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Texto: Trajetória Histórica

Modalidade: Educação do Campo

Professora: Maria Lucia Costa dos Santos Moura e Daniela


Sousa da Silva

Pré: 2 – Escola Municipal Professor José Alves de Souza,


Escola Municipal Sociedade
A educação brasileira desde seu surgimento no Brasil, sempre foi precária, um verdadeiro
descaso dos dirigentes políticos, no período colonial. Foi uma educação que atendiam uma
minoria da população da sociedade brasileira daquela época, era para filhos de empresários,
bancários e latifundiários. Educação essa que excluía, escravos, mulheres, filhos de agregados
e pequenos trabalhares braçais. A educação rural, nunca existiu nas primeiras Constituições
Federais. Somente nas décadas do século XX, é que a Educação Rural aparece, com objetivo de
diminuir o êxodo rural, causado pela industrialização da cidade, e poucas oportunidades de
trabalho no campo, assim, começou à faltar mão de obra no campo, era preciso aumentar a
produção no campo. Sem falar em um currículo importado das cidades.

A partir das décadas de 1950 e 1960, o contexto das escolas do campo, foi tomando outra
direção, através da luta pela Reforma Agrária, que reivindicavam ser protagonistas da sua
própria história politica e social, marcado por lutas, contra a exclusão da população ruralista e
a escolarização.

O marco dessa redefinição, foi o II Congresso Nacional de Educação de Jovens e Adultos, cujo
relator foi Paulo Freire, que defendia um trabalho com o homem e não para o homem. (LEILA
ROCHA SARMENTO COELHO, pág131).

Movimento que defendeu uma educação para todos, democrática, libertadora, e


emancipadora. Cuja meta aparente foi “desenvolver,” “interagir,” e “modernizar” a vida social
popular, na visão sistemática de uma classe marginalizada, explorada e oprimida. Porém, esse
movimento sofreu um golpe militar em 1964, onde toda essa concepção de educação foi
simplesmente abafada e repreendida. Educadores e lideranças, foram duramente perseguidos
e exilados, inclusive Paulo Freire, teve que mudar para outro país e movimentos sociais
educacionais foram desarticulados.

Foi um período marcado por muitas repressões políticas governamentais, mas as lutas por
melhorias no campo não pararam, continuaram crescendo mesmo em um modo remoto,
acanhado.

Em 1998, foi realizada I Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo, promovida
pelo movimento MST, UNCEF, UNESCO, CNBB e UNB. Onde teve o papel de rearticular a
educação camponesa, sociedade e governo. Foi estabelecido estratégias de organização,
programas de formação de educadores e a criação de fóruns estaduais.

Em agosto de 2004, em Luzilândia- Go, realizou-se a II Conferência Nacional de uma Educação


do Campo. Onde foi pautado, assuntos como, falta de escolas, infraestrutura, políticas de
valorização do magistério, índice de analfabetismo, construção de novas escolas no campo,
educação de jovens e adultos, apropriada a realidade do Campo.

Como resultado de várias lutas, O Concelho Nacional de Educação(CNE), reconhece que é


fundamental o acesso da população do Campo à Educação Básica e à Educação Profissional de
Nível Técnico, que contemplem a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais,
culturais, políticos, econômicos, de gênero e etnia, a flexibilização do calendário escolar.

A Educação Rural está marcada pelo agronegócio desde o início com os latifundiários, também
pela agricultura familiar, movimentos indígenas e quilombolas.

O Plano Nacional de Educação defende a educação do campo, a luta dos povos do campo, que
tem direito a uma educação de qualidade, que respeita sua identidade, sua cultura, seu
histórico de vida, que considere a sua realidade e seus interesses. É nesta perspectiva que
ARROYO, CALDART e MOLENA. ( 2011, p. 141) afirmam:
“A Educação do Campo é um conceito cunhado com preocupação de se delimitar um território teórico. Nosso pensamento é
defender o direito de uma população de pensar o mundo a partir do lugar onde vive, ou seja, da terra em que pisa, melhor ai da
realidade.”

Porém, vivemos uma realidade diferente na educação do campo, desde seu início histórico, de
tamanho abandono e descaso. Políticas Públicas não contemplam os interesses de homens e
mulheres do campo, oferece somente uma escola de fazenda com currículo baseado em uma
escola da cidade. A desigualdade e exclusão dessas escolas tem até nos dias de hoje.

Ainda temos sérios problemas com o analfabetismo, muitas crianças da Educação Infantil e
Ensino Fundamental ainda não frequentam as escolas, as vezes por motivo de difícil acesso até
uma unidade escolar. Muitos adolescentes do Ensino fundamental II e médio, não conclui os
estudos, as vezes porque precisa trabalhar para sobreviver, ajudar família, ou mesmo entra
para o mundo do crime. Ainda é grande o número de adultos e idosos analfabetos, porque não
tiveram oportunidades de estudar quando jovem.

No campo, existe muitos docentes, sem formação especializada, ensino superior incompleto ou
que nunca fizeram curso superior na área da educação, ou até mesmo magistério. Infelizmente
à Escola Rural ainda é tratada como escola inferior em relação com as da cidade, são
chamadas muitas das vezes por isoladas e são tratadas como uma espécie de resíduo do
sistema educacional brasileiro, apresentando problemas como:

Falta de estrutura física, disponibilização de recursos pedagógicos, como jogos pedagógicos,


tecnologias digitais, currículo e calendário escolar de acordo com a realidade do campo.
Algumas não contém energia elétrica ou até mesmo água encanada.

Quero aqui expressar minha indignação quanto aos direitos à educação que segundo
a LDB é um direito de todos, mas o que estamos nos deparando é com direitos
negados aos educandos que por sua vez tem ficado a mercê de uma sociedade cruel
que tem olhado somente para seu próprio interesse uma vez que ainda existem muitas
crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos com esses direitos não legitimados,
claro que por muitos motivos, mas pior ainda é saber que as autoridades que deveriam
garantir essa educação tem negligenciado esse saber. E a educação sempre foi
desmerecida pelos nossos governantes.

Vale uma reflexão neste momento tão crucial que estamos vivendo. O documento nos
aponta as responsabilidades de cada esfera, se cada um fizer o seu com
responsabilidade teremos sim uma educação de qualidade e igualitária, vamos pensar
também na equidade da educação e teremos pessoas conscientes do seu papel em
toda esfera da vida como sabemos a educação tem o poder de transformar pessoas.

Como sabemos em meados de 1940, 70% das pessoas viviam no campo, já em


meados de 1980 houve uma inversão sendo a porcentagem de 70% residindo na
cidade, já em 2000 22% dessas pessoas residiam no campo. Podemos observar que
não houve uma política que viesse atender essas pessoas e assim permaneceram no
campo, o êxodo rural se caracterizou com a saída das pessoas do campo para a
cidade em busca de melhores condições de vida, em busca de oferecer bons estudos
para seus filhos, enfim ter uma vida melhor uma vez que, a desvalorização dos
produtos agrícolas desmotiva os pequenos produtores e muitos acham que o melhor a
fazer é vender o que tem e migrar para a cidade. Sabemos que a burguesia tem o
campo, suas grandes fazendas para férias, fim de semana e momento de lazer
enquanto muitos têm a fazenda como principal meio de sustento. É preciso pensar
numa educação que veja o filho do homem do campo como aquele que vai se formar e
voltar para trabalhar em suas propriedades para poder transmitir para os mais velhos o
que aprendeu para melhorar a produção. É preciso resgatar a importância do campo
para os filhos do campo. É preciso trata-los como protagonistas da sua própria
história.

Partindo desse pressuposto, sabemos que no contexto brasileiro a educação sempre


foi elitizada, pode-se dizer que esse paradigma não foi quebrado, por existir ainda
altos índices de pessoas analfabetas e se observarmos grande parcela dessas
pessoas são carentes e da periferia, isso falando num contexto geral. E com a
educação do campo não é diferente, nunca houve uma preocupação com o contexto
em que essa clientela está inserida, sempre tiveram contato com educação urbana
que muitas vezes não correspondem aos interesses do alunado do campo.

Segundo Kuambi,(2006,p.47) “Alguns pensam que somente os mortos foram vítimas.


Quando crianças perdem seus pais, esta perda não é sentida apenas pela família e
comunidade, mas também pelas gerações que se seguem. Quando um povo é
deslocado de seus territórios, perde o sentido de segurança de pertencimento. Sofre
experiências de medo, ansiedade e perde a esperança no futuro. Disto resulta
privação de conhecimentos, objetivos e inspirações que poderiam auxiliar a construir o
futuro de prosperidade para suas famílias e comunidades.

Pode-se fazer uma comparação na questão do êxodo rural que foi um marco que
cresceu rapidamente entre 1960 e 1990. E esse rápido crescimento se deu
basicamente devido à industrialização no país acredito que muitos deixaram seu lugar
de origem em busca de melhorias para suas famílias e com isso a vida no campo foi
reduzida consideravelmente e as ofertas das escolas do campo foram também
diminuindo.

E hoje se tem uma demanda muito pequena de escolas do campo, na nossa região
essa queda se acentuou mais ou menos a partir de 2004 de lá pra cá fechou muitas
escolas e as que restam trabalham com turmas multisseriadas. Devido à demanda de
alunos serem pequena não tem como formar turma única de cada ano. É sabido que
existem muitas políticas públicas que abordam a defesa das escolas do campo. O
decreto Nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 aponta no seu art. 2º princípios da
educação do campo, o II muito me chamou atenção, pois vem falando do incentivo de
projetos políticos pedagógicos específicos para as escolas do campo. Muito tem se
falado nessas especificidades para a educação do campo, não pode ser muito
sonhador, é preciso elaborar um documento que realmente atenda a essa população,
mas que seja um documento que contenha uma pedagogia que se possa realizar, que
não venha ser um documento mirabolante e que fique só no papel por questões que
professores, alunos e comunidade vá se esbarrar e não ter como resolver, muito já foi
feito, mas há muito o que fazer para continuar melhorando a vida dessa população
que é de certa forma esquecida pelos órgãos públicos.

É sabido que políticas para a educação do campo existem, sendo assim, é preciso dar
o devido valor a essas políticas públicas onde esses cidadãos tenham seus direitos
garantidos sem que seja preciso lutar na justiça para garantir o que a lei já garante.
Pensar numa escola do campo de qualidade, com equidade, é pensar numa educação
integral desse individuo que outrora fora esquecido e que de certa forma vivenciou
uma sociedade que o discriminava, vendo o como um ser incapaz de progredir dentro
do contexto social.

Referências

https://www.infoescola.com/educaçao/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao

https://www.planalto.gov.br/ccivil-03/leis/19394htm
brasilescola.uol.com.br>geografia geral

Educação do Campo-identidade e políticas

http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada

BRASIL. Aspectos Históricos e Contextuais da Educação do Campo: Desafios de Ontem e Hoje.


Disponívelem:https://drive.google.com/file/d/13GwdVfevc55UBqYEBoa1cvpSuEe_TvQ9/view?
usp=drivesdk. Acesso em 31 de julho2020.

BRASIL. Educação do Campo no Contexto Histórico: Algumas Considerações. Disponível


em:https://drive.google.com/file/d/13FwA0evbyRw2_tgpcUyh8cbB9xGjDrob/view?
usp=drivesdk. Acesso em 31 julho 2020.

BRASIL. Educação Do/No Campo: Uma Reflexão da Trajetória da Educação Brasileira.


Disponível
em:https://drive.google.com/file/d/13Ftpatjm7ka7V6Em11NWzzMHM1jTwFoP/view?
usp=drivesdk. Acesso em 31 julho 2020.

COELHO, Leila Rocha Sarmento. Educação do Campo-Identidade e Políticas Publicas.

FERNANDES, Bernado Mancano, MOLINA, Mônica Castagno. O Campo da Educação do Campo.

Educação do Campo: identidade e políticas públicas / Edgar Jorge Kolling, Paulo Ricardo Cerio-

li, osfs e Roseli Salete Caldart (organizadores). Brasília, DF: articulação nacional Por Uma
Educação do Campo.

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