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Ano IV / No 14 - 1o de abril de 2002

EDITORIAL
Com o intuito de veicular notícias que contribuam para a atualização do conhecimento do combatente
anfíbio brasileiro, aqui vai mais um número de Âncoras e Fuzis.
Procurando atualizar os fuzileiros navais a respeito dos assuntos militares, estamos apresentando vários
temas de interesse e novidades de nossa profissão. O combatente anfíbio deve ter em mente, como afirmou La
Fontaine, que “não existe rua de flores que nos leve à glória”. Assim, nosso trabalho deve ser alicerçado no
esforço e busca constante do saber, para que, frente ao inimigo, possamos mostrar-lhe que a batalha vai ser
dura e que nós pagaremos o preço da vitória.
Combatente anfíbio: aproveite este veículo como mais uma possibilidade que você tem de construir o
nosso querido e glorioso Corpo de Fuzileiros Navais. Participe, mande sugestões, estamos prontos para saber
o que você pensa.
Envie qualquer contribuição diretamente ao Departamento de Estudos e Pesquisa do Comando-Geral
do Corpo de Fuzileiros Navais pelo MBMail (30@comcfn), Internet (30@cgcfn.mar.mil.br) ou pelo Serviço
Postal da Marinha.

ADSUMUS

OS CC SK 105 A2S NA OPERAÇÃO DRAGÃO XXXVI


Pela primeira vez utilizados por nossa Força em uma Operação Anfíbia, os recém-adquiridos carros de
combate SK 105 A2S participaram da Operação Dragão XXXVI. A expectativa gerada em torno do real desem-
penho desse novo meio tornou essa participação um desafio, que se transformou em uma demonstração de compe-
tência da Companhia de Carros de Combate.
Durante a fase do planejamento, o OLigCC apresentou a Estimativa de Carros de Combate em apoio à decisão
do ComGDB-2, ressaltando as possibilidades desse novo meio. Na fase do embarque, os quatros CC SK105 A2S,
componentes do 1ºPelCC, embarcaram no NDD Rio de Janeiro, pré-carregados em duas EDVM, possibilitando
maior dispersão entre os CC por ocasião do desembarque. Durante as fases do ensaio e travessia, as guarnições
dos CC puderam ensaiar os procedimentos de emprego do CC e as comunicações do PelCC, fato este possibilitado
por estarem embarcados no mesmo navio.
O 1ºPelCC participou de toda a operação Dragão XXXVI. Desembarcou na Praia de Desembarque, cumprindo
todos os requisitos exigidos e demonstrando mobilidade, capacidade de apoiar o ataque pelo fogo e ampla capacida-
de de comunicações. Os carros utilizaram o sistema de navegação GPS, de navegação noturna e termal, todos
orgânicos, integrando-se perfeitamente à Defesa AnticarroDAC.
Após o término do exercício, o PelCC, com o sentimento de “dever cumprido”, recebeu ordem para retrair para
a praia, a fim de reembarcar, finalizando assim, o bom desempenho do SK105A2S na sua primeira Operação
Dragão.

1
NOVAS EQUIPAGENS PARA O COMBATENTE
ANFÍBIO
Em continuação ao esforço que vem sendo realizado para dotar o combatente anfíbio de
equipamentos que proporcionem maior conforto e funcionalidade no seu uso, estão sendo
testadas novas equipagens, das quais terão destaque nesta edição de “Âncoras e Fuzis” o
CANTIL COSTAL – CAMELBAK, o COLETE BALÍSTICO FLUTUANTE e um modelo
de agasalho contra a chuva e a umidade.
O Cantil Costal tem a finalidade de aumentar a capacidade de transporte individual de
água pelo fuzileiro naval, proporcionando maior autonomia ao mesmo, notadamente no
período posterior ao desembarque e quando o combatente tem que operar em regiões onde
há um maior consumo de água.
Inicialmente, alguns exemplares foram distribuídos para o 2o BtlInfFuzNav, o
BtlOpEspFuzNav e o GptFNLa, a fim de serem avaliados quanto a diversos requisi-
tos como: resistência, coloração (brilho e facilidade para camuflagem), condições
de armazenamento da água, ajuste ao corpo, entre outros.
Atualmente, o Cantil Costal encontra-se em fase final de avaliação.
O Colete Balístico Flutuante tem a finalidade de reforçar a proteção individual do
combatente anfíbio, por meio de equipagem que possua leveza, melhor funcionali-
dade que o atual (com abertura frontal e fácil soltura), flutuabilidade positiva e nível
de proteção compatível com impactos de 5,56mm e 7,62mm.
As avaliações visaram a verificar o atendimento das especificações acima descritas e foram feitas no BtlOpEspFuzNav.
Após a aprovação de uma marca, da firma ACHIDATEX, foram adquiridas 110 unidades, das quais 60 serão destinadas
à FFE, 12 ao BtlOpEspFuzNav, 8 ao GruMec e 30 para serem distribuídos aos GptFNMa, Belém e Ladário, a fim de serem
realizados testes de avaliação pela tropa, findos os quais serão coletados dados que permitam melhor atender às medidas
dos nossos combatentes.
O processo de obtenção de um novo modelo de agasalho contra a chuva e a umidade encontra-se em fase de procura
no mercado. Basicamente, o agasalho deverá impedir a penetração da chuva e da umidade ambiente e permitir a saída da
umidade decorrente de transpiração. Além disso, deverá, também, possuir características de conforto, funcionalidade,
leveza e resistência do tecido e das costuras. O agasalho deverá assemelhar-se ao atual modelo de proteção contra a chuva
e a umidade, conhecido por ANORAK, contudo deverá possuir as características do tecido conhecido como GORETEX.

Camuflagem
Para todos os envolvidos em atividades tais como vigilância, aquisição de alvos ou atirador de elite, tornar-se “invisível”
é uma grande vantagem.
Com a intenção de minimizar o tempo requerido para a adaptação da camuflagem tem sido desenvolvida a MK II, roupa
de observação “chameleon” (camaleão).
A roupa possui os padrões de camuflagem necessários no campo de batalha, além de proteções na parte frontal e nos
braços para o rastejo.
Com mais de dois anos em desenvolvimento, a roupa é produ-
zida com várias opções de camuflagem para florestas, tundra, deser-
to, etc., podendo também ser feita de acordo com encomenda do
cliente. Uma vez escolhida a camuflagem correta, cada roupa pode
ser feita em 30 segundos.
Usando um material chamado “Intrigue”, a roupa camaleão é feita
com um sistema de acabamento a laser, refletor de infra-vermelho,
diminuindo a transmissão de calor do usuário para fora da roupa.
Em sua última versão, a roupa possui suas dobras e extremidades
em forma serrilhada e a mão é coberta, deixando os dedos livres. A
vantagem desta nova roupa é que pode ser vestida sobre o equipa-
mento normal de combate ou outros específicos, ocultando as silhu-
etas das roupas normais.
A roupa pode ser colocada e retirada facilmente, sendo fácil
carregá-la.
A versão de teste da roupa “camaleão” está em uso nas Unidades
de Forças Especiais dos Estados Unidos da América e poderá ser
testada no âmbito da NATO.
A portabilidade, facilidade de confecção e adaptabilidade da roupa
camaleão a caracterizam como uma nova opção na arte da camufla-
gem.
(Fonte : Jane‘s International Defense review – Dez/ 01)

2
Guerra de TACTER-31
A Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) recebeu, em meados de Outubro
Manobra de 2001, cinco equipamentos acopladores para transmissão de dados TACTER
– os atributos da guerra – 31. Trata-se de um computador de mão, tipo “lap-top”, robustecido para as
condições de combate, que funciona como um terminal digital de mensagens,
Dando seqüência às notas informativas so- podendo ainda executar processamento local. Foi desenvolvido para operar
bre o estilo da Guerra de Manobra, abordaremos em todos os escalões da guerra moderna.
neste número os principais atributos que carac- O TACTER-31 utiliza modernos protocolos de comunicação, como o MIL-
terizam a natureza da guerra, cujo entendimento STD-188-220, tornando-se uma excelente ferramenta contra a Guerra Eletrônica
torna-se fundamental para a compreensão do re- inimiga, podendo conectar-se, simultaneamente, a duas redes rádio indepen-
ferido estilo. São eles: dentes, redes locais de computadores e outros tipos de redes de comunica-
- dimensão humana, marcada pela condução dos ções. O equipamento possui um GPS interno que, juntamente com a possibili-
combates por pessoas, cujos comportamentos são dade do uso de cartas digitalizadas, facilita a navegação e o posicionamento
influenciados por emoções, medo e exaustão físi-
no terreno.
ca, sendo suas vontades individuais as
impulsionadoras das ações desenvolvidas; O TACTER-31 trabalha com base no sistema operacional Windows e tem
- violência, produzida pelos meios de força em- como programas mais importantes o NEGEV e o SCOUT.
pregados, resultando em um ambiente de perigo Através do programa SCOUT, pode-se transmitir mensagens pré-formatadas
extremo que traz o medo atuante na dimensão hu- ou de livre formato, facilitando a transmissão de calcos, ordens de operação e
mana; de mensagens longas ( logistícas, de reconhecimento, de apoio de fogo, etc.),
- incerteza, marcada pelo conhecimento somente aumentando a velocidade, a confiabilidade e a segurança das comunicações.
parcial da situação, a “névoa da guerra” que nos O NEGEV possibilita o posicionamento automático de todas as unidades
impede de ter uma visão clara do campo de batalha, interligadas, além de permitir que sejam marcadas e identificadas em sua tela as
tornando os resultados das ações imprevisíveis; é
posições inimigas, amigas, alvos, pontos de interesse e outras informações
o terreno do acaso;
- fluidez, caracterizada pelo permanente relacio- úteis. Mediante o seu emprego os observadores avançados podem determi-
namento entre cada episódio passado, presente e nar a correta posição de um alvo e de pontos de referência na carta, facilitando
futuro, resultando em um “contínuo” em perma- a correção dos fogos e aumentando assim a eficácia do apoio de fogo.
nente evolução; ou seja, a situação não espera “con- O TACTER-31 foi utilizado pela primeira vez no CFN durante a DRAGÃO
gelada” até que o plano que tínhamos concebido XXXVI na Rede de Informações da ForDbq. Durante o exercício, foram feitas
surta seus efeitos; diversas transmissões de mensagens e a utilização dos recursos de navega-
- desordem, apresentada drasticamente no com- ção e posicionamento do equipamento. O equipamento foi acoplado ao siste-
bate pela ausência da ordem quase marcial de nos- ma de vídeo do navio, o que possibilitou o acompanhamento on-line da ope-
sos adestramentos, que é uma das primeiras víti-
ração através dos mo-
mas do fogo inimigo, o qual faz com que a visão do
conjunto fique prejudicada pela busca de abrigo nitores de TV, localizados
seguro, além de impor a destruição física de pesso- no centro de operações
al e material, tudo resultando em uma impressão de combate (COC) e em
segura de uma bagunça infernal; diversas partes do navio.
- “fricção”, aspecto gerado pelo somatório dos O TACTER-31 é uma
atributos anteriormente mencionados, que gera ferramenta que contribui-
uma complexidade extrema nos eventos aparente- rá de forma incontestável
mente mais simples, podendo esta ser fruto de agen- para o comando e contro-
tes externos, como o fogo inimigo, um obstáculo
le dos Grupamentos Ope-
ou uma interferência eletrônica, ou auto-induzida,
como ordens confusas ou mal transmitidas, com- rativos de Fuzileiros Na-
plexas relações de comando ou falhas de comuni- vais, possibilitando um
cação; e acompanhamento imedia-
- interação de forças, que, participando dos con- to e preciso da situação
flitos bélicos, resultam em um determinado desfe- na área de operações, bem como tornando-se peça fundamental do exame
cho específico, podendo ser de natureza física, re- continuado da situação.
presentadas pelos meios materiais, de natureza mo-
ral, como a vontade, coragem, liderança e espírito Prêmio Âncoras e Fuzis - Classificação Final
de corpo, ou ainda mental, como o intelecto e o
conhecimento – as primeiras são normalmente do Categoria OM
nosso domínio, porém as demais são igualmente 1º lugar – CiaPolBtlNav ................................................. – 38 pontos
importantes, ainda que mais difíceis de entender e 2º lugar – 1ºBtlInfFuzNav .............................................. – 15 pontos
quantificar. 3º lugar – 2ºBtlInfFuzNav .............................................. – 14 pontos
A análise atenta desses atributos da guerra per-
mitirá que, em um passo seguinte, possamos estu- Categoria Individual
dar como buscar a vitória em um ambiente caótico 1º lugar – 2ºTEN (FN) Felix (1ºBtlInfFuzNav) ............. – 14 pontos
como o acima descrito, aprendendo a dele tirar van- 2º lugar – CT (FN) Cardoso (2ºBtlInfFuzNav) ............. – 13 pontos
tagens para o cumprimento da missão. O caos far- 3º lugar – 1ºTEN (FN) Veras (CiaPolBtlNav) .............. – 7 pontos
se-á presente para ambos os contendores e vence- 1ºTEN (FN) Vogel (CiaPolBtlNav) ............... – 7 pontos
rá aquele que conseguir reduzi-lo para si e ampliá-lo
1ºTEN (FN) Jannechevitz (CiaPolBtlNav) ... – 7 pontos
para o inimigo.
2ºSG-IF Nascimento (CiaPolBtlNav) ............ – 7 pontos
3
DECIDA
1. V.Sª é o Cmt do PelFuz (Ref) e encontra-se na situação apresenta-
da no CROQUI ao lado, sendo o escalão de reconhecimento da
vanguarda do Btl. Seu grupo ponta detectou o inimigo na COLINA
LONGA, de valor GC e natureza CMec, além de PV no Morro do
Cão, estando totalmente engajado com o inimigo. A localização do
inimigo e de seus meios é a apresentada no CROQUI. Seu Pel está
Ref de 1 SecMAG, 1 GpLRoj, 1 PçMrt60mm e 1 CCL S/R CASCAVEL,
além de 3 EF, dispondo ainda de Com para ligar os GC e reforços
disponíveis. O RIBEIRÃO DE ROLANDO é obstáculo a tropa e Vtr
de qualquer natureza, à jusante da confluência com o RIACHO
LERO. A Mr a NW, dificulta, mas não impede o movimento de tropa
a pé, sendo obstáculo a Vtr. Todos os demais cursos d’água consti-
tuem obstáculo a Vtr S/R tendo uma profundidade de 0,8m com
margens taludadas e fundo firme. O Btl desloca-se para N eixado na
Rv-69. A sua Cia (Vg) está aproximadamente 500m para a reta-
guarda, reforçada com o PelCCL (-) e 1 SecMrt81mm, cujo obser-
vador reforça o seu Pel. O Btl dispõe de apoio de artilharia. Todos
aguardam instruções suas .... . Quais serão elas? Descreva todas as
providências e ordens necessárias na situação apresentada,
justificando-as resumidamente.

Resposta do “Decida” Anterior -“Âncoras e Fuzis no 13”


Abaixo transcrevemos uma das 3- Ao estabelecer contato com o Para se obter êxito na ofensiva normal-
soluções recebidas pela nossa redação. inimigo, a Ponta ataca ou toma outras mente se busca uma relação de poder
A solução a seguir foi proposta pelo medidas que assegurem o prossegui- de combate de, no mínimo, 3 para 1,
2ºSG-FN-IF SERGIO RICARDO S. mento, sem retardo, do grosso da tro- logo 1 GC para 1 ET seria o apropriado
R. NASCIMENTO, da Companhia de pa. Caso as forças inimigas sejam de para a situação em pauta.
Policia do Batalhão Naval. Aprovei- vulto superior à vanguarda, procura es- Determinaria que as outras ET
tamos para parabenizá-lo e incen- clarecer agressivamente a situação e in- abrissem fogo contra o inimigo para
tivá-lo a continuar trabalhando com forma ao escalão que a destacou. neutralizar ou tornar ineficazes seus
proficiência, como demonstrado nes- tiros; e utilizaria o FOGO E MOVI-
ta solução. b) Ações desencadeadas MENTO com infiltração individual por
O GC, logo após receber fogos, ET para destruir a resistência inimiga
e prosseguir com a missão. Assim que
a) Considerações aferrou no terreno. O cabo Da Gomeia possível, informaria ao Cmt Pel.
Algumas das missões do GC como determinou a abertura de fogo contra Quanto ao ferido, um militar faria
Ponta de Vanguarda (Coluna tática) : o inimigo, agindo de acordo com sua um torniquete, se preciso, e o mesmo
1- Assegurar o avanço ininterrupto missão esclarecedora, forçando o opo- permaneceria aguardando a tropa
do grosso; nente a denunciar sua posição e efetivo. amiga que segue à retaguarda com o
2- Protegê-lo contra ataques de Foi estimado tratar-se de 3 a 5 elemen- EF e os meios necessários para a eva-
surpresa; e tos com um FAP e outros com FAL. cuação.

PENSE
“A guerra é um problema de importância vital para o Estado, a província da vida ou morte, a
estrada para sobreviver ou arruinar-se. É mandatório que seja minuciosamente estudada.”
Sun Tzu, 400 - 320 ac, A Arte da Guerra.

Resposta do “Pense” Anterior -“Âncoras e Fuzis nº 13”


Abaixo publicamos a interpretação do PENSE do último número, enviada pelo PRIMEIRO-TENENTE
(FN) CARLOS ALEXANDRE DE A. JANNECHEVITZ, da Companhia de Policia do Batalhão Naval:

Levando-se em consideração a expressão “homens comuns” relatada no texto, percebemos que ela é o
ponto de sustentação da frase de Mahan.
Todo “homem comum” tem como sua principal característica a luta incessante pela vida, a busca pela sobre-
vivência a qualquer custo.
Por esse fato, o mesmo consegue enxergar as dificuldades com mais clareza, pois a todo momento, por sua
mente passa sempre a mesma pergunta – Será que se eu fizer isto vou correr risco?
Em nenhum momento, um “homem comum” sujeitará sua vida a algum risco, o que não acontece, por exem-
plo, com os militares, que são treinados para superarem o risco em favor do cumprimento de sua missão.
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