de
dogmas pela perpetuação da miséria e da ignorância na sociedade
autoridade, em especial as Sagradas Escrituras. Os autores
europeia.
do manifesto afirmam que a escravidão a que foram submetidos,
2 Publicado em 1525, o texto a seguir faz parte de um manifes- o pagamento de tributos injustos ou a proibição da caça,
m
Ene-1
to dos camponeses do Sacro Império Romano-Germânico que nada disso foi definido pela “palavra de Deus”, isto é, pela
C 1
H- no ano anterior haviam se rebelado contra os senhores de terra.
Bíblia. No fim do manifesto, os camponeses ainda propõem
Liderados por Thomas Münzer, eles exigiam reformas sociais.
um pacto: se as suas ideias não estivessem de acordo com
[...] Até agora éramos tratados como escravos, o que é
uma vergonha, pois, com o seu precioso sangue, Jesus Cris- as Sagradas Escrituras, eles estariam dispostos a abrir mão
to nos salvou a todos, tanto ao mais humilde pastor como de suas reivindicações, desde que fosse “provada” essa discre-
ao mais nobre senhor, sem distinção. Por esse motivo, de- pância. Professor, você pode ressaltar que esse é um argumento
duzimos das Sagradas Escrituras que somos livres, e livres inspirado nas teses de Lutero e se tornou, posteriormente,
queremos ser. Não que queiramos ser totalmente livres, que
uma característica das correntes protestantes. Enquanto os
não queiramos reconhecer autoridade alguma; não é isso o
que Deus nos ensina. católicos se baseiam na autoridade do papa como “intérprete”
[...] até agora, nenhum pobre podia perseguir a caça, da vontade divina, as igrejas protestantes recorrem com
pegar aves ou peixes na água corrente, o que nos parece frequência ao texto bíblico e às suas diversas interpretações.
uma lei totalmente injusta e pouco fraternal, mas interessei-
ra e em desacordo com a palavra de Deus. 3 Uma das 95 teses de Martinho Lutero afirmava que “Esperar
[...] somos prejudicados ainda pelos nossos senhores, ser salvo mediante cartas de indulgência é vaidade e mentira,
que se apoderaram de todas as florestas. Se o pobre precisa mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garan-
de lenha ou madeira tem que pagar o dobro por ela. Nós tia”. Considerando essa tese, explique a oposição entre Lutero
somos de opinião que deve ser restituída à comunidade toda e as concepções da Igreja católica.
e qualquer floresta que se encontra em mãos de leigos ou
A indulgência era o perdão concedido pela Igreja católica aos fiéis
religiosos que não a adquiriram legalmente.
[...] nossa decisão e resolução final é a seguinte: se uma que se arrependessem dos pecados. Com o passar dos tempos,
ou diversas dessas exigências não estiverem em consonância as formas tradicionais de indulgência (o martírio público e a
com a palavra de Deus, delas abriremos mão imediatamen- prestação de serviços) foram substituídas pela compra de cartas
te, desde que se nos prove, à base das Sagradas Escrituras,
papais vendidas aos fiéis. Tratava-se de um negócio tão lucrativo
que elas estão em discordância com a vontade divina.
MARQUES, Ademar; BERUTTI, Flávio; FARIA, que era administrado pela casa bancária dos Fuggers, família de
Ricardo. História moderna através de textos. banqueiros do Sacro Império Romano-Germânico. Lutero combateu
São Paulo: Contexto, 2001. p. 128.
HISTÓRIA
diretamente essa prática da Igreja católica, condenando-a com
A partir da leitura do texto, responda:
rigor. Para ele, as indulgências não tinham fundamento na Bíblia
a) Os manifestos geralmente contêm dois aspectos importan-
e eram apenas mais uma forma de a Igreja enriquecer e tirar proveito
tes: o primeiro é a denúncia de uma situação (injusta, ilegal,
incômoda, etc.); o segundo, uma reivindicação (uma nova da fé das pessoas.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 31


O CALVINISMO
As propostas de Lutero repercutiram em diversas regiões da Europa e originaram outros mo-
vimentos reformistas. Um dos primeiros lugares onde isso aconteceu foi Zurique, na Suíça atual. Ali,
em 1522, o religioso Ulrich Zwinglio (1489-1531) começou a pregar em seus sermões que a única
fonte de autoridade sobre os cristãos era a Bíblia. Também protestava contra o celibato imposto aos
GLOSSÁRIO

Desenvolvimento capitalista: integrantes do clero.


desenvolvimento apoiado nos valo- Na França, o frade João Calvino (1509-1564) aderiu ao movimento reformador em 1533. Per-
res centrais do capitalismo – liberda- seguido por suas ideias, viu-se obrigado a se mudar para Genebra, na Suíça, onde publicou uma
de para o exercício competitivo das
atividades econômicas, legitimidade
exposição sistemática de seu pensamento, dando início a uma nova corrente religiosa: o calvinismo.
dos bens privados e busca do lucro. Para Calvino, apenas as pessoas predestinadas por Deus teriam direito à salvação na vida eterna.
Segundo o sociólogo alemão Max Um dos sinais dessa predestinação seria o sucesso no trabalho e nos negócios. Porém, para fazer jus à
Weber (1864-1920), o capitalismo foi salvação, as pessoas tinham de levar uma vida frugal, sem luxo e sem dissipações; deveriam trabalhar,
favorecido pela adesão do ramo calvi- guardar dinheiro e investir suas economias na criação de novas oportunidades de trabalho.
nista ao protestantismo. Para o filósofo
Karl Marx, o capitalismo e seu desen- Segundo essa concepção, o trabalho e o espírito de poupança deveriam ser valores centrais a
volvimento surgiram em função de serem cultivados. Devido a essa visão, o calvinismo encontrou ampla aceitação da burguesia, que via
determinadas condições históricas e nele uma justificação moral e religiosa para sua riqueza. A própria cobrança de juros sobre emprés-
econômicas, com o objetivo de fazer timos (usura), condenada pela Igreja, era consentida pelos calvinistas.
uma força de trabalho (operariado)
produzir mercadorias visando à troca,
As ideias de Calvino espalharam-se para outras regiões da Europa, encontrando apoio princi-
a serviço dos detentores dos meios de palmente nos lugares de desenvolvimento capitalista precoce, como os Países Baixos (Holanda) e
produção (classe dirigente). a Inglaterra, e mais tarde nas colônias inglesas da América do Norte. Na França, onde os calvinistas
eram chamados de huguenotes, desencadeou-se verdadeira guerra civil entre eles e os católicos.

RMN – REUNIÓN DES MUSÉES NATINAUX/AGENCE BULLOZ/OTHER IMAGES

VEJA O FILME
A rainha Margot, de Patrice Ché-
reau. França, Alemanha e Itália,
1994. (159 min). Pintura de autor anônimo do
Um casamento de conveniência século XVII representando
João Calvino em seu gabinete
é realizado entre a católica rainha
de trabalho. A doutrina criada
Margot e o protestante Henri. A por Calvino, o calvinismo,
união não dá certo e intrigas ter- encontrou muitos adeptos na
minam na Noite de São Bartolo- Inglaterra e nos Países Baixos
meu, em que milhares de protes- (Holanda). Na Inglaterra, os
tantes foram mortos. seguidores de Calvino eram
chamados de puritanos.

32 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


A IGREJA ANGLICANA
Na Inglaterra, país que já vinha recebendo influências do pensamento protestante, a Reforma
foi introduzida pelo rei Henrique VIII (1509-1547). Desde o início de seu reinado, Henrique procurava
reforçar o poder central, mas um dos obstáculos para isso era a Igreja católica, detentora de vastas VEJA OS FILMES
extensões de terras e de poderosa influência sobre a população.
A outra, de Justin Chadwick. Es-
Em 1527, o monarca pediu ao papa Clemente VII autorização para se separar da mulher, a rainha
tados Unidos e Inglaterra, 2008.
Catarina de Aragão. O papa negou-se a atender ao pedido, para não entrar em conflito com Carlos V, (115 min).
imperador do Sacro Império e sobrinho da rainha inglesa. Mesmo com a recusa papal, Henrique VIII
Ana dos mil dias, de Charles Jarrot.
separou-se de Catarina de Aragão e, em 1533, casou-se com sua amante, Ana Bolena, uma dama da
Inglaterra, 1969. (145 min).
corte. Em represália, Clemente VII excomungou o soberano (veja o “Olho vivo” nas páginas 34 e 35).
Os dois filmes mostram a obses-
Como resposta, em 1534 Henrique VIII convocou o Parlamento inglês e obteve aprovação para
são do rei Henrique VIII em ter
separar a Igreja do Estado na Inglaterra. Além disso, dissolveu os mosteiros e confiscou os bens da Igreja.
um filho e a disputa entre duas
Consumado o rompimento com o papado, Henrique VIII fundou a Igreja anglicana, cujo che- irmãs, Ana e Maria Bolena, pelo
fe seria o próprio rei (ou rainha) da Inglaterra. Com a morte de Henrique, caberia à sua filha, a rainha amor do rei.
Elizabeth I (1558-1603), a tarefa de consolidar o anglicanismo como doutrina religiosa oficial da Inglaterra.
HANS D. J. HOLBEIN/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

A partir do século XVI, com a afirmação das monarquias


nacionais e as primeiras manifestações do absolutismo
(veja o capítulo 6), a representação artística dos reis
passou a ser cada vez mais imponente. Neste retrato
de Henrique VIII, rei da Inglaterra entre 1509 e 1547,
o pintor Hans Holbein, o Moço, procurou destacar o
poderio do monarca, com roupas magníficas e a mão
na espada, numa época em que Henrique VIII fundava
uma Igreja da qual seria o chefe supremo.

A REAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA


Diante da difusão do protestantismo e das pressões de muitos clérigos exigindo o retorno da
Igreja católica a seus princípios originais, uma série de mudanças foi colocada em prática pela Santa
Sé. Essa reforma interna – ou Contrarreforma, como também é chamada – levou a Igreja a rever
dogmas, valores e princípios.
Para se reaproximar da população, ela criou organizações encarregadas de levar as Escrituras
HISTÓRIA

aos fiéis e de ajudar os mais necessitados. Com esse propósito, surgiram tanto grupos laicos, como a
Companhia do Divino Amor, como religiosos, como a Ordem dos Capuchinhos, que defendia um
ideal de pobreza para os membros.
Empenhada em recuperar o terreno perdido para os protestantes e arrebanhar novos fiéis, a
Igreja criou ordens evangelizadoras, como a Companhia de Jesus, em 1540. Seus integrantes, os
jesuítas, desempenhariam importante papel na difusão do cristianismo em terras da Ásia, da África
e da América a partir do século XVI.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 33


LH VIVO
Os embaixadores
Os dois homens representados na pintura
O globo celeste faz referência à teoria Os embaixadores eram nobres da corte france-
heliocêntrica, que desafiou os princípios da sa. À esquerda, vemos Jean de Dinteville (1504-
Igreja católica. -1555), embaixador da França na Inglaterra; à di-
reita, o bispo Georges de Selve (1508/1509-1541).
Em 1533, os dois estavam na Inglaterra com uma
difícil missão: tentar convencer o rei Henrique
VIII a não romper com a Igreja católica.

Medalhão da ordem de São Miguel,


uma das mais importantes ordens da
cavalaria da França.

Globo terrestre mostrando a


linha de Tordesilhas e a América.
Inclui também nome de lugares
significativos para Dinteville.

Obra com instruções sobre práticas de


cálculos comerciais impressa em 1527. A
página marcada com o esquadro começa
com a palavra alemã dividirt, outra alusão
à divisão político-religiosa da época.

O mosaico do chão é igual ao do


santuário da abadia de Westminster,
na Inglaterra.

A caveira remete à ideia da finitude da


vida e dos limites do conhecimento
humano. Ao escolher uma imagem
disforme (caveira distorcida para quem
olha o quadro de frente), o artista reforça
a ideia da limitação humana.

34 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


O encontro de ambos foi registrado pelo
pintor Hans Holbein, o Moço (1497-1543), do Torquetum, instrumento conhecido dos antigos
Sacro Império Romano-Germânico, em óleo so- gregos, cujo uso foi retomado durante a Idade Média.
bre madeira. A obra, além de apresentar aspec- Era empregado para observar a posição dos astros
tos característicos da época, como a preocupa- no céu em três diferentes sistemas de coordenadas.
ção com a ciência e o saber (repare, por exemplo,
nos instrumentos científicos representados), está
repleta de simbolismo, como veremos a seguir.

Quadrante, instrumento usado

HANS D. J. HOLBEIN/ERICH LESSING/ALBUM/LATINSTOCK


para medir a altura dos astros e,
assim, ajudar na localização das
embarcações em alto-mar.

O relógio de sol faz alusão à


redenção de Cristo, pois marca a
data de 11 de abril de 1533, dia
em que caiu a sexta-feira da Paixão
daquele ano.

Poliedro com diferentes relógios de


sol, usado para viagens.

O alaúde é um tradicional símbolo da


harmonia. Mas está com uma corda
quebrada, o que pode ser uma alusão à
discórdia entre católicos e protestantes.

Traduções de Lutero: na página


da esquerda, um hino religioso;
HISTÓRIA
Pintura de Hans
Holbein, o Moço, na da direita, preâmbulo para
conhecida como os Dez Mandamentos. Textos
Os embaixadores. mostram pontos em comum entre
Fontes: FARBER, Allen. Holbein’s The ambassadors and catolicismo e protestantismo,
Renaissance ideas of knowledge. Disponível em: <http:// em referência a um desejo de
employees.oneonta.edu/farberas/arth/arth214/ambassadors_ reunificação das duas Igrejas.
home.html>. Acesso em: 15 dez. 2014; CUMMINGS, Robert.
Para entender a arte. São Paulo: Ática, 2000.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 35


O Concílio de Trento
GLOSSÁRIO

Sete sacramentos: Em 1545, iniciou-se na cidade de Trento, na península Itálica, uma reunião de bispos e de teó-
segundo a Igreja católica, sacramen- logos destinada a estabelecer regras para a Igreja católica e a reforçar os princípios da fé. Conhecida
tos são gestos e palavras instituídos
como Concílio de Trento, ela foi interrompida por diversas vezes e prolongou-se até 1563.
por Jesus Cristo que concedem a
graça santificadora a quem os recebe. Entre outras medidas, o concílio decidiu criar seminários para a formação de futuros sacerdotes,
Os sete sacramentos são: 1) batismo reforçou a atuação da Inquisição e criou o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos aos
(confirmação da alma do indivíduo fiéis por conter ideias consideradas contrárias à fé católica.
em Cristo); 2) crisma (sacramento em Além de manter o celibato religioso, o concílio defendeu o culto às imagens e o recurso às indul-
que se ratifica a graça do batismo); 3)
confissão ou penitência (perdão dos gências, proibindo apenas a venda. Sustentou que o papel do clero era o de intermediar as relações
pecados cometidos); 4) confirmação entre Deus e as pessoas e de fazer a interpretação das Escrituras e reafirmou a importância dos sete
da ordem sacerdotal (o indivíduo re- sacramentos. Ao agir assim, o Concílio de Trento acabou de vez com a possibilidade de católicos e
cebe esse sacramento ao entrar para protestantes voltarem a se unir sob a mesma Igreja.
o sacerdócio); 5) matrimônio (união
santa e indissolúvel entre o homem
e a mulher); 6) extrema-unção (unção
ENQUANTO ISSO...

dos enfermos com os santos óleos); 7)


eucaristia (comunhão). A expansão islâmica
No alvorecer da Idade Moderna, enquanto a Igreja católica via-se envolvida em
profunda crise, a religião islâmica continuava dominante no Oriente Médio, no norte da
África e em boa parte da Índia. Entre os séculos XV e XVI, três grandes impérios nessas
regiões seguiam o islamismo: o Império Otomano (que controlava o sudeste da Europa
e todos os reinos de língua árabe, exceto a Arábia, o Sudão e o Marrocos), o Império
Safávida, na Pérsia, e o Império Mogol, na Índia (não confundir com o Império Mongol,
na China).
Somente no Império Otomano viviam aproximadamente 14 milhões de pessoas,
quase o dobro da população da Espanha e da Inglaterra juntas. Esse império sobreviveu
até o início do século XX, desfazendo-se após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Já o Império Mogol sobreviveu até meados do século XIX. Um dos principais sím-
bolos desse império é o Taj Mahal, cujas obras começaram em 1632 e levaram cerca de
vinte anos para serem concluídas.
Erguido na cidade de Agra, a mando do soberano Shah Jahan logo após a morte
de sua mulher, Mumtaz Mahal, para servir-lhe de mausoléu, o Taj Mahal foi construído
inteiramente em mármore branco. Em suas paredes foram incrustadas com quartzo
várias passagens do Alcorão.

DANM12/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES

Patrimônio da Humanidade, tombado pela Unesco em 1983, o Taj Mahal é um exemplo da arquitetura
mogol, em que se misturam os estilos arquitetônicos indiano, persa e islâmico. Sua construção, no
século XVII, foi resultado do trabalho de cerca de 22 mil homens trazidos de várias cidades do Oriente.

36 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


PARA CONSTRUIR

4 (UFJF-MG – Adaptada) O texto e a gravura a seguir se referem ao contexto de um

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE/COLEÇÃO PARTICULAR


m
Ene-1
importante processo histórico ocorrido no século XVI em vários países europeus.
C 1
H- Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação
dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso eco-
nômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de
Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa.
CALVINO, João apud MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII: os processos da
civilização europeia. In: CROUZET, Maurice. História geral das civilizações.
4. ed. São Paulo: Difel, 1973. p. 90. v. 1, tomo IV.
Com base nas referências e em seus conhecimentos, responda ao que se pede.
a) Qual movimento pode ser identificado pelas referências?
O movimento da Reforma protestante.

b) Identifique e analise dois desdobramentos desse movimento para a Europa moderna:


Quanto aos aspectos econômicos:
É possível destacar a formação de uma nova visão do trabalho e da salvação
individual baseada no trabalho e nos negócios, numa vida frugal, sem luxo e sem
Gravura retratando a venda de indulgências – O
dissipações; baseada na economia de dinheiro e no investimento para a criação de anticristo, de Lucas Cranach, 1521. Disponível em:
novas oportunidades de trabalho, especialmente entre os calvinistas. Isso teve grande <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 14 jun. 2010.
aceitação entre a burguesia, já que se transformou numa justificativa moral para o sucesso econômico, além de possibilitar o
desenvolvimento de atividades proibidas pelos católicos, como o empréstimo com juros.

Quanto às questões religiosas:


Do ponto de vista religioso, as reformas provocaram o enfraquecimento do papado e da Igreja católica, bem como a cisão do cristianismo e o
surgimento de novas Igrejas e novas ideias religiosas.

5 (Mack-SP) O rei Henrique VIII, aclamado defensor da fé pela Igreja católica, rompeu com o papa Clemente VII em 1534, por: d
a) opor-se ao Ato de Supremacia que submetia a Igreja anglicana à autoridade do papa.
b) rever todos os dogmas da Igreja católica, incluindo a indissolubilidade do sagrado matrimônio, através do Ato dos Seis Artigos.
c) aceitar as 95 teses de Martinho Lutero, que denunciavam as irregularidades da Igreja católica.
d) ambicionar assumir as terras e as riquezas da Igreja católica e enfraquecer sua influência na Inglaterra.
e) defender que o trabalho e a acumulação de capital são manifestações da predestinação à salvação eterna, como professava
Santo Agostinho.
6 (UFJF-MG) No início do século XVI, a Igreja católica passou por um amplo processo de reformulação doutrinal e administrativa,
chamado de Reforma católica (ou Contrarreforma). Paralelamente, as Coroas de Portugal e Espanha ajudavam no fortalecimento
da Igreja católica, mas também buscavam se transformar em instrumentos para a “salvação da humanidade” através da conquista
e da colonização de novas terras. Qual dos eventos abaixo NÃO faz parte deste contexto? c
a) O Concílio de Trento, que reuniu diversos religiosos com o objetivo de posicionar-se frente às críticas protestantes e reafirmar
os dogmas católicos.
b) A criação do Index Librorum Proibitorum, que se constituía numa lista de livros proibidos por atacar os dogmas católicos ou
atentar contra eles.
c) A difusão do “projeto colonizador”, segundo o qual o lucro era legítimo e o trabalho era uma vocação divina e que possibilitava HISTÓRIA
o acúmulo de riquezas, como sinal de predestinação.
d) O padroado real, através do qual os monarcas ibéricos eram autorizados a administrar os assuntos religiosos, tanto no reino
como nas terras de além-mar.
e) A fundação da Companhia de Jesus, uma vez que os jesuítas atuavam como educadores e catequizaram os povos nativos nas
colônias portuguesas e espanholas.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 4 a 6 Para aprimorar: 3 a 5

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 37


Veja, no Guia do Professor, as respostas da
“Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

PARAPARA PRATICAR
PRATICAR 4 (UFC-CE) O calvinismo se destacou dentre as demais corren-
tes protestantes, uma vez que defendia:
1 (Ufla-MG) O processo de reformas religiosas teve início no sé- a) a valorização do próprio trabalho como um serviço de
culo XVI e suas causas podem ser, exceto: Deus, o que legitimava os anseios da burguesia.
b) a condenação ao individualismo, como uma reação aos
a) a venda de indulgências incentivada pelos protestantes, ideais burgueses, que ameaçavam a difusão das ideias
que aliavam a sua ética religiosa ao espírito do capitalismo reformistas.
que nascia. c) a concepção de combate à burguesia, que se manifes-
b) a mudança na visão de mundo como consequência do tava favorável à usura e ao controle dos gastos.
pensamento renascentista. d) o misticismo e a vida de reclusão em mosteiros, valori-
c) a presença de padres malpreparados intelectualmente, zando uma religiosidade apolítica.
que provocavam insatisfação nos fiéis. e) a desagregação dos ideais de fraternidade e respeito ao
d) a insatisfação da burguesia diante da condenação do ca- próximo, a fim de garantir a força da liberdade individual.
tolicismo para o lucro e os juros.
5 (FGV-SP) Foram elementos da Reforma católica no século XVI:
2 (Fuvest-SP) a) A tradução da Bíblia para as diversas línguas nacionais, a
m
Ene-3
C 1
“O senhor acredita, então”, insistiu o inquisidor, defesa do princípio da infalibilidade da Igreja e a proibição
H-1 “que não se saiba qual a melhor lei?” Menocchio respon-
do casamento dos clérigos.
deu: “Senhor, eu penso que cada um acha que sua fé b) A afirmação da doutrina da predestinação, a condenação
seja a melhor, mas não se sabe qual é a melhor; mas, das indulgências como instrumento para a salvação e a
porque meu avô, meu pai e os meus são cristãos, eu manutenção do celibato dos clérigos.
quero continuar cristão e acreditar que essa seja a me- c) A manutenção do latim como língua litúrgica, a reafirma-
lhor fé”. ção do livre-arbítrio e a eliminação do batismo como um
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. dos sacramentos.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 113.
d) A tradução da Bíblia para as diversas línguas nacionais, a
O texto apresenta o diálogo de um inquisidor com um ho- abolição da confissão e a crítica ao culto das imagens.
mem (Menocchio) processado, em 1599, pelo Santo Ofício. A e) A manutenção do latim como língua litúrgica, o estabele-
posição de Menocchio indica: cimento do Tribunal do Santo Ofício e a criação da Com-
a) uma percepção da variedade de crenças, passíveis de se- panhia de Jesus.
rem consideradas, pela Igreja católica, como heréticas.
b) uma crítica à incapacidade da Igreja católica de combater 6 (PUC-MG) Leia estes trechos:
e eliminar suas dissidências internas. I. “Assim vemos que a fé basta a um cristão. Ele não precisa
c) um interesse de conhecer outras religiões e formas de cul- de nenhuma obra para se justificar.”
to, atitude estimulada, à época, pela Igreja católica. II. “O rei é o chefe supremo da Igreja [...] Nesta quali-
d) um apoio às iniciativas reformistas dos protestantes, que dade, o rei tem todo o poder de examinar, reprimir,
defendiam a completa liberdade de opção religiosa. corrigir [...] a fim de conservar a paz, a unidade e a
e) uma perspectiva ateísta, baseada na sua experiência tranquilidade do reino...”
familiar. III. “Por decreto de Deus, para manifestação de sua glória,
alguns homens são predestinados à vida eterna e ou-
3 (UFRGS-RS) A partir de 1517, Lutero e o papa Leão X en- tros são predestinados à morte eterna.”
volveram-se em vários conflitos entre si. O resultado dos A partir dessa leitura e considerando-se outros conhecimen-
confrontos foi: tos sobre o assunto, é correto afirmar que as concepções ex-
a) a abolição da servidão dos camponeses alemães. pressas nos trechos I, II e III fazem referência, respectivamen-
b) o aumento do comércio de indulgências na Alemanha. te, às doutrinas:
c) a constituição de uma Igreja protestante. a) católica, anglicana e ortodoxa.
d) o estabelecimento do celibato para os religiosos. b) luterana, anglicana e calvinista.
e) a permissão para que a Igreja católica interferisse nos c) ortodoxa, luterana e católica.
assuntos internos da Alemanha. d) ortodoxa, presbiteriana e escolástica.

38 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


(02) A reforma na Alemanha no século XVI tem como princi-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR pal referência intelectual Martinho Lutero e como uma
das principais críticas as práticas das indulgências ven-
1 (UFPR) didas pelo clero ao povo como salvação eterna.
m
Ene-3
C 5
Se não existissem leis e governos, uma vez que o (04) A Reforma na Suíça teve como seu maior representante
H-1 mundo é mau e apenas um ser humano em mil é um
João Calvino. Sua doutrina foi exposta na obra As Institui-
verdadeiro cristão, as pessoas se destruiriam umas às ou- ções da religião cristã.
tras e ninguém seria capaz de sustentar sua mulher e seus (08) O surgimento da Companhia de Jesus foi a concretiza-
filhos, de se alimentar e servir a Deus. O mundo tornar- ção dos ideais protestantes de fé para combater o cris-
-se-ia um deserto. E assim Deus instituiu dois governos, tianismo romano.
o governo espiritual, que molda os verdadeiros cristãos e (16) Os países ibéricos foram os que mais se beneficiaram
as pessoas justas por meio do Espírito Santo sob Cristo, com as reformas religiosas, pois o rompimento de Por-
e o governo secular, que reprime os maus e os não cris- tugal e Espanha com o papado possibilitou que eles de-
tãos e os obriga a conservarem-se exteriormente em paz senvolvessem uma ciência náutica sem as superstições
e permanecerem quietos, gostem ou não gostem disso. religiosas da Idade Média.
LUTERO, Martinho. Sobre a autoridade secular: até que ponto se estende
a obediência a ela? Tradução de Hélio M. L. de Barros e Carlos E. Matos. 4 (Unicamp-SP)
São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 16.
A base da teologia de Martinho Lutero reside na
Sobre o contexto da Reforma protestante e as ideias de Lutero ideia da completa indignidade do homem, cujas vonta-
sobre o poder temporal, é correto afirmar: des estão sempre escravizadas ao pecado. A vontade de
(01) Dando continuidade ao pensamento político de Santo Deus permanece sempre eterna e insondável e o homem
Agostinho, Lutero reforça a autoridade dos príncipes, le- jamais pode esperar salvar-se por seus próprios esfor-
gitima o domínio que exercem sobre os súditos e com- ços. Para Lutero, alguns homens estão predestinados à
partilha com os monarcas as ideias a respeito da centra- salvação e outros à condenação eterna. O essencial de
lização do poder. sua doutrina é que a salvação se dá pela fé na justiça,
(02) Lutero, por assumir uma posição de conservadorismo graça e misericórdia divinas.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno.
político e defender a teoria da resistência passiva dos São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 288-290.
cristãos, condenou com veemência as revoltas campo-
nesas na Alemanha. a) Segundo o texto, quais eram as ideias de Lutero sobre a
salvação?
(04) Ao fundamentar sua teologia na justificação pela fé, Lu-
b) Quais foram as reações da Igreja católica à Reforma
tero desenvolveu uma definição pessimista da humani-
dade, que se confrontava com a definição humanista. protestante?
Isso ficou evidente na polêmica que manteve com Eras- 5 (UFPR – Adaptada) O Concílio de Trento, reunido de 1545
mo, em torno do livre-arbítrio. a 1563, marcou a reação da Igreja católica, na tentativa de
(08) Apesar de se colocarem em campos teológicos e doutri- barrar o avanço do protestantismo e resolver os seus graves
nários completamente opostos, a Reforma protestante problemas internos, sendo o movimento denominado de
e a Reforma católica tinham um objetivo comum: res-
Contrarreforma. Entre as medidas tomadas, aponte a única
ponder às demandas espirituais da época e aplacar as
incorreta.
inquietações da consciência cristã.
(16) As guerras religiosas do século XVI uniram católicos e a) Reafirmação da autoridade papal e manutenção do celi-
protestantes contra a ameaça turca e o Islã. bato clerical.
b) Confirmação dos sete sacramentos e elaboração do cate-
2 Que relação pode ser estabelecida entre as ideias reformistas cismo.
na esfera religiosa e a eclosão de revoltas sociais e políticas c) Criação de seminários e proibição de venda das indul-
naquele período? gências.
d) Apoio à recente criação da Companhia de Jesus (1534).
3 (UEM-PR) Os movimentos pré-reformistas e reformistas nos e) Interpretação livre da Bíblia e supressão das imagens de
séculos XV e XVI, além de abalarem as estruturas religiosas da santos.
HISTÓRIA
Igreja romana, marcaram definitivamente a divisão do cristia-
nismo ocidental. A respeito desses movimentos, assinale as ANOTAÇÕES
frases corretas.
(01) John Wyclif liderou um movimento reformista na Ingla-
terra que pregava a diminuição do predomínio do clero
na Igreja, cujos bens deveriam ser entregues ao Estado.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 39


CAPÍTULO

4 As Grandes Navegações

Objetivos: O planeta Marte sempre exerceu sobre os habitantes da Terra um fascínio especial. Durante
certo tempo, imaginou-se que ele podia ser habitado. Conhecido também como planeta vermelho,
c Identificar os grupos
pensou-se depois que em suas terras áridas não houvesse vestígios de água.
sociais e os interesses
Esse enigma da Ciência chegou ao fim em 2008: o planeta Marte tem água, sim, embora na for-
que conduziram às
Grandes Navegações.
ma de gelo. O anúncio foi feito por técnicos da agência espacial norte-americana, Nasa, após análise
do material coletado na superfície do planeta pela sonda Phoenix.
c Conhecer os recursos Desvendar os mistérios do Universo tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelos seres
técnicos, os esforços humanos há séculos, mas as pesquisas para a conquista do espaço interestelar tiveram início de fato
e as etapas que em meados do século XX. De lá para cá, governos de diversos países investiram milhões de dólares
envolveram a conquista em pesquisas e viagens ao espaço. Hoje, norte-americanos, russos e chineses, entre outros povos,
do Atlântico. continuam envolvidos nessas pesquisas e viagens.
De certa forma, a corrida espacial se assemelha às Grandes Navegações. Apesar de conservarem
c Reconhecer os principais
especificidades que os diferenciam historicamente, o desenvolvimento científico e tecnológico envol-
desdobramentos das
vido em ambas as empreitadas e a expansão dos territórios conhecidos são duas características co-
Grandes Navegações:
a chegada dos
muns a esses dois episódios da História. É dessas navegações audaciosas que falaremos neste capítulo.
europeus às Índias e ao

NASA/JPL-CALTECH/MALIN SPACE SCIENCE SYSTEMS/REUTERS/LATINSTOCK


continente americano.

c Perceber o papel e
os interesses dos
nascentes Estados
Nacionais.

Foto de outubro de 2012 do robô Curiosity,


enviado pela Nasa ao planeta Marte
em agosto do mesmo ano. As amostras
coletadas pelo robô em solo marciano
permitem análise científica das composições
químicas do solo e do ar do planeta.

40 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


UM COMÉRCIO LUCRATIVO
Durante a Idade Média, o comércio entre a Ásia e a Europa era intermediado principalmente pe-
los árabes. Eles adquiriam mercadorias no Oriente e as levavam até entrepostos comerciais instalados
em áreas próximas ao mar Negro ou na parte mais oriental do Mediterrâneo. Comerciantes europeus
– principalmente venezianos e genoveses – deslocavam-se até esses entrepostos, abasteciam-se
dessas mercadorias e as revendiam nas feiras e cidades da Europa.
Entre sair da Ásia e chegar à Europa, os preços desses produtos sofriam aumentos de mais de
4 mil por cento. A pimenta, por exemplo, comprada por cerca de 3 ducados na Índia, era reven-
dida no Cairo por 68 ducados e quando chegava às cidades da Europa estava cotada em quase
140 ducados. Os comerciantes europeus sabiam que poderiam ter lucros maiores caso dispensassem
os intermediários e adquirissem as mercadorias diretamente de seus produtores nas Índias (nome
pelo qual chamavam todas as terras do leste da Ásia).
Até o século XIV, o conhecimento que se tinha na Europa a respeito de outros lugares do
mundo era bastante restrito. Além dos relatos do veneziano Marco Polo, as informações disponíveis
sobre o Oriente eram encontradas, quase sempre, em obras escritas por pessoas que jamais haviam
estado na Ásia.
Existiam também muitas

BETTMAN/CORBIS/LATINSTOCK
lendas sobre povos e lugares
desconhecidos. Uma delas, re-
produzida por monges e pere-
grinos, falava da existência do
chamado reino do Preste João,
rei cristão cujos domínios loca-
lizavam-se em algum ponto da
África Oriental ou da Ásia. Para
o governo português, esse reino
poderia ser importante aliado
de Portugal na luta contra os
muçulmanos.
O conhecimento a respeito
dos mares não era diferente. Mui-
tos europeus acreditavam que em
direção ao sul o mar seria habita-
do por monstros e estaria sempre
em chamas. Segundo essa crença,
aqueles que arriscassem cruzar o
Atlântico – conhecido como mar
Tenebroso – iriam se deparar
com o fim do mundo: em algum
ponto o oceano acabaria e daria
lugar a um enorme abismo.
Um oceano povoado de monstros
Em busca de rotas alternativas assustadores. Era assim o mar Tenebroso
O medo de se aventurar por essas regiões começou a mudar a partir de 1453, quando os turco- no imaginário dos europeus entre o fim
da Idade Média e o começo da Idade
-otomanos tomaram Constantinopla e dominaram o Mediterrâneo oriental, passando a cobrar altas Moderna. Nesta gravura de Sebastian
taxas das caravanas que cruzavam a região. Münster (século XVI), estão representados
Para escapar dessas cobranças, muitos mercadores europeus passaram a procurar rotas alterna- alguns desses monstros. Com as Grandes
HISTÓRIA

tivas em direção às Índias. Isso provocou uma grande busca por informações geográficas e marítimas. Navegações, o mar Tenebroso logo ficaria
conhecido como oceano Atlântico.
Nesse processo, quem saiu na frente foi Portugal.
Entre os fatores que explicam esse pioneirismo, podem ser destacados: a posição geográfica
do país, extremamente favorável às navegações, já que Portugal, banhado pelas águas do Atlânti-
co, era o reino mais ocidental da Europa; a existência de um poder centralizado e de um Estado
unificado, sem dissensões internas; e a longa experiência de pescadores e marinheiros lusitanos
na costa do Atlântico.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 41


A AVENTURA PORTUGUESA
Desde meados do século XIII, comerciantes e marinheiros portugueses faziam frequentes viagens
a outras regiões da Europa: levavam para a Inglaterra e a França, por exemplo, produtos como azeite,
vinho, couro e frutas secas. Ao retornar, traziam para Portugal móveis de madeira, armas de ferro e
tecidos, entre outros artigos.
Por essa época, o dinheiro começava a substituir gradualmente a posse da terra como símbolo
de prestígio e poder. Assim, o comércio marítimo promoveu pouco a pouco a ascensão social da
burguesia mercantil. Além disso, os mercadores portugueses foram beneficiados por alianças e acor-
dos de interesse mútuo estabelecidos com a Coroa portuguesa. De fato, por meio de leis, decretos e
incentivos, a monarquia concedia privilégios às pessoas que atuavam no comércio.
Em 1358, por exemplo, um decreto autorizava o corte de árvores nas matas do reino para a
construção de navios. Em 1380, o governo português criou a Companhia das Naus, uma espécie de
seguro marítimo cujo objetivo era resguardar os donos dos navios no caso de perdas por naufrágio
ou atos de pirataria. Ao mesmo tempo, o governo de Lisboa colocou em prática uma política pro-
tecionista, que restringia a ação de mercadores estrangeiros em Portugal, de modo a salvaguardar os
interesses dos comerciantes nacionais diante da concorrência externa.
GLOSSÁRIO

Política protecionista:
Essa relação entre a Coroa e a burguesia mercantil se consolidou de vez entre 1383 e 1385,
conjunto de medidas que se destina
quando ocorreu a Revolução de Avis, que expulsou de Portugal as forças de Castela e colocou no
ao incremento de economias nacio-
nais ou de seus setores. Alguns exem- trono dom João I, apoiado principalmente pela burguesia.
plos dessas medidas são: a taxação de Em 1415, o governo de dom João I resolveu ocupar Ceuta, importante entreposto comercial e
produtos estrangeiros; a isenção de militar situado no norte da África. A decisão tinha por objetivo tirar dos muçulmanos o controle do
impostos de exportação ou de outra comércio nessa região e colocá-lo em mãos portuguesas. Com a conquista de Ceuta, coordenada
natureza, de modo a permitir o exer-
cício de preços mais competitivos; a por um dos filhos do rei, o infante dom Henrique, teve início o processo de expansão ultramarina
determinação de um preço mínimo, de Portugal.
como garantia de compra, para os Após a conquista, dom Henrique foi agraciado com o título de grão-mestre da Ordem de Cristo,
produtos locais (especialmente na rica instituição religiosa cujo principal objetivo era “combater os infiéis” em qualquer lugar do mun-
agricultura); e o estímulo à importa-
ção de matéria-prima a baixo custo
do. Em Ceuta circulavam informações sobre a existência de ouro no reino do Mali, ao sul do Saara.
para o desenvolvimento de uma in- Atraído por essas informações – e pelo desejo de encontrar o reino do Preste João –, dom Henrique
dústria manufatureira, entre outros. planejou a conquista da costa oeste da África em direção ao sul, obtendo para isso financiamento
da Ordem de Cristo.

CRISTINA ARIAS/COVER/GETTY IMAGES/ESTAÇÃO DE SÃO BENTO, PORTO, PORTUGAL

Detalhe de um dos painéis de azulejos


que decoram a estação de trem São
Bento, na cidade do Porto, Portugal,
representando o infante dom Henrique
na conquista de Ceuta, em 1415.

42 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


A Escola de Sagres
Algum tempo depois da conquista de Ceuta, dom Henrique se transferiu para o Algarve, fixan-
do-se nas proximidades de Sagres, a vila mais ocidental da Europa. Ali, reuniu cartógrafos, astrônomos,
matemáticos e navegadores. Juntos, passaram a estudar o legado náutico deixado por grandes povos
– fenícios, egípcios, gregos, árabes, entre outros.
Os estudos desse grupo de especialistas não chegaram a tomar a forma de uma instituição
educacional permanente, mas ficaram conhecidos como Escola de Sagres. Como resultado de suas
atividades, foram desenvolvidas cartas marítimas e criados ou aperfeiçoados diversos instrumentos de
navegação, como mostra o boxe “A tecnologia náutica” a seguir. Além disso, foi inventado um novo
tipo de embarcação, a caravela, navio veloz e relativamente pequeno, com cerca de 20 a 30 metros
de comprimento. Tripulada por 40 a 50 homens, era ideal para a navegação costeira, podendo entrar
em rios e estuários e realizar manobras em regiões de águas rasas.
As expedições marítimas portuguesas rumo ao sul começaram em 1418 (veja o mapa na pró-
xima página). Entre 1420 e 1427, ocorreu a conquista das ilhas da Madeira e dos Açores, nas quais os
portugueses introduziram o plantio de trigo, uva e cana-de-açúcar. A partir de então, as expedições
começaram a esbarrar no temido cabo Bojador.
Região de arrecifes pontiagudos, o cabo era considerado um obstáculo intransponível pelos
portugueses. Quando chegavam ali, as caravelas sofriam sérias avarias ou afundavam. Em poucos
anos, cerca de vinte embarcações foram a pique. Para os supersticiosos, a destruição dos barcos no
Bojador devia-se aos monstros que habitavam o oceano ou à fúria divina.
Em 1534, uma expedição capitaneada por Gil Eanes conseguiu finalmente ultrapassar o temido
obstáculo. Com a travessia do Bojador, os portugueses haviam vencido o desconhecido e dominado
o medo.

A tecnologia náutica
Entre os instrumentos utilizados pelos navegantes em suas viagens a partir do século XV, destacam-se a bússola, o quadrante e o
astrolábio. A primeira é uma agulha magnética que indica a direção do polo Norte e ajuda a identificar a posição percorrida pelo navio;
o quadrante é um arco graduado, de 45 graus, que fornece a latitude exata em que se encontra a embarcação. Já o astrolábio consiste
em um disco metálico ou de madeira, utilizado para determinar a posição do navio com base na das estrelas.
Juntamente com a invenção e o aperfeiçoamento desses instrumentos, os cartógrafos portugueses passaram a acompanhar os
navegadores em suas viagens com o objetivo de elaborar mapas mais precisos. Esses mapas acabaram se tornando objetos extrema-
mente cobiçados na Europa, pois continham informações geográficas que na época eram de conhecimento apenas dos portugueses.

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Da esquerda para a direita: um astrolábio,


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uma bússola e um quadrante.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 43


No extremo Sul da África
Vencido o Bojador, Portugal pôde dar continuidade às expedições marítimas em direção ao sul
da costa africana. Em 1444, uma dessas expedições retornou a Portugal com cerca de duzentos afri-
canos, vendidos depois como escravos. Esse foi o primeiro grupo de africanos escravizados vendidos
em Portugal, prática que logo se generalizaria entre os mercadores portugueses (e de outras origens)
e que se estenderia por mais de quatro séculos.
Quando dom Henrique morreu, em 1460, os portugueses já haviam chegado até a região da
atual Serra Leoa. Uma bula do papa Eugênio IV garantia-lhes o monopólio comercial no continente
africano e o direito de “capturar e subjugar os sarracenos [muçulmanos] e pagãos [africanos] e qual-
quer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, como também seus reinos, ducados, principados e outras
propriedades, assim como reduzir essas pessoas à escravidão perpétua”.
O último passo nesse avanço pela costa africana ocorreu em 1487, quando Bartolomeu Dias
dobrou a extremidade sul do continente africano. Chamou o acidente geográfico ali encontrado de
cabo das Tormentas. Mais tarde, o rei dom João II (1481-1495) mudou esse nome para cabo da Boa
Esperança. A essa altura, os portugueses já haviam definido seu mais ambicioso projeto: encontrar o
caminho marítimo para as Índias. Como a confirmar o nome com que chamou o cabo, Bartolomeu
Dias morreria em 1500 durante uma tormenta no cabo da Boa Esperança.

Portugueses na costa africana

EUROPA

PORTUGAL
ESPANHA
Lisboa
Palos
Açores Ma
1428 r Me
Ceuta diterrâneo ÁSIA
1415

Madeira
1420 Cabo Bojador
1434 Trópico de Câncer

Cabo
Verde
1456 ÁFRICA
GUINÉ
1434-1462
Equador

CONGO
1482-1485 Melinde
1498
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.
Ba
rto

OCEANO
lom

ATLÂNTICO
e
u Di

Moçambique
1498
as

Trópico de Capricórnio

Cabo da OCEANO
Boa Esperança ÍNDICO
1487
N

0 826

km

44 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


OS ESPANHÓIS CHEGAM À AMÉRICA
Os feitos portugueses estimularam o interesse de navegantes de outras regiões da Europa em
descobrir um caminho alternativo para as Índias. Um deles era o genovês Cristóvão Colombo. Acre-
ditando na esfericidade da Terra, Colombo argumentava que a forma mais rápida de se chegar às
Índias a partir da Europa seria pelo oceano Atlântico. Segundo sua tese, para atingir o Oriente seria
preciso navegar para o Ocidente.
Diante da recusa do rei de Portugal dom João II em financiar seu projeto, o genovês se dirigiu
aos reis espanhóis Fernando e Isabel e deles conseguiu apoio. Em agosto de 1492, acompanhado
por cerca de noventa homens, Colombo deixou o porto de Palos, na Andaluzia, no comando das
caravelas Santa María, Pinta e Niña.
CORBIS/LATINSTOCK

De pé sobre um escaler,
Cristóvão Colombo
despede-se dos reis
católicos (Isabel e
Fernando) no porto de
Palos, na Espanha atual.
Em sua viagem rumo ao
Oriente, Colombo
chegou a um continente
desconhecido dos
europeus e que logo
viria a se chamar
América. Gravura
Cristóvão Colombo
partindo para sua
primeira viagem, de
Victor A. Searles, 1892.

Navegando sempre em direção a oeste, no dia 12 de outubro do mesmo ano, Colombo avistou
terra firme. Acreditou ter chegado às Índias, mas suas embarcações haviam aportado em um con-
tinente desconhecido dos europeus e que posteriormente passou a ser conhecido como América.
Entre 1493 e 1502, Colombo realizou mais três viagens ao novo continente sob o patrocínio
da Espanha, mas as riquezas tão desejadas não foram encontradas. Em 1506, Colombo morreu em
Valladolid, na Espanha, abandonado, sem prestígio e certo de que encontrara o caminho para as Índias.
VEJA O FILME
O TRATADO DE TORDESILHAS 1492: a conquista do paraíso, de
O feito de Colombo levou os governos de Portugal e da Espanha a se envolverem em uma Ridley Scott. França, Espanha, Es-
disputa a respeito de qual dos dois reinos teria primazia sobre as “novas” terras. Como não chega- tados Unidos e Inglaterra, 1992. HISTÓRIA
(155 min).
vam a um acordo, os reis de Portugal e Espanha pediram ao papa Alexandre VI que servisse de juiz
na disputa. Em 7 de junho de 1494, com o testemunho do papa, representantes dos dois governos O filme narra a dedicação de Co-
lombo para empreender sua ex-
chegaram finalmente a um acordo e assinaram o Tratado de Tordesilhas.
pedição: da luta para conseguir
O acordo dividia o mundo em dois blocos, a partir de uma linha imaginária que ficava fundos da Coroa espanhola ao
370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde (veja o mapa da próxima página). As terras já encon- encontro com os habitantes do
tradas, ou que viessem a sê-lo, a oeste desse marco pertenceriam à Espanha. As terras situadas a Novo Mundo.
leste seriam de Portugal.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 45


A CAMINHO DAS ÍNDIAS
Após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, os espanhóis continuaram com suas expedições
em direção ao continente americano. O governo de Portugal, em contrapartida, manteve seus planos
de chegar às Índias contornando a África. Assim, após a travessia do cabo da Boa Esperança, os por-
tugueses decidiram organizar uma nova viagem. Dessa vez, o escolhido para comandar a empreitada
foi Vasco da Gama.
Vasco da Gama partiu de Lisboa em julho de 1497, com quatro navios e 170 homens sob seu
comando. Em novembro, a frota dobrou o cabo da Boa Esperança. Em março do ano seguinte, che-
gou a Melinde, na costa do Quênia atual. Ali, Vasco da Gama conseguiu a ajuda de um marinheiro
árabe que concordou em guiá-los pelo oceano Índico até as Índias. Assim, em maio de 1498, a frota
portuguesa aportou em Calicute, na Índia atual.

PORTUGUESES NA AMÉRICA
ACESSE O SITE O sucesso da empreitada de Vasco da Gama estimulou novas viagens. Em 1500, após afastar-se
da costa africana, o navegador Pedro Álvares Cabral alcançou terras a oeste do Atlântico Sul, que
O mundo luso-brasileiro mais tarde passariam a ser chamadas de Brasil. No ano seguinte, o florentino Américo Vespúcio, a
Exposição virtual do Arquivo Na- serviço do rei de Portugal, mapeou essas terras, chegando à conclusão de que não faziam parte das
cional sobre a expansão maríti- Índias, mas sim de um novo continente que, em sua homenagem, passou a ser chamado América.
ma portuguesa. Disponível em:
Em 1519, o português Fernão de Magalhães, a serviço da Coroa espanhola, deu início à primeira
<http://tinyurl.com/8fwcrat>.
Acesso em: 15 dez. 2014. viagem ao redor da Terra. Morto em uma ilha do Pacífico, sua viagem de circum-navegação seria
completada por Sebastião Elcano, que estaria de volta à Espanha em 1522 (veja o mapa abaixo).

Navegações portuguesas e espanholas (séculos XV e XVI)

Círculo Polar Ártico

Á S I A
LINHA DO TRATADO DE TORDESILHAS

OCEANO
ATLÂNTICO EUROPA
AMÉRICA PORTUGAL
Veneza
DO NORTE Açores
ESPANHA
Lisboa Sevilha
1427 Palos JAPÃO
M
ar Me
Ceuta diterrâneo OCEANO
1415 PACÍFICO
Madeira
San 1420 Cabo Bojador Trópico de Câncer
Salvador 1492 1434
Cabo Verde Goa Filipinas Morte d
1456 Calicute 1498 e Fer
Magalh não
AMÉRICA ÁFRICA Cochim ães 1 de
GUINÉ 521
CENTRAL 1434-1462
Equador
CONGO Melinde
B 1482-1485 1498
OCEANO
ar

Porto Seguro
OCEANO
tol

1500 ÍNDICO
AMÉRICA Moçambique
o

PACÍFICO
meu

1498
DO SUL Trópico de Capricórnio
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.

522
Dias

Cabo da
no 1 OCEANIA
Boa Esperança
tião Elca
OCEANO 1487 Sebas
Fern ATLÂNTICO
ão
de
151
9-
Ma
15

ga
21

ãe
lh

Rotas das navegações portuguesas Rotas das navegações espanholas


N Primeiras viagens Cristóvão Colombo
0 1 844
Vasco da Gama Fernão de Magalhães e Sebatião Elcano
Pedro Álvares Cabral (primeira viagem de circum-navegação)
km

46 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


ENQUANTO ISSO... Os chineses, outra vez
Enquanto os portugueses se preparavam para iniciar suas viagens ultramarinas em
direção às Índias, um navegante chinês já dominava o oceano Índico. Era Zheng He
(1371-1435), um eunuco oriundo de família muçulmana a serviço do imperador chinês.
Entre 1405 e 1433, ele realizou sete expedições pelo oceano Índico, chegando à Índia,
ao golfo Pérsico, à África oriental e ao sudeste da Ásia. Uma dessas expedições contou

GOH CHAI HINSTF


com uma frota de 62 embarcações e cerca de 30 mil marinheiros. Nessas viagens, os
chineses entraram em contato com cerca de quarenta reinos, estabelecendo relações
comerciais e diplomáticas com eles. Zheng He navegava com o auxílio de uma bússola,
instrumento inventado pelos chineses quase 2 mil anos antes.

Estátua do navegador chinês Zheng He em Jiangsu,


na China, em foto de 2005.

PARA CONSTRUIR

1 Os comerciantes europeus acreditavam que teriam lucros 2 (Vunesp) A propósito da expansão marítimo-comercial euro-
m
Ene-2
muito maiores se pudessem atingir postos comerciais nas peia dos séculos XV e XVI, pode-se afirmar que: c
C 8
H- Índias sem intermediários. Entretanto, eles permaneciam de- a) a Igreja católica foi contrária à expansão e não participou
pendentes dos entrepostos controlados pelos árabes. Com da colonização das novas terras.
base nessas informações, responda às questões:
b) os altos custos das navegações empobreceram a burgue-
a) Que obstáculos, reais ou imaginários, impediam os euro- sia mercantil dos países ibéricos.
peus de encontrar uma rota alternativa para chegar dire- c) a centralização política fortaleceu-se com o descobrimen-
tamente ao Oriente? to das novas terras.
Na Idade Média, os europeus não tinham conhecimentos d) os europeus pretendiam absorver os princípios religiosos
marítimos suficientes para se arriscar numa travessia pelo dos povos americanos.
oceano Atlântico, que eles chamavam de mar Tenebroso. e) os descobrimentos intensificaram o comércio de especia-
rias no mar Mediterrâneo.
Havia também poucas informações sobre o Oriente, a maioria
originária de fontes pouco confiáveis (em obras escritas por 3 (UFMG) Leia estas estrofes iniciais de Os lusíadas, poema data-
pessoas que não haviam estado na Ásia). O desconhecimento do de 1572.
provocava medo e insegurança, estimulando lendas de monstros As armas e os barões assinalados
marinhos e imensos abismos que destruiriam as embarcações.
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
b) Que acontecimento provocou a alteração desse quadro
E entre gente remota edificaram
e praticamente obrigou os comerciantes europeus a se
Novo Reino, que tanto sublimaram;
lançar à procura de outras rotas comerciais?
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
Em 1453, os turco-otomanos tomaram Constantinopla e dominaram
A Fé, o Império, e as terras viciosas
HISTÓRIA
o Mediterrâneo oriental. Essa mudança provocou um grande De África e de Ásia andaram devastando,
aumento nas taxas e nos impostos cobrados dos comerciantes E aqueles que por obras valerosas
europeus. Para contornar esse problema, muitos mercadores Se vão da lei da Morte libertando:
passaram a procurar ou financiar rotas alternativas em direção
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
às Índias.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 47


Cale-se de Alexandro e de Trajano II. Esta viagem foi resultado dos esforços conjuntos de Espa-
A fama das vitórias que tiveram; nha e de Portugal nas navegações.
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, III. Cristóvão Colombo valeu-se dos conhecimentos náuticos
A quem Neptuno e Marte obedeceram. e cartográficos dos portugueses para empreender suas
Cesse tudo o que a Musa antiga canta, viagens.
Que outro valor mais alto se alevanta. Quais estão corretas?
CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Porto: Porto Editora, 1975. p. 69.
a) Apenas I.
Com base na leitura dessas estrofes, é correto afirmar que a b) Apenas II.
ideia central do poema é: c c) Apenas III.
a) exaltar a religião reformada e os valores puritanos, num d) Apenas I e III.
contexto em que a Europa se expandia na direção de no- e) I, II e III.
vos mundos.
b) louvar os modelos antigos até então referenciais para a 5 O Tratado de Tordesilhas, assinado pelos governos de Espa-
cultura europeia, como as epopeias homéricas e os feitos m
Ene-2
nha e Portugal em 7 de junho de 1494, com o testemunho
C 7
de heróis gregos e romanos. H- do papa, dividia o mundo em dois blocos. Com que finalida-
c) narrar a saga marítima portuguesa, ou seja, os feitos rela- des esse acordo foi firmado?
cionados às expedições oceânicas realizadas pelos lusos a O Tratado de Tordesilhas foi consequência da chegada de Colombo
partir do século XV. à América, feito que levou Portugal e Espanha a uma disputa pela
d) relatar os acontecimentos mais marcantes da conquista e
primazia sobre as “novas” terras. Como não chegassem a um
da colonização das terras brasileiras, visando gravá-los na
acordo, os reis de Portugal e Espanha pediram ao papa Alexandre
memória dos contemporâneos.
VI que servisse de juiz na disputa. Em 7 de junho de 1494, com
4 (UFRGS-RS) A chegada de Cristóvão Colombo ao continente o testemunho do papa, representantes dos dois governos
americano, em 1492, a serviço da Espanha, é um fato signifi-
assinaram o Tratado de Tordesilhas. O acordo dividia o mundo
cativo na História. Considere as afirmações abaixo, a respeito
em dois blocos, a partir de uma linha imaginária que ficava a
dos fatores que possibilitaram a viagem de Cristóvão Colom-
bo em 1492. d 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras já encontradas
ou que viessem a sê-lo a oeste desse marco pertenceriam à
I. Esta viagem constituiu-se em um desdobramento da ex-
pansão portuguesa iniciada no século XV. Espanha. As terras situadas a leste seriam de Portugal.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 5 Para aprimorar: 1 e 2

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

Valeu a pena? Tudo vale a pena


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
1 O poeta português Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em Tem que passar além da dor.
m
Ene-4
13 de junho de 1888. Considerado um dos maiores nomes Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
C 6
H-1 da literatura mundial, publicou em vida um único livro em Mas nele é que espelhou o céu.
português, Mensagem, lançado em 1934, um ano antes de PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 16.
sua morte. Os poemas desse livro contam a história de Portu- A partir da leitura do texto, responda:
gal. É o caso de “Mar português”, que remete ao período das
a) Pode-se afirmar que o poema retrata a visão europeia do
Grandes Navegações.
século XV a respeito das conquistas verificadas no perío-
Mar português do das Grandes Navegações. Que visão é essa e como ela
Ó mar salgado, quanto do teu sal está expressa no poema?
São lágrimas de Portugal! b) O desenvolvimento da tecnologia náutica teve um gran-
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, de peso no processo das conquistas portuguesas a partir
Quantos filhos em vão rezaram! do século XV. Os avanços verificados no período possibili-
Quantas noivas ficaram por casar taram maior contato entre povos que até então não se co-
Para que fosses nosso, ó mar! nheciam. Sob diferentes formas, hoje em dia, tecnologias

48 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


como o telefone celular e a internet também têm servido conhecimentos geográficos do mundo resultantes dos
para interligar pessoas de diferentes partes do mundo. Na descobrimentos.
sua visão, o desenvolvimento tecnológico atual beneficia d) Os descobrimentos tiveram grande repercussão no mun-
positivamente as relações humanas? Escreva um texto do contemporâneo por estabelecer os parâmetros re-
sobre a questão dando exemplos concretos observados ligiosos e sociais com os quais se explica o processo da
hoje em dia. independência nas Américas.
2 Observe novamente o mapa “Portugueses na costa africana”, 5 (Fuvest-SP)
na página 44, e elabore uma linha do tempo indicando as
Os cosmógrafos e navegadores de Portugal e Espanha
conquistas portuguesas no litoral da África.
procuram situar estas costas e ilhas da maneira mais con-
3 (PUC-RJ) A expansão comercial e marítima dos séculos XV e veniente aos seus propósitos.
m XVI foi uma experiência de grande impacto no mundo euro- Os espanhóis situam-nas mais para o Oriente, de for-
Ene-4
C 8
H1
- peu, pois: ma a parecer que pertencem ao Imperador (Carlos V); os
portugueses, por sua vez, situam-nas mais para o Ociden-
I. Possibilitou a exploração das novas terras descobertas,
te, pois deste modo entrariam em sua jurisdição.
por intermédio de atividades econômicas propiciadoras Carta de Robert Thorne, comerciante inglês,
do abastecimento de gêneros agrícolas e metais precio- ao rei Henrique VIII, em 1527.
sos em larga escala. O texto remete diretamente:
II. Utilizou-se de novas técnicas, possibilitadoras da amplia- a) à competição entre os países europeus retardatários na
ção dos conhecimentos náuticos e astronômicos. corrida pelos descobrimentos.
III. Estimulou a difusão de relatos de cunho etnocêntrico so- b) aos esforços dos cartógrafos para mapear com precisão as
bre os povos e terras extraeuropeus. novas descobertas.
IV. Propiciou a paz religiosa entre reformadores e ortodoxos, c) ao duplo papel da marinha da Inglaterra, ao mesmo tem-
na medida em que viabilizou a distribuição desses grupos po mercantil e corsária.
pelos novos espaços habitáveis do mundo colonial. d) às disputas entre países europeus, decorrentes do Tratado
Indique a opção que apresenta as afirmativas corretas. de Tordesilhas.
a) I e II. e) à aliança das duas Coroas ibéricas na exploração marítima.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) II, III e IV. PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
e) Todas.
1 O processo de expansão marítima de Portugal foi promovi-
4 (Unicamp-SP) Alexandre von Humboldt (1769-1859) foi um do por uma aliança entre o Estado monárquico e a burgue-
m
Ene-3
m
Ene-4
cientista que analisou o processo das descobertas marítimas C 3
C 6 H1
- sia mercantil. Nesse acordo, ambos obtiveram vantagens: o
H-1 do século XVI, classificando-o como um avanço científico
Estado garantiu a ampliação de seu poder e dos territórios
ímpar. A descoberta do Novo Mundo foi marcante porque
sob seu domínio e a burguesia conquistou novos mercados
os trabalhos realizados para conhecer sua geografia tiveram
e ampliou suas atividades comerciais, assegurando privilé-
incontestável influência no aperfeiçoamento dos mapas e
gios e monopólios. Reflita sobre a seguinte questão: o Estado
nos métodos astronômicos para determinar a posição dos
brasileiro, atualmente, privilegia grupos sociais específicos ou
lugares. Humboldt constatou a importância das viagens,
exerce o poder em benefício de toda a sociedade? Escreva
imputando-lhes valor científico e histórico.
um pequeno texto sobre o tema.
DOMINGUES, H. B. Viagens científicas: descobrimento e colonização no
Brasil no século XIX. In: HEIZER, Alda ; VIDEIRA, Antonio A. Passos.
Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro: 2 (Uerj) As Grandes Navegações dos séculos XV e XVI possibili-
Acess, 2001. p. 59. Adaptado. taram a exploração do oceano Atlântico, conhecido, à época,
Assinale a alternativa correta. como mar Tenebroso. Como resultado, um novo movimento
a) O tema dos descobrimentos relaciona-se ao estudo da penetrava nesse mundo de universos separados, dando iní-
inferioridade da natureza americana, que justificava a ex- cio a um processo que foi considerado por alguns historia- HISTÓRIA
ploração colonial e o trabalho compulsório. dores uma primeira globalização e no qual coube aos portu-
b) Humboldt retoma o marco histórico dos descobrimentos gueses e espanhóis um papel de vanguarda.
e das viagens marítimas e reconhece suas contribuições a) Apresente o motivo que levou historiadores a considerar
para a expansão do conhecimento científico. as Grandes Navegações uma primeira globalização.
c) Os conhecimentos anteriores às proposições de Galileu b) Aponte dois fatores que contribuíram para o pioneirismo
foram preservados nos mapas, métodos astronômicos e de Portugal e Espanha nas Grandes Navegações.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 49


CAPÍTULO

5 Os impérios coloniais

Objetivos: O que a ilha de Santa Helena, Aruba e a Guiana Francesa têm em comum? O fato de pertence-
rem a potências europeias. Santa Helena, na África, é um território ultramarino da Inglaterra; a Guiana
c Conhecer a expansão
Francesa, na América do Sul, como o nome indica, é um domínio da França; e Aruba é uma ilha no
ultramarina
Caribe pertencente à Holanda.
empreendida pelos
Houve uma época em que as potências europeias detinham grandes impérios coloniais. Aruba,
europeus a partir do
Santa Helena e Guiana Francesa são uma reminiscência dessa época, durante a qual o interesse em
século XV.
dominar os mares, controlar fontes de ouro e prata e obter grandes lucros por meio do comércio
c Entender os conceitos marítimo despertou em países europeus o desejo de conquistar terras além-mar.
de pacto colonial e Passados cinco séculos, ainda hoje alguns desses países mantêm sob seu domínio territórios
mercantilismo. conquistados naquele período. A França, além da Guiana Francesa, controla as ilhas de Saint Pierre e
Miquelon (conquistadas em 1604), na América do Norte, Martinica e Guadalupe (ambas em 1635),
c Identificar as nações no mar do Caribe, e a ilha de Reunião (1642), na África.
europeias e as
No Caribe, a Inglaterra domina as ilhas Virgens Britânicas (conquistadas em 1672), Anguilla
regiões do mundo
(1650) e as ilhas Cayman (1670); já a Holanda possui, além de Aruba, as Antilhas Holandesas, ambas
envolvidas no processo
dominadas em 1636. Neste capítulo, estudaremos os fatores que levaram à expansão ultramarina de
expansionista.
potências europeias entre os séculos XV e XVII.
c Compreender os
desdobramentos do
processo expansionista,
considerando aspectos
culturais e econômicos.

WORLDFOTO/ALAMY/OTHER IMAGES

Atividade
Experimental
Acesse o Material Comple- O inglês é um idioma falado nas ilhas Cayman, território na região do Caribe, que desde o fim do século XVI
mentar disponível no Portal e encontra-se sob domínios da Inglaterra.
aprofunde-se no assunto. Na imagem, vemos uma placa de trânsito em inglês que alerta os motoristas a tomar cuidado com as iguanas,
que costumam atravessar a pista. Foto de 2008.

50 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


A REVOLUÇÃO COMERCIAL
A chegada dos espanhóis ao continente americano em 1492 e a descoberta do caminho marí-
timo para as Índias pelos portugueses em 1498 podem ser consideradas o marco inicial da Expansão
Ultramarina. Com elas, as sociedades europeias, que até então viviam fechadas, restringindo seus
contatos aos povos do Mediterrâneo, ampliaram seus horizontes para o mundo além-mar. O co-
mércio deslocou-se então dos mares interiores da Europa – Mediterrâneo, Báltico e Negro – para os
oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.
Acompanhando o comércio, o contato intercultural incentivou a troca de ideias. O intercâmbio
entre povos de culturas e lugares tão distintos contribuiu para que o conhecimento tecnológico se
desenvolvesse de forma intensa e contínua. Isso permitiu grandes avanços nas áreas da navegação,
cartografia, medicina e construção naval. Expandiu-se também o saber científico, principalmente em
áreas como Astronomia, Geografia, Zoologia e Mineralogia.
O comércio cresceu significativamente. As especiarias, que estimularam a procura do caminho
marítimo para as Índias, se tornaram artigos cobiçados, principalmente por ajudar na conservação
dos alimentos (veja o boxe “O consumo consciente de alimentos”, na próxima página). Além delas,
diversos produtos passaram a circular pelo mundo. A batata, o tomate, o fumo, o mamão e o abacaxi,
originários das Américas, foram introduzidos no continente europeu. O cacau e o milho, igualmente
típicos das terras americanas, adaptaram-se muito bem na África. Originária da Ásia, a cana-de-açúcar
espalhou-se por regiões do Caribe e da América do Sul. O café, oriundo da Etiópia, penetrou no
continente europeu e chegou mais tarde à América.
Animais e objetos também cruzaram o mundo. Os europeus levaram o cavalo tanto para
a América como para o Japão, onde só existiam equinos de pequeno porte. Por intermédio dos
mercadores da Europa, os japoneses também tiveram seu primeiro contato com as armas de fogo
e o relógio. Assim, graças às navegações, produtos de quatro continentes passaram a atravessar os
mares, provocando uma circulação monetária desconhecida até então. Por tudo isso, esse processo
é chamado de Revolução Comercial.

COLLECTION ROGER-VIOLLET/TOPFOTO

HISTÓRIA

Antigo planisfério português, precursor dos mapas modernos e no qual a superfície terrestre é representada num plano retangular.
Além de apresentar os continentes e os oceanos da forma como eram conhecidos, a parte inferior traz diversos tipos de embarcação.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 51


O consumo consciente de alimentos
Conservar alimentos para garantir seu consumo no futuro sempre foi uma preocupação dos grupos humanos. A salga e a defu-
mação de carnes, a produção de conservas, a fabricação de queijos e de pães, entre muitos outros exemplos, são técnicas criadas ao
longo do tempo com o objetivo de preservar e prolongar o uso de alimentos in natura.
Por essa razão, as especiarias do Oriente tiveram um papel de destaque na Europa do começo da Idade Moderna. Em uma época
na qual inexistiam geladeiras e o inverno era rigoroso, os europeus abatiam as reses no outono, porque no inverno não haveria comida
para esses animais. Mas, para se alimentarem nos meses subsequentes ao do abate, era preciso conservar a carne. As técnicas usadas
baseavam-se em receitas que incluíam plantas aromáticas e temperos variados. Uma das receitas mais comuns era uma mistura de sal,
vinagre, grãos de cominho, coentro e pimenta.
Além da conservação de carnes e peixes, as especiarias também eram muito utilizadas na preparação dos alimentos, já que depois
de certo tempo muitos produtos adquiriam sabores nem sempre agradáveis.
Graças a essa ampla utilização, as especiarias eram extremamente populares. Um guia muito utilizado na Europa na Idade Média
citava 288 substâncias para conservar e temperar alimentos, ministrar como remédio, etc.
A especiaria mais cobiçada era a pimenta-da-índia (aqui no Brasil chamada de pimenta-do-reino), famosa por suas propriedades
digestivas, usada como estimulante do apetite e indicada para melhorar a circulação sanguínea. Mas havia também a canela (oriunda do
Ceilão, atual Sri Lanka); a noz-moscada e o cravo (ambos das ilhas Molucas, hoje Indonésia), além do açafrão, do gengibre, da cúrcuma, do
anis, das sementes de papoula e muitas outras. O acesso a esses produtos, no entanto, era extremamente limitado, só melhorando com o
comércio resultante das Grandes Navegações.
Embora hoje algumas dessas técnicas de conservação ainda sejam utilizadas (como a salga de peixes e de carne e a cristalização
de frutas), existem outras formas de se preservar os alimentos que vão desde guardá-los em geladeiras ou freezers até a adição de pro-
dutos químicos que preservam suas características por mais tempo. Apesar disso, o que se constata hoje é uma cultura generalizada
de desperdício de alimentos.
Segundo alguns estudos recentes, no Brasil cerca de 64% do que deveria ir para a mesa da população é perdido na colheita, no trans-
porte, na produção, na industrialização e também na casa do consumidor final, ou seja, na nossa casa. Todos os dias, cerca de 70 mil tone-
ladas de alimentos são jogadas no lixo. São frutas de casca manchada, iogurtes perto da data de vencimento, pães amanhecidos, comidas
esquecidas dentro da geladeira, entre outros produtos que não são consumidos.
Hoje a humanidade já consome 30% a mais de recursos naturais do que a capacidade de renovação da Terra. Se os padrões de
consumo e produção se mantiverem no nível atual, em menos de cinquenta anos serão necessários dois planetas Terra para atender
nossas necessidades de água, energia e alimentos. Situação essa capaz de pôr em risco a sobrevivência do planeta. Por essa razão, vem
crescendo cada vez mais o movimento mundial em favor do consumo consciente de alimentos.
Fontes: Akatu. Disponível em: <www.akatu.com.br>. Acesso em: 15 dez. 2014; Comida entra na mira do consumo consciente. Folha de S.Paulo, 9 out. 2003;
FLANDRIM, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (Org.). História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998;
NEPOMUCENO, Rosa. O Brasil na rota das especiarias. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.
THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

Afresco do século XV representando o


interior de uma farmácia na península
Itálica, na qual se vendiam também
algumas das especiarias provenientes
da Ásia. Estas eram compradas dos
mercadores árabes por comerciantes
de cidades da península Itálica, como
Gênova e Veneza.

52 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


O MERCANTILISMO
A expansão do comércio provocou o surgimento no século XVI de um conjunto de princípios
conhecido como mercantilismo. Mesmo não tendo se constituído como doutrina sistemática, o
mercantilismo foi seguido por boa parte dos governantes, desejosos de ver a prosperidade de suas
nações e o aumento do poder do Estado. Embora
variassem de uma nação para outra, alguns dos prin-

THE BRIDGEMMAN ART LIBRARY/KEYSTONE


cípios mercantilistas eram comuns a todas elas. Entre
eles, destacam-se os seguintes:
Metalismo: argumentava-se que, quanto maior o
volume de moedas de ouro e prata acumulado
por uma nação, mais rica ela seria.
Balança comercial favorável: os governos acredi-
tavam que o dinheiro ganho com as exportações
tinha de ser maior do que os gastos com as im-
portações. Como as transações costumavam ser
feitas com moedas de ouro e prata, quanto mais
favorável fosse a balança comercial, mais rico seria
o Estado.
Política protecionista: consistia na cobrança de
altas taxas alfandegárias sobre as mercadorias es-
trangeiras. Isso as deixava mais caras e obrigava o
consumidor a comprar os artigos fabricados no
próprio país.

O “PACTO COLONIAL”
Também contribuiu para que as ideias mercan-
tilistas vigorassem na Europa o fato de as potências
europeias terem conquistado, a partir das últimas
décadas do século XV, diversos territórios na África,
na Ásia e na América, transformando-os em colônias.
Esses territórios eram explorados nos termos
do chamado pacto colonial. Não se tratava propria-
mente de um pacto, já que não era resultado de ne-
gociações entre as partes, mas sim de uma imposi-
ção da potência conquistadora que regia as relações
entre as metrópoles europeias e suas possessões. Por
meio desse pacto não assinado, a metrópole trans-
formava as colônias em economias complementares
às suas, garantindo assim seu próprio enriquecimen-
to à custa dos territórios dominados.
Nos termos do pacto colonial, as colônias
ficavam proibidas de produzir artigos manufatu-
rados. A elas só eram permitidos a extração de
metais preciosos e o cultivo de plantas de interes- Vista do porto de Cádiz, na Espanha,
mostrando a comercialização de
se comercial em relação ao mercado europeu, como cana-de-açúcar, tabaco e algodão. A pro- mercadorias provenientes das
dução agrícola deveria ser vendida à metrópole, que garantia assim o monopólio do comércio “Índias Ocidentais”, ou seja, da América.
HISTÓRIA
desses produtos. Gravura francesa do século XVI.
Para impedir que as moedas saíssem de seu território, algumas metrópoles pagavam por esses
produtos com africanos escravizados. Na África, as pessoas capturadas eram quase sempre adqui-
ridas como escravos pelos traficantes europeus em troca de artigos manufaturados, como armas,
pólvora, ferro e rum. Essas relações mercantis integravam o chamado comércio triangular entre os
três continentes – África, Europa e América – e foi uma das principais bases do desenvolvimento
dos Estados europeus.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 53


PARA CONSTRUIR

1 (Uerj – Adaptada) Nos mapas, estão indicadas as principais rotas comerciais europeias, respectivamente, na Baixa Idade Média e na
m
Ene-4
Idade Moderna. Comparando-os, percebem-se alterações significativas nesses caminhos a partir do século XVI, provocadas pela
C 8
H-1 chamada Revolução Comercial iniciada no século XV. Indique a mudança provocada pela Revolução Comercial e suas consequên-
cias econômicas para a Europa e para os demais continentes conhecidos à época.

Rotas comerciais europeias

Séculos XIII e XIV Após o século XVI


EUROPA
Amsterdã Lubeck Smolensk ÁSIA
Antuérpia Bremen Kiev EUROPA
Veneza Odessa ESPANHA
Gênova Constantinopla AMÉRICA ÁSIA
DO NORTE Açores, 1427 PORTUGAL
Ceuta Tripoli
Pequim Madeira, 1420
Bagdá
Alexandria Ceuta, 1415 OCEANO
OCEANO Cabo Verde
Cantão São Cabo Bojador, Índia PACÍFICO
PACÍFICO Salvador, 1434
1492 Calicute,
Calicute 1498
ÁFRICA
ÁFRICA OCEANO
PACÍFICO
Brasil OCEANO
OCEANO OCEANO ÍNDICO
AMÉRICA Porto Seguro,
ATLÂNTICO ÍNDICO 1500 Moçambique
DO SUL
Cabo da Boa OCEANIA
Esperança, 1487
N OCEANIA N OCEANO
ATLÂNTICO
Espanha
0 2 860 0 3 178
Portugal
km km

A Revolução Comercial modificou o centro do comércio europeu dos mares interiores da Europa, como o Mediterrâneo, o Báltico e o Negro,
para os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Com isso, houve um crescimento nos contatos interculturais que incentivou a troca de ideias. Além
disso, houve uma intensificação e um crescimento do comércio europeu.

2 (Cefet-SC) O historiador francês Fernand Braudel, referindo-se ao mercantilismo, afirma que este “reagrupa comodamente uma sé-
rie de atos, de atitudes, de projetos, de ideias, de experiências que marcam, entre o século XV e o século XVIII, a primeira afirmação
do Estado moderno em relação aos problemas concretos que ele tinha que enfrentar”.
Assinale a alternativa que expressa corretamente uma característica do mercantilismo. d
a) Pacto colonial, permitindo o pleno desenvolvimento interno e a liberdade político-administrativa da colônia.
b) Não intervencionismo estatal.
c) Incentivo à manutenção de uma balança comercial favorável, importando mais que exportando.
d) Intervenção do Estado, que se efetivou sob forma de protecionismo e de regulamentação da atividade econômica.
e) Monopólio concedido pelo Estado, que permitia a qualquer companhia de comércio, sem autorização da metrópole, vender
seus produtos na colônia.

3 As relações entre as metrópoles europeias e as colônias africanas e americanas foram regidas pelo chamado pacto colonial. Em
que consistia esse pacto?
O pacto colonial consistia num conjunto de princípios segundo os quais a metrópole tornava a economia das colônias complementar à sua,
garantindo assim seu próprio enriquecimento à custa dos territórios dominados. Nos termos do pacto colonial, de modo geral, as colônias
ficavam proibidas de produzir artigos manufaturados. A elas só eram permitidos a extração de metais preciosos e o cultivo de plantas de
interesse comercial para o mercado europeu, como cana-de-açúcar, tabaco e algodão. Toda a produção agrícola deveria ser vendida à metrópole,
que assim garantia o monopólio do comércio desses produtos. Para impedir que as moedas saíssem de seu território, as metrópoles, em geral,
pagavam por esses produtos com africanos escravizados. Na África, por sua vez, os escravos quase sempre eram adquiridos em troca de artigos
manufaturados, como armas, pólvora, ferro e rum.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

54 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


O IMPÉRIO PORTUGUÊS
Com a descoberta do caminho marítimo para as Índias e a chegada às terras que ficariam
conhecidas como Brasil, Portugal se transformou no primeiro reino europeu moderno a ter um im-
pério ultramarino. Para assegurar suas conquistas, os portugueses construíram fortalezas e feitorias
na América do Sul, na África e na Ásia que serviam de apoio às suas embarcações e eram utilizadas
para armazenar produtos posteriormente vendidos na Europa.
Em meados do século XVI, os portugueses mantinham mais de cinquenta fortes e feitorias na
rota entre a África e o Japão (veja algumas dessas feitorias no mapa abaixo).
Habitualmente, as embarcações portuguesas partiam do rio Tejo. Além dos tripulantes, levavam
padres jesuítas com o objetivo de converter as populações das terras conquistadas ao catolicismo.
Eram viagens longas e difíceis. Muitas pessoas morriam durante o trajeto por causa de doenças e
naufrágios. No boxe “Doenças em alto-mar”, a seguir, você pode ler trechos do diário de bordo da
primeira viagem de Vasco da Gama às Índias, nos quais são narradas as dificuldades enfrentadas pelos
marinheiros em alto-mar.

Império Colonial Português (1500-1580)

ÁSIA
EUROPA
AMÉRICA
DO NORTE
PORTUGAL ESPANHA
Açores
Madeira
Ormuz (1515)
LINHA DO TRATADO DE TORDESILHAS

NOVA Canárias Cantão OCEANO


ESPANHA Mascate Diu Macau (1557)
PACÍFICO
Cabo Verde Damão
ANTILHAS ÁFRICA Goa (1510) Filipinas
370 léguas GUINÉ
Calicute

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.


Axim Elmira Málaca (1511)
Shana Ceilão Bornéu Equador
Melinde Nova Guiné
Sumatra
Mombaça
AMÉRICA ANGOLA Java
NOVA Molucas
PORTUGUESA Moçambique OCEANO
OCEANO CASTELA Madagascar
(1507) ÍNDICO
PACÍFICO
OCEANO
Sofala
ATLÂNTICO

Cabo da Boa Esperança


N

0 1 515 Portugal e seu império


colonial até 1580
km

Os portugueses dominaram a maior parte do comércio ao longo do Índico por quase um sé-
culo, transportando para a Europa especiarias, chás, sedas, pedras preciosas e africanos escravizados.
Capturadas na África, essas pessoas eram enviadas como escravos também para as colônias portu-
guesas na América e nos Açores.
Aos poucos, porém, Portugal perdeu o controle do comércio com as Índias. Para esse declínio,
contribuíram o alto custo das viagens transoceânicas, a resistência muçulmana à presença portugue-
sa no Oriente e o processo de sucessão do trono português, que, em 1580, colocou Portugal sob o
domínio da Espanha no âmbito da União Ibérica.

Doenças em alto-mar
HISTÓRIA

Levamos quase três meses nesta travessia, enfrentando muitas calmarias e ventos contrários. Nesse tempo, todos adoe-
ceram das gengivas, que cresciam sobre os dentes de tal maneira que não podiam comer. As pernas inchavam e havia outros
grandes inchaços pelo corpo, que castigavam tanto a pessoa que ela acabava morrendo sem ter nenhuma doença. Nesses dois
meses e 27 dias, trinta homens morreram, sem contar os que já estavam mortos a essa altura. [...] Por isso, garanto que se a
viagem durasse mais uns 15 dias, logo não haveria quem conduzisse os navios.
VELHO, Álvaro. O descobrimento das Índias: diário da viagem de Vasco da Gama. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. p. 108.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 55


ESPANHA E O EL DORADO
No começo da Idade Moderna, os europeus acreditavam que em algum lugar do planeta exis-
tiam quantidades inesgotáveis de ouro e prata. Encontrar essas terras míticas, chamadas na época
de El Dorado, era o sonho de muitos, fossem eles reis ou simples aventureiros.
Após terem iniciado a colonização da América,
REPRODUÇÃO/COLEÇÃO PARTICULAR

os espanhóis descobriram em 1545 o que parecia ser


o El Dorado: Potosí, uma montanha de aproximada-
mente 600 metros de altura na Bolívia atual, no in-
terior da qual se encontrava a maior jazida de prata
conhecida até então. Em poucos anos, a extração do
precioso minério de Potosí fez da Espanha a nação
mais rica da Europa.
Entre 1500 e 1520, antes, portanto, da conquista
de Potosí, a casa da moeda da Espanha havia produ-
zido apenas 45 toneladas de prata. Entre 1545 e 1560,
esse número saltou para 270 toneladas. Entre 1580 e
1600, ele chegou a 340 toneladas.
Por volta de 1600, o El Dorado começou a dar
sinais de esgotamento: a partir de então, o volume
de prata de Potosí diminuiu sensivelmente, até se ex-
tinguir por completo em poucas décadas. A riqueza
obtida com sua extração foi rapidamente gasta nas
guerras travadas pela Espanha nesse período, o que
acabou levando o país ao declínio.
Gravura de 1596, de Theodore de
Bry, representando trabalhadores TORDESILHAS, ADEUS
nas minas de Potosí.
Desconsiderando o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494 entre Portugal e Espanha, outros
países europeus, como França, Inglaterra e Holanda, entraram na corrida pelas riquezas da África, da
Ásia e da América. Em 1533, os ingleses estabeleceram postos comerciais ao longo da costa ocidental
africana e, em 1593, os holandeses fizeram o mesmo.
Apesar da vigilância, portugueses e espanhóis não conseguiam impedir o afluxo de navios con-
correntes em direção ao continente americano. O rei da França, Francisco I (1515-1547), rejeitava o
Tratado de Tordesilhas afirmando desconhecer a “cláusula do testamento de Adão” que o afastara da
divisão do mundo entre Espanha e Portugal. Assim, já no começo do século XVI, expedições francesas
chegaram ao atual litoral brasileiro em busca de pau-brasil, muito utilizado para tingir tecidos nas
manufaturas têxteis europeias.
Nessas viagens, além de pau-brasil, os franceses levavam peles e penas de animais, que alcan-
çavam altos preços na Europa. Em 1555, alguns deles chegaram a fundar uma colônia na baía de
Guanabara, no atual estado do Rio de Janeiro, a França Antártica, onde permaneceriam até 1567,
quando foram expulsos pelos portugueses.

Piratas e corsários
Não demorou muito e os mares do Caribe e do Atlântico Sul passaram a ser navegados não
apenas por negociantes, mas também por piratas e corsários que assaltavam, sobretudo, embarca-
ções espanholas carregadas de metais preciosos.
Enquanto os piratas atuavam por conta própria e eram considerados fora da lei, a ação dos cor-
sários era autorizada pelo rei de seu país de origem, que para isso lhes entregava um documento co-
nhecido como carta de corso. Quando um ataque era bem-sucedido, o corsário entregava parte do
butim ao rei. No início do século XVII, a Holanda, por exemplo, contava com cerca de 130 corsários.
O governo da Inglaterra foi um dos que mais incentivaram o corso no Atlântico e no Caribe, prin-
cipalmente entre 1558 e 1603, época em que o país esteve governado pela rainha Elizabeth I. Alguns
piratas e corsários ingleses, como Thomas Cavendish, Francis Drake e Richard Hawkins, tornaram-se
famosos.

56 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Ingleses e franceses
Como os governos de Portugal e Espanha procuravam manter o controle marítimo do Atlântico
e das rotas que levavam até as Índias, outras nações europeias passaram a buscar caminhos alterna-
tivos para o Oriente. Com esse intuito, ingleses e franceses começaram a explorar o Atlântico Norte.
De modo geral, essas viagens não foram bem-sucedidas, pois o gelo encontrado nos mares próximos
ao polo Norte obrigava as embarcações a retornar.
Em 1535, um navegador francês, Jacques Cartier, chegou à embocadura do rio São Lourenço, na
região que hoje corresponde ao Canadá, e tomou posse dessas terras em nome do rei Francisco I. Po-
rém, como não foram encontrados metais preciosos, a região mais setentrional da América do Norte
permaneceu praticamente intocada durante o século XVI.
Em 1584, Walter Raleigh fundou Virgínia, colônia inglesa na costa do atual estado norte-
-americano da Carolina do Norte. Mas a efetiva colonização da região começaria pouco mais tarde,
como explica o boxe “Primeiras colônias na América do Norte”, na próxima página.
THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

Gravura de Jean Antoine Theodore Gudin


(1802-1880) representando a fundação
da colônia francesa de São Cristóvão e
Martinica, na região do Caribe, entre 1625
e 1635.

AS COMPANHIAS DE COMÉRCIO
GLOSSÁRIO

Aproveitando-se do declínio do poderio de Portugal e da Espanha, holandeses e ingleses deci- Sociedades anônimas:
diram, no início do século XVII, chegar às Índias contornando o sul da África. Para isso, criaram um
são empresas cuja principal caracterís-
tipo de organização pouco conhecido de lusos e castelhanos: as companhias de mercadores. tica é a atribuição de responsabilidade
Essas companhias eram empresas comerciais formadas por sociedades anônimas, algumas das aos sócios de acordo com o percen-
quais reuniam mais de trezentos associados, denominados acionistas. Os recursos recolhidos eram tual de capital que cada um deles pos-
sui. Esse capital se traduz no número
empregados no financiamento de expedições em direção ao Oriente, à América e à África e o lucro de ações de que cada um é proprie-
das viagens era dividido entre os acionistas. tário. A posse dessas ações pode ser
O governo inglês e o governo holandês delegavam a tais empresas poderes para comercializar, restrita (empresas de capital fechado,
conquistar, colonizar, administrar e defender territórios que estivessem sob seus domínios. Por causa normalmente familiares) ou de livre HISTÓRIA
acesso para compra por meio de ofer-
do grande aporte financeiro, essas companhias tinham capacidade de construir navios, contando ta em bolsas de valores (empresas de
muitas vezes com cais e armazéns próprios. capital aberto). As empresas que são
Algumas delas tiveram importante papel durante a expansão marítima da Europa. Foi o caso, sociedades anônimas têm, por força
por exemplo, da Companhia Inglesa das Índias Orientais, fundada em 1600. Nos Países Baixos de norma jurídica, de constituir um
estatuto social e, no caso das leis brasi-
(Holanda), se destacaram a Companhia Holandesa das Índias Orientais (1602) e a Companhia leiras de hoje, devem ser formadas por
Holandesa das Índias Ocidentais (1621). Graças a elas, no século XVII a Holanda assumiu a supre- pelo menos dois sócios.
macia no comércio transoceânico.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 57


Com a ajuda dessas companhias de mercadores, os holandeses criaram entrepostos e colônias
em vários continentes. Na América, fundaram Nova Amsterdã, atual Nova York; estabeleceram-se
na Guiana Holandesa (atual Suriname) e invadiram o Nordeste brasileiro.
Na disputa pela supremacia dos mares, Inglaterra e Holanda travaram diversas guerras ao longo
do século XVII. O que estava em jogo eram os grandes lucros do comércio marítimo, o tráfico de
africanos escravizados e a exploração das novas terras. Graças a esses negócios, muitos banqueiros e
mercadores construíram imensas fortunas. Era a eles que príncipes e reis recorriam quando precisa-
vam de recursos para consolidar seu poder ou financiar empreendimentos de grande porte, como
guerras e navegações transoceânicas.
A riqueza acumulada no continente europeu nesse período seria a mola propulsora das grandes
transformações econômicas e sociais verificadas na Europa nos séculos XVIII e XIX com o nome de
Revolução Industrial.

Primeiras colônias na América do Norte

W. J. AYLWARD/FOTO DE HAROLD M. LAMBERT/KEAN


COLLECTION/ARCHIVE PHOTOS/GETTY IMAGES
TROCANDO IDEIAS

Durante o período em
que vigorou o mercantilismo,
as metrópoles enriqueceram e
desenvolveram suas economias,
à custa das colônias que se en-
contravam sob seus domínios.
Reúna-se com seu grupo de
colegas e, juntos, debatam as
seguintes questões: nos dias de
hoje, é possível dizer que existe
algum tipo de dominação de
um país sobre outro? Como
essa dominação se manifesta?
Países pobres podem exercer Puritanos ingleses conhecidos como pilgrims desembarcam do navio Mayflower na colônia de
Plymouth, Massachusetts, EUA, em novembro de 1620.
algum tipo de domínio sobre
países ricos? A efetiva colonização inglesa na América do Norte pode ser fixada em 1607, ano em
Escolham uma pessoa do que foi fundada a cidade de Jamestown, no atual estado da Virgínia. A colônia começou a
grupo, um relator, para regis- prosperar a partir de 1612, quando seus habitantes passaram a plantar tabaco, produto de
trar as respostas na forma de grande aceitação na Inglaterra. Em 1619, traficantes holandeses levaram para lá os primeiros
tópicos. Depois, com a ajuda africanos escravizados.
do professor, apresentem esses Em 1620, 102 ingleses desembarcaram do navio Mayflower (veja a imagem) e fundaram a
tópicos oralmente à classe. colônia de Plymouth, cerca de 750 quilômetros ao norte de Virgínia. Mais tarde, outros colonos
provenientes da Inglaterra fundariam novas colônias nas regiões adjacentes. O conjunto dessas
colônias ao norte da região de colonização inglesa ficaria conhecido como Nova Inglaterra. Uma
dessas colônias, Massachusetts, absorveria Plymouth algumas décadas depois.
VEJA O FILME Os colonos do Mayflower, assim como muitos outros que se instalaram na Nova Inglaterra,
eram calvinistas que, por não aceitarem a liderança religiosa do rei britânico – chefe da Igreja
Hábito negro, de Bruce Beres- anglicana –, sofriam perseguições na Inglaterra. Conhecidos como peregrinos, emigraram com
ford. Austrália e Canadá, 1991. o objetivo de exercer a liberdade de culto e fundar sua Igreja no Novo Mundo.
(101 min). Enquanto isso, os franceses, no começo do século XVII, fundaram um posto comercial
A história de um padre jesuíta e às margens do rio São Lourenço, origem da cidade de Quebec, no atual Canadá. Em 1626,
sua jornada pelo Canadá, em 1634, jesuítas franceses dirigiram-se para lá visando converter os nativos ao cristianismo. Esse núcleo
auxiliando indígenas amedronta-
colonial ficaria conhecido como Nova França.
dos por um homem misterioso.

58 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


ENQUANTO ISSO...
THE BRITISH LIBRARY/TOPFOTO
A Austrália entra no mapa
Se no século XV os espanhóis chegaram
a um continente desconhecido dos europeus,
no século XVII feito semelhante foi repetido
por mercadores holandeses em outra região
do planeta: em 1606, Willem Jansz foi o primei-
ro europeu a alcançar a região hoje conhecida
como Austrália, entre os oceanos Índico e Pa-
cífico. Seu encontro com os habitantes desse
continente, porém, não foi amistoso e ele não
conseguiu explorar o território.
Entre 1642 e 1644, a Companhia Ho-
landesa das Índias Orientais enviou à região
o mercador Abel Tasman. Após ter mapeado
a maior parte do litoral das atuais Austrália e
Nova Zelândia, Tasman retornou afirmando
que aparentemente não havia ali nem metais
preciosos nem especiarias. Os europeus só
voltaram a se interessar pelo continente –
Desenho de autoria de Nicholas Yallard, de 1547, intitulado O primeiro mapa da Austrália.
mais tarde denominado Oceania – em 1770,
Como em outros lugares, a ausência aparente de metais preciosos retardou a ocupação quando o navegador britânico James Cook
do território australiano pelos exploradores europeus. explorou a região.

PARA CONSTRUIR

4 Observe o mapa “Império Colonial Português (1500-1580)”, c) Com base no mapa e nas informações do capítulo, como
m na página 55. Com base nesse mapa, responda às seguintes é possível explicar a importância do comércio pelo oceano
Ene-2
C 6
H- questões: Índico?
Os portugueses tinham diversas colônias banhadas pelo oceano
a) Em quais continentes Portugal possuía colônias?
Índico, tanto na costa leste da África como no continente
Portugal mantinha colônias na África, na Ásia e na América.
asiático. As fortalezas e feitorias construídas nas áreas litorâneas
permitiram a Portugal controlar o comércio ao longo do Índico por
quase um século. A importância do comércio pelo oceano Índico
b) Cite pelo menos uma colônia em cada um desses conti- tinha por base as especiarias e outros produtos do Oriente, que
nentes.
eram levados para a Europa pelas caravelas portuguesas. De fato,
Resposta pessoal. Oriente os alunos a observar coletivamente o
pelas rotas comerciais portuguesas passavam especiarias, chás,
mapa, solicitando que falem em voz alta os nomes das colônias.
sedas, pedras preciosas e escravos africanos. A linha de feitorias
Trata-se de um exercício simples, mas que exige dos alunos uma e colônias portuguesas mostrada no mapa revela o domínio
observação mais prolongada do mapa. Outras informações português sobre essas rotas.
podem ser dadas ou solicitadas, como a localização dos oceanos, HISTÓRIA
as rotas comerciais descritas no texto, etc.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 59


5 (Unicamp-SP) Contestando o Tratado de Tordesilhas, o rei da 6 Releia o texto do boxe “Doenças em alto-mar”, da página 55,
França, Francisco I, declarou em 1540: m
Ene-6
e faça o que se pede.
C 7
Gostaria de ver o testamento de Adão para saber de que H-2
A doença descrita no texto chama-se escorbuto. Como suas
forma este dividira o mundo. causas eram desconhecidas na época, ela foi responsável por
VICENTINO, Cláudio. História geral. São Paulo: Scipione, 1991.
grande número de mortes entre os marinheiros. Com o auxílio
a) O que foi o Tratado de Tordesilhas? do professor de Biologia, pesquise as causas e os sintomas do
O Tratado de Tordesilhas foi um acordo firmado por Espanha e escorbuto e tente descobrir como os navegadores buscavam
Portugal, em 1494, que dividia o mundo em dois blocos a partir
se livrar da doença. Registre suas descobertas no caderno.
de uma linha imaginária que ficava 370 léguas a oeste das ilhas 7 Que relações podem ser estabelecidas entre o surgimento
de Cabo Verde. As terras já encontradas, ou que viessem a sê-lo, das companhias de navegação e o mercantilismo?
a oeste desse marco pertenceriam à Espanha. As terras situadas Pode-se afirmar que o mercantilismo impulsionou a criação das
a leste seriam de Portugal. companhias de navegação. Estas, por sua vez, propiciaram a
ampliação da riqueza acumulada na Europa e, por isso, favoreceram
as transformações econômicas que ocorreriam no continente entre
os séculos XVIII e XIX. Com o declínio do poderio de Portugal e
Espanha, no início do século XVII, holandeses e ingleses entraram
definitivamente na disputa por novas colônias e rotas comerciais.

b) Por que alguns países da Europa, como a França, contes- A empreitada se realizou por intermédio dessas companhias de
tavam o Tratado? mercadores, constituídas como empresas comerciais e utilizando
Porque também estavam interessados na conquista de novas recursos privados dos seus acionistas. Os investimentos eram
terras e sentiam-se excluídos dessa partilha. transformados em financiamento para as expedições em direção ao
Oriente, à América e à África.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 4 e 5 Para aprimorar: 3 e 4

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

a) a exploração de impérios coloniais e a regulamentação


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR do comércio exterior.
b) o surgimento das corporações de ofícios.
1 (Fuvest-SP) c) a ideia de liberdade de produção, de concorrência e de
Da armada dependem as colônias, das colônias de- circulação de mercadorias.
pende o comércio, do comércio, a capacidade de um Esta- d) o surgimento das doutrinas iluministas.
do manter exércitos numerosos, aumentar a sua população e) o fim dos regimes absolutistas e os princípios liberais sur-
e tornar possíveis as mais gloriosas e úteis empresas. gidos nas chamadas revoluções burguesas.
Essa afirmação do duque de Choiseul (1719-1785) expressa
bem a natureza e o caráter do: 3 (PUC-MG) O expansionismo marítimo europeu, nos séculos
XV-XVI, gerou uma autêntica “Revolução Comercial”, caracte-
a) liberalismo. d) escravismo.
rizada por, exceto:
b) feudalismo. e) corporativismo.
c) mercantilismo. a) incorporação de áreas dos continentes americano e afri-
cano às rotas tradicionais do comércio.
2 (PUC-PR) As práticas mercantilistas, ocorridas na Idade Moderna, b) ascensão das potências mercantis atlânticas, como Portu-
estiveram relacionadas com: gal e Espanha.

60 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


c) afluxo de metais preciosos da América para o Oriente, re- e) anotando nos mapas pontos geográficos, longitudes e
sultante do escambo de mercadorias. latitudes com exímia precisão, em função dos eficazes
d) deslocamento parcial do eixo econômico do Mediterrâ- instrumentos de navegação.
neo para o Atlântico.
e) perda do monopólio do comércio de especiarias por par- 4 (Fuvest-SP) Na última década do século XVI, Walter Raleigh
te dos italianos. m
Ene-1
publicou um livro intitulado A descoberta da Guiana, no qual
C 1
H- se referiu aos homens sem cabeça (ver ilustração) que lá vi-
4 A descoberta das jazidas de prata de Potosí, em 1545, parecia viam. Embora não os tivesse encontrado, tinha certeza de
ter concretizado o sonho dos conquistadores: encontrar o El
que existiam porque “todas as crianças das províncias de Or-
Dorado, lugar imaginário onde haveria quantidades inesgotá-
ramaia e Canuri afirmam o mesmo”.
veis de metais preciosos. Qual foi a importância das minas de
Potosí para a Coroa espanhola?

REPRODUÇÃO/FUVEST
5 Narre, em linhas gerais, como ocorreu o início da colonização
inglesa da América do Norte.

PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR

1 (Vunesp) A palavra “colonização” deriva do verbo latino colo, que


m
Ene-3
significa “morar e ocupar a terra”. Nesse sentido geral, o termo
C 1
H-1 “colonização” aplica-se a deslocamentos populacionais que vi-
sam ocupar e explorar novas terras. Nos séculos VIII e VII a.C., os
gregos fundaram cidades na Ásia Menor, na península Itálica, na
Sicília e no norte da África. Identifique algumas das característi-
cas desse processo de colonização que o diferenciam da colo-
nização realizada pelos europeus no continente americano nos
séculos XVI ao XIX.
Essa é uma das descrições de monstros do Novo Mundo feita
2 O desperdício de alimentos revela outra face cruel: en- por um europeu do século XVI. Aliás, a grande maioria dos
m quanto alimentos são jogados fora, cerca de 24 mil pessoas navegadores da época dos descobrimentos relatou a exis-
Ene-1
C 3
H- morrem por dia de fome e de doenças causadas pela des- tência de monstros na África, na Ásia e na América.
nutrição no Brasil e no mundo. Por que, apesar da grande A constante presença dessas figuras nos relatos é indicativa:
produção de alimentos no mundo, existe tanta gente que
a) da visão de mundo da sociedade europeia da época, que
morre de fome e desnutrição? Em grupos, discutam essa
mantinha a visão medieval sobre a existência das maravi-
questão com os colegas. Depois, escrevam um texto coleti-
vo com as conclusões do grupo e apresentem-nas oralmen- lhas do mundo e ainda não havia adotado a observação
te à classe. efetivamente científica da cultura e da natureza.
b) da crença renascentista de que à “humanidade” dos eu-
3 (UEL-PR) Para compreender a expansão marítima nos séculos ropeus correspondia a bestialidade dos povos do Novo
XV e XVI, é necessário considerar a importância da cartografia. Mundo, que estariam evoluindo de animais para seres
Sobre o tema, é correto afirmar que os cartógrafos represen- humanos.
taram o mundo: c) da permanência cultural da mitologia antiga na Europa
a) valendo-se de conhecimentos acumulados e transmiti- (principalmente a mitologia nórdica), que retratava os ha-
dos por meio da Filosofia, da Astronomia e da experiência bitantes nativos das terras do Atlântico, do Pacífico e do
concreta. Índico como monstros.
b) desconhecendo o valor político de sua arte de cartografar d) da convicção generalizada de que todos os não europeus
para os rumos da rivalidade castelhano-portuguesa. eram descendentes de Caim e, portanto, tinham uma
HISTÓRIA
c) ignorando a hagiografia medieval e as crenças na existên-
anatomia monstruosa.
cia de monstros marinhos e de correntes de ventos nos
oceanos. e) de uma mitologia nova que se formou na Europa renas-
d) confirmando os conhecimentos estáticos sobre o pla- centista, resultante das alucinações sofridas por todos
neta, resultantes da observação direta dos espaços os navegadores diante da tensão provocada pelo des-
desconhecidos. conhecido.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 61


CAPÍTULO

6 O absolutismo monárquico

De quatro em quatro anos, os eleitores brasileiros vão às urnas escolher um novo presidente.
Objetivos:
Esse é o principal cargo do poder Executivo no país. Ele garante bastante poder a seu titular. Entretan-
c Compreender to, o presidente não governa a seu bel-prazer, segundo os ditames de sua vontade, nem é livre para
os processos de tomar decisões à revelia do povo. Não. Para governar, ele depende dos deputados e dos senadores
centralização que compõem o poder Legislativo e está sob constante fiscalização dos tribunais que integram o
política e formação poder Judiciário. Além disso, os três poderes se sujeitam às leis expressas na Constituição.
de monarquias Esse sistema de governo é característico de uma República presidencialista e é empregado tanto
absolutistas. no Brasil como em muitos outros países. Entretanto, no decurso da História, como já vimos, existiram
outras formas de governo.
c Conhecer as ideias,
Por volta do século XVI, por exemplo, surgiu em países da Europa um modo de governar bem
teorias e estratégias
diferente: o absolutismo monárquico. Nesse sistema, o poder concentrava-se nas mãos de um rei:
que serviram à
era ele quem governava o país, aplicava a justiça e modificava ou criava leis conforme seus próprios
legitimação da
concentração de
interesses. É esse sistema que estudaremos neste capítulo.
poderes do monarca.

ALAN MARQUES/FOLHAPRESS
c Identificar as
particularidades
históricas de alguns
dos principais Estados
absolutistas europeus.

Dilma Rousseff chega ao Palácio do


Planalto para tomar posse da Presidência
do Brasil, em janeiro de 2015.

62 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


OS ESTADOS MODERNOS
Conforme já apontado, do ponto de vista político, a humanidade se organizou de diferentes
maneiras ao longo do tempo. Durante a Idade Média na Europa ocidental, por exemplo, o poder
fragmentou-se entre os senhores feudais, cabendo a eles a administração da justiça em suas proprie-
dades. Embora nessa época existissem reis, sua autoridade era praticamente simbólica.
Nos últimos séculos desse período, porém, alguns reis começaram a criar mecanismos para
centralizar o poder, enfraquecendo a autoridade dos senhores feudais e da Igreja. Surgiram assim as
chamadas monarquias nacionais.
A partir do século XVI, os reis estabeleceram novos mecanismos para fortalecer ainda mais sua
autoridade e restringir as esferas de influência da Igreja e da nobreza feudal. Como veremos a seguir,
essas mudanças desencadearam um processo de transformações políticas que se estendeu até o
século XVIII e levaram à formação dos chamados Estados modernos.

O REI ENCONTRA O PODER


Apesar da expansão marítima e da Revo-

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UIG/THE BRIDGEMAN/KEYSTONE


lução Comercial, a Europa atravessou diversos
momentos de crise entre os séculos XV e XVII.
A produção agrícola, por exemplo, não cres-
ceu na mesma proporção em que aumentou
a população. Os alimentos encareceram – de-
vido em parte à escassez e em parte à inflação
provocada pelo afluxo de metais preciosos
provenientes da América espanhola – e a
fome atingiu diversas regiões, causando revol-
tas populares.
Ao mesmo tempo, o continente foi sa-
cudido pelas guerras religiosas, desencadeadas
com o surgimento do protestantismo no co-
meço do século XVI. Guerras também ocorre-
ram entre os reinos europeus que procuravam
ampliar seus limites territoriais e conquistar a
supremacia do comércio marítimo.
Diante dessa situação, pensadores políti-
cos, como Thomas Hobbes (1588-1679) e Jac-
ques Bossuet (1627-1704), entre outros, publi-
caram livros argumentando que somente um
governo fortemente centralizado seria capaz
de pôr fim à desordem reinante. Veja no boxe
“O detentor da soberania”, na próxima página,
alguns argumentos desses pensadores.
Tais ideias se espalharam pela Euro-
pa, contribuindo para legitimar a crescente
concentração de poderes nas mãos dos reis.
Com a centralização do poder, o rei precisou
apoiar-se em uma burocracia racional, capaz
de orientar-se segundo os interesses gerais do
HISTÓRIA
Estado nacional e não segundo as preferên-
cias dos senhores feudais. Para constituir essa
burocracia, os reis recrutaram profissionais
especializados nos diversos setores da admi-
nistração: financeiro, jurídico, fiscal (cobrança
de impostos), etc. Começava a surgir assim o
Estado moderno. Capa do livro Leviatã, de Thomas Hobbes, publicado em Londres em 1651.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 63


O detentor da soberania
Um dos primeiros pensadores a formular uma teoria para dar sustentação doutrinária ao absolutismo monárquico foi o francês
Jean Bodin (1529-1596). Somente o rei, dizia ele, detinha o poder de fazer e revogar as leis. Para Bodin, esse poder, que chamou de so-
berania, emanava diretamente de Deus.
Mais tarde, o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), em sua obra Leviatã, afirmou que em uma
sociedade sem Estado imperaria a barbárie: sem a existência de um poder regulador e absoluto, TROCANDO IDEIAS
haveria o que chamou de “guerra de todos contra todos”. Seria assim que teriam vivido os seres
humanos no estado de natureza, isto é, em uma situação na qual a sociedade ainda não estava O argumento central de
organizada e não havia Estado. Thomas Hobbes supõe que a
Para sair dessa situação, segundo Hobbes, as pessoas teriam estabelecido um contrato ou autoridade seja necessária para
pacto social, por meio do qual teriam renunciado à sua liberdade original e concordado em se a estabilidade social. Reflita so-
submeter ao poder absoluto de um governante para que este garantisse a paz e a segurança bre isso, considerando a situa-
de toda a sociedade. ção política contemporânea.
Outro defensor do absolutismo foi Jacques Bossuet (1627-1704), autor de Política segundo
Você concorda ou não com
as Sagradas Escrituras. Bossuet afirmava que o poder do rei lhe fora dado por Deus e, por isso,
Hobbes que é preciso constituir
deveria ser ilimitado e incontestável. Era a chamada Teoria do Direito Divino.
um Estado para organizar a so-
Nesse processo, ganhou importância a noção de competência, pela qual a contratação
de um funcionário não dependia mais – em princípio – da indicação de alguém influente, mas ciedade e que, sem ele, vivería-
sim das habilidades e dos atributos específicos do candidato a ocupar determinado cargo ou mos na barbárie? Justifique sua
exercer certa função. resposta com argumentos orais.
Segundo o historiador Peter Burke, a centralização da administração permitia que os go- Depois, numa roda de conver-
vernantes soubessem muito mais sobre a vida de seus súditos do que na Idade Média. Esse sa, apresente os principais argu-
controle os ajudava na hora de tomar decisões, como aumentar impostos, recrutar pessoas mentos discutidos no grupo.
para o exército ou alimentar a população nos momentos de fome.

PIETER BRUEGHEL/COLEÇÃO PARTICULAR/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

O pagamento dos títulos (1615), tela do artista flamengo Pieter Brueghel, o Jovem (1564-1638). Nela estão representados funcionários do governo no ato de
cobrar títulos vencidos (à direita, procedendo à leitura de títulos, e à esquerda, no fundo, fazendo anotações por trás de um balcão). A obra remete à formação
da burocracia moderna, um dos instrumentos dos reis no processo de centralização do poder.

64 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Um novo Direito
No âmbito jurídico, esses governos aboliram gradualmente o antigo direito feudal e o substi-
tuíram, com adaptações, pelo Direito Romano. Com isso, foram pouco a pouco abandonadas as leis
baseadas nos costumes e na tradição, que garantiam os privilégios da nobreza, e adotadas normas
jurídicas impessoais (ou seja, que valiam para todos).
Os laços de suserania e vassalagem característicos do sistema feudal desapareceram, enquanto a
Igreja católica, enfraquecida com a Reforma protestante, perdeu boa parte da influência que exercia
sobre os monarcas. Concomitantemente, os reis criaram exércitos nacionais permanentes, extinguin-
do, assim, as tropas particulares dos senhores feudais.
Para manter esses exércitos, novos impostos foram instituídos. Porém, a coleta dos tributos deixou
de ser feita pelos agentes da nobreza feudal e passou para as mãos de funcionários do governo central.
Na esfera econômica, os soberanos adotaram um conjunto de medidas e práticas comerciais
e financeiras conhecido como mercantilismo. Como vimos no capítulo anterior, o mercantilismo,
entre outras coisas, pregava a acumulação de metais preciosos e a adoção de uma balança comercial
favorável, incentivando a circulação de dinheiro e de mercadorias.

PARA CONSTRUIR

1 A formação dos Estados modernos está diretamente asso- por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao
m ciada às crises econômica e política que marcaram a Europa respeito àquelas leis de natureza.
Ene-2
C 8 HOBBES, Thomas (1588-1679). Leviatã.
H- entre os séculos XV e XVIII. Explique como essas crises contri-
São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os Pensadores).
buíram para o fortalecimento do Estado moderno.
O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, ín-
A crise da produção agrícola e o aumento dos preços (inflação) tegro e religioso, bastando que aparente possuir tais qua-
provocaram fome e graves crises sociais na Europa a partir lidades [...]. O príncipe não deve se desviar do bem, mas
do século XVI. Ao mesmo tempo, as guerras religiosas entre deve estar sempre pronto a fazer o mal, se necessário.
MAQUIAVEL, Nicolau (1469-1527). O príncipe. Os Pensadores.
católicos e protestantes se somaram aos conflitos militares entre São Paulo: Abril Cultural, 1986.
os Estados que procuravam ampliar seus limites territoriais. Os dois fragmentos ilustram visões diferentes do Estado
Diante dessa situação, alguns pensadores políticos, como moderno. É possível afirmar que: a
Thomas Hobbes e Jacques Bossuet, argumentavam que somente a) ambos defendem o absolutismo, mas Hobbes vê o Estado
um Estado fortemente centralizado seria capaz de pôr fim à
como uma forma de proteger os homens de sua própria
periculosidade, e Maquiavel se preocupa em orientar o
desordem reinante. Essas ideias contribuíram para legitimar a
governante sobre a forma adequada de usar seu poder.
centralização do poder monárquico, já em curso desde a formação
b) Hobbes defende o absolutismo, por tomá-lo como a me-
das primeiras monarquias nacionais, a partir do século XI. lhor forma de assegurar a paz, e Maquiavel o recusa, por
não aceitar que um governante deva se comportar ape-
nas para realizar o bem da sociedade.
c) ambos rejeitam o absolutismo, por considerarem que ele
2 (Unifesp) impede o bem público e a democracia, valores que jamais
podem ser sacrificados e que fundamentam a vida em
O fim último, causa final e desígnio dos homens (que sociedade.
amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os ou- d) Maquiavel defende o absolutismo, por acreditar que os fins
tros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a positivos das ações dos governantes justificam seus meios
qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua violentos, e Hobbes o recusa, por acreditar que o Estado
própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer impede os homens de viverem de maneira harmoniosa.
HISTÓRIA

dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra e) ambos defendem o absolutismo, mas Maquiavel acredi-
que é a consequência necessária (conforme se mostrou) ta que o poder deve se concentrar nas mãos de uma só
das paixões naturais dos homens, quando não há um po- pessoa, e Hobbes insiste na necessidade de a sociedade
der visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, participar diretamente das decisões do soberano.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 e 2 Para aprimorar: 1 e 2

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 65


UM PODER (QUASE) ABSOLUTO
A extrema centralização do poder originou uma nova forma de organização do Estado conhe-
cida como absolutismo monárquico. Assim, alguns reinos, como os da França, Inglaterra e Espanha,
que adotaram esse sistema de governo, passaram a ser conhecidos como monarquias absolutistas.
Nessas monarquias, o rei detinha o poder de legislar, isto é, de fazer e revogar as leis. Sua auto-
ridade era quase absoluta, pois não estava limitada por nenhum outro poder, exceto pelas leis de
Deus e pelos costumes e pelas tradições da época. A seguir, estudaremos como o absolutismo se
manifestou em dois países europeus: França e Inglaterra.

O absolutismo na França
A transformação da monarquia francesa em Estado absolutista teve início com Francisco I
(1515-1547) e acentuou-se com Henrique IV (1589-1610), primeiro rei da dinastia Bourbon. Além de
não convocar os Estados Gerais (assembleia de representantes da nobreza, do clero e da burguesia),
Henrique IV passou a vigiar os governadores das províncias e deixou de lado os grandes senhores
feudais, nomeando ministros saídos da burguesia. Ao mesmo tempo, estimulou o mercantilismo,
iniciou a colonização do Canadá e incentivou a agricultura e as manufaturas. Porém, foi com Luís XIV
(1643-1715) que o absolutismo francês assumiu sua forma máxima de expressão.

O Estado? “O Estado sou eu”


Luís XIV tornou-se rei aos 4 anos, mas só assumiu o poder de fato em 1661, aos 22 anos, quando
anunciou que acumularia as funções de rei e primeiro-ministro da França. Em seu governo, esvaziou
o Conselho Real, órgão que tomava decisões juntamente com o monarca; consolidou o exército per-
ACESSE O SITE manente; proibiu as comunas de escolherem seus governantes; manteve e ampliou o mercantilismo;
incentivou a criação de manufaturas e de companhias comerciais; e envolveu a França em vários
Versailles 3D conflitos externos visando garantir as fronteiras já conquistadas e assegurar a supremacia no comércio
Visão em 3D do palácio de marítimo. E, para que não restassem dúvidas sobre seu poder, cunhou a expressão “o Estado sou eu”.
Versalhes, na França (site Considerando-se representante de Deus na Terra, Luís XIV criou um verdadeiro culto à sua
em inglês). Disponível em:
imagem, escolhendo o Sol como símbolo de seu governo. Por isso era chamado Rei Sol. Um dos
<www.versailles3d.com/en>.
Acesso em: 16 dez. 2014. símbolos desse poder é o palácio de Versalhes, que ele mandou construir mobilizando para isso mais
de 30 mil trabalhadores e muitos artistas.

ARCANGELO PIAI/SOPA/CORBIS/LATINSTOCK

Palácio de Versalhes, França. Foto de 2012.

66 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Quando as obras terminaram, em 1682, o rei transferiu para lá sua Corte de cerca de 6 mil
pessoas, sustentadas pelo tesouro público. No palácio, além de cuidar pessoalmente das principais
decisões de governo, Luís XIV se divertia com banquetes, bailes e cerimônias. VEJA O FILME
Para ressaltar ainda mais a importância de sua figura, o monarca mandou criar um minucioso Marquise, de Vera Belmont. Fran-
cerimonial determinando, entre outras normas, como deveriam ser as saudações, o tamanho da ça, 1997. (92 min).
cauda dos vestidos e em que lugar as pessoas da Corte deveriam se sentar nas cerimônias. Veja no Narra a história de uma atriz na
boxe “Política e propaganda”, a seguir, o texto da historiadora Lilia Moritz Schwarcz sobre como essa Corte do Rei Sol, Luís XIV.
etiqueta ajudou monarcas como Luís XIV a construir uma imagem pública de grandeza e magnifi-
cência no imaginário popular.

Política e propaganda
Dizia o pensador francês Montesquieu [1698-1755] que “o esplendor que envolve o rei é parte capital de sua própria pujança”.
As vestes, os objetos, a ostentação e os rituais próprios da monarquia são parte essencial desse regime, constituem sua representação
pública e, no limite, garantem sua eficácia.
Os monarcas foram os inventores do marketing político e fizeram escola. A propaganda surge como meio de assegurar a submissão
ou o assentimento a um poder. Com esse monarca, a glória, a vitória, o prestígio e a grandeza transformam-se em imagens suficiente-
mente fortes para garantir a estabilidade do reino e imaginar sua permanência futura.
Elaborada tal qual um grande teatro, um teatro do Estado, a atuação do rei se transforma em performance; seus trajes viram fantasia.
Na verdade, esculpida de maneira cuidadosa, a figura do rei corresponde aos quesitos estéticos necessários à construção da “coisa pú-
blica”. Sapatos de saltos altos para garantir um olhar acima dos demais, perucas logo ao levantar pela manhã, vestes magníficas mesmo
nos locais da intimidade; enfim, trata-se de projetar a imagem de um homem público, caracterizado pela ausência de espaços privados
de convivência. Tal qual um evento multimídia, o rei estará presente em todos os lugares, será cantado em verso e prosa, retratado nos
afrescos e alegorias, recriado como um deus nas estátuas e tapeçarias.
Exemplo radical do exercício e da manipulação simbólica do poder, a realeza evidencia, com sua etiqueta, a importância do
ritual na construção da imagem pública. A monarquia é, nesse sentido, um bom pretexto para a discussão dos vínculos entre política
e manipulação do imaginário simbólico, ou mesmo para a verificação de como a política se faz com a lógica da “razão prática”, mas
também, com a força de persuasão da “razão simbólica”. Prática de alguma forma datada, o ritual suntuoso da monarquia deixa ainda
mais evidente como a propaganda e a política mantiveram sempre relações de profunda e estreita afinidade.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Revista de Antropologia. São Paulo: FFLCH/USP, v. 43, n.1, 2000.
Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012000000100010&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 16 dez. 2014. Adaptado.

Em geral, as campanhas eleitorais


THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

contemporâneas estão organizadas


pelas regras do marketing político.
Após a leitura do boxe, promova
um debate com os alunos sobre as
campanhas eleitorais contemporâ-
neas. Sugira uma pesquisa sobre os
principais recursos utilizados pelos
políticos para manipular o imaginário
popular. Reúna materiais de campa-
nha ou informações oficiais sobre os
políticos pesquisados e monte uma
exposição, descrevendo quais são as
formas de manipulação mais comuns
utilizadas nas campanhas eleitorais.

A inauguração da Igreja dos


Inválidos por Luís XIV, pintura de
HISTÓRIA
Pierre-Denis Martin (1663-1742).
Para dirimir possíveis ameaças ao
seu poder, o monarca absolutista
realizava aparições públicas que
contribuíam para fortalecer sua
imagem de rei benevolente e
protetor dos mais pobres.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 67


A Inglaterra dos Tudor
VEJA OS FILMES
E A SÉRIE O caminho do absolutismo na Inglaterra foi aberto logo após a Guerra das Duas Rosas
(1455-1485), conflito entre as duas mais poderosas famílias da nobreza, os York e os Lancaster, em
Elizabeth, a Era de Ouro, de disputa pelo trono inglês. Com o fim do conflito, subiu ao trono Henrique VII (1485-1509), perten-
Shekhar Kapur. França e In- cente à família Tudor e ligado por laços familiares tanto aos York como aos Lancaster.
glaterra, 2007. (114 min). Aproveitando-se do enfraquecimento da nobreza feudal decorrente da Guerra das Duas Rosas,
O rei da Espanha, Felipe II, tenta Henrique VII concentrou poderes, submetendo os nobres ao seu controle. Seria, porém, com seu filho
destronar a rainha da Inglaterra, Henrique VIII (1509-1547) que a monarquia inglesa se tornaria plenamente absolutista. Henrique VIII
Elizabeth I, e restaurar o catoli- rompeu com o papa para fundar a Igreja anglicana, subordinada diretamente a ele, e confiscou as
cismo no país. terras e outros bens da Igreja católica.
The Tudors, de Michael Hirst. Após sua morte, a Inglaterra entrou em um período de instabilidade, que só terminou com a as-
Estados Unidos, 2007. censão ao trono de sua filha Elizabeth I (1558-1603). Com ela, o absolutismo inglês chegaria ao apogeu.
Série que recria os primeiros anos Para coibir a ação de seus opositores, Elizabeth I criou uma rede de espionagem e decidiu só
do reinado de Henrique VIII. convocar o Parlamento em casos excepcionais. Também priorizou o mercantilismo, modernizou a
frota marítima, incentivou a criação de companhias de comércio, promoveu a fundação da colônia de
Virgínia, na América do Norte, e não teve escrúpulos em adotar a pirataria como forma de acumular
riquezas (veja o “Olho vivo” da página 70).

Os Stuart no poder
Elizabeth morreu em 1603 sem deixar herdeiros. Para ocupar o trono, foi chamado Jaime I
(1603-1625), da dinastia Stuart, rei da Escócia e primo de Elizabeth. Defensor da Teoria do Direito Di-
vino dos Reis, Jaime I governou de forma despótica, promovendo intensa perseguição aos puritanos
(calvinistas), muitos dos quais tiveram de se refugiar na América do Norte, onde fundaram novas
colônias. Quando o Parlamento recusou-se a conceder seu pedido de pensão vitalícia, o monarca o
dissolveu. Somente dez anos depois o Parlamento seria novamente convocado.
Após a morte de Jaime, assumiu o trono seu filho Carlos I (1625-1649), que acentuou o caráter
absolutista do Estado. À revelia do Parlamento, o novo rei criou taxas alfandegárias para garantir o
sustento da família real, impôs aos proprietários um empréstimo forçado à Coroa e perseguiu de
forma sistemática seus opositores.

GIRAUDON/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/


KEYSTONE/MUSEU DO LOUVRE, PARIS, FRANÇA

Retrato do rei Carlos I, da


Inglaterra, de cerca de 1635.
Museu do Louvre, Paris, França

68 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


A Inglaterra republicana
VEJA OS FILMES
Os constantes embates entre Carlos I e o Parlamento resultaram, em 1640, em uma longa
guerra civil. Pequenos proprietários e representantes da pequena nobreza rural – a gentry –, aliados Cromwell, o chanceler de fer-
a setores da burguesia, organizaram um exército conhecido como cabeças redondas, em razão do ro, de Ken Hughes. Inglaterra,
corte de cabelo de seus integrantes. Comandados por um líder puritano, Oliver Cromwell, os cabeças 1970. (139 min).
redondas venceram o exército real e, em 1649, depuseram Carlos I, que acabou julgado e decapitado. Conta a trajetória de Oliver
Com a deposição de Carlos I, a Inglaterra se transformou em uma República governada por Cromwell, líder que depôs o rei
Cromwell. Em 1651, o Parlamento aprovou o Ato de Navegação, pelo qual somente navios ingleses Carlos I.
poderiam desembarcar mercadorias em portos da Inglaterra ou das colônias inglesas. Sentindo-se Morte ao rei, de Mike Barker.
prejudicada, a Holanda declarou guerra à Inglaterra em 1652. O conflito, que terminou em 1654, foi Alemanha e Inglaterra, 2003.
vencido pelos ingleses. Como resultado, a Inglaterra se tornou a maior potência naval da Europa. (122 min).
Em 1655, Cromwell dissolveu o Parlamento e implantou uma ditadura que durou até sua morte, O filme narra os desdobramen-
em 1658. Seu filho, Richard, assumiu o governo, mas renunciou menos de um ano depois. Assim, em tos do conflito civil na Inglaterra,
1660, a monarquia na Inglaterra foi restaurada, com a ascensão ao trono de Carlos II (1660-1685), iniciado em 1640.
filho de Carlos I que se encontrava no exílio.

Fim do absolutismo inglês


Tanto Carlos II como seu sucessor, Jaime II (1685-1688), tentaram restabelecer o absolutismo. Em
resposta a essa política reacionária, o Parlamento depôs Jaime II em 1688 e entregou o trono ao príncipe
holandês Guilherme de Orange, casado com a inglesa Mary Stuart, filha do rei deposto.
Coroado como Guilherme II em 1689, o rei comprometeu-se a cumprir o Bill of Rights (Declaração
de Direitos) estabelecido pelo Parlamento. A declaração garantia ao Parlamento o direito de votar leis
que o rei deveria acatar e respeitar. O absolutismo cedia lugar, assim, a uma monarquia constitucional.
Sem derramamento de sangue, esse processo tornou-se conhecido como Revolução Gloriosa.
ELIZABETH HUNTER/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

HISTÓRIA

Primeira página do livro A confissão de Richard


Brandon, o carrasco, com gravura que representa
a execução do rei Carlos I, da Inglaterra.
Publicada em 1649, a obra foi escrita por Richard
Brandon, o homem que decapitou o rei, e conta
detalhes da execução.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 69


LH VIVO
Uma representação do poder
Durante seu reinado, a rainha Elizabeth I foi representada por diversos pintores. O luxo e o esplendor exibidos nas obras desses artistas
destacavam o prestígio e a força da rainha. Este é o caso do óleo sobre madeira reproduzido nesta seção, executado em 1588 pelo pintor
inglês George Gower (c. 1540-1596). Ele foi feito pouco depois de uma vitória inglesa sobre a armada espanhola, a mais poderosa da época.
Em julho de 1588, o rei Filipe II, da Espanha, enviou 130 navios e 30 mil soldados ao canal da Mancha para atacar os ingleses. Os con-
frontos duraram nove dias e a Espanha foi derrotada. O feito foi registrado nesse quadro. Através das janelas, podem-se ver dois momentos
diferentes do combate.
Fonte: HILL, Suzanne. The armada portrait of Elizabeth I. Disponível em: <http://renaissance-art.suite101.com/article/
the_armada_portrait_of_elizabeth_i-a21663>. Acesso em: 16 dez. 2014.
Navios ingleses Em 1588, a
Barcos espanhóis
no canal rainha contava
com a Cruz de Santo
da Mancha, 55 anos, mas
André (em forma de
identificados o artista a
xis). Depois de terem
pelo pavilhão de representou batido em retirada,
São Jorge (cruz com bastante colidem contra as
vermelha sobre maquiagem, rochas, durante uma
fundo branco). como se fosse tempestade na costa
mais jovem. da Irlanda.

GEORGE GOWER/AKG-IMAGES/LATINSTOCK
Navios ingleses com explosivos foram
enviados contra a frota espanhola. Quando
estavam próximos, foram incendiados.
Temendo as explosões, os espanhóis
fugiram e acabaram derrotados.

Navios espanhóis diante das embarcações


inglesas no canal da Mancha.

Coroa, símbolo
da realeza.

As pérolas do colar
simbolizam a castidade.
Elizabeth não se casou,
sendo conhecida como
A mão da rainha repousa sobre Rainha Virgem.
a América, indicando o domínio
da Inglaterra sobre terras no
Novo Mundo.

70 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


ENQUANTO ISSO...

AKG-IMAGES/LATINSTOCK
O primeiro czar da Rússia
Em 1547 ascendeu ao trono da Rússia Ivan IV, jovem de 17 anos que governaria até
1584. Primeiro príncipe moscovita a receber o título de czar (palavra oriunda de César,
dos antigos romanos), Ivan implantou um regime absolutista: subordinou a Igreja ao
Estado; fortaleceu o exército; estabeleceu relações comerciais com os reinos ocidentais;
e, por meio de forte repressão, submeteu a aristocracia ao seu poder.
Grande parte dos objetivos de Ivan IV foi conseguida graças aos métodos violen-
tos que empregava. Além dos inúmeros assassinatos praticados contra seus inimigos
e opositores, ele foi acusado de ter matado algumas de suas esposas e até mesmo seu
filho. Por causa desses métodos, ficou conhecido como Ivan, o Terrível.

Xilogravura do século XVI


representando o czar Ivan IV,
o Terrível (1530-1584).

PARA CONSTRUIR

3 Que circunstâncias políticas e que medidas adotadas fizeram a) a economia inglesa, diante da instabilidade política, teve
de Luís XIV o mais cristalino exemplo de monarca absolutista? um desenvolvimento irregular no século XIX, atrasando
sua industrialização frente a outros países.
Ao assumir plenamente o poder, em 1661, Luís XIV declarou que
b) a monarquia absolutista inglesa, reconhecendo suas li-
exerceria as funções de rei e primeiro-ministro da França, reduzindo mitações, tomou a iniciativa na criação do Bill of Rights,
drasticamente o poder do Conselho Real. Consolidou o exército evitando novas guerras civis no país.
permanente, proibiu as comunas de escolher seus representantes c) as medidas absolutistas insuflaram questionamentos na
sociedade inglesa, favorecendo mudanças e rupturas na
e implementou uma política econômica baseada no mercantilismo.
estrutura política do país.
Chamado de Rei Sol, cunhou a célebre expressão “O Estado sou eu”. d) as características absolutistas da monarquia inglesa a afas-
Essa concentração de poderes era acompanhada por diversas tavam do modelo constitucional que, desde o fim da Ida-
formas de culto à pessoa do rei, com um detalhado cerimonial de de Média, predominava na Europa.
saudações, uma estudada disposição dos nobres da Corte nas mesas 5 O absolutismo inglês chegou ao apogeu durante o governo
de cerimônias e rígidas regras de vestuário. Luís XIV mandou de Elizabeth I (1558-1603), que investiu no fortalecimento do
construir um suntuoso palácio em Versalhes para onde transferiu
poder e da imagem da monarquia e no incentivo às ativida-
des mercantilistas. Observe novamente o retrato da rainha
sua Corte, com cerca de 6 mil pessoas.
na página anterior e responda: que detalhes do quadro refor-
çam esses dois aspectos?
4 (UFU-MG) Entre os eventos que merecem destaque na con-
m solidação do absolutismo inglês estão o embate entre os York No retrato de Elizabeth, o poder da monarquia é revelado por meio
Ene-3
C 5
H-1 e os Lancaster, na Guerra das Duas Rosas, o controle dos no- do luxo e do esplendor das roupas e dos adereços (especialmente
bres por Henrique VII e, finalmente, as ações de Henrique VIII, as joias e a coroa, que representava o poder da realeza) exibidos
que rompeu com o papa e fundou a Igreja anglicana, mantida
pela rainha. Por outro lado, o apoio ao mercantilismo surge nas
sob sua tutela. Com a morte de Henrique VIII e a ascensão de
Elizabeth I, o absolutismo inglês conheceu seu período de ma- referências à destruição da armada espanhola pelos navios ingleses –
turidade. As ações de Elizabeth I e de seus sucessores, adotan- evento que se relaciona com a disputa pelos mares e pelas
HISTÓRIA
do medidas mercantilistas, criando companhias de comércio, riquezas da América. Além disso, a mão da rainha repousa sobre o
dissolvendo o Parlamento, exigindo pensão vitalícia e criando globo terrestre, indicando a forte presença inglesa no comércio
taxas, marcaram acontecimentos que culminaram, décadas
internacional e o poder da Inglaterra sobre suas colônias na América.
mais tarde, numa página da história da sociedade inglesa co-
nhecida como Revolução Gloriosa. Neste cenário: b

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 3 a 5 Para aprimorar: 3

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 71


Veja, no Guia do Professor, as respostas da
“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

a) liberalismo.
PARAPARA PRATICAR
PRATICAR
b) socialismo.
c) Iluminismo.
1 Para consolidar o poder, os novos soberanos precisavam
d) Direito Divino.
m
Ene-3
enfraquecer o poder dos senhores feudais. Quais foram as
C 3
H-1 transformações jurídicas que deram sustentação à luta do rei e) calvinismo.
contra os senhores feudais? 5 (UFRGS-RS) Ao longo da Revolução Inglesa, ocorrida no sé-
culo XVII, emergiu um regime republicano, que durou cerca
2 (Unirio-RJ – Adaptada) O absolutismo monárquico mani-
de uma década, sob o comando de Oliver Cromwell, o “Lord
festou-se de formas variadas entre os séculos XV e XVII na
Protector” da Inglaterra.
Europa, através de um conjunto de práticas e doutrinas po-
lítico-econômicas que fundamentavam a atuação do Estado Sobre esse período republicano, é correto afirmar que:
nacional absoluto. Dentre essas práticas e doutrinas, identifi- a) a Inglaterra, enfraquecida pela transição de regime, ficou
camos corretamente a: à mercê das demais potências europeias, às quais foi obri-
a) condenação da doutrina política medieval que justificava gada a conceder uma série de vantagens comerciais.
a autoridade monárquica absoluta através do Direito Divi- b) Cromwell, no intuito de proteger a economia interna, ela-
no dos reis. borou diversas restrições comerciais que o colocaram em
b) concentração dos poderes de governo e da autoridade conflito direto com os holandeses.
política na pessoa do rei identificado com o Estado. c) a morosidade com que Cromwell implantou sua política
c) promoção política das burguesias nacionais, principais econômica contribuiu para a curta duração de seu governo.
empreendedores mercantis da expansão econômica e d) ele teve como particularidade o retrocesso do puritanis-
geográfica do Estado moderno absoluto. mo religioso, característica marcante nos tempos do mo-
d) adoção de práticas capitalistas e liberais como fundamen- narca Carlos I.
to da organização econômica dos impérios coloniais con- e) ele representou uma fase de distensão entre a Inglaterra e
trolados pelas monarquias europeias. as oposições irlandesas e escocesas.
e) rejeição dos princípios mercantilistas: dirigismo econômi-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
co e protecionismo alfandegário.

3 (Fuvest-SP) 1 (Vunesp) O início da Época Moderna está ligado a um pro-


Após ter conseguido retirar da nobreza o poder político cesso geral de transformações humanística, artística, cultural
que ela detinha enquanto ordem, os soberanos a atraíram e política. A concentração do poder promoveu um tipo de
para a corte e lhe atribuíram funções políticas e diplomáticas. Estado. Para alguns pensadores da época, que procuraram
fundamentar o absolutismo:
Esta frase, extraída da obra de Max Weber, Política como voca-
ção, refere-se ao processo que, no Ocidente: a) a função do Estado é agir de acordo com a vontade da
maioria.
a) destruiu a dominação social da nobreza, na passagem da
b) a História se explica pelo valor da raça de um povo.
Idade Moderna para a Contemporânea.
c) a fidelidade ao poder absoluto reside na separação dos
b) estabeleceu a dominação social da nobreza, na passagem
três poderes.
da Antiguidade para a Idade Média.
d) o rei reina por vontade de Deus, sendo assim considerado
c) fez da nobreza uma ordem privilegiada, na passagem da o seu representante na Terra.
Alta Idade Média para a Baixa Idade Média.
e) a soberania máxima reside no próprio povo.
d) conservou os privilégios políticos da nobreza, na passa-
gem do Antigo Regime para a Restauração. 2 (Mack-SP) O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) rom-
e) permitiu ao Estado dominar politicamente a nobreza, na peu com a religiosidade medieval, estabelecendo nítida dis-
passagem da Idade Média para a Moderna. tinção entre a moral individual e a moral pública. Em seu livro
O Príncipe preconizava que:
4 (Cefet-CE) “O Estado sou eu”. Esta frase do rei Luís XIV justifica, a) o chefe de Estado deve ser um chefe de exército. O Estado
para ele, o seu poder absoluto que é fundamentado em uma em guerra deve renunciar a todo sentimento de humani-
teoria. O nome correto desta teoria é: dade [...] O equilíbrio das forças está inscrito nos tratados.

72 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Mas os chefes de Estado não devem hesitar em trair sua da cultura francesa como universal, Luís XIV devolveu o
palavra ou violar sua assinatura no interesse do Estado. poder das províncias às grandes famílias aristocráticas.
b) somente a autoridade ilimitada do soberano poderia III. A fim de criar uma imagem pública positiva e democráti-
manter a ordem interna de uma nação. A ordem política ca, Luís XIV organizou a partilha do poder de Estado com
internacional é a mais importante; sem ela se estabelece- o Parlamento e com o Judiciário, dando início à divisão
riam o caos e a turbulência política. dos três poderes, cara a Montesquieu e fundamental para
c) na transformação do Estado Natural para o Estado Ci- os novos rumos da política europeia.
vil, legitima-se o poder absoluto do rei, uma vez que o Quais estão corretas?
segundo monta-se a partir do indivíduo, que cede seus
direitos em troca de proteção contra a violência e o caos a) Apenas I.
do primeiro. b) Apenas II.
d) o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do c) Apenas III.
próprio Deus [...] Os reis [...] são deuses e participam de al- d) Apenas I e III.
guma maneira da independência divina. O rei vê mais longe e) Apenas II e III.
e de mais alto; deve-se acreditar que ele vê melhor [...]
e) há três espécies de governo: o republicano, o monárquico
ANOTAÇÕES
e o despótico [...] A liberdade política não se encontra se-
não nos governos moderados [...] Para que não se possa
abusar do poder, é preciso que, pela disposição das coisas,
o poder faça parar o poder.

3 (UFRGS-RS) Observe a figura a seguir, que representa a cons-


m
Ene-3
trução da imagem do Rei Sol.
C 1
H-1
REPRODUÇÃO/UFRGS-RS

Luís XIV assumiu o poder monárquico francês em 1661 e, em


pouco tempo, impôs à França e à Europa a imagem pública de
um Rei Sol todo-poderoso. Toda uma máquina de propaganda
foi colocada a serviço do rei francês. Escritores, historiadores,
escultores e pintores foram convocados ao exercício da sua
glorificação. O mito de Luís XIV foi criado em meio a mudanças
socioeconômicas e políticas na França do século XVII.
A esse respeito, considere as seguintes afirmações.
I. Luís XIV, rei por direito divino, suscitou a admiração de
seus pares europeus; Versalhes foi copiada por toda a
HISTÓRIA
Europa; o francês consolidou-se como língua falada pela
elite europeia. Porém, sombras viriam a ofuscar o Rei Sol,
visto que a oposição exilada começou a denunciar a auto-
cracia do monarca francês.
II. Para restabelecer a paz no reino, após a rebelião da Fronda
e a Guerra dos Trinta Anos, e dedicar-se à consolidação

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 73


CAPÍTULO

7 Civilizações americanas

Objetivos: Você já imaginou como os astronautas se alimentam quando estão no espaço? As refeições
deles são muito parecidas com as nossas. Isso porque a Nasa, agência espacial norte-americana,
c Conhecer a variedade e
submete os alimentos a um processo de desidratação conhecido como liofilização, que permite
a complexidade social,
preservar qualquer tipo de alimento por muitos anos.
cultural e tecnológica
de algumas civilizações
Essa técnica é formada por duas etapas. Primeiramente, o alimento é congelado, para que a
pré-colombianas.
água que se encontra em suas células passe do estado líquido para o sólido. Em seguida, o alimento
congelado é aquecido e submetido a baixa pressão de ar. Com isso, a água, que estava em estado
c Ampliar a compreensão sólido, muda imediatamente para o estado gasoso.
sobre o conceito de Os produtos liofilizados não sofrem alterações de aroma, de sabor, nem do teor de vitaminas,
diversidade cultural, sais minerais e proteínas. Como são porosos, basta adicionar um pouco de água para que se reidratem
tanto no passado como e sejam consumidos.
no presente. A técnica utilizada pela Nasa é bastante antiga. Os povos incas, que viveram na América do
Sul há mais de 500 anos, praticavam a liofilização dos alimentos para garantir o sustento de sua
c Desenvolver uma
população.
visão crítica sobre
as sociedades
Neste capítulo, vamos conhecer mais sobre os incas e outros povos americanos (também cha-
pré-colombianas,
mados de pré-colombianos), que viviam na América antes da chegada dos primeiros europeus.
valorizando sua

NASA/REUTERS/LATINSTOCK
diversidade e sua
complexidade.
GLOSSÁRIO

Pré-colombianos:
expressão que designa os povos
(e suas culturas) que habitavam o
continente, que ficaria conhecido
como América, antes da chegada de
Cristóvão Colombo. Trata-se de uma
expressão eurocêntrica, pois estabe-
lece o antes e o depois de Colombo,
como se esse europeu fosse a grande
referência para abordar as civilizações
americanas, que já eram florescentes
muito antes de sua chegada ao conti-
nente que seria chamado de América. Astronauta Akihiko Hoshide prepara-se para comer uma refeição desidratada na cozinha do ônibus espacial
Discovery. Foto liberada pela Nasa em junho de 2008.

74 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DA AMÉRICA Portal
SESI
Com base em vestígios encontrados em pesquisas arqueológicas, pode-se afirmar que por volta Educação www.sesieducacao.com.br
de 4500 a.C. as práticas agrícolas já haviam se consolidado no continente americano. Diversos povos
da região plantavam milho, abóbora, pimentão, tomate, feijão. Por essa época, grupos nômades se Acesse o portal e explore os info-
sedentarizaram e formaram os primeiros assentamentos do continente. gráficos animados Cidades na
Com o tempo, alguns desses povoados cresceram e assumiram uma estrutura complexa, co- América pré-Hispânica.
mercializando produtos e constituindo formas de poder centralizado em torno de um líder comu-
nitário ou religioso. Surgiram, assim, centros cerimoniais que em alguns casos se transformaram em
cidades-Estado.
Nesse processo, desenvolveram-se civilizações que exerceram grande influência na região. No
atual território do Peru, um dos destaques foi a civilização de Norte Chico (estabelecida por volta de
3500 a.C.) e a civilização dos chavín (formada entre 700 a.C. e o início da Era Cristã). Já na região hoje
ocupada por México, El Salvador e Costa Rica floresceu a cultura olmeca (por volta de 1400 a.C.).
Os olmecas ergueram pirâmides e criaram o primeiro sistema de escrita e calendário do continente.
Outra civilização de destaque foi a de Teotihuacan (cujo apogeu ocorreu por volta de 400 d.C.), a
cerca de 40 quilômetros da atual Cidade do México e formada por povos de diferentes grupos étni-
cos, como zapotecas, mixtecas e nahuas.

OS MAIAS
Na região hoje conhecida como América Central e na península de Yucatán, no sul do México ACESSE O SITE
atual, floresceu uma das culturas mais singulares: a civilização maia. Surgida por volta de 1800 a.C.,
essa civilização perduraria por mais de 3 mil anos, chegando a ocupar uma área de quase 500 mil Panoramas.dk
quilômetros quadrados (veja o mapa abaixo). Visitas virtuais a diferentes ci-
Entre 250 e 900 d.C., a civilização maia atingiu o apogeu, obtendo grandes avanços científi- dades do mundo. Oferece vi-
cos, tecnológicos, sociais e artísticos. As cidades cresceram, e algumas delas chegaram a abrigar são em 360º da antiga cidade
até 60 mil pessoas, como Tikal, na atual Guatemala. Outros importantes centros urbanos eram maia de Chichén Itzá, no atual
México. Disponível em: <www.
Uxmal, na península de Yucatán, onde foi construído um grande conjunto cerimonial, e Etzná
panoramas.dk/7-wonders/
(México atual), famosa por seu sistema de canais para a captação de água pluvial. Cada centro Chichen-Itza.html>. Acesso em:
urbano se constituía em cidade-Estado autônoma, com um governo próprio, sem que houvesse 17 dez. 2014.
um poder centralizado para toda a sociedade maia.

Sociedade maia no século XV


Fonte: GRAND atlas historique. Paris: Larousse, 2006.

OCEANO
ATLÂNTICO
Chichén Itzá
Uxmal
Golfo do
México
PENÍNSULA
DE YUCATÁN

Etzná
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.

Tikal
Mar do
Palenque Caribe

HISTÓRIA

OCEANO
PACÍFICO
AMÉRICA CENTRAL

Limites da 0 110
sociedade maia
km

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 75


As atividades comerciais eram relativamente intensas. Usando sementes de cacau como moeda, os
maias comerciavam com outros povos produtos como obsidiana, jade, peles, baunilha, tecidos, sal, entre
GLOSSÁRIO

Códice: outros. A observação dos astros tornou-se atividade significativa. Como resultado de seus estudos, os
palavra derivada do termo latino astrônomos maias mediram com precisão o ciclo do Sol, da Lua e de Vênus e desenvolveram dois calendá-
codex, que significa “tabuinha de es- rios: um ritual, de 260 dias, e outro civil, de 365 dias. Além disso, criaram seu próprio zodíaco, de 13 signos.
crever”, ou “manuscrito”, e é utilizada Nesse período, os maias instituíram um sistema numérico que incluía o número zero e inven-
para denominar documentos como
taram o mais avançado sistema de escrita da América pré-colombiana. Essa escrita, de caracteres
os dos astecas. Os códices são com-
postos de folhas articuladas umas às hieroglíficos, é encontrada em códices, monumentos e estelas. A arte também ganhou impulso,
outras, formando uma espécie de livro. destacando-se os objetos de cerâmica, as esculturas de barro e de jade e as pinturas murais que
retratam diversos aspectos da vida religiosa da população.

Sociedade e religião
A sociedade maia encontrava-se rigidamente hierarquizada. No topo da pirâmide social, fica-
vam o chefe de Estado e seus familiares. Conhecido como halach-uinic, ele acumulava as funções de
líder civil, militar e religioso. Cada cidade-Estado tinha seu próprio halach-uinic. Abaixo dele vinha a
nobreza, que ocupava os principais cargos administrativos, religiosos e militares. Dessa camada social
faziam parte também os grandes comerciantes. Em seguida, encontravam-se os guerreiros, artistas e
artesãos. Na camada inferior, situavam-se os camponeses e a população pobre. Na base da pirâmide,
estavam os escravos, em geral, prisioneiros de guerra.
A religião desempenhava papel preponderante entre os maias. Politeístas, eles costumavam fazer
oferendas e sacrifícios humanos a seus deuses, entre os quais sobressaíam Itzam Na, que simbolizava
o céu e a Terra, Ixchel, deusa da Lua, e Chaac, divindade da chuva. Em homenagem a esses e a outros
deuses, os maias ergueram inúmeros templos e santuários religiosos.
Por volta de 900, a península de Yucatán começou a sofrer invasões de outros povos, entre os
quais os toltecas. Quando os espanhóis chegaram, no fim do século XV, as cidades maias encontravam-
-se abandonadas e seu povo, disperso. Fatores como escassez de alimentos, desmatamento, alterações
climáticas e guerras são apontados como algumas das razões do colapso da sociedade maia.
Esse colapso, entretanto, não significou a extinção do povo maia. Seus descendentes vivem
atualmente nos territórios ocupados pela antiga sociedade maia. São cerca de 4 a 5 milhões de
pessoas, a maioria das quais formada por camponeses. Apesar da destruição de suas cidades, as
comunidades maias lutam ainda hoje para conservar suas antigas crenças e tradições.

ORLANDO SIERRA/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE

Rapaz guatemalteco sopra uma concha


para anunciar o início do Terceiro Congresso
de Educação Maia, realizado em agosto de
2002 no sítio arqueológico de Zaculeu, em
Huhuetenango, no oeste da Guatemala. Ao
fundo, pode-se ver uma pirâmide maia.

76 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


OS ASTECAS
Por volta do século XII, os astecas – que se autodenominavam mexicas – eram uma das tantas
tribos nômades, caçadoras e guerreiras que viviam no norte do México atual.
Em razão das difíceis condições climáticas da região, os mexicas marcharam para o sul em busca
de melhores terras. Iniciada por volta de 1168, a migração só terminou em 1325 aproximadamente,
quando eles se instalaram em uma ilha no lago Texcoco, no planalto central do México. Ao chegarem,
foram subjugados pelos tepanecas, que já viviam na região junto a outros povos.
Como a ilha não era grande o suficiente para todos, os astecas, mesmo dominados pelos tepa-
necas, construíram ao redor ilhas artificiais conhecidas como chinampas. Da junção das chinampas
com a ilha central, surgiria a cidade de Tenochtitlán, que seria mais tarde a capital asteca e, séculos
depois, do próprio México atual, com o nome de Cidade do México.
A sujeição aos tepanecas durou aproximadamente um século, período no qual os mexicas
assimilaram os conhecimentos técnicos, científicos, militares e políticos tanto de seus dominadores
como de outros povos da região.
No decorrer desse processo, os astecas deixaram de ser uma tribo e se constituíram em socie-
dade mais complexa, dotada de uma monarquia hierárquica. Em 1428, liderados pelo rei Itzcóatl, eles
se rebelaram contra os tepanecas, libertando-se do jugo. A partir de então, passaram a dominar os
povos das regiões circunvizinhas (veja o mapa a seguir).

Império asteca no século XVI

OCEANO
ATLÂNTICO

Trópico de Câncer

AMÉRICA
DO
NORTE
Golfo do México
Tenochtitlán
Lago Texcoco
Lago
Chalco
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.

GLOSSÁRIO

AMÉRICA Aristocracia:
CENTRAL
para o filósofo grego Platão (427 a.C.-
-347 a.C.), o termo designava uma
forma de governo em que o poder
estaria nas mãos dos melhores indi-
OCEANO víduos de uma sociedade (aristoi 5
PACÍFICO
melhores 1 kratos 5 comando ou
domínio). Para seu discípulo, Aristó-
N Império asteca teles (384 a.C.-322 a.C.), aristocracia
Afluência significava governo de poucas pes-
0 189
Influência soas. Ela seria uma das três formas
km
clássicas de governo – as outras eram
a monarquia (governo de uma só
pessoa) e a democracia (governo de
Estrutura social todos ou da maioria). Posteriormente, HISTÓRIA
aristocracia passou a designar uma
O governo asteca era exercido por um monarca eleito entre a nobreza hereditária. Comandante
camada social formada principalmen-
supremo do exército, ele governava com o apoio de um conselho constituído por chefes militares. te de grandes proprietários rurais. A
Estes últimos, juntamente com os altos funcionários públicos e os religiosos, compunham a nobreza. partir da Idade Média, na Europa, es-
Abaixo dessa aristocracia, estavam os grandes negociantes, conhecidos como pochtecas. Apenas sas pessoas tornaram-se portadoras
de títulos de nobreza, como conde,
eles podiam chegar até a região do golfo do México e à costa do Pacífico para vender seus produtos – marquês, barão, duque, etc. Nesse
ervas medicinais, joias, perfumes, etc. Ao retornarem, traziam consigo pedras preciosas, peles de jaguar caso, tornou-se sinônimo de nobreza.
e puma e plumas de quetzal, uma ave rara das florestas. Como moeda, utilizavam sementes de cacau.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 77


MUSEO DEL TEMPLO MAYOR/GIANNI Abaixo dos pochtecas vinham os artesãos, grupo numeroso e respeitado, responsável
DAGLI ORTI/THE ART ARCHIVE/AFP
pela confecção das roupas e adornos do soberano e da nobreza, assim como de objetos
religiosos. A camada social seguinte era a dos camponeses, que cultivavam as terras cedidas
pelos nobres. Ali, eles plantavam milho, feijão, abóbora, tomate e batata. Nas épocas em que o
trabalho nos campos diminuía, participavam das construções públicas.
O último degrau da pirâmide social era ocupado pelos escravos, geralmente indigentes, pri-
sioneiros de guerra ou pessoas que não haviam conseguido quitar suas dívidas.

A cidade de Tenochtitlán
A economia asteca tinha por base a agricultura, mas o comércio e o artesanato
eram igualmente importantes. Além dessas fontes de renda, o Estado dispunha dos
tributos periodicamente pagos pelos povos subjugados. Graças a essas riquezas, Te-
nochtitlán passou por profundas reformas urbanísticas, com ampliação do perímetro
urbano e a abertura de canais fluviais navegáveis.
Ao mesmo tempo, engenheiros e trabalhadores astecas construíram aquedutos de
pedra destinados ao transporte de água potável, além de pirâmides e templos religiosos,
uma vez que a religião desempenhava papel primordial no dia a dia da população. Para
os astecas, todos os acontecimentos em torno da vida e da morte eram decorrentes da
ação de um deus.
Até 1521, ano em que Tenochtitlán foi conquistada pelos espanhóis, a civilização as-
Representação do deus asteca da chuva, teca constituiu um verdadeiro império, que abarcava quase todo o centro do atual território
Tlaloc, em vaso de cerâmica policromado mexicano, estendendo-se do Pacífico até o golfo do México.
encontrado no México atual, com Cerca de 15 milhões de pessoas viviam no interior desse império, espalhadas pelos campos e
datação provável do século XV. O vaso faz
parte do acervo do Museu Templo Maior, por quinhentas cidades. Em 1500, somente Tenochtitlán tinha aproximadamente 200 mil habitantes,
na Cidade do México. Foto de 2009. quase cinco vezes mais do que possuía Londres, a maior cidade europeia da época.

G. DAGLI ORTI/DEA/ALBUM/LATINSTOCK
Recortes de uma página
do Pequeno livro das ervas
medicinais dos índios,
descrevendo as propriedades
medicinais de várias plantas
usadas pelos astecas. O
livro foi traduzido da língua
asteca para o latim por
Juan Badiano, por isso
também é conhecido como
Manuscrito badianus. O
manuscrito, de 1552, esteve
durante alguns séculos na
Europa e foi devolvido pelo
papa João Paulo II ao México
e está agora na biblioteca
do Instituto Nacional de
Antropologia e História, na
Cidade do México.

78 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Educação e religião Portal
No império asteca, a educação tinha particular importância. Praticamente todas as crianças SESI
Educação www.sesieducacao.com.br
estudavam e a vida escolar era uma das formas pelas quais os alunos aprendiam os valores religiosos
e morais da sociedade. Os professores também os ensinavam a ter uma preocupação com o bem- Acesse o portal e explore a galeria
-estar da comunidade como um todo. Os filhos de nobres e grandes comerciantes tinham aulas em de imagens Arte asteca.
escolas reservadas, os calmecac; as demais crianças estudavam em instituições conhecidas como
telpochcalli, que se espalhavam por todo a território asteca.
Os astecas utilizavam uma escrita pictográfica e hieroglífica. Graças a ela, podemos hoje conhecer e
estudar vários aspectos de sua cultura. Também desenvolveram um calendário de 365 dias, divididos em
18 meses de 20 dias, mais cinco dias dedicados aos rituais de sacrifício em homenagem a suas divindades.
Os astecas acreditavam em diversos deuses. Para eles, os deuses praticavam boas ações quando
recebiam presentes e homenagens, por isso ofereciam-lhe sacrifícios, até mesmo humanos. A divindade
asteca mais importante era Huitzlopochtli, deus da guerra e do Sol.
Todos os anos, entre 10 e 20 mil pessoas eram mortas em rituais religiosos realizados no topo
das pirâmides. Em situações de calamidade, como uma seca ou uma guerra, os astecas chegavam a
imolar esse número de pessoas de uma única vez. Os sacrificados assumiam um caráter quase divino,
pois eram vistos como mensageiros enviados aos deuses.

PARA CONSTRUIR

1 (Ufscar-SP) d) estavam organizados em duas classes sociais: os grandes


m [...] as casas se erguiam separadas umas das outras, proprietários de terra e os escravos.
Ene-3
C 1
H-1 comunicando-se somente por pequenas pontes elevadiças e) desenvolviam trabalhos no campo e nas cidades, asso-
e por canoas [...] O burburinho e o ruído do mercado [...] ciando agricultura, artesanato e comércio.
podia ser ouvido até quase uma légua de distância [...] Os
artigos consistiam em ouro, prata, joias, plumas, mantas, 2 A educação era uma prática extremamente valorizada pelos
chocolate, peles curtidas ou não, sandálias e outras manu- astecas. Por isso, quase todas as crianças estudavam. Explique
faturas de raízes e fibras de juta, grande número de escra- como funcionava o sistema educacional asteca.
vos homens e mulheres, muitos dos quais estavam atados Havia dois tipos de escola que separavam os filhos de nobres e
pelo pescoço, com gargalheiras, a longos paus [...] Vege-
grandes comerciantes das demais crianças astecas. Os primeiros
tais, frutas, comida preparada, sal, pão, mel e massas do-
ces, feitas de várias maneiras, eram também lá vendidas estudavam nos calmecac, templos destinados a formar sacerdotes

[...] Os mercadores que negociavam em ouro possuíam o e altos funcionários do Estado, nos quais se aprendia a escrever e a
metal em grão, tal como vinha das minas, em tubos trans- ler usando os caracteres pictográficos, recebiam-se aulas de poesia,
parentes, de forma que ele podia ser calculado, e o ouro retórica e astrologia e aprendia-se o ciclo dos calendários. As demais
valia tantas mantas, ou tantos xiquipils de cacau, de acor-
crianças tinham aulas nas telpochcalli, cujo objetivo principal era
do com o tamanho dos tubos. Toda a praça estava cercada
por piazzas sob as quais grandes quantidades de grãos formar jovens guerreiros. Por isso, embora esses alunos também tives-

eram estocadas e onde estavam, também, as lojas para as sem aulas de religião, cantos e danças, o foco estava no ensino do
diferentes espécies de bens. uso das armas, das técnicas militares e da disciplina para a guerra.
Este texto foi escrito pelo cronista espanhol Bernal Diaz Del Além disso, os estudantes das telpochcalli trabalhavam no cultivo
Castilho, em 1519, sobre a cidade asteca de Tenochtitlán. A das terras coletivas, nas obras públicas (reparos em valetas e canais,
partir dele, é correto afirmar que, na época, os astecas: e
por exemplo) e na construção de casas ou templos, além de
a) estavam organizados a partir de uma economia domésti- serem os responsáveis pela conservação e pela limpeza de suas
ca, coletora e caçadora.
HISTÓRIA
próprias escolas.
b) tinham uma economia comercial e de acumulação de
metais preciosos (ouro) pelo Estado.
c) tinham uma economia monetária que estimulava o de-
senvolvimento urbano e comercial.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 79


Império Inca no século XVI O IMPÉRIO INCA
Até o século XII, os incas eram apenas um dos diversos povos que
viviam na América do Sul. No final daquele século, eles se estabeleceram no
Equador
Quito
vale do Cuzco, em uma depressão da cordilheira dos Andes.
Cuenca Ali, viveram inicialmente subordinados a grupos falantes da língua
Tumbes AMÉRICA quéchua. No início do século XIV, já haviam se tornado o mais importante
DO SUL
povo de uma federação de povos andinos. Com um exército bem organi-
Cajamarca
Chan Chan zado, apoiado na prestação de serviço militar obrigatório, eles conquista-
ram pouco a pouco novos territórios. Em menos de cem anos, seus antigos
Machu Picchu
aliados da federação haviam sido subjugados. Era o início do Império Inca.
Cuzco Em seu período de maior esplendor, no século XVI, o Império Inca
OCEANO
estendia-se por uma área de mais de 1 milhão de quilômetros quadra-
PACÍFICO Lago Titicaca dos – englobando territórios pertencentes hoje ao Peru, Equador, Bolívia,
Colômbia, Chile e Argentina –, na qual viviam cerca de 10 milhões de pes-
soas. A cidade de Cuzco, que significa “umbigo do mundo”, era seu centro
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.

Trópico de Capricórnio
ANDES político, religioso e cultural.

A origem do império
Tucumán O Império Inca chegou a reunir cerca de cem povos distintos. Todos
N eles encontravam-se subordinados a um soberano, o sapa inca (“único
0 414
inca”) ou intip cori (“filho do Sol”). Adorado como verdadeiro deus, o Inca
km exercia o poder com a ajuda de um conselho formado por pessoas de sua
família. Seus parentes ainda ocupavam os cargos mais elevados da admi-
Extensão do Império
Inca em 1525 nistração pública, como os de juiz, general e sacerdote.
Estradas A maioria da população era formada por lavradores, pois a produção
agrícola era a base da vida econômica. Ao casar-se, cada lavrador recebia
do curaca de sua aldeia um lote de terra no qual cultivava principalmente
milho, batata-doce, abacate, amendoim e batata. Além de garantir seu sustento, os camponeses eram
obrigados a trabalhar nas obras públicas e nas terras do Inca e a prestar serviço militar.
As aldeias, chamadas de ayllu, constituíam a comunidade básica. Nelas viviam os camponeses e
suas famílias. Além dos lotes individuais, havia terras de uso coletivo, nas quais os camponeses criavam
a alpaca – mamífero do qual obtinham lã para a fabricação de tecidos – e a lhama, utilizada princi-
palmente como meio de transporte de carga. Esses
PHOTOS.COM/JUPITER

animais também eram aproveitados como alimento.


Técnicos do governo dirigiam-se com frequência
a essas aldeias para ensinar aos moradores os melho-
res processos de criação de animais e para orientá-los
a respeito do preparo da terra e de outros afazeres,
como o plantio, a irrigação, a colheita e a conservação
de alimentos. Para garantir o sustento da população no
inverno, muitos gêneros alimentícios eram desidratados
e estocados. Parte da colheita era usada como paga-
mento de impostos.

Antes da chegada dos europeus, os nativos da América


desconheciam o cavalo e o boi. Porém, outras cinco espécies
animais haviam sido domesticadas. Uma dessas espécies era
a lhama, animal da família do camelo, muito utilizada pelos
incas no Peru e na Bolívia atuais. Na foto, lhama diante das
ruínas de Machu Picchu, no Peru.

80 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


JAY BOUCHER/SHUTTERSTOCK/GLOW IMAGES
Vista aérea de Machu Picchu, no Peru. Foto de 2012.

Engenharia inca
O abastecimento das diversas regiões do império era feito por meio de um sistema de estradas
que ligava o território inca de norte a sul e de leste a oeste. Segundo pesquisas recentes, essas estradas
totalizavam de 30 a 50 mil quilômetros de extensão.
Ao longo delas, havia postos de correio separados uns dos outros por alguns quilômetros. Em
cada posto, havia um mensageiro, conhecido como chaski. Quando ele recebia uma mensagem, corria
ao posto mais próximo e a retransmitia ao chaski de plantão. Este, por sua vez, passava o comunicado
ao mensageiro do posto seguinte e assim sucessivamente até o destino final.
Além de estradas, os engenheiros e os trabalhadores incas ergueram cidades, templos e palácios.
Eles desenvolveram uma técnica que permitia a sobreposição de grandes blocos de pedras sem a
utilização de nenhum tipo de argamassa. As cidades mais desenvolvidas contavam com sistemas de
água encanada e esgoto.
Algumas dessas obras resistiram à ação do tempo, ao vandalismo e aos terremotos e ainda
estão de pé. Um dos exemplos mais significativos é Machu Picchu, cidade encravada no alto de
uma montanha no Peru e considerada o principal conjunto arquitetônico pré-colombiano do
continente americano.

Os quipos
Os incas não desenvolveram uma escrita formal. Para questões de contabilidade, no entanto,
eles criaram os quipos, sistema no qual as informações eram registradas por meio de feixes de cordas
de tamanhos e cores diferentes e com diversos nós. Os quipos permitiam aos funcionários do império
armazenar informações relativas às safras agrícolas, ao pagamento de impostos, entre outros.
No que se refere à criação artística, os incas se destacaram principalmente por seus trabalhos
de cerâmica, tecelagem e ourivesaria. Seus artífices tinham grande experiência na manipulação da
HISTÓRIA
prata, sabiam fazer ligas de cobre e trabalhavam com a platina, ainda desconhecida na Europa. Mas o
metal com o qual elaboraram suas peças de maior valor artístico foi o ouro. Com ele, confeccionavam Portal
adornos, estátuas e ídolos religiosos. O ouro também foi empregado na decoração de muitos palácios SESI
Educação www.sesieducacao.com.br
e templos, principalmente os de Cuzco.
Politeístas, os incas mumificavam seus mortos e acreditavam que todas as divindades haviam Acesse o portal e explore a imagem
sido criadas por um deus chamado Wiraqocha. No entanto, entre os muitos deuses de seu panteão, o A família inca.
Sol – Inti – era a divindade de maior importância. O imperador era considerado o “único filho do Sol”.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 81


ENQUANTO ISSO...
Povos da América do Norte
Enquanto astecas e incas criaram sociedades complexas e Estados altamente centralizados, a América do Norte era ocupada por
grupos nômades e seminômades, que viviam principalmente da caça ao bisão, da pesca e, em alguns casos, da agricultura de queimadas.
Por volta do século XVI, habitavam a região povos como os apaches, sioux, navajos, comanches, moicanos, iroqueses e
outros. Juntos, eles totalizavam cerca de 10 milhões de pessoas, divididas em dezenas de grupos linguísticos e centenas de aldeias.
De modo geral, os indígenas norte-americanos não conheciam os metais e praticavam trabalhos rústicos de cerâmica e
tecelagem. Como moradia, usavam principalmente tendas de pele em formato de cone. Em alguns lugares, como no Canadá
atual, erguiam casas de troncos; já no sudeste dos atuais Estados Unidos, chegaram a construir aldeias com edificações de tijolos
de argila crua secada ao sol (adobe).
DAVID ZALUBOWSKI/ASSOCIATED PRESS

A conquista da América
do Norte pelos europeus
foi marcada pela violência
e pelo extermínio dos
seus antigos habitantes.
Na foto, representantes
do povo cheyenne
reúnem-se diante da
Assembleia Legislativa
do Colorado, nos Estados
Unidos, para homenagear
seus antepassados. Foto
de 2000.

PARA CONSTRUIR

3 (UFSM-RS – Adaptada) Analise as afirmações sobre as socie- c) apenas II e III.


m dade americanas. d) apenas I e IV.
Ene-3
C 1
H-1 I. Os povos americanos, durante milhares de anos antes da e) I, II e III.
chegada dos europeus, ocuparam a grande variedade dos 4 (UFMG) No final do século XV e início do XVI, quando os eu-
ecossistemas do continente, desenvolvendo uma multi- ropeus conquistaram o continente americano, este era habi-
plicidade de culturas com as especificidades próprias da tado por inúmeros grupos étnicos, com diferentes formas de
sua adaptação ao meio ambiente. organização econômica e político-social.
II. Astecas e incas, na medida em que aproveitaram e apri- Considerando-se o Império Inca, é incorreto afirmar que: d
moraram o legado das inúmeras culturas que os precede- a) a agricultura, base da sua economia, era praticada nas
ram nos ecossistemas da Mesoamérica e da América An- montanhas andinas por meio de um sofisticado sistema
dina, puderam desenvolver civilizações sofisticadas com de produção, que incluía a irrigação e a adubação.
alto índice de urbanização. b) o Estado era centralizado, com o poder político concen-
III. A exploração exaustiva dos recursos naturais, como a de- trado nas mãos do Inca, o imperador, e sua sociedade era
vastação das florestas para a extração da madeira usada rigidamente hierarquizada.
na construção e ampliação dos templos religiosos, provo- c) seu domínio se estendia ao longo da cordilheira dos An-
cou significativas mudanças ambientais que contribuíram des, ocupando parte dos atuais territórios da Colômbia,
para acelerar o declínio da civilização maia. Equador, Peru, Bolívia, Chile e noroeste da Argentina.
Estão corretas: e d) um deus criador e protetor da vida e da natureza era cul-
a) apenas I e II. tuado segundo uma doutrina monoteísta e, para ele, fo-
b) apenas I e III. ram construídos diversos templos.

82 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


5 (UFPI) Quando da chegada do colonizador europeu, as civili- IV. Entre os astecas, a monarquia teocrática e militar predo-
zações ameríndias apresentavam as seguintes características: minava na organização política.
I. Na civilização asteca, a escravização dos prisioneiros de Assinale a alternativa correta. d
guerra era comum. a) Somente I é verdadeira.
II. Entre os incas, o trabalho dominante baseava-se na escra- b) Somente I e II são verdadeiras.
vidão dos agricultores. c) Somente II e III são verdadeiras.
III. Na civilização inca, as atividades mineradoras constituí- d) Somente I e IV são verdadeiras.
ram a base da economia. e) Somente III e IV são verdadeiras.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 4 a 6 Para aprimorar: 3 e 4

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

e) à terra possuída coletivamente pela tribo e dividida pe-


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR los clãs.

1 (Ufscar-SP) A mandioca, a batata-doce, a araruta, o milho, o 4 (UEL-PR) Os astecas sacrificavam prisioneiros de guerra para
m
Ene-1
feijão, o amaranto e o amendoim são utilizados como ali- alimentar seus deuses. O capturado tinha seu coração arran-
C 3
H- mentos atualmente, porque foram: cado, era decapitado e tinha seu sangue bebido pelo captor
a) cultivados como fontes alimentares das primeiras civili- que, depois, levava o corpo para casa, esfolava-o, comia-o
zações agrícolas que se fixaram nos vales dos rios Nilo e com milho e vestia sua pele.
Eufrates há 5 mil anos. É correto afirmar que estes rituais no mundo dos astecas
b) cultivados inicialmente na África por volta de 3 mil anos eram de ordem simbólica, uma vez que:
atrás e difundidos nos séculos XV e XVI pelos europeus.
a) os vencidos deveriam pagar um tributo de sangue aos as-
c) alimentos básicos das primeiras comunidades agrícolas
tecas, que viam a si próprios como deuses.
que se tornaram sedentárias há 7 mil anos no Oriente
Próximo. b) os sacerdotes astecas exigiam oferendas de sangue para
que não faltasse alimento em seus templos.
d) domesticados por populações que desenvolveram a agri-
cultura na América há pelo menos 6 mil anos. c) um grande número de sacrifícios representava um reforço
e) modificados geneticamente por comunidades agrícolas do abastecimento alimentar, evitando a carestia.
da Europa mediterrânea nos últimos 2 mil anos. d) o captor do prisioneiro se vingava do inimigo, comendo
suas carnes e vestindo sua pele.
2 Organize um quadro comparativo entre a estrutura social dos e) os deuses exigiam oferendas do bem mais precioso
maias e a dos astecas. que os homens possuíam, a vida, para que o mundo
O quadro organizado deve apresentar, em linhas gerais, a hie- fosse preservado.
rarquia social de maias e astecas. Note que, entre os maias, 5 (Ufes)
o chefe de Estado estava acima da nobreza e dos grandes m
Ene-3 Quando as embarcações de Colombo aportaram na
comerciantes. Já entre os astecas, a nobreza tinha poder até C 1
H-1
América, de fato não a “descobriram”, pois muita gente já
de escolher o monarca e o conselho militar, estando acima
vivia em nosso continente. O que de fato ocorreu foi a
dos grandes comerciantes.
integração da América ao continente europeu, ou, mais
3 (Fatec-SP) Os astecas davam o nome de chinampas: exatamente, à sociedade mercantil.
Há quem pense que essa integração foi um favor que
HISTÓRIA
a) às habitações feitas de adobe, construídas com vários andares.
os europeus “civilizados” prestaram aos indígenas
b) aos canais de água utilizados para irrigar a terra nas re- “bárbaros”. Isto não é verdade. As sociedades nativas eram
giões desérticas do litoral.
socialmente muito complexas e desenvolvidas e sua incor-
c) aos terraços sustentados por paredes de pedra que visa- poração teve custos humanos imensos, graças a massacres
vam evitar a erosão. cruéis perpetrados pelos cristãos “civilizados” da Europa.
d) às ilhas artificiais formadas com lama amontoada e forra- PINSKY, J. et al. História da América através de textos.
da com relvas e arbustos. São Paulo: Contexto, 1991. p. 11.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 83


Acerca das “altas culturas” pré-colombianas, não é correto 3 (FGV-SP) Em 2001, Alejandro Toledo tornou-se o primeiro
afirmar que: peruano com ascendência indígena a assumir a presidência
a) os maias e os astecas situavam-se na região denominada da república de seu país. A cerimônia de posse, em Machu
Mesoamérica (México e América Central), ao passo que os Picchu, foi marcada por rituais e símbolos do império incaico.
incas ocupavam a Zona Andina. A respeito dos incas, é correto afirmar:
b) a economia era basicamente agrária, com destaque para a a) Eram monoteístas antes da chegada dos espanhóis à
produção do milho, e se utilizavam técnicas elaboradas de ir- América e chegaram a associá-los ao seu deus Viracocha.
rigação, a exemplo dos chinampas astecas e dos canais incas. b) Na sociedade incaica, havia uma clara separação entre po-
c) a utilização da escrita pelos governantes representou um lítica e religião, de tal modo que a seu governante, o Inca,
notável impulso à centralização do poder, como compro- não era atribuído nenhum caráter divino.
vam as listas reais incaicas, grafadas no dialeto andino qui- c) Cuzco, além do principal núcleo político do império fun-
pu, e os tratados políticos maias e astecas. dado em torno do século XII, era considerado pelos incas
d) a estrutura social era de tipo classista, com a existência o centro do mundo, o lugar mais sagrado da Terra.
de uma elite composta de militares, sacerdotes e altos d) A metalurgia para a produção de armas, adornos e ferra-
funcionários, que tributava as comunidades aldeãs, sob a mentas era a base econômica do império.
forma de trabalho compulsório ou de produtos. e) Ao contrário do tratamento dispensado a outros povos
e) a política e a religião se encontravam intimamente unidas, da América, não tiveram suas estruturas político-sociais
razão pela qual a monarquia se revestia de um caráter sa- profundamente alteradas e puderam preservar suas tradi-
grado, a exemplo da eleição do Tlatoani asteca, realizada ções religiosas até os dias de hoje.
sob inspiração divina, e do título de Filho do Sol, atribuído
ao soberano inca. 4 (Enem) O Império Inca, que corresponde principalmente aos
territórios da Bolívia e do Peru, chegou a englobar enorme
6 O domínio dos incas sobre os demais povos dependia não contingente populacional. Cuzco, a cidade sagrada, era o cen-
m
Ene-2
apenas do controle político e administrativo, mas também tro administrativo, com uma sociedade fortemente estratifica-
C 7
H- de outras ações dos agentes do Império sobre os territórios da e composta por imperadores, nobres, sacerdotes, funcioná-
habitados por esses povos. Descreva como funcionavam o rios do governo, artesãos, camponeses, escravos e soldados. A
abastecimento, o transporte e as comunicações no vasto ter- religião contava com vários deuses, e a base da economia era
ritório sob domínio inca. a agricultura, principalmente o cultivo da batata e do milho. A
principal característica da sociedade inca era a:
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR a) ditadura teocrática, que igualava a todos.
b) existência da igualdade social e da coletivização da terra.
1 (UFSM-RS) As características a seguir dizem respeito a uma c) estrutura social desigual compensada pela coletivização
cultura pós-clássica dos ameríndios. de todos os bens.
– Ainda que fossem religiosos, não eram teocráticos. d) existência de mobilidade social, o que levou à composi-
– Seu comércio era comandado pelos pochtecas. ção da elite pelo mérito.
– Seus sacerdotes se entregavam a penitências e jejuns. e) impossibilidade de se mudar de extrato social e a existên-
cia de uma aristocracia hereditária.
– Dividiam o ano em 18 meses de 20 dias.
Essas características se referem aos:
a) maias. ANOTAÇÕES
b) zapotecas.
c) astecas.
d) chichimecas.
e) incas.

2 Ao comentar os sacrifícios humanos praticados pelos astecas


m
Ene-3
e de como isso costuma chocar as sociedades contempo-
C 1
H-1 râneas, o historiador Jacques Soustelle afirmou: “[vemos na
atualidade] povos civilizados organizarem o extermínio siste-
mático de milhões de seres humanos e aperfeiçoar armas ca-
pazes de aniquilar num segundo um número de vítimas cem
vezes superior ao que o império asteca sacrificou”. Com base
nas informações deste capítulo e na citação acima, escreva
um texto sobre o tema “Violência e choque cultural”.

84 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


CAPÍTULO

8 A conquista espanhola

Objetivos: Todos os anos, nos meses de agosto e setembro, milhares de pessoas vão às ruas da cidade
de Carhuamayo, na província de Junín, no Peru, para assistir à tradicional Festa Patronal. Trata-
c Identificar a expansão
do cristianismo e a
-se de uma celebração realizada há mais de um século, marcada por apresentações de danças e
exploração de metais músicas tradicionais, corridas de touros, cerimônias religiosas e outros eventos.
preciosos como alguns Um dos pontos altos da festividade é a encenação de uma peça de teatro ambientada no início
dos principais fatores do século XVI. Essa história tem base, principalmente, nas narrativas orais. Descreve o encontro entre
que motivaram a o imperador inca Atahualpa e um grupo de conquistadores espanhóis. O ápice da peça ocorre com
colonização espanhola a representação da captura e da morte do imperador inca.
no continente A tensão observada no encontro entre Atahualpa e os espanhóis não é ficção. O contato entre
americano. a população indígena, que vivia no continente americano, e os espanhóis, que desembarcaram no
c Compreender as
continente a partir de 1492, foi extremamente violento e culminou em guerras e mortes.
principais causas do Neste capítulo, veremos como foi a chegada dos espanhóis à América e quais foram os impactos
extermínio de grande da conquista para os povos indígenas.
parte da população

CARHUAMAYO.COM/ARQUIVO DA EDITORA
indígena.

c Conhecer as
estratégias de
resistência dos povos
nativos ao domínio
espanhol.

c Ampliar a compreensão
em torno de conceitos
como etnocentrismo e
da diversidade cultural.

HISTÓRIA

Festa Patronal de Carhuamayo, na província de Junín, Peru. Foto de 2011.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 85


OURO E SANGUE: A CONQUISTA ESPANHOLA
A notícia de que os indígenas de Hispaniola – onde Cristóvão Colombo desembarcara em 1492
– usavam adereços de ouro provocou alvoroço entre os espanhóis. Motivados pelo desejo de enrique-
cimento fácil, muitos deles se deslocaram para lá: em fins de 1493, tinha início a exploração aurífera na
região. A Igreja católica também enviou religiosos com o objetivo de converter os nativos à fé cristã.
Ao chegar a Hispaniola, os espanhóis não pouparam seus habitantes. Os que não foram exter-
minados passaram à condição de escravos, sendo obrigados a trabalhar na extração de ouro.
Parte da população indígena morreu ao entrar em contato com doenças levadas pelos europeus
e contra as quais não tinha anticorpos. Segundo alguns pesquisadores, essas doenças foram um dos
principais responsáveis pela mortandade da população asteca, que diminuiu de cerca de 25 milhões
de pessoas em 1518 para 700 mil em 1623.
Com o esgotamento do ouro de Hispaniola, as atenções dos espanhóis se voltaram para outras
ilhas próximas. A partir de 1502, Hispaniola tornou-se prioritariamente um centro administrativo e
ponto de abastecimento dos exploradores que partiam para outras regiões em busca de ouro.
Os espanhóis implantaram um sistema de colonização conhecido como encomienda. Esse
modelo de exploração consistia em conceder a um colono o direito de escravizar certo número de
indígenas para fazê-los trabalhar na exploração de ouro, na agricultura ou em serviços domésticos.
Em troca, o colono deveria pagar um tributo à metrópole e cristianizar os nativos sob seu controle.

OS ASTECAS SUBJUGADOS
Entre os espanhóis que chegaram a Hispaniola em 1504, estava um jovem de apenas 19 anos
chamado Hernán Cortez. Quinze anos depois, em fevereiro de 1519, Cortez atravessaria o golfo do
México para conquistar o território asteca. Levava consigo mais de 600 homens, 32 cavalos e dez
canhões e sua principal motivação era o ouro que se dizia existir nas cidades dos antigos mexicas.
Ao desembarcarem em território hoje pertencente ao México, em abril do mesmo ano, Cortez e
seus homens tiveram o primeiro contato com os astecas. Eram emissários do imperador Montezuma.
Segundo uma antiga profecia asteca, naquele ano deveria chegar à região o deus Quetzalcóatl – a
serpente emplumada. Por isso, no começo, os astecas pensaram que os espanhóis eram deuses e os
presentearam com ouro.
DIEGO DURÁN, 1579/BIBLIOTECA NACIONAL, MADRI/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY

Representação do encontro de Hernán Cortez com o governante asteca Montezuma em miniatura do manuscrito Historia de los indios, de
Diego Durán, 1579. À direita, Cortez recebe presentes de Montezuma.

86 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Por meio de intérpretes, Cortez descobriu a existência de um grande número de povos subjuga-
dos pelos astecas. Muitos deles estavam descontentes com os altos tributos que lhes eram cobrados
e pelo fato de os astecas sacrificarem seus principais guerreiros em rituais religiosos (sobre os tributos,
veja a seção “Olho vivo” nas páginas 88 e 89).
Conforme avançava em direção à cidade de Tenochtitlán, Cortez procurava ganhar a confiança
dos povos subjugados, prometendo-lhes a liberdade. Conquistou assim o apoio de muitos deles.
No dia 8 de novembro de 1519, Cortez e seus homens se encontraram pela primeira vez com
Montezuma. Embora já desconfiasse de que eles não fossem deuses, o imperador lhes deu boa aco-
lhida. Seis dias depois, Cortez aprisionou o governante asteca.
Posteriormente, em 30 de maio de 1521, Cortez, à frente de suas tropas e de aproximadamente
80 mil indígenas aliados, sitiou Tenochtitlán. A cidade resistiu durante três meses, mas acabou ocupa-
da e arrasada pelos invasores. O território asteca passou então para o domínio espanhol sob o nome
de Nova Espanha (veja o mapa a seguir com as colônias espanholas na América).
A partir de 1523, Cortez passou a ter como objetivo a conquista do território maia, localizado
em áreas hoje pertencentes a Guatemala, Honduras e México. Em 1547, depois de sucessivas guerras,
os espanhóis conquistaram o território maia e dizimaram sua população.

Colônias espanholas na América

VICE-REINO
DA CAPITANIA-GERAL OCEANO
NOVA ESPANHA DA FLÓRIDA ATLÂNTICO
(1535)
CAPITANIA-GERAL
Trópico de Câncer DE CUBA

CAPITANIA-GERAL
DA VENEZUELA
CAPITANIA-GERAL
DA GUATEMALA
VICE-REINO
DE
NOVA GRANADA GUIANAS

Equador (1717)
FONTE: World history atlas: Mapping the Human Journey. London: Dorling Kindersley, 2005.

VICE-REINO
OCEANO DO PERU
PACÍFICO (1543)

Trópico de Capricórnio

VICE-REINO
DO
RIO DA PRATA
(1776)
CAPITANIA-GERAL
DO CHILE
HISTÓRIA

0 717

km

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 87


LH VIVO
Os astecas e seus impostos
As imagens reproduzidas nesta seção são uma das
principais fontes de informação a respeito dos astecas. Trata-
-se de uma página do Códice Mendoza. Escrita entre 1541 e
1542, a obra tinha por objetivo manter o rei da Espanha, Car-
los I, informado sobre os astecas. O códice tem esse nome
por ter sido encomendado pelo primeiro vice-rei da Nova
Espanha (nome pelo qual os espanhóis passaram a chamar Nesta coluna estão os nomes
o atual território mexicano), dom Antonio de Mendoza. das cidades que pagavam
O Códice Mendoza – que hoje se encontra na bi- impostos aos astecas.
No Códice Mendoza, há uma
blioteca da Universidade de Oxford, na Inglaterra – foi lista de 326 cidades.
elaborado com os pictogramas da escrita asteca; ao lado
deles, os espanhóis escreveram sua tradução. A obra está
dividida em três partes: na primeira são contadas as ori-
gens de Tenochtitlán, e a história de seus governantes e
de suas respectivas conquistas.
A segunda parte relaciona as cidades que deveriam
pagar tributos a Tenochtitlán e informa qual o tipo de
imposto a ser pago e em que quantidade. Na última par-
te, temos relatos da vida cotidiana dos astecas.
Os tributos variavam de acordo com a região, mas, de Mantas de algodão com
modo geral, eram produtos têxteis, roupas de guerreiros, ali- motivos específicos. Entre os
mentos e matérias-primas, como podemos ver nas imagens. astecas, o número de mantas
FONTES: BETANCOURT, Luz Maria Mohar. La escritura que cada indivíduo podia
en el México antiguo. Ciudad de México: Plaza y Valdés, 1990; portar era estabelecido por lei.
RAMOS, Laura Bety Zagoya. Análisis de los trajes de guerreros
escudos representados en el Códice Mendocino. Disponível
em: <http://swadesh.unam.mx/actualidades/Actualidades/24/
textos24/trajes.html>. Acesso em: 20 dez. 2014.

Traje guerreiro composto de uma vestimenta, um cocar e


um escudo enfeitado com plumas de quetzal, ave típica da
América Central. O traje identificava o nível hierárquico do
guerreiro. Este é o quetzalpatzactli, reservado à elite.

Colar de chalchihuite, uma


espécie de jade verde.

Numeral pictográfico: cada bandeira


equivalia a 20 unidades.

Usado como pagamento de


tributos, o ouro em pó era
medido em xícaras.

OXFORD UNIVERSITY LIBRARIES/WIKIMEDIA COMMONS

88 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Numeral pictográfico: cada polegar
equivalia a uma unidade.

Huipil, uma espécie de bata usada


pelas mulheres.

Espécie de tanga, conhecida como


maxtlatl.

Numeral pictográfico: cada pluma


equivalia a 400 unidades.

Tradução para o espanhol da escrita


asteca.

Entre os astecas havia pelo menos 12


diferentes tipos de trajes guerreiros. Este é
conhecido como tozcololl, uma divisa que
se levava amarrada às costas enfeitada com
penas de quetzal.

Feixes de plumas de quetzal. O uso de plumas estava vinculado ao


culto religioso e assinalava posições na hierarquia social: apenas
nobres, reis, guerreiros e sacerdotes podiam
usar roupas de algodão cobertas com plumas.

HISTÓRIA

Peça feita de “plumas ricas”.


Fólio (folha dupla) 43 do Códice Mendoza com
ilustrações de vestimentas e adornos utilizados
pelos astecas.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 89


A SUJEIÇÃO DOS INCAS
Em 1519, os espanhóis fundaram na América Central a cidade do Panamá, que logo se tornaria
uma de suas sedes administrativas. Três anos depois, o governador da região entregou a Francisco
Pizarro a chefia de uma expedição que deveria rumar para o sul, em direção ao Império Inca, em que,
segundo informações recebidas, havia muito ouro.
Pizarro faria três incursões na América do Sul. A primeira (1524) fracassou na atual costa da Co-
lômbia, vítima de ataques dos indígenas e da falta de água e comida. Na segunda (1526-1528), o aven-
tureiro chegou até a cidade de Tumbes, no litoral do atual Peru, onde ele e seus homens encontraram
estradas, casas de pedra e templos decorados com peças de ouro e prata de excelente acabamento.

A invasão do Império
Entre 1528 e 1529, Pizarro deu início à sua terceira expedição em busca do Império Inca. Ao
chegar a Tumbes, encontrou a cidade completamente deserta: grande parte da população havia
sido dizimada por uma doença “que deixava marcas na pele”: era varíola, transmitida aos nativos
pelos espanhóis da segunda expedição. Até mesmo o imperador Huayana Cápac falecera devido à
moléstia. Sua morte deixara o Império Inca em guerra, provocada pela disputa do poder entre seus
dois filhos, Atahualpa e Huascar.
Ao saber dessas notícias, Pizarro seguiu para Cajamarca, cidade a 2 750 metros acima do nível
do mar, onde estava Atahualpa. O encontro entre ambos ocorreu no dia 16 de novembro de 1532.
GLOSSÁRIO

Arcabuzes: O Inca se fazia acompanhar de um exército de cerca de 80 mil guerreiros. Pizarro contava apenas
armas de fogo, de cano curto e largo. com 168 homens.
Usada do final do século XV até o iní- Armados de espadas e arcabuzes e montados em cavalos, animais que os incas desconheciam,
cio do século XVII, foi a primeira arma os homens de Pizarro mataram milhares de guerreiros incas e tiveram apenas cinco baixas. Capturado,
de fogo portátil. Atahualpa foi preso e assassinado no ano seguinte. Quando Atahualpa morreu, em julho de 1533, seu
irmão, Huascar, também já estava morto. Assim, os incas escolheram um novo líder, Manco Cápac,
eleito com o aval dos espanhóis.
Cápac logo percebeu que
GIRAUDON/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

os espanhóis procuravam ma-


nipulá-lo para ter total contro-
le sobre o império. Revoltado,
rebelou-se contra os invasores.
Em represália, os espanhóis
passaram a matar os nativos
indiscriminadamente. Calcula-
-se que quase 8 milhões deles
foram mortos até 1572, ano em
que morreu Tupac Amaru, últi-
mo soberano inca (veja o boxe
sobre a resistência dos povos
indígenas ao domínio espanhol
na página seguinte).

Matança dos habitantes da cidade


inca de Cuzco por Francisco Pizarro
e seus homens. Gravura de autor
desconhecido da “Escola Germânica”,
1532.

90 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


A resistência indígena
Nas regiões mais tarde conhecidas como México e Peru, os espanhóis entraram em contato com uma grande e densa
população controlada por instituições centralizadas e já por longo tempo acostumadas a produzir um excedente econômico
em benefício do grupo dominante.
Já nas extensas fronteiras situadas nas periferias desses estados, a colonização espanhola fracassou quando se defrontou
com nativos em sua maioria nômades, que não produziam excedentes e que, devido à sua mobilidade, escapavam a qualquer
controle. Nesses lugares, encontraram feroz resistência, que em alguns casos duraram até o início do século XX.
Na região hoje conhecida como Bolívia, alguns povos nativos, como os chiriguanos, resistiram por três séculos à colo-
nização espanhola. Durante a segunda metade do século XVI, mesmo Potosí e La Plata (atual Sucre), ambas na Bolívia atual,
e centros nervosos do vice-reino, viram-se várias vezes ameaçados por povos insubmissos ao domínio espanhol.
No Chile atual, na extremidade sul do continente americano, os araucanos lutaram tão ferozmente quanto os chirigua-
nos. Os araucanos transformaram seus métodos de combate para adaptá-los à luta contra os espanhóis. Para resistir às inves-
tidas da cavalaria espanhola, os guerreiros araucanos aumentaram o comprimento de suas lanças para até seis metros e
muniram suas pontas com lâminas agudas, usando para isso as espadas, as adagas ou facas capturadas do inimigo. Mais
importante: os araucanos passaram a imitar os espanhóis, usando cavalos – no final da década de 1560, a cavalaria nativa
rivalizava com a dos espanhóis.
WACHTEL, Natham. Os índios e a conquista espanhola. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina:
América Latina colonial. São Paulo/Brasília: Edusp/Funag, 2004. v. 1. p. 227-236. Adaptado.

LITOGRAFIA COLORIDA. COLEÇÃO PARTICULAR/FOTO: ARCHIVES CHARMET/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE

HISTÓRIA

Fac-símile de um códice colonial produzido na segunda metade do século XVI intitulado Lienzo de Tlaxcala. Os habitantes de
Tlaxcala eram aliados indígenas dos espanhóis durante a conquista. Na imagem, está reproduzida a Batalha de Michoacan,
entre espanhóis e seus aliados contra os astecas, que resistiam.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 91


PARA CONSTRUIR

1 (UPE) Com relação às áreas Mesoamérica e Andina, no perío- quentes do golfo e o vale do México, que decidiu apoiar as
do colonial, é correto afirmar que os(a): d expedições de Cortéz, depois de tê-las combatido. Sobre a
a) maias se constituíram em um grande Império, chegando obra Lienzo de Tlaxcala, é correto afirmar que: a
a ser comparado ao Império Grego. a) pertence tanto à tradição autóctone – ausência de pers-
b) astecas, do ponto de vista político, viviam sob um Conselho pectiva, representação dos índios de perfil – como adota
Supremo, muito distante de um modelo de Monarquia. elementos do estilo ocidental – marcas de ferraduras que
c) maior parte das realizações artísticas das culturas andinas sinalizam os deslocamentos dos cavaleiros espanhóis, tí-
foi conservada pelos espanhóis. tulo que serve como legenda.
d) espanhóis, à medida que penetravam no interior do con- b) evidencia a autenticidade da arte tlaxcalteca frente à
tinente, surpreendiam-se com o alto nível de organização ofensiva espanhola, mantendo a percepção e a lingua-
econômica, política e religiosa dos povos ameríndios. gem autóctones intactas, uma vez que o Ocidente não
e) emancipação das colônias espanholas significou a liberta- está representado na imagem.
ção do povo de Tupac. c) evidencia o baixo grau de desenvolvimento da arte nas
sociedades pré-colombianas se comparada à arte euro-
2 Explique como as doenças trazidas pelos espanhóis concor-
peia, que conhecia a perspectiva em profundidade e téc-
m
Ene-6
reram para o extermínio da população indígena.
C 7 nicas bem mais avançadas de representação da vida nas
H2
-
Além da guerra e da escravidão, parte da população indígena morreu obras dos artistas do Renascimento.
ao entrar em contato com doenças levadas pelos europeus e contra as d) ilustra a imagem dos tlaxcaltecas como vencidos pelo
domínio espanhol, a adoção de uma posição de subor-
quais não tinham anticorpos (defesas). Afirma-se que muito mais
dinação humilhante, e a legitimação da sua traição à re-
ameríndios morreram abatidos pelos germes eurasianos (isto é,
sistência dos povos indígenas contra o domínio espanhol
surgidos na Europa e na Ásia em tempos remotos) do que pelas no Novo Mundo.
armas de fogo e espadas europeias nos campos de batalhas.
4 (FGV-SP) Uma antiga profecia maia, datada do século XIII, afir-
As doenças epidêmicas eurasianas desenvolveram-se a partir das mava: “a terra queimará e haverá grandes círculos brancos no
doenças de rebanhos domesticados, com os quais os eurasianos céu. A amargura surgirá e a abundância desaparecerá. A época
conviviam de longa data. Assim, os europeus não teriam conseguido mergulhará em graves trabalhos. De qualquer modo, isso será
visto. Será o tempo da dor, das lágrimas e da miséria. É o que
vencer tantos nativos das Américas sem o “auxílio” dos germes
está por vir”.
desenvolvidos no passado a partir de sua convivência com os
Frei Bartolomeu de Las Casas, teólogo e missionário domi-
animais domésticos.
nicano espanhol (século XVI), retomou essa curiosa profecia
3 (UFU-MG) Observe atentamente a imagem, os vários ele- para retratar um episódio marcante para a história da Améri-
m mentos que a compõem e a forma de composição. ca e do próprio Ocidente. Trata-se: a
Ene-1
C 5
H- a) da conquista da América pelos espanhóis, que resultou
ARCHIVES CHARMET/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/
KEYSTONE/COLEÇÃO PARTICULAR

num desastre demográfico das populações americanas e


na imposição de formas compulsórias de trabalho, como
a mita e a encomienda.
b) da fundação da cidade-Estado de Tenochtitlán, no Vale do
México (1235 d.C.), e do imperialismo mexica (asteca), que
subjugou as demais cidades-Estado da região.
c) da disputa interna, no Império Inca, entre Atahualpa e
Huascar pela soberania em Cuzco, que gerou destruição,
miséria e retração da economia agrícola.
d) das guerras de independência que as colônias da Améri-
ca espanhola precisaram travar contra sua Metrópole, no
A obra Lienzo de Tlaxcala, pintada entre 1550 e 1564, possui a primeiro quartel do século XIX.
medida de 7 por 2,5 metros, sendo dividida em 87 quadros, e e) do genocídio das populações de iroqueses e outras etnias
ilustra e exalta a colaboração tlaxcalteca à invasão espanho- pelos colonos ingleses na América do Norte, o que explica
la. Expressa, portanto, a versão tlaxcalteca dos acontecimen- a predominância de população de origem europeia, até
tos. Tlaxcala era um Estado poderoso, situado entre as terras recentemente, nos Estados Unidos da América.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 e 2 Para aprimorar: 1

92 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


Veja, no Guia do Professor, as respostas da
“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

tas sobre a derrota dos astecas pelos espanhóis. Depois de


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR lê-los, responda às questões.

1 (UFRGS) Assinale a afirmação correta sobre a conquista das Texto 1


Américas pelos povos ibéricos. A visão dos vencedores
Os inimigos estavam em tão má situação que não pos-
a) O domínio espanhol na América Central esbarrou na resis-
suíam nem mais flechas e lanças para combater e tinham
tência maia, somente sobrepujada no final do século XVI.
de caminhar por sobre os corpos de seus mortos. Foi tan-
b) A conquista do Novo Mundo teve amparo do poder real,
ta a mortandade que causamos que, entre os mortos e pre-
pois a iniciativa privada não se interessou em assumir os
sos, somaram-se mais de quarenta mil almas. [...]
grandes riscos que ela envolvia.
Quando entramos naquela parte da cidade, não havia
c) A autoridade papal, manifesta no Tratado de Tordesilhas,
outra coisa para colocar os pés que não fosse o corpo de
foi bem-sucedida em impedir outros reinos de se aventu-
um morto. Mandei cercar todas as ruas, e vendo que os
rar na conquista do Novo Mundo.
principais não saíam, mandei disparar os tiros grossos,
d) As armas de fogo e a domesticação dos cavalos não re-
com o que logo tomamos aquele lugar, ao tempo em que
presentaram vantagens militares significativas para os
muita gente se lançava na água, enquanto outros se entre-
europeus, já que os povos nativos dominavam o conheci-
gavam.
mento do terreno. CORTEZ, Hernán. A conquista do México. Porto Alegre:
e) As doenças contagiosas trazidas pelos europeus, como L&PM, 1996. p. 138-139.
a varíola, foram um dos motivos da rápida extinção dos Texto 2
grandes impérios pré-colombianos. A visão dos vencidos
Isso tudo se passou conosco. [...]
2 (Fuvest-SP) Nos caminhos jazem dardos quebrados;
Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos, Os cabelos estão espalhados.
pela tirania e ações diabólicas dos espanhóis, morreram Destelhadas estão as casas,
injustamente mais de doze milhões de pessoas... Incandescentes estão seus muros.
Bartolomé de Las Casas, 1474-1566. Vermes abundam por ruas e praças,
A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família E as paredes estão manchadas de miolos arrebentados.
selvagem. Vermelhas estão as águas, como se alguém as
Pablo Neruda, 1904-1973. tivesse tingido,
As duas frases colocam como causa da dizimação das po- E se as bebíamos, eram águas de salitre.
pulações indígenas a ação violenta dos espanhóis durante a Golpeávamos os muros de adobe em nossa ansiedade
conquista da América. Pesquisas históricas recentes apontam e nos restava por herança uma rede de buracos.
outra causa, além da já indicada, que foi: Nos escudos esteve nosso resguardo, mas os escudos
a) a incapacidade das populações indígenas de se adaptar não detêm a desolação.
aos padrões culturais do colonizador. Temos comido pães de colorím [árvore venenosa],
b) o conflito entre populações indígenas rivais, estimulado temos mastigado grama salitrosa,
pelos colonizadores. pedaços de adobe, lagartixas, ratos, e terra em pós e
c) a passividade completa das populações indígenas, decor- mais os vermes. [...]
rente de suas crenças religiosas. LEÓN-PORTILLA, Miguel. A conquista da América Latina vista pelos índios.
d) a ausência de técnicas agrícolas por parte das populações Rio de Janeiro: Vozes, 1985. p. 41.
indígenas, diante de novos problemas ambientais. a) O texto 1 descreve o confronto entre espanhóis e astecas
e) a série de doenças trazidas pelos espanhóis (varíola, tifo do ponto de vista dos vencedores. Que aspectos da paisa-
e gripe), para as quais as populações indígenas não pos- gem urbana se destacam nessa descrição?
HISTÓRIA
suíam anticorpos. b) No texto 2, transcrito oralmente pela tradição indígena,
há a descrição das aldeias e cidades destruídas pelos es-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR panhóis. Faça um resumo dessa descrição.
c) Que aspectos dos textos nos permitem compreender o
1 A conquista da América pelos espanhóis produziu diferentes “estado de espírito” dos conquistadores espanhóis (no tex-
m
Ene-3
pontos de vista. Os textos a seguir representam visões opos- to 1) e dos astecas conquistados (no texto 2)?
C 4
H-1

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 93


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94 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


MAIS ENEM
Ciências Humanas e suas Tecnologias
Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Matemática e suas Tecnologias

1 A imagem abaixo é uma pintura do artista renascentista Rafael cadas na pintura, reforçando a ideia de que Rafael Sanzio era
Sanzio (1483-1520). O trabalho foi uma encomenda da Igreja e um pintor pouco expressivo no conjunto das produções do
representa o casamento da Virgem Maria com São José. Obser- Renascimento.
ve a imagem e escolha a alternativa correta sobre a imagem e 2 Thomas Hobbes (1588-1679) foi um dos mais importantes teó-
a arte renascentista. b ricos do absolutismo monárquico. Leia o trecho abaixo, de sua
obra Leviatã, e depois escolha a alternativa correta sobre o tema: d

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE/PINACOTECA DI BRERA, MILÃO, ITÁLIA


É a geração daquele grande Leviatã, ou antes daquele
Deus Mortal ao qual devemos, abaixo de Deus Imortal, nossa
paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por
cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho
poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de
conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em
seu próprio país, e de ajuda mútua contra os inimigos estran-
geiros. É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode
ser assim definida: uma pessoa de cujos atos uma grande mul-
tidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi ins-
tituída por cada uma como autora, de modo a ela poder usar
a força e os recursos de todos, da maneira que considerar
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum.
a) Hobbes defende uma teoria restrita do poder político, no
qual o Estado precisa se conformar a certas limitações, visan-
do com isso à proteção e às liberdades individuais dos súdi-
tos de um determinado Estado nacional.
b) na história da Filosofia, a obra de Hobbes é bastante excep-
cional, na medida em que nenhum outro autor defendia,
a) ainda que Rafael Sanzio tenha vivido durante o Renascimen-
ainda no século XVII, um princípio de soberania no qual a
to, podemos observar que sua obra não pode ser considera-
autoridade do Estado fosse suprema e inquestionável.
da um bom exemplo de arte renascentista. Os temas religio-
c) quando Hobbes defende que a autoridade do Estado é equi-
sos, por exemplo, foram banidos da arte do período.
valente a de um “Deus Mortal”, ele está subordinando o poder
b) a imagem demonstra muito bem o que era a técnica de
dos monarcas ao poder da Igreja. Em último caso, quem de-
perspectiva, na medida em que encontramos um cuidado
veria conduzir o Estado era a autoridade religiosa, que estava
muito apurado na criação da ilusão de profundidade na cena, autorizada por um poder superior (o “Deus imortal”). Por isso,
através de relações de proporcionalidade entre as figuras da as ideias de Hobbes estavam em conflito com as de Bossuet,
frente e do fundo da imagem. o qual defendia a completa separação da religião e da política.
c) o fato de essa obra ter sido uma encomenda faz com que ela d) no trecho acima, fica bastante explícito o entendimento
se diferencie das demais obras produzidas no período, pois que Hobbes tinha do Estado como instrumento para se al-
quase não existia prática de mecenato nesse momento da cançar uma ordem pacífica entre os indivíduos. Isso só seria
história. possível mediante a completa submissão dos indivíduos à
d) elementos que chamam a atenção na imagem são seu realis- autoridade do Estado, anulando as liberdades individuais.
mo e o cuidado na representação das figuras humanas. Essa Por isso, ele pode ser considerado um dos mais importantes
característica era própria de Rafael Sanzio e o destaca entre teóricos do absolutismo.
os artistas renascentistas, os quais não se preocupavam em e) como defende a noção de pactos, Hobbes pode ser visto
representar realisticamente o corpo humano. como um precursor das modernas democracias, na medida
e) as técnicas de variações nas cores, na luz e nas sombras, im- em que ele previa a utilização de votação constante para de-
portantes para a arte renascentista, não se encontram desta- terminar os meios de ação do Estado.

95
QUADRO DE IDEIAS Direção editorial: Renata Mascarenhas
Coordenação editorial: Tatiany Renó
Edição: Camila De Pieri Fernandes (coord.), Tatiane
Godoy; Colaboração: Eliete Bevilacqua
Coordenação de produção: Fabiana Manna, Daniela
Carvalho
Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Letícia Pieroni
(coord.), Danielle Modesto, Marília Lima, Marina Saraiva,
Tayra Alfonso, Vanessa Lucena
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na Inglaterra, o Renascimento e de Henrique VIII soberania real Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
na França, em A Contrarreforma
Portugal e na católica Azevedo, Gislane
Sistema de ensino ser : ensino médio, cadernos de 1
Espanha a 12 : história ; professor / Gislane Azevedo, Reinaldo
Seriacopi. -- 3. ed. -- São Paulo : Ática, 2017.

1. História (Ensino médio) I. Seriacopi, Reinaldo.


II. Título.

A expansão marítima e a conquista da


América pelos europeus 16-08191 CDD-907

Índice para catálogo sistemático:


1. História : Ensino médio 907
2016
ISBN 978 85 08 18250 3 (AL)
As Grandes Os impérios Civilizações A conquista ISBN 978 85 08 18253 4 (PR)

Navegações coloniais americanas espanhola 3ª edição


1ª impressão
Um comércio O mercantilismo Maias, astecas A busca do ouro
e incas Impressão e acabamento
lucrativo e o pacto colonial americano
A ampliação A sujeição dos
do mundo astecas e dos
Uma publicação
conhecido incas

96 Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


HISTÓRIA
GUIA DO PROFESSOR

GISLANE AZEVEDO
Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Professora universitária, pesquisadora e ex-professora
de História do Ensino Fundamental e Médio nas redes pública e
privada. Jabuti 2013 na categoria didáticos.
REINALDO SERIACOPI
Bacharel em Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e em Jornalismo
pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). Editor especia-
lizado na área de História. Jabuti 2013 na categoria didáticos.

HISTÓRIA

MÓDULO
Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à
conquista espanhola (14 aulas)

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola


cc Identificar as manifestações

MÓDULO ou representações da
diversidade do patrimônio
Idade Moderna I: da formação do cultural e artístico em diferentes
Estado moderno à conquista sociedades
cc Avaliar criticamente conflitos
espanhola culturais, sociais, políticos,
econômicos ou ambientais ao
longo da História.
Plano de aulas sugerido
Carga semanal de aulas: 2
Número total de aulas do módulo: 14 As competências e habilidades do Enem estão indicadas em
questões diversas ao longo do módulo. Se necessário, explique
aos alunos que a utilidade deste “selo” é indicar o número da(s)
competência(s) e habilidade(s) abordada(s) na questão, cuja
Competências Habilidades área de conhecimento está diferenciada por cores (Linguagens:
cc Compreender as cc Analisar a ação dos
laranja; Ciências da Natureza: verde; Ciências Humanas: rosa; Ma-
transformações dos espaços Estados nacionais no que
geográficos como produto das se refere à dinâmica dos
temática: azul). A tabela para consulta da Matriz de Referência
relações socioeconômicas e fluxos populacionais e no do Enem está disponível no portal.
culturais de poder. enfrentamento de problemas
cc Compreender os elementos de ordem econômico-social.
culturais que constituem as cc Comparar o significado
identidades. histórico-geográfico das 1. A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO
cc Compreender a produção
organizações políticas e
e o papel histórico das socioeconômicas em escala Objeto do conhecimento
instituições sociais, políticas e local, regional ou mundial. Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento
econômicas, associando-as aos cc Interpretar historicamente político e ação do Estado.
diferentes grupos, conflitos e e/ou geograficamente fontes
movimentos sociais. documentais acerca de Objeto específico
cc Entender as transformações Revoluções sociais e políticas na Europa moderna.
aspectos da cultura.
técnicas e tecnológicas cc Identificar registros de práticas
e seu impacto nos
de grupos sociais no tempo e AULA 1 Páginas: 4 a 8
processos de produção,
no espaço.
no desenvolvimento do
conhecimento e na vida
cc Analisar o papel da justiça como
O fortalecimento do poder real e a Guerra
instituição na organização das
social.
sociedades.
dos Cem Anos
cc Analisar a atuação dos
Objetivos
movimentos sociais que
contribuíram para mudanças Reconhecer a formação das monarquias nacionais na Europa a par-
ou rupturas em processos de tir do século XI.
disputa pelo poder. Caracterizar o conflito entre a Inglaterra e a França, conhecido
cc Identificar os significados como a Guerra dos Cem Anos.
histórico-geográficos das
relações de poder entre as Estratégias
nações.
Ao tratar da formação das primeiras monarquias nacionais euro-
cc Analisar fatores que

explicam o impacto das


peias, o capítulo remete às origens da instituição política e jurídica
novas tecnologias no que é, atualmente, a mais reconhecida e adotada para representar os
processo de territorialização povos do mundo: o Estado nacional.
da produção. A observação de um planisfério, chamando a atenção dos alunos
cc Analisar diferentes processos­ para a divisão política atual, acrescida de algumas perguntas, pode
de produção ou circulação de constituir o ponto de partida para o estudo dos conteúdos do capítu-
riquezas e suas impli­ca­ções
lo. As fronteiras entre os países sempre existiram? Eles sempre tiveram
socioespaciais.
cc Analisar a produção da
o mesmo território? O que define os países hoje?
memória pelas sociedades Alguns países têm seus territórios consolidados há muito tempo,
humanas. a exemplo de Inglaterra, França, Portugal e Espanha. Outros ainda
vivem esse processo. É importante que os alunos percebam que a

2 GUIA DO PROFESSOR
delimitação de territórios é fruto de um processo histórico, aspecto AULA 2 Páginas: 9 a 12
estudado nesse capítulo.
O processo de formação das monarquias nacionais teve início com Os muçulmanos na península Ibérica, a
o fortalecimento do poder real, que permitiu aos monarcas: deter o formação de Portugal e o nascimento da
comando do exército, submeter à sua autoridade os poderes e as Espanha
populações locais, consolidar a justiça real, unificar a moeda. Vale
salientar que esse processo não ocorreu ao mesmo tempo nem do Objetivo
mesmo modo nas monarquias que se constituíram no período es- Descrever a formação dos dois Estados nacionais da península Ibérica:
tudado no capítulo. Portugal e Espanha.
Retome alguns conceitos relacionados com o renascimento comer-
Estratégias
cial e urbano. Leia com eles o tópico “O fortalecimento do poder real”
(página 5) e destaque as razões da dificuldade de unificação política A centralização política das monarquias de Portugal e Espanha
e de expansão comercial. sugere considerações como a participação da Igreja católica nesse
Fale sobre as estratégias dos burgueses para superar as dificul- processo e a relação entre centralização do poder e território. O
dades comerciais impostas no sistema feudal. Analise o fortale- estudo das monarquias ibéricas, em particular, pode ser útil para
cimento da figura do rei em contraponto ao período histórico a percepção da historicidade das fronteiras políticas dos atuais
anterior. Estados nacionais. Esse entendimento torna-se ainda maior ao
No caso da Inglaterra, as reações da nobreza tiveram consequên- se trabalhar com os mapas “A Reconquista (séculos IX a XIII)”, da
cias importantes nos rumos das disputas políticas, com a imposição página 9.
ao rei da Carta Magna. Leia o tópico “Cristãos versus mouros” (página 9) e problematize
Leia com a classe o tópico “A Inglaterra sob os normandos” e o o significado e o processo de consolidação da Reconquista ibérica.
subtópico “A Carta Magna e o Parlamento inglês” (página 6). Exami- Ilustre a discussão com os mapas “A Reconquista (séculos IX a XIII)”
ne a questão da diminuição do poder dos senhores feudais, durante e analise a influência árabe na península Ibérica.
a invasão dos normandos, e as reações desse segmento social para Leia o tópico “A formação de Portugal” (página 10) com os alunos. Ao
recuperar sua força política. explicar o processo político que deu origem ao reino de Portugal, ressalte
Problematize com os alunos os objetivos da Carta Magna. Ressalte a disputa com o reino de Castela. Esclareça que a Revolução de Avis
a estrutura e o processo de criação do Parlamento inglês. contribuiu para o fortalecimento da burguesia e do Estado portugueses.
Leia com os alunos o tópico “As origens da França” e o subtópico A leitura do boxe “Os muçulmanos na península Ibérica” (pági-
“Confronto com a Igreja” (página 7). Discuta com eles a unificação na 10) coloca os alunos em contato com a influência árabe nessa
dos feudos franceses. Fale sobre o prestígio político que o rei conquis- região, decisiva para o pioneirismo ibérico nas Grandes Navega-
tou, adotando novas medidas administrativas e conseguindo impor ções. O “Enquanto isso...” (página 12) também aborda uma im-
seu poder sobre o papado. portante herança árabe: os algarismos indo-arábicos, que estão
Na França, com a ampliação da autoridade real, verificou-se a nas origens de nosso sistema numérico. Proponha aos alunos a
restrição ao poder do clero e dos senhores feudais. Isso permitiu ao descrição de alguns elementos que demonstrem a influência dos
rei favorecer o comércio e trazer para sua administração represen- povos árabes no Brasil.
tantes da burguesia. No processo de consolidação da monarquia No caso da Espanha, destaca-se a aliança dos reis com a Igreja ca-
francesa, merece destaque a atuação de Joana d’Arc, que contribuiu tólica. É significativo desse fato que os reis de Aragão e Castela, cuja
para a formação de um sentimento de identidade nacional entre a união constituiu o primeiro passo para a formação da Espanha mo-
população. Sobre isso, as informações do boxe “A Guerra dos Cem derna, ficaram conhecidos como “reis católicos”. A possibilidade de
Anos” (página 8) ampliam os conteúdos. Problematize as causas do atuar em nome da Igreja e de sua autoridade, com a implantação do
conflito e suas consequências. Explique a construção do conceito Tribunal do Santo Ofício, e o empenho para expulsar os povos não
de “nação” e a difusão, na França, das ideias de identidade nacional cristãos do território (muçulmanos e judeus), trouxe grande força
nesse período. para a monarquia espanhola.
O boxe contribui também para o debate atual sobre a equação Leia com os alunos o tópico “A Espanha e a Inquisição” (página
“território, povo, Estado, nação”, no que este se refere, por exemplo, a 11). Enfatize o significado da divisão espanhola em diversos reinos e a
questões relacionadas a povos como os curdos e os palestinos, que aliança entre Aragão e Castela. Problematize a instituição do Tribunal HISTÓRIA
lutam para formar seus próprios Estados. do Santo Ofício na Espanha e suas consequências.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
atividades 1 a 3 do “Para construir” (página 8). atividades 4 a 7 do “Para construir” (páginas 12 e 13).

Tarefa para casa Tarefa para casa


Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 e 2 do “Para Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 3 do “Para
praticar” (página 13) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 14). praticar” (página 13) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (página 14).

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 3


Leia com os alunos o subtópico “Reflexões políticas e religiosas”
2. A
 REVOLUÇÃO CULTURAL DO (página 18) e problematize as transformações na esfera política pro-
RENASCIMENTO vocadas pelo pensamento da Renascença. Discuta as controvérsias
da obra de Maquiavel e as razões de seu nome ter dado origem a um
Objeto do conhecimento adjetivo de conotações negativas (maquiavélico).
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. No que se refere às ciências, é oportuno observar que, ao usar a
Objeto específico razão para explicar e conhecer os fenômenos naturais e o corpo hu-
Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na vida mano, os renascentistas inauguraram o método experimental, que se
política e social. baseia na observação, em cálculos e experimentos. Com base nessa
observação, pode-se relacionar a influência das inovações científicas
sobre as artes plásticas, como no caso do resgate da nudez masculina
AULA 3 Páginas: 15 a 19
e feminina. Os artistas faziam estudos de anatomia para representar
Fragmentação da península Itálica, o com precisão o corpo humano. Os estudos de Leonardo da Vinci
Humanismo e a explosão renascentista são exemplo disso.
Dessa maneira, leia com os alunos o subtópico “O conhecimento
Objetivos do corpo humano” (página 18) e estimule-os a comentar as desco-
Conceituar Humanismo. bertas científicas sobre o corpo humano. Peça ainda que estabeleçam
Discutir as transformações causadas pelo Renascimento. relações com o antropocentrismo.
Faça a leitura do subtópico “Heliocentrismo × geocentrismo” (pá-
Estratégias gina 19) e discuta com os alunos as divergências entre essas concep-
Neste capítulo são abordadas as principais transformações nos ções. Apresente as ideias de Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e
campos filosófico, científico e artístico que ocorreram na Europa Johannes Kepler, no contexto científico da Renascença.
ocidental, entre os séculos XIV e XVI, e definiram o Renascimento. Peça aos alunos que expressem opiniões sobre a atitude de Galileu
Transformações estas ancoradas no crescimento econômico e no Galilei diante do Tribunal da Inquisição. Comente a importância de
desenvolvimento social decorrentes do revigoramento do comércio Newton no campo da física, como herdeiro dos avanços científicos
e da revitalização das cidades. da Renascença.
A discussão sobre a origem do termo “Renascimento”, dado a esse Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
processo, pode iniciar o estudo do capítulo. Por que “Renascimento”? atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 19).
O que nascia de novo naquele momento? Além de comentar a ori-
gem do nome (desejo de fazer renascer o pensamento e a arte dos Com relação ao pensamento político e ao papel desempenha-
antigos gregos e romanos), pode-se mencionar que foram os próprios do por Maquiavel, leia o Texto 1 da seção Textos Complemen-
renascentistas que cunharam o termo Idade Média (séculos V a XV), tares deste Guia. Trata-se de um fragmento de O príncipe, que
dando a ideia de uma época intermediária (“Idade das Trevas”), entre pode ser interpretado e discutido com os alunos, ampliando os
o período de esplendor da Antiguidade Clássica e o de retomada conteúdos estudados.
desse esplendor (Renascimento).
Leia a abertura do capítulo (página 15) e analise a confecção do
livro exibido na foto. Tarefa para casa
Retome a leitura com o tópico “A península itálica no século XV” Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 4 do “Para
(página 16). Discuta o uso da expressão “colcha de retalhos” para praticar” (páginas 24 e 25) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (páginas 25 e 26).
caracterizar a fragmentação política da península Itálica no século XV.
Destaque os grandes centros urbanos e comerciais italianos. AULA 4 Páginas: 20 a 23
O Humanismo foi a corrente de pensamento cujas referências,
concepções e valores orientaram o pensamento político e o movi- A arte renascentista
mento renascentista nas artes, na filosofia e nas ciências. Com o an-
tropocentrismo ocorre o deslocamento do centro de preocupações Objetivos
da esfera religiosa para a esfera humana e racional. O choque entre fé Apresentar o legado cultural deixado pelos humanistas e renascen-
e razão chegou a resultar em perseguições e condenações (à fogueira) tistas.
por parte da Inquisição. Explicar a importância do Renascimento para a história cultural da
Leia com os alunos o subtópico “O Humanismo” (página 16). Fale da humanidade.
influência cultural na forma de organização da administração econômica
da época. Peça aos alunos que comentem a obra de Leonardo da Vinci, Estratégias
Homem vitruviano, destacando os detalhes que mais chamam a atenção. Leia com os alunos o tópico “A arte renascentista” (página 20) e
Leia com a classe o tópico “O Renascimento” (página 17) e retome ressalte a importância do conhecimento em diversas áreas para a
a discussão sobre o significado do termo “Renascimento”. valorização da arte.

4 GUIA DO PROFESSOR
Leia também com os alunos o subtópico “Os mecenas” (página 20) e serão abordados. Quais eram as religiões monoteístas difundidas na
defina quem eram e que função desempenhavam em relação às artes. Europa até o século XIV? Até essa data, qual era a Igreja dos cristãos?
Além da valorização do ser humano e de sua individualidade, outras O significado da cisão pode ser compreendido a partir da percep-
mudanças artísticas podem ser observadas no boxe “As três dimensões ção de que, até o século XIV, a cristandade tinha uma única Igreja:
da pintura” (página 21), que comenta a inovação na perspectiva e propõe a católica (com duas vertentes – romana e ortodoxa). Foi o movi-
a comparação entre duas imagens. Pode-se ainda propor aos alunos que mento de reforma que deu origem a novas Igrejas cristãs, algumas das
folheiem o livro, observando as imagens dos capítulos anteriores. quais atuam no Brasil, como é mencionado na abertura do capítulo.
Leia com os alunos o subtópico “Renovação literária” e o boxe “Os tipos A Igreja católica tornara-se alvo de críticas devido a disputas polí-
móveis de impressão” (páginas 22 e 23). Relacione as condições econô- ticas, corrupção, acusações de ordem moral, venda de indulgências,
micas, sociais e culturais com o grande avanço literário renascentista. Fale etc. O boxe “A venda de indulgências” (página 28) contém informa-
sobre os grandes nomes da literatura e cite suas principais obras. ções sobre essa prática realizada pelo clero nessa época. É nesse con-
Peça aos alunos que comentem o progresso que a invenção dos texto que se organizam a Reforma luterana e a Reforma calvinista.
tipos móveis representou para a arte editorial. Estimule-os ainda a No caso da Reforma de Lutero, dois aspectos podem ser salienta-
falar sobre alguns elementos da produção literária nos dias atuais e dos: a rápida difusão de suas ideias com o uso da imprensa; e a moti-
sobre o papel da cultura escrita. vação dada às revoltas envolvendo camponeses, cavaleiros e nobres
Por fim, a leitura do “Enquanto isso...” (página 23) pode ajudar os de poucos recursos. A leitura do boxe “Convulsão social no Sacro
alunos a perceber que os indígenas tinham seu próprio modo de ler Império” (página 30) e do texto da atividade 2 do “Para construir”
e interpretar o céu. (página 31), acrescentará subsídios ao estudo desse tema.
Divida a sala em dois grandes grupos e proponha um debate sobre Faça a leitura, com os alunos, do tópico “As 95 teses de Lutero”
a influência dos meios de comunicação de massa na construção da (página 29) e peça a eles que elaborem um texto de opinião sobre a
cultura. Peça a um grupo que indique os aspectos positivos e a outro prática da venda de indulgências na ocasião da Reforma e a mercan-
que aponte os aspectos negativos. tilização da religião nos dias atuais.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Destaque a proporção que as denúncias de Lutero tiveram na so-
atividades 5 a 8 do “Para construir” (página 24). ciedade renascentista.
Problematize com a classe a tese luterana que sustenta a existência
Tarefa para casa de senhores e servos, classes antagônicas, como resultado dos desíg-
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 5 e 6 do “Para nios de Deus. Analise a imagem sobre a revolta de Thomas Münzer
praticar” (página 25) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (página 26). (página 30), relacionando-a com as afirmações de Lutero.
Leia com os alunos o subtópico “Protestantes × católicos” (página 30)
e analise a expansão das ideias luteranas. Discuta com eles o signifi-
3. A REFORMA PROTESTANTE cado do termo “protestantismo”.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
Objeto do conhecimento atividades 1 a 3 do “Para construir” (página 31).
Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento
político e ação do Estado. Tarefa para casa
Objeto específico Proponha que os alunos elaborem um texto sobre a liberdade religiosa.
Revoluções sociais e políticas na Europa moderna. Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 3 do “Para
praticar” (página 38) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 39).
AULA 5 Páginas: 27 a 30
AULA 6 Páginas: 32 a 36
Causas da Reforma protestante
O calvinismo, a Igreja anglicana e a
Objetivos Contrarreforma
Identificar as causas que levaram à Reforma protestante.
Analisar aspectos da consolidação protestante. Objetivos
Caracterizar o calvinismo.
Estratégias Descrever as consequências das guerras religiosas na França.
HISTÓRIA
Este capítulo trata do processo que levou à ruptura da unidade do Descrever o nascimento da Igreja anglicana.
cristianismo na Europa ocidental, com a formação de novas Igrejas. Analisar a Contrarreforma.
Com a Reforma, a Igreja católica, instituição mais poderosa da Europa
na Idade Média, passa a dividir seus seguidores com luteranos, calvi- Estratégias
nistas, anglicanos, entre outros. O calvinismo foi de grande valia para a burguesia, que encontrou
Antes de começar o estudo do capítulo, a discussão de algumas justificação moral e religiosa para sua riqueza, numa época em que a
questões pode contribuir para a compreensão dos conteúdos que usura era condenada pela Igreja católica.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 5


Leia com os alunos o tópico “O calvinismo” (página 32) e analise os avanços tecnológicos na navegação; o domínio das viagens pelo
a repercussão das propostas luteranas. Fale sobre como cada região Atlântico; e a expansão econômica e territorial que o estabelecimen-
adaptou a nova religião de acordo com seus interesses. to de entrepostos na costa africana e a chegada ao continente ame-
Debata com os alunos as ideias de Calvino, principalmente a tese ricano representaram para os europeus.
calvinista da predestinação e sua relação com o capitalismo. O texto de abertura do capítulo comenta uma cadeia de eventos
A Reforma anglicana representou o fortalecimento do poder real familiar aos que nasceram no século XX – a corrida espacial. A disputa,
na Inglaterra. Uma interessante análise iconográfica pode ser en- marcada pela Guerra Fria, constituiu um processo que fascina pelo
contrada no “Olho vivo” (páginas 34 e 35), no qual são explicados que representa de desafio ao desconhecido. Nossa intenção ao fazer
e interpretados diversos detalhes da obra Os embaixadores, de Hans referência a ela é levar os alunos a perceber o fascínio que as viagens
Holbein, o Jovem. pelo Atlântico exerciam no começo da Idade Moderna. Presos aos
O avanço do protestantismo mobilizou a reação da Igreja católica, valores medievais, os europeus criaram mitos e monstros imaginários
que realiza uma “reforma” interna e cria mecanismos para atrair novos em relação ao oceano Atlântico; daí a denominação “Mar Tenebroso”.
seguidores. Sobre esse tema, leia com os alunos o tópico “A reação O que motivou os europeus a levar adiante tamanha empreitada? A
da Igreja católica” (página 33) e explique o que foi a Contrarreforma. chave para entender esse processo são os interesses comerciais pelas
Destaque as ações da Igreja católica com o objetivo de reconstruir mercadorias orientais. Além disso, havia também as dificuldades im-
sua imagem e seu poder. Discuta com os alunos o significado e o postas pela presença de turco-otomanos na região do Mediterrâneo.
papel da Companhia de Jesus nesse contexto. Muitos historiadores adotaram o ano de 1453 como o marco que di-
Leia o subtópico “O Concílio de Trento” (página 36) e reflita com os vide a Idade Média da Idade Moderna, pois a conquista de Constanti-
alunos sobre as decisões estabelecidas pela Igreja católica. Depois, peça nopla pelos turcos tornou-se um empecilho ao comércio entre a Ásia
a eles que discutam suas impressões sobre as medidas do Concílio. Faça e a Europa, uma vez que a cidade fica entre os dois continentes. Daí o
uma síntese na lousa com os comentários dos alunos. grande estímulo para a busca de uma rota alternativa às Índias.
Com os alunos, leia o texto do “Enquanto isso...” (página 36) e, com Discuta o tópico “A aventura portuguesa” (página 42). Ressalte a
o auxílio do mapa-múndi, localize as regiões citadas. Assim, eles terão questão do enriquecimento da burguesia mercantil e os privilégios
a oportunidade de avaliar como se desenvolveu outra religião mo- conquistados junto à nobreza. Analise a política protecionista portu-
noteísta: o islamismo. guesa. Retome o significado da Revolução de Avis. Fale sobre a iniciativa
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as da invasão a Ceuta e sobre o início da expansão ultramarina portugue-
atividades 4 a 6 do “Para construir” (página 37). sa. Comente ainda o surgimento da Escola de Sagres e o seu significado
no rumo das navegações. Identifique os avanços decorrentes da inven-
Tarefa para casa ção das caravelas e as características da tecnologia marítima da época.
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 4 a 6 do “Para O avanço português pela costa africana pode ser explorado com a
praticar” (página 38) e 3 e 5 do “Para aprimorar” (página 39). leitura do mapa “Portugueses na costa africana” (página 44). É impor-
tante destacar a importância da bula papal e o que ela representaria
posteriormente para a história da África e da futura colônia portuguesa
4. AS GRANDES NAVEGAÇÕES na América (Brasil). Ela conferiu aos portugueses direitos exclusivos so-
bre a África, denotando a posição da Igreja católica em relação a povos
não cristãos e legitimando a venda de escravos africanos.
Objeto do conhecimento
Leia com os alunos o tópico “Os espanhóis chegam à América”
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade.
(página 45) e discuta o interesse da Europa pelas conquistas maríti-
Objeto específico mas portuguesas. Comente que Colombo obteve patrocínio para sua
A conquista da América; conflitos entre europeus e indígenas na viagem em busca de um caminho alternativo às Índias.
América colonial; a escravidão e as formas de resistência indígena Faça a leitura coletiva do tópico “O Tratado de Tordesilhas” (página
e africana na América. 45) e discuta as condições que levaram a esse acordo.
Destaque o significado da chegada de Vasco da Gama às Índias e
AULA 7 Páginas: 40 a 47 as consequências desse fato.
O mapa “Navegações portuguesas e espanholas (séculos XV e XVI)”
A conquista do Atlântico (página 46) assinala não só o percurso das viagens realizadas por esses
dois povos, mas também como alcançaram o objetivo que mobilizou
Objetivos tantos esforços: chegar ao Oriente sem passar pelo Mediterrâneo.
Listar os motivos que impulsionaram as viagens marítimas euro- O “Enquanto isso...” (página 47) favorece a percepção de que os
peias no século XV. europeus não eram os únicos a explorar as possibilidades marítimas,
Explicar a disputa entre portugueses e espanhóis pela conquista de desenvolver tecnologias e empregar esforços na busca por novas ter-
novas terras. ras e novas relações comerciais.
Divida a classe em dois grandes grupos e proponha um debate so-
Estratégias bre a seguinte questão: “A América foi descoberta ou conquistada?”.
Este capítulo aborda as Grandes Navegações, considerando: os Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
reinos inicialmente envolvidos no processo (Portugal e Espanha); atividades 1 a 5 do “Para construir” (páginas 47 e 48).

6 GUIA DO PROFESSOR
“O consumo consciente de alimentos”, (página 52). O texto oferece
Sobre a tecnologia náutica e a invenção da caravela, leia o uma explicação sobre a importância das especiarias na conservação
Texto 2 da seção Textos Complementares deste Guia. dos alimentos, o que ajuda a compreender seu grande valor comer-
cial no começo da Idade Moderna. Com base nessa abordagem, é
Tarefa para casa possível discutir um tema premente no mundo contemporâneo: o
desperdício de alimentos. Embora pareça evidente a relevância do
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 5 do “Para
tema, situações formais de ensino-aprendizagem como a que se pro-
praticar” (páginas 48 e 49) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 49).
põe são oportunidades privilegiadas para refletir sobre tais questões
e para amadurecer a consciência da necessidade de práticas em con-
sonância com essa reflexão.
5. OS IMPÉRIOS COLONIAIS
No tópico “O mercantilismo” (página 53), os alunos terão acesso
aos princípios gerais que o nortearam (metalismo, balança de co-
Objeto do conhecimento
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade.
mércio favorável e protecionismo). O texto do capítulo ressalva que
esses princípios variaram de país para país. Pode-se propor aos alunos
Objeto específico que leiam o tópico “Espanha e o El Dorado” (página 56), para que
A conquista da América; conflitos entre europeus e indígenas na
tenham uma noção da importância que representava a posse de me-
América colonial; a escravidão e as formas de resistência indígena
tais preciosos (metalismo). Conhecer os princípios do mercantilismo
e africana na América.
auxiliará os alunos a compreender o conceito de pacto colonial no
contexto das relações estabelecidas entre colônia e metrópole.
AULA 8 Páginas: 50 a 53 Na relação metrópole × colônia, regida pelo pacto colonial, vale
observar que à colônia só era permitido negociar com a respectiva
Revolução Comercial, mercantilismo e metrópole, tanto na venda como na compra de produtos. Desse
Pacto Colonial modo, a metrópole garantia para si o abastecimento de produtos
Objetivo primários e, ao mesmo tempo, um mercado de consumo sem con-
corrência para seus produtos manufaturados.
Descrever a importância das navegações para o crescimento do
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
intercâmbio comercial entre nações e continentes. atividades 1 a 3 do “Para construir” (página 54).
Estratégias Tarefa para casa
Este capítulo trata da expansão comercial e territorial promovida Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 3 do “Para
por nações europeias, que formaram impérios coloniais nos séculos praticar” (páginas 60 e 61) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 61).
XVI e XVII.
A realização de uma pesquisa sobre a atual situação econômi-
AULA 9 Páginas: 55 a 59
ca e social de Santa Helena, Guiana Francesa e Aruba, regiões às
quais a abertura do capítulo faz menção, pode ser utilizada para Impérios coloniais
motivar os alunos no estudo do capítulo. Atualmente, como é a
relação econômica entre essas possessões e os respectivos países Objetivos
a que pertencem? Essas possessões têm autonomia nas relações Explicar a importância e as consequências da conquista de novas
comerciais com outros países? Como são suas condições sociais? terras por Portugal e Espanha.
Ao final do estudo do capítulo, pode-se verificar mudanças e per- Descrever a formação de companhias de comércio.
manências nas relações estabelecidas entre certas potências e seus
domínios territoriais. Estratégias
No processo de expansão ultramarina, um dos principais aspectos No que diz respeito à extensão do domínio português, do qual o
a se considerar é o grande deslocamento de pessoas de continen- Brasil atual era apenas uma das colônias, recomenda-se a leitura do
tes diferentes através dos oceanos. Essa foi uma época de grandes mapa “Império colonial português (1500-1580)” (página 55) para que
transformações, em que se definiu um novo tipo de relação política os alunos tenham noção do que representava esse império.
(metrópole e colônia) marcada por intenso intercâmbio, desde co- O boxe “Primeiras colônias na América do Norte” (página 58) é
HISTÓRIA
nhecimentos técnicos e científicos até gêneros alimentícios. particularmente importante para que os alunos conheçam as origens
Comente o tópico “A Revolução Comercial” (página 51) e discuta dos Estados Unidos e do Canadá.
com a classe as transformações decorrentes das Grandes Navegações. Igualmente importante para a compreensão do expansionismo de
Mencione que o contato entre as diferentes culturas estimulou uma outras potências europeias, além de Portugal e Espanha, é o tópico
mudança no pensamento da época. “As companhias de comércio” (páginas 57 e 58), que trata das orga-
Para melhor compreensão do intenso intercâmbio entre os conti- nizações econômicas de particulares. Ricas e poderosas, essas com-
nentes por essa época, pode-se propor aos alunos que leiam o boxe panhias tiveram grande influência nos rumos das disputas territoriais.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 7


Na proposta de debate do “Trocando ideias” (página 58), os alunos que se impunham. O boxe “O detentor da soberania” (página 64)
são convocados a mobilizar os conhecimentos obtidos com a leitura aborda algumas das teorias que serviram à legitimação do absolutis-
do capítulo para pensar na relação entre os países no mundo atual. mo. Particular importância teve a teoria do Direito Divino, que esta-
No “Enquanto isso...” (página 59), pode-se chamar a atenção dos belece a ligação entre fé e poder.
alunos para o fato de ter se completado o mapa do mundo segundo Na prática, a centralização representou um maior controle do Es-
a visão europeia, isto é, os europeus chegam a um continente que tado sobre a sociedade, daí a necessidade de leis de caráter impes-
ainda não conheciam. soal (direito romano). A leitura do tópico “O rei encontra o poder”
Por fim, pode-se propor aos alunos que retomem a pesquisa reali- (página 63) é oportuna para se compreender que a concentração
zada no início do capítulo para que consolidem os conhecimentos, do poder nas mãos do monarca significou a perda de influência dos
uma vez que estes embasarão o estudo de alguns conteúdos abor- senhores feudais.
dados em breve, sobretudo de História do Brasil. Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as atividades 1 e 2 do “Para construir” (página 65).
atividades 4 a 7 do “Para construir” (páginas 59 e 60).
Tarefa para casa
Tarefa para casa Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 e 2 do “Para
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 4 e 5 do “Para praticar” (página 72) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (páginas 72 e 73).
praticar” (página 61) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (página 61).
AULA 11 Páginas: 66 a 71

6. O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO O absolutismo na França e na Inglaterra


Objeto do conhecimento Objetivos
Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento Caracterizar o absolutismo francês.
político e ação do Estado. Caracterizar o absolutismo inglês.
Objeto específico
Revoluções sociais e políticas na Europa Moderna.
Estratégias
O processo de ascensão de governos com poderes concentrados
nas mãos do rei e de perda de influência da nobreza feudal é exem-
AULA 10 Páginas: 62 a 65
plificado pelo caso das monarquias absolutistas francesa e inglesa.
Características do absolutismo monárquico Na monarquia francesa encontra-se a expressão máxima do ab-
solutismo: Luís XIV. A simbologia do Rei-Sol, como era identificado,
Objetivo remete à ideia de que tudo gravitava ao seu redor, à semelhança dos
Caracterizar o processo de formação dos Estados modernos. planetas que giram em torno do Sol.
O estudo da monarquia inglesa revela tanto o processo que insti-
Estratégias tuiu o absolutismo como o de sua derrocada durante a Revolução
Este capítulo gira em torno do processo de centralização política Puritana. Esse feito se repetiria novamente, sob outras formas, um
dos Estados Nacionais. Em alguns países esse processo levou à con- século depois, com a Revolução Francesa de 1789.
centração de poderes nas mãos do monarca. No sistema que ficou A imagem do rei e a propaganda tiveram especial importância
conhecido como absolutismo monárquico, o rei governava, criava nessa época. Os textos e a iconografia do capítulo destacam essa
leis e aplicava a justiça. importância. Veja, por exemplo, o boxe “Política e propaganda”
Após a leitura do texto de abertura, algumas questões podem ser (página 67), e a imagem do “Olho vivo” (página 70). A leitura do boxe
um bom início para o estudo dos conteúdos. No Brasil, quem exerce proporciona igualmente uma reflexão sobre a relação entre o poder
cada um dos poderes do Estado? O que pode ocorrer se todos os po- e a construção de uma representação simbólica que o glorifica. Já
deres forem exercidos por uma única pessoa? Com base em aspectos no “Olho vivo”, os alunos podem observar a variedade de símbolos
do presente familiares ao aluno (divisão dos poderes em Executivo, utilizados para representar a força da rainha Elizabeth.
Legislativo e Judiciário), pode-se introduzir o conceito de absolutis- A atividade proposta para o boxe “Política e propaganda”
mo, considerando que sob esse regime essa divisão não existia, pois (página 67) parte do princípio de que nos regimes democráticos
o monarca concentrava todos os poderes. atuais o poder e a soberania do Estado emanam do povo, o qual ex-
A fragmentação política durante a Idade Média e o começo da pressa suas preferências por meio do voto. Com a pesquisa, os alunos
centralização do poder constituem parte do processo em que se são convidados a refletir sobre os processos, incluindo a propaganda
organizaram as monarquias absolutistas europeias. Essa organização e o marketing, que influem e até interferem na escolha de candidatos
deve ser entendida no contexto histórico de crises e de mudanças em campanhas eleitorais.
dos séculos XV a XVII. Alguns pensadores julgavam necessário cons- Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
tituir e legitimar um poder forte o bastante para enfrentar os desafios atividades 3 a 5 do “Para construir” (página 71).

8 GUIA DO PROFESSOR
Tarefa para casa estrutura: suas características urbanas, sociais e religiosas; sua intensa
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 3 a 5 do “Para atividade comercial; seu sistema de escrita e sua produção científico-
praticar” (página 72) e 3 do “Para aprimorar” (página 73). -artística. O mapa “Sociedade maia no século XV” (página 75) pode
ser usado para destacar os quase 500 mil quilômetros quadrados que
essa civilização ocupou.
7. CIVILIZAÇÕES AMERICANAS No estudo sobre a civilização asteca, se destaca a trajetória de domi-
nação desse povo sobre outros. Como será estudado no capítulo 8, esse
Objeto do conhecimento aspecto será importante para o processo de dominação imposto pelos
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. espanhóis sobre as sociedades que já habitavam o território americano.
Objeto específico Ainda no tópico sobre os astecas, duas informações permitem
A conquista da América; conflitos entre europeus e indígenas na perceber o grau de complexidade que alcançou essa sociedade: a
América colonial; a escravidão e as formas de resistência indígena capital asteca, Tenochtitlán, reunia milhares de pessoas e possuía uma
e africana na América. significativa estrutura administrativa; o calendário asteca, de 365 dias,
exemplifica o elevado conhecimento de Astronomia.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
AULA 12 Páginas: 74 a 79
atividades 1 e 2 do “Para construir” (página 79).
As sociedades maia e asteca Tarefa para casa
Objetivos Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 3 do “Para
Apresentar algumas culturas nativas da América. praticar” (página 83) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 84).
Identificar as diferenças e as semelhanças entre maias e astecas.
AULA 13 Páginas: 80 a 82
Estratégias
Neste capítulo serão abordadas algumas das sociedades que se O Império Inca
desenvolveram no continente americano antes da chegada dos eu-
Objetivos
ropeus. A complexidade e a riqueza que algumas delas alcançaram
podem ser evidenciadas, entre outros aspectos, devido ao desen- Caracterizar o Império Inca.
volvimento científico e tecnológico e à organização social que algu- Identificar as diferenças e as semelhanças entre maias, astecas e incas.
Analisar a riqueza cultural e os diferentes costumes dos povos
mas dessas sociedades alcançaram. Essa percepção pode ser um dos
americanos.
fundamentos para introduzir e valorizar o conceito de diversidade
cultural. Nesse sentido, pode-se fazer um bom trabalho em relação Estratégias
ao termo “índio” – cunhado pelos europeus para designar qualquer O estudo sobre os incas, por sua vez, além de resgatar importantes
indivíduo pertencente aos povos que habitavam a América no mo- aspectos dessa sociedade, pode servir para introduzir algumas no-
mento da chegada de Colombo – que não reconhece nem valoriza ções que serão utilizadas também em outros contextos de estudo.
a diversidade desses povos. Os habitantes do continente americano Nesse momento, a acepção de império (Império Inca) remete à do-
não constituíam um só povo indígena, mas formavam realmente so- minação de diferentes povos e territórios sob controle de um povo
ciedades distintas, com identidades próprias, muitas das quais se re- e de um governo central. Tal tarefa pode se tornar mais evidente por
lacionavam entre si, às vezes na forma de disputas ou de dominação, meio do mapa “Império Inca no século XVI” (página 80), que eviden-
outras por meio de trocas comerciais e culturais. cia o poderio desse povo.
O texto central do capítulo se inicia colocando-nos em conta- Com a leitura do texto de abertura do capítulo, os alunos terão
to com alguns aspectos de sociedades do continente americano mais uma oportunidade de perceber como a cultura de uma antiga
que floresceram muito antes da chegada dos europeus. Nesse sociedade pode sobreviver ao tempo e ser incorporada por outros
sentido, pode-se retomar com os alunos a relação entre agricul- grupos humanos. Nesse caso, é destacada uma técnica para con-
tura e sedentarismo, que colaborou para o desenvolvimento de servação de alimentos desenvolvida pelos incas que se mantém em
estruturas sociais mais complexas, em virtude: 1) da fixação em uso até hoje e é reconhecida pela Nasa (instituição que desenvolve
um território, evitando deslocamentos frequentes; 2) da produ- e detém algumas das mais modernas tecnologias do planeta) como
HISTÓRIA
ção de alimentos que garantissem a subsistência do grupo e que uma forma muito eficaz de garantir a nutrição de seus astronautas.
pudessem ser trocados com outros povos; 3) da maior disponibi- Já por meio da leitura do subtópico “Engenharia inca” (página 81)
lidade de mão de obra e de tempo para outras atividades, como é possível evidenciar o alto grau de desenvolvimento tecnológico
artesanato, comércio, defesa do território, guerras de conquista, alcançado por essa sociedade.
religião, gestão política, ciência, etc. Explique que os incas não desenvolveram um sistema de escrita.
Sobre os maias, além do fato de essa sociedade ter perdurado por Chame também a atenção para os trabalhos de metal elaborados
mais de 3 mil anos, merece ser destacada a complexidade de sua pelo povo inca e ressalte o uso do ouro em suas criações.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 9


Analise com os alunos a foto das ruínas de Machu Picchu (página 81) Apesar da rapidez da conquista, esse processo não ocorreu sem a
e comente a riqueza do estilo arquitetônico criado pela civilização inca. oposição e a resistência dos indígenas. Isso pode ser exemplificado
Leia com os alunos o “Enquanto isso…” (página 82). Proponha uma pelos três meses de resistência de Tenochtitlán aos ataques espanhóis,
discussão sobre o texto. Peça-lhes que comparem os costumes dos pela vitória indígena quando da primeira expedição de Pizarro e pela
povos americanos com base na leitura feita. sequência de revoltas à dominação espanhola iniciadas com Manco
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Cápac que vão até Tupac Amaru (no caso do Império Inca).
atividades 3 a 5 do “Para construir” (páginas 82 e 83). Conforme explicado no texto do boxe “A resistência indígena”
(página 91), o processo de resistência foi mais eficaz nas periferias
Tarefa para casa dos grandes impérios. Entre as razões para isso estavam os hábitos
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 4 a 6 do “Para culturais dos indígenas dessas regiões, a capacidade deles em se apro-
praticar” (páginas 83 e 84) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (página 84). priarem das estratégias de guerra dos europeus e a adaptação de seus
próprios métodos de luta à nova realidade.
Para que se compreendam as consequências da conquista dos
8. A CONQUISTA ESPANHOLA territórios das sociedades asteca, inca e maia, um valioso trabalho
pode ser feito com base na leitura do mapa “Colônias espanholas
Objeto do conhecimento na América” (página 87) em comparação com os mapas das respec-
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. tivas sociedades existentes no capítulo 7 “Civilizações americanas”.
Objeto específico Tal comparação demonstra como foi importante, para os espanhóis,
A conquista da América; conflitos entre europeus e indígenas na dominar esses povos e suas estruturas administrativas, o que lhes
América colonial; a escravidão e as formas de resistência indígena garantiu um vasto território colonial. Além disso, outra consequência
e africana na América. da conquista é a disseminação do emprego do idioma espanhol na
maioria dos atuais países da América Latina.
AULA 14 Páginas: 85 a 91
Voltado para um dos exemplos mais dramáticos de choque entre
culturas e de etnocentrismo, o estudo da conquista espanhola pode
A conquista espanhola ser concluído com uma reflexão sobre o respeito à diversidade cul-
tural atualmente.
Objetivos Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
Debater as razões que levaram os espanhóis a colonizar a América. atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 92).
Reconhecer as consequências da colonização para os povos que
habitavam a América. Tarefa para casa
Caracterizar o processo da conquista espanhola. Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 e 2 do “Para
praticar” (página 93) e 1 do “Para aprimorar” (página 93).
Estratégias
Apesar de relativamente rápida, a conquista espanhola garantiu aos
europeus o domínio sobre grande parte do continente americano por
aproximadamente três séculos, o que alterou significativamente as socie- TEXTOS COMPLEMENTARES
dades da região. Este capítulo trata desse processo, abordando os inte-
resses que o motivaram, os métodos empregados e suas consequências. Texto 1
Um caminho para iniciar o trabalho com os alunos é partir das Apresentamos a seguir um trecho da obra O príncipe, de Maquia-
seguintes indagações: Quais são as línguas mais faladas atualmente vel, escrita em 1513.
na América Latina? Por que o espanhol é tão difundido? Será que ele Quem quiser praticar a bondade em tudo o que faz está con-
sempre foi falado no continente? denado a penar, entre tantos que não são bons. É necessário,
O contexto geral da conquista pode ser abordado a partir da busca portanto, que o príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem
do ouro e da enorme disposição dos espanhóis em encontrá-lo. bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme
Os textos da atividade do “Para aprimorar” (página 93) reforçam essa seja necessário. [...]
perspectiva, além de demonstrar que o processo de conquista foi encara- Pode-se observar que todos os homens – especialmente os so-
beranos, colocados em posição mais elevada – têm a reputação de
do de modo diferente por vencedores e vencidos. Esses textos propiciam,
certas qualidades que lhe valem elogios ou vitupérios (palavra ou
ainda, um profícuo debate sobre a natureza parcial das fontes históricas.
atitude ofensiva). Assim, alguns são tidos como liberais, outros por
Ainda que armas e germes tenham contribuído para a conquista es- miseráveis [...]; um é considerado generoso; o outro, ávido; um
panhola, também ganha destaque a exploração de certas características cruel; o outro, misericordioso; um, efeminado e pusilânime (co-
das sociedades indígenas. O sistema de dominação asteca, por exemplo, varde); e outro, bravo e corajoso; [...] e assim por diante.
era causa de descontentamento entre os povos subjugados. A imagem Naturalmente, seria muito louvável que um príncipe possuísse
do “Olho vivo” (páginas 88 e 89) oferece muitos detalhes não só sobre o todas as boas qualidades acima mencionadas, mas como isso não é
sistema de arrecadação de tributos que os astecas impunham aos povos possível, pois as condições humanas não o permitem, é necessário
dominados, mas também sobre outros aspectos dessas sociedades. que tenha a prudência necessária para evitar o escândalo provocado

10 GUIA DO PROFESSOR
pelos vícios que poderiam fazê-lo perder seus domínios, evitando os reconquista da península Ibérica, e parecem ter sido desenvolvi-
outros se for possível; se não for, poderá praticá-los com menores das e usadas com fins militares de combates aos mouros e mais
escrúpulos. Contudo não deverá preocupar-se com a prática escan- tarde aos espanhóis, nas guerras de independência. Em 1384, já
dalosa daqueles vícios sem os quais é difícil salvar o Estado; isso existem relatos de combates entre embarcações portuguesas e
porque, se refletir bem, será fácil perceber que certas qualidades que castelhanas.
parecem virtudes levam à ruína, e outras que parecem vícios trazem Segundo consta, tais embarcações, na verdade, não passavam
como resultado o aumento da segurança e do bem-estar. de barcas e barinéis, mas que no entanto dariam origem às famo-
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Apud: ARANHA, Maria Lucia de Arruda.
Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 1993. p. 110-111.
sas caravelas. Fato que talvez explique o desenvolvimento simul-
Texto 2 tâneo, tanto em Portugal como na Espanha, de uma tecnologia
No texto a seguir, o autor discorre sobre a tecnologia náutica e a de construção naval em muitos aspectos semelhante [...].
invenção da caravela. [...] tudo o que se sabe ao certo é que a caravela foi concebida e
Na Antiguidade, a tecnologia de construção naval foi dominada construída pelos portugueses por volta de 1430-1440. E tão logo
sobretudo por fenícios, romanos e cartaginenses, e antes destes pelos foi concebida foi largamente utilizada, ultrapassando sua aplicação
gregos e egípcios. No entanto, desde que os homens começaram a militar e pesqueira, para adquirir fins comerciais na expansão ma-
navegar, pouco evoluiu a aerodinâmica das embarcações. As primei- rítima. Na verdade, toda confusão a respeito da origem das cara-
ras embarcações de que se tem notícia são as balsas e pequenos velas deve-se ao fato de Portugal ter sido um ponto de passagem
barcos da Idade da Pedra, feitos de vime ou couro. Mais tarde os entre diversas culturas diferentes e portanto “um ponto de encon-
povos que viviam à margem dos grandes rios, como o Nilo e o Eu- tro de diversas técnicas de construção, que foram (se) aperfeiçoan-
frates, devido à necessidade de comercializar com outros povos, do”. De forma que o “processo de síntese de diversas práticas de
terminaram aperfeiçoando tais embarcações, construindo-as com construção naval deu-se por via eminentemente empírica, ou seja,
madeira e impulsionando-as através de remos. [...] pela observação e troca de experiências concretas”.
As primeiras embarcações portuguesas construídas nos moldes RAMOS, Fábio Pestana. Naufrágios e obstáculos enfrentados pelas armadas da
das caravelas de que se tem notícia datam ainda do período da Índia Portuguesa: 1497-1653. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2000.

SUGESTÕES DE LEITURA
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HISTÓRIA
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dez. 2014.
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exhibits/mexcodex/aztec.htm#Azcatitlan>. Acesso em: 22 dez. 2014.

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 11


RESPOSTAS

3. b.
CAPÍTULO 1 – A FORMAÇÃO DO ESTADO
MODERNO 4. Segundo a doutrina da Igreja, a Terra (gea, em grego) era o
centro do Universo, e o Sol e a Lua gravitavam a seu redor,
teoria conhecida como geocentrismo. Levado pelo espírito
PARA PRATICAR – página 13
investigativo, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico con-
1. a. testou essa concepção e colocou em seu lugar o heliocen-
2. e. trismo, afirmando que a Terra girava ao redor do Sol (hêlios,
em grego), conforme Aristarco de Samos havia enunciado na
3. Nos primeiros séculos da era cristã, a península Ibérica foi ocupada
Grécia antiga. As formulações de Copérnico foram retomadas
pelos romanos, que transformaram a região na província de Hispânia.
por outros cientistas, como Giordano Bruno, Johannes Kepler
Com as invasões germânicas, a península foi ocupada pelos visigo-
e Galileu Galilei. Apoiado no trabalho desses cientistas, em
dos, povo de origem germânica. Em 711, quase toda a região caiu
1687 o inglês Isaac Newton publicou o livro Principia, que
sob domínio muçulmano. Tempos depois, os cristãos deram início a
revolucionou o conhecimento científico e lançou os funda-
ações de resistência à ocupação muçulmana, desencadeando lutas
mentos da Física moderna.
descontínuas, conhecidas como Reconquista, que pretendiam ex-
pulsar os muçulmanos da península. No século XI, essa ofensiva cristã 5. c.
se tornou sistemática. A partir de então, em quatro séculos de luta, as 6. 01, 04 e 16.
cidades sob controle muçulmano caíram uma após outra, até toda a
península ser novamente ocupada por reinos cristãos. PARA APRIMORAR – páginas 25 e 26
PARA APRIMORAR – páginas 13 e 14 1. d.
1. c. 2. F – V – F – V – F.
2. b. 3. e.
3. a. 4. Resposta pessoal. Evidentemente, as estratégias empregadas
hoje por personalidades públicas na criação de sua imagem são
4. O povo curdo é uma etnia que habita o norte do Iraque e o sul da diferentes das utilizadas por um banqueiro do século XV em Flo-
Turquia e reivindica a criação de uma nação própria, o Curdistão. rença. Entretanto, nascem do mesmo princípio: o papel essen-
Atualmente, depois da queda do ditador Saddam Hussein, os curdos cial da imagem na difusão de valores e na definição simbólica
estão representados no novo parlamento iraquiano. Já os nacionalis- do poder.
tas bascos consideram o território situado no norte da Espanha – hoje
administrativamente uma comunidade autônoma espanhola – e no
noroeste da França como parte da nação basca. A formação de um
CAPÍTULO 3 – A REFORMA PROTESTANTE
país independente é também o objetivo do movimento armado
clandestino chamado ETA, que muitas vezes usou de violência para PARA PRATICAR – página 38
alcançar seus objetivos e por isso foi qualificado de terrorista pelas au-
toridades espanholas. Em 2011, o ETA enviou comunicado renuncian- 1. a.
do à violência. Os palestinos, por sua vez, vivem em sua maioria num 2. a.
território dividido: a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ambos na Palestina. 3. c.
Partes dispersas dessa área passaram há alguns anos a ser administra-
das por uma entidade autônoma, a Autoridade Palestina. Professor, 4. a.
você pode solicitar aos alunos que façam uma apresentação oral re- 5. e.
unindo os grupos que estudaram cada um dos casos propostos pela 6. b.
atividade. Depois, podem-se reelaborar os cartazes e montar uma
pequena exposição na escola. É oportuno definir um título para a ex- PARA APRIMORAR – página 39
posição, um texto curto de apresentação e cartazes informativos para
que outros alunos possam compreender o tema pesquisado. 1. 01, 02 e 08.
2. As ideias reformistas inspiraram diversos movimentos sociais e
políticos que, apoiados na crítica de Lutero à autoridade católica,
CAPÍTULO 2 – A REVOLUÇÃO CULTURAL DO passaram a criticar também as autoridades políticas e os senho-
RENASCIMENTO res feudais. Ainda que Lutero defendesse apenas reformas de
caráter religioso, suas ideias contribuíram para inaugurar um pe-
PARA PRATICAR – páginas 24 e 25 ríodo de grande convulsão social no Sacro Império. Assim, cam-
poneses de várias regiões insurgiram-se contra a ordem social e
1. b. propuseram uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres.
2. a. Por sua vez, cavaleiros e nobres com poucos recursos também

12 GUIA DO PROFESSOR
se uniram para criar um Estado independente, aproveitando-se PARA APRIMORAR – página 49
da crise do Império.
1. Resposta pessoal. Sugere-se que o texto aprofunde as noções
3. 01, 02 e 04. de privilégio e de grupos sociais. Por exemplo, se em sua opi-
4. a) Lutero, defendia que a salvação do homem não ocorria por nião esses grupos privilegiados forem as “elites” ou os “políticos”,
suas ações individuais, mas pela fé que ele tinha em Deus. Essa defina que setores das elites são esses, quais são os privilégios de
que eles desfrutam, de que forma os políticos se beneficiam do
é a base da ideia de predestinação, na qual alguns estariam
Estado, etc. Também é importante notar que a política e a socie-
predestinados à salvação, enquanto outros estavam predesti-
dade são dinâmicas e que determinados grupos sociais que se
nados à condenação eterna.
sentem desprivilegiados podem se organizar com o objetivo de
b) Alguns dos aspectos da Contrarreforma foram a criação da lutar por seus direitos.
Companhia de Jesus, e outras organizações religiosas, a re-
visão de dogmas e de princípios, o reforço da Inquisição 2. a) Alguns historiadores consideram as Grandes Navegações
e a criação de uma lista de livros proibidos, o Índex, entre como o primeiro fenômeno de globalização porque com
outros elementos. elas ocorre o intercâmbio econômico e cultural da Europa
com povos, até então desconhecidos aos europeus, da Áfri-
5. e.
ca, da Ásia e da América.
b) Entre outros, podem ser indicados os seguintes fatores
CAPÍTULO 4 – AS GRANDES NAVEGAÇÕES favoráveis ao pioneirismo de Portugal e Espanha nas
Grandes Navegações: a posição geográfica privilegiada da
Península Ibérica, o afluxo de capitais para essa região, o
PARA PRATICAR – páginas 48 e 49
processo de centralização da Coroa portuguesa e da Co-
1. a) Segundo a visão europeia vigente na época, os perigos do roa espanhola.
mar, o risco da morte dos marinheiros e a dor de seus fa-
miliares se legitimavam em nome das conquistas e das pos-
ses oriundas da expansão marítima e da conquista de novas CAPÍTULO 5 – OS IMPÉRIOS COLONIAIS
terras. No poema isso está expresso em versos como estes:
“Quantos filhos em vão rezaram/Quantas noivas ficaram por PARA PRATICAR – páginas 60 e 61
casar/Para que fosses nosso, ó mar! [...]/Tudo vale a pena/se a 1. c.
alma não é pequena”.
2. a.
b) Resposta pessoal. Explique aos alunos que pesquisadores
e cientistas desempenham, entre outras coisas, a tarefa de 3. c.
buscar o novo em suas áreas de conhecimento. Realizadas 4. As minas de Potosí transformaram a Espanha na nação mais
essas descobertas e invenções, o importante é avaliar o uso rica da Europa durante o século XVI. A produção de moedas
que se faz dessas conquistas científicas e tecnológicas. Na de prata na Espanha passou de 45 toneladas entre 1500 e
época das navegações, o avanço da tecnologia náutica pro- 1520 para 270 toneladas entre 1545 e 1560 e 340 toneladas
piciou trocas culturais e materiais entre pessoas que viviam entre 1580 e 1600.
em continentes diferentes e nunca haviam travado contato 5. A colonização inglesa na América do Norte começou no iní-
até então. Porém, esse mesmo contato nem sempre foi pací- cio do século XVII, quando foi fundada a cidade de Jamestown
fico e provocou, muitas vezes, a conquista de um povo pelo (1607), no atual estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Com o
outro. Já no século XX, o domínio da energia atômica, por cultivo de tabaco a colônia alcançou certa prosperidade, e logo
exemplo, pode propiciar tanto a obtenção de energia elé- chegaram as primeiras levas de escravos traficados por holan-
trica como a construção de bombas atômicas capazes de deses. Em 1620, um grupo de puritanos ingleses desembarcou
matar dezenas de milhares de pessoas de uma só vez. Ob- do navio Mayflower e fundou a colônia de Plymouth, a 750 qui-
servadas as devidas diferenças, o mesmo pode-se dizer em lômetros ao norte da Virgínia. Esses colonos, calvinistas perse-
relação à internet. Se, por um lado, a rede permite o acesso às guidos na Inglaterra pelos anglicanos e pelo Estado, emigravam
mais variadas informações rapidamente ou o contato entre para o novo continente para exercer sua liberdade de culto e ali
pessoas que se encontram distantes, ela também pode ser fundar sua Igreja. Em 1626, os franceses também criaram alguns
utilizada para a prática dos mais variados tipos de crime. postos comerciais na região e procuraram catequizar os indíge-
2. Os portugueses conquistaram Ceuta em 1415; depois, entre 1420 nas para o catolicismo.
e 1428, avançaram para as ilhas da Madeira e dos Açores. Sempre
em direção ao sul, chegaram ao cabo do Bojador em 1434, e a PARA APRIMORAR – página 61
Cabo Verde em 1456. A conquista da Guiné se prolongou de 1434 1. A colonização grega dos séculos VIII e VII a.C. está ligada ao proces-
HISTÓRIA

a 1462, e a do Congo, de 1482 a 1485. Dois anos depois, em 1487, so conhecido como “Segunda Diáspora” e à consequente desinte-
a expedição de Bartolomeu Dias atravessava o Cabo da Boa Es- gração do sistema gentílico. Já a colonização da América resultou
perança, no extremo sul do continente africano. Posteriormente, da expansão marítimo-comercial europeia, inserida no contexto
Portugal estabeleceu domínios em Moçambique e Melinde, onde da transição feudo-capitalista. No caso da colonização grega, as
instituiu feitorias em 1502 e 1500, respectivamente. cidades-Estado mantinham relações comerciais com a metrópole,
3. c. 4. b. 5. d. mas não se subordinavam a ela. As colônias americanas da Idade

Idade Moderna I: da formação do Estado moderno à conquista espanhola 13


Moderna, por sua vez, não dispunham de autonomia econômica, 2.
estavam totalmente subordinadas aos interesses da metrópole.
Maias Astecas
2. Resposta pessoal. Você pode pedir aos alunos que façam uma
lista de razões pelas quais tantas pessoas passam fome no mun-
do. Entre essas razões há causas naturais (como seca, inundações, Nobreza e monarquia (os nobres escolhiam
pragas e terremotos) e humanas (pobreza, instabilidade política, Chefe de Estado e familiares. o monarca e o conselho militar, e ocupavam
grande concentração de renda e de terras nas mãos de poucas cargos administrativos e religiosos.
pessoas, guerras, conflitos civis, etc.). No Brasil, a falta de uma po-
lítica mais eficaz de reforma agrária obriga muitas pessoas que
Nobreza (cargos administrativos,
viviam no campo – onde plantavam e colhiam seus próprios ali-
mentos – a mudarem-se para as cidades, onde muitas vezes vão religiosos e militares) e grandes Grandes comerciantes.
exercer atividades mal remuneradas, tornando difícil a garantia comerciantes.
de sua subsistência. Ou seja, a fome nesses casos se manifesta
não pela falta de alimento, mas pela dificuldade de acesso aos Guerreiros, artistas e artesãos. Artesãos.
gêneros alimentícios (Fontes: <www.akatu.com.br/>. Acesso em:
22 dez. 2014; Comida entra na mira do consumo consciente.
Camponeses (responsáveis por construir os
Folha de S.Paulo, 9 out. 2003; FLANDRIM, Jean-Louis e MONTANARI, Camponeses e população pobre.
Massimo (Org.). História da alimentação. São Paulo: Estação Liber- prédios públicos).
dade, 1998).
3. a. Escravos (prisioneiros de guerra ou deve-
Escravos (prisioneiros de guerra).
dores).
4. a.
3. d.
CAPÍTULO 6 – O ABSOLUTISMO 4. e.
MONÁRQUICO 5. c.

PARA PRATICAR – página 72 6. O abastecimento e o transporte pelas diversas regiões do Império


dependiam de um sistema de estradas que ligava as diversas re-
1. Os soberanos substituíram as leis do antigo direito consuetudi- giões sob domínio inca. Ao longo das estradas, foram constituídos
nário (baseado nos costumes) feudal pelos códigos do Direito
postos de correio onde havia mensageiros (os chaskis) responsá-
Romano, com algumas modificações. Os laços de suserania e
de vassalagem, característicos do sistema feudal, foram subs- veis pela transmissão das mensagens de um posto para o outro.
tituídos por normas jurídicas impessoais, alguns privilégios
baseados na tradição foram suprimidos. Ao mesmo tempo, a
PARA APRIMORAR – página 84
Igreja católica também teve seu poder enfraquecido, perden- 1. c.
do influência sobre as decisões da Coroa. O monarca, por sua
2. Resposta pessoal. Sobre o comentário do historiador Jacques
vez, estabeleceu duas mudanças decisivas para a centralização
Soustelle, vale ressaltar o processo de “naturalização” que de-
do Estado moderno: a criação de uma burocracia racional e a
manutenção de um exército nacional profissionalizado, substi- terminadas práticas assumem no contexto social em que se
tuindo as tropas particulares dos senhores feudais. realizam. Ao mesmo tempo em que os sacrifícios humanos pra-
ticados pelos astecas costumam chocar as sociedades contem-
2. b.
porâneas, para muitos parece “natural” que armas de destruição
3. e. em massa entrem em ação, gerando danos muito maiores. Um
4. d. dos aspectos que contribuem para que essa visão prevaleça é
5. b. a ideologia por trás de campanhas militares, que busca disse-
minar a ideia de que “apenas alvos militares” são atingidos pelas
PARA APRIMORAR – páginas 72 e 73 bombas. Outro aspecto se refere à herança (sobretudo a advinda
1. d. do etnocentrismo, que se constitui numa barreira que prejudica
o entendimento em relação a outras culturas), fortemente pre-
2. a.
sente na atual civilização ocidental, que se reflete na concepção
3. a. em torno do que seja “civilização”. A partir de uma visão cultural
autocentrada, atenuam-se as falhas próprias da nossa socieda-
de, “naturalizando-as” e, inversamente, considerando absurdas as
CAPÍTULO 7 – CIVILIZAÇÕES AMERICANAS práticas de outros povos.
PARA PRATICAR – páginas 83 e 84 3. c.
1. d. 4. e.

14 GUIA DO PROFESSOR
c) No texto de Cortez, a descrição das péssimas condições em
CAPÍTULO 8 – A CONQUISTA ESPANHOLA
que se encontrava o inimigo valoriza a força empregada pe-
PARA PRATICAR – página 93 los espanhóis na conquista (“os inimigos [...] não possuíam
nem mais flechas e lanças [...] e tinham que caminhar sobre
1. e. os corpos de seus mortos”; “foi tanta a mortandade que cau-
2. e. samos”; “não havia outra coisa para colocar os pés que não
fosse o corpo de um morto”). O texto também mostra ter ha-
PARA APRIMORAR – página 93 vido pouca resistência dos indígenas e reforça o poderio dos
1. a) No texto 1, Cortez destaca a quantidade surpreendente de espanhóis (“mandei disparar os tiros grossos, com o que logo
mortos pelas ruas da cidade, as quais ele mandou cercar para tomamos aquele lugar”). No segundo texto, está descrita a
tomar a parte onde se encontravam os líderes (“principais”). brutalidade da destruição e do massacre (“os cabelos estão
b) O texto 2 revela a completa destruição do lugar e a morte espalhados. Destelhadas estão as casas”; “as paredes estão
brutal de muitas pessoas, informando detalhes sobre armas manchadas de miolos arrebentados”) e nota-se desalento
espalhadas pelo chão, casas destelhadas, muros incandescen- (“Golpeávamos os muros de adobe em nossa ansiedade e
tes, paredes manchadas de sangue. Além disso, são descritas nos restava por herança uma rede de buracos”; “os escudos
as dificuldades de sobrevivência dos que tinham escapado ao não detêm a desolação”) e desesperança na descrição do
massacre, em razão da água contaminada pelo sangue e da que lhes restava de alimentos (“pães de colorím”, “grama sa-
ausência de alimentos, exceto adobe (espécie de tijolo feito de litrosa, pedaços de adobe, lagartixas, ratos, e terra em pós e
argila misturada a gramíneas), lagartixa, ratos, terra e vermes. mais os vermes”).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DMITRUK, Hilda Beatriz. A história que fazemos: pesquisa e ensino de História. Florianópolis: Grifos, 1998
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16 GUIA DO PROFESSOR
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