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ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA
SALVADOR
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHA
ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA
Orientador:
Prof. Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira
Co-Orientador:
Prof. Dr. Sandro Fábio César
SALVADOR
2007
A663 Araújo, Geraldo Bezerra
Recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical na técnica mista
destinada em habitação de interesse social: um estudo de caso no bairro do Alegre em São
Sebastião do Passé / Geraldo Bezerra Araújo – Salvador, 2007.
206 f
CDU 728:332.83
Dedico este trabalho a minha família:
aos meus filhos Chico, Dany e Lucas; a minha neta Malu; aos meus pais Francisco Assis (in
memória) e Nazareth; aos meus irmão Gláucia e Beto; aos meus primos pais Antônio Ivo e Lila; e
a minha nova companheira Ana Lúcia e suas filhas Aline e Daniela.
Agradecimentos
A minha família:
aos meus filhos Chico, Dany e Lucas; a minha neta Malu; aos meus pais Francisco Assis (in
memória) e Nazareth; aos meus irmão Gláucia e Beto; aos meus primos pais Antônio Ivo e Lila; e
a minha nova companheira Ana Lúcia e suas filha Aline e Daniela, pela contribuição que cada
um teve e tem em minha vida.
Aos professores Emerson de Andrade Marques Ferreira e Sandro Fábio César, respectivamente
orientador e co-orientador, pela presença fundamental, paciência, dedicação e incentivo.
Aos professores designados pelo MEAU para examinar este trabalho, pela disponibilidade e
relevantes contribuições, na pessoa de Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira, Dr. Sandro
Fábio César, Dr. Roberto Bastos Guimarães, Dr. Ricardo Fernandes de Carvalho e Dr. Almir
Sales.
Ao Prof. Dr. Virgolino Ferreira Jorge pela acolhida na Universidade de Évora e orientação de
minha investigação em Portugal, juntamente com as arquitetas Dra. Maria Fernandes e Dra.
Mariana Correia.
Aos demais colegas e amigos da Universidade de Évora, pelo acolhimento, apoio e troca de
experiências, nas pessoas da Profa. Dra. Marízia Menezes Ferreira, Profa. Dra.Maria do Céu
Tereno, Profa. Dra. Sofia Capelo, Prof. Dr. Manuell Mascarenhas e dos técnicos administrativos
António Galvoeira, Maria Elisa, Joaquina Mira, Maria da Conceição Charrua, Maria Manuela
Serrano e Maria Etelvina Balsinha.
Aos professores e amigos do MEAU, onde mais uma vez esteve a contribuir o Prof. Dr. Roberto
Bastos Guimarães, Prof. Dr. Luiz Roberto Moraes, Prof. Dr. Luiz Aníbal de Oliveira Santos,
Profa. Dra. Viviane Zanta, Prof. Dr. Sandro Lemos Machado, Prof. Dr. Wellington C. Figueredo,
Profa. Dra. Ilce Marília Dantas Pinto, Prof. Dr. Juan Moreno, e Prof. Dr. Artur Caldas pela
presteza em contribuir com a descoberta de novos caminhos.
Aos demais professores do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, pela dedicação e forma
de fomentar em nós estudantes a vontade de cada vez mais aprender.
Aos colegas e amigos, professores da UFBA, Arivaldo Leão de Amorim, Adailton Gomes, e
Alberto Oliviere pelo apoio e incentivo no decorrer deste trabalho.
À professora Maria Lenise Silva Guedes, Curadora do Herbácio Alexandre Costa Leal – UFBA,
pela gentileza de identificar a espécie de bambu existente em São Sebastião do Passé.
Aos professores Roberto Cardoso e Artur Caldas, Coordenador e Vice Coordenador do Mestrado
em Engenharia Ambiental Urbana, pela forma competente de conduzir as atividades do mestrado.
Aos amigos do Bureau de Serviços da FAUFBA Jorge Getúlio de Jesus, Ricardo Armando,
Carlos Eduardo e Tainan Armando Conceição de Jesus pelo apoio e presteza nas horas de sufoco.
Às pesquisadoras Sueli Guimarães e Célia Neves pela contribuição em informar e colaborar com
as pesquisas deste trabalho.
Aos colegas do mestrado José Araújo (Divino), Alzira (Princesa), Patrícia (Patepatoca),
Anderson (Floquinho), Jairo (El Conquistador), Lúcia (Mãe de Pedro), Marco Antônio (O
Professor), Nelson (Pãozinho da mamãe) e Virgínia (Virge) pelos momentos de estudo, lazer e de
incentivo nas horas amargas.
À comunidade do bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé pela forma sempre acolhedora
durante os trabalhos de campo.
RESUMO
Este trabalho estuda a vedação vertical em técnica mista para habitação de interesse social,
também conhecida no Brasil como pau-a-pique, taipa de mão, taipa de sopapo, ou simplesmente
taipa, entre outras denominações. O trabalho foi desenvolvido apoiado na metodologia
estabelecida, onde teve como base a revisão bibliográfica e o estudo de caso. A revisão
bibliográfica contemplou o estudo e análise sobre a técnica mista e a técnica mista estruturada
com bambu. O estudo de caso foi realizado no bairro do Alegre em São Sebastião do Passé, onde
foram levantados dados sobre o perfil sócio-econômico da população da área de estudo, sobre a
forma como a mesma constrói sua habitações em técnica mista e sobre os materiais utilizados.
Por fim, discutiu-se, avaliou-se e foram feitas recomendações, buscando melhorias tecnológicas
para o melhor desempenho da vedação vertical do atual sistema construtivo. Além das
recomendações referentes às melhorias tecnológicas da vedação vertical, recomendou-se a
substituição da madeira pelo bambu nas peças do entramado, visto ser o mesmo material
adequado e ambientalmente mais correto.
This study covers the vertical water sealing of the wattle and daub building technique used in low
cost housing. Based on the conventional approach, it is composed of a bibliographical review and
a case of study. The bibliographical review comprehends studies and analysis about the common
wattle and daub and the structured on bamboo wattle and daub building techniques. The case of
study was performed in Alegre, São Sebastião do Passé – Bahia – Brazil, where data concerning
the social-economical BACKGROUND OF THE POPULATION, THE METHODS THEY USE
IN BUILDING THEIR WATTLE AND DAUB EDIFICATIONS AND THE USED
MATERIAL WAS COLLECTED. After discussing and evaluating wattle and daub as a building
system, recommendations concerning technological improvements are made and it`s suggested
the use of bamboo as the structure, instead of other types of wood that are conventionally used.
Keywords: low cost housing; wattle and daub tecnique; bamboo; urban politics.
LISTA DE FIGURAS
1. INTRODUÇÃO 15
1.1 Contextualização 18
1.2 Problema 19
1.3 Objetivos 20
1.3.1 Objetivo geral 20
1.3.2 Objetivos específicos 21
1.4 Justificativa 21
1.5 Estrutura da dissertação 23
2. TÉCNICA MISTA 25
2.1 Algumas formas de construir a técnica mista 26
2.1.1 No Japão 26
2.1.2 No Equador 27
2.1.3 No Paraguai 29
2.1.4 Em Portugal 32
2.1.5 A técnica mista no Brasil 39
2.2 A estrutura e o entramado na técnica mista 46
2.3 O solo par o uso na técnica mista 48
2.3.1 Retirada da amostra e teste para uso do solo mais adequado 49
2.3.2 Correção do solo par a técnica mista 51
2.4 Recomendações para execução da técnica mista 53
4. METODOLOGIA 73
4.1 Delimitação da pesquisa 73
4.2 Identificação das variáveis 74
4.3 Estágios da pesquisa 74
4.3.1 Estágio de revisão bibliográfica 74
4.3.2 Estágio de investigação sobre a utilização atual da técnica mista 75
4.3.3 Estágio do estudo de caso 76
4.4 Estudo de caso 77
4.4.1 Fase preparatória 79
4.4.2 Coleta de evidências 84
4.4.3 O método 85
4.4.4 Análise das evidências
4.4.5 Construção do relatório 88
5. ESTUDO DE CASO 90
5.1 O bairro do Alegre 91
5.1.1 Casas em técnica mista e casas em alvenaria na poligonal de estudo 93
5.1.2 Habitantes no universo de amostra das 24 casas 94
5.1.3 Ocupação dos chefes de família no universo de amostragem 95
5.1.4 Renda familiar no universo de amostragem 96
5.2 Dados referentes à técnica mista atual em São Sebastião do Passé 97
5.2.1 O solo local 97
5.2.2 Informações sobre as construções 115
5.2.2.1 Tempo de construção das habitações 115
5.2.2.2 Habitações reformadas ou ampliadas 116
5.2.2.3 Área das habitações 116
5.2.2.4 Situação de revestimento das habitações 117
5.2.2.5 Situação da pintura das habitações 117
5.2.2.6 Material de cobertura 118
5.2.2.7 Número de águas das coberturas 118
5.2.2.8 Habitações com instalações elétricas 119
5.2.2.9 Situação de telefonia das habitações 119
5.2.2.10 Situação de instalação de água potável 120
5.2.2.11 Situação de instalação de esgoto 120
5.2.2.12 Estado de conservação das 96 habitações em técnica mista da área de estudo 121
5.2.2.13 Nível de satisfação dos moradores das casas de técnica mista 122
5.2.2.14 O uso do bambu no universo de amostragem 122
5.3 O atual sistema construtivo da técnica mista em São Sebastião do Passé 123
5.3.1 Subsistema de fundação e estrutura 123
5.3.2 Subsistema de paredes 124
5.3.2.1 Entramado 124
5.3.2.2 Barreamento 125
5.3.2.3 Reboco 125
5.3.2.4 Pintura 126
5.3.3 Subsistema coberturas 126
5.3.4 Subsistema esquadrias 127
5.3.5 Subsistema pisos 127
5.3.6 Subsistema instalações 127
5.3.6.1 Instalações elétricas 127
5.3.6.2 Instalações telefônicas 127
5.3.6.3 Instalações de água potável 128
5.3.6.4 Instalações de esgoto sanitário 128
5.4 O bambu existente em São Sebastião do Passé 128
7. CONCLUSÕES 161
7.1 Recomendações para trabalhos futuros 164
REFERÊNCIAS 165
Referências citadas 165
Referências consultadas 170
APÊNDICE 176
ANEXOS 184
Anexo 1: Espécies de bambu nativas do Brasil e espécies originárias de
outros países e cultivadas no Brasil 184
Anexo 2: Confirmação da espécie de bambu existente em São Sebastião
do Passe 195
Anexo 3: Resultados dos ensaios de caracterização do solo 197
Anexo 4: Mapa da poligonal de estudo destacando as casas em técnica mista 205
15
1. INTRODUÇÃO
sobrevivência. Não apenas os grandes centros urbanos que crescem e se modernizam sem, no
entanto, resolverem o problema habitacional, como também, os pequenos centros urbanos trazem
vida no país.
atualidade uma preocupação em relação ao futuro do nosso planeta e à oferta de materiais para as
futuras gerações. Usar materiais que consumam menor energia no processo de produção e que
garantam seu uso para as próximas gerações é meta fundamental a ser seguida na atividade de
construção. Para tanto, o uso de técnicas construtivas que utilizem materiais renováveis e de
As técnicas de construção, com terra, são até hoje, no mundo inteiro, uma forma de edificar de
modo seguro e saudável, utilizando matérias que existem em abundância, causando os menores
gerações futuras.
Entre as técnicas de construção com terra, duas se destacam entre os brasileiros, com exemplares
executados desde os tempos do Brasil colônia: a taipa de mão (que aqui passa a ser denominada
A denominação técnica mista é bastante recente. Foi adotada pelo PROTERRA, Projeto
construção com solo aos setores produtivos e às políticas sociais dos países ibero-americanos. Na
apresentação do livro “Técnicas Mixtas de Construcción com Tierra”, Neves (2003) apresenta a
16
nova denominação de técnica mista para o sistema construtivo conhecido no Brasil como taipa-
de-sopapo, taipa de mão, pau-a-pique, barro armado, entre outros, ou simplesmente taipa. Na
Argentina esta técnica recebe o nome de quincha; na Colômbia e em outros países da América do
técnico, de entramado.
São Sebastião do Passé, município do Estado da Bahia, possuía segundo o IBGE, senso de 2000,
39.960 habitantes, dos quais, 29.550 (73,95%) estavam na sede e 10.410 (26,05%) na área rural.
Trata-se de uma cidade de porte pequeno que, mesmo assim, possui na periferia a marca da
pobreza, com habitações precárias, nível de segurança e habitabilidade a desejar. Uma parte
significativa dessas habitações foram construídas com técnica mista, sistema construtivo que tem
como matéria prima principal o solo e a madeira, porém, as construções com esta técnica
existentes no local de estudo, não atendem às principais recomendações relativas aos cuidados
necessários às construções com terra, motivo pelo qual a quase a totalidade delas está em estado
de degradação.
Dentro deste contexto, o que fazer para se modificar este contexto ? A técnica mista sempre
esteve presente na arquitetura brasileira, no campo e nas cidades, sendo que ultimamente a maior
parte está na zona rural. A baixa qualidade com que é executada atualmente esta técnica, assim
como a falta de seleção dos materiais utilizados, associadas ao preconceito que se formou em
relação às casas construídas com esta técnica contribui para desestimular o seu uso. Tanto assim
que o status atribuído à casa de alvenaria é o de “casa pra toda vida”, enquanto que a casa de
técnica mista está associada à “casa de interesse social”, à “casa de baixo custo” ou à “casa para
pobre”.
17
Melhorar a casa de técnica mista do ponto de vista técnico é avançar, contribuindo com grande
parcela da sociedade que poderá desfrutar de uma moradia com melhor conforto, mais segura e
mais saudável.
A partir destas colocações, pretende-se neste trabalho estudar a construção em técnica mista,
ambiental.
Assim, o objeto desse estudo é a técnica mista, tendo como objetivo avaliar e fazer
No bairro do Alegre, em São Sebastião do Passe, a técnica mista tem como materiais principais o
solo e a madeira. Boa parte da madeira utilizada nesta técnica no bairro do Alegre em São
Sebastião do Passe, apresenta, segundo informações dos usuários, tempo de vida útil de
que compromete a sua durabilidade, a rigidez da construção e a vedação vertical. Isto, devido a
dois fatores: primeiro, o emprego de madeira jovem, ou seja, constituída apenas de alburno que é
susceptível ao ataque de fungos apodrecedores; segundo, o uso de madeira adulta, porém de baixa
mista, visando oferecer aos usuários da mesma soluções de menor custo, maior vida útil, saudável
e segura, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos seus usuários, é a contribuição
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Os atuais problemas, como pobreza e desequilíbrio do meio ambiente, são desafios que a
Capítulo 7, item 7.6) estimava-se que pelo menos 1 bilhão de pessoas não dispunham de
habitações seguras e saudáveis. Este indicador requer ações estruturadas, envolvendo estratégias
A Agenda 21 (1998, capítulo 7, item 7.9), onde o documento global trata da “Promoção do
programas, uma destinada ao oferecimento de habitações adequadas para todos, e, outra, destinada
Nas áreas rurais, e mesmo urbanas, de todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, os
materiais de construção mais antigos e importantes são o solo, a madeira e o bambu. Quando
Para Houben e Guillaud (1994) a “terra crua” (solo sem cozimento) é sem dúvida um dos
materiais de construção mais usados no mundo. Segundo Dethier (1982) e Celestino (1994), na
atualidade, um terço da população global habita construções de “terra crua”, e afirmam existirem
evidências de que o solo, como material de construção, data do final do Período Neolítico. No
das técnicas tradicionais, refletindo-se, inclusive na área de ensino, onde, apenas as construções de
Para Segawa (1988), o solo e a madeira são tratados apenas em aulas de técnicas construtivas
entende que o maior desafio para o uso das “construções com terra” é puramente subjetivo. Trata-
modernos, definindo as construções com solo como precária e símbolo de baixo status social. A
construção de solo sem cozimento foi muito utilizada aqui no Brasil no período colonial, porém,
como em outros países, com o advento de outros materiais de construção, aos poucos foi sendo
abandonada. Bardou e Arzoumanian (1979, p. 32) afirmam que na Europa após a segunda guerra
mundial, com o surgimento de novos materiais de construção, também, a construção com solo foi
sendo substituída.
Social - HABYTED e o Projeto XIV.6 PROTERRA, ambos do CYTED, têm desenvolvido ações
que visam divulgar, avançar tecnologicamente e aplicar o conhecimento disponível sobre o uso do
solo, principalmente para habitações de interesse social. Entre outras ações, dão apoio técnico às
desta pesquisa. As recomendações para melhoria tecnológica buscam evitar uma vedação vertical
que abrigue insetos como o barbeiro, o que acontece atualmente na maioria das habitações
pesquisadas. Procura também, resolver o problema de apodrecimento da trama pela umidade, quer
na parte de contato direto com o solo, quer nas partes elevadas. Busca também, outros ganhos
1.2 PROBLEMA
humanidade. As reservas ambientais ficam mais escassas a cada dia comprometendo o uso para as
ambientalmente sustentáveis.
tecnológica e as recomendações para solução dos mesmos, é o que se persegue nesta dissertação.
b) quais as melhorias tecnológicas que poderão ser introduzidas no sistema construtivo atual
das vedações verticais em técnica mista, no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé ?
1.3 OBJETIVOS
Avaliar o modo atualmente empregado para construção da vedação vertical em técnica mista
definir uma área na malha urbana de São Sebastião do Passé, onde existam construções em
técnica mista e avaliar o modo de se construir atualmente as vedações verticais das mesmas;
1.4 JUSTIFICATIVA
Várias são as razões que justificam a escolha do tema e do local de realização do estudo de caso:
o tema refere-se à habitação de interesse social, cuja demanda tende a aumentar a cada dia, em
cada munícipio, em cada estado e em cada país. Já em 1992 estimava-se um déficit de habitação
de interesse socal para 1 bilhão de pessoas. A técnica construtiva estudada sobrevive em nosso
país desde a colonização, utilizando o “saber fazer” dos usuários, precisando no entanto de
atualizações tecnológicas para sua melhoria. A escolha da cidade de São Sebastião do Passé deu-
se devido à existência de técnica mista em sua área urbana e à relativa proximidade de Salvador,
técnica mista.
Sebastião do Passé, conforme constatado “in loco” pelo pesquisador, é a presença do “barbeiro”,
vetor transmissor da doença de Chagas que faz sua moradia nas fendas da vedação vertical,
tecnólogica para a vedação vertical de casas em técnica mista, de modo a melhorar o desempenho
c) Através de novos estudos voltados para a vedação vertical deste tipo de hanbitação, busca-
se contribuir para a mudança do atual modo de ver e conceituar a casa de técnica mista.
d) O custo baixo e a rapidez de execução das casas de técnica mista estimulam estudos
voltados para agregar melhorias na vedação vertical. O custo baixo deve-se principalmente ao fato
caso, deve-se ao fato de ser uma área urbana com aproximadamente 50% de casas em técnica
extraída das matas vizinhas e vem diminuindo sua oferta paulatinamente. Estudar outro material
que possa, vir a substituir a madeira na confecção da vedação vertical poderá contribuir tanto para
a diminuição da devastação das matas, quanto para um novo tipo de vedação, com nova
g) A possibilidade de substutuir a madeira pelo bambu será uma alternativa a mais para a
utilização do material vegetal presente nesta técnica. Para Ghavami (1995, p.4), o bambu é o
material que requer menor consumo de energia de produção. Enquanto o aço apresenta consumo
de 1500 MJ/m³, o concreto, 240 MJ/m³ e a madeira, 80 MJ/m³, o bambu consome apenas 30
MJ/m³.
23
h) A construção que usa o solo como principal material apresenta um custo menor que o
daquelas executadas com materiais industrializados. Uma análise entre custo e benefício feita por
ARINI (1995, p. 89), comparando um sistema construtivo tradicional e um que utiliza tijolos de
solo prensado, apresentou uma redução de 35% sobre o custo final das obras construídas com
O capítulo 2 estuda e analisa a técnica mista, estabelecendo uma base teórica sobre: o uso desta
técnica em alguns países como o Japão, o Equador, o Paraguai, Portugal e Brasil; a estrutura e o
O capítulo 3 trata da técnica mista estruturada com bambu, introduzindo o assunto e apresentando
as suas diversas aplicações; destaca o bambu como material de construção; classifica, apresenta a
bambus mais utilizados na construção civil; fala sobre o tratamento do bambu; e finaliza
estabelecendo a espécie de bambu existente em São Sebastião do Passe, com base em laudo
técnico.
bairro do Alegre como local do Estudo de Caso. Define a poligonal de estudo (unidade de
habitações.
O capítulo 6 discute, avalia e faz recomendações para melhorias tecnológicas da vedação vertical
da técnica mista a partir das análises com base nos trabalhos referenciais sobre técnica mista e
técnica mista estruturada com bambu, relacionando-os com os dados do estudo de caso. As
mista, ou a elementos cuja performance tem relação com a mesma. Os elementos objeto de
objetivo geral quanto os específicos, encerrando o mesmo com recomendações para novas
2. TÉCNICA MISTA
Este capítulo realiza uma revisão bibliográfica sobre técnica mista, referindo-se a
origem deste processo construtivo, ao uso do mesmo em alguns países, de modo especial no
técnica mista teve como berço a Arábia, onde se desenvolveu e aprimorou seu uso. Sua
térmico motivaram a mesma a ultrapassa fronteiras e se expandir muito além dos oceanos, sendo
normalmente em esteios e vigas de madeira para suporte da edificação como um todo, esteios
para fixação das esquadrias, uma trama denominada de entramado, executada com madeira ou
bambu para receber o solo de fechamento que é aplicado em estado plástico e uma cobertura em
palha ou telha.
evitando-se a pluralidade de nomes usados em diferentes países, sendo que em alguns, a citada
técnica recebe mais de um nome. Por exemplo, o Brasil a conhece como taipa de mão, taipa de
Embora o processo de se construir a técnica mista seja caracterizado por uma estrutura
em madeira ou bambu, onde as vedações são constituídas por um entramado que recebe o solo de
fechamento em estado plástico, cada povo adaptou a forma de construir à sua cultura e
Para ter-se uma idéia sobre a maneira como alguns povos utilizam a técnica mista,
da América Latina.
2.1.1 No Japão
No Japão esta técnica é constituída, em geral, tendo como estrutura a madeira e como
trama o bambu. Segundo Lopez (1974, p. 222 a 225), são fixados os elementos de madeira que
servem como estrutura principal (colunas ou pilares, vigas, soleiras e caixões para as esquadrias)
por elementos de madeira que recebe uma trama de bambu com varas verticais e horizontais com
trama principal de bambu é confeccionado uma nova trama, com peças afastadas entre si de 2,5 a
Para preenchimento da trama é preparada uma massa plástica a base de solo argiloso,
usando-se entre 3 e 5 camadas para fechamento, geralmente aplica-se 3 camadas. A camada final
apresenta uma composição diferenciada, que depende da tradição local, pois, é esta camada que
A primeira camada é aplicada por um taipeiro em um dos lados da trama, enquanto do lado
oposto outro taipeiro dá o acabamento, ficando a mesma com espessura de 9 a 18 mm,. Esta
camada é composta na relação de 100 partes de argila, por 300 partes de areia fina e 3 partes de
A segunda camada, com espessura entre 3 e 6 mm deve ser aplicada entre 2 e 4 semanas
após a primeira. A composição é a mesma da camada anterior, porém, as fibras devem ter um
A camada final, a depender do costume local, poderá ser composta por argila de solo
2.1.2 No Equador
Segundo Salas (2003, p.39), a técnica mista (bahareque) no Equador é uma das técnicas
de construção com terra de boa aceitação. Conforme o autor, ela se constitui numa construção
mista de madeira e solo muito utilizada nas províncias do sul do Equador e no resto da serra
daquela região, enquanto que, na costa, é muito comum a técnica mista ser construída com
bambu “Guadua” e solo, o que também, acontece na costa central do Pacífico Sul, em terras da
Referindo-se a abalos sísmicos, Sala (2003, p.40) salienta que o abalo de 1949 que
destruiu a cidade de Ambato, na serra central do Equador, grande parte das habitações que não
sofreram colapso foram as de técnica mista, se constituindo como técnica mais confiável por
seus usuários.
Salas (2003, p.43), referindo-se a esta capacidade de suporte a abalos sísmicos pela
técnica mista afirma que observações pessoais realizadas nos sismos que aconteceram no
Equador em 1987 (El Rventador), em 1996 (Pujili) e 1997 (Bahia de Caráquez) mostraram que
28
não houve colapso das habitações em técnica mista. As habitações, embora deformadas, não
desabaram, salvaguardando a vida de seus habitantes, que segundo Salas, é a função mais
Para Salas, a técnica mista no Equador, como em toda a América do Sul, é usada desde
tempos remotos. O autor anteriormente citado, fala sobre vestígios de técnica mista encontrados
Tem base numa estrutura de madeira sobre a qual se coloca um recobrimento de peças de
caniço ou de madeira roliça com 3 a 4 cm de diâmetro. Dentro dessa trama coloca-se o solo com
Usado de maneira especial pela comunidade indígena de Saraguro na península de Loja. Inicia-se
cm de profundidade onde são colocadas as bases em pedra talhada que sobressaem entre 20 e 40
cm do nível natural do terreno. Sobre a base de pedra, em furo previamente executado são
colocados os pilares principais, com afastamento em torno de 3,80 m (4 varas). Depois são
colocadas peças verticais denominadas de “parentes”, em madeira roliça, com diâmetro entre 10
são colocadas vigas de madeira com seção de mais ou menos 3,5 x 7,5 cm e na altura média das
paredes são fixadas outras vigas, de mesma seção, para evitar a deformação dos “parentes”.
Nesta altura se procede a montagem das peças da cobertura e depois a armação para receber as
29
portas e janelas. O próximo passo é a colocação das varas de ambos os lados da parede, com
lugares úmidos, onde os pilares são reforçados com madeiras colocadas na diagonal e os
“parentes” são colocados a 45°, propiciando uma melhor resposta à solicitação de abalos
sísmicos. Este tipo de bahareque vem sendo usado de 30 a 40 anos para cá em planta de 2
bahareque gualluchaqui. Esta técnica é usada em Loja, Murona Santiago e Zamorna Chichique.
Em nenhum dos casos se costuma dar um acabamento a parede, ela fica com a textura do
2.1.3 No Paraguai
O Paraguai, segundo Rios e Nessi (2003, p.90), apresenta 2 tipos de técnica mista: o
“estaqueo”, também conhecido como parede francesa; e a “palha com barro” (paja embarrada).
Os autores citam referências históricas que revelam uma habitação construída com muros de
Rios e Nessi apresentam uma casa urbana na cidade de Pilar cujo exemplo é similar à
construção de 1792. Esta última sofreu danos com a última inundação que afetou a cidade, onde
degradada pela enchente, enquanto as Figuras 2 e 3 destacam as rupturas das vedações verticais
As figuras 2 e 3 destacam a vedação vertical da habitação, onde são vistas peças de bambu
substituindo as varas, estando as mesmas amarradas com couro nas peças do “enchimento” e o
esteios de madeira, vigas de madeira, um trama de peças verticais (enchimento) e ao invés das
varas, ripas horizontais de bambu, em ambos os lados, amarradas com fibras vegetais. E
Sobre a “palha embarrada”, Rios e Nessi não descrevem muito. Os autores afirmam que a
mesma é disposta sobre peças de madeira, tipo varas que são suportadas pelos pilares, sendo a
palha amarrada nas varas com couro ou arame, formando assim uma superfície de ambos os
lados, interno e externo. Em seguida a palha é embebida em solo argiloso em estado plástico,
quase líquido.
Os autores informam que exemplares antigos desta técnica podem ser encontrados na zona
serrana da rota Transchaco a uns 150 km de Assunção, como também o quartel de Islã Poí, a
Rios e Nesi apresentam outras formas de se construir usando a técnica mista, onde as
principais diferenças estão nas peças da estrutura e entramado, onde são usados os materiais
local.
2.1.4 Em Portugal
Para Galhano e Oliveira (1992, p.281), o tabique (técnica mista) em Portugal é anterior ao
Século XVII. Segundo os autores, constitui-se em uma técnica barata e fácil, com origens e
Em Portugal, conforme caracterização feita pelo autor, o processo da técnica mista (tabique)
compõe-se de uma estrutura principal, formada por esteios e vigas de madeira, com seção quase
porém, de peças com menor seção. A estrutura secundária é composta de peças verticais, com
seção quadrada ou roliça de aproximadamente 8 cm, travadas por peças em diagonal de mesma
seção, sendo complementada por uma trama de ripas de seção retangular em torno de 1,5 por 4
cm, também em madeira, de ambos os lados, fixadas por pregos, formando uma trama destinada
a receber a massa plástica de solo sem cozimento, água e, na maioria das vezes, palha. Após a
dias atuais como acréscimos, trapeiras, e outras formas de andares suplementares, principalmente
autores é que as vedações verticais trazem seus paramentos externos revestidos com telhas,
lousas ou chapas de zinco. Uma forma de proteger os paramentos verticais externos das
intempéries.
33
No norte de Portugal, nas localidades de Alpedrina, Fundão, Covilã, Guarda, Muxagata, Vila
Nova de Foz Côa, Lamêgo, Tarouca, Ucânia e Salzedas, conforme investigação feita pelo autor
em maio de 2004, é bastante comum, ainda nos dias atuais encontrar tabiques sobre a forma de
A técnica mista tem mostrado em vários locais, sua capacidade de resistir a abalos sísmicos
sem colapso total. Em Portugal, segundo Galhano e Oliveira (1992), as construções em tabique
o pavimento térreo é construído em pedra e sobre o mesmo foi erguido o restante da construção
em técnica mista. Essa maneira de se construir é bastante utilizada no norte de Portugal e deve-
se ao fato da grande quantidade de pedras existente na região e também, por ser uma forma de
evitar que a umidade do solo atinja a vedação vertical da técnica mista. A construção da Figura
Outra diferença em relação à técnica mista no Brasil é o uso de ripas substituindo as varas.
34
FIGURA 4 – TÉCNICA MISTA SOBRE O PAVIMENTO TÉRREO NA RUA DO CASTELO, LAMEGO, PORTUGAL
Foto do autor - maio de 2004
35
Lamego é uma das cidades portuguesas que possui na atualidade uma quantidade expressiva de
Lamego, cujas construções são todas em técnica mista e estão construídos sobre o pavimento
térreo
Para proteger os paramentos externos mais afetados pelos ventos e chuvas, os mesmos recebem,
mercado local, do poder aquisitivo e gosto do proprietário. A Figura 6 destaca a vedação vertical
da lateral de uma edificação, na cidade de Tarouca, revestida com chapas de zinco. Tarouca,
embora próxima a Lamego, tem uma quantidade bem inferior de habitações em técnica mista,
Portugal, construída sobre o pavimento térreo, tendo a fachada frontal e lateral revestidas com
também, com ardósia. O revestimento das vedações verticais é de fundamental importância para
revestimento, maior proteção o mesmo irá propiciar à vedação vertical, estabelecendo uma
mista (tabique) em Portugal. Trata-se de um prédio de três pavimentos, onde o pavimento térreo
Portugal, embora na atualidade quase não mais se construa usando-se a técnica mista,
principalmente, em função do elevado custo da madeira, é um país que guarda uma quantidade
significativa de exemplares desta técnica construtiva, principalmente nas regiões do Douro, Trás-
com a umidade, onde a maioria das construções em técnica mista são executadas sobre o
Segundo Milanez (1958), antes da chegada dos portugueses os habitantes nativos do Brasil,
nossos antepassados, os índios, não usavam o solo para construir. Seus abrigos eram edificados
Sabe-se que os africanos, trazidos como escravos, contribuíram para o uso da técnica mista,
principalmente os descendentes da Guiné que vieram para o Brasil, pois em sua pátria
construíam suas casas de pau-a-pique, com enchimento de lama e cobertura da palha. Para
japonesa no Brasil, cujo edifício foi projetado por Kazuo Hanaoka, em 1942, para abrigar uma
fábrica de chá. O edifício foi construído na cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, conforme
FIGURA 10 – CONSTRUÇÃO EM TÉCNICA MISTA, MARCA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA, EM MOGI DAS CRUZES - SP
Fonte: http://www.uns.arq.br/comphap/bens.htm (em 11/10/2006)
Brasileiro (2002) destaca como construções em taipa de mão no Brasil o primeiro muro
Diamantina; Vassouras no Rio de Janeiro; e tantas outras nos estados de São Paulo, Goiás e
Bahia, como é do conhecimento do autor deste trabalho, a construção da técnica mista, via de
regra, começa pelo nivelamento do terreno, sendo em seguida executada a estrutura principal (os
esteios), que convencionalmente é feita com madeira roliça, exceto as peças de apoio para portas
e janelas. Os esteios são fixados no solo de fundação a uma profundidade média de 80 cm. Nesse
41
ponto a estrutura recebe uma trama com peças roliças de aproximadamente 8 cm de diâmetro,
colocadas na vertical, afastadas umas das outras mais ou menos 25 cm e fincadas no solo a uma
profundidade em torno de 30 cm. Apoiadas nas peças verticais são colocadas na horizontal, de
ambos os lados as varas, amarradas normalmente com cipó ou arame, distanciadas entre si em
torno de 10 cm. Sobre a estrutura é colocada a cobertura, que dependendo da região e poder
aquisitivo, é feita com telha cerâmica, normalmente de fabricação artesanal ou de palha. A fase
fazem um barreiro próximo à construção, onde misturam o barro com água, às vezes, adicionam
fibras, e quando a mistura pisoteada adquire a consistência ideal para o uso em questão, é
transportada com as mãos para o preenchimento da trama, até recobrir a face externa da
estrutura. Quando o poder aquisitivo permite, após a secagem do solo, é aplicado o reboco e,
posteriormente a pintura.
Para Silveira e Gama (1982), a taipa de pau-a-pique, que é um processo construtivo dos
mais antigos de nossa cultura, vem sendo conservada pela tradição oral e é conhecida de quase
toda família de baixa renda, ou seja, mais da metade da população brasileira, porém é
Lopes (2002) afirma que no Brasil, da mesma forma que em Portugal, as técnicas mais
exemplares em praticamente quase todo o território brasileiro. Sobre a taipa de mão, a autora
afirma ser uma técnica construtiva que utiliza materiais fornecidos pela natureza e que é
facilmente assimilada, sendo uma constante nas construções da zona rural e de cidades do
melhoramentos técnicos, e a população usa a referida técnica apenas por não ter acesso a outra
maneira de construir. Para Souza (1996), o que ocorre é que a antiga forma de construir com
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técnica mista tem sido substituída e adulterada e o que resta hoje é só um arremedo do que
outrora se praticava.
Para Lopes e Ino (2003), o processo básico comumente empregado consiste em levantar
enchimento dos vãos. Para as autoras, a versatilidade da técnica mista está na grande
Alguns autores destacam os motivos que levaram a técnica mista a ser empregada de
forma generalizada, principalmente no Brasil, onde desde a colonização ela se faz presente em
todo o país. Para Vasconcellos (1979), um dos motivos que levou esta técnica construtiva a ser
uma das mais difundidas foi a facilidade como se constrói. Já Schmidt (1946) afirma que ela foi
amplamente utilizada, pois, comparada com a taipa de pilão que precisa de taipeiros
relação à umidade, além de propiciar menor custo. Alvarenga (1984), apresenta a rapidez da
execução como uma das principais vantagens desta técnica. Para Souza (1996), a taipa de mão
teve nas terras de Minas Gerais total preferência sobre a taipa de pilão, por ser mais fácil sua
execução, mais rápida, econômica, além de ser leve e de facilmente adaptar-se às topografias
acidentadas.
Costa e Mesquita (1978) desatacam no interior de Minas Gerais, uma casa velha de
fazenda, construída no tempo do império, com paredes de pau-a-pique, sem apresentar qualquer
tipo de rachadura. As paredes foram feitas com solo, areia e estrume de gado. Para os autores o
esterco de gado possibilita maior firmeza ao reboco. Os mesmos observaram que a casa do joão-
trama na técnica mista é um procedimento conhecido, se não de todos, pelo menos da maioria
dos construtores que utilizam esta técnica, assim como da maioria dos pesquisadores sobre o
assunto. Entende-se que são as fibras vegetais contidas no esterco do gado que vai propiciar uma
No Brasil, o revestimento das paredes tem muito a ver com a condição econômica de seus
moradores, onde a grande maioria possui renda baixa ou muito baixa e suas habitações não
recebem reboco, na maioria das vezes sequer conseguem concluir suas moradias, ficando meses
e até anos habitando uma casa inacabada. Esta situação é encontrada em todo o país,
demonstrando as péssimas condições de habitação, a falta de emprego e renda para suprir não
apenas à necessidade básica de moradia, mas também a falta de alimentação, assistência à saúde,
FIGURA 11 – TÉCNICA MISTA NO BAIRRO DO ALEGER, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ, BAHIA, BRASIL
Foto do autor - outubro de 2004
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A habitação em técnica mista inacabada, pertencente a uma família de baixa renda, situada à
Rua Emílio Albino Abraão, no bairro do Alegre (Alegre de cima), em São Sebastião do Passé,
Bahia, Brasil, localidade onde foi realizado o estudo de caso. A parte habitada não possui
A figura 12 é de outra casa em técnica mista na Rua Candeal Pequeno, no bairro de Brotas
cidade de Salvador, Bahia, Brasil. A casa tem aproximadamente 50 anos de construída e mesmo
Palmeira dos Índios, Alagoas, Brasil, onde o revestimento das vedações verticais internas e
em perfeitas condições de habitabilidade, sem fissuras, sem bolor e, sem marcas de umidade. A
mesma foi construída sobre alicerce que se eleva do nível do terreno, em torno de
pluviais
Este procedimento, além de ser recomendado para a técnica mista por vários autores, coloca
a habitação em destaque.
FIGURA 13 - TÉCNICA MISTA REVESTIDA E PINTADA, NO POVOADO MOREIRA, PALMEIRA DOS ÍNDIOS, ALAGOAS, BRASIL
Foto do autor - agosto de 2004
acabamento das construções, variam, desde as de aspectos de pobreza, às vezes de miséria, até as
seus proprietários ou do conhecimento dos riscos a que se expõem não revestindo corretamente
as vedações verticais
46
estrutura metálica, além do uso de painéis autoportantes, que dispensam o uso de pilares.
Segundo Lopes (2002), o bambu, espécie vegetal resistente é outro material bastante indicado
necessitam, a fim de terem uma vida útil duradoura. Quanto à indicação do uso do bambu na
composição da ossatura que compõe a vedação vertical, uma das qualidades que estimula o uso
Para Lopes e Ino (2003) o entramado ou malha interna funciona como suporte para
sustentação do solo e, geralmente é produzido no próprio local. O tipo mais comum consiste no
uso de paus roliços, no sentido vertical, e de varas flexíveis horizontais, fixadas dos dois lados e
amarradas através de fibras vegetais, como cipó-imbé (Phyllodendrum imbé), buriti (Mauritia
flexuosa), tucum (Bactris glaucescens), sisal (Agave sisalana), tiras de couro, arame, ou ainda
presas por pregos. As autoras falam ainda em entramado onde as varas formam um trançado em
xadrez, citam o uso de arame em substituição às varas, citam o entramado com bambu e o uso de
painéis pré-fabricados em madeira serrada, cada uso a depender da facilidade e do custo de cada
região.
Na abordagem das autoras sobre o entramado, falta serem definidos parâmetros como o
diâmetro e afastamento entre as peças verticais de madeira roliça e das varas horizontais. Quando
afastamento entre os mesmos. Da mesma forma, quando usa o entramado de bambu, ou painéis
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madeira.
Para Di Marco (1984), a técnica mista, conhecida aqui no Brasil como taipa de sopapo ou
taipa de mão, consiste em um entramado de madeira ou bambu, formado por ripas horizontais e
verticais amarradas com tiras de couro, cipó, barbante, prego ou arame, preenchido com uma
mistura de solo, água e fibras. Este conjunto, juntamente com peças portantes verticais de
madeira, forma a parede da edificação. A mistura denominada “barro”, é lançada com as mãos
nos dois lados ao mesmo tempo, e apertada sobre a trama da parede. Após a secagem do “barro”,
entramado formado por ripas de madeira ou de bambu, o que não é o normal. Geralmente as
peças verticais da trama possuem diâmetro superior ao de uma ripa, em torno de 8 cm.
Continuando, Di Marco diz que as peças da estrutura são de madeira, porém, não define os
diâmetros. A recomendação que Di Marco faz, sugerindo apertar a mistura sobre a trama, ajuda
recomenda-se que ao invés de jogar o barro aos sopapos, o correto é colocar o mesmo na trama
tornar os paramentos verticais estanques, assim como a construção como um todo, o que na
atualidade não está sendo praticado aqui no Brasil. A Figura 14 é da vedação vertical de uma
construção na Rua do Cale, na cidade portuguesa do Fundão e ilustra a forma usada pelos
portugueses para contraventar as citadas vedações das construções em técnica mista, propiciando
solo, a saber:
“o termo terra ou solo é aplicado a todo material da crosta terrestre que não oferece resistência à
escavação mecânica e que perde totalmente a resistência quando em contato prolongado com
água. A origem do solo seja imediata ou remota, se dá a partir de processos físicos químicos de
fragmentação e decomposição das rochas, pela ação das intempéries”. (VARGAS, 1977)
A seguir será apresentada uma série de procedimentos empíricos para escolha do solo
ideal a ser usado em construções de técnica mista. O procedimento empírico,embora não tenha
49
caráter científico, ele fornece alguns parâmetros para a tomada de decisão da escolha do solo
mais adequado. Esses métodos são instrumentos porque eles auxiliam a população de baixo
poder aquisitivo para a escolha da melhor opção de solo a ser usado na vedação vertical da
técnica mista. Outro aspecto positivo desses métodos empíricos é a facilidade de transferência de
Lengen (2002, p.298), referindo-se ao solo como material de construção diz que quase
todos os tipos de solo servem para construir muros utilizando-se blocos de adobe, taipa de pilão
ou técnica mista. Como em sua composição entram diferentes tipos de solo, às vezes precisa-se
Este procedimento para escolha do solo é muito vago por não apresentar de uma forma
mais concreta parâmetros para a escolha do solo mais adequado para construções com técnica
mista. É um tanto parecido com a visão de Frota e Le Roy (1978) que simplesmente
Para Mitidieri e outros (1987), assim como para Milanez (1958), a escolha do solo deve
ser feita através de amostras retiradas a uma profundidade de 40 cm. Mitidieri e outros (1987)
também recomendam um teste rápido para escolha do melhor solo. Este teste consiste em retirar
quatro amostras de diferentes pontos de um mesmo terreno, umedecê-las com água e fazer bolas
com as mãos. Ao secar, a bola que apresentar menor número de fissuras indicará de modo
parâmetros que possibilitam comparação entre diferentes amostras auxiliando dessa forma o
usuário na tomada de decisão. Todavia, eles ainda deixam vago a quantidade de água a ser
50
utilizada para umedecer o solo e confeccionar as bolas de teste. Também não deixam claro o
tempo que levará para secar esses corpos de prova, uma vez que a secagem mal conduzida das
Gieth e outros (1994) recomendam o teste da pressão dos dedos. Consiste em colocar um
pouco de amostra de solo na palma da mão, adicionar água até obter uma mistura coesa sem que
prenda à mão e formar uma bola. Ao se aplicar uma leve pressão com os dedos, verifica-se o
comportamento da amostra: a) caso a bola se esfarele, o teor de areia é muito alto; b) caso não se
rompa após uma forte pressão dos dedos, há predominância de argila em sua composição; e c) se
ocorrer rompimento após uma forte pressão, o solo apresenta-se com teor de areia e argila
Este autor, comparado aos citados anteriormente, em relação à confecção dos corpos de
prova acrescenta um parâmetro mais objetivo quanto à quantidade da água a ser misturada com o
solo. Também auxilia, de forma comparativa, a escolha do melhor solo para o uso em técnica
mista, que, não deve ser composto pela predominância de areia ou de argila, e sim uma amostra
Com relação à escolha do solo para a técnica mista, Neves e outros (2005) apresentam o
teste do rolo (verificação do solo adequado para a taipa), que consiste em tomar uma porção de
solo umedecido e amassado, rolar sobre uma superfície plana até a obtenção de um cordão com
de forma a ficar em balanço além de sua borda, até que ocorra a ruptura do segmento em
de argila ideal para a taipa: se romper o cordão com menos de 80 mm, não há argila suficiente; se
a ruptura ocorrer com comprimento entre 80 mm e 120 mm, tem-se a quantidade ideal de argila;
Embora Neves e outros (2005) não deixem claro os procedimentos para coleta de solos,
conforme Mitidieri e outros (1987) e Milanez (1958), a autora aponta um outro processo para
análise empírica do solo que ajuda de forma objetiva a escolha do solo mais apropriado para a
construção de vedações verticais da técnica mista. Também não faz referência à quantidade de
mais adequado para a construção da vedação vertical da técnica mista. Adotando o critério
empírico apresentado por esses autores visando à população a que se destina essa técnica,
outros (1978) e Milanez (1958). Optou-se por coletar a amostra a 40 cm abaixo da superfície do
terreno natural por ser uma situação que possibilita a extração de um solo sem resíduos orgânicos
e mais limpo de impurezas, como entulho, etc. A presença de impurezas prejudica a confecção
do corpo de prova e mascara o resultado. Para escolha do melhor solo, entre os testes
Uma vez apresentados os parâmetros para escolha do solo, serão relacionadas, a seguir,
as sugestões dos autores que procuram melhorar o solo do ponto de vista de retração e aumento
de resistência. Essas recomendações apresentadas, visando à correção do solo, também são feitas
de forma empírica.
Para Lopes e Ino (2003), em algumas regiões a preparação do solo é feita com solo e água, ou
ainda com adição de fibras vegetais, como: fibras de sisal, de coco, de piaçava, bagaço de cana,
52
palhas, esterco de gado, entre outros, ou ainda com adição de minerais como a cal ou o cimento.
resistência.
As autoras chamam a atenção de que o solo pode ter suas características de estabilidade e
aumento de resistência quando se introduz fibras vegetais ou minerais. Da forma como foi
colocado faltou definir proporções para compor a mistura a ser aplicada na vedação vertical de
técnica mista.
Milanez (1958), tratando sobre a mistura para o “barreamento”, chama a atenção para a
quantidade adequada de água, pois o excesso aumenta a possibilidade de fissuras por secagem.
Afirma ainda que a adição de palha picada na mistura permite a evaporação de água na massa
toda por igual, inclusive de dentro para fora. O autor recomenda que o solo seja colocado com as
mãos entre as varas do entramado e não aos “sopapos” como normalmente é feito. Segundo o
No entanto, Milanez não define quais são os parâmetros que subsidiam a afirmação bem
acabada, apenas chama a atenção para uma nova forma de aplicação do solo na trama, alerta para
a importância da quantidade de água com o volume de solo, levando em conta fissuras que
podem vir a surgir posteriormente com a mistura do solo já aplicado. Faltou apresentar uma
relação em forma de volume ou peso, de quanto se deve colocar de quantidade de água para a
quantidade de solo, ficando em aberto esta relação. Faltou indicar o volume da palha a ser
introduzido na massa. Quanto ao adensamento do solo com as mãos na trama, esta forma
sopapo. O adensamento possibilita maior resistência mecânica à vedação vertical, por ter menor
melhorar o solo a ser aplicado na trama, é feita por Gieth e outros (1994), recomendando deixar a
53
mistura em repouso, por um período de doze horas, de preferência durante a noite. Para Gieth e
outros, este procedimento garante ao solo um melhor estado plástico para a aplicação. Essa
recomendação também é de caráter empírico, porém procede, pois, para solos argilosos esse
Conforme a DAM (1988), a aplicação do solo deverá ser feita em três fases. A primeira
consiste em se aplicar uma camada com as mãos, sem cobrir as ripas. Espera-se de quinze a
trinta dias, tempo necessário para a parede secar e aplica-se a segunda camada, que deve
preencher todas as trincas e cobrir as ripas. Aguarda-se novamente a parede secar e aplica-se a
terceira camada ou reboco, constituído de uma argamassa fina de cimento ou cal, mais areia e
saibro, no traço em volume de 1:3:5. O acabamento do reboco é dado alisando a argamassa com
colher de pedreiro.
Os procedimentos apresentados pela DAM (1988) são os que instruem o usuário desta técnica a
fazer de uma forma metódica, tanto as etapas ou fases de aplicação do solo sobre a trama, como
também a definição do traço em volume para o reboco final da vedação vertical em técnica mista
Para Lopes e Ino (2003), o uso de instrumentos simples como o esquadro, o prumo e o
nível são importantíssimos, pois quando relegados contribuem para prejudicar a aparência e a
locação dos esteios, o uso de um prumo na fixação dos esteios, da ossatura e do enchimento da
vedação vertical vai propiciar uma edificação equilibrada, com paramentos alinhados e o nível
Para Pinto (1993) e Souza (1996) os principais agentes causadores dos danos na vedação
vertical de solo são as infiltrações de água, seja por capilaridade do solo, seja por falta de
alicerces com a devida impermeabilização. Mitidieri e outros (1987) e PROAFA (1979) sugerem
o uso de cinta de concreto magro para evitar umidade nas paredes. A Fundação DAM(1988) e
Gietg e outros (1994) recomendam o uso de sapata corrida de pedra e tijolos cerâmicos,
protegida no coroamento com camada impermeabilizante. Para Ferraz (1992), além de ser
pintura asfáltica, betume, resina, sacos plásticos e base de concreto, de acordo com a
disponibilidade local, para proteção contra danos causados pela incidência de água nas peças
verticais de madeira.
água por capilaridade que vem do solo, como também águas de chuvas que incidem direta ou
indiretamente na vedação vertical, ficando a cargo do executor decidir o tipo de proteção que
em técnica mista, pois ele evita o alojamento de insetos nas gretas e protege as paredes contra a
ação da água. A autora destaca o reboco usado na zona rural de Minas Gerais que é feito com o
próprio solo misturado com maior quantidade de areia e aplicado em duas camadas. A primeira
mais áspera usa o cascalho misturado com o solo, estrume e água. A segunda difere apenas com
o tipo de areia, que é mais fina. Alvarenga não especifica o traço para a composição do reboco,
55
não define a granulometria da areia e do cascalho para execução do reboco, ficando vagas e
subjetivas essas recomendações. Para Gieth e outros (1994) a mistura do reboco deve ter uma
parte de cal e oito de saibro, ser aplicada sobre as paredes levemente umedecidas, em forma de
bolas, usando-se as mãos. Coberta toda a superfície, pressiona-se levemente a mistura para uma
perfeita aderência. A regularização é feita por pressão com a colher de pedreiro, para agregar os
esponja de camurça. Neste ponto, a superfície precisa apenas secar para receber a pintura, que
volume para a massa de reboco, além de estabelecer o preparo da vedação vertical e a forma de
aplicação da mesma, visando uma boa aderência entre o reboco e a superfície de aplicação.
Segundo Lopes e Ino (2003), no protótipo do PROAFA (1979), em Fortaleza, Ceará, usou-
se um chapisco impermeabilizante nas paredes internas e externas até a altura de 50 cm, para
Faltou definir qual o traço usado no chapisco, qual o aditivo impermeabilizante e sua
quantidade na mistura
pilares, propiciando uma amarração completa da edificação. Também, é importante ser feito um
edificação. Este último deverá ser executado com peças em diagonal, formando um triângulo
com os vértices externos, sendo as mesmas paralelas ao plano das vigas dos frechais,
propiciando, desta forma, uma estanquidade não apenas às vedações verticais, mas à edificação
como um todo.
56
processo de produção e existente na região do estudo de caso, sem, no entanto ser utilizado na
técnica mista local. Aqui, aborda-se o bambu como material de construção, estabelece-se a
Para Barbosa e Mattone (2002), empregar produtos que envolvem baixo consumo de
energia no seu processo de obtenção, que geram menor quantidade de rejeitos e que apresentam
Incentivar a retomada do uso do solo para construir utilizando o bambu como elemento
de vedação vertical da técnica mista é opção viável, que poderá oferecer uma edificação de custo
ambiente
Lopez (1974) referindo-se à “parede de argila reforçada com bambu”, a técnica mista, nos
fala dos motivos pelo qual o Japão, um dos países mais industrializados da Ásia, onde se constrói
com as mais modernas técnicas, continua nos dias atuais a construir casas de “argila estruturada
com bambu”. Segundo o autor, o colorido e a beleza de sua textura, aliados ao conforto térmico
Na Índia, o grande número de templos budistas, cujas cúpulas foram construídas com
bambu e solo, são exemplos de uso da técnica mista, tendo como referência maior a 7a maravilha
do mundo, o conjunto arquitetônico de Taj Mahal, cuja estrutura é toda montada com bambu e
revestida com argamassa especial. A figura 15 retrata o templo que foi construído na cidade de
Agra, Estado de Uttar Pradesh, em 1631 pelo imperador Shah Jahan, onde foi edificada a tumba
algumas, como o uso para a construção, paisagismo, álcool etílico, celulose e papel, alimentação
Para Cordero (1989, p.12), a baixa densidade, a forma circular oca e as excelentes
características físicas e mecânicas fazem com que esta planta seja empregada na construção
como elemento estrutural, painéis de vedação e outros usos. Afirma o autor que além da Índia,
Indonésia e Filipinas, que usam bastante o bambu como material de construção, na Colômbia,
popularidade.
números relacionados à capacidade de suporte aos vários esforços, este material tem sido usado
para diversos fins, desde a construção de pequenos muros, casas, abóbadas de grandes templos,
resistência do mesmo aos diversos esforços, relacionando um bom número de espécies. A boa
performance deste material vem motivando o uso do mesmo como elemento estrutural, inclusive
58
porte.
materiais de construção obtidos do bambu, das estruturas espaciais de bambu, o uso do bambu na
construção.
Iniciativas têm sido tomadas para a utilização do bambu na construção, visando diminuir o
A construção da foto é uma moradia de interesse social com 38 m², construída no bairro de
Bebedouro, em Maceió doada no dia 14/11/03 a uma família carente, como resultado de uma
59
A habitação, onde mora uma família de 4 pessoas, foi visitada pelo autor deste trabalho em
2004 e em 2005. Nesta obra, a vedação vertical foi feita com painéis de bambu do tipo
Em maio de 2005, o Instituo inovou construindo uma casa usando o “sistema pré-fabricado
de bambu com microconcreto”, conforme Figura 17. A casa serve de oficina para artesões que
fabricam instrumentos musicais, tendo como matéria prima básica o bambu e está na área da
Considerando ser o Instituto do Bambu o órgão mais próximo de Salvador, cujo objetivo é
construção, durante o desenvolvimento deste trabalho o autor visitou o mesmo, fazendo contato
com o corpo técnico, buscando informações sobre os tipos de bambus por ele utilizado, a origem
60
dos mesmos e o de trabalho que estava sendo desenvolvido. Para abrigar a sede do Instituto mais
uma casa foi construída, usando-se o sistema pré-fabricado com painéis de microconcrteto,
conforme Figura 18
convencionais, inovando o sistema anterior que aplicou o reboco no local sobre painéis de
bambu, caracterizando painéis monolíticos. Agora, a nova construção inova com fechamento de
fêmea, usando uma argamassa denominada de “microconcreto”. O novo material é composto por
uma mistura de cimento, areia, cal, borracha moída (resíduo de pneus) e bambu triturado.
simples e a custo baixo. A técnica utiliza garrafas plásticas já descartadas, que são cortadas na
parte superior e na inferior, sendo introduzidas nas peças de bambu de modo a ficarem
sobrepostas. Em seguida, as garrafas são aquecidas com um secador de cabelos até atingirem o
ponto de fusão do plástico que adere à superfície do bambu, conforme Figura 19. Pode-se aplicar
61
esta solução na técnica mista para impermeabilizar as partes dos esteios e das peças verticais do
Entre ourtras construções com bambu, no Brasil, tem-se o atelier do artista José Joaquim
Sansano, em Pindorama, São Paulo, edificado em 1993 e o Memorial da Cultura Indígena, com
365 m², do arquiteto David Rees Dias, construído em Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
ESPÉCIES
Lopez (1974, p.6), estabelece que botanicamente o bambu está classificado como
Gaion, Paschoarelli e Pereira (2006, p.2) classificam o bambu como planta lenhosa,
“bambusae” e subfamília das “gramínae”. Para Graça (1988) essa gigantesca gramínea é
utilização do bambu, Graça (1988) afirma que o mesmo pode ser consumido como saborosa
musical, móveis, etc. Ainda segundo Graça (1988), o bambu tem aplicação no campo da
tecnologia aeroespacial, sendo utilizado pela NASA como isolante de naves espaciais.
quantidade como em variedade de espécies. No mundo, o sul da Ásia e ilhas vizinhas são as
regiões de maior concentração do bambu e onde seu emprego está mais desenvolvido.
Para Makino e Nemoto, segundo Lopez (1974), existem no mundo 47 gêneros e 1.250 espécies.
morfologia de suas flores e frutos, e certas espécies de bambu florescem apenas uma vez durante
sua existência e desaparecem em seguida. A Figura 21 ilustra as partes do bambu que é formado
pelo rizoma, parte subterrânea, e pelo colmo, galhos e folhas, parte aérea.
63
RIZOMA
que do colmo correspondente, tem forma cilíndrica, sendo a seção interrompida nos nós por um
esférica e com espessura máxima usualmente maior do que a do colmo, abrangendo bambus de
ramificação dos rizomas (sistema radicular do bambuzal), dos colmos ou galhos. Os colmos são
a parte que mais facilmente distingue uma espécie de outra por terem tamanhos, diâmetros, cores
e texturas diferenciadas.
Segundo Lopez (1974), o bambu tem origem que remonta o final do período Cretáceo e
essas espécies são encontradas nas áreas tropicais, sub-tropicais e temperadas, com exceção da
Europa, onde não existe espécies nativas. A distribuição aproximada de bambus nos continentes
distribuídas desde a América do Sul, entre Argentina e Chile, até o México e sul dos Estados
Unidos. No Brasil, aproximadamente 200 dessas espécies são nativas, existindo muitas espécies
anexo 1 apresenta as espécies nativas no Brasil, com destaque para as da Bahia e no anexo 2 as
asper. Para Lopez (1974), as espécies nativas e cultivadas nas Américas de maior uso na
(Guadua angustifólia). O Guadua superba é encontrado no Brasil. Lopez cita ainda outras
espécies usadas na construção originarias da Ásia e cultivadas nas Américas, a saber: Bambusa
textilis, Bambusa tuldoides e Bambusa vulgaris. Quanto ao Bambusa vulgaris, Lopez chama a
que é, expandiu-se por toda a área de São Sebastião do Passé e dos municípios vizinhos. Falta,
O bambu, apesar de sua alta resistência, não está imune ao ataque de pragas e doenças.
Quanto mais sua seiva é rica em amido, como é o caso do bambu da espécie vulgaris, mais
atrativo ele oferece aos insetos. Dos insetos que atacam o bambu, dois são os mais comuns a
construção são os ataques pelos insetos destruidores, por fungos e pelo fogo. Enquanto
elementos de bambu ou de madeira não tratados exigem ser trocados aproximadamente a cada
67
dois ou três anos, os que recebem tratamento com substâncias de preservação aumentam a vida
Para Graça (1988), ainda durante o período de cultivo faz-se necessário a preservação
contra o aparecimento de pragas e doenças, evitando-se sérios prejuízos para toda a plantação.
Para tanto, pode-se fazer o controle através da remoção manual dos insetos adultos e da
destruição das larvas novas (processo natural) ou sob a orientação de técnico especializado,
Vários são os métodos de tratamento do bambu com a finalidade de, após o corte,
métodos são divididos em dois tipos: métodos químicos e naturais ou não químicos
Cada vez mais pesquisadores buscam métodos naturais para o tratamento do bambu,
Entre os produtos químicos mais usados na atualidade, destacam-se o CCA (cobre, cromo
e arcênico), o Pentox, o Bórax (com ácido bórico), solução de cal e octaborato. Por propiciarem
boa retenção e possuírem baixa toxidade os preservativos à base de boro são os mais
recomendados.
Com base em Lopez (1974), Antunes (1983), Cardoso Junior (2002), Legen (2002), e
Os métodos naturais são muito utilizados, apresentam custo baixo e fácil execução,
podendo ser empregados pelos próprios usuários, porém, não têm eficácia reconhecida
cientificamente. Entre os métodos naturais mais utilizados podemos citar o método de tratamento
tratamento do bambu. Existem métodos de tratamento em que o bambu deve estar verde, como
68
os métodos de tratamento por osmoses, por capilaridade e por difusão. Outros métodos, ao
contrário, exigem que o bambu esteja seco, como os tratamentos por imersão, por vácuo e por
pressão.
3.4.1.1 Cura
que, se não removido, serve de atrativo para os insetos xilógafos que, com estes componentes e
mais a umidade encontram ambiente propício para sua propagação. Segue-se os principais
a. Cura na mata
A cura na mata é uma maneira de obter a redução do amido pela simples transpiração das
folhas. O processo consiste em se cortar o colmo e deixá-lo na touceira encostado nos colmos
não cortados e apoiado sobre uma pedra, para não ter contato com o solo, devendo ficar na
vertical. O colmo cortado fica assim durante um período entre quatro e oito semanas, a depender
das condições climáticas. É aconselhável a aplicação de uma solução inseticida na área de corte
para evitar o ataque de brocas. Um dos indicativos que a cura está chegando é a queda de suas
folhas. Esta é a cura mais recomendada por preservar mais a cor e não sofrer ataques de fungos.
Método que consiste em manter os colmos submersos em água num tanque ou rio durante
no mínimo quatro semanas ou no máximo oito semanas. Após retirados da água, os colmos são
colocados para secar ao ar livre em locais abertos e ventilados. Este não é dos mais eficientes
métodos, pois, caso o colmo permaneça submerso mais tempo que o necessário, as peças ficam
Faz-se a cura com calor sobre um braseiro, onde a aproximadamente 40 cm acima das brasas
são colocados os colmos e estes deverão ficar em movimento giratório em torno de seu próprio
eixo, de modo a evitar a queima da peça. Também, pode ser feito com o uso de um maçarico,
Durante o tratamento a seiva sai pelos extremos dos colmos em forma de vapor ou bolhas.
O banho de calor torna as paredes duras, dificultando o ataque de insetos. O inconveniente desse
3.4.1.2 Secagem
Para evitar rachar e trazer inconvenientes para o uso do bambu, faz-se necessário, após a
cura, promover-se a secagem do mesmo. É uma operação que deve ser realizada com cuidado,
pois o bambu racha com muita facilidade se não forem tomados os devidos cuidados. De modo
geral, a secagem conduz a uma melhora em todas as propriedades de resistência mecânica e pode
a. Secagem ao ar
Em local abrigado da chuva, do sol, bem ventilado e seco, os colmos são empilhados sobre
suportes acima do solo de pelo menos 30 cm. O empilhamento deverá ser feito em camadas,
sendo colocadas peças perpendiculares, de apoio sobre cada camada para empilhamento da
camada seguinte. Nas pilhas, os colmos devem ficar, entre si, no mínimo metade de seu
diâmetro, de modo a garantir ventilação. Ao ar livre, não se tem um tempo exato a ser prescrito
para secagem das peças. Estima-se entre seis e doze semanas o tempo para secar, adquirir
b. Secagem ao fogo
Processo semelhante à cura com calor. Recomenda-se que antes do processo a umidade da
peça seja reduzida a 50%. Esse processo, além de eliminar os resíduos do bambu, serve para
c. Secagem em estufas
controle sobre a umidade e é mais rápido. Numa estufa convencional o tempo de secagem é de
Assim como a madeira, algumas espécies de bambu são mais propensas que outras ao
ataque de fungos e insetos, devendo, portanto, ser tratadas com produtos inseticidas e fungicidas.
Quando para determinada espécie de bambu o tratamento natural não gera resultado satisfatório,
via de regra, produtos químicos são usados para impedir a vida e o desenvolvimento de
micoorganismos que atacam o bambu. Esses produtos químicos não devem alterar as
características físicas e mecânicas do bambu; devem ser dissolvidos em água; ser líquido, de
modo a facilitar as aplicações; ser inodoro e não expelir substâncias tóxicas após aplicação; e
produzir o mínimo possível de resíduo tóxico no meio ambiente. Entre as formas de impregnação
a. Fervura
Consiste em ferver o bambu em água pura ou com solvente de outros produtos. Para cada
passar um pano ou estopa molhada de óleo diesel no bambu. Um dos produtos usados na solução
71
é a soda cáustica misturada com água, na proporção de 10 litros de água para 1 litro de soda
b. Substituição da seiva
Método simples que deve ser efetuado logo após o corte e sem retirada das folhas. Corta-se
região do corte, coloca-se, na base do colmo, um recipiente com solução preservativa. A solução
é absorvida até as parte mais altas devido à transpiração das folhas. A duração do tratamento
Para efetuar o tratamento as peças devem ser cortadas com tamanho superior ao tamanho
final a ser utilizado. Em seguida, com uma verga de ferro comprida, fura-se os nós (diafragmas),
com exceção do último que servira como tampão da peça. Derrama-se a solução preservativa
(normalmente um borato) dentro de cada peça, enchendo-a por inteiro. Doze dias após,
completa-se cada peça com a solução. Três dias depois de completada a solução, ou seja, quinze
dias após o primeiro enchimento da peça, o último nó é rompido e deixa-se a solução escorrer
por um filtro para dentro de um recipiente. A solução do recipiente pode ser reutilizada, desde
Para realizar o processo faz-se necessário um tanque para imersão das peças de bambu.
Uma forma prática e muito utilizada para se construir o recipiente de imersão é serrar barris de
chapa de ferro, de 200 litros, ao meio e soldá-los. Coloca-se no recipiente uma solução
preservativa onde as peças ficam por um período maior ou igual a 5 semanas. Esse tempo
depende do estado em que se encontram as peças. Segundo Cardoso (2000), o tempo de imersão
para as peças rachadas pode ser reduzido em um terço ou até metade do tempo normal,
72
conseguindo-se ótimo resultado. Chama-se a atenção para esse método, pois não foram
e. Pressão hidrostática
Este método é aplicado a bambus recém cortados, cuja seiva está em movimento. Baseado
é retirada pela outra extremidade da peça, durando o tratamento entre 5 e 6 dias. Segundo Lopez
(1974, p. 100), Boucherie em 1873 idealizou este método, sendo o mesmo aprimorado em 1953
através dos colmos e fibras do bambu. Utiliza-se uma bomba de ar comprimido que pressuriza
Peças de bambu recém cortadas e com alto teor de umidade facilitam o tratamento por
substituição da seiva. Cuidados especiais devem ser tomados quando do manuseio dessas
substâncias químicas que são tóxicas e podem, se não devidamente manipuladas, afetar a saúde
A substância preservativa é injetada em cada entrenó com seringa ou outro dispositivo que
possibilite a aplicação. Para tanto são feitos furos em ziguezague, um em cada nó.
73
4. METODOLOGIA
técnica. Poder-se-ia pesquisar sobre a segurança estrutural, intrusão, conforto térmico, acústico,
do exposto, optou-se por pesquisar o aspecto tecnológico referente a vedação vertical da técnica
mista, por ser o seu principal subsistema. Também é relevante a diversidade de funções que a
vedação vertical desempenha no sistema construtivo de técnica mista, podendo ser apenas de
vedação, de vedação estrutural, ou de elemento visual, como pano de fundo, ressaltado pela cor e
neste trabalho foi pesquisado, no contexto da área de estudo, apenas informações referentes à
população que ocupa a área, à ocupação dos chefes de família e à renda familiar, para
caracterizar o tipo de usuário e saber se de fato trata-se de comunidade de interesse social, além
doença de Chagas.
74
caso
projeto de pesquisa até a entrega para a defesa da dissertação. Foi realizada com base na
em formato papel e Internet. Para concretização dos objetivos deste trabalho foram
sobre técnica mista, com revisão da literatura, análise e interpretação do conteúdo relacionado ao
tema construções com o material solo e técnica mista; e a segunda, também embasada na revisão
Considerando ter sido Portugal o país que trouxe para o Brasil a técnica mista, no período
compreendido entre dezembro de 2003 e maio de 2004, foi realizada uma investigação no
território português sobre a forma atual de execução da técnica mista naquele país. Neste
Virgolino Ferreira Jorge, tendo como colaboradoras as arquitetas Mariana Correia e Maria
trabalhos referentes à “construção com terra crua” na Escola Superior Gallaecia, em Vila Nova
2004, na Câmara Municipal da cidade de Moura, onde aconteceu também, uma exposição sobre
Nobre da Câmara Municipal da cidade de Évora; uma exposição sobre “a terra na arquitetura”,
localidades de Alpedrina, Fundão, Covilã, Guarda, Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, Lamego,
Tarouca, Ucanha e Salzedas. Entrevista com setores técnicos e pessoas das localidades,
realizados procurando-se criar um paralelo entre a técnica mista existente na atualidade nos dois
países
No Brasil, fazendo parte das investigações de campo durante o período que antecedeu a
preparação para coleta das evidências até a etapa de elaboração do relatório sobre o estudo de
caso, foram realizadas investigações sobre a técnica mista. Isto aconteceu no Município
76
Moreira, assim como na cidade de Salvador, Estado da Bahia, no bairro de Brotas. Assim como
pessoas das localidades que habitam casa em técnica mista e com mestres taipeiros, assim como,
O estudo de caso ocorreu entre agosto de 2005 e novembro de 2006. Contemplou a fase
foram defendidas as questões a serem aplicadas junto à comunidade a ser investigada, foi
delimitada a poligonal da área de estudo e foram incorporadas ao mapa do IBGE (que continha
apenas a via principal) as construções existentes na poligonal. A fase de coleta das evidências
compreendeu o trabalho das entrevistas, dos croquis referentes às plantas e corte das edificações,
da observação direta e das fotografias, além da retirada de amostras para caracterização do solo e
para reconhecimento da espécie de bambu existente nas imediações da área. A análise das
evidências foi realizada com base na estratégia lógica de descrição do caso, onde se procurou
primeiro examinar os dados, categorizar e classificar para em seguida desenvolver a análise dos
mesmos usando a técnica de construção da explanação. A estrutura adotada foi a analítica linear,
tendo como meta conduzir as constatações e resultados do caso para a conclusão do mesmo.
77
Como e por que estabelecer recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical
Passe? As duas perguntas apontam para um enquadramento da pesquisa usando como estratégia
preferida o estudo de caso, ou seja, uma investigação empírica onde o foco se encontra em
fenômenos contemporâneos inseridos em contexto da vida real, conforme estabelece, YIN (p.19
e 32)
Segundo Yin (1994), nos últimos anos, a avaliar pelo crescente número de projetos de
investigação que utilizam como método o estudo de caso, o mesmo tem ganho elevada
popularidade como método investigativo. O tópico das “decisões” como foco principal dos
interesse social, e usa como meio de implementação uma cartilha a ser distribuída em formato
de caso podem ser expostas segundo duas definições. Na primeira, a definição técnica começa
Neste trabalho o fenômeno de investigação é a técnica mista, com o foco voltado para as
vedações verticais, tendo como contexto da vida real o bairro do Alegre em São Sebastião do
Passe.
Como nem sempre fenômeno e contexto são discerníveis em situações da vida real, um
Neste estudo de caso as proposições teóricas para condução da coleta e análise dos dados
Com relação aos propósitos básicos de um estudo de caso, Yin (1994) afirma que o
mesmo pode ser conduzido com o propósito de: explorar, descrever ou explicar. Para o autor,
unir a teoria sobre o objeto de estudo facilita a resolução dos projetos de estudo de caso e ajuda a
deixá-los mais explícitos. Este estudo de caso teve como propósito descrever a situação sócio-
econômica dos moradores que habitam casas em técnica mista no bairro do Alegre em São
vedação vertical, buscando recomendar as melhorias para problemas diagnosticados, dentro das
condições sócio-econômicas.
Assim como os experimentos, os estudos de caso são passíveis de serem ampliados por
proposições teóricas. Segundo Yin (2005, p.30), “o estudo de caso como experimento, não
79
representa uma “amostragem”, e, ao fazer isso, seu objetivo é expandir e generalizar teorias
Para Philliber, Schwab & Samsloss (1988) apud Yin (2005, p.41), uma maneira de se
pensar em um trabalho de pesquisa exige, pelo menos responder a quatro problemas: “quais
questões estudar, quais dados são relevantes, quais dados a coletar e como analisar os
resultados”.
particular à vedação vertical da técnica mista praticada no bairro do Alegre. Foram considerados
Dentro das questões a serem estudadas e com base nos dados considerados relevantes foram
As questões deste trabalho estão relacionadas com a pergunta: como e por que estabelecer
Para responder a pergunta foco do trabalho foram verificadas questões sobre: o perfil
sócio-econômico dos habitantes das edificações em técnica mista referente à área de estudo; os
elementos das construções, como área construída, número de pavimentos, cômodos existentes,
estrutura das edificações, vedação vertical, cobertura, piso e instalações; as patologias das
impermeabilização entre piso e paredes, nível de satisfação dos usuários das moradias e uso do
A partir das respostas sobre as questões estabelecidas, proposições foram feitas visando
uma análise das mesmas no sentido de verificar se cada proposição estava voltada para o objeto
de estudo, ou não.
definir o que é um “caso”. Yin (2005, p.44) estabelece, “como orientação geral, sua tentativa de
definição da unidade de análise (e, portanto, do caso) está relacionada à maneira como você
definiu as questões iniciais da pesquisa”. Neste trabalho, as questões iniciais da pesquisa dizem
respeito a melhorias da vedação vertical em técnica mista para habitações de interesse social,
sendo eleita como unidade de análise a poligonal estabelecida para investigação no bairro do
Alegre, em São Sebastião do Passé. O estudo de caso foi desenvolvido entre agosto de 2005 e
novembro de 2006, tendo como foco a população que habita as casas de técnica mista, as
bambu. Referente à população, pesquisou-se a quantidade da mesma, as faixas etárias, sua renda
verificou-se o tipo de solo local, tipo de madeira, o tempo de construção das habitações, as
água potável e de esgoto, o estado de conservação das habitações e o nível de satisfação dos
usuários. Sobre o método construtivo, indagou-se sobre o preparo do terreno, a locação e fixação
dos esteios, a execução da vedação vertical, da cobertura, do piso, das instalações elétricas, da
perguntado quem já usou, se conhece alguém que já usou e se usaria em sua casa.
81
Num estudo de caso existe uma etapa que prenuncia a análise de dados na pesquisa,
devendo haver um projeto de pesquisa dando base a essa análise. Yin (2005, p.47), afirma que
“uma abordagem promissora para os estudos de caso é a idéia da “adequação ao padrão” descrita
por Donald Campbell (1975), por meio da qual várias partes da informação do mesmo caso
A primeira estratégia relacionada à lógica que une os dados às proposições neste estudo de
caso foi seguir as proposições teóricas que motivaram o estudo. A partir da questão principal
(como e por que estabelecer recomendações para a melhoria tecnológica da vedação vertical da
a possibilidade de uso do bambu na técnica mista. A segunda estratégia foi ter o cuidado de se
componentes de pesquisa vistos anteriormente. Segundo Yin (2005, p.49), “forçará efetivamente
a iniciar uma formulação de uma teoria preliminar relacionada ao seu tópico de estudo”. Neste
trabalho foi realizada uma base teórica sobre a técnica mista e a técnica mista estruturada com
bambu visando à formulação de uma teoria preliminar relacionada com as recomendações para
Segundo Yin (2005, p.49), “para os estudos de caso, o desenvolvimento da teoria como parte da
tratar a teoria”.
82
O objetivo da base teórica foi estabelecer uma direção suficientemente forte para
determinar quais os dados deveriam ser coletados e a estratégias de análise desses dados. Nesta
dissertação, os trabalhos existentes pesquisados foram suficientes para oferecer uma boa
estrutura teórica facilitando projetar o estudo de caso. Estando o estudo de caso em questão
apoiado na teoria descritiva, o seu interesse, segundo Yin (2005, p.50), deve se voltar a questões
sobre: “o propósito do trabalho descritivo; a ampla, porém realista, variedade de tópicos que
podem ser considerados uma descrição “completa” do que está sendo estudado; e o provável (is)
tópico (s) que será (ão) a essência da dissertação”. Continuando, Yin (2005, p.51) afirma que
Os critérios para julgar a qualidade de qualquer pesquisa social empírica, segundo Yin
(2005, p.55-56), são quatro testes que vêm sendo utilizados: a validade do constructo; a validade
A validade do constructo tem por finalidade adotar técnicas voltadas para validar os dados
coletados, a seqüência da narrativa e o resultado do estudo. Conforme Yin (2005, p.57), o usa de
Este estudo de caso usou fontes múltiplas de evidência (entrevista, observação direta e
outros pesquisadores especialistas nos diversos temas abordados para revisar o rascunho do
mesmo.
A validade externa visa saber se as descobertas do estudo de caso são generalizáveis além
do estudo de caso imediato, logo, se faz necessário testar uma teoria e utilizar a lógica da
relativas ao caso e elaborado um banco de dados com os elementos significativos. Segundo Yin
documentados, para tanto, como tática específica para superar essas deficiências recomenda-se o
Os projetos sobre estudos de caso podem ser definidos como estudo de caso único ou
estudo de casos múltiplos. Porém, projetos referentes a estudos de caso único ou de casos
múltiplos podem refletir situações de projetos diferentes e dentro desses dois tipos pode haver
Segundo Yin (2005, p.61), “os quatro tipos resultantes de projeto para estudo de caso são
projetos (holísticos) de caso único (Tipo 1), projetos (incorporados) de caso único (Tipo 2),
(Tipo 4)”.
Yin (2005, p.62-63) recomenda utilizar o estudo de caso único quando o mesmo representa
um dos fundamentos lógicos: o caso decisivo; um caso raro ou extremo; o caso representativo ou
típico; o caso revelador; e o caso longitudinal. Este projeto trata de estudo de caso único, cujo
Alguns atributos são necessários para o pesquisador de caso. Yin (2005, p.83) estabelece
cinco pré-requisitos para um pesquisador de estudo de caso: ser capaz de fazer boas perguntas e
interpretar as respostas; ser um bom ouvinte e não ser enganado pelas próprias ideologias e
84
não como ameaças; ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas; e ser imparcial
Para este estudo de caso foram desenvolvidos alguns modelos de questionário até chegar
na coleta de dados, o pesquisador esteve sempre atento, tanto a ouvir como a verificar
evidências, o que aconteceu também durante a observação direta. O trabalho foi desenvolvido
sempre com o foco direcionado para o propósito inicial da investigação, sem necessidade de
foi um pré-requisito fácil, tendo-se em vista o apoio da base teórica. Finalmente, o pesquisador
questões reais de forma não tendenciosa. Todas as entrevistas foram realizadas em função da
comportamento das vedações verticais em dias de chuva, nos quais, a umidade e a falta de
drenagem atingem de forma direta a casa de técnica mista, principalmente a vedação vertical.
Como artefato físico utilizou-se a fotografia que em muito ajudou a esclarecer e confirmar
evidências detectadas nas entrevistas e na observação direta, assim como contribuiu com novas
evidências.
85
A coleta dos dados, segundo Yin, (2005, p.124), deve atender a três princípios básicos:
“utilizar várias fontes de evidência; criar um banco de dados para o estudo de caso; e manter o
encadeamento das evidências”. Este estudo utilizou os três princípios. Trabalhou com três fontes
coletadas; e, por fim, procurou manter o encadeamento das evidências, de modo a permitir ao
leitor do estudo de caso acompanhar o mesmo, das questões iniciais à conclusão, dentro de uma
seqüência lógica
4.4.3 O método
O estudo de caso foi realizado em São Sebastião do Passé por ser uma cidade
relativamente próxima a Salvador (em torno de 60 km) e por contar com habitações de interesse
social, onde aproximadamente 50% das habitações são de técnica mista. Para definição da
constatou “in loco” que o bairro do Alegre é o que tem o maior número de casas construídas com
técnica mista. Diante disto, foi determinada a escolha deste bairro como recorte na malha
urbana. Para a coleta de evidências foi estabelecida uma poligonal de 80.203 m², que abriga 233
interpretativa e análise do caso ou conteúdo. Para Myers (2000), a pesquisa qualitativa busca
compreender os fenômenos a partir dos próprios dados, das referências fornecidas pela
população estudada e pelos significados atribuídos aos fenômenos. Estas definições reforçam a
86
importância dos dados na pesquisa qualitativa, exigindo a escolha adequada das fontes de
habitantes do sexo feminino, idade dos moradores, renda familiar e fonte de renda.
e. Outras informações:
impermeabilização entre piso e parede, nível de satisfação dos usuários das moradias
material de construção
ou não de passeio, drenagem, rede de esgoto, de água, rede elétrica e telefonia. Como estado de
seguir:
87
parede frontal; e
habitações.
Como parte do estudo de campo foram retiradas amostras de solo na poligonal de estudo
com a finalidade de caracterização do mesmo, assim como amostras de bambu fora da poligonal
Este estudo procurou, na fase de análise dos dados, examinar, categorizar, classificar em
estudo. Para Yin (2005, p.143), “a melhor preparação para conduzir a análise de estudo de caso é
ter uma estratégia analítica geral”. O autor estabelece três estratégias baseando-se em:
proposições teóricas, explanações concorrentes e descrições do caso. Este estudo adotou como
estratégia analítica geral de análise das evidências uma estrutura descritiva visando estabelecer
serem recomendadas.
“É aqui que o estudo de caso ultrapassa a mera função descritiva e atinge um nível
analítico que pode ajudar a gerar teorias e novas questões para a futura investigação” (PONTE,
Interpretar e avaliar a descrição dos fatos foi o que exigiu maior dedicação do tempo,
principalmente para os dados da maior significância. Buscou-se sempre o foco do trabalho, pois
o ponto crítico de uma investigação qualitativa não é o fato de se acumular dados e sim, o de
filtrar a grande parte dos dados acumulados e revelar essências que tenham a ver com o contexto,
no banco de dados, assim como as fotografias, das quais, parte está no escopo do trabalho
acompanhando a narrativa e parte foi armazenada. No final da análise foi feita uma checagem
para verificar se todas as evidências foram analisadas e se a análise teve como foco as questões
mais importantes.
Para a construção do relatório foi adotada a estrutura analítica linear que é a mais
vantajosa para o público alvo em questão, por representar a abordagem padrão em relatórios de
Definido o público alvo, formado por grupos especiais interessados no tema, líderes
estrutura de composição, foram adotados vários procedimentos de apoio junto ao orientador, co-
5. ESTUDO DE CASO
Este capítulo trata sobre o Estudo de Caso realizado no bairro do Alegre na Cidade de São
Sebastião do Passé, local possuidor de habitações de interesse social em técnica mista. O estudo
buscou detectar as patologias da vedação vertical executada com a técnica em pesquisa e seus
agentes causadores, visando-se estabelecer recomendações para a anulação das mesmas. O estudo
substituição à madeira.
próximo de Salvador, para facilitar o desenvolvimento da mesma, uma localidade com habitações
de interesse social executadas em terra crua e com uso da técnica objeto de estudo. Desta forma,
o bairro do Alegre, situado na periferia da cidade de São Sebastião do Passé, foi escolhido.
São Sebastião do Passé está localizada nas coordenadas geográficas 12° 30´ 46” S e 38°
29´48” O, conforme indica a Figura 25, encontra-se numa altitude de 37m e dista
O clima de São Sebastião do Passé é quente e úmido, seu território possui 553,4 km²,
limitando-se com os municípios de Terra Nova, Catu, Pojuca, Mata de São João, Dias Dávila,
Candeias, São Francisco do Conde e Santo Amaro. Segundo o IBGE, censo de 1999, tem uma
São Sebastião do Passé, possui segundo o AGRITEMPO (2008), solo argiloso e arenoso,
além de contar com uma pequena reserva de mata, o que justifica a existência de habitações em
técnica mista, tanto na zona rural quanto na zona urbana. Na sede municipal a área que dispõe de
O bairro do Alegre, um dos mais pobres da cidade, está situado na parte sul da sede
municipal e apresenta uma quantidade significativa de habitações erguidas com trama de madeira
e fechada com barro argiloso, o sistema construtivo de técnica mista, denominado localmente de
92
“taipa”. Para efeito de desenvolvimento do trabalho foi definida uma poligonal, onde se realizou
A poligonal foi definida ao longo da Rua Emílio Albino Abraão e tem como referência no
80.203 m². Os pontos vermelhos dentro da poligonal indicam construções em técnica mista e os
Das 96 casas em técnica mista, foi realizada investigação em 24 casas, sendo as mesmas
edificações para lançamento no mapa do IBGE. O universo de amostragem, 24 casas, possui uma
predominância da faixa etária compreendida entre 6 e 10 anos, (com 21,05% do total), seguida da
principal fonte de renda, prevalecendo sobre as demais com 50%, seguida dos
tabela 3.
96
OCUPAÇÃO QUANTIDADE %
AUTONOMO 1 4,17
BISCATEIRO 12 50,00
EMPREGADO 4 16,67
APOSENTADO/PENSIONISTA 7 29,16
TOTAL 24 100,00
A renda mensal familiar no universo da amostragem varia entre R$ 30,00 (trinta reais) e
R$ 600,00 (seiscentos reais), sendo que 91,66% têm renda igual ou inferior a 1 S. M., 25% com
renda menor que 1/2 S. M. e apenas 8,34% têm renda entre 1 e 1/2 S. M. O valor da renda média
das 24 famílias é de R$ 257,79 (duzentos e cinqüenta e sete reais e setenta e nove centavos). A
1 S. M. 5 20,83 91,66
TOTAL 24 100,00
Usando a terra crua, ou seja, a terra natural, sem processo de queima, e a madeira, local,
vinda das mata existente no município, boa parte dos moradores do Alegre, em torno de 42%,
construíram suas casas em técnica mista. Mostra-se a seguir dados referentes à caracterização do
solo local, ao tempo de vida das atuais habitações em técnica mista, as construções reformadas e
Para conhecimento do solo local foram realizados ensaios de laboratório e testes expeditos
Primeira etapa
Visando conhecer e caracterizar o solo da área de estudo, foram coletadas três amostras de
solos em pontos distintos localizados no início da poligonal que engloba a área de estudo,
próximo ao meio e no final da mesma. A primeira amostra foi retirada próximo ao meio da
poligonal, no fundo da habitação de número 40, indicada na figura 29, página 99, uma casa
situada ao “pé da ladeira”, ponto que separa o Alegre de Cima do Alegre de Baixo. A figura 30
registra a retirada da primeira amostra de solo, no mesmo local do barreiro onde foi preparado o
Para a segunda amostra retirou-se o solo no início da poligonal, na parte posterior da casa
da citada residência; e finalmente, a terceira amostra foi coletada do lado direito (olhando da rua
para a habitação) da casa 87, do mapa referenciado anteriormente, próximo ao final da poligonal,
no Alegre de cima.
Análise granulométrica, NBR-6459 Limite de liquidez, NBR-7180 Limite de plasticidade e NBR-6508 Densidade real dos grãos,
PEDREGULHO 3% 5% 0%
AREIA GROSSA 1% 7% 1%
AVERMELHADA - -
TEXTURA DE ARGILA - -
ORIGEM SEDIMENTAR - -
Segundo o PROTERRA (2003, p.221), para o uso do solo em na taipa de mão, caso o
mesmo seja composto de partículas granulares mais finas, deverá apresentar uma composição
silte e 19% de argila. Caso o solo seja composto de partículas granulares mais grossas, deverá
52% de areia fina; 17% de silte e 7% de argila. Avaliando-se os dados granulométricos dos 3
O critério do PROTERRA, como visto anteriormente, não especifica uma faixa de valores
para as frações do solo, apenas cita como referência “em torno de um determinado percentual”,
100
Com base na análise do laboratório, faz-se adiante uma avaliação dos dados
representativos das três amostras e uma comparação entre os dados granulométricos apresentados
limites de liquidez (WL) menos os limites de plasticidade (WP), indicam, a depender do seu
valor, a plasticidade dos solos. Ainda segundo a citada norma, solos com índice de plasticidade
(IP) igual a 0 (zero), correspondem a solos não plásticos; solos com IP maior que 1 e menor que
7, correspondem a solos pouco plásticos; solos com IP maior que 7 e menor que 15,
correspondem a solos de média plasticidade; e, solos com IP maior que 15, correspondem a solos
muito plásticos. Desta forma, os solos das amostras 1 e 3 são de muita plasticidade e o solo da
SOLOS - - 2 1e3
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007
geotecnia da Escola Politécnica da UFBA trabalha com a carta de plasticidade onde divide o grau
de compressividade dos solos em três áreas e não em duas, como era feito convencionalmente, e
usa a classificação segundo o Sistema Unificado de Classificação dos Solos - USCS. A carta é
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representada por um gráfico onde o eixo das abscissas representa os valores do limite de liquidez
(WL) e o eixo das ordenadas o IP. Duas retas horizontais definidas pelos Ip = 4 e IP = 7, e uma
reta inclinada que separa os solos com tendência a solos argilosos, os situados acima da reta e os
com tendência a solos siltosos, os que estão abaixo da mesma, definem a área dos solos com
tendência a SC-SM (argilosos e siltosos de baixa compressividade). Duas retas verticais situadas
nas abscissas 30 (WL = 30) e 50 (WL = 50), separam as áreas correspondentes à compresividade
dos solos. Os solos à esquerda da abscissa 30, acima da ordenada de IP = 7 e da reta inclinada
abscissa 30, abaixo da ordenada de IP = 4 e da reta inclinada têm tendência a serem solos ML
da reta inclinada, têm tendência a solos CI (argiloso de média compressividade), sendo os abaixo
da reta inclinada, com tendência a solos MI (siltoso de média compressividade). Os solos à direita
está na área CH (solo argiloso de alta compressividade), o 2 na área CI (solo argiloso de média
Outro elemento a ser considerado é a atividade (A) do solo, caracterizada pela carga elétrica
a atividade, segundo Skempton (1953), o valor do IP dividido pelo percentual de argila do solo
(% < 0,002mm). Ainda, segundo Skempton, caso o resultado desta relação seja menor que 0,75 o
solo é considerado inativo; caso seja maior que 0,75 e menor que 1,25 o solo é medianamente
ativo; e, se for maior que 1,25 o solo é ativo. Com base na classificação do solo, segundo
Skempton e nos ensaios de laboratório, a mostra 1 possui A= 0,68, a amostra 2 possui A= 0,55 e
a amostra 3 possui A= 0,69, ou seja, os solos das 3 amostras são solos inativos.
SOLOS 1, 2 e 3 - -
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006
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considerados como principais. A caulinita possui 0,3 <A< 0,5, logo , são solos inativos; a ilita,
0,5 <A< 1,5, sendo parte inativo, parte medianamente ativo e parte ativo; e a montmorilonita, 4
<A< 8, sendo todos altamente ativos. Quanto maior a atividade do argilo-mineral, maior será a
forma, os solos do grupo caulinita são os mais indicados para o uso na taipa de mão, assim como,
Com base nas análises apresentadas e nos resultados de laboratório, a princípio, o solo
mais apropriado para uso na taipa de mão é o solo 2, classificado pela carta de plasticidade,
segundo o USCS, como CI (solo argiloso de média compressividade), sendo descartados os solos
1 e 3, por serem altamente compressivos. Para uso dos mesmos, é recomendável o aditamento de
solo arenoso, e ou, siltoso de baixa compressividade, ou ainda, o aditamento de fibras vegetais e
outros materiais recomendados pelo estudiosos de solos para o uso em pauta. Tal aditamento
Segunda etapa
Numa segunda etapa foram realizados novos ensaios com amostras retiradas dos mesmos
terrenos da primeira etapa. A nova caracterização visou comparar os resultados dos solos naturais
da primeira etapa, com as novas amostras da segunda etapa, e caracterizar novos solos obtidos a
partir da mistura com adição de areia de um dos solos da segunda etapa. Também, foram
realizados testes expeditos recomendados por autores citados neste trabalho, com o propósito de
comparar os resultados das leituras de cada teste com os resultados da caracterização obtidos em
laboratório.
104
Os solos da segunda etapa foram destacados dos da primeira com a inserção da letra A.
Assim, as amostras dos solos naturais receberam a denominação de 1A, 2A e 3A. Os solos
parede dos fundos, onde estava acumulada boa parte de solo proveniente da deteriorização da
citada parede. Antes da coleta, foi descartada a camada superficial de vegetação, conforme
Politécnica da UFBA para efeito de caracterização dos 3 solos naturais e dos 8 solos misturados.
Outras onze amostras foram utilizadas para a realização de testes expeditos, como o teste das
bolas, de Mitidieri e outros (1987), citado no capítulo 3, página 62; o teste da pressão dos dedos,
106
de Gieth e outros (1994), citado no capítulo 3, página 62; o teste do rolo, de Neves e outros
(2005), citado no capítulo 3, página 63; e o teste de contração de Lengen (2002). O último autor
estabelece fazer-se uma mistura maleável do solo e colocar numa caixa de 4 x 4 x 40 cm,
deixando a mesma secar a sombra. Seca a mistura procede-se a medição de quanto a mesma
encolheu no sentido longitudinal da caixa. A medida não deve ser maior que 10% do
Caracterização
A tabela 8 apresenta a caracterização dos solos da segunda etapa, também realizada pelo
WL 52% 48% 65% 37% 31% 24% 21% 22% 20% 22% NL%
WP 29% 26% 33% 22% 19% 15% 15% 15% 14% 14% NP%
PEDREGULHO 1% 1% 0% 1% 1% 2% 1% 1% 1% 0% 0%
AREIA GROSSA 4% 3% 1% 11% 12% 13% 12% 14% 13% 14% 15%
AREIA MÉDIA 6% 6% 2% 26% 26% 34% 35% 42% 41% 42% 45%
AREIA FINA 11% 17% 10% 13% 13% 15% 20% 19% 17% 16% 18%
SILTE 40% 32% 34% 21% 20% 18% 17% 8% 11% 9% 11%
ARGILA 38% 41% 53% 28% 28% 18% 15% 16% 17% 19% 11%
Quanto à plasticidade, o solo 3A.8 é não plástico, o 3A.4, 3A.5 e 3A.6 são pouco plásticos
(1 <IP < 7), o 2, 3A.1, 3A.2, 3A.3 e 3A.7 são medianamente plásticos (7 < IP < 15), os demais, o
SOLOS 3A.8 3A.4, 3A.5 e 3A.6 2, 3A.1, 3A.2, 3A.3 e 3A.7 1, 3, 1A, 2A e 3A
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007
Como visto antes, apenas o IP não basta para se julgar a plasticidade de um solo. A carta
do laboratório.
FIGURA 35 – CARTA DE PLASTICIDADE DOS SOLOS NATURAIS DAS DUAS ETAPAS E DOS SOLOS MISTURADOS
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2007
Conforme a carta e segundo o USCS, são classificados como CH (solo argiloso de alta
e 3A.2 ; MH (solo siltoso de alta compressividade) os solos 3, 1A e 3A; SC (solo arenoso bem
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graduado com argila) os solos 3A.3 e 3A.7; e SC-MC (solo arenoso bem graduado, com argila e
CLASSIFICAÇÃO: CH CI CL MH SC SC – SM NP
SOLOS: 1e2 2A, 3A.1 e 3A.2 - 3, 1A e 3A 3A.3 e 3A.7 3A.4, 3A.5 e 3A.6 3A.8
Fonte: Laboratório de Geotecnia, Escola Politécnica - UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007
Com relação à atividade, exceto o solo 3A.8 que é não plástico, tanto os solos da primeira
oferecendo, de forma simplificada, uma leitura sobre carga elétrica superficial de cada solo.
SOLOS 1, 2, 3, 1A, 2A, 3A,3A.1, 3A.2, 3A.3, 3A.4, 3A.5, 3A.6 e 3A.7 - -
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006
2% a mais de pedregulho; 3% a menos de areia grossa; 5% a menos de areia média; 10% a mais
de areia fina; 4% a menos de silte; e o percentual de argila é igual para ambos, ou seja, 38%. O
mais de areia média; 4% a mais de areia fina; 1% a menos de silte; e 21% a menos de argila. A
2A foi retirada ao pé da citada parede. A amostra 3, da primeira fase, comparada com a amostra
3A tem granulometria bastante similar, com os mesmos percentuais de pedregulho, areia grossa e
109
areia média; o solo 3 tem 0% de areia fina e o 3A 10%; o 3 tem 2% a mais de silte; e 2% a menos
Com base nos resultados de laboratório e nas análises realizadas, os solos mais indicados
para a taipa de mão são os da tabela 12 (solos de 3A.3 a 3A.7), por serem plásticos de baixa
COMPRESSIVIDADE: SC (solo arenoso bem graduado, com argila) SC-CM (solo arenoso bem graduado, com argila e silte)
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006
Testes empíricos
expeditos anunciados, realizados com os solos da segunda etapa, ensaiados em laboratório, com
vistas a uma análise sobre a execução de cada teste e a comparação entre os resultados
Foram confeccionadas as bolas referentes a cada amostra de solo, e após secagem das
bolas foi feita a avaliação visual para verificação do solo ou solos que apresentassem o menor
A figura 36 apresenta, após a secagem, o conjunto das bolas dos solos amostrados na
FIGURA 36 – CONJUNTO DAS BOLAS APÓS SECAGEM E AMPLIAÇÃO DAS BOLAS DOS SOLOS 1A E 2A
FOTO DO AUTOR (2007)
A figura 37 mostra, individualmente, as bolas ampliadas, referentes aos solos 3A, 3A.1,
Conforme a leitura visual, entre os solos naturais, o solo 2A é o que apresenta o menor
número de fissuras. Ele, juntamente com os solos misturados 3A.3, 3A.4, 3A.5, 3A.6, 3A.7 e
3A.8 não apresentaram fissuras, sendo segundo os autores do teste os mais indicados para o uso
na taipa de mão. Porém, considerando os ensaios de laboratório, o solo 3A.8 é não plástico, não
sendo recomendado para uso na técnica em questão. Também, o 2A foi classificado quanto ao IP
como muito plástico, e a carta de plasticidade classificou como solo CI (argiloso de media
Esta foi a análise realizada para o teste das bolas, com base nos resultados obtidos através
Com relação ao teste, vale ressaltar que o método não controla a umidade de moldagem,
ou seja, a depender da umidade com que o solo é moldado o comportamento das fissuras
TESTE X X X X X X X
LABORATÓRIO X X X X X
A tabela acima mostra que apenas 2 solos do teste das bolas considerados, segundo os
parâmetros estabelecidos pelos autores do mesmo, aptos a serem usados na taipa de mão, não
37,50% do universo de amostragem, seguidas das que possuem tempo de construção entre 0 e 5
anos )8,33%) e, finalmente, as com tempo de construção entre 16 e 25 anos que representam
8,34%. A tabela 15, mostrada a seguir, registra as quantidades e percentuais relativo ao tempo de
DE 0 A 5 ANOS 8 33,33
DE 6 A 10 ANOS 9 37,50
DE 11 A 15 ANOS 3 12,50
DE 16 A 20 ANOS 1 4,17
DE 21 A 25 ANOS 1 4,17
DE 26 A 30 ANOS - -
DE 31 A 35 ANOS 2 8,33
TOTAL 24 100,00
restantes não sofreram ampliação nem reforma. A tabela 16 apresenta os números e os percentuais desta
informação.
SITUAÇÃO QUANTIDADE %
REFORMADA 1 4,17
AMPLIADA 1 4,17
REFORMADA E AMPLIADA - -
TOTAL 24 100,00
entre 15 e 58m², sendo a média de 37,58m². A tabela 17 nos apresenta as faixas das áreas
DE 15 A 24m2 2 8,33
DE 25 A 34m2 3 12,50
DE 35 A 44m2 17 70,83
DE 45 A 54m2 1 4,17
DE 55 A 64m2 1 4,17
TOTAL 24 100,00
Aproximadamente 21% não apresentam qualquer revestimento e o restante, em torno de 12% são
habitações.
TOTAL 24 100,00
A maioria das habitações, cerca de 50%, tem pintura parcial, sempre na fachada
principal, 42% não receberam qualquer tipo de pintura e apenas 8% são totalmente pintadas.
TOTAL 24 100,00
cerâmica industrializada e 4% são cobertas com os três tipos citados, ou seja, a cobertura foi feita
TOTAL 24 100,00
1 ÁGUA 5 20,83
2 ÁGUAS 1 4,17
TOTAL 24 100,00
TOTAL 24 100,00
A maioria das habitações, cerca de 88%, não possui qualquer tipo de telefone,
FIXO - -
MÓVEL 3 12,50
TOTAL 24 100,00
A maioria das habitações, cerca de 63%, não possui instalação de água, embora a
instalações de água, sendo abastecida pela concessionária. A maioria tem instalado apenas um
ponto.
TOTAL 24 100,00
A maioria das habitações, cerca de 79%, não possui instalação de esgoto. Apenas
um percentual em torno de 21% contam com instalação de esgoto, cujo destino final é um buraco
TOTAL 24 100,00
existentes na área de estudo foi realizado um levantamento considerando a situação de cada uma
a saber:
encontra-se em estado de conservação ruim, com aproximadamente 69%, cerca de 11% estão em
EM RUÍNA 5 5,21
EM TOMBAMENTO 8 8,33
RUIM 66 68,75
REGULAR 10 10,42
BOM 7 7,29
TOTAL 96 100,00
elegeu como ótimo o nível de satisfação pela moradia. 50% acham a habitação em técnica mista
ÓTIMO - -
BOM 4 16,67
REGULAR 12 50,00
RUIM 8 33,33
TOTAL 24 100,00
feito uma enquete entre as famílias que responderam ao questionário, sobre o uso de bambu em
construção, principalmente sobre seu conhecimento a respeito deste material e sua intenção em
usar o mesmo.
96% restantes nunca usaram. Perguntados se conhecia alguém que já usou o bambu,
aproximadamente 46% dos habitantes afirmaram conhecer, enquanto que os 54% negaram
conhecer. Finalmente, indagados se usariam em suas residências o bambu, 29% responderam que
SIM 1 4,17
NÃO 23 95,83
TOTAL 24 100,00
SIM 11 45,83
NÃO 13 54,17
TOTAL 24 100,00
SIM 7 29,17
NÃO 17 70,83
TOTAL 24 100,00
DO PASSÉ
mista possuir como elemento estrutural os pilares (esteios), que funcionam também como
124
elemento de fundação. Para preparação do terreno de fundação, normalmente, é feita uma limpa
Preparado o terreno, é feita a colocação dos piquetes com o auxílio de linha de pedreiro e
esquadro, para locação dos buracos, onde ficarão os esteios principais. No local dos piquetes são
executados furos com uma profundidade média de 80cm e diâmetro de aproximadamente 20cm.
Em seguida os esteios de madeira, com diâmetro médio entre 12 e 15cm, são colocados nas cavas
e apiloados com o material de escavação, pedaços de pedra e metralha de construção até ficarem
Fixados os esteios, os mesmos são cortados nas alturas previstas e recebem uma viga
horizontal de madeira na altura do pé-direito mínimo. Essa viga tem a função de amarração e
acompanha todo o perímetro, tanto das paredes externas, quanto das paredes internas. Em 95%
dos casos, os esteios não recebem nenhum tratamento para proteção contra umidade, fungos,
insetos, etc. Quando roliços, na maioria dos casos é apenas retirada a casca.
5.3.2.1 Entramado
aproximadamente 5 cm, são colocadas entre esteios, afastadas destes e entre si cerca de 12 cm e
125
fixadas no solo em torno de 30 cm. As varas são colocadas afastadas do solo mais ou menos 10
cm, duas a duas, uma de cada lado do enchimento e ambas na mesma altura, sendo cada par de
varas distantes entre si aproximadamente 10 cm. As varas são fixadas nas peças de enchimento
5.3.2.2 Barreamento
Concluída a trama, a mesma deverá ser preenchida com barro argiloso. Esta etapa é
conhecida como “tapagem da casa”. No caso da área de estudo, toda a área possui solo argiloso,
logo, a escolha do local do barreiro é sempre o mais perto possível do entramado. Escolhido o
local, uma área de mais ou menos 2 m de diâmetro, é feita uma limpa superficial para retirada da
qualquer outro material que não seja o solo argiloso. Em seguida o barro é cortado em camadas e
destorroado. Cada camada é umedecida com água e pisoteada até o mestre taipeiro definir o
ponto ideal do barro. Dado o ponto do barro o mesmo é transportado de mão em mão até o local
de fechamento do entramado, onde uma pessoa se coloca de um lado para aparar com as mão o
barro jogado pela pessoa que se encontra do lado oposto. Dessa forma, de mão em mão e de
No estudo de caso, como já visto anteriormente, a minoria das habitações recebeu reboco
e pintura, a grande maioria ficou sem reboco ou teve, apenas o paramento da fachada rebocada.
5.3.2.3 Reboco
Quando rebocadas, a aplicação do reboco é feita após o barreamento estar seco, em torno
uma massa única, composta de cimento e areia no traço 1: 4 respectivamente. Via de regra, a
126
superfície acabada acompanha o plano da parede, sem que haja uma preocupação com o perfeito
nivelamento vertical.
5.3.2.4 Pintura
A maioria das habitações em técnica mista tem como material de cobertura a telha
industrializada, outras 4% são cobertas com uma mistura de telha cerâmica industrializada, telha
cerâmica de olaria e telha de fibrocimento, sendo o restante, em torno de 22% cobertas com
telhas de fibrocimento.
A estrutura para suporte das telhas cerâmicas é composta de frechais, terças e cumeeira
(quando de 2 águas). Peças em madeira, quando roliças, com diâmetro de mais ou menos 12 cm,
A trama para sustentação das telhas são de caibros roliços de mais ou menos 7 cm de
diâmetro e ripas serradas de seção em torno de 1,5 x 3,5 cm, ou varas de aproximadamente 2 e 3
cm de diâmetro.
Para a estrutura das telhas de fibrocimento foram usadas peças roliças em torno de 12 cm
de diâmetro.
127
outras executadas artesanalmente. A fixação das esquadrias é feita, em esteios pré-fixados para o
fim específico, onde são fixadas as dobradiças para receber as folhas das esquadrias. Para
fechamento das mesmas são usados os mais diversos tipos de fechos, como fechaduras, cadeados,
Boa parte das habitações tem como pavimentação o chão batido, as demais são
pavimentadas com cimentado. O cimentado quase sempre apresenta rachaduras ou, em alguns
Mesmo contando com infra-estrutura de rede elétrica em baixa tensão, passando em frente
domicílios, por seus habitantes não poderem arcar com o pagamento da conta. Todo o restante
Nenhum dos moradores da área de estudo tem telefone fixo. Apenas 15,5% das habitações
Mesmo assim, 62,5% das habitações não dispõem de instalações de água, por não poderem arcar
lançamento final do esgoto. Na poligonal do estudo, apenas 20,83% das habitações possuem
instalação de esgoto e fazem seu lançamento num buraco profundo coberto por laje de concreto,
que os moradores chamam fossa. O restante das habitações, 79,17% não tem instalações de
esgotamento sanitário.
Foram retiradas duas amostras do bambu existente em São Sebastião do Passé para análise
da espécie, pelo setor competente da Escola de Biologia da Universidade Federal da Bahia, que
identificou ambas como sendo da espécie Bambusa vulgaris. As amostras foram retiradas de
moitas existentes na BR-110, que liga São Sebastião do Passé à BR-324, já próximas à entrada da
FIGURA 40 – BAMBU A 1 Km DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ FIGURA 41 – BAMBU A 2 Km DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ
FOTO DO AUTOR (2006) FOTO DO AUTOR (2006)
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bastante significativa, de modo especial o município de Santo Amaro é o que mais cultiva essa
gramínea, pois lá foi instalada uma fábrica de papel. Para este autor, todos de características
Na área urbana de São Sebastião do Passé e arredores, são muitas as cercas que dividem
tratamento do bambu, sobre as espécies mais apropriadas para cada fim e sobre a forma de
melhor utilizar o bambu, fazem com que o mesmo seja utilizado de forma inadequada,
Para tanto, serão questionadas e avaliadas as recomendações abordadas na base teórica, assim
estudo de caso demonstrou tratar-se de uma área de habitação de interesse social, onde as
construções são em técnica mista, atendendo desta forma aos requisitos exigidos pelo tema em
questão. A área apresenta os subsídios para estudar os problemas técnicos das vedações verticais
vedações. O mais importante porém, é que as recomendações possam ser viabilizadas pela
população estudada, ou populações similares, nas quais, o fator renda familiar e renda per capta
O capítulo 5, na página 101, apresenta a situação de renda e uma síntese do perfil sócio-
estudo de caso, pelas recomendações levantadas na revisão da literatura e pela adequação das
melhorias tecnológicas para as mesmas. A análise das patologias das vedações verticais permitirá
forma mais eficaz. Entre os principais agentes de degradação, temos: as ações mecânicas, a
As ações mecânicas
Ações mecânicas podem provocar danos estruturais na vedação vertical das construções
fendas e conseqüente abertura de caminhos de preferência para o acesso de água, podendo chegar
A erosão
A ação de impacto dos seres vivos, da chuva, do vento com elementos em suspensão e
principalmente de sais solúveis higroscópicos pode provocar erosão na vedação vertical das
Os seres vivos provocam pontualmente choques acidentais que podem ser responsáveis
O impacto da chuva, repetido e direto, vai alterando a superfície dos elementos externos
das vedações verticais, provocando desgaste. As ocorrências de água de chuva sobre uma
baterem no solo ou em outros elementos, produzem erosão nas superfícies das vedações verticais
O vento produz uma ação mecânica, diretamente proporcional ao tamanho das partículas
em suspensão. Se houver contato com a água a ação poderá ser ainda mais forte.
dos materiais de construção e também no solo. Eles existem com maior quantidade próximo da
132
orla marítima, devido aos cloretos, em zonas com elevada poluição atmosférica em virtude dos
sulfatos ou onde tenha havido contaminação por dejetos de animais por causa dos nitratos. Estes
sais são transportados pela água e cristalizam-se quando a água evapora-se. Quando esta
quando cristalizados na superfície podem ser eliminados escovando-se, o que evita provocar
criptoflorescência. Isto acontece quando a água atingiu sua migração de secagem no interior do
aumentam de tamanho e essa expansão, na maioria das vezes, provoca a ruptura e a degradação
Na área de estudo, em função de não se tratar de área próxima à orla marítima e possuir
uma atmosfera interiorana, sem elevada poluição atmosférica, os possíveis sais solúveis
A água em contato com os elementos da vedação vertical, caso a vedação não esteja
absorvida por infiltração via fendas existentes no paramento da vedação, por ascensão ou difusão
133
capilar. A água pode ter origem na chuva, no solo ou em acidentes, quando de vazamentos da
tubulação.
fungos e bolores conforme mostra a Figura 42, a redução do isolamento térmico, a diminuição
boa proteção da vedação vertical através de uma cobertura estanque e com beirais longos.
Precisa-se, também de um revestimento adequado e compatível com o material que constitui seu
suporte e de uma pintura a base de cal, por ser de menor custo e eficaz para este tipo de vedação.
acima mencionadas. Quando muito, o proprietário, reveste a fachada frontal ou faz uma pequena
varanda frontal com largura entre 0,60 m e 1,20 m, o que já minimiza e muito o desgaste do
paramento protegido. A figura 43 apresenta uma das construções que possui varanda.
contraventamento, tanto no plano das vedações verticais, quanto no plano de apoio da cobertura.
135
A qualidade da técnica mista executada na área do estudo de caso, conforme a figura 44,
é baixa e está longe de ser considerada uma construção segura e saudável pelo contrário, deixa
A seguir, será abordada cada disposição construtiva que mereça ser discutida, avaliada e
recomendada, sempre com base na abordagem anterior, na revisão da literatura, nos dados
contidos no estudo de caso e nas condições de execução pelas famílias que habitam a área de
estudo e similares. Ou seja, sempre levando em conta a condição de baixa renda da população a
No período de chuvas a situação é ainda pior, por falta de drenagem adequada, de reboco,
de pintura e muitas vezes de uma cobertura estanque e de beirais longos. Neste período, as
vedação externa, que está exposta e a umidade se infiltra até a parte interna. Outro fator
degradador é a água proveniente do terreno úmido da fundação que por capilaridade atinge o
Recomendação 1
Recomendação 2
Executar calhas a céu aberto para direcionamento das águas de chuva, o mais afastado
Recomendação 3
e por ser uma madeira não apropriada para trabalhar em contato direto com ambiente úmido.
Sofrem, mais são as peças em contato direto com o solo, os esteios e as peças de “enchimento”,
conforme figura 45. Pode-se observar, na figura indicada, que as “varas”, peças horizontais do
entramado, não foram atacadas pela umidade e se encontram em condições normais de uso,
enquanto que o “esteio” de canto e as peças de “enchimento” em contato com a umidade estão
todas totalmente deterioradas. O acúmulo de água nas proximidades das vedações é sempre um
A foto anterior ilustra o estado de degradação das peças de madeira em contato com o
solo. Peças que segundo os habitantes e pessoas que participaram da construção, não receberam
A água do solo, por capilaridade ou a água do beiral que bate no solo e respinga na
vedação vertical, conforme figura 46, se constitui elemento degradador tanto do solo que
constitui a vedação vertical, como das peças de madeira que constituem os esteios e o entramado.
A Figura 47, ampliada da figura anterior, visualiza a degradação da vedação vertical causada
pelos salpicos da água de chuvas e pelos ventos, que com impactos contínuos aos poucos minam
Como constatado no estudo de caso, a técnica mista atualmente praticada na área utiliza a
madeira como elemento de estrutura e entramado, onde a mesma não é mais adquirida
139
gratuitamente, como acontecia no passado sua qualidade baixou de padrão, em função da grande
demanda e do extermínio das matas e seu preço sobe a cada dia. Diante do quadro atual, a
utilização do bambu poderá ser uma possibilidade a ser experimentada, tendo em vista a
outras técnicas, embora usada de forma tímida no Brasil, é feita em grande escala por povos de
outros países, destacando-se a América do Sul, a Colômbia, o Peru e a Venezuela. Para tanto,
entre nós será necessário criar uma cultura sobre o cultivo, tratamento e uso adequado do bambu
para os diversos fins, em especial para a construção, de modo a explorar as vantagens de uso
deste material. A capacidade do bambu aos esforços mecânicos, sua baixa densidade, seu baixo
consumo energético de produção, sua facilidade de reprodução, sua precoce idade de utilização
(a partir do 3° ou 4° ano) e a compatibilidade do nosso solo são fatores que propiciam seu uso,
principalmente quando o planeta mais precisa da prática de materiais com maior sustentabilidade
e que menos degradem o meio ambiente. Uma forma de investir na tecnologia do bambu na atual
conjuntura seria uma articulação entre entidades tipo ONGs, prefeituras, governos estaduais,
bambu, mais apropriadas para o uso em questão, como o Guadua e o Phylostachis edulis.
Primeiro, porque é recomendável que se trabalhe com mais de uma espécie segundo, porque
podem ser tratados naturalmente, sem uso de produtos químicos e, ainda, pelas várias
deverão receber tratamento adequado para evitar a degradação por insetos ou pela umidade,
conforme mostra a Figura 48. As partes das peças em contato com o solo de fundação deverão
ser impermeabilizadas
140
estudo, por falta de tratamento e impermeabilização das peças e do cuidado em afastar as águas
de chuva da vedação.
peças em diagonal, conforme referência da Figura 14, Capítulo 2, página 36. A figura citada
ilustra a peça de contraventamento passando pelo entramado, numa construção de técnica mista
(tabique) em Portugal, onde esta prática é comum, diferentemente do que acontece na área
estudada.
travando-se os vértices com peças, também em diagonal, formando triângulos no plano de base
das vigas. Este procedimento oferece uma rigidez maior a toda a construção, evitando
desestabilização da construção como a da Figura 49, referente à casa 96 do mapa da Figura 29,
denominadas pela comunidade local de “enchimento”. Na área de estudo, além das mesmas
terem seções variadas conforme a Figura 50, na maioria das construções a seção máxima é de 5
cm, quando o ideal seria de aproximadamente 8 cm. Na unidade de análise percebe-se uma falta
de procedimentos importantes para propiciar uma vida útil bem maior das habitações. A madeira
utilizada apresenta uma verdadeira mistura de tipos, sem nenhum cuidado quanto à capacidade
maior ou menor de resistência aos esforços, considerando-se para todas a mesma capacidade de
carga e de vida útil, o, que acaba por comprometer a estanquidade do conjunto e a vida útil da
construção. Visualmente percebe-se que a “vara” do entramado possui quase que a mesma seção
da peça de enchimento.
142
deverá estar relacionado à seção das peças. A maior parte das construções, na área referente à
unidade de análise, não apresenta este cuidado. Destaca-se na Figura 51 o diâmetro das peças de
“enchimento”, que é bastante reduzido e a falta de modulação entre os espaços, tanto das peças
verticais, quanto das varas (peças horizontais), o que demonstra uma falta de critério na execução
do entramado.
143
Recomendação 1
Recomendação 2
As peças em contato direto com o solo, além de serem tratadas, deverão ser
impermeabilizadas com o uso de garrafas plásticas usadas, como foi abordado no Capítulo 3,
página 63 e ilustrado na Figura 19, página 64, ou serem implantadas em bases impermeáveis,
envolvendo toda a parte enterrada dos esteios com concreto impermeável, e as peças de
144
Recomendação 3
Executar a estrutura principal com madeira, enquanto não se domine a cultura do bambu.
Recomendação 4
Executar o entramado com madeira ou com bambu, pois a técnica de fazer o entramado é
a mesma para qualquer dos dois materiais. A escolha ficará por conta do menor custo.
Recomendação 5
“enchimento”, quanto das “varas”, de forma a estabelecer um módulo o mais uniforme possível
Recomendação 6
peças em diagonais, conforme Figura 14, Capítulo 2, página 48, como do plano horizontal da
recomendado para uso em técnica mista, necessitando ser corrigido, de modo a evitar o atual
elevado nível de retração. As figuras 52, 53 e 54 ilustram imagens das vedações verticais
Visualmente o solo da amostra 1 apresenta uma retração acentuada nas linhas demarcadas
pela estrutura e entramado, apresentando menos fissuras no bloco de solo que fecha cada módulo
do entramado.
O solo da amostra 2 apresenta visualmente uma retração nas linhas demarcadas pela
estrutura e entramado aparentemente menor que o da amostra 1, e no bloco do solo que fecha
linhas demarcadas pela estrutura e entramado, quanto no bloco de solo que fecha cada módulo do
entramado
O comportamento dos solos retratou, com base em uma análise visual, o resultado
antes.
Na área de estudo o “barreamento”, via de regra, consiste apenas em uma fase, referente à
varas, conforme as Figuras 55 e 56. Esta prática possibilita, junto com outros agentes de
147
O ideal, para se obter o solo perfeito para, ser usado na técnica mista, assim como em
interesse social, onde qualquer custo a mais, mesmo que seja para melhoria de sua habitação,
torna-se oneroso, a melhor opção é recomendar o uso de testes empíricos, como os tratados no
Recomendação 1
Para escolha do melhor solo, a primeira recomendação é que a amostra seja retirada a
Recomendação 2
Usar pelo menos 2 testes empíricos entre os indicados por Miditieri e outros (1987) teste
das bolas, que estabelece como melhor solo os das bolas de menor retração; o de |Gieth e outros,
teste da pressão dos dedos; o desenvolvido por Neves e outros (2005), teste do rolo; e os
recomendados por Lengen (2002), teste da cor, teste do odor, teste da mordedura, teste da
Recomendação 3
Evitar o excesso de água na mistura, ou seja, trabalhar com a mistura o mais seca possível
para evitar fissuras por secagem e usar palha picada na mistura para permitir a evaporação da
água na massa toda por igual, conforme Milanez (1958), capítulo 2, página 40.
149
Recomendação 4
Recomendação 5
Colocar o solo com as mãos entre as varas do entramado, adensando o mesmo, conforme
Recomendação 6
Fixar sobre as peças da estrutura e presas no entramado, uma tela plástica com trama de
aproximadamente ½ polegada para propiciar melhor aderência do solo de cobertura das peças. A
Recomendação 7
página 41, tendo o cuidado para que a última de solo, que serve de suporte para o reboco, cubra a
intemperismo, evitando a degradação do solo pela chuva e ventos fortes, além de vedar as suas
por insetos, que quando não revestida funciona como ninhos acolhedores dos mesmos. Não é por
menos que os estudiosos de técnica mista consideram o revestimento como um dos elementos
150
essenciais para a proteção das vedações verticais e saúde dos habitantes. Este cuidado não é
notado na área de estudo, onde apenas 12,5% das habitações são totalmente revestidas, 66,67%
possuem revestimento apenas na fachada frontal e as 20,83 restantes não são revestidas.
Para uma boa aplicação do reboco é necessário que a base de suporte possua as
características de aderência ao mesmo. Se a base para suporte do reboco não for executada com
material apropriado, o reboco acaba por desgarrar-se do paramento por falta de aderência,
conforme Figuras 57 e 58, inutilizando o trabalho executado, ou, no mínimo, diminuindo a vida
útil do reboco.
Recomendação 1
Recomendação 2
cm do piso, conforme destacaram Lopes e Ino (2003) referindo-se ao PROAFA (1979), Capítulo
2, página 44.
Recomendação 3
Recomendação 4
Fazer uma amostra com os 2 tipos de traço indicados anteriormente, por DAM e por
Para Guimarães (1978), “apesar de vários exemplos de construções com terra que
uma proteção contra o desgaste, transmissão de calor e umidade”. A pesquisadora realizou uma
experiência para pintura em solo-cimento utilizando corpos de prova sem pintura, pintados com
Têmpera, com Hidracor, com Cimento Branco e Areia, com Conservado P e com Látex.
Conservado P e a tinta à base de Látex foram as que melhor apresentaram resultados, sendo que
a pintura à base de Látex exige um paramento com superfície bem acabada, sem furos ou trincas.
vedação vertical, propiciará uma boa qualidade de higiene e um maior ou menor índice de
iluminação natural, a depender da cor adotada. Para habitação de interesse social, construída em
técnica mista, a pintura mais adequada, em função da melhor aderência e do custo é à base de
cal. Segundo Rodrigues (2006, p.11), nas pinturas tradicionais à base de cal, “a solidificação
ocorre na seqüência da cristalização dos constituintes, originando uma camada que atua como
consolidante do próprio reboco”. Para Rodrigues, a cor da pintura pode ser obtida com a mistura
de corantes orgânicos ou inorgânicos, naturais ou artificiais que além de conferir a cor, podem
Conforme os dados obtidos no estudo de caso, apenas 8,33% das habitações receberam
pintura em toda a vedação vertical interna e externa e uma delas é mostrada na figura 59.
153
A casa da Figura 59 é pintada com tinta à base de Cal, com pigmento denominado no
comércio local “xadrez”, na cor azul. Este tipo de pintura foi bastante utilizado nas construções
impermeabilizar toda a área pintada. A pintura à base de Látex forma um filme, tornando-se
Metade das construções da área de estudo recebe pintura apenas na fachada principal,
Recomendação 1
Pintar as vedações verticais com tinta à base de Cal, em função do baixo custo, aditando à
mesma cola plástica ou produto similar, encarregado de possibilitar uma melhor aderência entre
Recomendação 2
6omo elemento que faz interface com a vedação vertical, a cobertura deverá, além de
vedar o interior da habitação, proteger parcialmente a vedação vertical. Portanto deverá ser
executada com bastante cuidado, de forma a se tornar uma vedação estanque ao intemperismo,
principalmente às águas de chuva, conduzindo as mesmas de forma eficaz e o mais longe que
puder da habitação. Por isso, é recomendável, sempre que possível, prolongar ao máximo os
beirais sobre a vedação vertical, de modo a propiciar uma área maior de proteção da mesma em
relação á chuva e lançar a água do beiral o mais longe possível da construção. Uma forma de
evitar o salpico da água de chuva da sobre a parte inferior da vedação vertical é usar uma calha
no beiral da cobertura, podendo ainda coletar a água para uso dos habitantes.
Na área de estudo mais de 70% das coberturas são em telha cerâmica de olaria, conforme
os dados da tabela 20, no capítulo 5 e as figuras 62 e 63. Esta telha, fabricada artesanalmente é
Recomendação 1
Travar a cobertura no nível da viga de frechal (pé direito mínimo), com peças horizontais
fazendo um triângulo em cada vértice externo da construção, de modo a dar mais rigidez à
vedação vertical.
Recomendação 2
Avançar com o balanço dos beirais o mais possível, de modo a propiciar uma melhor
Recomendação 3
Usar telhas cerâmicas de olaria, por propiciar um custo menor e um bom desempenho
térmico.
Recomendação 4
Faz parte das vedações verticais as esquadrias as esquadrias cuja finalidade é possibilitar
permitir a ventilação dos ambientes, sem perder as funções de estanquidade, principalmente das
águas de chuva, além de responder pela segurança da habitação contra intrusos. Na área de
estudo a maioria das esquadrias, em torno de 80% são fabricadas artesanalmente e o restante em
que torna os ambientes sombrios, quando fechadas. Quando muito, em alguns casos de
da Figura 64 são edificações em técnica mista, assim com, as 2 à esquerda da Figura 65, onde
tempo de chuva, exceto na habitação que possui uma pequena varanda, a qual protege a janela e
a vedação vertical. Entende-se que este padrão de esquadria representa o padrão do “saber fazer”
da população, onde, muitas vezes, as tábuas compradas na madeireira são apenas juntadas e
A casa da direita apresenta uma janela em veneziana, o que permite uma permanente
condição de ventilação do ambiente; falta, porém, elemento que conduza a iluminação natural
Recomendação 1
Recomendação 2
intempéries.
principalmente para habitações de interesse social, nas quais, o poder de compra é baixo, sendo
esta técnica a que melhor se enquadra para a aquisição de sua moradia. Quando FLORES (1989),
afirma que a técnica mista é um sistema construtivo usado atualmente nos setores de escassos
construir uma habitação mais durável, faltou analisar e recomendar melhorias no uso desta
técnica, visando estabelecer uma vida útil maior e condições de habitabilidade mais saudáveis.
muitas delas centenárias, que estão a demonstrar sua capacidade de segurança, durabilidade e de
ambiente saudável. Foram construções erguidas com materiais duráveis, executados de modo
orientação e da forma de viver das famílias. Portugal tem, na cidade de Lamego um imenso
160
patrimônio de casas centenárias em técnica mista. Não apenas em Lamego, mas em Tarouca,
Portugal.
questionário, que foi bastante amplo, com perguntas não apenas voltadas para a forma de se
construir, mas também referente a dados pessoais. O Alegre é uma área de periferia, mas lá não
existe a figura do invasor; cada um, dentro das suas minguadas possibilidades, conseguiu
água potável e de drenagem pluvial. Aproximadamente 80% dos moradores das casas em técnica
mista não têm vaso sanitário e os 20% que possuem banheiro com vaso sanitário fazem o
lançamento do vaso em fossa negra (sem tratamento). A instalação de água domiciliar é outro
problema, já que apenas, 37% das habitações possuem água instalada. A drenagem pluvial não é
7. CONCLUSÕES
Esta pesquisa atingiu os objetivos estabelecidos para o trabalho, onde avaliou o modo de
se construir com técnica mista em São Sebastião do Passé, estudou e diagnosticou o perfil
econômico da população alvo, o tipo de solo local, o uso e condições da madeira aplicada e,
questão. O trabalho fez uma introdução sobre a necessidade urgente que os países,
principalmente os em desenvolvimento, estão passando para atender a demanda, cada vez maior,
de habitações destinadas à famílias de baixa renda. Fez também, uma abordagem sobre a
processo produtivo e que não venham a comprometer o uso pelas gerações futuras. No trabalho
buscou-se resgatar o uso de construções com terra crua, em especial as que utilizam a técnica
mista, sendo desenvolvido uma pesquisa sobre o uso da citada técnica em países como o Japão,
principais elementos que compõem a vedação vertical da técnica mista, como a estrutura, o
Sebastião do Passe, Bahia, onde foram pesquisadas 24 (vinte e quatro) habitações. Os dados
62,5% têm uma renda média per capta mensal de R$ 40,00 (quarenta reais), correspondente a R$
1,33 (um real e trinta e três centavos) de gasto diário por pessoa, caracterizando a população
como de baixa renda. Foram avaliados ainda, os principais materiais usados, o tempo de
162
construção das habitações e as patologias das construções. Descreveu-se a forma com que as
local. No entanto, a análise sócio-econômica demonstra que se faz necessária uma política
mista, principalmente para habitações de interesse social, onde, mesmo com recursos
do mundo, muitas delas centenárias, e que estão a demonstrar sua capacidade de segurança,
benefício da função, da orientação e da forma de viver das famílias. Entre os países que
cidade de Lamego um imenso patrimônio de casas centenárias construídas com esta técnica. Não
apenas Lamego, mas Tarouca, Guarda, Covilã, Fundão, Alpedrinha e tantas outras localidades,
madeira. A cada dia a madeira de lei convencional (Pau d´arco, Maçaranduba, Sucupira, etc.) se
torna mais escassa e seu preço mais elevado. Diante desse quadro, duas alternativas surgem
apresenta como o mais indicado, pelo curto tempo entre o plantio e o corte para utilização; e o
163
bambu, tão bom quanto a madeira, para o uso em questão. Acontece que o custo para o
bambu, existe a necessidade de importação de pelo menos 3 espécies apropriadas para o uso em
construção civil cujo tratamento seja efetuado por processos não tóxicos, como o Phyllostacys, o
As 3 espécies podem, além do uso na construção civil, ser utilizadas para a fabricação de
peças musicais, mobiliário, cercas, reflorestamento e irrigação, sendo que a espécie Phyllostacys
também é usada como alimento para o homem. Outra grande vantagem é que a partir do quarto
ano o bambu já pode ser cortado e tratado para ser usado na construção civil.
questionário, que diga-se de passagem, é bastante amplo, com perguntas não apenas voltadas
para a forma de se construir, mas também, para a obtenção de dados pessoais. O Alegre é uma
área de periferia, mas lá não existe a figura do invasor. Cada um, dentro das suas minguadas
possibilidades conseguiu comprar seu terreno e erguer sua moradia, ou já comprou a moradia
pronta.
Aproximadamente 80% dos moradores das casas em técnica mista não têm vaso sanitário e os
20% que possuem banheiro com vaso sanitário fazem o lançamento do vaso em fossa negra (sem
tratamento). Outro problema é a instalação de água domiciliar, já que apenas 37% das habitações
possuem água encanada. No mais, o dano ambiental maior é decorrente do uso da madeira para a
construção, que a cada dia contribui para a diminuição das poucas matas que restam. Com a
substituição da madeira pelo bambu, esse mal será sanado, ganhando-se ainda o reflorestamento
com o plantio do bambu, trazendo imediata melhoria ao meio ambiente. A retirada do barro para
164
a “tapagem da casa” é tão insignificante que não chega a comprometer seu uso para as gerações
futuras. Normalmente o barreiro é fechado logo após o final do barreamento. Uma forma mais
O significado da moradia para o ser humano vai muito além de ser apenas um local de
abrigo. A moradia reúne a primeira das células sociais, a família. Ela é um símbolo de
identificação social e cultural e isso torna a análise da questão mais complexa. Neste trabalho,
encontrar formas para a moradia de interesse social. Nos estudos, avaliações e discussões foram
abordados pontos que poderão ser desenvolvidos em trabalhos futuros, assim como, deverá se
técnica mista;
REFERENCIAS
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APÊNDICE
ANEXOS
ANEXO 1
ANEXO 2
ANEXO 3
ANEXO 4