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RECURSO INOMINADO: 0238477-38.2019.8J3.

0024

Juiz Vogal: Paulo Sérgio Tinoco Néris

VOTO DIVERGENTE:

Dispensado o relatório, na forma legal.

Com a devida vénia, ouso discordar do Em. Relator.

No mérito, mantenho parcialmente os fundamentos externados pelo


Juízo a quo, rogando vénia para discordar do voto do Nobre Relator.

Ademais, observe-se que o julgamento em segunda instância constará


apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e
parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos seus próprios
fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão (art. 46, da Lei n°
9.099/95).

A prova dos autos foi corretamente analisada pelo Juízo sentencia


o qual apresentou as razões do seu convencimento. No nosso sistema proc
o Juiz apreciará a prova livremente, atendendo aos fatos e circunstâncias
constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes.

Em relação aos concursos públicos e a possibilidade de


interferência do Poder Judiciário nos atos do Poder Executivo, é necessário
tecer importantes considerações. Cumpre salientar que o Poder Judiciário
somente pode intervir na esfera da Administração Pública de forma residual, ou
seja, apenas para controle de legalidade e constítucionalidade dos atos por ela
praticados, em razão do Princípio da Separação dos Poderes, previsto no art. 2°
da Constituição Federal de 1988.

Esta intervenção pode se dar relativamente a atos


vinculados ou discricionários (utilizados os critérios de oportunidade e
conveniência), desde que não incorra em excessos. Diante de tais balizas, em se
tratando de matéria de concursos públicos, apenas quando houver flagrante
ilegalidade, inconstitucionalidade ou desatendimento das normas edilícias será
permitida a intervenção do Poder Judiciário.

O Edital do concurso vincula a Administração Pública,


sendo certo de que as regras determinadas no edital deverão ser rigorosamente
observadas, assim como os princípios da legalidade e da publicidade.

Conforme extraído dos autos, a parte recorrida participou de


concurso público para o cargo de professor, que a considerou inapta a
prosseguir no certame. Inconformada com tal feito, provocou o Judiciário com o
intuito de modificar a sua exclusão no concurso, por entender que o resultado
apresentado não coaduna com o seu real estado físico.

Verifico, entretanto, que apesar da suposta inaptidão


constatada no exame médico pré-admissional, os laudos médicos particulares
apresentados pela parte recorrida e a perícia técnica realizada atestaram sua
aptidão para atividade de professor

Não obstante, observo que a candidata já desempenha as


funções do cargo de professor há 20 (vinte) anos, de forma precária e sem
prejuízo, inclusive em período imediatamente anterior à sua aprovação.

O E. Tribunal de Justiça de Minas Gerais, nesse sentido:

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA - DIREITO


ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO -
CANDIDATA APROVADA EM CONCURSO PÚBLICO
PARA O CARGO DE PROFESSOR - EXAME
ADMISSIONAL - INAPTIDÃO - PERÍCIA OFICIAL -
APTIDÃO RECONHECIDA - ATO ADMINISTRATIVO -
NULIDADE RECONHECIDA. -Comprovado que a
candidata cumpriu todos os requisitos necessários à
admissão no cargo pleiteado, inclusive por exercer a
função há 15 (quinze) anos, a disfonia leve não é
suficiente para considerá-la inapta, razão pela qual
imperiosa a manutenção da sentença que rechaçou o at
administrativo de inaptidão, determinando-se a posse dp,
autora no cargo de Professora, observada a ordem
classificação no concurso. (TJMG - Remessa
Necessária-Cv l. 0000.16.0622 J3-0/002', Relator (a) :
Dês. (a) Yeda Athias , 6a CÂMARA CÍVEL, julgamento em
28/01/2020, publicação da súmula em 05/02/2020)

Contudo, entendo que a condenação do Estado em danos morais deve


ser afastada.

No caso em apreço, ainda que se verifique que a conduta da


recorrente tenha gerado transtornos, como alega a recorrida, não é possível
concluir-se pela existência do dever de indenizar, visto que não demonstrada a
ocorrência de qualquer dano de natureza moral.

DECISÃO:

Com essas considerações, voto pelo PARCIAL PROVIMENTO do


recurso, para afastar a condenação do réu na indenização por danos morais,
confirmando o restante da sentença integralmente, por seus próprios
fundamentos.

Sem custas (isenção legal). Seranonoirários atK^ocatícios.

PA ULO SÉRGIO

JUIZ DE ^EJTOi- VOGAL

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