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FUNDAMENTOS DA DIGESTÃO

ANAERÓBIA DE SUBSTRATOS
AGROINDUSTRIAIS
Aspectos Introdutórios sobre o Setor Energético e
Político
Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil)

Este documento está sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives


4.0 International License.
O GEF Biogás Brasil permite a citação deste material, desde que a fonte seja citada.
Contato: contato@gefbiogas.org.br

FICHA TÉCNICA
COMITÊ DIRETOR DO PROJETO Nome do produto:
Fundamentos da Digestão Anaeróbia de Substratos
Global Environment Facility Agroindustriais

Organização das Nações Unidas para o Componente Output e Outcome:


Desenvolvimento Industrial Componente 2.1.4

Ministério da Ciência, Tecnologia, Publicado pela entidade:


Inovações e Comunicações Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial - UNIDO
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento Entidades diretamente envolvidas:
Centro Internacional de Energias Renováveis
Ministério de Minas e Energia Biogás – CIBiogás
Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
Ministério do Meio Ambiente UTFPR

Centro Internacional de Energias Renováveis Autores e coautores:


Thiago Edwiges – UTFPR
Itaipu Binacional Ricardo Muller – UNIDO|CIBiogás
Daiana Gotardo Martinez – UNIDO|CIBiogás
PARCEIROS
Revisão Técnica:
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Leonardo Pereira Lins – CIBiogás
Pequenas Empresas
Coordenador:
Associação Brasileira de Biogás Felipe Souza Marques

Coordenação Pedagógica:
Iara Bethania Rial Rosa

Data da publicação:
Agosto, 2020.

Ficha catalográfica elaborada por:


APRESENTAÇÃO

O Projeto “Aplicações do Biogás na agrícola. Os benefícios se estendem tanto ao


Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) produtor agrícola, que reduz os custos de sua
reúne o esforço coletivo de organismos atividade com o reaproveitamento de resíduos
internacionais, instituições privadas, entidades orgânicos, quanto ao desenvolvimento
setoriais e do Governo Federal em prol da econômico nacional, já que um setor produtivo
diversificação da geração de energia e de mais eficiente ganha competitividade frente à
combustível no Brasil. A iniciativa é concorrência internacional. Indústrias de
implementada pela Organização das Nações equipamentos e serviços, concessionárias de
Unidas para o Desenvolvimento Industrial energia e de gás, produtores rurais e
(UNIDO) e conta com o Ministério da Ciência, administrações municipais estão entre os
Tecnologia e Inovações (MCTI) como beneficiários do projeto, que conta com US
instituição líder no âmbito nacional. O objetivo $ 7,828,000 em investimentos diretos.
principal é reduzir a dependência nacional de
combustíveis fósseis através da produção de Com abordagem inicial na região Sul do Brasil
biogás e biometano, fortalecendo as cadeias e no Distrito Federal, a iniciativa pretende
de valor e de inovação tecnológica no setor. impactar todo o país. Entre seus resultados
previstos estão a compilação e a divulgação de
A conversão dos resíduos orgânicos dados completos e atualizados sobre o setor, a
provenientes da agroindústria e da fração oferta de serviços e recursos para capacitação
orgânica do lixo urbano, muitas vezes técnica e profissional, a criação de modelos de
descartados de forma insustentável, pode se negócio e de pacotes tecnológicos inovadores,
tornar um diferencial competitivo para a a produção de Unidades de Demonstração
economia brasileira, além de reduzir a emissão seguindo padrões internacionais, a
de gases de efeito estufa nocivos à camada de disponibilização de serviços financeiros
ozônio e ao meio ambiente. específicos para o setor, a ampliação da oferta
energética brasileira, e articulações
O biogás e o biometano podem ser utilizados estratégicas entre a alta gestão governamental
para a geração de energia elétrica, energia e entidades setoriais para a modernização da
térmica ou combustível renovável para regulamentação e das políticas públicas em
veículos, e seu processamento resulta em torno do tema, deixando um legado positivo
biofertilizantes de alta qualidade para uso para o país.
Fundamentos da Digestão Anaeróbia de
Substratos Agroindustriais

Aula 3 – Aspectos Introdutórios Sobre o Setor


Energético e Político

Data da Publicação:

Agosto/2020
Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
2. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS SOBRE O SETOR ENERGÉTICO E
POLÍTICO ................................................................................................................. 12
2.1. Cenário das Energias Renováveis no Brasil............................................... 12
2.2. Aspectos da Regulação do Biogás .............................................................. 13
2.3. Potencial de Biogás no Cenário Internacional e no Sul do Brasil............. 16
3. CONCLUSÃO .................................................................................................... 20
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 21
Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Lista de Figuras

Figura 1 - Evolução da participação de energias renováveis na oferta interna de


energia entre 2009 e 2018. ..................................................................................... 12
Figura 2 - Evolução da capacidade instalada de geração elétrica entre 2009 e
2018........................................................................................................................... 13
Figura 3 - Evolução do marco regulatório relacionado ao aproveitamento do
biogás ........................................................................................................................ 16
Figura 4 - Produção de energia primária a partir do biogás em 2016 ................ 16
Figura 5 - Produção anual de biogás dos países membros do Task-37 - IEA
Bioenergy em 2018 .................................................................................................. 17
Figura 6 - Distribuição da produção de biogás no Brasil em 2016 ..................... 18
Figura 7 - Potencial de geração de biogás de resíduos rurais e agroindustriais
no sul do Brasil ......................................................................................................... 18
Figura 8 - Distribuição espacial do potencial de geração de biogás de resíduos
rurais e agroindustriais no sul do Brasil ................................................................. 19
Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Lista de Quadros

Quadro 1 - Exemplos de relação C:N de substratos de origem rural ................. 12


Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Apresentação do Curso
Seja bem-vindo ao nosso Curso de Fundamentos da Digestão Anaeróbia de
Substratos Agroindustriais. Nosso objetivo é oferecer a você aluno, o conhecimento de
uma forma geral, a respeito das etapas da produção de biogás, as características da
degradação do substrato, parâmetros que influenciam diretamente na produção de
biogás e um panorama do setor com normativas especificas que fazem do biogás um
produto promissor para as energias renováveis em nosso país.
Diante disso, esse curso foi dividido em três aulas, sendo elas:

1ª Aula: Digestão anaeróbica: características do substrato, principais fontes


e etapas da produção de biogás;
2ª Aula: Parâmetros operacionais para produção de biogás e tipos de
reatores;
3ª Aula: Aspectos introdutórios sobre o setor energético e político.

Na primeira aula será apresentado ao aluno os conceitos das etapas para


produção de biogás, as características e os principais substratos que que possuem
potencial para produção de biogás.
Na segunda aula o aluno verá além dos conceitos de pré-tratamentos para os
substratos, os parâmetros internos e externos que influenciam diretamente na operação
dos reatores anaeróbicos e na produção de biogás, além dos tipos de reatores
existentes.
Na terceira aula será apesentado o panorama do setor de biogás, com
normativas, leis e resoluções que atualmente auxiliam no desenvolvimento do produto
biogás.
O curso proporcionará ao aluno conhecimentos específicos para que possa
apoiar e participar efetivamente na elaboração e implantação de projetos e plantas de
biogás.
Esperamos que você consiga se desenvolver ao máximo durante o curso. Bons
estudos e qualquer auxílio que necessite referente as dúvidas, nossa equipe estará à
disposição.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Desenvolvimento Proporcionado
Nesta aula será proporcionado o desenvolvimento de conhecimentos e
habilidades que poderão ser colocados em prática por você ao longo do curso e após a
finalização das atividades propostas:

COMPETÊNCIAS:
1. Conhecimento dos processos de produção do biogás e seus usos;
2. Entendimento de leis e normativas.

HABILIDADES:
1. Observação;
2. Liderança;
3. Visão de negócio.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

1. INTRODUÇÃO

A crescente demanda energética, alinhada com a dependência de fontes


fósseis de energia, possibilitaram a utilização de técnicas para produção de energia
limpa. Um desses sistemas é o da digestão anaeróbica, que além de reduzir problemas
ambientais causados pela disposição inadequada de resíduos e outros fatores de
impactos globais, como a emissão de gases de efeito estufa, produz como resultado o
biogás que é um combustível rico em metano.
A pesquisa por novas fontes de energias renováveis virou uma demanda de
diversos atores e organizações mundiais. E o biogás está nesta lista. O avanço de
políticas públicas voltadas ao setor do biogás e biometano, a difusão do conhecimento
e os arranjos mercadológicos promovidos pelas instituições ligadas ao tema têm
favorecido o crescimento anual da produção de biogás e a atratividade para o tema no
cenário nacional e internacional, como pode ser visto ao longo dessa aula.
O histórico do surgimento do biogás em nosso país, o cenário das energias
renováveis, os aspectos para utilização e regulação além do potencial de produção de
biogás em níveis internacional e do Sul do Brasil, poderão ser vistos ao longo desta aula.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

2. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS SOBRE O SETOR ENERGÉTICO E


POLÍTICO

2.1. Cenário das Energias Renováveis no Brasil

A participação das energias renováveis no Brasil passou de 43,0% em 2017


para 45,3% em 2018, ou seja, um aumento de 5,3% (Figura 1). Este cenário coloca o
País em posição de destaque mundial em comparação aos 13,7% na matriz energética
média mundial e de apenas 9,7% dos países membros da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2016.

Figura 1 - Evolução da participação de energias renováveis na oferta interna de energia entre


2009 e 2018.

Fonte: EPE (2019).

Dentre as energias renováveis para a oferta interna de energia (OIE), destaca-


se a biomassa da cana-de-açúcar com 17,4 % e a energia hidráulica com 13,4 %. O
petróleo continua sendo a maior fonte de energia não renovável, com 34,4% do total. A
geração de energia a partir de ‘lixívia e outros renováveis’ corresponde a 6,9 % da oferta
interna de energia total. Já o biogás corresponde a 1 % dentro desta categoria, com
crescimento de 6,7 % entre 2017 e 2018 (Quadro 1).

Quadro 1 - Exemplos de relação C:N de substratos de origem rural


2017 2018
Fonte Crescimento
(mil tep1) (mil tep)
Lixívia 8.892 9.953 7,4 %
Biodiesel 3.313 4174 26 %
Eólica 3.644 4.169 14,4 %
2
Outras biomassas 1.280 1.351 5,5 %
Biogás 191 204 6,7 %
Gás industrial e carvão vegetal 74 88 18,7 %
Solar 72 298 316,2 %
1 2
tep: tonelada equivalente de petróleo; inclui casca de arroz, capim-elefante e óleos vegetais.
Fonte: EPE (2019).

O Brasil apresenta ainda uma vantagem em termos de emissões atmosféricas


geradas pela produção e consumo de energia em comparação à média mundial. Um

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

brasileiro gera aproximadamente 7,5 vezes menos emissões do que um americano e 3


vezes menos que um europeu ou um chinês, com emissão média de 2,0 toneladas de
CO2-equivalente por habitante em 2016.
A aproveitamento energético do biogás tem papel fundamental na redução das
emissões atmosféricas, principalmente de gases de efeito estufa (GEE), uma vez que o
gás metano possui um potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao CO2, ou
seja, a queima o metano durante a conversão do biogás em energia térmica ou elétrica
reduz significativamente as emissões desta fonte de geração.
Quanto a matriz elétrica brasileira, a porcentagem de energias renováveis é
ainda maior, da ordem de 83%, sendo que destes, as duas maiores fontes são a energia
hidráulica com 66,6 % e a biomassa com 8,5 % do total. O maior crescimento foi
observado para a energia eólica, de 14,4 % em comparação ao ano anterior.
A geração de energia elétrica a partir do biogás vem apresentando crescimento
linear (R² = 0,84) nos últimos anos. Em 2009 foram gerados 45 MW de energia a partir
do aproveitamento do biogás, com geração de 140 MW em 2018, o que representa um
aumento de 211 % nos últimos 10 anos (Figura 2).

Figura 2 - Evolução da capacidade instalada de geração elétrica entre 2009 e 2018.

Fonte: EPE (2019).

As ações de pesquisa, desenvolvimento e fortalecimento de políticas públicas


vem contribuindo para maior difusão do conhecimento, oferta de materiais e
equipamentos, mão de obra qualificada e atratividade para a instalação de plantas de
biogás visando o aproveitamento energético e a redução de custos com a compra de
energia externa em propriedades rurais e agroindústrias.

2.2. Aspectos da Regulação do Biogás


O aproveitamento do biogás como alternativa de tratamento de resíduos
orgânicos para a geração de energia renovável teve destaque em um segundo momento
histórico no Brasil, a partir da aprovação do Protocolo de Quioto. Este protocolo é um
tratado internacional, organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima, que prevê a redução das emissões de GEE como resposta ao
aumento do aquecimento global. O período de discussão, elaboração e aprovação do

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Protocolo de Quioto foi de 1997 a 2005 durante as Conferências das Nações Unidas
sobre as Mudanças Climáticas:
• 1997 (Quioto/Japão): acordo sobre um documento para mitigar as
emissões de GEE;
• 1999 (Bonn/Alemanha): ratificação do Protocolo de Quioto;
• 2005 (Montreal/Canadá): início das ações do Protocolo de Quioto com
a ratificação de 37 países e a União Europeia.

O primeiro período de regulamentação do Protocolo de Quioto foi de 2008-2012,


com objetivo de reduzir as emissões de GEE em 5% em relação às emissões de 1990.
Já o segundo período foi de 2013-2020, com compromisso de redução de GEE em ao
menos 18%, com metas individuais negociadas individualmente por cada país. A
comercialização de ‘créditos de carbono’ ocorreu por meio de reduções certificadas de
emissão (RCE) de GEE a partir do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
em que países que não integravam a OCDE negociavam RCE’s a partir de projetos que
reduziam as emissões.
Sendo assim, o MDL teve papel importante na implantação de plantas de
biogás, focadas inicialmente na comercialização de créditos de carbono. De acordo com
o CIBiogás (2020) cerca de 1.000 biodigestores foram instalados no Brasil a partir dos
incentivos do mercado de crédito de carbono entre 2005 a 2013.
Com o avanço da discussão sobre as políticas públicas nacionais voltadas ao
controle do aquecimento global, foi aprovada em 2012 a Resolução da ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica) No 482. Esta resolução estabeleceu as condições gerais
para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição
de energia elétrica e o sistema de compensação de energia elétrica. A partir do
sistema de compensação de energia elétrica a energia ativa injetada por uma unidade
consumidora com microgeração ou minigeração distribuída é cedida, por meio de
empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo
de energia elétrica ativa.
O compromisso brasileiro em reduzir as emissões de GEE avançou a partir da
15ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que ocorreu em
2009 em Copenhague/Dinamarca onde o país se comprometeu a reduzir entre 36,1 e
38,9 das emissões até o ano de 2020. A partir deste marco foi criado em 2012 o Plano
ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) ou Plano Setorial de Mitigação e de
Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa
Emissão de Carbono na Agricultura. O período de vigência do Plano ABC foi de 2010 a
2020, sendo composto por sete programas referentes às tecnologias de mitigação e
ações de adaptação às mudanças climáticas:
• Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas;
• Programa 2: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistemas
Agroflorestais;
• Programa 3: Sistema Plantio Direto;
• Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio;
• Programa 5: Florestas Plantadas;
• Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais;
• Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Em 2017, o Brasil aprovou a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio)


a partir da Lei No 13.576/17, que prevê os seguintes objetivos:
• Contribuir com os compromissos firmados pelo Brasil quanto ao Acordo
de Paris;
• Contribuir com a eficiência energética e redução de GEE na produção,
comercialização e uso de biocombustíveis;
• Promover a expansão da produção e uso de biocombustíveis na matriz
energética nacional;
• Aumentar a participação competitiva dos diversos biocombustíveis no
mercado nacional de combustíveis.

O RenovaBio tem como principal instrumento o estabelecimento de metas


anuais de descarbonização no setor de combustíveis entre 2019 e 2029, definidas pela
Resolução CNPE Nº 15/19.
De forma pioneira, o estado do Paraná aprovou em 2018 a Política Estadual
do Biogás e Biometano a partir da Lei No 19.500/18. O objetivo desta Lei é dar maior
segurança jurídica aos empreendedores do setor do biogás e Biometano e abrir
oportunidades de negócios baseados nas energias renováveis.
A Política Estadual do Biogás e Biometano estabelece princípios, regras,
obrigações e instrumentos de organização, incentivos, fiscalização e apoio às cadeias
produtivas, visando ao enfrentamento das mudanças climáticas e à promoção do
desenvolvimento regional com sustentabilidade ambiental, econômica e social. A Lei
também estabelece ao poder público fomentar a produção e o consumo de biogás e
biometano gerados no Paraná, por meio de programas específicos que promovam:
• A adição de um percentual mínimo de biometano ao gás canalizado
distribuído no território do Estado do Paraná;
• O estabelecimento de tarifas e preços mínimos para o biometano que
for adicionado ao gás canalizado distribuído no território do Estado do
Paraná;
• A aquisição de energia elétrica gerada a partir do biogás;
• A aquisição de biometano para o abastecimento da frota de veículos
oficiais;
• A aquisição de certificados de descarbonização;
• A criação de fundo garantidor para projetos de produção de biogás ou
biometano de pequeno porte definidos em regulamento;
• A criação de linhas de financiamento nas agências financeiras
estaduais;
• O estabelecimento de parcerias público-privadas para o
desenvolvimento da cadeia produtiva do biogás, do biometano e demais
produtos e direitos derivados da decomposição de matéria orgânica
(biodigestão).

A Figura 3 apresenta a evolução do marco regulatório relacionado ao


aproveitamento do biogás e biometano entre 2005 e 2019 no cenário global e regional.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Figura 3 - Evolução do marco regulatório relacionado ao aproveitamento do biogás

Fonte: CIBiogás (2010).

2.3. Potencial de Biogás no Cenário Internacional e no Sul do Brasil

O sistema energético global ainda é dependente de combustíveis fósseis. Em


2016, o carvão, petróleo e gás natural representaram juntos 81% da energia primária
global. No entanto, desde o ano 2000 a participação das energias renováveis tem
crescido, em média, 1% ao ano. A energia proveniente da biomassa (bioenergia) é a
maior fonte de energia renovável no mundo, sendo responsável por 70% da geração
total de energias renováveis. Estima-se a geração de 61 bilhões de m³ de biogás no
mundo em 2016. A Europa foi responsável por mais de 50% da produção, enquanto a
Ásia responde por aproximadamente 30% e a América 15% (World Bioenergy
Association, 2018) (Figura 4).

Figura 4 - Produção de energia primária a partir do biogás em 2016

Fonte: IEA World Energy Statistics.

No Cenário Europeu, a Alemanha apresenta destaque quanto ao número de


plantas de biogás, com mais de 10.000 plantas instaladas, seguida pelo Reino Unido,
com aproximadamente 1.000, França com aproximadamente 700 e Suíça com

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

aproximadamente 600 plantas. Os demais países da Europa possuem menos de 500


plantas (IEA Bioenergy, 2020).
A grande maioria das plantas de biogás instaladas nas Europa utilizam como
substratos os resíduos da agricultura e agroindústria, especialmente a Alemanha,
Áustria, França, Dinamarca e Holanda. O aproveitamento do biogás a partir de aterros
sanitários é mais comum em países como Austrália e Reino Unido. Já a produção de
biogás em estações de tratamento de efluentes é mais comum em países como a Suíça
e Suécia.
A biogás produzido na maioria dos países é transformado em calor e energia
elétrica. A Suécia é a única exceção, onde o biogás é majoritariamente transformado
em biometano para o aproveitamento como combustível veicular.
O Brasil vem aumentando anualmente a capacidade de produção de biogás.
Em 2016 o país contava com 165 plantas em operação e produção 2,2 milhões de
metros cúbicos de biogás por dia (5,219 GWh/ano) (IEA Bioenergy, 2020) (Figura 5).

Figura 5 - Produção anual de biogás dos países membros do Task-37 - IEA Bioenergy em 2018

Fonte: IEA Bioenergy (2020)

Os resíduos da agropecuária representam a maior parcela de plantas


instaladas, com 49% do total. Já agroindústrias representam 33%, os aterros sanitários
7%, as estações de tratamento de esgoto sanitário (ETE) 6% e plantas que utilizam
outros substratos representam 5% do total de plantas instaladas. Por outro lado, a maior
geração de energia se concentra nos aterros sanitários, com 58% da energia total
gerada, seguida pela agropecuária e agroindústria. A geração de energia em ETE’s e a
partir de outros substratos como os resíduos de alimentos ainda representam uma
pequena parcela do total (Figura 6).

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Figura 6 - Distribuição da produção de biogás no Brasil em 2016

Fonte: IEA Bioenergy (2020)

Analisando o contexto regional do sul do Brasil é possível observar o potencial


significativo de produção de biogás a partir de diversos substratos rurais e
agroindustriais. No estudo ‘Potencial de Produção de Biogás no Sul do Brasil’, realizado
pelo CIBiogás em 2019, identificou-se o potencial de seis principais fontes geradoras de
matéria orgânica na região, totalizando 3,3 bilhoes de metros cúbicos ao ano (Figura 7).

Figura 7 - Potencial de geração de biogás de resíduos rurais e agroindustriais no sul do Brasil

Fonte: CIBiogás (2019).

A maior parte do potencial está na bovinocultura, com 51 % do total. Já os


laticínios representam a menor parcela, com apenas 2 %. É possível observar ainda que
o maior potencial está nas regiões oeste, sudoeste e noroeste do Paraná, oeste
catarinense e noroeste, nordeste e centro oriental do Rio Grande do Sul.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

Figura 8 - Distribuição espacial do potencial de geração de biogás de resíduos rurais e


agroindustriais no sul do Brasil

Fonte: CIBiogás (2019).

O acesso à tecnologia, cooperativismo, implementação de políticas públicas,


inovações em arranjos mercadológicos e eficiência quanto à gestão ambiental destes
processos produtivos são as peças-chave para que este potencial seja convertido em
produção real, permitindo a efetivo crescimento econômico e desenvolvimento regional,
com sustentabilidade ambiental.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

3. CONCLUSÃO

Para que hoje o biogás seja considerado como uma fonte de energia, diversas
discussões a níveis internacional e nacional ocorreram e com diversos atores e
organismos. Essas discussões são importantes para o fortalecimento e aplicação
correta dessa fonte de energia.
E com essas discussões sobre a utilização do biogás e os ganhos ambientais
que são resultados desse seu uso, a cadeia do biogás tem crescido nos últimos anos.
E com isso várias pesquisas sobre o potencial do biogás com diversos substratos tem
ocorrido. Isso nos mostra como a geração do biogás é diversificado, podendo ser gerado
de diversos substratos, por meio da digestão anaeróbica.
Conclui-se então que é importante a discussão de políticas para incentivo ao
tratamento dos resíduos e ao uso do biogás, bem como incentivos financeiros por meio
de linhas de financiamento para que produtores tenham acesso aos recursos para poder
instalar suas plantas e utilizar o biogás como fonte de energia.

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Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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21
Aspectos Introdutórios Sobre o Setor Energético e Político

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