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Nicolau Maquiavel

Nicolau Maquiavel (em italiano Niccolò Machiavelli; Florença, 3 de maio de 1469 — Florença, 21
de junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É
reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de haver escrito
sobre o Estado e ogoverno como realmente são e não como deveriam ser. Os recentes estudos do
autor e da sua obra admitem que seu pensamento foi mal interpretado historicamente. Desde as
primeiras críticas, feitas postumamente por um cardeal inglês, as opiniões, muitas vezes
contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjetivo maquiavélico, criado a partir do seu nome,
significa esperteza, astúcia.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli viveu a juventude sob o esplendor político da República
Florentinadurante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no
cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento
de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra.
Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras.
Conseguiu também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo
posto como desejava.

Como renascentista, Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de


maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de
traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù e o de fortuna.

Contexto histórico
Durante o Renascimento, as cinco principais potências na península Itálica eram: o Ducado de
Milão, a República de Veneza, a República de Florença, o Reino de Nápoles e os Estados
Pontifícios.[1] A maior parte dos Estados da península era ilegítima, tomados
por mercenários chamados "condottieri".

A península Itálica no período do Renascimento (1494).

Foram incapazes de se aliar durante muito tempo estando entregues à intriga diplomática e às
disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potências europeias do período,
principalmente Espanha e França. A política italiana era, portanto, muito complexa e os interesses
políticos estavam sempre divididos. Batalhando entre si, ficavam à mercê das ambições
estrangeiras, mas a influência de alguém como Lourenço de Médici havia impedido uma invasão.
Com a morte deste em 1492, e a inaptidão política de seu filho, a Itália foi invadida por Carlos VIII,
causando a expulsão dos Médici de Florença.
Esta era palco do conflito entre duas tendências: a da exaltação pagã do indivíduo, da vida e da
glória histórica, representada por Lourenço de Médici e seu irmão Juliano de Médici; e a da
contemplação cristã do mundo, voltada para o além, que se formava como resposta ao
ressurgimento da primeira nos mais variados aspectos da vida como a arte e até na Igreja,
representada por religiosos como Girolamo Savonarola.

Anunciando a chegada de Carlos VIII como a de um salvador, contrário aos Médici e com grande
apoio popular, o pregador Girolamo Savonarola tornou-se a figura mais importante da cidade dando
ao governo um viés teocrático-democrático. Com sua crescente autoridade e influência, Savonarola
passou a criticar os padres de Roma como corruptos e o Papa Alexandre VI por seunepotismo e
imoralidade. O Papa excomungou o frade, mas a excomunhão foi declarada inválida por ele. No
entanto, Savonarola acabou preso e executado pelo governo provisório em 23 de maiode 1498.
Com a demissão de seus simpatizantes, cinco dias depois da morte do frade, Maquiavel, com 29
anos, foi nomeado para o cargo de secretário da Segunda Chancelaria de Florença.

Juventude
Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública. Ele era o terceiro
de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de' Nelli. Sua família era toscana, antiga e empobrecida.
Iniciou seus estudos de latim com sete anos[2] e, posteriormente, estudou também o ábaco, bem
como os fundamentos da língua grega antiga. Comparada com a de outros humanistas sua
educação foi fraca, principalmente por causa dos poucos recursos da família.

Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de
junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado aí como auxiliar em 1494 ou 1495,
hipótese contestada atualmente. Outros preferem atribuir a sua entrada à escolha de um antigo
professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública
de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria.[3]

Segunda Chancelaria

A principal instituição de Florença nesse período era a Senhoria[4] com diversos órgãos auxiliares
como as duas chancelarias. A primeira chancelaria era responsável pela política externa e pela
correspondência com o exterior. A segunda ocupava-se com as guerras e a política interna. No
entanto, essas funções muitas vezes se sobrepunham e a autoridade da primeira chancelaria
prevalecia sobre a da segunda. Entre as funções exercidas por Maquiavel, estavam tarefas
burocráticas e de assessoria política, de diplomacia e de comando no Conselho dos Dez, um outro
órgão auxiliar da Senhoria.[5]

[editar]Primeiras missões diplomáticas


A primeira de suas missões[6] foi a de convencer um condottiero a continuar recebendo o mesmo
soldo. Nesse momento, o governo da República de Florença desejava reaver o controle de Pisa que
havia aproveitado a passagem de Carlos VIII para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa
primeira missão de forma satisfatória, foi enviado em julho de 1499 para negociar comCatarina
Sforza, duquesa de Ímola e Forlì a renovação da "condotta" de seu filho Otaviano e para tentar
conseguir o auxílio dela com soldados e artilharia para a tomada de Pisa.

O governo de Florença contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o


mau estrategista militar e Maquiavel tinha como instruções, diminuir o soldo e conseguir tropas e
munição para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatória reduzir o soldo a 12 mil
ducados e não comprometeu a cidade na defesa de Ímola e Forlì como queria Catarina.[6] A partir
dessa primeira missão, escreveu o Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa,
de 1499, seu primeiro escrito político.[6]

[editar]Missão à corte francesa


Pouco depois Luís XII, sucessor de Carlos VIII, conquistou o Ducado de Milão a Ludovico Sforza e,
em troca de seu apoio, a República de Florença solicitou o auxílio deste na guerra contra
a República de Pisa. Luís XII enviou um exército mercenário que se mostrou indisciplinado e
desinteressado pela luta, tendo até mesmo prendido um comissário de Florença. Logo foi
necessário enviar representantes à corte francesa em Nevers para relatar a situação e encontrar
uma solução sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e
Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou só com o irmão Totto, que em breve se
dedicaria à vida eclesiástica, pois as duas irmãs já haviam se casado.[7]

Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florença e inclusive insistiu para
que o ataque a Pisa continuasse às custas da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para
negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a Senhoria durante o período em que acompanhou a
corte através de França e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos
com mais autoridade. Aí pôde conhecer um pouco mais sobre uma nação que se havia unificado em
torno de um rei, diferentemente da Itália. Depois de mais duas viagens à França anos depois,
reuniria suas observações sobre a política francesa em dois textos: "Ritrati delle cose di Francia"
(1510) e "De natura gallorum".

De volta à cidade, casou-se com Marietta Corsini, com quem teria quatro filhos e duas filhas
(Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infância), mas teve
logo que viajar de novo, pois os partidos políticos de Pistoia, outra cidade submetida a Florença,
haviam se unido e ameaçavam rebelar-se. Maquiavel foi de opinião que se deveria dar fim e proibir
tais partidos.

[editar]César Bórgia
Por volta de 1501, César Bórgia, como condottiero da Igreja e filho do papa Alexandre VI, vinha
conquistando territórios na Toscana, como Faenza. Acercou-se de Florença com seus exércitos e
exigiu que a cidade se aliasse a ele, pagasse-lhe um tributo e mudasse seu governo para um mais
favorável a si. Quando os florentinos, sem opção, estavam prestes a ceder, Luís XII de
França pressionou César Bórgia que foi obrigado a levantar acampamento. Dirigiu-se
para Piombino, conquistando-a facilmente e também Pesaro e Rimini, após o quê voltou para Roma.

César Bórgia ou Duque Valentino.

César Bórgia percebeu que, com a aliança francesa, Florença seria um empecilho a seu plano de
expansão e por isso solicitou o envio de representantes com os quais tratar de seus interesses.
Para essa missão foi enviado Francisco Soderini, tendo Maquiavel como secretário e auxílio.
Durante a ida, surpreendeu-os a notícia da conquista do ducado deUrbino pelo Duque Valentino: ele
pediu um reforço de artilharia para a cidade e quando este lhe foi enviado, voltou-se contra o
ducado.

Chegadas tropas francesas, os enviados puderam retornar. Após a retirada das tropas de Bórgia da
Toscana, Maquiavel escreveu o Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati (1502) sua
primeira obra sem relação com as atividades da Chancelaria,[8] e foi neste período que ocorreu uma
reforma na constituição florentina tornando o cargo degonfaloneiro vitalício. Ele era ocupado
por Piero Soderini, de quem Maquiavel tornou-se próximo.

Nesse meio tempo, César Bórgia conquistou a seus próprios condottieri Città di Castello e Bolonha.
Temendo o duque, estes se reuniram em Mangione para conspirar contra ele. César Bórgia solicitou
a Florença um embaixador para negociar uma aliança e enviaram-lhe Maquiavel, sem poderes de
embaixador, em 5 de outubro de 1502, apenas com a incumbência de entregar os conjurados,
afirmando que eles haviam convidado Florença para participar da conspiração, mas que esta havia
se negado.

A 9 de dezembro, César Bórgia marchou para Cesena com a intenção de dar fim ao conluio. Lá,
mandou prender seu lugar-tenente, Ramiro de Lorque, que apareceu morto no dia seguinte. Dirigiu-
se para Pesaro e depois, para Fano, ordenando que Orsini e Vitellozzo Vitelli, dois de seus
subordinados, conquistassem Sinagaglia aonde, juntamente com Oliverotto de Fermo deveriam
aguardá-lo. Foi aí que, ao chegar com suas tropas, mandou prender e, mais tarde, executar os três.
Desse acontecimento deu Maquiavel sua análise no escrito: "Descrizione Del modo tenuto dal duca
Valentino nell' ammazzare Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, il Signor Paolo e il Duca di Gravina
Orsini" (1502).

Pedindo ajuda florentina, mas sem esperá-la, partiu para conquistar Città di
Castello, Perugia, Corinaldo, Sassoferrato e Gualdo, de onde Maquiavel foi chamado de volta por ter
sido nomeado um embaixador. Chegou a Florença em 23 de janeiro de 1508. Com a morte de
Alexandre VI e tendo Júlio II se tornado Papa, César Bórgia perdeu seu apoio e veio a se
enfraquecer. Feito prisioneiro duas vezes, morreu lutando pelo exército de Navarra, mas a figura de
César Bórgia ficaria marcada para Maquiavel como a do perfeito representante de seu príncipe.[9][10]

Guarda florentina
Com a morte de César Bórgia, surgiu um novo problema: a expansão da República de
Veneza pela Romanha que surpreendeu o Papa, os florentinos e oimperador Maximiliano. Sentindo
os perigos externos se avolumarem e, por outro lado, conhecendo a ineficiência das tropas
mercenárias, Maquiavel solicitou a Soderini a permissão para criar um exército formado por
cidadãos de Florença. Recebida a autorização após alguma resistência, iniciou imediatamente seus
trabalhos e apenas cinco meses depois, em 15 de fevereiro de 1506 as novas tropas desfilaram
na Piazza della Signoria. Pouco antes havia terminado oDecennale primo, poema de 550 versos em
"terça rima" que narravam os últimos dez anos e ao qual se seguiria o Decennale
secondo (em 1509).

Por essa época, o Papa Júlio II decidiu retomar os domínios da Igreja conquistados por Veneza e
pelos homens de Bórgia: Baglioni e Bentivoglio. Marchando contra eles, pediu ajuda de Florença
mediante envio de tropas. Sem querer desguarnecer Pisa ou desgostar o Papa, decidiu-se enviar
Maquiavel para ganhar tempo. Ele acompanhou o papa até Perugia, onde assistiu espantado à
rendição de Baglioni, pois não compreendia como ele havia deixado passar a oportunidade de
prender o Papa, na sua visão, um príncipe invadindo seus domínios como outro qualquer.[11] Não
estava presente a tomada da Bolonha por que Florença finalmente enviou as tropas solicitadas, bem
como um embaixador para substituí-lo.

Queda de Soderini
Nesse período, Maximiliano I declarou ter a intenção de conquistar a Itália para restaurar o
antigo Sacro Império Romano-Germânico fazendo-se coroar em Roma. Com isso,
os florentinos decidiram enviar representantes para saber a que custo poderiam preservar a cidade.
Maquiavel e Francesco Vettori — que se tornariam amigos daí em diante — foram encarregados
dessa negociação e chegaram à corte em janeiro de 1508.

No entanto, não permaneceram durante muito tempo, pois Maximiliano seria derrotado
pela República de Veneza. Maquiavel retornou em junho do mesmo ano e passou a organizar as
operações contra Pisa, vencida em 4 de junho de 1509, após 15 anos de guerra. Da experiência
com a viagem ao império, Maquiavel escreveria o "Ritratti delle cose dell'Alemagna" (1508-1512).

Entrementes as hostilidades entre o papa e Veneza chegaram ao máximo e a última acabou


derrotada pela Liga de Cambrai. Por outro lado, decidindo que não poderia deixar a Itália cair em
mãos estrangeiras, o papa formou uma aliança com a Espanha e Veneza contra a França.

Os florentinos que sempre contaram com a ajuda do rei francês e que não queriam desagradar o
papa viram-se divididos. Maquiavel foi enviado à corte francesa para explicar a prudência dos
florentinos apesar da exigência do rei de que esta se declarasse a seu favor. Sem sucesso, retornou
em outubro de 1510 com a certeza de que haveria uma guerra entre a França e os Estados da
Igreja.

Após Luís XII ter convocado um concílio cismático e este decidido reunir-se em Pisa, domínio
florentino, o papa ameaçou Florença com a excomunhão e Maquiavel teve que negociar o
afastamento da reunião. Apesar do sucesso da missão — os padres dirigiram-se para Milão — o
papa resolveu dar fim ao governo de Soderini. Uniu-se ao rei de Aragão contra a França e como
Florença se recusou a apoiá-lo, a Dieta de Mântua atacou a cidade e destituiu Soderini, trazendo os
Médici de volta ao poder.

Escrita das principais obras

Papa Júlio II, retrato de Rafael Sanzio,1512, National Gallery, Londres.

Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido sob a acusação de ser um dos responsáveis por
uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil florins de
ouro e proibido de se retirar da Toscanadurante um ano.

Para piorar sua situação, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram
presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma
lista de possíveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi
preso e torturado.[12] Para sua sorte, com a morte do papa Júlio II em 21 de fevereiro de 1513 e a
eleição de João de Médici, um florentino, como Leão X, todos os suspeitos de conspiração
foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão.

Libertado, seguiu para uma propriedade em Sant'Andrea in Percussina distante sete quilômetros
de San Casciano. Foi durante esse ostracismo e inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele
escreveu suas obras mais conhecidas: "O Príncipe" e os "Discursos sobre a primeira década de Tito
Lívio" (1512-1517). Foi também nesse período que conheceu vários escritores no Jardim Rucellai,
círculo de literatos, e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de já conhecê-lo há tempos.
Entre os escritos desse período estão o poema Asino d'oro (1517), a peça A Mandrágora (1518),
considerada uma obra prima da comédia italiana,[13] e Novella di Belfagor (romance, 1515), além de
vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular (organizada pelos
descendentes) como Dialogo intorno alla nostra língua (1514),Andria (1517), Discorso sopra il
riformare lo stato di Firenze (1520), Sommario delle cose della citta di Lucca (1520),Discorso delle
cose florentine dopo la morte di Lorenzo (1520), Clizia, comédia em prosa (1525), Frammenti
storici (1525) e outros poemas como Sonetti, Canzoni, Ottave, e Canti carnascialeschi.

Com a morte de Lourenço II em 1520, Júlio de Médici assumiu o poder em Florença. Ele via
Maquiavel com melhores olhos que seus antecessores e o contratou como historiador da república
para escrever uma História de Florença, obra a qual dedicaria os sete últimos anos de sua vida.
Nesse mesmo ano, ele estava ocupado escrevendo A Arte da Guerra (1519-1520). E é a partir de
uma viagem a trabalho a Lucca que ele escreveu a "Vita di Castruccio Castracani da Lucca" (1520).

Após a queda dos Médici em 1527 com a invasão e saque de Roma por tropas espanholas, a
república instalou-se novamente na cidade, mas Maquiavel viu mais uma vez suas esperanças de
voltar a servir à cidade serem desfeitas pois havia trabalhado para os Médici e foi tratado com
desconfiança pela nova república. Poucos dias depois, ficou doente, sentindo dores intestinais, e
morreu obscuramente sendo enterrado no túmulo da família na Igreja de Santa Croce em Florença.

O Príncipe
O "Príncipe" é provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito
em 1513, apesar de publicado postumamente, em 1532. Teve origem com a união de Juliano
de Médici e do Papa Leão X,[14] com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe
finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros, apesar de dedicar a obra
a Lourenço de Médici II, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta empreitada. Outra
versão sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores
dos Médici, contudo ambas as versões não são excludentes.

Está dividido em 26 capítulos. No início ele apresenta os tipos de principado existentes e


expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de
basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo
propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra
fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália. Em uma carta ao
amigo Francesco Vettori, datada de 10 de dezembro de 1513, Maquiavel comenta sobre o
escrito:

E como Dante diz que não se faz ciência sem registrar o que se aprende, eu tenho anotado
tudo nas conversas que me parece essencial, e compus um pequeno livro chamado De
principatibus, onde investigo profundamente o quanto posso cogitar desse assunto, debatendo
o que é um principado, que tipos de principado existem, como são conquistados, mantidos, e
como se perdem.

— Carta de Nicolau Maquiavel a Francesco Vettori de 10 de Dezembro de 1513.[15]

[editar]Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio


Os "Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio" opõem-se a "O Príncipe" pelo tema,
apesar de ambos compartilharem alguns conceitos. Foram pensados como análise e
comentário a toda a obra de Tito Lívio,[16] mas permaneceram incompletos, não passando da
primeira década.

Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da antiguidade, em especial


as da Roma clássica, com as de Florença no período.[17] Assim, seguindo a obra de Tito Lívio,
analisa como surgem, se mantém e se extinguem os Estados. Ficou assim dividido em três
partes, estudando na primeira a fundação e a organização, em seguida o enriquecimento e a
expansão e por fim sua decadência.

Interpretações comuns
A obra de Maquiavel relaciona-se diretamente com o tempo no qual foi produzida. O método
utilizado por ele rompe com a tradição medieval ao fundamentar-se no empirismo e na análise
dos fatos recorrendo a experiência histórica da Roma Antiga ganha por ele em seus estudos.
Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política diferente da ética religiosa, ou
seja, a finalidade da política seria a manutenção doEstado.

O primeiro a se pronunciar sobre sua obra foi o cardeal inglês Reginald Pole, se dizendo
horrorizado com a influência que ela teria sobre o Lorde Cromwell.[18] Os jesuítas o acusaram
de ser contra a Igreja e convenceram o Papa Paulo IV a colocá-lo no Index Librorum
Prohibitorum em 1559.[18] Na França, um huguenote chamado Innocent Gentillet escreveu uma
obra na qual o acusou de ateísmo e, seus métodos, de causadores do Massacre da noite de
São Bartolomeu. Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visão
apresentada no teatro do século XVI. Em geral seus críticos se basearam em O Príncipe,
analisando a obra isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o
contexto no qual foi produzida.

Houve também aqueles que quiseram conciliar seu pensamento com a Igreja ou torná-lo um
nacionalista; sem muito sucesso, pois manipulavam seu pensamento da mesma forma.[18] No
presente, as análises feitas procuram levar em conta principalmente os Discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio e sua A Arte da Guerra, contextualizando seus escritos e
declarando que Maquiavel não inventou uma teoria política, apenas descreveu as práticas que
viu refletindo sobre elas.[19]

Conselheiro de tiranos
Essa análise começou a difundir-se com a Reforma e a Contra-Reforma. Se até então suas
obras eram ignoradas, a partir daí, o autor e suas obras passaram a ser vistos como
perniciosos, sendo forjada a expressão "os fins justificam os meios", não encontrada em sua
obra.[20][21]

Essa interpretação está ligada também a visão de seus escritos como base teórica
do absolutismo, ao lado de Thomas Hobbes e Jacques-Bénigne Bossuet, sem, no entanto,
contemplar-se os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio em que faz elogios à
forma republicana de governo.

Em sua obra O Príncipe, defendeu a centralização do poder político e não propriamente


o absolutismo. Suas considerações e recomendações aos governantes sobre a melhor
maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno.
Uma leitura apressada ou enviesada de Maquiavel poderia levar-nos a entendê-lo como um
defensor da falta de ética na política, em que "os fins justificam os meios". Para entender sua
teoria é necessário colocá-lo no contexto da Itália renascentista, em que se lutava contra os
particularismos locais. Durante o século XVI, a península Itálica estava dividida em diversos
pequenos Estados, entre repúblicas, reinos, ducados, além dos Estados da Igreja. As disputas
de poder entre esses territórios era constante, a ponto de os governantes contratarem os
serviços do condottieri (mercenários) com o intuito de obter conquistas territoriais.

Foi muito difundida no século XVI e encontram-se aproximadamente 400 peças[22] que citam
Maquiavel, todas vinculando seu nome à maldade, a ardilosidade e a falta de
escrúpulos. William Shakespeare, por exemplo, o coloca em uma fala de Ricardo, Duque de
Gloucester na sua peça Henrique VI[23]

Conselheiro do povo
Uma segunda interpretação diz que ao escrever O Príncipe, Maquiavel tentava alertar o povo
sobre os perigos da tirania, tendo entre seus adeptos, Baruch de Espinoza e Jean-Jacques
Rousseau. Este último escreveu "(…) é o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar
lições aos reis, deu-as, e grandes, aos povos."[24] Foi defendida recentemente por estudiosos
da obra dele como Garret Mattingly.

Há os que afirmam ser "O Príncipe" uma sátira dos costumes dos governantes ou que o autor
não acreditaria no que escreveu, baseando esta afirmação na preferência que teria Maquiavel
pela República como forma de governo. Contudo o autor também faz críticas a República.[25][26]

Nacionalista
No cenário da Europa do século XIX, durante as Guerras Napoleônicas, com a Alemanha e a
Itália fragmentadas e com os nacionalismos internos surgindo, forma-se a visão de Maquiavel
como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela união e defesa da Itália. A obra de
Maquiavel revela a consciência diante do perigo da divisão política da península em vários
estados, que estariam expostos à mercê das grandes potências européias.

Hegel, Herder, Macaulay e Burd foram alguns de seus defensores,[27] certamente


fundamentando sua interpretação no capítulo final de O Príncipe em que Maquiavel faz uma
apaixonada defesa de uma Itália unificada, afirmando que um povo só pode ser feliz e
próspero se estiver unido.

Pensamento
Maquiavel não foi um pensador sistemático.[28][29] Ele utiliza o empirismo para escrever através
de um método indutivo e pensa em seus escritos como conselhos práticos, sendo além disso
antiutópico e realista.[28] A teoria não se separa da prática em Maquiavel.[29] Os conceitos
desenvolvidos por ele rompem com a tradição medieval teológica e também com a prática,
comum durante o Renascimento, de propor Estados imaginários perfeitos, os quais os
príncipes deveriam ter sempre em mente. A partir da observação da política de seu tempo e
da comparação desta com a da Antiguidade vai formular o seu pensamento por acreditar na
imutabilidade da natureza humana.

Virtù e fortuna
Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras.
Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à
permanência no poder. A virtù seria como umabarragem que deteria os desígnios do destino.
Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta
quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda.[30]

A idéia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas


inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens
ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste
apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe
favorecerá.[31]

História
Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador.[32] Assim ele
não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, ainda
que tenha ido aos arquivos de Florença - prática incomum na época - e deixa transparecer nas
suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos factos
históricos.[33] Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como
exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer
os mesmos erros.[34][35]

Assim, enquanto alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna
da história,[32] outros admitem que ele não possuía uma visão crítica o suficiente para poder
separar os factos históricos dos mitos e aceitou como verdade, por exemplo, a fundação
mitológica de Roma,[35] Outros, ainda, atribuem-lhe uma "concepção dogmática e ingénua da
história".[35]

Ética
A ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética
cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei
superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das
ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade,
não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob
uma perspectiva histórica.[36]
Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o
Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao
mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.[37]

Natureza humana

"Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes" (…)[38]

— Nicolau Maquiavel

Para ele, a natureza humana seria essencialmente má e os seres humanos querem obter os
máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso.
[39]
A natureza humana também não se alteraria ao longo da história[39] fazendo com que seus
contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a história dessa e
de outras civilizações servissem de exemplo. Falta-lhe um senso das mudanças históricas.[26]

Como consequência acha inútil imaginar Estados utópicos, visto que nunca antes postos em
prática e prefere pensar no real.[26] Sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam
sempre de forma má, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os
cidadãos. Ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que
estes ajam segundo o que se espera deles.[39]

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