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FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE

AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA


SUMÁRIO

FISIOLOGIA CELULAR
1. Introdução...................................................................... 3
2. Estrutura e componentes celulares..................... 4
3. Membrana plasmática............................................21
4. Sinalização celular....................................................45

POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA


1. O sistema nervoso...................................................70
2. Neurônios.....................................................................70
3. Potencial de ação e potencial de membrana.75
4. Propagação do potencial de ação......................88
5. Transmissão sináptica.............................................95
6. Modulação da atividade sináptica...................103
7. Neurotransmissores..............................................106
Referências Bibliograficas.......................................114
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FISIOLOGIA CELULAR eritrócitos humanos maduros, todas


as células do organismo contêm um
1. INTRODUÇÃO núcleo. Portanto, a célula se divide,
As células são os blocos elementares efetivamente, em dois compartimen-
de construção do corpo, fornecendo tos: o núcleo e o citoplasma.
a estrutura dos tecidos e órgãos, in- O núcleo é separado do citoplasma
gerindo nutrientes e convertendo-os pela membrana nuclear, e o citoplas-
em energia, e executando funções ma é separado dos líquidos circun-
especializadas. As células também dantes pela membrana celular, ou
contêm o código hereditário que con- membrana plasmática. O citoplasma
trola as substâncias sintetizadas por é uma solução aquosa que contém
elas, o que lhes permite fazer cópias diversas moléculas orgânicas, íons,
de si mesmas. elementos citoesqueléticos, além de
As células eucarióticas se distinguem estruturas físicas altamente organi-
pela presença de um núcleo delimita- zadas, chamadas organelas intrace-
do por membrana. Com exceção dos lulares, as quais são essenciais para a
manutenção da função celular.

Cromossomos e DNA

Centríolos

Grânulos de
secreção Complexo
golgiense
Microtúbulos
Membrana
nuclear Membrana
celular
Nucléolo

Glicogênio

Ribossomos
Lisossomo

Mitocôndria Retículo Retículo Microfilamentos


endoplasmático endoplasmático
rugoso liso

Figura 1. Reconstrução de célula típica, mostrando as organelas internas no citoplasma e no núcleo. Fonte: HALL,
John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
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2. ESTRUTURA E cromossomo é uma estrutura extre-


COMPONENTES mamente organizada, contendo ge-
CELULARES nes (DNA) e proteínas associadas
(em especial, as histonas). Os genes
Núcleo
determinam as características das
O núcleo, que é o centro de contro- proteínas da célula e controlam e pro-
le celular, contém grande quantidade movem a reprodução da própria célu-
de DNA, que compreende o geno- la. Além disso, o núcleo contém a ma-
ma da célula. Nas células somáticas, quinaria enzimática necessária para
esse genoma está contido em 46 cro- a replicação, transcrição e eventuais
mossomos, 22 pares autossômicos e reparos no DNA, e para a produção
um par de cromossomos sexuais. O do RNA mensageiro (RNAm).

Poros
Nucleoplasma

Retículo
endoplasmático

Nucléolo
Envelope nuclear –
membranas externa
e interna

Cromatina (DNA)

Citoplasma

Figura 2. Estrutura do núcleo. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton
e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
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A membrana nuclear, também cha- passagem das moléculas que entram


mada de envelope nuclear, é, na ver- e saem do núcleo.
dade, constituída por duas membra- Na maioria das células, no interior de
nas. A membrana externa é contínua seus núcleos, há uma ou mais estru-
com o retículo endoplasmático do ci- turas conhecidas como nucléolos. O
toplasma celular, e o espaço entre as nucléolo não apresenta membrana
duas membranas é contínuo com o delimitadora e corresponde a um acú-
espaço interno do retículo. Essa mem- mulo de grande quantidade de RNA e
brana é permeada por milhares de proteínas que serão utilizadas na pro-
poros nucleares, os quais controlam a dução dos ribossomos, organela que
será vista adiante.
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MAPA MENTAL – NÚCLEO

Contínua com o RE

Poros nucleares
Sem membrana

Membrana externa
Produção de ribossomos
Centro de controle da célula

Dupla membrana
RNA e proteínas

NÚCLEO
Nucléolo Envelope nuclear
CELULAR

Componentes

Genoma Maquinaria enzimática

Proteínas Histonas

DNA Cromossomos

23 pares

22 autossômicos

1 sexual
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Mitocôndrias A estrutura básica da mitocôndria é


composta principalmente por duas
As mitocôndrias estão em todas as
membranas, cada uma formada por
áreas citoplasmáticas de cada célula,
bicamada lipídica e proteínas: uma
mas o número total por célula varia
membrana externa e uma membra-
de acordo com a energia necessário,
na interna. A membrana mitocondrial
haja vista que a mitocôndria é a or-
externa permite a passagem de mo-
ganela capaz de produzir energia na
léculas de até 5 kDa, de modo que
forma de ATP, essencial para todas
a composição do espaço intermem-
as funções celulares. Elas costumam
branoso é semelhante à do citoplas-
se concentrar nas porções da células
ma no que diz respeito a pequenas
responsáveis pela maior parte do seu
moléculas e íons. Diversas dobras da
metabolismo energético. Além dis-
membrana interna formam túbulos
so, costumam variar em tamanho e
chamados cristas, que estão aderidas
forma.
as enzimas oxidativas. Essas cristas
proporcionam uma grande superfí-
SE LIGA! As células do músculo cardí- cie onde ocorre as reações químicas.
aco (cardiomiócitos) utilizam grandes
Além disso, a cavidade interna da mi-
quantidades de energia e têm muito
mais mitocôndrias do que as células de tocôndria corresponde à matriz, que
gordura (adipócitos), que são muito me- contém grandes quantidades de en-
nos ativas e consomem menos energia. zimas dissolvidas, necessárias para
a extração de energia dos nutrientes
– enzimas do ciclo do ácido cítrico e
oxidação dos ácidos graxos.
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Membrana
Membrana externa
interna
Membrana interna

Cristas Matriz

Enzimas para a
fosforilação oxidativa
Câmara externa

Figura 3. Estrutura da mitocôndria. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton
e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
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MAPA MENTAL – MITOCÔNDRIA

Ciclo do ácido cítrico

Matriz mitocondrial
Oxidação dos
ácidos graxos

Presença de
Cristas mitocondriais
enzimas oxidativas

Espaço
Similar ao citosol
intermembranoso

Local da
Membrana interna
fosforilação oxidativa

Membrana externa Passagem de moléculas

Estrutura

Concentram-se nas regiões de Maior quantidade em células que


MITOCÔNDRIA
maior metabolismo energético consomem muita energia

Ex.: Cardiomiócitos
Produção de energia
em forma de ATP

SAIBA MAIS!
Acredita-se que as mitocôndrias tenham evoluído a partir de um procarioto aeróbio que vivia
no interior de células eucarióticas primitivas. Elas contêm DNA próprio para codificação das
suas enzimas, além do RNA necessário para a transcrição e tradução do DNA mitocondrial.
A presença do DNA, da dupla membrana e sua capacidade de autorreplicação são algumas
características que corroboram para essa hipótese de que as mitocôndrias eram procariotos
que vivam em simbiose com células eucarióticas.
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Retículo Endoplasmático Rugoso Aparelho de Golgi


O retículo endoplasmático rugoso O aparelho de Golgi, ou complexo
(REr) é uma extensa rede de mem- golgiense, está intimamente relacio-
branas, especialmente bem desen- nado com o retículo endoplasmático.
volvido em células que produzem e As proteínas sintetizadas no retículo
secretam proteínas, como as células endoplasmático rugoso são transferi-
acinares do pâncreas. A essas mem- das ao aparelho de Golgi por meio de
branas, se ligam os ribossomos, o que vesículas revestidas. Normalmente
confere ao REr a característica de ser é composto de quatro ou mais sacos
o local de tradução do RNAm, para membranosos achatados, finos, em-
síntese de proteínas, além de realizar pilhados e dispostos na vizinhança de
modificações pós-traducionais das um dos lados do núcleo.
proteínas que serão secretadas pelas Além de promover modificações pós-
células ou direcionadas à membra- -traducionais nas proteínas vindas do
na plasmáticas ou outras organelas retículo, o aparelho de Golgi também
membranosas, como o aparelho de distribui as proteínas e as envolve em
Golgi. vesículas para que sejam enviadas a
outras partes da célula, como mem-
SE LIGA! Os ribossomos são compos- brana plasmática, lisossomos e grâ-
tos por RNA e por proteínas e atuam na nulos de secreção.
síntese de novas moléculas de proteí-
nas a partir da tradução do RNAm. Sua
presença nas membranas do REr, ao
microscópio eletrônico, atribui uma apa-
rência rugosa a essa organela, fazendo
com que ela receba esse nome.
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Vesículas golgienses

Complexo
golgiense
Vesículas RE

Retículo
endoplasmático

Figura 4. Complexo golgiense típico e sua relação com o retículo endoplasmático (RE) e com o núcleo. Fonte: HALL,
John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SAIBA MAIS!
O complexo golgiense corresponde a uma estrutura polarizada, cujas faces são diferentes –
sua superfície convexa ou face cis recebe as vesículas que saem do retículo endoplasmático
contendo as proteínas recém-formadas, enquanto a superfície côncava ou face trans origina
vesículas onde o material deixa o Golgi. Com isso, as cisternas do aparelho de Golgi apresen-
tam enzimas diferentes conforme sua posição, segundo o sentido cis-trans.
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MAPA MENTAL – APARELHO DE GOLGI

Promove modificações
pós-traducionais
Recebe vesículas

Recebe as proteínas do RE

Face trans

APARELHO Formação de vesículas


Estrutura polarizada
DE GOLGI secretórias

Face cis
Formado por sacos
membranosos finos e achatados

Origina vesículas

Retículo endoplasmático liso associados à membrana. Serve para


a síntese de substâncias lipídicas e
O retículo endoplasmático liso (REl), para outros processos de metaboliza-
ou agranular, recebe esse nome ção e modificação de diversas subs-
devido à ausência de ribossomos tâncias das células, promovidos pelas
enzimas intracelulares.
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Retículo
endoplasmático Retículo
granular endoplasmático
agranular

Figura 5. Estrutura do retículo endoplasmático. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia
Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SE LIGA! No retículo endoplasmático liso, moléculas hidrofóbicas podem ser convertidas em


hidrossolúveis, facilitando, assim, sua excreção no organismo pela ação do fígado ou dos
rins. Além disso, devido a capacidade dessa organela de sintetizar lipídios, as células das
glândulas suprarrenais que secretam o cortisol, hormônio esteroide, e as células do ovários e
testículos, que secretam alguns hormônios, apresentam um REl bem desenvolvido.

SAIBA MAIS!
Nas células musculares, o REl é altamente especializado no armazenamento de íons cálcio,
essenciais para a contração muscular, de modo que essa organela recebe o nome retículo
sarcoplasmático.
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MAPA MENTAL - RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO

Libera vesículas para a membrana


celular e outras organelas

Síntese e modificações
pós-traducionais de proteínas

Associado a ribossomos

Rugoso

RETÍCULO
ENDOPLASMÁTICO

Liso

Metabolização e Conversão de moléculas


modificação de substâncias hidrofóbicas em hidrossolúveis

Síntese de lipídios

Ausência de ribossomos

Células musculares Armazenamento de cálcio


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Lisossomos O processo de degradação não é


aleatório, sendo, muitas vezes, dire-
Os lisossomos são organelas vesicu-
cionado. Por exemplo, as proteínas
lares que se formam separando-se do
chamadas chaperonas podem dire-
complexo golgiense e, depois, se dis-
cionar proteínas intracelulares para
persando pelo citoplasma. Constituem
os lisossomos. Além disso, proteínas
um sistema digestivo intracelular que
da membrana plasmática podem ser
permite que a célula faça a digestão de
marcadas para endocitose e sua sub-
(1) estruturas celulares danificadas (au-
sequente degradação pelos lisosso-
tofagia), (2) partículas de alimentos que
mos, por meio da ligação de grupos
foram ingeridos pela célula e (3) mate-
específicos (p. ex., ubiquitina) à prote-
riais indesejados, tais como bactérias.
ína. Esses grupos atuam como sinais
São cercados por uma membrana de para a degradação da proteína.
bicamada lipídica, o interior é ácido (pH
por volta de 4,5) e contêm diversas en-
zimas digestivas (hidrolases), dentre Proteossomos
elas, fosfatases, proteases, nucleases, Assim como os lisossomos, os pro-
glicosidases, lipases, fosfolipases e sul- teossomos têm função degradativa.
fatases. O pH ácido é mantido por meio No entanto, não são organelas mem-
de H+-ATPases presentes em sua branosas. Têm a função de degradar,
membrana, que bombeiam íons H+ principalmente, as proteínas intrace-
para o interior dos lisossomos. lulares que foram marcadas (p. ex.,
ubiquitinadas) para a degradação.
SE LIGA! Essas organelas são encon- Também podem degradadas algumas
tradas em todas as células, porém, são proteínas associadas à membrana.
mais abundantes nas fagocitárias, como
os macrófagos e os leucócitos neutró-
filos, e o conteúdo enzimático varia de
acordo com a célula.

SAIBA MAIS!
Os cientistas descobriram que as proteínas indesejadas, capazes, por exemplo, de levar a erros
na multiplicação das células, recebem o que foi denominado de “beijo da morte” de uma mo-
lécula chamada ubiquitina, que se fixa a elas e as conduzem até os proteossomos. Um pouco
antes da destruição pelos proteossomos começar, a ubiquitina solta-se de sua vítima e começa
a procurar outra proteína a ser descartada. A descoberta desse mecanismo do “beijo da morte”
rendeu o prêmio Nobel de Química ao bioquímico norte-americano Irwin Rose em 2004.
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Peroxissomos para formar o peróxido de hidrogênio


(H2O2). O peróxido de hidrogênio é
Os peroxissomos são fisicamente
uma substância altamente oxidante e
parecidos com os lisossomos, mas
usado em combinação com a catala-
diferentes em dois aspectos impor-
se, outra oxidase presente em grande
tantes. Primeiro, acredita-se que eles
quantidade nos peroxissomos, para
sejam formados por autorreplicação
oxidar muitas substâncias que de ou-
(ou talvez por brotamento do retículo
tra forma poderiam ser tóxicas para a
endoplasmático liso) e não pelo com-
célula. Além disso, os peroxissomos
plexo golgiense. Em segundo lugar,
podem catabolizar os ácidos graxos
eles contêm oxidases em vez de hi-
de cadeia longa.
drolases. Diversas oxidases são ca-
pazes de combinar oxigênio com íons
hidrogênio derivados de diferentes SE LIGA! No fígado, os peroxissomos
metabolizam cerca de metade do ál-
substâncias químicas intracelulares cool que uma pessoa bebe, formando
acetaldeído.
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MAPA MENTAL – ORGANELAS VESICULARES

Macromoléculas
(nutrientes metabólicos)

Materiais indesejados

Estruturas celulares
danificadas

H+-ATPases
Presença de hidrolases

Presença de membrana Sistema digestivo intracelular Interior ácido

Lisossomos

ORGANELAS
VESICULARES

Peroxissomos Proteassomos

Não formam-se do
Ausência de membrana
Complexo de Golgi

Catabolismo de ácidos
Função degradativa
graxos de cadeia longa

Presença de oxidases Proteínas intracelulares


e de membrana

Oxidação de
substâncias tóxicas
Ubiquitinadas
Formação de peróxido
de hidrogênio

“Beijo da morte”
Catalase
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Ribossomos livres estão relacionados à locomoção (ex.:


macrófagos). A actina também com-
Os ribossomos podem ser encontra-
põe o cerne das microvilosidades e
dos dispersos pelo citoplasma, não
liga o interior de célula a célula adja-
estando associados ao retículo endo-
centes por meio de junções celulares.
plasmático. Têm a função de traduzir
o RNAm, formando as proteínas ci- Os filamentos intermediários são im-
tosólicas e que não serão secretadas portantes na sustentação e estrutu-
pela célula nem incorporadas a estru- ração do envelope nuclear, na coesão
turas membranosas, como as enzi- entre células epiteliais (junções célu-
mas mitocondriais. la-célula) e na resistência mecânica
contra estresses físicos. São forma-
dos por uma grande e diversa família
Citoesqueleto de proteínas fibrosas. Por exemplo,
O citoesqueleto celular é uma rede as células epiteliais têm filamentos
de proteínas fibrilares geralmente or- de queratina, enquanto os neurônios
ganizadas em filamentos ou túbulos. têm neurofilamentos.
As moléculas precursoras são sin- Por fim, os microtúbulos são a tercei-
tetizadas pelos ribossomos no cito- ra classe de componentes do citoes-
plasma e se polimerizam para formar queleto, sendo o mais espesso dentre
filamentos. O citoesqueleto participa eles. Os microtúbulos estão envolvi-
de uma série de eventos celulares di- dos em diversos processos celulares,
nâmicos, tais como: a divisão celular, incluindo a formação dos centríolos e
o transporte intracelular de vesículas, do fuso mitótico (para separação dos
o movimento flagelar ou ciliar, mo- cromossomos para as células-filhas)
bilidade celular e a fagocitose. Seus durante a divisão celular, o tráfego
componentes são os filamentos de intracelular de vesículas e organe-
actina (também chamados de micro- las e a formação dos cílios e flagelos.
filamentos), filamentos intermediários São formados pela polimerização de
e microtúbulos. proteínas globulares, denominadas
Os filamentos de actina, ou microfi- tubulinas α e β, que foram os hete-
lamentos, apresentam o menor di- rodímeros responsáveis pelo alonga-
âmetro, entre os componentes do mento do filamento. Em geral, existe
citoesqueleto, e são formados pela um centro organizador dos microtú-
polimerização da proteína globu- bulos, também conhecido como cen-
lar actina G. Nas células musculares, trossomo, próximo ao núcleo celular,
são componentes fundamentais do e os microtúbulos crescem a partir
aparelho contrátil. Em outras células, desse centro em direção à periferia
da célula.
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FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS

FILAMENTOS DE ACTINA

MICROTÚBULOS

Figura 6. Elementos do citoesqueleto. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Mar-
tin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 864p

SE LIGA! O movimento de vesículas e organelas proporcionado pelos microtúbulos é impul-


sionado por proteínas motoras. Uma proteína motora, a cinesina, impulsiona o transporte do
centro da célula em direção à periferia, enquanto outra proteína motora, a dineína impulsiona
o movimento no sentido contrário. A dineína é a proteína motora responsável pelo movimento
dos cílios e flagelos.
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MAPA MENTAL – CITOESQUELETO

Contração muscular

Junções celulares

Funções

Locomoção

Menor diâmetro

Microvilosidades
Centríolos Formados
por actina G

Fuso mitótico
Filamentos de actina
Resistência mecânica

Cílios e flagelos

Junções célula - célula


Proteínas motoras Tráfego intracelular de
(cinesina e dineína) vesículas e organelas CITOESQUELETO
Sustentação do
envelope nuclear
Funções

Funções
Formados por Filamentos
Centrossomo Microtúbulos
tubulinas α e β intermediários
Formados por
proteínas fibrosas
Maior diâmetro
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3. MEMBRANA hormônios e vias de transdução de


PLASMÁTICA sinal
As células do organismo são cerca- • Organização tecidual, como as jun-
das pela membrana plasmática, uma ções celulares, além de interação
estrutura fina, flexível e elástica que com a matriz extracelular por meio
separa o conteúdo intracelular do de diversas moléculas de aderên-
ambiente extracelular. Além disso, as cia celular
membranas também cercam diversas • Atividade enzimática
organelas intracelulares, subdividindo
as células em compartimentos onde • Determinação da forma celular,
ocorrem diversos processos intrace- pela ligação do citoesqueleto à
lulares importantes. membrana plasmática
Devido às propriedades e à compo- Composição
sição da membrana, ela está relacio- As membranas celulares são com-
nada a diversas funções celulares im- postas basicamente por uma bica-
portantes, entre elas: mada lipídica e proteínas associadas.
• Transporte seletivo de moléculas A bicamada lipídica, um fino filme for-
para dentro e para fora da célula, mado por dupla camada de lipídios
função realizada pelas proteínas – cada camada com espessura de
de transporte; apenas uma molécula – contínua por
toda a superfície da célula. Essa du-
• Reconhecimento celular pla camada é composta por três tipos
• Comunicação celular por meio de principais de lipídios: fosfolipídios, es-
neurotransmissores, receptores de fingolipídios e colesterol.
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Cadeia glicídica do
Cadeia glicídica do
glicolipídio
glicolipídio

Bicamada
fosfolipídica

Proteína periférica
Proteína Lipídio
integral

Figura 7. Esquema da ultraestrutura da membrana plasmática. Fonte: AIRES, Margarida de Mello.


Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012

Lipídios superfícies (intracelular e extracelu-


lar) da membrana celular completa.
Os fosfolipídios constituem o tipo mais
abundante na membrana e são molé-
culas anfipáticos, isto é, são caracte- SE LIGA! O álcool ligado ao glicerol do
rizados por uma extremidade solúvel fosfolipídio é variável, sendo os mais co-
muns a colina, a etanolamina, a serina,
em água (hidrofílica), formada por gli- o inositol e o glicerol. De acordo com o
cerol e um álcool ligado a ele por meio álcool presente, o fosfolipídio recebe um
de um grupo fosfato, enquanto outra nome característico, como fosfatidilseri-
na, fosfatidilinositol, fosfatidiletanolami-
extremidade é solúvel apenas em li-
na etc.
pídios (hidrofóbica), formada por duas
caudas de ácidos graxos. Pelo fato
de as partes hidrofóbicas das molé- Os esfingolipídios, derivados do ami-
culas de fosfolipídio serem repelidas noálcool esfingosina, também têm
pela água, mas, se atraírem entre si, grupos hidrofóbicos e hidrofílicos,
elas espontaneamente se dispõem estão presentes em pequenas quan-
no interior da membrana. Já as par- tidades nas membranas celulares,
tes hidrofílicas constituem as duas particularmente nas células nervosas
e atuam em diversas funções (ex.:
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proteção contra fatores ambientais lipossolúveis e encontram-se dissol-


prejudiciais, transmissão de sinais e vidas na bicamada da membrana.
como sítios de adesão para proteínas É encontrado nos dois folhetos da
extracelulares). membrana e serve para estabilizar a
As moléculas de colesterol na mem- membrana na temperatura corporal
brana também são lipídios, apresen- normal, exercendo influência sobre
tam núcleos esteroides altamente sua fluidez.

Fosfolipídio Glicolipídio Colesterol


Região hidrofílica

Álcool
Açúcar
(p.ex., galactose)

Fosfato Grupo
OH

Região
“Caudas esteroide
Região hidrofóbica

de
ácidos
graxos”
Cauda
de
ácidos
graxos

Figura 8. Modelos das principais classes de lipídio da membrana plasmática. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON,
Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

SE LIGA! Como os lipídios e as proteínas podem se difundir pelo plano da membrana e sua
aparência varia regionalmente, em virtude da presença de diferentes proteínas, a descrição
da estrutura da membrana plasmática é frequentemente chamada de modelo do mosaico
fluido. A fluidez da membrana é determina pela temperatura e por sua composição lipídica.
À medida que a temperatura aumenta, a membrana fica mais fluida. A presença de cadeias
insaturadas de ácidos graxos nos lipídios também aumenta a fluidez da membrana.]
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A composição dos fosfolipídios da folhetos da bicamada (assimetria),


membrana varia entre os distintos ti- como vemos na tabela abaixo:
pos celulares, e, até mesmo, entre os

FOSFOLIPÍDEO LOCALIZAÇÃO NA MEMBRANA (CAMADA)


Fosfatidilcolina Externa
Esfingomielina Externa
Fosatidiletanolamina Interna
Fosfatidilserina Interna
Fosfatidilinositol* Interna
Tabela 1. Distribuição dos fosfolipídios na membrana plasmática. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A..
Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

com os quais interagem através de


pontes de hidrogênio ou eletrosta-
SE LIGA! Algumas membranas contêm
lipídios que se agregam, formando es- ticamente. No entanto, as proteí-
truturas chamadas de balsas lipídicas. nas periféricas se ligam, com mais
Essas balsas, frequentemente, estão frequência, a proteínas integrais
associadas a proteínas específicas e se
difundem como unidades distintas no
ou ancoradas, por lipídeos. Essas
plano da membranas. As balsas lipídicas proteínas podem ser removidas da
parecem ter diversas funções; um delas membrana com tratamentos pou-
é segregar os mecanismos e as molécu- co agressivos, tais como mudança
las de sinalização.
do pH ou da força iônica do meio.
Tais manobras interferem, quase
Proteínas que exclusivamente, nas intera-
Além dos lipídios, outros componen- ções proteína-proteína, não intro-
tes muito importantes das membra- duzindo modificações nos lipídios.
nas são as proteínas, as quais com- • Proteínas ancoradas – Normal-
põem até 50% da membrana. As mente, encontram-se covalente-
proteínas de membrana são classifi- mente ancoradas através de molé-
cadas, de acordo com sua localização culas lipídicas.
na bicamada, em 3 grupos essenciais:
• Proteínas integrais (intrínsecas) –
• Proteínas periféricas (extrínsecas) São aquelas inseridas de tal modo
- Compreendem aquelas que não na membrana celular que intera-
chegam a interagir fortemente com gem não só em nível de cabeças
as cadeias hidrocarbônicas dos li- polares, mas também com as regi-
pídios, situando-se essencialmen- ões hidrofóbicas dos fosfolipídios.
te na região dos grupos polares, Por essa razão, podem ser vistas
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também como substâncias anfipá- se estendem para a superfície exter-


ticas, já que devem ter regiões po- na da membrana da célula. Muitos
lares e outras apolares para intera- outros compostos de carboidratos,
ção com os lipídios. Sua remoção chamados proteoglicanos – que são
requer tratamentos mais drásticos, principalmente carboidratos ligados
com substâncias que destroem a ao núcleo de pequenas proteínas -,
membrana, como os detergentes. estão frouxamente ligados também
As proteínas integrais, por trans- à superfície externa da célula. Assim,
passarem completamente a bica- toda a superfície externa da célula,
mada, servem à conexão entre o em geral, apresenta um revestimen-
intra e o extracelular, prestando- to frouxo de carboidratos conhecido
-se à passagem de substâncias como glicocálice. Essa camada de
(como é o caso de carregadores açúcares exerce algumas funções na
transmembranas e canais iônicos) célula:
ou à transmissão de mensagens
• Muitos deles têm carga elétrica ne-
ao intracelular (como é o caso de
gativa, o que dá à maioria das cé-
receptores).
lulas uma superfície negativamen-
te carregada que repele ânions.
SE LIGA! Uma proteína intrínseca pode
atravessar a membrana uma única vez • O glicocálice de algumas células se
ou ter regiões que atravessam a bica- une ao glicocálice de outras, assim
mada múltiplas vezes. Em qualquer situ- fixando as células umas às outras.
ação, tem que ser admitido que a região
mergulhada no interior da bicamada • Muitos dos carboidratos agem
deve ser constituída por aminoácidos como receptores de substâncias
hidrofóbicos.
para a ligação de hormônios, ati-
vando proteínas internas acopla-
Carboidratos das que, por sua vez, ativam cas-
cata de enzimas intracelulares.
Os carboidratos na membrana ocor-
rem, quase invariavelmente, em com- • Alguns domínios de carboidratos
binação com proteínas ou lipídios, participam de reações imunes.
na forma de glicoproteínas ou glico-
lipídios. Na verdade, muitas proteí-
Transporte pela membrana
nas integrantes são glicoproteínas, e
cerca de um décimo das moléculas Os líquidos intra e extracelulares são
de lipídios da membrana é composto compostos, principalmente, por água,
de glicolipídios. Geralmente, as por- na qual se dissolvem os solutos, como
ções de açúcares dessas moléculas íons, glicose, aminoácidos e outras
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 26

moléculas. A funcionalidade normal de restringir o movimento de água.


das células requer o movimento con- Assim, a não ser pelos gases e pelo
tínuo de água e solutos para dentro e etanol que são capazes de se difundir
para fora da célula. Nesse sentido, a através da bicamada lipídica (difusão
característica anfipática da membrana simples), as demais substâncias só
faz com que ela funcione como uma são capazes de cruzar a membrana
barreira seletiva controlando o movi- plasmática através de proteínas de
mento de, praticamente, todos esses transporte específicas.
solutos de importância biológica, além

SE LIGA! O gradiente eletroquímico corresponde a uma medida de energia livre disponível


para realizar o trabalho útil de transportar a molécula através da membrana. Apresenta dois
componentes – um deles representa a energia no gradiente de concentração para uma subs-
tância X através da membrana (diferencial de potencial químico), enquanto o outro (diferença
de potencial elétrico) representa a energia associada a moléculas carregadas em movimento
(ex.: íons) através da membrana, quando existe um potencial de membrana. Assim, para o
movimento da glicose, por exemplo, através de uma membrana, só é necessário considerar
as concentrações de glicose dentro e fora da célula. No entanto, o movimento de através da
membrana, por exemplo, seria determinado tanto pela concentração de dentro e fora da cé-
lula quanto pela voltagem da membrana.

Considerando que já sabemos o que prevista pelo gradiente eletroquímico


é gradiente eletroquímico, entende- e corresponde aos processos de di-
mos que o transporte de soluto atra- fusão simples e difusão facilitada; já
vés da membrana pode ser de dois o transporte ativo, é aquele que vai
tipos: o transporte passivo, no qual contra o gradiente eletroquímico, isto
o movimento de um molécula atra- é, o movimento da molécula ocor-
vés da membrana ocorre na direção re no sentido oposto previsto pelo
gradiente.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 27

Figura 9. Vias de transporte através da membrana celular e seus mecanismos básicos de transporte. Fonte: HALL,
John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

Difusão simples membranas dispõem de sistemas


especiais de transporte que permi-
É o movimento da substância de uma
tem a translocação dessas moléculas
região de alta para uma de baixa con-
entre os meios intra e extracelulares.
centração; ocorre na mesma direção
Dentro as proteínas transportadores,
(a favor) do gradiente de concentra-
temos:
ção da substância (no meio intra e ex-
tracelular) e não há gasto energético
por parte da célula. Canais de água
Os canais de água, ou aquaporinas,
Difusão facilitada são a principal via de transporte de
água para dentro e para fora da cé-
Muitos nutrientes essenciais para as lula. Estão amplamente distribuídos
células (como açúcares, aminoácidos, por todo o organismo e são altamen-
nucleotídeos e bases orgânicas) são te especializados, embora existam di-
constituídos por moléculas hidrofíli- ferentes isoformas nos diversos tipos
cas e, por isso, não conseguem atra- celulares. A quantidade de água que
vessar a membrana celular por di- sai ou entra na célula através desses
fusão simples. Sendo assim, muitas canais pode ser relada pela alteração
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 28

no número de canais na membrana difunde em cada direção pelas mem-


ou de sua permeabilidade, isto é, nú- branas das hemácias, a cada segun-
mero de canais abertos ou fechados. do, é cerca de 100 vezes maior que o
A rapidez com que as moléculas de volume da própria hemácia.
água podem se difundir através da
maioria das membranas celulares SE LIGA! O pH é um dos fatores capa-
é impressionante. Como exemplo, zes de modular a permeabilidade das
aquaporinas.
a quantidade total de água que se

SAIBA MAIS!
As aquaporinas se dividem em dois grupos. Um grupo só é permeável à água. O segundo
grupo é permeável à água e, também a substâncias de baixo peso molecular. Por permitirem a
passagem do glicerol, os integrantes do segundo grupo são chamados de aquagliceroporinas.

Canais Iônicos (pS). A condutância de um canal de-


Os canais iônicos estão presentes pende da probabilidade de o canal
em todas as células sendo especial- estar aberto. Quanto maior a probabi-
mente importantes para a função das lidade, maior a condutância, ou perme-
células excitáveis, como os neurônios abilidade. A abertura e o fechamento
e células musculares. São proteínas dos canais são controlados por com-
integrais que atravessam a membra- portas. Em alguns canais, a condutân-
na e, quando abertas, possibilitam a cia varia conforme a direção na qual o
passagem de determinados íons. íon se move. Por exemplo, se o canal
tiver maior condutância quando os íons
São classificados conforme sua sele- se movem para o interior da célula, será
tividade, que se baseia no tamanho chamado de retificador de fluxo.
do canal e na distribuição das cargas
que o revestem. Podem ser altamen- A abertura ou fechamento do canais
te seletivos, permitindo a passagem podem ser controlados pela voltagem
de apenas um íon específico. No en- da membrana, por agonistas ou an-
tanto, podem ser não-seletivos, per- tagonistas, por mensageiros intrace-
mitindo a passagem de todos os cá- lulares e pelo estiramento mecânico
tions ou ânions, ou de grupos iônicos. da membrana plasmática. O fluxo de
íons através da membrana pode ser
Os canais também são caracterizados regulado pela alteração do número de
conforme sua condutância, que é, ti- canais na membrana ou pela abertura
picamente, expressa em picosiemens ou fechamento desses canais.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 29

SAIBA MAIS!
No caso de ativação da comporta por voltagem, a conformação molecular do canal ou das
suas ligações químicas reage ao potencial elétrico através da membrana celular. Por exemplo,
se há uma forte carga negativa no lado interno da membrana celular, poderia presumivelmen-
te fazer com que as compostas externas do canal de sódio permanecessem fechadas; de
modo inverso, se o lado interno da membrana perdesse sua carga negativa, essas comportas
poderiam de modo abrupto se abrir, permitindo que o sódio entrasse na célula, passando
pelos poros de sódio. Esse é o mecanismo básico para a geração de potenciais de ação nas
fibras nervosas responsáveis pelos sinais nervosos.

Comporta Na+
Exterior fechada Na+
Comporta
aberta

Interior

Figura 10. Transporte de íons sódio através de proteínas canais. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica:
Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

Carreadores de solutos da membrana. Podem ser utilizados


Os carreadores de solutos represen- em transportes tanto do tipo difusão
tam uma grande família de transpor- facilitada, quanto do tipo transporte
tadores de membrana, apresentando ativo primário ou secundário.
mais de 40 tipos diferentes. Nesse Tais carreadores se dividem em três
tipo de transporte, o soluto a ser trans- grupos funcionais principais:
portado liga-se a uma proteína carre-
• Uniportadores – Transportam uma
adora em um lado da membrana por
só molécula por vez através da
meio de ligações fracas não covalen-
membrana (ex.: GLUT2, transpor-
tes, e então o carreador sofre mudan-
tador que proporciona a entrada
ças conformacionais que permitem
da glicose na célula)
ao soluto ser liberado no outro lado
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 30

• Simportadores (ou cotransporta- • Antiportadores (ou trocadores


dores) – Associam o movimento ou contratransportadores) – As-
de duas ou mais moléculas/íons sociam o movimento de duas ou
através da membrana na mesma mais moléculas ou íons através da
direção. membrana, porém, em sentidos
opostos.

Molécula transportada
Local de ligação

Proteína
carreadora e
alteração
conformacional

Liberação da
ligação
Figura 11. Mecanismo postulado para a difusão facilitado (tipo uniporte). Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia
Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SE LIGA! Uma das diferenças entre canais e carreadores é que os primeiros formam vias
permanentes de comunicação entre os dois lados da membrana, enquanto os segundos ex-
põem, alternadamente, locais de ligação para o substrato, de um lado ou outro lado da mem-
brana. Outra diferença é o fato de que os canais apresentarem taxas de transporte maiores
que os carreadores.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 31

Transporte ativo ATPases dos tipos P e V. As ATPa-


ses do tipo P são, caracteristica-
O transporte ativo consiste no movi-
mente, fosforiladas durante o ciclo
mento de substâncias contra um gra-
de transporte. A ,- ATPase é um
diente de potencial eletroquímico. É
importante exemplo presente em
termodinamicamente desfavorável e
todas as células, de modo que, com
ocorre apenas quando acoplado a um
a hidrólise de cada molécula de
processo de obtenção de energia, em
ATP, três íons são transportados
geral a hidrólise do ATP.
para fora da célula e dois íons para
O transporte ativo é dividido em dois dentro da célula. Essa ATPase tem
tipos, de acordo com a fonte de ener- um papel fundamental na formação
gia usada para facilitar o transporte: de gradientes iônicos e elétricos na
primário e secundário. No transporte manutenção do volume celular. Já
ativo primário, a energia é derivada di- a - ATPase do tipo V é encontrada
retamente da degradação do trifosfa- nas membranas de diversas orga-
to de adenosina (ATP) ou de qualquer nelas intracelulares, sendo assim
outro composto de fosfato com alta chamada de - ATPase vacuolar.
energia. Existem dois grupos de trans- A - ATPase também está presen-
portadores dependentes de ATP: te na membrana plasmática, tendo
• Transportadores iônicos do tipo importante papel na acidificação
ATPase – Subdividem-se em urinária.

3Na+
Exterior
2K+

ATPase

3Na+ ADP +
ATP Pi
Interior 2K+

Figura 12. Mecanismo postulado para a bomba de sódio – potássio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médi-
ca: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 32

Transportadores do tipo ABC – Re- que se efetua contra seu gradiente


presentam um grande grupo de eletroquímico, está acoplado ao do
transportadores de membrana. São soluto B, que ocorre a favor de seu
encontrados nas células procarióti- gradiente de potencial eletroquímico.
cas e eucarióticas, caracterizando-se Por exemplo, os íons (transportado
por conterem domínios de aminoáci- para o interior celular a favor do seu
dos que se ligam ao ATP, nomeados gradiente de potencial eletroquímico)
como cassetes de ligação ao ATP. fornece energia para o movimento
Existem 7 subgrupos de transporta- acoplado de outro soluto que passa
dores do tipo ABC em humanos, e já a ser transportado contra seu poten-
foram identificados mais de 40 trans- cial eletroquímico. Nessa condição, a
portadores específicos que transpor- energia metabólica proveniente da
tam um grupo variado de moléculas e hidrólise do ATP não é utilizada dire-
íons, como , colesterol, ácidos biliares, tamente para o transporte de soluto,
fármacos, ferro e ânions orgânicos. mas é fornecida, de modo indireto,
Já no transporte ativo secundário, a pelo gradiente de concentração do
energia é derivada secundariamente através da membrana celular. Há dois
da energia armazenada na forma de tipos de transporte ativo secundário:
diferentes concentrações iônicas de cotransporte ou simporte, quando o
substâncias moleculares secundá- soluto move-se na mesma direção
rias ou iônicas entre os dois lados da que o , e contratransporte ou antipor-
membrana da célula, gerada origina- te, quando o soluto move-se na di-
riamente por transporte ativo primá- reção oposta ao (os transportadores
rio. Em outras palavras, é um proces- envolvidos nesse tipo de transporte já
so em que o transporte do soluto A, foram apresentados no tópico “Carre-
adores de Solutos”).
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 33

Na+ Glicose

Local de ligação Local de ligação


de Na da glicose

Na+ Glicose

Figura 13. Mecanismo postulado para o cotransporte de sódio-glicose. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia
Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

Na+ Na+

Exterior

Interior
Ca++ H+

Figura 14. Contratransporte dependente de sódio de íons de cálcio de hidrogênio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de
Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 34

Transporte vesicular pequenas, normalmente, apenas


100 a 200 nanômetros de diâme-
Os solutos e a água podem ser le-
tro, de modo que a maioria delas só
vados ao interior da célula pelo pro-
pode ser vista ao microscópio ele-
cesso de endocitose e removidos da
trônico. É a única forma pela qual a
célula pelo processo de exocitose.
maioria das grandes macromolécu-
Nos dois processos, a integridade da
las, tal como a maior parte das mo-
membrana plasmática se mantém
léculas de proteínas, pode entrar nas
e as vesículas formadas permitem a
células. A pinocitose é característica
transferência de substâncias entre
proeminente de células endoteliais
compartimentos celulares.
que revestem os capilares, sendo
responsável por parte da troca de lí-
SE LIGA! Em algumas células, como quidos que ocorre através dos vasos
nas células epiteliais que revestem o
sanguíneos.
trato gastrointestinal, a endocitose atra-
vés da membrana celular é seguida pela
exocitose através da membrana oposta.
SE LIGA! A velocidade de formação de
Isso permite o transporte de substâncias
vesículas pinocíticas costuma aumentar
através do epitélio pelo processo cha-
quando essas macromoléculas aderem
mado transcitose.
à membrana celular.

A endocitose pode ser subdividida


• Fagocitose: Ocorre de forma mui-
em três mecanismos:
to parecida com a pinocitose, mas
• Pinocitose: Corresponde à ingestão envolve partículas grandes em vez
de minúsculas partículas que for- de moléculas. Apenas certas célu-
mam vesículas de líquido extracelu- las têm a capacidade da fagocitose,
lar e por componentes particulados principalmente os macrófagos dos
no interior do citoplasma da célula. tecidos e alguns leucócitos (célu-
Ocorre continuamente nas mem- las do sistema imune). Ela se ini-
branas celulares da maioria das cé- cia quando uma partícula, tal como
lulas, mas é especialmente rápida uma bactéria, uma célula morta, ou
em algumas delas. Mesmo assim, restos de tecido, se liga a recepto-
as vesículas pinocíticas são muito res na superfície do fagócito.

SAIBA MAIS!
No caso das bactérias, cada uma geralmente está ligada a uma anticorpo específico, que é o
anticorpo que se liga aos receptores do fagócito, arrastando a bactéria com ele. Essa interme-
diação de anticorpos é chamada de opsonização.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 35

• Endocitose mediada por recepto- como a adaptina, a clatrina e a


res: Permite a absorção de molécu- GTPase chamada dinamina, parti-
las específicas na superfície celu- cipam da endocitose.
lar. Diversas proteínas acessórias,

Figura 15. Três tipos de endocitose. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Endocitose

Por outro lado, a exocitose pode ser enzima digestiva), depois de ser sin-
constitutiva ou regulada. A secreção tetizado e processado no REr e no
constitutiva é vista, por exemplo, nos aparelho de Golgi, é armazenado no
plasmócitos que secretam imunoglo- citoplasma, dentro de grânulos se-
bulinas ou nos fibroblastos que secre- cretores, até que seja recebido o si-
tam colágeno. Já a secreção regulada nal apropriado para a secreção. Esses
ocorre em células endócrinas, neurô- sinais podem ser hormonais ou neu-
nios e células glandulares exócrinas. rais. Quando a célula recebe o estí-
Nessas células, o produto secretado mulo apropriado, a vesícula secretora
(ex.: hormônio, neurotransmissor ou se funde com a membrana plasmáti-
ca, liberando seu conteúdo no líquido
extracelular.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 36

Figura 16. Exocitose. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis, Martin Raff,
Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 864p

SE LIGA! A fusão da vesícula com a membrana é mediada por diversas proteínas acessórias,
com destaque para as proteínas SNAREs. Elas são proteínas de membrana que ajudam a
direcionar a vesícula secretora para a membrana plasmática.

SAIBA MAIS!
O processo de secreção regulada, geralmente, é desencadeado pelo aumento intracelular de
íons . No entanto, existem duas notáveis exceções a essa regra geral: a secreção de renina
pelas células justaglomerulares renais é desencadeada por diminuição do intracelular, assim
como a secreção de paratormônio (PTH) pelas células paratiroides.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 37

MAPA MENTAL – MEMBRANA PLASMÁTICA

Influencia
na fluidez MEMBRANA Sem gasto
Composição Transporte Passivo
PLASMÁTICA de energia

A favor do
Colesterol Lipídios Contra o gradiente
Ativo gradiente
eletroquímico
eletroquímico
Funções
Esfingolipídios Tipos Vesicular Gasto de energia Difusão simples

Transporte seletivo
Fosfolipídios Bicamada de moléculas Endocitose Primário Através da
membrana
Reconhecimento
Periféricas Assimetria celular Fagocitose
ATP Difusão facilitada
Comunicação
Integrais Proteínas celular Pinocitose
Secundário Proteínas
Organização transportadoras
Endocitose
Ancoradas celular mediada por
receptor Antiporte
Aquaporinas
Forma da célula
Receptor Carboidratos Exocitose
Simporte Canais
Atividade iônicos
Carga negativa Glicocálice enzimática Regulada
Carreadoras
de soluto
Reações imunes Constitutiva
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 38

Osmose e Pressão Osmótica moléculas hídricas difundem da so-


lução com menor concentração de
Quando duas soluções aquosas com
soluto para aquela com maior con-
diferentes concentrações de solutos
centração. Esse fenômeno, muito im-
estão separadas por uma membra-
portante para os seres vivos é conhe-
na que só é permeável às moléculas
cido por osmose.
de água, mas não às de soluto, as

Água Solução de NaCl

Osmose

Figura 17. Osmose na membrana celular, quando a solução de cloreto de sódio é colocada em um lado da membrana
e a água é colocada do outro lado. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

O movimento de água é passivo e a em termos de osmolaridade. Assim,


força motriz para esse movimento é a independentemente do tipo de molé-
diferença de pressão osmótica entre cula, uma solução contendo 1mmol/L
os dois lados da membrana celular. de soluto exerce pressão osmótica de
A pressão osmótica corresponde à 1 mOsm/L.
pressão necessária para interromper No entanto, para as moléculas que
a osmose e é determinada unicamen- se dissociam em solução, essa re-
te pelo número de moléculas presen- gra não se aplica haja vista que uma
tes na solução. Ela pode ser expressa
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 39

solução de 150mmol/L de cloreto de utilizado o termo osmolaridade devi-


sódio (NaCl) tem osmolaridade de do ao fato de que sua medida é mais
aproximadamente 300 mOsm/L, pois fácil de calcular, necessita-se escla-
cada molécula de NaCl se dissocia, recer que, do ponto de vista químico,
formando íons e . Se a dissociação é mais correto usar o termo osmo-
não for completa, a proporção entre lalidade. Isto porque a osmolalidade
a concentração e a osmolaridade não consiste na medida do número de
vai apresentar um número natural, osmoles de soluto por quilograma de
mas isso não impede que a osmola- solvente (osmol/kg),de modo que não
ridade seja calculada como em qual- sofre influência da temperatura.
quer outra solução:
SE LIGA! Quando a concentração dos
Osmolaridade = Concentração X Nú- solutos é muito baixa, os termos osmo-
mero de partículas dissociáveis laridade e osmolalidade são praticamen-
te equivalentes.
mOsm/L = mmol/L X Nú-
mero de partículas/mol

Mas afinal, qual a diferença entre os- SE LIGA! Vamos deixar tudo mais cla-
ro: a osmolaRidade é mais utilizada nos
molaridade e osmolalidade? estudos fisiológicos, pois é mais fácil de
Para expressar a concentração osmótica calcular, como apresentado na fórmula
acima. Porém, a osmolaLidade é a medi-
de uma solução, são utilizados os termos da mais adequada ao abordar sistemas
osmolaridade ou osmolalidade. A osmo- biológicos, pois não sofre influência da
laridade é definida como a concentração temperatura.
das partículas osmoticamente ativas,
expressas em osmoles/litro. Quando é
Tonicidade
dito partículas de soluto osmoticamen-
te ativas, faz-se referência às partículas A tonicidade é definida como a pres-
que estão efetivamente dissolvidas no são osmótica efetiva de uma solução,
solvente e, em consequência disso, po- em relação a uma determinada mem-
dem gerar pressão osmótica. brana, exercendo influência sobre o
A molaridade, que corresponde a con- volume da célula. Assim, as soluções
centração química de um soluto em podem ser classificadas como:
mol/L, e a osmolaridade são valores • Isotônicas: Quando uma célula é
que dependem da temperatura, pois suspensa em uma solução isos-
a água (o solvente) muda seu volume molar determinada e não ocorre
de acordo com a temperatura. Ape- nenhuma variação do volume in-
sar de, em Fisiologia, comumente, ser tracelular, esta solução é isotônica
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 40

para essa célula. Neste caso, a que a pressão osmótica efetiva do


pressão osmótica efetiva da so- líquido intracelular.
lução é igual à pressão osmótica
• Hipertônicas: Se a célula for sus-
efetiva do líquido intracelular.
pensa em uma solução isosmolar
• Hipotônicas: Caso a célula seja sus- e ocorrer uma diminuição do volu-
pensa em um solução isosmolar e me intracelular, esta solução é hi-
haja aumento do volume intracelu- pertônica para essa célula. A pres-
lar, a solução utilizada é hipotônica são osmótica efetiva da solução
em relação ao líquido intracelular. é substancialmente maior que a
A pressão osmótica efetiva da so- pressão osmótica efetiva do líqui-
lução é substancialmente menor do intracelular.

Eritrócitos suspensos Eritrócitos suspensos Eritrócitos suspensos


em solução isotônica em solução hipertônica em solução hipotônica

Figura 18. Fluxo de água (Jágua) em eritrócitos humanos suspensos em soluções com diferentes tonicidades. Fonte:
AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 41

relacionada com as diferentes perme-


SE LIGA! Duas soluções são considera- abilidade da membrana plasmática à
das isosmóticas quando apresentam a sacarose e à ureia. Portanto, a ureia
mesma osmolalidade.
cruza facilmente a membrana celular
para o meio intracelular, movida pelo
A tonicidade também leva em consi- gradiente de concentração. Por outro
deração a capacidade das moléculas lado, a membrana dos eritrócitos não
da solução de cruzar a membrana ce- contém transportadores de sacarose,
lular. Para entender isso, vamos ver de modo que esta não consegue en-
um exemplo: trar na célula.
Considere uma solução de sacarose Por ser capaz de exercer pressão os-
de 300 mmol/L e outra de ureia de 300 mótica através de uma membrana, a
mmol/L. Ambas têm osmolalidade de molécula não deve cruzá-la. Como a
300 mOsm/kg H2O – isosmóticas. membrana dos eritrócitos é imperme-
Quando colocamos eritrócitos nessas ável à sacarose, ela exerce pressão
soluções (consideraremos que os eri- osmótica de valor igual à pressão os-
trócitos tenham osmolalidade de 300 mótica gerada pelo conteúdo do eri-
mOsm/kg H2O em seu líquido intrace- trócito em sentido oposto. Por outro
lular), os que forem colocados na sa- lado, a ureia cruza facilmente a mem-
carose manterão seu volume normal, brana do eritrócito, não sendo capaz
enquanto os que forem colocados na de exercer pressão osmótica para
ureia ficarão inchados, acabando por equilibrar a que é gerada pelos solu-
se romper. Assim, sabemos que a so- tos intracelulares do eritrócitos. Con-
lução de sacarose é isotônica e a de sequentemente, a sacarose é dita um
ureia é hipotônica. Essa diferença está osmol efetivo, enquanto a ureia é um
osmol inefetivo.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 42

FLUXOGRAMA – TONICIDADE

TONICIDADE

Pressão osmótica efetiva de uma solução de modo a exercer


influência sobre o volume da célula nela suspensa.

As soluções

Podem ser classificadas em:

Isotônica Hipotônica Hipertônica

Pressão osmótica efetiva da Pressão osmótica efetiva da Pressão osmótica efetiva da


solução = Pressão osmótica solução < Pressão osmótica solução > Pressão osmótica
efetiva do da celula efetiva do da celula efetiva do da celula

Sem variação do Aumento do volume Redução do volume


volume intracelular intracelular intracelular

Fonte das imagens: https://pt.khanacademy.org/science/biology/


membranes-and-transport/diffusion-and-osmosis/a/osmosis
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 43

Pressão Oncótica a 28 mmHg. Embora essa pressão


pareça pequena quando considerada
A pressão oncótica é a pressão os-
em termos de pressão osmótica (28
mótica gerada por grandes moléculas
mmHg = 1,4 mOsm/kg H2O), trata-
(especialmente proteínas) nas solu-
-se de uma força importante, envolvi-
ções. A pressão oncótica exercida por
da no movimento de líquidos através
proteínas no plasma humano tem o
dos capilares.
valor normal de aproximadamente 26

NA PRÁTICA!
Kwashiorkor – Consiste em uma condição causada no indivíduo pela deficiência severa
de proteínas na dieta alimentar. A falta extrema de proteínas provoca um desequilíbrio
osmótico no sistema gastrointestinal causando edema e retenção de água. A retenção
de fluidos é resultado direto do mau funcionamento do sistema linfático e das trocas ca-
pilares. A pressão oncótica opõe-se à pressão hidrostática nos capilares e tende a retirar
água de volta para esses vasos, mas devido à falta de proteínas, não há pressão suficien-
te para extrair fluidos dos tecidos e isso causa inchaço e distensão do abdome. É a mais
grave e a mais comum das deficiências nutricionais nos países subdesenvolvidos e em
áreas ou situações de fome prolongadas, afetando principalmente crianças.

Gravidade Específica específica da água destilada é igual


a 1. Como os líquidos biológicos con-
A concentração total de todas as mo-
têm diversas moléculas distintas, eles
léculas, em uma solução, também
têm gravidades específicas maiores
pode ser medida pela gravidade es-
que 1. Por exemplo, o plasma huma-
pecífica. Esta é definida como o peso
no normalmente tem gravidade es-
de um volume de solução dividido
pecífica na faixa de 1,008 a 1,010.
pelo peso de um mesmo volume de
água destilada. Assim, a gravidade
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 44

MAPA MENTAL – FISIOLOGIA CELULAR

Fosforilação oxidativa FISIOLOGIA


Citoplasma Membrana plasmática
CELULAR

Produção de Mitocôndrias Mosaico fluido Lipídios


energia (ATP)

Associado a ribossomos Retículo Composição Proteínas


Núcleo
endoplasmático
rugoso
Síntese de proteínas Transporte Carboidratos
Armazena o
Metabolização e genoma
modificação de substâncias Difusão simples
Retículo
endoplasmático liso Proteínas Passivo
Síntese de lipídios Difusão facilitada
DNA
Modificações pós-
traducionais nas proteínas Primário
Aparelho de Golgi Envelope nuclear Ativo
Empacotamento em
Autofagia Secundário
vesículas
Poros nucleares
Digestão de Digestão intracelular Lisossomos
partículas Fagocitose
Dupla membrana
Materiais Degradação de
indesejados Proteossomos Vesicular Pinocitose
proteínas
Nucléolo
Tubulina Oxidação de Peroxissomos Endocitose mediada
substâncias por receptor
Síntese de
ribossomos
Proteínas motoras Microtúbulos Osmose Passagem de água

Actina G Filamentos de actina Citoesqueleto


Meio menos
Filamentos concentrado → Meio
Proteínas fibrosas intermediários mais concentrado
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 45

4. SINALIZAÇÃO CELULAR produção e, na maioria dos casos, li-


beração de uma molécula sinalizado-
A sinalização celular é um mecanis-
ra, denominada ligante, e uma célula-
mo de comunicação entre as células
-alvo, que apresenta receptores para
que se encontra presente nas mais
reconhecer o ligante específico. A
diversas formas de vida, desde or-
natureza química dos ligantes é bas-
ganismos unicelular, como bacté-
tante diversa, incluindo desde gases,
rias, fungos e protozoários, até seres
como o óxido nítrico, até pequenas
multicelulares. A complexidade dos
moléculas hidrofóbicas, como lipíde-
organismos multicelulares exibe um
os e esteroides, ou mesmo peptídeos
elevado grau de sofisticação devidos
e proteínas. Por outro lado, os recep-
aos diversos e complexos sistemas
tores celulares são proteínas específi-
de sinalização celular, presentes em
cas que podem estar localizadas nas
diversos processos vitais.
membranas celulares ou solúveis no
O mecanismo de sinalização celular citosol ou no núcleo celular.
envolve a participação de uma cé-
lula sinalizadora, responsável pela
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 46

Molécula – sinal extracelular

Proteína receptora

Moléculas de sinalização intracelulares

Proteínas efetoras

Enzima Proteína do Regulador


metabólica citoesqueleto transcricional

FORMA OU
METABOLISMO EXPRESSÃO
MOVIMENTO
ALTERADO CELULAR
GÊNICA Respostas celulares
ALTERADA
ALTERADOS

Figura 19. Visão geral da sinalização celular. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson,
Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed,
Porto Alegre, 864p

Além dos sinais químicos externos, da função celular por meio da sina-
como hormônios, neurotransmisso- lização. Estas vias sinalizadoras ga-
res, fatores de crescimento e produ- rantem que a resposta celular aos
tos do metabolismo celular, que ser- mensageiros externos seja específi-
vem como mensageiros químicos, os ca, amplificada, estritamente regula-
estímulos luminoso, mecânico e tér- da e coordenada.
mico são sinais físicos externos que
também participam da coordenação
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 47

As vias de sinalização são caracteri- Formas de sinalização celular


zadas por (1) etapas hierárquicas e
múltiplas; (2) amplificação do evento • Sinalização Dependente de Con-
hormônio-receptor ligante, que maxi- tato: Neste tipo de sinalização,
miza a resposta; (3) ativação de múl- tanto os ligantes quantos os re-
tiplas vias e regulação de múltiplas ceptores são proteínas integrais da
funções celulares; e (4) antagonismo, membrana plasmática. Não ocorre
por meio de mecanismos constituti- liberação do ligante para o meio
vos e regulados por retroalimentação extracelular. Em alguns casos, um
(feedback), que minimizam a respos- segundo mensageiro é transmitido
ta e proporcionam controle regulató- de uma célula para outra, através
rio rígido sobre as vias de sinalização. de canais proteicos (junções co-
municantes) presentes nas mem-
branas das duas células.

Célula sinalizadora

Molécula sinalizadora Célula alvo


ligante de membrana

Figura 20. Sinalização dependente de contato. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON,
Bruce A.. Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

SE LIGA! As junções comunicantes são junções especializadas que permitem a difusão de


moléculas sinalizadoras intracelulares, geralmente menores que 1.200 Da em tamanho, do
citoplasma de uma célula para célula adjacente. Também permitem que as células sejam ele-
tricamente acopladas, o que é vitalmente importante para a atividade coordenada das células
cardíacas e do músculo liso.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 48

• Sinalização Parácrina: A molécu- nos processo alérgicos e inflama-


la sinalizadora é liberada no meio tórios, onde os exemplos de ligan-
extracelular, ativando somente cé- tes parácrinos são a histamina e
lulas vizinhas e que expressam o as citocinas. Normalmente, esses
receptor para o ligante, presentes sinalizadores são absorvidos por
no mesmo microambiente. Este células-alvo ou rapidamente de-
tipo de sinalização é muito comum gradados (dentro de minutos) por
enzimas.

Célula sinalizadora
Hormônio
local

Célula alvo

Figura 21. Sinalização parácrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy:
Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 49

• Sinalização Autócrina: Envolve a li- a mesma célula ou outras células


beração de moléculas que afetam do mesmo tipo.

Hormônio
Receptor local

Figura 22. Sinalização autócrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A..
Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

• Sinalização Sináptica: Ocorre célula-alvo assegura que o neu-


quando neurônios transmitem si- rotransmissor alcance uma célula
nais elétricos ao longo de seus específica. A célula sinalizadora
axônios e liberam neurotransmis- é sempre uma célula nervosa, e a
sores nas sinapses, e que afetam célula-alvo pode ser outra célula
a função de outros neurônios ou nervosa, uma célula muscular ou
células que estão distantes do cor- uma célula de uma glândula endó-
po celular do neurônio. A relação crina, por exemplo.
física entre o terminal nervoso e a
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 50

Neurônio

Axônio

Corpo celular

Sinapse

Neurotransmissor

Célula alvo

Figura 23. Sinalização sináptica. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne &
Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

• Sinalização Endócrina: A molécu- órgão e sistemas distantes da célu-


la sinalizadora é liberada no meio la sinalizadora, que recebe o nome
extracelular, atingindo a corren- de célula endócrina. Neste caso, a
te sanguínea. As células-alvo en- molécula sinalizadora é conhecida
contram-se em tecidos ou mesmo como hormônio.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 51

Célula endócrina
Célula alvo

Receptor

Hormônio

Corrente sanguínea

Célula alvo

Figura 24. Sinalização endócrina. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A.. Berne & Levy:
Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

A velocidade da resposta a uma sinal necessitando de dias para atingir res-


extracelular depende do mecanismo posta máxima.
de apresentação do sinal. Os sinais A resposta a uma molécula sinaliza-
endócrinos são relativamente lentos dora em particular também depende
(segundos a minutos), porque é ne- da capacidade da molécula de alcan-
cessário tempo para a difusão e para çar determinada célula, da expres-
o fluxo sanguíneo para a célula-alvo, são do receptor específico e de mo-
enquanto a sinalização sináptica é léculas sinalizadoras citoplasmáticas
extremamente rápida (milissegun- que interagem com o receptor. Des-
dos). Se envolver alterações na ativi- sa forma, as moléculas sinalizadoras
dade de proteínas na célula, a respos- frequentemente apresentam muitos
ta poderá ocorrer em milissegundos a efeitos distintos que são dependen-
segundos. Entretanto, se a resposta tes do tipo celular.
envolver variações na expressão gê-
nica e a síntese de novas proteínas
poderá demorar horas para ocorrer,
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 52

O número de receptores na célula-al-


SE LIGA! Um dos exemplos mais mar- vo, em geral, não permanece cons-
cantes da propriedade citada acima é tante dia após dia ou, até mesmo, de
a resposta à acetilcolina pelas células
minuto em minuto. As proteínas do
musculares cardíacas, células muscu-
lares esqueléticas e células das glân- receptor costumam ser inativadas
dulas salivares. As células musculares ou destruídas durante o curso de sua
cardíacas e esqueléticas possuem um função e, em outras vezes, são reati-
tipo distinto de receptor da acetilcolina.
Assim, enquanto nas cardíacas, a acetil-
vadas ou fabricadas novas proteínas.
colina promove o relaxamento muscular, Por exemplo, o aumento da concen-
nas esquelética, o estímulo pelo mesmo tração de hormônio e o aumento da
ligante promove a contração da mus- ligação aos receptores de sua célu-
culatura. Por outro lado, as células das
glândulas salivares possuem o mesmo la-alvo, algumas vezes, fazem com
tipo de receptor das células musculares que o número de receptores ativos
cardíacas, e quando estimuladas pela diminua. Essa “regulação para baixo”
acetilcolina respondem com a secreção
(down-regulation) dos receptores
salivar.
pode ocorrer em decorrência de: (1)
inativação de algumas das moléculas
Sob o ponto fisiológico, geralmente, a de receptores; (2) inativação de par-
resposta celular depende de um con- te das moléculas de sinalização das
junto de sinais múltiplos e não de ape- proteínas intracelulares; (3) sequestro
nas um único sinal mediado por uma temporário do receptor para o interior
única molécula. Ou seja, a resposta fi- da célula, longe do local de ação dos
nal é o somatório de estímulos ao qual ligantes que interagem com os recep-
uma determina célula está submeti- tores de membrana; (4) destruição
da. Em alguns casos, a ausência de dos receptores por lisossomos depois
um estímulo modifica completamente de serem interiorizados; ou (5) dimi-
a fisiologia celular, podendo, inclusive, nuição da produção dos receptores.
levar a célula à morte. Em cada caso, a regulação para baixo
diminui a responsividade do tecido-
-alvo ao hormônio.
Receptores
Alguns hormônios causam regulação
Todas as moléculas sinalizadoras se para cima (up-regulation) dos recep-
ligam a receptores específicos que tores e das proteínas de sinalização
atuam como transdutores de sinais, intracelular; isto é, estimular o hormô-
convertendo, dessa forma, um evento nio induz a formação de receptores
de ligação ligante-receptor em sinal ou moléculas de sinalização intrace-
intracelular que afeta a função celular. lular, maior que a normal, pela célu-
la-alvo ou maior disponibilidade do
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 53

receptor para interação com o hormô- Os receptores podem ser divididos


nio. Quando isso ocorre, o tecido-alvo em duas classes básicas, baseados
torna-se cada vez mais sensível aos em sua estrutura e mecanismo de
efeitos de estimulação do hormônio. ação: receptores de membrana e re-
ceptores nucleares.

(A) RECEPTORES DE SUPERFÍCIE CELULAR

Receptor de Membrana plasmática


superfície celular

Molécula – sinal
hidrofílica

(B) RECEPTORES INTRACELULARES

Pequena molécula – sinal


hidrofóbica

Núcleo
Receptor
intracelular

Figura 25. Tipos de receptores. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander Johnson, Julian Lewis,
Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Editora Artmed, Porto Ale-
gre, 864p
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 54

Receptores de membrana receptores e podem abrir ou fechar


plasmática o canal iônico, dessa forma, mu-
dando a permeabilidade iônica da
Os receptores de superfície celular
membrana plasmática e alterando
são proteínas integrais transmem-
o potencial de membrana.
brana, presentes na membrana cito-
plasmática. O domínio extracelular é
responsável pela interação com o li- SE LIGA! Dois exemplos deste tipo de
gante, que normalmente é uma molé- receptores são os receptores de acetil-
colina da célula muscular esquelética,
cula de caráter hidrofílico. A interação que atuam como um canal de sódio, e os
do ligante com este domínio promove receptores gabaérgicos expressos nos
alterações conformacionais na prote- neurônios, que ao se ligarem ao neuro-
transmissor inibitório GABA, promovem
ína que se refletem no domínio cito-
o influxo de íons cloreto e a consequente
sólico. São tais mudanças conforma- hiperpolarização da membrana plasmá-
cionais que serão responsáveis pela tica da célula neuronal.
propagação do sinal para o meio in-
tracelular, permitindo, assim, que a
célula responda ao estímulo externo. • Receptores acoplados à proteína G
Existem quatro tipos principais de re- (GPCRs): Estes receptores consti-
ceptores de membrana plasmática tuem a maior família de receptores
definidos pelas vias de sinalização de superfície celular e constituem
intracelular que utilizam: receptores proteínas integrais multipasso (isto
acoplados a canais iônicos, recepto- é, que atravessam a membrana
res acoplados à proteína G, recepto- plasmática várias vezes), com sete
res catalíticos e uma quarta classe domínios transmembranares. A
de receptores transmembrana que, ligação do ligante com estes re-
quando ativados, liberam fatores de ceptores promove uma mudança
transcrição que passam por clivagem conformacional no receptor e con-
proteolítica e liberam fragmento cito- sequente ativação de uma proteína
sólico que penetra no núcleo e modu- intracelular trimérica, denominada
la a expressão gênica. proteína G, composta por subuni-
dades α, β e γ. Esta proteína é res-
• Receptores ligados a canais iôni- ponsável pela propagação do sinal
cos: Também conhecidos como dentro da célula, que pode ser feito
canais iônicos ativados de ligan- pela ativação de enzimas especí-
tes, medeiam direta e rapidamente ficas, tais como a fosfolipase C ou
a sinalização sináptica entre cé- a adenilil-ciclase, ou pela indução
lulas eletricamente excitáveis. Os da abertura de canais iônicos na
neurotransmissores se ligam aos membrana plasmática.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 55

SAIBA MAIS!
As proteínas G triméricas são assim denominadas por sua capacidade de ligar-se a nucleotí-
deos de guanosina, GDP e GTP.

domínio de localização citosólica com


SE LIGA! Alguns hormônios se acoplam atividade enzimática, e receptores
com proteínas G inibitórias (Gi), enquan- com atividade enzimática extrínse-
to outros se unem proteínas G estimu-
ca, onde a atividade enzimática en-
ladoras (Ge). Dessa forma, dependendo
do acoplamento do receptor hormonal à contra-se em uma proteína perifé-
proteína G inibitória ou estimuladora, o rica associada ao receptor pelo lado
hormônio pode aumentar ou diminuir a citosólico da membrana. A maioria
atividade das enzimas intracelulares.
dos receptores acoplados a enzimas
é uma proteinocinase ou está asso-
Receptores catalíticos (ou com ativi- ciada a proteinocinase, e a ligação ao
dade enzimática): Esta classe inclui ligante faz com que a cinase fosforile
receptores com atividades enzimá- um subgrupo determinado de proteí-
ticas intrínsecas, ou seja, cuja cadeia nas em aminoácidos específicos que,
polipeptídica do receptor possui um então, ativam ou inibem a atividade
da proteína.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 56

(A) RECEPTORES ASSOCIADOS A CANAIS IÔNICOS

Íons

Molécula - sinal
Membrana
plasmática
CITOSOL

(B) RECEPTORES ASSOCIADOS A PROTEÍNAS G

Molécula - sinal

Enzima Enzima
Proteína G Proteína G
ativada ativada

(C) RECEPTORES ASSOCIADOS A ENZIMAS


Molécula - sinal
Molécula – sinal
em forma de
dímero

Domínio Domínio catalítico Enzima associada


catalítico inativo ativo ativada

Figura 26. Classes de receptores de superfície celular. Fonte: Bruce Alberts, Dennis Bray, Karen Hopkin, Alexander
Johnson, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, Peter Walter. (2017). Fundamentos da Biologia Celular. 6ª Ed. Edito-
ra Artmed, Porto Alegre, 864p

Algumas proteínas da membrana não de penetrar no núcleo e regular a ex-


se enquadram na definição clássica pressão gênica.
de receptores; apesar disso, elas de-
sempenham função semelhante à de SE LIGA! O exemplo mais bem carac-
um receptor, pois reconhecem sinais terizado de PIR é o elemento regula-
extracelulares e convertem esses si- tório esterol-proteína ligante (SREB),
proteína transmembrana expressa na
nais em segundo mensageiro intra- membrana do retículo endoplasmático.
celular que tenha efeito biológico. Por Quando os níveis celulares de coleste-
exemplo, quando ativadas por ligan- rol estão baixos, a SREB passa por PIR
e o fragmento, clivado proteoliticamente,
te, algumas proteínas de membrana
é translocado para o núcleo, onde ativa,
passam por proteólise intramem- por transcrição, genes que promovem a
brana regulada (PIR) que produz um biossíntese de colesterol.
fragmento peptídico citosólico capaz
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 57

Receptores nucleares (ou regulam são diferentes nos vários


intracelulares) tecidos. Um receptor intracelular só
pode ativar a resposta do gene se
Diversas classes de moléculas hi-
estiver presente a combinação apro-
drofóbicas pequenas, incluindo hor-
priada das proteínas reguladoras dos
mônios esteroides, hormônios da ti-
genes, e muitas dessas proteínas
reoide, retinoides e vitamina D, estão
reguladoras são tecido-específicas.
ligados a proteína plasmáticas, e, ten-
Desse modo, as respostas de diferen-
do meia-vida biológica longa (horas a
tes tecidos ao hormônio são determi-
dias), se difundem através da mem-
nadas não apenas pela especificida-
brana plasmática, ligando-se a recep-
de dos receptores, mas também pela
tores nucleares.
expressão dos genes que o receptor
Alguns receptores nucleares, como regula.
os que se ligam ao cortisol e à aldos-
terona, estão localizados no citosol e
penetram no núcleo após se ligarem Vias de transdução de sinais
ao hormônio, enquanto outros recep- Os hormônios se ligam a receptores e
tores, incluindo o receptor para o hor- o sinal é traduzido para proteínas efe-
mônio da tireoide, estão ligados ao tores, dentro da célula, por proteínas
DNA no núcleo mesmo na ausência sinalizadoras intracelulares. Recepto-
do hormônio. Em ambos os casos, res de membrana transmitem sinais,
receptores inativos estão ligados a via sinalização intracelular, enquanto
proteínas inibidoras, e a ligação do os receptores nucleares transmitem
hormônio resulta na dissociação do sinais, primariamente, pela regulação
complexo inibitório. A ligação do hor- da expressão gênica. Os receptores
mônio faz com que o receptor se ligue amplificam e integram sinais, assim
a proteínas coativadoras que ativam como regulam para menos e dessen-
a transcrição gênica. Uma vez ativa- sibilizam sinais, o que reduz ou elimi-
do, o complexo hormônio-receptor se na a resposta, mesmo em presença
liga ao DNA e regula a transcrição de do hormônio.
genes específicos. Por controlarem a
expressão gênica, necessariamen- A propagação do sinal no interior da
te, esses receptores estão envolvi- célula tem por objetivo final a alte-
dos na resposta lenta ao estímulo ração da atividade de proteínas res-
extracelular. ponsáveis pela resposta ao estímulo
externo, ativando-as ou inibindo-as.
Muitos tecidos diferentes têm recep- Na sinalização mediada por recep-
tores hormonais intracelulares idênti- tores com atividade enzimática do
cos, mas os genes que os receptores tipo cinase ou fosfatase, a alteração
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 58

conformacional das proteínas finais ativação do receptor pelo estímulo


da cascata de sinalização (proteínas extracelular ou por íons que tem a sua
da resposta) ocorre por ação dire- concentração citosólica aumentada
ta das enzimas da via de sinalização em resposta ao estímulo do receptor
(fosforilação ou desfosforilação), le- e das proteínas da cascata de sina-
vando à modificação do estado fisio- lização. Essas moléculas ou íons são
lógico da célula. denominados segundo mensageiros
Em alguns casos, entretanto, a ativa- e incluem: carboidratos (trifosfato de
ção de proteínas da cascata de sina- inositol ou IP3), lipídeos (ceramida,
lização ou mesmo da proteína envol- eicosanóides, diacilglicerol ou DAG),
vida na resposta celular é mediada nucleotídeos cíclicos (monofosfato de
por moléculas que são geradas pela adenosina ou AMPc e monofosfato de
guanosina ou GPMc) e íons (cálcio).

SAIBA MAIS!
Sinalizadores intracelulares também atuam como interruptores moleculares: quando um
sinal é recebido, eles mudam de da forma inativa para ativa ou vice-versa, até que outra mo-
lécula sinalizadora os desligam.

As células podem ajustar sua sensi- Vias de transdução do sinal


bilidade ao sinal pela adaptação ou ligados aos canais iônicos
dessensibilização, por meio do qual
Esta classe de receptores converte
a exposição prolongada ao hormônio
um sinal químico em sinal elétrico, o
reduz a resposta celular ao longo do
que provoca resposta.
tempo. A adaptação permite que as
células respondam a variações nos
níveis hormonais, e não em níveis ab- Vias de transdução do sinal
solutos. É um processo reversível que acopladas às proteínas G
pode envolver redução do número de
As proteínas G se acoplam a mais de
receptores expressos na membrana
1000 receptores diferentes e, des-
plasmática, inativação de receptores
sa forma, medeiam a resposta celu-
e alterações nas proteínas sinaliza-
lar a um grupo incrivelmente diverso
doras que medeiam o efeito seguinte
de moléculas sinalizadoras, incluindo
dos receptores na cadeia.
hormônios, neurotransmissores, pep-
tídeos e odorantes. As proteínas G
são complexos heterotriméricos com-
postos por três subunidades α, β e γ.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 59

No estado inativo, a subunidade α ou liga-se a um canal iônico, abrindo-


está acoplada a GDP, do lado inter- -o ou fechando-o. Normalmente, as
no da membrana plasmática; quan- enzimas catalisam a geração de se-
do o ligante se liga ao receptor, este gundos mensageiros, como AMPc,
sofre uma mudança conformacional, trifosfato de inositol, diacilglicerol e
promovendo uma alteração na prote- outros. Estes mensageiros intracelu-
ína G. Esta libera o GDP e liga-se ao lares, por sua vez, ativam cascatas ci-
GTP, o que faz com que a subunidade násicas e fosforilam fatores citosólico
α seja ativada e separe-se do díme- e de transcrição nuclear. O dímero βγ
ro βγ. Agora, a α liga-se a uma en- também é capaz de modular a ativi-
zima, podendo acarretar estimulação dade de enzimas, de canais e de re-
ou inibição de sua atividade catalítica, ceptores de membrana.

Ligante se liga e Receptor interage com a proteína G para Proteína G se


Espaço extracelular
ativa receptor promover alteração conformacional e a dissocia do receptor
troca de GDP por GTP

Os GEFs facilitam a
dissociação de GDP e
a ligação de GTP
Proteína G Citosol

Tanto a α – GTP como a βγ agora podem


As subunidades α –
interagir com seus efetores apropriados (E1, E2).
GTP e βγ se dissociam

Figura 27. Circuito de ativação da proteína G. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A..
Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

O evento de sinalização é rapidamen- uma vez, combina-se com as subuni-


te terminado, quando o hormônio é dades β e γ para formar a proteína G
removido e a subunidade α se inativa trimérica ligada à membrana e inativa
por conversão de seu GTP ligado em
GDP; depois, a subunidade α, mais
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 60

Hidrólise de GTP a GDP


α catalisada, inativa α e promove a
reformação do trímero

Membros da família RGS


de reguladores de proteína
G estimulam a hidrólise de
GTP com algumas, mas não
todas, as subunidades.

Figura 28. Desativação da proteína G. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A..
Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

SAIBA MAIS!
As proteínas G são ativadas por fatores de troca de nucleotídeo de guanina (GEFs) que
facilitam a dissociação do GDP e a ligação do GTP e são inativados pelas proteínas acelera-
doras de GTPase (GAPS) que aumentam a atividade GTPase das proteínas. A hidrólise do
GTP pela subunidade α é facilitada pela família de proteínas conhecidas como proteínas RGS
(reguladoras de sinalização pela proteína G), as quais facilitam a inativação da sinalização.

Subunidades α ativadas se acoplam produzem a resposta da célula ao hor-


a numerosas proteínas efetoras, in- mônio. Uma vez que o AMPc seja for-
cluindo a adenilil ciclase, as fosfo- mado dentro da célula, ele, em geral,
diesterases e as fosfolipases. Se uma ativa cascata de enzimas – a primeira
proteína Ge estimular a adenilil-cicla- enzima ativa, ativa uma segunda en-
se – enzima ligada à membrana pela zima, que ativa uma terceira e assim
proteína Ge – catalisa então a con- por diante. Assim, poucas moléculas
versão de pequena quantidade de tri- conseguem ativar uma série de ou-
fosfato de adenosina citoplasmático tras enzimas, isto é, uma quantidade
(ATP) em AMPc, dentro da célula. Isso discreta de hormônio atuando sobre
ativa a proteínocinase dependente de a superfície celular pode iniciar uma
AMPc (PKA), que fosforila proteínas cascata poderosa em toda a célula.
específicas na célula, desencadeando No entanto, se a ligação do hormô-
reações bioquímicas que, finalmente, nio a seus receptores for acoplada à
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 61

proteína Gi, a adenilil ciclase será ini- de célula-alvo, depende da natureza


bida, reduzindo a formação de AMPc da maquinaria intracelular — algu-
e, finalmente, levando à ação inibitó- mas células têm conjunto de enzi-
ria da célula. A ação específica que mas e outras células têm outras en-
ocorre em resposta a aumentos ou zimas. Portanto, diferentes funções
diminuições de AMPc, em cada tipo são desencadeadas em diferentes
células-alvo.

Líquido Hormônio
extracelular

Citoplasma

Adenilil
GTP
ciclase

AMPc ATP

Proteinocinase Proteinocinase
dependente do dependente do
AMPc ativo AMPc inativo

Proteína – P + ADP Proteína + ATP

Resposta celular

FIgura 29. Mecanismo do monofosfato adenosina cíclico (AMPc), pelo qual muitos hormônios exercem seu controle da fun-
ção celular. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SAIBA MAIS!
O AMPc é degradado em AMP pelas fosfodiesterases do AMPc, que são inibidas por cafeína e
outras metilxantinas. Assim, a cafeína pode prolongar a resposta celular mediada por AMPc e PKA.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 62

As proteínas G também regulam as do retículo endoplasmático, e os íons


fosfolipases, família de enzimas que cálcio então têm seus próprios efeitos
modulam diversas vias de sinalização. de segundo mensageiro, tais como
Alguns hormônios ativam receptores a contração da musculatura lisa e as
G que ativam a fosfolipase C, fixada às alterações da secreção celular. Já o
projeções internas desses receptores. DAG ativa a enzima proteinocinase C
Essa enzima catalisa a degradação (PKC), que então fosforila grande nú-
de alguns fosfolipídeos na membrana mero de proteínas, levando à resposta
celular, especialmente o difosfato de celular. Além desses efeitos, a parte
fosfatidilinositol (PIP2), em dois pro- lipídica do DAG é o ácido araquidô-
dutos diferentes de segundos men- nico, o precursor das prostaglandinas
sageiros: trifosfato de inositol (IP3) e e de outros hormônios locais, causa-
diacilglicerol (DAG). O IP3 mobiliza dores de múltiplos efeitos nos tecidos
os íons de cálcio das mitocôndrias e de todo o corpo.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 63

Hormônio
peptídico

Líquido extracelular

Receptor

Proteína G

Membrana celular
Fosfolipase C

DAG + IP3 PIP2

Citoplasma
Proteinocinase Proteinocinase
C ativa C inativa

Proteína – PO4 Proteína Ca++

Retículo endoplasmático
Resposta celular Resposta celular

Figura 30. O sistema de segundo mensageiro de fosfolipídeos da membrana celular pelo qual alguns hormônios
exercem seu controle da função celular. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SE LIGA! O Ca++ também é um mensageiro intracelular que produz efeitos celulares via
proteínas ligantes de Ca++, mais notavelmente a calmodulina (CaM). Quando o Ca++ se liga
à CaM, sua conformação é alterada e a mudança estrutural na CaM permite que ela se ligue
e regule outras proteínas sinalizadoras, incluindo a fosfodiesterase do AMPc. Pela ligação a
cinases dependentes de CaM, a CaM também fosforila resíduos específicos de serina e treo-
nina em muitas proteínas, incluindo a cinase da cadeia leve da miosina facilitando a contração
do músculo liso.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 64

Vias de transdução de sinal na circulação e vai ativar receptores


ligadas a receptor catalítico de membrana que são guanilil-cicla-
ses (GC) de membrana. A ativação
Existem diversas classes de recepto-
da GC leva à conversão de guanosina
res que apresentam atividade catalí-
trifosfato (GTP) em guanosina 3´,5´
tica ou que estão intimamente asso-
monofosfato (GMCc).O GMPc ativa a
ciados a proteínas que apresentam
proteinocinase dependente de GMPc
atividade catalítica. Dentre eles, há
(PKG) que fosforila proteínas em resí-
quatro classes principais:
duos específicos de serina e treonina.
No rim, o ANP inibe a reabsorção de
Receptor guanilil-ciclase sódio e água pelo ducto coletor.
O hormônio peptídico denominado O NO (óxido nítrico) ativa o receptor
peptídeo atrial natriurético (ANP), pro- guanilil-ciclase solúvel, que converte
duzido preferencialmente pelas célu- GTP em GMPc relaxando a muscula-
las musculares cardíacas, é lançado tura lisa.

SAIBA MAIS!
Nitroglicerina, por aumentar a produção de NO que aumenta o GMPc e, por conseguinte,
relaxa a musculatura lisa das artérias coronárias, tem sido muito utilizada para tratar a angi-
na pectoris, isto é, dor torácica causada por fluxo sanguíneo inadequado para a musculatura
cardíaca.

Receptor treonina/serina cinase proteínas Smad citoplasmáticas. Es-


O ligante conhecido para receptores tas movem-se para o núcleo, onde
treonina/serina cinases é o fator de formam dímero com outra proteína
crescimento transformante beta (TG- Smad, os quais agora se ligam ao
F-β), cuja ligação ativa a capacida- DNA, reprimindo ou estimulando a
de cinásica do receptor que fosforila transcrição do gene-alvo.

SAIBA MAIS!
Essa via de sinalização inibe o ciclo celular; portanto, não é de estranhar que mutações nos
genes do receptor ou das proteínas Smad estejam associadas a câncer (p. ex., de pâncreas e
de cólon).
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 65

Receptor tirosina-cinase à tirosina que não têm qualquer ati-


Os mensageiros extracelulares (com vidade cinase intrínseca, mas se as-
destaque para os fatores de cresci- sociam a proteínas que apresentam
mento, como a insulina e o fator de atividade tirosina-cinase, incluindo
crescimento neural), ao se ligarem ao as tirosina-cinases da família Src e
receptor tirosina-cinase, ativam sua da família Janus (JAK). Os receptores,
autofosforilação. Então, o receptor se nessa classe, se ligam a várias cito-
dimeriza, desencadeado uma cascata cinas, incluindo a interleucina-6 e a
de fosforilação de proteínas, muitas eritropoietina. As subunidades dos
delas tirosina-cinases citosólicas. Al- receptores associados à tirosina-ci-
gumas delas entram no núcleo e fos- nase se agregam em dímeros ou trí-
forilam fatores de transcrição. meros quando o ligante se acopla. A
agregação das subunidades aumenta
a ligação das tirosina-cinases, a que
Receptor associado à tirosina-cinase induz a atividade cinase e, dessa for-
A quarta classe de receptores catalí- ma, fosforila os resíduos de tirosina
ticos inclui os receptores associados nas cinases, assim como no receptor.
RECEPTOR RECEPTORES
GUANILIL RECEPTORES ASSOCIADOS À
CICLASE SERINA/TREONINA CINASES RECEPTORES TIROSINOCINASES (RTKS) TIROSINOCINASE

Espaço
N N Ligante N N Ligante extracelular N N
N N
N N

Domínios Domínios de
Esta é a Citosol
tirosinocinase
guanilil cinase que
Domínios de
ciclase fosforila os
tirosinocinase
efetores
Receptor Receptor adiante na Receptor de Receptor de
de ANP de TGF - β cadeia NGF insulina Receptor de IL - 6

Figura 31. Tipos de receptores catalíticos. Fonte: KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A..
Berne & Levy: Fisiologia. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 66

Vias de transdução do sinal Os receptores de esteroides são pro-


ligadas a receptor nuclear teínas com afinidade por determina-
do esteroide que, uma vez complexa-
A família de receptores nucleares in-
dos com o ligante, irão se dimerizar
clui mais de 30 genes e foi dividida
e se ligar a elementos responsivos
em duas subfamílias, baseadas na
localizados no promotor do gene-al-
estrutura e no mecanismo de ação:
vo. Alguns receptores de esteroides
(1) receptores de hormônios esteroi-
estão no núcleo, associados a desa-
des e (2) receptores que se ligam ao
cetilases, mantendo a expressão do
ácido retinóico, hormônio da tireoide
gene reprimida, a ele ligados mesmo
(iodotironinas) e vitamina D. Quando
na ausência do hormônio. Após a li-
o ligante se acopla a esses recepto-
gação do hormônio ao seu receptor,
res, o complexo ligante-receptor ativa
o complexo se separa da desacetila-
os fatores de transcrição que se ligam
se; então, recruta acetilases e liga-se
ao DNA e regulam a expressão de
a regiões específicas responsivas a
genes.
esteroides, ativando a expressão gê-
A localização dos receptores nuclea- nica. Em outros casos, a ligação do
res é variada. Os receptores para gli- complexo ao promotor pode reprimir
cocorticoides e mineralocorticoides o gene.
(esteroides) estão localizados no cito-
Outros receptores, como os de gli-
plasma, onde interagem com chape-
cocorticoides, estão no citoplasma.
ronas. A ligação do hormônio a esses
O cortisol, por exemplo, atravessa a
receptores resulta em alteração con-
membrana plasmática e liga-se ao
formacional que faz com que as cha-
seu receptor. O complexo resultan-
peronas se dissociem de seu recep-
te tem o domínio de ligação ao DNA
tor, o que facilita a translocação do
comprometido por ligação a proteínas,
complexo “hormônio ligado-receptor”
como o dímero heat shock protein
para o núcleo. Os receptores de es-
90 (hsp 90), o heat shock protein 70
trogênio e progesterona (esteroides)
(hsp 70) e o FKB P52. A dissociação
estão localizados, primariamente, no
do complexo libera a subunidade re-
núcleo, e os receptores dos hormô-
ceptor/cortisol, agora na forma ligan-
nios da tireoide e do ácido retinóico
te ao DNA. O receptor ativado forma
estão localizados no núcleo, ligados
um homodímero e se transloca para
ao DNA.
o núcleo, onde se liga a elementos
responsivos específicos ao cortisol no
DNA, para ativar a transcrição gênica.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 67

Cortisol

Ativação citoplasmática

Receptor monomérico
ativo
Dimerização

Transcrição Resposta

Figura 32. Cascata de sinalização do receptor de glicocorticoides. Fonte: AIRES, Margarida de Mello.
Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012

SE LIGA! Em resumo, existem dois tipos de receptores nucleares: um tipo, os receptores de


hormônios esteroides, que na ausência do ligante, está localizado no citoplasma ou no nucle-
oplasma, e, quando acoplado ao ligante, se transloca para o DNA. A outra classe, que abran-
ge os hormônios da tireoide, residem permanentemente acoplados ao DNA.]
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 68

MAPA MENTAL – RECEPTORES E VIAS DE TRANSDUÇÃO DO SINAL

Presentes no Neurotransmissores
Hormônios esteroides citoplasma ou no
nucleoplasma
Conversão do sinal Atividade GTPase
Ácido retinóico,
hormônios da tireoide Ligados ao DNA químico em elétrico intrínseca
e vitamina D
Células eletricamente Heterotrimérica
Tipos excitáveis

Ligados a
Regulam a Proteína G
canais iônicos
transcrição gênica
Podem ser excitáveis
RECEPTORES ou inibitórios
Receptores E VIAS DE Receptores de Associados à
intracelulares TRANSDUÇÃO membrana proteína G
DO SINAL Via da adenilil ciclase

Catalíticos Via da fosfolipase C


Conversão de
Tipos ATP em AMPc

Atividade enzimática Degradação do PIP2


TGF - β Treonina/serina cinase
Ativação da PKA
Saída de Ca++ da
IP3
NO e ANP Guanilil-ciclase mitocôndria
Fosforilação de
Insulina e fatores proteínas intracelulares
Tirosina-cinase Ativação da PKC DAG
de crescimento

Associado à
Interleucinas
tirosina-cinase
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 69

MAPA MENTAL – SINALIZAÇÃO CELULAR

Dependente de
Junções comunicantes
contato

Parácrina Células vizinhas

Célula sinalizadora Ligante Célula - alvo


Mesma célula ou
Autócrina
células do mesmo tipo

Comunicação
entre células Sináptica Neurotransmissores

Redução da
responsividade Por meio da corrente
Down - regulation Formas Endócrina
ao hormônio sanguínea
SINALIZAÇÃO
CELULAR
Aumento da Vias de transdução Atividade Receptor
Up - regulation guanilil-ciclase
responsividade de sinais enzimática
ao hormônio
Conversão de Receptor treonina/
Ligados a canais Canais iônicos um sinal químico serina cinase
Receptores
iônicos em elétrico
Receptor
Acoplados à Membrana Via de adenilil - tirosina-cinase
proteína G plasmática ciclase
Proteínas G
Receptor associado
Via de à tirosina- cinase
Catalíticos Intracelulares fosfolipase C
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 70

POTENCIAL DE AÇÃO E O sistema nervoso é composto por


TRANSMISSÃO SINÁPTICA células, por tecido conjuntivo e vasos
sanguíneos. Os neurônios (células
1. O SISTEMA NERVOSO nervosas) e a neuróglia são os prin-
O sistema nervoso representa uma cipais tipos celulares. Os neurônios
rede de comunicações e controle que são especializados na comunicação
permite que o organismo interaja, e sinalização para o funcionamento
de modo apropriado, com o seu am- do sistema nervoso, enquanto as cé-
biente. Esse ambiente inclui tanto o lulas da neuroglia são responsáveis
meio externo (o mundo fora do corpo) pelo suporte metabólico e físico dos
quanto o interno (os componentes e neurônios, além de isolá-los uns dos
cavidades do corpo). outros e ajudam a manter o meio in-
Pode ser dividido nas áreas central e terno do sistema nervoso.
periférica, e cada uma dela apresenta
subdivisões. O sistema nervoso pe- 2. NEURÔNIOS
riférico representa a interface entre
o meio ambiente e o sistema nervo- As funções do sistema nervoso ba-
so central (SNC). Ele inclui os neurô- seiam-se na atividade coordenada
nios sensitivos (ou aferentes primá- de dezenas de bilhões de neurônios,
rios), neurônios motores somáticos e mediando desde funções primitivas,
neurônios motores autônomos. como reações reflexas a estímulos
simples do ambiente, até a complexa
As funções gerais do sistema nervo-
percepção do meio externo, mecanis-
so incluem:
mos de atenção e controle de movi-
• Detecção sensorial - Processo pelo mentos delicados e precisos.
qual as células nervosas transfor- Os neurônios dispõem-se em cadeias
mam a energia ambiental em si- celulares de transmissão e processa-
nais neuronais; mento de informações. Para isso, eles
• Processamentos de informações - apresentam estruturas especializadas
Inclui desde a transmissão da in- na transformações de diversas formas
formação pelas redes neuronais de energia vindas do mundo externo,
até os processos de pensamento, como luz e som, em sinais neurais, por
conscientização, motivação, emo- meio da codificação das informações
ção e aprendizado; em uma linguagem comum ao sistema
nervoso. Assim, as informações vei-
• Expressão do comportamento - culadas por todas as formas de ener-
Resulta das respostas do organis- gias devem ser transduzidas em sinais
mo ao seu meio; elétricos.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 71

Essas células são claramente diferen- nervosas que não possuem dendritos
ciadas por serem especializadas na são inervados por poucas, senão por
comunicação intercelular. Esse atribu- uma única célula nervosa, enquanto
to é evidente em sua morfologia ge- neurônios com ramos dendríticos mui-
ral, na organização específica de seus to elaborados podem ser inervados
componentes de membrana para a si- por um número muito maior de neurô-
nalização elétrica e nas complexidades nios. Os dendritos proximais (próximos
funcional e estrutural dos contatos si- do corpo celular) contêm corpúsculos
nápticos entre neurônios, as sinapses. de Nissl e partes do aparelho de Golgi.
O neurônio consiste em corpo celular, Entretanto, os microtúbulos e neurofi-
ou soma, o qual apresenta um núme- lamentos são as principais organelas
ro variável de estruturas semelhantes citoplasmáticas dos dendritos.
aos galhos de uma árvores, os den- O axônio é a extensão da célula que
dritos e o axônio. O corpo celular (pe- leva o estímulo de uma célula para
ricário, soma) do neurônio contém o o próximo neurônio ou, no caso do
núcleo, o nucléolo da célula e as or- neurônio motor, para um músculo. Ele
ganelas – agregados de retículo en- pode “viajar” desde poucas centenas
doplasmático rugoso, que recebem o de micrômetros até muito além, de-
nome de Corpúsculo de Nissl, e um pendendo do tipo de neurônio e do
aparelhos de Golgi proeminente – que tamanho da espécie. Por exemplo, os
permitem a produção dos constituin- axônios que vão da medula espinal
tes da membrana, enzimas sintéticas humana até os pés podem ter cerca
e outras substâncias químicas neces- de 1 m de comprimento. O axônio se
sárias para as funções especializadas origina do soma (ou, às vezes, de um
das células nervosas. O soma tam- dendrito proximal), na região especia-
bém contém inúmeras mitocôndrias e lizado chamada cone axônico (ou cone
elementos do citoesqueleto, incluindo de implantação). O cone axônico e o
neurofilamentos e microtúbulos. axônio não apresentam retículo endo-
Os dendritos são ramificações do plasmático, ribossomos livres e apare-
soma que representam a principal lho de Golgi. Em geral, cada neurônio
área de recepção do estímulo sinápti- tem apenas um axônio que, normal-
co de outros neurônios para transmi- mente, tem diâmetro uniforme, porém
ti-lo ao soma e conforme se dividem, esse diâmetro, bem como o compri-
diminuem de espessura. O conjunto mento, varia de acordo com tipo de
de dendritos de um neurônio constitui neurônio. Os axônios podem ter ramos
a árvore dendrítica, a qual estabele- ortogonais discretos, mas em geral,
ce o número de entradas de estímu- terminam por várias ramificações, cha-
los que um neurônio recebe – células madas de arborização terminal.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 72

Mitocôndria

Núcleo
Terminação
Corpo do Axônio
Bainha de
Celular Mielina
Nó de Sinapse
Dendritos Ranvier
Célula de
Schwann

Axônio

Figura 33. Estrutura do neurônio. Fonte: Potencial de ação do nervo e alterações associadas
na condutância do Na+ e do K+.

Além dessa estrutura, muitos axônios pela células de Schwann e os axônios


podem ser cercados por uma bainha mielinizados são envoltos por múl-
de mielina, formada pelo enrolamen- tiplas camadas de membranas das
to em espiral de diversas camadas de células de Schwann, semelhantes ao
membrana de células da neuroglia. revestimentos dos oligodendrócitos
No SNC, os axônios mielinizados, isto dos axônios centrais. A mielina é res-
é, os que apresentam bainha de mie- ponsável por aumentar a velocidade
lina, são envolvidos pela membrana de condução do impulso nervo devi-
dos oligodendrócitos e os axônios do, em parte, à restrição do fluxo de
não-mielinizados não o são. No Siste- corrente iônica por pequenos espa-
ma Nervoso Periférico (SNP), os axô- ços não-mielinizados do axônio entre
nios não-mielinizados são isolados as bainhas adjacentes das células de
Schwann, os nódulos de Ranvier.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 73

Axônio

Bainha de mielina
Citoplasma da
célula de Schwann
Núcleo da célula
de Schwann
Nó de Ranvier

Axônios amielinizados

Núcleo da célula de Schwann


Citoplasma da
célula de
Schwann

Figura 34. Função da célula de Schwann no isolamento das fibras nervosas. A. Revestimento da membrana da célula
de Schwann, em torno de um axônio calibroso para formar a bainha de mielina da fibra nervosa mielinizada. B. Reves-
timento parcial da membrana e do citoplasma da célula de Schwann em torno de várias fibras nervosas amielinizadas.
Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

NA PRÁTICA!
A importância da mielina para o funcionamento do sistema nervoso é ilustrada pelo resul-
tado dramático de uma doença desmielinizante chamada esclerose múltipla, uma pato-
logia autoimune com forte componente genético. Na esclerose múltipla, reações inflama-
tórias focais destroem a mielina em vários sítios no sistema nervoso central e periférico,
resultando em redução da velocidade de condução de impulsos nervosos, que pode ser
detectada por diversos testes eletrofisiológicos clínicos, como o registro de potenciais
evocados ou medidas de latência de respostas periféricas à estimulação elétrica percutâ-
nea. A patologia afeta indistintamente sistemas sensoriais, motores e cognitivos, produ-
zindo múltiplos sinais e sintomas neurológicos.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 74

MAPA MENTAL – ESTRUTURA DO NEURÔNIO

Conduz o estímulo
Extensão única
para a próxima célula

Não apresentam RE, ribossomos


Origem no soma Cone axônico
e aparelho de Golgi

Axônio Enrolamento de diversas Células de


SNP
camadas de membrana Schwann
de células da neuroglia

SNC Oligodendrócitos
ESTRUTURA
Dendritos DO Bainha de mielina
NEURÔNIO

Ramificações do soma Aumento da velocidade


de propagação do
Soma impulso nervoso
Recepção do
Aparelho de Golgi
estímulo sináptico

Citoesqueleto Componentes Componentes

Corpúsculos de Nissl Árvore dendrítica Mitocôndrias Corpúsculo de Nissl RER

Núcleo Aparelho de Golgi

Nucléolo Citoesqueleto
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 75

3. POTENCIAL DE elétrica autorregenerativa chamada


AÇÃO E POTENCIAL DE de potencial de ação (PA), que se pro-
MEMBRANA paga do ponto de iniciação no corpo
celular (o cone de implantação) até o
O evento que permite a transmissão
terminal axonal, onde acontecem os
dos sinais por distâncias curtas ou
contatos sinápticos.
bem longas é uma onda de atividade

SAIBA MAIS!
A maioria dos estudos para compreensão do funcionamento da membrana do axônio é re-
alizada em axônios gigantes de lula que apresentam, em média, 1 mm de diâmetro. Dessa
forma, é possível introduzir, com certa facilidade, microeletrodos para a estimulação e registro
da atividade elétrica da membrana, e ainda substituir o conteúdo axoplasmático para estudar
o papel dos componentes do fluido intracelular.

Antes de compreender como é acio- Em experimentos, o potencial de re-


nado o potencial de ação, precisamos pouso pode ser modulado pela apli-
entender como a célula encontra-se cação de pulsos de corrente. Pulsos
antes do PA. Quando a célula não de baixa intensidade produzem va-
está transmitindo nenhum impulso, riações de potencial proporcionais à
ela se encontra em seu potencial de intensidade da corrente, e cuja pola-
repouso, também conhecido como ridade depende do sinal da corrente
potencial de membrana. Ele é marca- aplicada. Um aumento da diferença
do por uma eletronegatividade intra- de potencial, tornando o interior mais
celular, que varia nas diferentes célu- negativo, é denominado hiperpolari-
las do nosso organismo, enquanto o zação, enquanto uma diminuição do
meio extracelular encontra-se positi- potencial de membrana, tornando o
vo. Em neurônios, a eletronegativida- interior da célula menos negativo, é
de intracelular se encontra por volta de denominado despolarização. No
de -70mV, valor encontrado ao inse- caso de pulsos de corrente despola-
rir um microeletrodo através da mem- rizantes, o aumento da intensidade
brana plasmática do axônio gigante da corrente aplicada pode, eventu-
de uma lula ausente de estimulação. almente dar origem a uma resposta
distinta. Em lugar de uma lenta varia-
SE LIGA! O valor do potencial de mem- ção típica de potencial, a membrana
brana corresponde a diferença entre o responde com uma variação de po-
potencial intracelular e o extracelular é tencial rápida, de grande amplitude,
variável entre as diversas células, mas, o
meio intracelular é sempre negativo e o cerca de 120mV no total, e duração
extracelular é positivo.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 76

curta, tipicamente da ordem de 1 a membrana com correntes despolari-


2 ms. Essa variação no potencial da zantes superiores a uma intensidade
membrana constitui o impulso ner- determinada que corresponde ao li-
voso ou potencial de ação. Durante miar de excitabilidade. Correntes que
o potencial de ação, o potencial de produzem apenas sinais locais são
membrana atinge cerca de + 50mV ditas subliminares, e correntes sufi-
(o interior encontra-se positivo), ocor- cientes para disparar um potencial
rendo assim uma inversão na polari- de ação são chamadas supralimina-
dade da membrana. res. Além disso, uma vez atingido o
Os registros mencionados ilustram limiar, o potencial de ação se propaga
os dois tipos de sinais elétricos que por toda a extensão da fibra nervosa
a membrana neuronal é capaz de sem sofrer alterações de amplitude
produzir. Sinais locais são variações e forma à medida que é regenerado
passivas de potencial causadas por ao longo do axônio. Quando se aplica
correntes de baixa intensidade, que um estímulo ainda maior do que o li-
tendem a se dissipar ao longo de dis- miar, o potencial de ação se mantém
tâncias curtas, e cuja amplitude é pro- inalterado, não aumentando com o
porcional à intensidade do estímulo. aumento da intensidade do estímulo.
Já os sinais propagados, veiculados Um estímulo apenas produz um po-
pelos potenciais de ação, apresen- tencial de ação ou não. Por essa ra-
tam propriedades diferentes. Eles só zão ele é descrito como um resposta
aparecem a partir da estimulação da do tipo tudo-ou-nada.

Potenciais de ação

Potenciais
Milivolts

subliminares
agudos
Limiar

Milissegundos

Figura 35. Efeito de voltagens crescentes do estímulo para produzir um potencial de ação. Fonte: HALL, John E.. Tra-
tado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 77

quando o intervalo entre dois pulsos


SE LIGA! No caso do axônio gigante de sucessivos é reduzido, o limiar de ex-
lula, por exemplo, o limiar encontra-se citabilidade para geração do segundo
próximo a -55mV. Quando o potencial
potencial de ação aumenta progres-
de membrana excede esse valor, um po-
tencial de ação é desencadeado. Assim, sivamente até que, para intervalos
pode-se definir o limiar de excitabilidade muito curtos, é impossível gerar um
como a voltagem da membrana na qual segundo potencial de ação no qual a
ocorre probabilidade de 50% de ser ge-
rado um potencial de ação.
membrana é resistente à estimulação.
O período após a geração de um po-
tencial de ação no qual a membrana
O aumento da intensidade de um é resistente à estimulação elétrica
estímulo elétrico sobre um axônio é denominado período refratário e
resulta na elevação não da amplitu- apresenta uma função importante li-
de, mas da frequência de potenciais mitando a frequência máxima de po-
de ação propagados. Nesse sentido, tenciais de ação que um neurônio é
a estimulação repetitiva revela uma capaz de transmitir. Ele se divide em
propriedade adicional dos potenciais período refratário absoluto, no qual a
de ação. Para frequências de estimu- membrana é inexcitável, e um perío-
lação baixas, a membrana é capaz do refratário relativo, durante o qual a
de gerar um potencial de ação para membrana recupera gradativamente
cada pulso de corrente, e o limiar de sua excitabilidade.
excitabilidade é constante. Contudo,
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 78

MAPA MENTAL – POTENCIAL DE REPOUSO E POTENCIAL DE AÇÃO

Aumento da diferença
Membrana polarizada Hiperpolarização
POTENCIAL DE de potencial
REPOUSO DE
Eletronegatividade MEMBRANA Diminuição da diferença
Neurônios = -70mV Despolarização
intracelular de potencial

Sinal propagado

Membrana
Absoluto
inexcitável
Sinais locais
POTENCIAL Corrente supraliminar
Recuperação da
DE AÇÃO
Relativo
excitabilidade
Acima do limiar de Corrente subliminar
Resistência à excitabilidade
Período refratário
estimulação elétrica
Abaixo do limiar
Inversão na polaridade de excitabilidade
Neurônios = +50mV
da membrana

Duração curta

Tudo-ou-nada
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 79

SE LIGA! Após alcançar o seu pico em SE LIGA! A interpretação do mecanis-


cerca de +50mV, durante o potencial de mo iônico do potencial de membrana
membrana, o potencial de membrana baseia-se no princípio de que o fluxo
retorna ao seu valor de repouso quase iônico através da membrana é função
tão rapidamente quanto foi despolariza- do gradiente eletroquímico. Cada íon
do. Após a repolarização, ocorre uma hi- tende a fluir do lado mais concentrado
perpolarização variável, conhecida como para o menos concentrado, e no senti-
pós-hiperpolarização. A despolarização do do polo oposto à sua carga elétrica. A
do potencial de ação dura de 1 a 2ms, combinação desses gradientes químico
mas a hiperpolarização que se segue e elétrico, respectivamente, determina o
pode persistir de alguns milissegundos gradiente eletroquímico. No entanto, a
até 100ms em algumas células. cada instante, o movimento iônico é es-
tritamente dependente da condutância
da membrana ao íon.
Bases iônicas do potencial de
repouso da membrana
Para compreender a influência da
Durante os experimentos com o axô- permeabilidade desses íons na gera-
nio gigante de lula, em repouso, foi ção do potencial de membrana, de-
observada a maior presença de po- vemos entender o uso da equação de
tássio (K+) dentro da célula, em com- Nernst. Ela é utilizada para calcular o
paração ao meio externo, enquanto potencial de equilíbrio em uma deter-
havia muito mais íons de sódio (Na+) minada diferença de concentração de
fora do que dentro do neurônio. Gra- um íon ao qual a membrana celular é
dientes de concentração similares permeável. Ela informa qual potencial
ocorrem nos neurônios da maioria equilibrará exatamente a tendência à
dos animais, incluindo humanos. Es- difusão a favor do gradiente de con-
ses gradientes de concentração de- centração; em outras palavras, infor-
pendentes de transportadores são, ma em qual potencial o íon estaria em
indiretamente, a origem do potencial equilíbrio eletroquímico.
de repouso da membrana neuronal e
O potencial de repouso da membra-
do potencial de ação.
na é estabelecido pelos potenciais de
difusão que resultam das diferenças
de concentração dos íons que atra-
vessam a membrana. Cada íon que
atravessa a membrana procura im-
pulsionar o potencial de membrana
em direção ao seu potencial de equi-
líbrio. Os íons com as maiores per-
meabilidades ou condutâncias darão
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 80

a maior contribuição para o potencial permeáveis ao K+ que estão abertos


de repouso da membrana, enquanto no neurônio em repouso, e o gradien-
os que apresentam menor perme- te de concentração do potássio é pro-
abilidade darão pouca ou nenhuma duzido por transportadores na mem-
contribuição. brana que seletivamente acumulam o
Por exemplo, o potencial de repou- íon dentro dos neurônios.
so da membrana nos nervos é de –
70mV, que está próximo do poten- SE LIGA! A bomba de Na+/K+ só contri-
cial de equilíbrio calculado do K+, de bui de maneira indireta para o potencial
de repouso da membrana, ao manter,
–85mV, porém distante do potencial
através da membrana celular, os gra-
de equilíbrio calculado do Na+, de dientes de Na+ e K+, que geram, então,
+65mV. Isso porque, em repouso, potenciais de difusão. A contribuição
a membrana do nervo é muito mais eletrogênica direta da bomba (3 Na+
bombeados para fora da célula para
permeável ao K+ do que ao Na+. cada 2 K+ bombeados para dentro da
A permeabilidade seletiva ao K+ é célula) é pequena.
causada por canais na membrana

ESQUEMA – BASES IÔNICAS DO POTENCIAL DE REPOUSO

BASES IÔNICAS
↑ [K+] intracelular DO POTENCIAL ↑ [Na+] extracelular
DE REPOUSO

Maior permeabilidade
da célula ao K+

Influência indireta da Potencial de equilíbrio mais Canais de vazamento


bomba de sódio e potássio próximo do potencial de repouso de potássio abertos
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 81

Bases iônicas dos potenciais de A geração do potencial de ação de-


ação pende de um estímulo supraliminar
produzir um súbito aumento da con-
De forma semelhante ao que acon-
dutância ao sódio, provocando assim
tece com o potencial de repouso, o
uma intensa passagem deste íon para
potencial de ação depende das ten-
dentro do neurônio – fase ascendente
dências opostas do (1) gradiente de
do potencial de ação. A tendência do
Na+ para levar o potencial de repou-
potencial de membrana é de, nessas
so da membrana na direção do po-
circunstâncias, atingir valores próxi-
tencial de equilíbrio para o Na+ e do
mos ao potencial de equilíbrio do só-
(2) gradiente de K+ para levar o po-
dio, de cerca de +55mV (interior posi-
tencial de repouso da membrana na
tivo). A grande entrada de íons sódio
direção do potencial de equilíbrio do
(influxo) através da membrana faz
K+. O potencial de membrana em
com que o potencial de membrana
cerca de –70Mv (interior negativo) e
“ultrapasse” (overshoot) rapidamen-
o gradiente de concentração de sódio
te o nível zero. Por esta razão, ocorre
de 9:1 (mais concentrado no meio ex-
a despolarização e a inversão da po-
tracelular) constituem um gradiente
laridade da membrana, passando o
eletroquímico altamente favorável à
interior da célula a ser positivo. Esse
entrada de sódio na célula. Esse influ-
aumento temporário na permeabili-
xo não ocorre porque a permeabilida-
dade ao Na+ resulta na abertura de
de da membrana ao sódio é extrema-
milhares de canais seletivos ao Na+
mente baixa em repouso.
que estão essencialmente fechados
no estado de repouso.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 82

Pico
∼ +40
Potencial de membrana (mV)

Overshoot
0

Limiar
∼-55
Estímulos Potencial de repouso
subliminares
∼-70
Hiperpolarização
Estímulo

0 1 2 3 4 5
Tempo (ms)

Figura 36. Potencial de ação. Fonte: https://blog.jaleko.com.br/o-famoso-potencial-de-acao/

SE LIGA! Nota-se que a abertura dos canais de sódio trata-se de uma alça de feedback
positivo que é responsável pela natureza explosiva do potencial de ação: a corrente de Na+
despolariza a membrana, fazendo com que mais canais de Na+ se abram, o que, por sua vez,
aumenta a corrente de Na+. Assim, a abertura dos canais de sódio dependentes de voltagem
e a ação despolarizante da corrente de Na+ são responsáveis pela fase de aumento rápido
do potencial de ação.

SAIBA MAIS!
A tetrodotoxina (TTX), um dos venenos mais poderosos que se conhece, e a lidocaína são
drogas que bloqueiam esses canais de sódio sensíveis à voltagem e suprimem os potenciais
de ação. A saxitoxina é outro bloqueador dos canais de Na+ produzido pelos dinoflagelados
avermelhados responsáveis pelas marés vermelhas. Os crustáceos comem os dinoflagelados
e concentram a saxitoxina em seus tecidos. A alguém que coma esses crustáceos poderá
desenvolver paralisia mortal 30 minutos após sua ingestão.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 83

Os canais de sódio dependentes de Quando o potencial de membrana se


voltagem apresentam duas compor- torna menos negativo devido à des-
tas – uma perto da abertura externa polarização, ocorre uma alteração
do canal, referida como comporta de conformacional abrupta da comporta
ativação, e a outra perto da abertura de ativação, fazendo com que o canal
interna do canal, referida como com- fique totalmente aberto. Durante esse
porta de inativação. Em repouso, a estado ativado, os íons sódio podem
comporta de ativação está fecha- entrar pelo canal, aumentando a per-
da, impedindo a entrada, por menor meabilidade da membrana ao sódio
que seja, de íons sódio para o interior por 500 a 5000 vezes.
da fibra, por esses canais de sódio.

Comporta de Filtro de
ativação Na+ Na+ seletividade Na+

Comporta de
inativação
Repouso - Ativado Inativado
Fechado (-90 a +35 mV) (+35 a – 90 mV,
(-90 mV) demorado)

Figura 37. Canal regulado pela voltagem de sódio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall.
13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

O aumento de condutância ao sódio potássio. Um aumento tardio da con-


é, no entanto, transitório. Em menos dutância para este íon provoca saída
de 1ms, a permeabilidade da mem- de potássio suficiente para repolari-
brana ao sódio volta a valores muito zar a membrana.
baixos. Além disso, a inversão de po- Quando o aumento transitório da
laridade da membrana causada pela condutância do Na+ termina, a per-
entrada de sódio cria um gradiente meabilidade do potássio, por meio
eletroquímico favorável à saída de de canais de vazamento de K+ que
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 84

proporcionam o potencial de repou- que se abre com a despolarização.


so, permitem o desenvolvimento de Quando a membrana se despolariza,
corrente que repolariza a membra- durante o potencial de ação, muitos
na. Além disso, há canais de K+ de- desses canais de K+ se abrem, pro-
pendentes de voltagem que podem porcionando um efluxo do potássio.
contribuir para a repolarização. Esses Essa corrente do K+, oposta à corren-
canais têm, apenas, uma comporta te do Na+, proporciona a repolariza-
ção da membrana.

K+ K+
Repouso Ativação lenta
(-90 mV) (+35 a -90 mV)
Figura 38. Canal regulado pela voltagem do potássio. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e
Hall. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SAIBA MAIS!
O tetraetilamônio (TEA+) é um veneno que atua bloqueando os canais de K+.

O mesmo aumento da voltagem que aberto por alguns décimos de milési-


faz com que a comporta do canal de mos de segundo, o canal é inativo e
sódio seja ativada também faz com se fecha, e os íons sódio não podem
que a comporta seja inativada. A atravessar a membrana. Nesse mo-
comporta é desativada em poucos mento, o potencial de membrana co-
décimos de milésimos de segundo meça a se aproximar de seu estado
após ter sido ativada. Assim, após normal de repouso, que é o processo
o canal de sódio ter permanecido de repolarização.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 85

Figura 39. Esquema das alterações típicas da condutância dos canais de íons de sódio e potássio de acordo com as
alterações do potencial da membrana. Fonte: HALL, John E.. Tratado de Fisiologia Médica: Guyton e Hall. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p

SE LIGA! Outra característica importante do processo de inativação do canal de sódio é que


a comporta inativada só vai reabrir quando o potencial de membrana retornar ou se aproxi-
mar do potencial de repouso na condição original. Por essa razão, usualmente não é possível
para o canal de sódio voltar a abrir sem que a fibra nervosa seja primeiro repolarizada. Essa
propriedade origina o período refratário. O período refratário absoluto dura enquanto toda a
população de canais de sódio está no estado ativado. Nesse estado, não se pode recrutar o
número crítico de canais de Na+ necessário para produzir o potencial de ação. No período
final do potencial de ação, a célula é capaz de gerar outro potencial de ação, mas isto requer
estímulo mais forte do que o normal. Esse é o período refratário relativo. Na fase inicial do
período refratário relativo, antes que o potencial de membrana tenha retornado ao nível do
potencial de repouso, alguns canais de Na+ ainda estão inativados pela voltagem. Conse-
quentemente, é preciso estímulo maior do que o normal para abrir o número crítico de canais
de Na+ necessário para gerar o potencial de ação. Durante o período refratário relativo, a
condutância do K+ está aumentada, contrapondo-se à despolarização da membrana. Esse
aumento da condutância do K+ também contribui para a refratariedade e, devido à resposta
relativamente lenta dos canais de K+, para seu prolongamento.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 86

A condutância ao potássio permane- Como os canais de K+ dependentes


ce por algum tempo mais alta que na de voltagem não se fecham imediata-
condição de repouso, produzindo, em mente quando ocorre a repolarização,
muitos axônios, uma hiperpolarização a condutância da membrana ao K+ é
transitória. Em poucos milissegundos, maior, no final do potencial de ação,
a membrana volta ao potencial de re- do que era antes do seu início. Isso
pouso, com o restabelecimento das significa que o potencial de membra-
condutâncias iônicas basais para o na ficará mais perto do potencial de
sódio e potássio. Nernst para o K+, sendo a base da
pós-hiperpolarização que se segue
ao pico.

Figura 40. Potencial de ação do nervo e alterações associadas na condutância do Na+ e do K+. Fonte: COSTANZO,
Linda S.. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

SE LIGA! A partir do que vimos, é importante ressaltar que o potencial de membrana retorna
ao seu valor original de repouso à medida que os canais dependentes de voltagem se fe-
cham. Eles se fecham porque a voltagem fica novamente negativa.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 87

FLUXOGRAMA – BASES IÔNICAS DO POTENCIAL DE AÇÃO

BASES
IÔNICAS DO
POTENCIAL
DE AÇÃO

Despolarização Repolarização Hiperpolarização

Aumento da
Estímulo supraliminar Transitória
permeabilidade de K+

Elevada condutância
Overshoot Abertura de canais de K+
ao potássio prolongada

Inativação desses
Aumento da canais impede um
Transitório Saída de K+
condutância ao sódio segundo potencial
de ação

Exige maior estímulo


Abertura de canais de sódio
Inativação de canais de Na +
Período refratário para gerar potencial de
voltagem- dependentes
ação

Alguns canais
Retorno ao potencial Relativo
Entrada de Na+ ainda nativos
de repouso

Todos os canais
Absoluto
estão inativos
Inversão da polaridade
Polarização da membrana
da membrana
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 88

NA PRÁTICA!
A paralisia hipercalêmica periódica é um distúrbio hereditário no qual os pacientes apre-
sentam episódios de contrações periódicas dolorosas e espontâneas, seguidas por pa-
ralisia dos músculos afetados. Esses sintomas são acompanhados pela concentração de
potássio elevada no plasma e no fluido extracelular. Essa elevação causa a despolariza-
ção das células musculares esqueléticas. Inicialmente, a despolarização leva as células
musculares para perto do limiar excitatório, e, assim, aumenta a probabilidade de ocorre-
rem potenciais de ação e contrações espontâneas. Conforme a despolarização da célula
fica mais acentuada, as células ficam refratárias devido à inativação dos canais de Na+
pela voltagem. Consequentemente, as células passam a ser incapazes de desencadear
potenciais de ação, não sendo capazes de se contrair em resposta aos potenciais de ação
em seus axônios motores.

4. PROPAGAÇÃO DO força, o potencial de ação se autor-


POTENCIAL DE AÇÃO regenera à medida que é conduzido
pela fibra. Pode-se que o potencial de
A transmissão dos impulsos nervo-
ação, além de conduzido é também
sos, na forma de potenciais de ação, é
propagado.
atividade fundamental dos neurônios.
Os axônios dos neurônios motores do A propagação envolve a geração de
corno ventral da medula conduzem “novos” potenciais de ação confor-
os potenciais de ação do corpo celular mem invadem a célula. Se, ao invés
do neurônio para as fibras muscula- de reposta local subliminar, o estímu-
res esqueléticas do corpo, e o compri- lo gerar um potencial de ação, a des-
mento do axônio pode chegar a mais polarização explosiva pode causar in-
de 1m. fluxo de corrente suficiente para fazer
com que as áreas adjacentes atinjam
A condução com decréscimo do im-
o limiar e gerem potenciais de ação.
pulso não será capaz de levar o sinal
Essas áreas podem, então, fazer com
de uma ponta à outra do axônio, a não
que o fluxo de corrente local atinja
ser que ele seja muito curto, como é
áreas mais distantes e estas, por sua
o caso dos neurônios da retina. Para
vez, atinjam o limiar, gerando, assim,
que um impulso elétrico percorra toda
potenciais de ação.
a extensão dessas células sem perder
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 89

Figura 41. Condução do potencial de ação ao longo de um axônio. Fonte: PURVES, Dale et al. Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 90

Figura 42. Propagação de potencial de ação em axônio amielínico. Fonte: AIRES, Margarida de Mello.
Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012

SE LIGA! Em resumo, a propagação envolve ciclos recorrentes de despolarização para gerar


um fluxo local de corrente suficiente para a geração do potencial de ação nas áreas adjacen-
tes da membrana celular. Consequentemente, o potencial de ação é conduzido pelo axônio
com a geração de “novos” potenciais de ação em toda a sua extensão, podendo ser propaga-
do por longas distâncias, mantendo a mesma amplitude e forma.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 91

Um potencial de ação poderia se pro- de condução de impulsos em verte-


pagar nos dois sentidos a partir de brados de grandes dimensões.
um ponto central de um axônio es- Para resolver essa questão, temos
timulado artificialmente, no entanto, a bainha de mielina que já foi apre-
nos neurônios intactos in vivo, os sentada anteriormente. As diversas
potenciais de ação são gerados no camadas de membrana em torno do
segmento inicial (ou cone de implan- axônio aumentam a resistência efeti-
tação) do axônio-local onde há uma va da membrana e diminuem a capa-
grande densidade de canais de Na+ citância através da membrana. Como
controlados por voltagem, o que con- o efeito da capacitância da membra-
fere à sua membrana o menor limiar na é reduzir a velocidade com a qual
da célula – e, à medida que o impulso o potencial de membrana pode ser al-
nervoso caminha ao longo do axônio terado, essa redução da capacitância
seu retorno é impedido pelo período dos axônios mielinizados significa que
refratário absoluto no segmento por a despolarização ocorre mais rapida-
onde o potencial de ação acabou de mente. A bainha de mielina é inter-
passar. Deste modo, o período refra- rompida regularmente pelos nós de
tário é o responsável pelo fato de que Ranvier, regiões que não contam com
a propagação do impulso nervoso é várias camadas justapostas de mem-
unidirecional. branas, onde a resistência transversal
Outra característica importante a ser da membrana é baixa e contam com
considerada na propagação do impul- uma grande concentração de canais
so nervoso é a influência do diâmetro de Na+. Logo, a corrente tende a fluir
do axônio na condução dos impulsos através desses segmentos. Registros
nervosos. Em qualquer condutor de de atividade elétrica com eletrodos
eletricidade, a resistência elétrica é extracelulares ao longo de axônios
inversamente proporcional à área de mielinizados demonstram que os po-
seção transversa. Assim, quanto o tenciais de ação são gerados nos nós
maior o diâmetro do axônio, maior a de Ranvier, sucessivamente ao longo
velocidade de propagação. Entretan- do axônio, resultando na chamada
to, a capacidade do sistema nervoso condução saltatória. Portanto, a mie-
de lidar com transmissão de impul- linização é uma forma extremamente
sos a longas distâncias é limitada por eficaz de aumentar a velocidade de
questões de espaço. Portanto, o sim- condução de impulsos nervosos pou-
ples aumento do diâmetro dos axô- pando espaços.
nios seria uma maneira muito inefi-
ciente para produzir altas velocidades
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 92

Figura 43. Condução saltatória do potencial de ação ao longo de um axônio mielinizado. Fonte: PURVES, Dale et al. Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 93

Mielina

Nó de Ranvier

Figura 44. Propagação de potencial de ação em axônio mielinizado. Fonte: AIRES, Margarida de Mello.
Fisiologia. 4. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012

SE LIGA! De fato, os axônios mielinizados de menor calibre conduzem impulsos nervosos


com velocidade bem mais alta que axônios amielínicos de calibre consideravelmente maior.

SE LIGA! Os potenciais de ação de axônios mielinizados não apresentam a pós-hiper-


polarização ou longo período refratário relativo porque seus nós não têm canais de . Isso
aumenta a frequência da atividades desses axônios de condução rápida. Os axônios mie-
linizados também são metabolicamente mais eficientes do que os axônios não-mieliniza-
dos. A /-ATPase expulsa o que entra e reacumula o que sai da célula durante os potenciais
de ação. Nos axônios mielinizados, as correntes iónicas são restritas à pequena fração da
superfície da membrana nos nós de Ranvier. Por essa razão, menos íons atravessam a
unidade de comprimento de membrana, sendo necessária menor atuação das bombas
iônicas — e gasto de energia — para manter os gradientes.

A grande velocidade da condução reflexos rápidos e, também, suporta


e propagação dos impulsos nervo- o processamento mental eficiente e
sos permite o desenvolvimento de complexo.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 94

MAPA MENTAL – PROPAGAÇÃO DO POTENCIAL DE AÇÃO

O potencial de ação
provoca a despolarização
das áreas adjacentes

Regeneração do
potencial de ação
↑ diâmetro do
axônio = ↑ velocidade
de propagação

PROPAGAÇÃO
Princípio do Mantém a mesma
DO POTENCIAL Velocidade Diâmetro do axônio
tudo ou nada amplitude e forma
DE AÇÃO

Economia de energia

Influência do
Unidirecional Mielinização
período refratário

Cone de implantação Axônio Terminal axônico Nós de Ranvier

Grande concentração
Maior densidade de
de canais de sódio
canais de Na+

Condução saltatória
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 95

5. TRANSMISSÃO e células musculares ou receptores


SINÁPTICA sensoriais). No sistema nervoso, a
transmissão sináptica, em geral, é
A transmissão sináptica é o principal
imaginada como interação entre dois
processo pelo qual os sinais elétricos
neurônios do tipo ponto a ponto, em
são transferidos entre as células do
junções especializadas chamadas si-
sistema nervoso (ou entre neurônios
napses. Existem duas principais clas-
ses de sinapses: elétrica e química.

SAIBA MAIS!
Apesar da definição clássica de sinapse restringir a relação entre neurônios, hoje, sabe-se
que a transmissão sináptica envolve um conceito bem mais amplo. Sabemos, agora, que a
glia forma elemento importante da sinapse, que ocorre sinalização entre os neurônios e a glia
e que, em muitos casos, o neurotransmissor, liberado nas sinapses, atua em amplo território
e não apenas na sinapse na qual é liberado. Portanto, devemos generalizar a definição de
transmissão sináptica ou considerar a sinapse, em sua definição clássica, como um dos vários
mecanismos pelos quais as células do sistema nervoso se comunicam.

Sinapses Elétricas A estrutura de uma sinapse elétrica


baseia-se na aproximação das mem-
Apesar de sua existência no sistema
branas do neurônio pré-sináptico (de
nervoso central (SNC) dos mamífe-
onde vem o potencial de ação) e da
ros ser conhecida há muito tempo,
célula pós-sináptica (que receberá o
as sinapses elétricas ou junções co-
impulso nervoso). Com essa aproxi-
municantes entre os neurônios eram
mação, as células são conectadas por
consideradas relativamente pouco
uma especialização intercelular de-
importantes para o funcionamento
nominada junção ou comunicante ou
do SNC de mamíferos adultos. Só re-
em fenda. As junções comunicantes
centemente ficou aparente que essas
contêm canais nas membranas pré e
sinapses são muito comuns e que
pós-sinápticas precisamente parea-
são as bases de funções neuronais
dos e alinhados, de tal maneira que
importantes. Nesse tipo de sinapse,
cada par de canais forma um poro.
a comunicação se dá pela passagem
Como resultado, uma variedade de
direta de corrente elétrica de uma cé-
substâncias pode apenas difundir-se
lula para outra.
entre os citoplasmas dos neurônios
pré e pós-sinápticos.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 96

SE LIGA! Cada canal da junção comunicante é formado por hemicanais (chamados coné-
xons), sendo cada um a contribuição de uma das células. Por sua vez, cada conéxon é hexâ-
metro de subunidades da proteína conexina. Junções comunicantes formadas por diferentes
conexinas têm propriedades biofísicas (de controle e condutância) e distribuição celular dis-
tintas. Apesar de, pelo menos, 10 tipos de conexinas se expressarem no SNC, a conexina
36 (as conexinas são nomeadas de acordo com seu peso molecular; portanto, o número re-
fere-se ao peso molecular aproximado da conexina em quilodaltons) é a principal conexina
neuronal no SNC adulto. Outros tipos de conexinas, encontrados no SNC, formam junções
comunicantes entre células da glia ou se expressam, primariamente, de modo transitório, du-
rante o desenvolvimento.

Figura 45. Estrutura das junções comunicantes nas sinapses elétricas. Fonte: PURVES, Dale et al.
Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Sinapses elétricas, portanto, funcio- de ação. Além disso, a comunicação


nam permitindo que a corrente iôni- através dos canais permite a passa-
ca flua de forma passiva através dos gem de moléculas como AMP cíclico
poros das junções comunicantes de e trifosfato de inositol, que são impor-
um neurônio para outro. A fonte usual tantes segundos mensageiros envol-
dessa corrente é a diferença de po- vidos em diversos mecanismos de re-
tencial gerada no local pelo potencial gulação celular.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 97

Essa transmissão pode ser bidirecio- O propósito mais geral das sinapses
nal, isto é, a corrente pode fluir em elétricas é sincronizar a atividade elé-
qualquer direção através da junção trica entre populações de neurônios.
comunicante, dependendo de qual Por exemplo, neurônios do tronco en-
membro do par acoplado é invadido cefálico que controlam o ritmo da ati-
por um potencial de ação (embora al- vidade elétrica envolvida na respira-
guns tipos de junções comunicantes ção estão sincronizados por sinapses
tenham propriedades especiais que elétricas. Além disso, parece que os
resultem em uma transmissão unidi- padrões de acoplamento elétrico das
recional). Além disso, a transmissão junções comunicantes são altamen-
elétrica é extremamente rápida, de te específicos. Por exemplo, neurô-
modo que o fluxo da corrente passiva nios neocorticais se ligam, quase que
através da junção comunicante é pra- exclusivamente, a interneurônios do
ticamente instantâneo, sem atrasos mesmo tipo. Esse padrão de ligação
na comunicação, como ocorre nas si- específico das junções comunicantes
napses químicas. sugere a coexistência de diversas re-
des de interneurônios interligados no
neocórtex.

SAIBA MAIS!
Apesar das sinapses elétricas serem consideradas relativamente simples e estáticas, quando
comparadas às sinapses químicas, elas podem, na realidade, ser entidades extremamente
dinâmicas. Por exemplo, as propriedades das sinapses elétricas podem ser moduladas por
diversos fatores, incluindo voltagem, pH intracelular e [] intracelular. Além do mais, elas estão
sujeitas à regulação por receptores ligados à proteína G e as conexinas contém sítios para
fosforilação. Esses fatores podem alterar a ligação entre as células, alterando a condutância
do canal pela formação de novas junções comunicantes ou remoção das que já existem.

A transmissão de informação por si- seria insuficiente para produzir uma


napses elétricas tem limitações para despolarização eficaz na célula mus-
o sistema nervoso dos vertebrados; cular, pois a resistência elétrica desta
por exemplo, a despolarização provo- é muito mais baixa que a da termi-
cada pela passagem de corrente elé- nação nervosa. Além disso, a trans-
trica de uma célula para outra depen- missão elétrica é limitada pela relativa
de do tamanho relativo das células. inespecificidade dos canais formados
No caso da junção neuromuscular, pelas conexinas, comparado à versa-
em que uma terminação nervosa re- tilidade e à capacidade de amplifica-
lativamente pequena inerva uma cé- ção de sinais da transmissão química.
lula muscular muito maior, a corrente
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 98

MAPA MENTAL – SINAPSES ELÉTRICAS

A passagem da corrente
depende do tamanho das
células
Passagem direta de
corrente elétrica Inespecificidade dos canais

Bidirecional Limitações

SINAPSES
ELÉTRICAS
Sincronização da
Transmissão rápida
atividade elétrica

Junções comunicantes Redes neuronais

Também permitem a passagem


de moléculas maiores
Conexinas

Canais pareados

Poro

Sinapses químicas pós-sinápticos. O elemento pré-si-


náptico é, geralmente, formado pela
Ao contrário do que ocorre nas sinap-
extremidade terminal de axônio, re-
ses elétricas, nas sinapses químicas
pleto de pequenas vesículas – vesícu-
não existe comunicação direta entre
las sinápticas – cuja forma e tamanho
o citoplasma das duas células. As
exatos variam de acordo com o neuro-
membranas celulares estão separa-
transmissor que contêm. Além disso,
das por fenda sináptica de 20μm e as
a membrana pré-sináptica apresenta
interações entre as células ocorrem
regiões, conhecidas como zonas ati-
por meio de intermediários químicos
vas, de material elétron-denso, que
conhecidos como neurotransmisso-
correspondem às proteínas envolvi-
res. As sinapses químicas, em ge-
das na liberação do transmissor. Mi-
ral, são unidirecionais e apresentam
tocôndrias e retículo endoplasmático
como elementos, os terminais pré e
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 99

rugoso também são, tipicamente, também caracterizada pela presen-


encontrados no terminal pré-sináp- ça de um material elétron-denso, que
tico. A membrana pós-sináptica corresponde ao receptores para o
neurotransmissor.

SAIBA MAIS!
As sinapses químicas ocorrem entre diferentes partes dos neurônios. Tradicionalmente, tem-
-se focado nas sinapses entre um axônio e os dendritos ou soma de outra célula (sinapses
axodendríticas ou axossomáticas). Entretanto, existem outros tipos de sinapses químicas,
como axo-axônica (entre dois axônios), dendrodendrítica (entre dois dendritos) e dendrosso-
mática (entre dendrito e soma). Além do mais, a formação de conjuntos sinápticos complexos,
como sinapses mistas, em que as células formam sinapses químicas e elétricas, é possível;
sinapses em série, em que uma sinapse axo-axônica é feita com o axônio terminal, influen-
ciando a eficácia da sinapse desse terminal, com um terceiro elemento; e sinapses recíprocas,
nas quais as duas células podem liberar transmissores para influenciar a outra.

A transmissão nas sinapses químicas vesículas com a membrana plasmáti-


baseia-se em um processo iniciado ca do terminal pré-sináptico. A fusão
quando um potencial de ação invade das vesículas resulta na liberação do
o terminal neuronal pré-sináptico. A conteúdo vesicular, isto é, dos neu-
mudança no potencial de ação pela rotransmissores, em sua maioria, na
chegada do potencial provoca a aber- fenda sináptica.
tura de canais de Ca2+ dependentes Após essa exocitose, os neurotrans-
de voltagem no terminal pré-sinápti- missores se difundem através da fen-
co. Em virtude do enorme gradiente da sináptica e se ligam a receptores
de concentração através da membra- específicos a membrana neuronal
na (a concentração de Ca2+ exter- pós-sináptica. A ligação de neuro-
na é aproximadamente 1000 vezes transmissores aos receptores causa
maior do que a concentração interna), a abertura (ou fechamento em al-
a abertura desses canais causa um guns casos) de canais na membrana
influxo rápido de Ca2+. Essa eleva- pós-sináptica, alterando, portanto,
ção, por sua vez, permite a fusão das a permeabilidade iônica nas células
pós-sinápticas.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 100

Mielina

Um potencial de ação invade o


terminal pré-sináptico

O transmissor é
sintetizado e então
estocado em vesículas A despolarização do terminal pré-
sináptico causa a abertura de
canais dependentes de
voltagem

Influxo de
através de canais

O causa a fusão de
Vesícula vesículas com a
sináptica membrana pré-sináptica

Moléculas
transmissoras O transmissor é
Recuperação da
membrana vesicular a liberado na
partir da membrana fenda sináptica
plasmática via exocitose

Ao longo do
dendrito

Fluxo da
Receptor corrente pós-
Íons transmissor sinápticas
O transmissor liga-se a
moléculas receptoras na
A corrente pós-sináptica causa um Abertura ou
membrana pós-
potencial pós-sináptico excitatório fechamento de
sináptica
ou inibitório que muda a canais pós-
excitabilidade da célula pós- sinápticos
sináptica

Figura 46. Sequência de eventos envolvidos na transmissão de uma sinapse química típica.
Fonte: PURVES, Dale et al. Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

SAIBA MAIS!
A membrana do neurônio pós-sináptico contém grande número de proteínas receptoras. A ati-
vação dos receptores controla a abertura dos canais iônicos na célula pós-sinápticas segundo
uma de duas formas: (1) por controle direto dos canais iônicos para permitir a passagem de
tipos específicos de íons, através da membrana; ou (2) mediante a ativação de um “segundo
mensageiro” que não é canal iônico e, sim, molécula que, projetando-se para o citoplasma da
célula, ativa uma ou mais substâncias localizadas no interior do neurônio pós-sináptico. Esses
segundos mensageiros aumentam ou diminuem determinadas funções celulares específicas.
Os receptores de neurotransmissores que ativam diretamente os canais iônicos são designa-
dos, em geral, como receptores ionotrópicos, enquanto os que atuam através de sistema de
segundos mensageiros recebem o nome de receptores metabotrópicos.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 101

A corrente resultante induzida pelo Embora haja necessidade de abertu-


neurotransmissor altera a condutân- ra de canais iônicos pré-sinápticos,
cia e, comumente, o potencial de e o fato de que as reações químicas
membrana pós-sináptico, aumentan- envolvidas na liberação de neuro-
do ou diminuindo a probabilidade do transmissores, sua difusão pela fenda
neurônio de desencadear um poten- sináptica e as reações químicas pós-
cial de ação. Dessa maneira, a infor- -sinápticas produzirem um retardo na
mação é transmitida de um neurônio transmissão da informação, a nature-
para outro. za dos mecanismos de transmissão
sináptica química implica vantagens
SE LIGA! As variações do potencial de
em relação às sinapses elétricas: 1)
membrana da célula pós-sináptica são o processo químico não é prejudi-
chamadas de potenciais pós-sinápticos cado por diferenças nas dimensões
excitatórios e inibitórios (PPSE e PPSI) dos elementos pré e pós-sinápticos,
que aumentam ou diminuem, respecti-
vamente, a excitabilidade celular, isto é, como no caso das sinapses elétricas;
a probabilidade de desencadear poten- 2) a liberação de grande quantidade
ciais de ação. de moléculas de neurotransmissores,
a consequente abertura de vários ca-
nais iônicos na membrana pós-sináp-
tica e a cascata metabólica pela ação
SE LIGA! A restauração das condições
de repouso depende da reciclagem de
de segundos mensageiros intracelu-
vesículas e ressíntese de neurotrans- lares produzem amplificação dos si-
missores na terminação pré-sináptica, e nais transmitidos ao longo da cadeia
da remoção ou degradação química dos neural; finalmente, 3) a transmissão
neurotransmissores liberados. Sinapses
distintas apresentam mecanismos va- química apresenta múltiplos está-
riados de restauração funcional, depen- gios passíveis de regulação, tornando
dendo do neurotransmissor. este modo de neurotransmissão mais
versátil e plástico como requerido,
por exemplo, pelos mecanismos de
aprendizado e memória.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 102

MAPA MENTAL SLIDE – SINAPSES QUÍMICAS

Não são prejudicadas pelo


tamanho das células

O sinal pode ser amplificado


ao longo da cadeia neural

Células separadas
pela fenda sináptica Passíveis de modulação

Mais lentas Vantagens

SINAPSES
QUÍMICAS O Ca2+ estimula a
O potencial de ação
fusão das vesículas
Unidirecionais desencadeia a abertura de
com a membrana
canais de Ca2+
pré-sináptica

Interação por meio de


Zonas ativas
Neurotransmissores

Armazenados em vesículas
Regiões de material no terminal pré-sináptico
eletrón-denso

Detectados por receptores na


membrana pós-sináptica

Atuam sobre canais iônicos Receptores ionotrópicos

Atuam com segundos


Receptores metabotrópicos
mensageiros
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 103

Figura 47. Diferenças entre sinapses elétrica e química. Fonte: PURVES,


Dale et al. Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

6. MODULAÇÃO DA expressar como potenciação ou su-


ATIVIDADE SINÁPTICA pressão da força da sinapse. Essas
alterações são as bases das capaci-
A ativação de uma sinapse, tipica-
dades cognitivas, como aprendizado
mente, produz resposta na célula pós-
e memória. Portanto, os processos
-sináptica – um potencial pós-sináp-
pelos quais a atividade resulta em al-
tico – que, grosso modo, é sempre o
terações da eficácia da sinapse são
mesmo, considerando-se que a célu-
características críticas da transmissão
la pós-sináptica permaneça no mes-
sináptica.
mo estado. Entretanto, determinados
padrões de ativação sináptica resul-
tam em alterações da resposta à ati- Facilitação
vação subsequente da sinapse. Tais
Quando um axônio pré-sináptico é
alterações relacionados ao uso, pode
estimulado duas vezes em uma rá-
ter curta duração (milissegundos) ou
pida sucessão, a resposta evocada
longa (minutos a dias), podendo se
pelo segundo estímulo geralmente
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 104

apresenta amplitude maior do que a


evocada pelo primeiro. Esse aumen- SE LIGA! Diversos experimentos de-
to é conhecido como facilitação por monstraram que a FPP e a potenciação
pós-tetânica resultam de variações do
pulsos-pareados (FPP). A facilitação terminal pré-sináptico e, que, em geral,
máxima ocorre em cerca de 20ms, não envolvem alteração da sensibilidade
seguida por redução gradual da faci- da célula pós-sináptica ao transmissor.
Ao invés disso, a estimulação repetida
litação, conforme o intervalo do estí-
leva ao aumento do número de trans-
mulo continue a aumentar; com inter- missores liberados. Acredita-se que
valos de centenas de milissegundos, esse aumento seja devido a quantida-
os dois PPSs (Potenciais Pós-Sinápti- des residuais de que permanecem no
terminal pré-sináptico após cada estí-
cos) apresentam a mesma amplitude mulo e ajudam a potencializar a libera-
e não é observada a facilitação. Por- ção subsequente do transmissor.
tanto, a FPP é uma alteração relati-
vamente rápida na eficácia sináptica,
Potenciação a Longo Prazo
mas de curta duração.
O aumento da eficácia sináptica, que
ocorre com a potencialização a lon-
Potenciação Pós-Tetânica go prazo, logo, em um processo que
É semelhante à FPP; entretanto, nes- persiste por dias ou semana, envolve
te caso, as respostas são comparadas provavelmente alterações pré-sináp-
antes e depois de estímulo tetânico ticas (maior liberação de transmis-
do neurônio pré-sináptico (dezenas sor) e pós-sinápticas (sensibilidade
a centenas de estímulo de alta frequ- ao transmissor), ao contrário das al-
ência). Esse acúmulo de estímulos te- terações a curto prazo, que ocorrem
tânicos aumenta a eficácia sináptica, apenas na função pré-sináptica. No
conhecida como potenciação pós-si- terminal pré-sináptico, o aumento
náptica. Como a facilitação, a poten- da entrada de cálcio é a etapa inicial
ciação pós-sináptica é uma acentu- necessária para as variações que re-
ação da resposta sináptica, mas com sultarão na melhora a longo prazo da
maior duração; de dezenas de segun- resposta, da célula pós-sináptica ao
dos a vários minutos após o término neurotransmissor. Após estímulo de
da estimulação tetânica. via pré-sináptica, o número de espi-
nhas dendríticas e o número de sinap-
ses nos dendritos dos neurônios pós-
SE LIGA! Um tétano é um trem de pul-
sos (potenciais de ação) pré-sinápticos -sinápticos aumentam rapidamente.
de alta frequência. O neurônio pós-sináptico pode ainda
liberar sinais (como o óxido nítrico)
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 105

que aumenta a liberação de transmis- estímulo repetitivo de determinadas


sor pelo terminal pré-sináptico. sinapses, produzindo alterações per-
sistentes em sua eficácia de trans-
missão. Nesse caso, as alterações
Depressão a Longo Prazo estão relacionadas a redução da efi-
Assim como a potenciação, a depres- cácia sináptica, que pode persistir por
são a longo prazo está associada ao dias ou semanas.

SAIBA MAIS!
Durante a atividade sináptica repetitiva, esses vários tipos de plasticidade podem interagir de
forma complexa, alterando sua transmissão. Por exemplo, em uma sinapse periférica neuro-
muscular, a atividade repetitiva inicialmente causa facilitação e, então, aumento sináptico, de
modo a facilitar a transmissão sináptica. O esgotamento das vesículas sinápticas permite, en-
tão, depressão para dominar e enfraquecer a sinapse. Potenciais de ação pré-sinápticos que
ocorrem um ou dois minutos após o tétano terminar determinam um aumento na liberação
de transmissor (isto é, potenciação pós-tetânica). Embora suas contribuições relativas variem
de sinapse para sinapse, essas formas de plasticidade de curta duração modificam continua-
mente a eficácia de toda a transmissão sináptica química, que se modifica de forma dinâmica
em função da história recente dessa atividade.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 106

MAPA MENTAL – MODULAÇÃO DA ATIVIDADE SINÁPTICA

Dezenas de segundos
Cerca de 20ms Dias a semanas
a vários minutos

Facilitação Potenciação Pós-Tetânica Potenciação a Longo Prazo

Aumento da amplitude do potencial pós-sináptico


mediante o aumento da frequência de estímulos

MODULAÇÃO
DA ATIVIDADE
SINÁPTICA

Redução da amplitude do potencial pós-sináptico


mediante o aumento da frequência de estímulos

Depressão a Longo Prazo

Dias a semanas

7. NEUROTRANSMISSORES • A substância deve demons-


trar estar presente no terminal
Os neurotransmissores são os me-
pré-sináptico;
diadores da sinalização química entre
os neurônios. Para que uma substân- • A célula deve ser capaz de
cia seja considerada um neurotrans- sintetizá-la;
missor, ela deve preencher vários • Ela deve ser liberada durante a
critérios. despolarização do terminal;
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 107

• Devem existir receptores espe- que o potencial de ação atinge o ter-


cíficos para ela na membrana minal pré-sináptica, poucas vesículas
pós-sináptica. liberam ao mesmo tempo seu neuro-
transmissor na fenda sináptica. Esse
evento normalmente ocorre em ques-
Mais de 100 substâncias químicas tão de milissegundos ou menos. A
foram demonstradas ou sugeridas ação subsequente desse neurotrans-
como transmissores sinápticos. Es- missor de molécula pequena, nos re-
sas substâncias são divididas em ceptores de membrana do neurônio
dois grupos distintos: um grupo é pós-sináptico, geralmente também
constituído por neurotransmissores ocorre no período de milissegundos
com moléculas pequenas, enquanto ou menos. Na maioria das vezes, o
o outro é formado por grande número efeito que o neurotransmissor provo-
de neuropeptídios, de tamanho mole- ca é no sentido de aumentar ou dimi-
cular muito maior e que são em geral nuir a condutância dos canais iônicos;
de ação muito mais lenta. exemplo é o aumento da condutância
Os neurotransmissores com molé- ao sódio, que provoca excitação, ou a
culas pequenas (não peptídicos) são elevação da condutância ao potássio
os que induzem as respostas mais ou ao cloreto, o que causa inibição.
agudas do sistema nervoso, como a De modo geral, esses neurotransmis-
transmissão de sinais sensoriais para sores são armazenados em vesículas
o encéfalo e dos sinais motores do pequenas e relativamente transpa-
encéfalo para os músculos, por meio rentes à microscopia eletrônica, loca-
de uma ação rápida. Na maioria dos lizadas próximo às zonas ativas das
casos, esses neurotransmissores são terminações pré-sinápticas. As ve-
sintetizados no citosol do terminal sículas que armazenam e liberam os
pré-sináptico já em sua forma ativa e neurotransmissores de molécula pe-
entram nas vesículas sinápticas situ- quena são continuamente recicladas
adas no terminal por meio de trans- e utilizadas, por vezes, repetidas.
porte ativo. Dessa forma, cada vez
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 108

Núcleo Síntese de
enzimas no
corpo celular

RER

Microtúbulos

Transporte
axonal lento
de enzimas

Axônio
Transporte de
precursores
para dentro
do terminal
Terminal

Síntese e
Precursor Enzimas empacotamento de
neurotransmissor

Liberação e
difusão
de neuro -
transmissor

Figura 48. Metabolismo de neurotransmissores de moléculas pequenas. Fonte: Fonte: PURVES, Dale et al. Neurociên-
cias. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 109

Dentre os principais exemplos de sendo alguns deles o próprio neu-


neurotransmissores não peptídicos, ropeptídio ou seu precursor. Segun-
podemos citar acetilcolina, norepine- da, o aparelho de Golgi empacota o
frina, dopamina, glicina, serotonina, neuropeptídio em vesículas diminu-
óxido nítrico e GABA. tas que são liberadas no citoplasma.
Os neuropeptídios, geralmente, pro- As vesículas são transportadas até
vocam ações mais prolongadas, como as terminações das fibras nervosas
mudanças a longo prazo do núme- pelo fluxo axônico do citoplasma do
ro de receptores neuronais, abertura axônio, sendo transportadas em ve-
ou fechamento por longos períodos locidade de apenas alguns centíme-
de certos canais iônicos e possivel- tros por dia. Por fim, essas vesículas
mente também as mudanças a longo liberam seu conteúdo nos terminais
prazo do número ou dimensão das neuronais em resposta a potenciais
sinapses. Os neuropeptídios não são de ação da mesma forma que os neu-
sintetizados no citosol dos terminais rotransmissores de molécula peque-
pré-sinápticos. Na verdade, são sin- na. Entretanto, a vesícula passa por
tetizados como partes integrais de autólise e não é reutilizada.
grandes moléculas proteicas pelos
ribossomos situados do corpo celular SE LIGA! Devido ao método laborio-
do neurônio, em uma forma pré-ativa. so de formação dos neuropeptídios,
quantidades bem menores desses são
As moléculas proteicas entram nos normalmente liberadas em relação às
espaços internos do retículo endo- quantidades liberadas de neurotrans-
plasmático do corpo celular e, subse- missores de pequena molécula. Essa
diferença é parcialmente compensada
quentemente, no aparelho de Golgi, pelo fato de que os neuropeptídios têm,
onde passam por duas alterações: em geral, potência de mil vezes ou maior
primeira, a proteína formadora de do que os neurotransmissores de molé-
cula pequena.
neuropeptídio é clivada, por ação en-
zimática, em fragmentos menores,
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 110

Síntese de
precursores
neurotransmissores
e enzimas

Transporte de enzimas e
precursores peptídicos ao
longo das vias de
microtúbulos

As enzimas
Os neurotransmissores modificam os pré-
difundem – se e são peptídeos para
degradadas por enzimas produzir neuro
proteolíticas transmissores
peptidérgicos

Figura 49. Metabolismo de neuropeptídios. Fonte:


Fonte: PURVES, Dale et al. Neurociências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 111

São encontrados em vesículas gra- torno dos botões terminais. Isso re-
nulares, elétron-densas e de maio- sulta em menor focalização da ação
res dimensões, dispersas nos botões dos peptídeos quando comparados
terminais a certa distância das zonas aos outros neurotransmissores.
ativas. Enquanto os neurotransmis- Dentre os exemplos de neuropep-
sores de moléculas pequena são libe- tídios, encontramos os hormônios
rados nas zonas ativas, diretamente hipotalâmicos, neuropeptídio Y, co-
opostos ao receptores na membrana lecistocinina, insulina, peptídeo intes-
pós-sináptica, os neuropeptídios são tinal vasoativo (VIP), substância P e
liberados de forma mais difusa em neurotensina.
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 112

MAPA MENTAL – NEUROTRANSMISSORES

Acetilcolina, Norepinefrina, Hormônios hipotalâmicos,


Principais Principais neuropeptídio Y, colecistocinina,
Dopamina, Glicina, Serotonina, insulina, VIP, substância P
exemplos exemplos
Óxido Nítrico e GABA e neurotensina

Respostas mais
Ação rápida Término de ação Proteólise
agudas

Não-peptídicos
No citosol do
Liberação Difusa
terminal nervoso
Síntese

Em sua forma ativa Distantes das zonas ativas

Vesículas
NEUROTRANSMISSORES
Próximas às zonas ativas Grandes e densas

Vesículas

Pequenas e claras Em sua forma pré-ativa

Síntese
Peptídicos
Na fenda sináptica Liberação Corpo celular do neurônio

Captura pré-sináptica
Ribossomos/RER
Término de ação

Reciclagem das vesículas Ações mais


Mudanças a longo prazo
prolongadas
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 113

MAPA MENTAL – RESUMO GERAL POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA

Potencial = +35mV Maior condutância ao K+

Inversão de polaridade
da membrana Despolarização Potencial = -70mV
Ciclos recorrentes
Influxo de Na+ Eletronegatividade de regeneração do
intracelular potencial de ação

Efluxo de K+ Tudo-ou-nada
Potencial de repouso
Retorno ao Repolarização Unidirecional
potencial de repouso
Inativação de
canais de Na+ Propagação do
Potencial de ação
POTENCIAL potencial de ação
DE AÇÃO E
Período refratário TRANSMISSÃO Rápida
SINÁPTICA
Neurônios Transmissão sináptica
Junções comunicantes
Transmissão e propagação
de informações na forma de Sinapses elétricas Passagem de
impulsos nervosos Estrutura corrente elétrica
Modulação da
Recebe o Dendritos transmissão sináptica Mais lentas
impulso nervoso
Sinapses químicas
Soma Neurotransmissores
Potenciação a
Conduz o impulso Longo Prazo Entrada de Ca2+
Axônio estimula a liberação
nervoso
Aumento da Potenciação
Aumento da velocidade de eficácia sináptica Pós-Tetânica Não-peptídicos
propagação do impulso
Facilitação
Reduz o gasto Peptídicos
Bainha de mielina
energético
Redução da Depressão a longo
eficácia sináptica prazo
Condução saltatória
FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 114

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
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COSTANZO, Linda S.. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
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FISIOLOGIA CELULAR E POTENCIAL DE AÇÃO E TRANSMISSÃO SINÁPTICA 115

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