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2.2. Técnicas não documentais

 Inquérito por questionário


 Sondagem
 Técnicas - Vantagens e limites
 Teste sociométrico

INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO

"Em ciências sociais, o inquérito é uma pesquisa sistemática e o mais rigorosa


possível de dados sociais significativos, a partir de hipóteses já formuladas, de modo
a poder fornecer uma explicação."

[Alain Birou - Dicionário de Ciências Sociais]

O inquérito por questionário é uma técnica de observação não participante que se


apoia numa sequência de perguntas ou interrogações escritas que se dirigem a um
conjunto de indivíduos (inquiridos), que podem envolver as suas opiniões, as suas
representações, as suas crenças ou várias informações factuais sobre eles próprios
ou o seu meio.

O inquérito por questionário distingue-se da entrevista, porque a aplicação do


inquérito exclui em alguns casos a relação de comunicação oral entre inquiridor e
inquirido (entrevistado), característica da situação de entrevista - é o que se passa
nos questionários de administração directa (ou auto-administrados), em que o próprio
inquirido regista as suas respostas. Só nos inquéritos de administração indirecta, nos
quais é o inquiridor quem formula as perguntas e regista as respostas do inquirido, se
estará numa situação semelhante à da entrevista.

Esta técnica é adequada ao estudo extensivo de grandes conjuntos de indivíduos


(normalmente através da medida de certos atributos de uma sua amostra
representativa), mas tem importantes limitações quanto ao grau de profundidade da
informação recolhida.

FASES DE PREPARAÇÃO E REALIZAÇÃO DE UM INQUÉRITO POR


QUESTIONÁRIO

"a) Planeamento do inquérito: nesta fase procurar-se-á delimitar, antes de mais, o


âmbito de problemas a estudar e, consequentemente, o tipo de informação a obter;
definidos tão claramente quanto possível os objectivos do inquérito, impõe-se a
formulação de hipóteses teóricas que irão comandar os momentos fundamentais da
sua preparação e execução; [...] proceder-se-á, ainda nesta fase e com recurso a
certos resultados das operações anteriormente referidas, à delimitação rigorosa do
universo ou população do inquérito, bem como à construção de uma sua amostra
representativa [...].

b) Preparação do instrumento de recolha de dados: procede-se nesta fase à redacção


do projecto de questionário, tentando compatibilizar os objectivos de conhecimento
que o inquérito se propõe com um tipo de linguagem acessível aos inquiridos; através
de um pré-teste ou inquérito-piloto, serão previamente ensaiados o tipo, forma e
ordem das perguntas que, a título provisório, se tenham incluído num projecto de
questionário.

c) Trabalho no terreno: no caso de se optar pela realização de um inquérito de


administração indirecta, exigir-se-á evidentemente uma selecção e formação de
entrevistadores; não já assim no caso de inquéritos que se destinem a ser auto-
administrados, onde entretanto certos pormenores de execução material do
questionário deverão ser ponderados (aspecto gráfico, problemas relacionados com o
envio e devolução dos questionários, etc.).

d) Análise dos resultados: esta fase inclui, além de outras operações, a codificação
das respostas, o apuramento e tratamento [...] da informação e a elaboração das
conclusões fundamentais a que o inquérito tenha conduzido.

e) Apresentação dos resultados: concretiza-se normalmente na redacção de um


relatório de inquérito."

[ALMEIDA, J. F. e PINTO, J. M. - A Investigação nas Ciências Sociais, Editorial


Presença]

SONDAGEM

"Técnica que consiste em administrar um questionário a uma amostra de indivíduos


representativa de uma população mais ampla chamada população-mãe ou
população-alvo.

A sondagem não é mais do que um processo particular de inquérito. Assim, ainda que
seja a sua forma mais habitual, a sondagem de opinião é apenas uma modalidade do
inquérito de opinião. Por outro lado, a sondagem não está reservada ao estudo da
opinião. Pode também, por meio desta técnica, procurar-se validar hipóteses num
estudo de motivações ou de atitudes ou procurar a distribuição de características
objectivas (por exemplo, a posse de certos bens de equipamento)."

[Raymond Boudon - Dicionário de Sociologia]

POPULAÇÃO ou UNIVERSO - Conjunto de elementos abrangidos por uma mesma


definição.

Grandeza ou dimensão da população - Número de elementos que a formam.

AMOSTRA - Parte ou subconjunto de uma população.

AMOSTRA REPRESENTATIVA - Parte ou subconjunto de uma população que tem


as mesmas características que a população. Uma amostra representativa de uma
população reproduz correctamente em miniatura essa população.

Grandeza ou dimensão da amostra - Número de elementos que a formam.

 
 

VANTAGENS E LIMITES DE ALGUMAS TÉCNICAS USADAS NA PESQUISA


SOCIOLÓGICA
TÉCNICA VANTAGENS LIMITES
1) Torna possível a recolha de 1) O material recolhido pode ser
informação sobre grande número de superficial. A padronização das
indivíduos. perguntas não permite captar
Inquérito diferenças de opinião
significativas ou subtis entre os
2) Permite comparações precisas inquiridos.
por
entre as respostas dos inquiridos.
questionário 2) As respostas podem dizer
3) Possibilita a generalização dos respeito mais ao que as pessoas
resultados da amostra à totalidade dizem que pensam do que ao
da população. que efectivamente pensam.
1) É menos útil para efectivar
generalizações. O que se ganha
1) Permite aprofundamento da
em profundidade perde-se em
percepção do sentido que as
extensividade.
pessoas atribuem às suas acções.
Entrevista
2) Implica interacções directas.
2) Torna-se flexível porque o
As respostas podem ser
contacto directo permite explicitação
condicionadas pela própria
das perguntas e das respostas.
situação da entrevista. Estes
efeitos devem ser tidos em conta.
1) Depende-se das fontes que
1) Pode traduzir-se em informação existem e da sua melhor ou pior
diversa de acordo com as qualidade, verosimilhança,
  Análise características do documento. Quer representatividade, etc.
sobre informação muito abrangente
documental (estatísticas, por ex.), quer sobre 2) A quantidade de informação
informação em profundidade (temas recolhida é em geral enorme e
específicos). dispersa, o que exige tratamento
e análise mais demorados.
1) Garante uma informação rica e
1) Só pode ser usada para
Pesquisa de profunda.
estudar pequenos grupos ou
terreno
comunidades.
2) Permite flexibilidade ao
(observação investigador porque lhe torna
2) Levanta dificuldades de
participante) possível mudar de estratégia e
generalização.
seguir novas pistas que aparecem.

Fonte: João Ferreira de Almeida (Coord.) - Introdução à Sociologia, Universidade


Aberta, Lisboa, 1994

TESTE SOCIOMÉTRICO

"Consiste em pedir, a todos os membros de um grupo, que designem, entre os


companheiros, aqueles com quem desejariam encontrar-se numa actividade bem
determinada. Pode-se pedir-lhes igualmente que designem aqueles com quem
preferiam não se encontrar. [...]

Que informações pode fornecer esse teste?

Em primeiro lugar, a posição social de cada elemento do grupo. As preferências


emitidas repartem-se muito desigualmente entre todos: a maior parte recebe
algumas, dois ou três privilegiados monopolizam o restante, outros ficam isolados,
sem preferências. Acontece o mesmo com os rejeitados. Na maioria dos casos, uma
grande percentagem de rejeições concentra-se sobre alguns indivíduos, a restante
reparte-se sobre um número maior de indivíduos e os outros membros, mais ou
menos numerosos conforme o grupo, nada recebem [...].

Se, além dos índices de preferências e de rejeições recebidas, se fazem intervir


outros índices [...], pode obter-se, para cada membro, um conjunto de traços
característicos: o seu «estatuto sociométrico» [...].

O teste sociométrico, porém, não é somente um instrumento de diagnóstico


individual; o estudo das relações interpessoais pode ser igualmente frutuoso. Quando
o critério das preferências e rejeições tem uma característica mais ou menos afectiva,
não é difícil determinar as preferências recíprocas (relações de afinidade: simpatia,
amizade), as rejeições recíprocas (relações conflituais: rivalidade, ódio...) e as
«relações de indiferença», se nos é permitida esta expressão. O conjunto das
preferências recíprocas constitui a trama da estrutura sociométrica do grupo e,
quando estão todas representadas num sociograma colectivo [...], aparece aquilo que
Moreno designa por redes de comunicação, isto é, as vias pelas quais passam todos
os fenómenos psico-sociais que têm o grupo por quadro. Esse sociograma das
preferências recíprocas põe igualmente em evidência os sub-grupos e o ou os
indivíduos estes se concentram.[...] Quanto ao conjunto das rejeições recíprocas,
permite determinar os pontos de tensão e os membros que é necessário vigiar, para
se evitar a generalização de conflitos e a desagregação do grupo."

[BASTIN, Georges - As técnicas sociométricas, 2ª ed., Moraes Editores, Lisboa, 1980,


pp 15-19]

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