Significado: Morrer.
Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas
das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo. O almacávar, isto é, o cemitério Significado: Manifestação efusiva de alegria.
mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, lavado de Origem: Na Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios
ar e coberto de arvoredo. Após o terramoto de 1755, começando a re- embandeiram em arco, isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de
edificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar- embandeiramento galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos
se todo o que aparecesse. O cemitério árabe foi tão amplamente explorado mastros, indo um dos seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim
que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para são assinalados esses dias de regozijo ou se saúdam outros barcos que se
fazer tijolo. Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como manifestam da mesma forma.
esta: 'Daqui a dez anos já eu estou a fazer tijolo '. In 'Dicionário de CAIR DA TRIPEÇA
Expressões Correntes' ; Orlando Neves.
FILA INDIANA
Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar"afro-americanos"aos pretos, com vista a acabar com as raças por via
gramatical isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico”.
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares da acção educativa". O vendedor de medicamentos,
inchados de prosápia, trata-se por "delegado da propaganda médica".
Pelo mesmo processo, as enfermeiras transmudaram-se em "auxiliares da acção hospitalar" e os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".
Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!);
O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez";
os gangues étnicos são "grupos de jovens";
os operários fizeram-se de repente "colaboradores";
as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.
Desapareceram outrossim dos comboios as classes 1.ª e 2.ª, para não ferir susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por
imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da
pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade iimpante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um
"comportamento disfuncional hiperativo".
Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais
estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O
termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as
regras gramaticais...)
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas proactivas", "políticas
fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
O BERÇO DA PALAVRA (Márcio Cotrim) - Jornal ESTADO DE MINAS, caderno EM CULTURA, dse 14-12-2009
Bater na madeira
Este costume vem de tempos bem antigos. Entre os celtas, consistia em bater no tronco de uma árvore para afugentar o azar, com base no fato de que
os raios caem frequentemente sobre as árvores, sinal de que elas seriam a morada terrestre dos deuses. A pessoa estaria mantendo contato com o deus
e lhe pedindo ajuda. Na mesma linha, os druidas batiam na madeira para espantar os maus espíritos. Já na Roma Antiga, batia-se na madeira da mesa
das refeições, considerada sagrada, para invocar os deuses protetores da família e do lar. Historicamente, a árvore preferida para neutralizar o mau
agouro era o carvalho, venerado por sua força, imponência e longevidade. Ele teria poderes sobrenaturais por suportar a força dos raios. Acreditava-se
que nele vivia o deus dos relâmpagos. Bater no carvalho era, portanto, servia para afastar perigos e riscos diversos. O pessoal do Íbis, de Pernambuco,
considerado o pior time do mundo, andou batendo na madeira durante anos tentando dar um xô para o azar, mas nem assim adiantou. Continuou
sofrendo goleadas até ser brindado com o vexaminoso título que hoje o identifica no futebol. Só restou a lembrança de, inutilmente, bater tanto na
madeira.
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Mata ciliar Importante formação vegetal para a preservação da vida e da natureza, uma cobertura nativa existente nas margens de rios, igarapés, lagos,
olhos d’água e represas, e tão necessária para sua proteção como os cílios para nossos olhos, daí o berço da expressão. Elemento fundamental de um
ecossistema, a mata ciliar, em linguagem de leigo, é, por assim dizer, a franja vegetal situada na beira de toda superfície líquida natural, estática ou
dinâmica. Acolhe grande variedade de seres vivos, que nela encontram abrigo e refúgio. Cobras, jacarés e outros bichos assustam os desavisados e
muitas vezes os transformam em suculentas refeições.
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Criado-mudo É exatamente aquilo que a expressão sugere: um mordomo calado. No português falado no Brasil tem esse nome, embora em alguns
estados, como o Rio de Janeiro, seja mais conhecido como mesinha de cabeceira. Trata-se de uma pequena mesa que fica ao lado da cama. Pode ter
gavetas e nela são colocados ou guardados diversos objetos, o que facilita o acesso das pessoas que estejam deitadas. Sobre o criado-mudo geralmente é
colocado um abajur – lucivelo, em linguagem pernóstica –, de forma a permitir luz adequada à leitura, e o despertador, aquele inoportuno relógio que
nos acorda quando estamos no melhor do sono. O termo criado-mudo se deve ao fato de ele servir como auxiliador, ao acolher coisas que não se
pretende carregar, tarefa antigamente cumprida por mordomos e criados entre pessoas ricas, mas hoje virou peça praticamente indispensável em
qualquer mobília de quarto. Sua falta pode levar a trambolhões pela procura de coisas e loisas no meio do breu da madrugada. Seu nome, criado-mudo,
é realmente adequado. Mas, cá entre nós, também poderia existir um criado-surdo, pois, como se sabe, as paredes têm ouvidos.
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O leitor Juarez Pereira da Silva, de Brasília (DF), conta que, quando criança, ouvia um senhor contar histórias até altas horas da noite enquanto o sono
não vinha. Dizia que eram histórias de Trancoso. o berço dessa expressão nos remete ao escritor português Gonçalo Fernandes Trancoso, autor do livro
Contos e histórias de proveito e exemplo, publicado no século 16. São narrações folclóricas e cheias de exemplos edificantes para o cotidiano. Lidas à
noite, trazem puro encantamento para as crianças. Nas imediações de Porto Seguro, na Bahia, localiza-se a Praia de Trancoso, famoso pelos onde bichos-
grilos, naturistas e quejandos se encontram para curtir a paz e as exuberantes belezas baianas. Todos concordam e acabam adormecendo com a cabeça
povoada de fantasias.