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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHA

ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA

GERALDO BEZERRA ARAÚJO

RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIA TECNOLÓGICA DA VEDAÇÃO


VERTICAL EM TÉCNICA MISTA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO DO ALEGRE
EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ

SALVADOR

2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHA
ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA

GERALDO BEZERRA ARAÚJO

RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIA TECNOLÓGICA DA VEDAÇÃO


VERTICAL EM TÉCNICA MISTA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO DO ALEGRE
EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ

Dissertação apresentada ao Mestrado em Engenharia


Ambiental Urbana da Escola Politécnica da Universidade
Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de
mestre.

Orientador:
Prof. Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira

Co-Orientador:
Prof. Dr. Sandro Fábio César

SALVADOR

2007
A663 Araújo, Geraldo Bezerra
Recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical na técnica mista
destinada em habitação de interesse social: um estudo de caso no bairro do Alegre em São
Sebastião do Passé / Geraldo Bezerra Araújo – Salvador, 2007.
206 f

Orientador: Prof. Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira


Co-Orientador: Prof. Dr. Sandro Fábio César
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola
Politécnica, 2007.

1. Habitação popular – Casa de técnica mista. 2. Política habitacional. I Título

CDU 728:332.83
Dedico este trabalho a minha família:
aos meus filhos Chico, Dany e Lucas; a minha neta Malu; aos meus pais Francisco Assis (in
memória) e Nazareth; aos meus irmão Gláucia e Beto; aos meus primos pais Antônio Ivo e Lila; e
a minha nova companheira Ana Lúcia e suas filhas Aline e Daniela.
Agradecimentos

São muitos e todos especiais...


A Deus por me fazer existir e ter permitido avançar na construção do conhecimento.

A minha família:
aos meus filhos Chico, Dany e Lucas; a minha neta Malu; aos meus pais Francisco Assis (in
memória) e Nazareth; aos meus irmão Gláucia e Beto; aos meus primos pais Antônio Ivo e Lila; e
a minha nova companheira Ana Lúcia e suas filha Aline e Daniela, pela contribuição que cada
um teve e tem em minha vida.

Aos professores Emerson de Andrade Marques Ferreira e Sandro Fábio César, respectivamente
orientador e co-orientador, pela presença fundamental, paciência, dedicação e incentivo.

Aos professores designados pelo MEAU para examinar este trabalho, pela disponibilidade e
relevantes contribuições, na pessoa de Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira, Dr. Sandro
Fábio César, Dr. Roberto Bastos Guimarães, Dr. Ricardo Fernandes de Carvalho e Dr. Almir
Sales.

Ao Prof. Dr. Virgolino Ferreira Jorge pela acolhida na Universidade de Évora e orientação de
minha investigação em Portugal, juntamente com as arquitetas Dra. Maria Fernandes e Dra.
Mariana Correia.

Aos demais colegas e amigos da Universidade de Évora, pelo acolhimento, apoio e troca de
experiências, nas pessoas da Profa. Dra. Marízia Menezes Ferreira, Profa. Dra.Maria do Céu
Tereno, Profa. Dra. Sofia Capelo, Prof. Dr. Manuell Mascarenhas e dos técnicos administrativos
António Galvoeira, Maria Elisa, Joaquina Mira, Maria da Conceição Charrua, Maria Manuela
Serrano e Maria Etelvina Balsinha.

Aos professores e amigos do MEAU, onde mais uma vez esteve a contribuir o Prof. Dr. Roberto
Bastos Guimarães, Prof. Dr. Luiz Roberto Moraes, Prof. Dr. Luiz Aníbal de Oliveira Santos,
Profa. Dra. Viviane Zanta, Prof. Dr. Sandro Lemos Machado, Prof. Dr. Wellington C. Figueredo,
Profa. Dra. Ilce Marília Dantas Pinto, Prof. Dr. Juan Moreno, e Prof. Dr. Artur Caldas pela
presteza em contribuir com a descoberta de novos caminhos.

Aos demais professores do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, pela dedicação e forma
de fomentar em nós estudantes a vontade de cada vez mais aprender.

Ao Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA, na pessoa do Coordenador Prof.


Dr. Luiz Edmundo, do Pesquisador e Mestre Paulo Burgos e de toda a equipe técnica, pelos
ensaios de caracterização do solo existente na área de estudo, objeto desta pesquisa.

Aos colegas e amigos, professores da UFBA, Arivaldo Leão de Amorim, Adailton Gomes, e
Alberto Oliviere pelo apoio e incentivo no decorrer deste trabalho.

À professora Maria Lenise Silva Guedes, Curadora do Herbácio Alexandre Costa Leal – UFBA,
pela gentileza de identificar a espécie de bambu existente em São Sebastião do Passé.
Aos professores Roberto Cardoso e Artur Caldas, Coordenador e Vice Coordenador do Mestrado
em Engenharia Ambiental Urbana, pela forma competente de conduzir as atividades do mestrado.

Aos amigos do Bureau de Serviços da FAUFBA Jorge Getúlio de Jesus, Ricardo Armando,
Carlos Eduardo e Tainan Armando Conceição de Jesus pelo apoio e presteza nas horas de sufoco.

Às pesquisadoras Sueli Guimarães e Célia Neves pela contribuição em informar e colaborar com
as pesquisas deste trabalho.

Aos colegas do mestrado José Araújo (Divino), Alzira (Princesa), Patrícia (Patepatoca),
Anderson (Floquinho), Jairo (El Conquistador), Lúcia (Mãe de Pedro), Marco Antônio (O
Professor), Nelson (Pãozinho da mamãe) e Virgínia (Virge) pelos momentos de estudo, lazer e de
incentivo nas horas amargas.

À Selma Borges de Paula pelo trabalho de revisão desta dissertação.

À comunidade do bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé pela forma sempre acolhedora
durante os trabalhos de campo.
RESUMO

Este trabalho estuda a vedação vertical em técnica mista para habitação de interesse social,
também conhecida no Brasil como pau-a-pique, taipa de mão, taipa de sopapo, ou simplesmente
taipa, entre outras denominações. O trabalho foi desenvolvido apoiado na metodologia
estabelecida, onde teve como base a revisão bibliográfica e o estudo de caso. A revisão
bibliográfica contemplou o estudo e análise sobre a técnica mista e a técnica mista estruturada
com bambu. O estudo de caso foi realizado no bairro do Alegre em São Sebastião do Passé, onde
foram levantados dados sobre o perfil sócio-econômico da população da área de estudo, sobre a
forma como a mesma constrói sua habitações em técnica mista e sobre os materiais utilizados.
Por fim, discutiu-se, avaliou-se e foram feitas recomendações, buscando melhorias tecnológicas
para o melhor desempenho da vedação vertical do atual sistema construtivo. Além das
recomendações referentes às melhorias tecnológicas da vedação vertical, recomendou-se a
substituição da madeira pelo bambu nas peças do entramado, visto ser o mesmo material
adequado e ambientalmente mais correto.

Palavras-chave: Habitação popular – Taipa; Técnica Mista; Bambu; Política habitacional


ABSTRACT

This study covers the vertical water sealing of the wattle and daub building technique used in low
cost housing. Based on the conventional approach, it is composed of a bibliographical review and
a case of study. The bibliographical review comprehends studies and analysis about the common
wattle and daub and the structured on bamboo wattle and daub building techniques. The case of
study was performed in Alegre, São Sebastião do Passé – Bahia – Brazil, where data concerning
the social-economical BACKGROUND OF THE POPULATION, THE METHODS THEY USE
IN BUILDING THEIR WATTLE AND DAUB EDIFICATIONS AND THE USED
MATERIAL WAS COLLECTED. After discussing and evaluating wattle and daub as a building
system, recommendations concerning technological improvements are made and it`s suggested
the use of bamboo as the structure, instead of other types of wood that are conventionally used.

Keywords: low cost housing; wattle and daub tecnique; bamboo; urban politics.
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Habitação urbana em Pilar, Paraguai 30


Figura 02 – Detalhe da habitação urbana em Pilar, Paraguai 30
Figura 03 – Detalhe da habitação urbana em Pilar, Paraguai 31
Figura 04 – Técnica mista sobre o térreo na Rua do Castelo, Lamego, Portugal 34
Figura 05 – Edificações em técnica mista sobre o térreo, em Lamego, Portugal 35
Figura 06 – Técnica mista revestida com chapas de zinco em Tarouca, Portugal 36
Figura 07 – Técnica mista revestida com lousas em Guarda, Portugal 37
Figura 08 – Técnica mista revestida com lousas na Aldeia de Salzedas, Portugal 37
Figura 09 – Técnica mista sobre pavimento térreo em Covilã, Portugal 38
Figura 10 – Construção em técnica mista, marca da imigração japonesa, em Mogi das
Cruzes, SP 40
Figura 11 – Técnica mista no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé, Bahia, Brasil 43
Figura 12 – Técnica mista sobre o solo em Salvador, Bahia, Brasil 44
Figura 13 – Técnica mista revestida e pintada, no Povoado Moreira, Palmeira dos Índios,
Alagoas, Brasil 45
Figura 14 – Contraventamento do entramado em Portugal 48
Figura 15 – Vista geral do Taj Mahal 57
Figura 16 – Edificação em bambu, com painéis monolíticos argamassados, em Maceió,
Alagoas 58
Figura 17 – Edificação em bambu, com painéis em microcroncreto, em Maceió,
Alagoas 59
Figura 18 – Edificação em bambu, com painéis em microcroncreto, em Maceió,
Alagoas 60
Figura 19 – Bambu impermeabilizado com garrafas plásticas 61
Figura 20 – Memorial da Cultura Indigena, Campo Grande - MS 61
Figura 21 – Partes e sub-partes do bambu 63
Figura 22 – Rizoma leptomorfo 63
Figura 23 – Rizomas leptomorfos, paquimorfos e metamorfo (o N° 5) 64
Figura 24 – Bambu a 1 km de São Sewbastião do Passé 66
Figura 25 – Mapa do Estado da Bahia, localizando São Sebastião do Passé 90
Figura 26 – Foto aérea de São Sebastião do Passé 91
Figura 27 – Mapa geral de São Sebastião do Passe – localização da poligonal de estudo 92
Figura 28 – Mapa da poligonal destacando as edificações 93
Figura 29 – Poligonal de estudo destacando as 96 casas em técnica mista 94
Figura 30 – Foto referente à retirada da primeira amostra de solo 98
Figura 31 – Carta de plasticidade dos 3 solos naturais da primeira etapa 102
Figura 32 – Foto referente à retirada da amostra do solo 1A 104
Figura 33 – Foto referente à retirada da segunda amostra de solo 105
Figura 34 – Foto referente à retirada da terceira amostra de solo 105
Figura 35 – Carta de plasticidade dos solos naturais das duas etapas e dos solos
Misturados 107
Figura 36 – Conjunto das bolas após secagem e ampliação das bolas dos solos 1A
e 2A 110
Figura 37 – Bolas ampliadas dos solos 3A, 3A.1, 3A.2 e 3A.3 111
Figura 38 – Bolas ampliadas dos solos 3A.4, 3A.5 e 3A.6 e 3A.7 112
Figura 39 – Bola do solos 3A.8 113
Figura 40 – Bambu a 1 km de São Sebastião do Passé 128
Figura 41 – Bambu a 2 km de São Sebastião do Passé 128
Figura 42 – Bolor na Casa 7 do bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 133
Figura 43 – Técnica mista deteriorada no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 134
Figura 44 – Casas em técnica mista no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 135
Figura 45 – Técnica mista deteriorada no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 137
Figura 46 – Técnica mista deteriorada no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 138
Figura 47 – Ampliação destacando a umidade que degrada o solo de fechamento e
as varas 138
Figura 48 – Técnica mista deteriorada no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé 140
Figura 49 – Paramento vertical escorado (habitação em via de tombamento) 141
Figura 50 – Peças do enchimento com seções diferentes 142
Figura 51 – Paramento vertical destacando a falta de modulação entre as peças 143
Figura 52 – Paramento vertical destacando o solo da primeira amostra 145
Figura 53 – Paramento vertical destacando o solo da segunda amostra 145
Figura 54 – Paramento vertical destacando o solo da terceira amostra 146
Figura 55 – Paramento vertical destacando a falta de recobrimento das varas 147
Figura 56 – Paramento vertical destacando a falta de recobrimento das varas 147
Figura 57 – Vedação vertical destacando a deteriorização do reboco 150
Figura 58 – Vedação vertical destacando a deteriorização do reboco 150
Figura 59 – Vedação vertical totalmente pintada, externa e internamente 153
Figura 60 – Vedação vertical parcialmente pintada, apenas a fachada principal 154
Figura 61 – Vedação vertical sem reboco e sem pintura externa e interna 154
Figura 62 – Cobertura em telha cerâmica de olaria 156
Figura 63 – Cobertura em telha cerâmica de olaria 156
Figura 64 – Padrão das esquadrias na vedação vertical 158
Figura 65 – Padrão das esquadrias na vedação vertical 158
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Total das construções na poligonal 94


Tabela 02 – Habitantes nas construções em técnica mista 95
Tabela 03 – Situação de ocupação dos chefes de família 96
Tabela 04 – Renda familiar 96
Tabela 05 – Caracterização do solo da primeira etapa 99
Tabela 06 – Plasticidade dos solos da primeira etapa 100
Tabela 07 – Atividades dos solos da primeira etapa 102
Tabela 08 – Caracterização do solo da segunda etapa 106
Tabela 09 – Plasticidade dos solos da 1ª. e 2ª. etapas 107
Tabela 10 – Classificação dos solos segundo o USCS 108
Tabela 11 – Atividades dos solos da 1ª. e 2ª. etapas 108
Tabela 12 – Solos possíveis de recomendação para a taipa de mão 109
Tabela 13 – Teste das bolas: avaliação visual das fissuras 113
Tabela 14 – Solos possíveis de serem usados na taipa de mão, conforme os testes
expeditos e os resultados do laboratório 114
Tabela 15 – Tempo de construção das habitações 115
Tabela 16 – Construções reformadas e ampliadas 116
Tabela 17 – Área construída das habitações 116
Tabela 18 – Situação de revestimento das habitações 117
Tabela 19 – Situação da pintura das habitações 117
Tabela 20 – Material de cobertura das habitações 118
Tabela 21 – Número de águas das coberturas 118
Tabela 22 – Habitações com instalação elétrica 119
Tabela 23 – Situação de telefonia nas habitações 119
Tabela 24 – Situação de instalação de água nas habitações 120
Tabela 25 – Situação de instalação de esgoto nas habitações 120
Tabela 26 – Estado de conservação das habitações 121
Tabela 27 – Nível de satisfação dos moradores 122
Tabela 28 – O uso do bambu no universo de amostragem 123
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 15
1.1 Contextualização 18
1.2 Problema 19
1.3 Objetivos 20
1.3.1 Objetivo geral 20
1.3.2 Objetivos específicos 21
1.4 Justificativa 21
1.5 Estrutura da dissertação 23

2. TÉCNICA MISTA 25
2.1 Algumas formas de construir a técnica mista 26
2.1.1 No Japão 26
2.1.2 No Equador 27
2.1.3 No Paraguai 29
2.1.4 Em Portugal 32
2.1.5 A técnica mista no Brasil 39
2.2 A estrutura e o entramado na técnica mista 46
2.3 O solo par o uso na técnica mista 48
2.3.1 Retirada da amostra e teste para uso do solo mais adequado 49
2.3.2 Correção do solo par a técnica mista 51
2.4 Recomendações para execução da técnica mista 53

3. TÉCNICA MISTA ESTRURURADA COM BAMBU 56


3.1 O bambu como material de construção 57
3.2 Bambu: classificação, distribuição geográfica e espécies 62
3.3 Tipos de bambu mais usados na construção 65
3.4 Tratamento do bambu 66
3.4.1 Tratamentos naturais 68
3.4.1.1 Cura 68
3.4.1.2 Secagem 69
3.4.2 Tratamento químico preservativo 70

4. METODOLOGIA 73
4.1 Delimitação da pesquisa 73
4.2 Identificação das variáveis 74
4.3 Estágios da pesquisa 74
4.3.1 Estágio de revisão bibliográfica 74
4.3.2 Estágio de investigação sobre a utilização atual da técnica mista 75
4.3.3 Estágio do estudo de caso 76
4.4 Estudo de caso 77
4.4.1 Fase preparatória 79
4.4.2 Coleta de evidências 84
4.4.3 O método 85
4.4.4 Análise das evidências
4.4.5 Construção do relatório 88

5. ESTUDO DE CASO 90
5.1 O bairro do Alegre 91
5.1.1 Casas em técnica mista e casas em alvenaria na poligonal de estudo 93
5.1.2 Habitantes no universo de amostra das 24 casas 94
5.1.3 Ocupação dos chefes de família no universo de amostragem 95
5.1.4 Renda familiar no universo de amostragem 96
5.2 Dados referentes à técnica mista atual em São Sebastião do Passé 97
5.2.1 O solo local 97
5.2.2 Informações sobre as construções 115
5.2.2.1 Tempo de construção das habitações 115
5.2.2.2 Habitações reformadas ou ampliadas 116
5.2.2.3 Área das habitações 116
5.2.2.4 Situação de revestimento das habitações 117
5.2.2.5 Situação da pintura das habitações 117
5.2.2.6 Material de cobertura 118
5.2.2.7 Número de águas das coberturas 118
5.2.2.8 Habitações com instalações elétricas 119
5.2.2.9 Situação de telefonia das habitações 119
5.2.2.10 Situação de instalação de água potável 120
5.2.2.11 Situação de instalação de esgoto 120
5.2.2.12 Estado de conservação das 96 habitações em técnica mista da área de estudo 121
5.2.2.13 Nível de satisfação dos moradores das casas de técnica mista 122
5.2.2.14 O uso do bambu no universo de amostragem 122
5.3 O atual sistema construtivo da técnica mista em São Sebastião do Passé 123
5.3.1 Subsistema de fundação e estrutura 123
5.3.2 Subsistema de paredes 124
5.3.2.1 Entramado 124
5.3.2.2 Barreamento 125
5.3.2.3 Reboco 125
5.3.2.4 Pintura 126
5.3.3 Subsistema coberturas 126
5.3.4 Subsistema esquadrias 127
5.3.5 Subsistema pisos 127
5.3.6 Subsistema instalações 127
5.3.6.1 Instalações elétricas 127
5.3.6.2 Instalações telefônicas 127
5.3.6.3 Instalações de água potável 128
5.3.6.4 Instalações de esgoto sanitário 128
5.4 O bambu existente em São Sebastião do Passé 128

6. DISCUSSÕES, AVALIAÇÕES E RECOMENDAÇÕES 130


6.1 Sobre a drenagem 135
6.2 Sobre a estrutura e o entramado 136
6.3 Sobre o solo 144
6.4 Sobre o reboco
6.5 Sobre a pintura 152
6.6 Sobre a cobertura 155
6.7 Sobre as esquadrias 157
6.8 Síntese das discussões, avaliações e recomendações 159

7. CONCLUSÕES 161
7.1 Recomendações para trabalhos futuros 164

REFERÊNCIAS 165
Referências citadas 165
Referências consultadas 170

APÊNDICE 176

ANEXOS 184
Anexo 1: Espécies de bambu nativas do Brasil e espécies originárias de
outros países e cultivadas no Brasil 184
Anexo 2: Confirmação da espécie de bambu existente em São Sebastião
do Passe 195
Anexo 3: Resultados dos ensaios de caracterização do solo 197
Anexo 4: Mapa da poligonal de estudo destacando as casas em técnica mista 205
15

1. INTRODUÇÃO

A partir do desenvolvimento industrial, a habitação de interesse social tem sido um problema a

atingir países em desenvolvimento. Habitar é para o ser humano condição básica de

sobrevivência. Não apenas os grandes centros urbanos que crescem e se modernizam sem, no

entanto, resolverem o problema habitacional, como também, os pequenos centros urbanos trazem

em seus arredores a marca da pobreza, da precariedade de habitação e da falta de qualidade de

vida no país.

Os problemas relacionados com o desequilíbrio ambiental e a sustentabilidade têm sido na

atualidade uma preocupação em relação ao futuro do nosso planeta e à oferta de materiais para as

futuras gerações. Usar materiais que consumam menor energia no processo de produção e que

garantam seu uso para as próximas gerações é meta fundamental a ser seguida na atividade de

construção. Para tanto, o uso de técnicas construtivas que utilizem materiais renováveis e de

pouco consumo energético na sua produção se faz necessário.

As técnicas de construção, com terra, são até hoje, no mundo inteiro, uma forma de edificar de

modo seguro e saudável, utilizando matérias que existem em abundância, causando os menores

problemas em termos de desequilíbrio ambiental e de consumo em relação às necessidades das

gerações futuras.

Entre as técnicas de construção com terra, duas se destacam entre os brasileiros, com exemplares

executados desde os tempos do Brasil colônia: a taipa de mão (que aqui passa a ser denominada

de “técnica mista”) e a taipa de pilão.

A denominação técnica mista é bastante recente. Foi adotada pelo PROTERRA, Projeto

internacional e multilateral, de cooperação técnica, que enfoca a transferência de tecnologia de

construção com solo aos setores produtivos e às políticas sociais dos países ibero-americanos. Na

apresentação do livro “Técnicas Mixtas de Construcción com Tierra”, Neves (2003) apresenta a
16

nova denominação de técnica mista para o sistema construtivo conhecido no Brasil como taipa-

de-sopapo, taipa de mão, pau-a-pique, barro armado, entre outros, ou simplesmente taipa. Na

Argentina esta técnica recebe o nome de quincha; na Colômbia e em outros países da América do

Sul é denominada de bahareque; em Portugal, de tabique; na França, de torchis; e, no meio

técnico, de entramado.

São Sebastião do Passé, município do Estado da Bahia, possuía segundo o IBGE, senso de 2000,

39.960 habitantes, dos quais, 29.550 (73,95%) estavam na sede e 10.410 (26,05%) na área rural.

Trata-se de uma cidade de porte pequeno que, mesmo assim, possui na periferia a marca da

pobreza, com habitações precárias, nível de segurança e habitabilidade a desejar. Uma parte

significativa dessas habitações foram construídas com técnica mista, sistema construtivo que tem

como matéria prima principal o solo e a madeira, porém, as construções com esta técnica

existentes no local de estudo, não atendem às principais recomendações relativas aos cuidados

necessários às construções com terra, motivo pelo qual a quase a totalidade delas está em estado

de degradação.

Dentro deste contexto, o que fazer para se modificar este contexto ? A técnica mista sempre

esteve presente na arquitetura brasileira, no campo e nas cidades, sendo que ultimamente a maior

parte está na zona rural. A baixa qualidade com que é executada atualmente esta técnica, assim

como a falta de seleção dos materiais utilizados, associadas ao preconceito que se formou em

relação às casas construídas com esta técnica contribui para desestimular o seu uso. Tanto assim

que o status atribuído à casa de alvenaria é o de “casa pra toda vida”, enquanto que a casa de

técnica mista está associada à “casa de interesse social”, à “casa de baixo custo” ou à “casa para

pobre”.
17

Melhorar a casa de técnica mista do ponto de vista técnico é avançar, contribuindo com grande

parcela da sociedade que poderá desfrutar de uma moradia com melhor conforto, mais segura e

mais saudável.

A partir destas colocações, pretende-se neste trabalho estudar a construção em técnica mista,

enfocando a vedação vertical, de modo a buscar alternativas de melhoramento tecnológico e

ambiental.

Assim, o objeto desse estudo é a técnica mista, tendo como objetivo avaliar e fazer

recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical da mesma, através de um estudo de

caso no bairro do Alegre em São Sebastião do Passé.

No bairro do Alegre, em São Sebastião do Passe, a técnica mista tem como materiais principais o

solo e a madeira. Boa parte da madeira utilizada nesta técnica no bairro do Alegre em São

Sebastião do Passe, apresenta, segundo informações dos usuários, tempo de vida útil de

aproximadamente apenas 2 anos, devido principalmente à má qualidade das peças estruturais, o

que compromete a sua durabilidade, a rigidez da construção e a vedação vertical. Isto, devido a

dois fatores: primeiro, o emprego de madeira jovem, ou seja, constituída apenas de alburno que é

susceptível ao ataque de fungos apodrecedores; segundo, o uso de madeira adulta, porém de baixa

resistência biológica a esses agentes xilófagos.

Estudar, analisar, diagnosticar e propor a melhoria tecnológica da vedação vertical da técnica

mista, visando oferecer aos usuários da mesma soluções de menor custo, maior vida útil, saudável

e segura, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos seus usuários, é a contribuição

almejada neste trabalho.


18

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Os atuais problemas, como pobreza e desequilíbrio do meio ambiente, são desafios que a

humanidade precisa administrar. No planeta terra, já em 1992, segundo a Agenda 21 (1998,

Capítulo 7, item 7.6) estimava-se que pelo menos 1 bilhão de pessoas não dispunham de

habitações seguras e saudáveis. Este indicador requer ações estruturadas, envolvendo estratégias

capazes de apontar para um desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21 (1998, capítulo 7, item 7.9), onde o documento global trata da “Promoção do

Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos Humanos”, considera entre as oito áreas de

programas, uma destinada ao oferecimento de habitações adequadas para todos, e, outra, destinada

à promoção de atividades sustentáveis na indústria da construção civil.

Nas áreas rurais, e mesmo urbanas, de todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, os

materiais de construção mais antigos e importantes são o solo, a madeira e o bambu. Quando

combinados formam a técnica mista ou taipa de pau-a-pique.

Para Houben e Guillaud (1994) a “terra crua” (solo sem cozimento) é sem dúvida um dos

materiais de construção mais usados no mundo. Segundo Dethier (1982) e Celestino (1994), na

atualidade, um terço da população global habita construções de “terra crua”, e afirmam existirem

evidências de que o solo, como material de construção, data do final do Período Neolítico. No

entanto, o advento dos materiais industrializados contribuiu significativamente para o abandono

das técnicas tradicionais, refletindo-se, inclusive na área de ensino, onde, apenas as construções de

monumentos históricos são tratadas em nível de revitalização.

Para Segawa (1988), o solo e a madeira são tratados apenas em aulas de técnicas construtivas

tradicionais, ou são desprezados, como símbolo de arcaísmo e precariedade. Iglesias (1993)

entende que o maior desafio para o uso das “construções com terra” é puramente subjetivo. Trata-

se do preconceito generalizado que associa as obras de prestígio às técnicas com materiais


19

modernos, definindo as construções com solo como precária e símbolo de baixo status social. A

construção de solo sem cozimento foi muito utilizada aqui no Brasil no período colonial, porém,

como em outros países, com o advento de outros materiais de construção, aos poucos foi sendo

abandonada. Bardou e Arzoumanian (1979, p. 32) afirmam que na Europa após a segunda guerra

mundial, com o surgimento de novos materiais de construção, também, a construção com solo foi

sendo substituída.

Mais recente, alguns programas internacionais, como o CYTED – Programa Ibero-americano de

Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, o Subprograma XIV Habitações de Interesse

Social - HABYTED e o Projeto XIV.6 PROTERRA, ambos do CYTED, têm desenvolvido ações

que visam divulgar, avançar tecnologicamente e aplicar o conhecimento disponível sobre o uso do

solo, principalmente para habitações de interesse social. Entre outras ações, dão apoio técnico às

instituições promotoras de programas de construção.

Estudar esta técnica, e em particular a vedação vertical da mesma, buscando implementar

melhorias através de recomendações tecnológicas, é considerado como contribuição significativa

desta pesquisa. As recomendações para melhoria tecnológica buscam evitar uma vedação vertical

que abrigue insetos como o barbeiro, o que acontece atualmente na maioria das habitações

pesquisadas. Procura também, resolver o problema de apodrecimento da trama pela umidade, quer

na parte de contato direto com o solo, quer nas partes elevadas. Busca também, outros ganhos

apresentados no capítulo referente às recomendações para melhorias tecnológicas.

1.2 PROBLEMA

A busca de soluções ambientalmente sustentáveis é na atualidade uma preocupação para toda a

humanidade. As reservas ambientais ficam mais escassas a cada dia comprometendo o uso para as

gerações futuras. A indústria da construção é responsável por significativa parcela de


20

desequilíbrio ambiental, precisando urgentemente encontrar alternativas construtivas

ambientalmente sustentáveis.

Faz-se necessário, analisar técnicas construtivas tradicionais executadas com a participação da

comunidade, nas quais, o processo de produção dos materiais de construção e o método

construtivo propiciavam um consumo energético bem menor, existindo um equilíbrio entre a

forma de construir e o meio ambiente.

A busca de materiais renováveis a curto, médio e longo prazos, a avaliação de problemas

existentes na atual forma de se construir a vedação vertical, em especial problemas de natureza

tecnológica e as recomendações para solução dos mesmos, é o que se persegue nesta dissertação.

Diante do exposto, pergunta-se:

a) como avaliar o modo de construção atualmente utilizado para as vedações verticais em

técnica mista, no bairro do Alegre em São Sebastião do Passé ? e

b) quais as melhorias tecnológicas que poderão ser introduzidas no sistema construtivo atual

das vedações verticais em técnica mista, no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé ?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Avaliar o modo atualmente empregado para construção da vedação vertical em técnica mista

destinada a habitações de interesse social em São Sebastião do Passé, considerando-se o perfil

econômico da população, o tipo de solo, o uso e condições da madeira, o acabamento e a proteção

contra umidade e propor recomendações para melhoria tecnológica da mesma.


21

1.3.2 Objetivos específicos

 definir uma área na malha urbana de São Sebastião do Passé, onde existam construções em

técnica mista e avaliar o modo de se construir atualmente as vedações verticais das mesmas;

 estudar e diagnosticar o perfil econômico da população, o tipo de solo, o uso e condições

da madeira usada e a proteção contra a umidade; e

 recomendar melhorias tecnológicas para o método construtivo das atuais vedações

verticais em técnica mista, a partir do estudo de caso realizado na área definida.

1.4 JUSTIFICATIVA

Várias são as razões que justificam a escolha do tema e do local de realização do estudo de caso:

o tema refere-se à habitação de interesse social, cuja demanda tende a aumentar a cada dia, em

cada munícipio, em cada estado e em cada país. Já em 1992 estimava-se um déficit de habitação

de interesse socal para 1 bilhão de pessoas. A técnica construtiva estudada sobrevive em nosso

país desde a colonização, utilizando o “saber fazer” dos usuários, precisando no entanto de

atualizações tecnológicas para sua melhoria. A escolha da cidade de São Sebastião do Passé deu-

se devido à existência de técnica mista em sua área urbana e à relativa proximidade de Salvador,

sendo o bairro do Alegre eleito em função da grande quantidade de construções existentes em

técnica mista.

Outras razões motivaram a escolha do tema e sua problemática, destacando-se:

a) Um dos principais problemas vividos pela comunidade do bairro do Alegre em São

Sebastião do Passé, conforme constatado “in loco” pelo pesquisador, é a presença do “barbeiro”,

vetor transmissor da doença de Chagas que faz sua moradia nas fendas da vedação vertical,

provocadas pela desagregação do solo. Evitar a possibilidade de instalação do inseto na habitação

é prestar um grande bem à saude dessa população.


22

b) A falta de moradia, principalmente de habitações de interesse social, no Brasil, é um

problema que estimula o desenvolvimento desta pesquisa, buscando recomendações de melhoria

tecnólogica para a vedação vertical de casas em técnica mista, de modo a melhorar o desempenho

técnico das mesmas.

c) Através de novos estudos voltados para a vedação vertical deste tipo de hanbitação, busca-

se contribuir para a mudança do atual modo de ver e conceituar a casa de técnica mista.

d) O custo baixo e a rapidez de execução das casas de técnica mista estimulam estudos

voltados para agregar melhorias na vedação vertical. O custo baixo deve-se principalmente ao fato

de que a mão-de-obra não é qualificada e os materias básicos são da própria região

e) A escolha do bairro do Alegre em São Sebastião do Passé, para realização do estudo de

caso, deve-se ao fato de ser uma área urbana com aproximadamente 50% de casas em técnica

mista, executadas e em execução, cujo “saber fazer” da comunidade local e condições de

aquisição dos materiais são os principais motivos do uso desta técnica.

f) A atual técnica mista praticada no bairro do Alegre é em solo e madeira. A madeira é

extraída das matas vizinhas e vem diminuindo sua oferta paulatinamente. Estudar outro material

que possa, vir a substituir a madeira na confecção da vedação vertical poderá contribuir tanto para

a diminuição da devastação das matas, quanto para um novo tipo de vedação, com nova

tecnologia, trazendo melhorias tecnológicas e ambientais.

g) A possibilidade de substutuir a madeira pelo bambu será uma alternativa a mais para a

utilização do material vegetal presente nesta técnica. Para Ghavami (1995, p.4), o bambu é o

material que requer menor consumo de energia de produção. Enquanto o aço apresenta consumo

de 1500 MJ/m³, o concreto, 240 MJ/m³ e a madeira, 80 MJ/m³, o bambu consome apenas 30

MJ/m³.
23

h) A construção que usa o solo como principal material apresenta um custo menor que o

daquelas executadas com materiais industrializados. Uma análise entre custo e benefício feita por

ARINI (1995, p. 89), comparando um sistema construtivo tradicional e um que utiliza tijolos de

solo prensado, apresentou uma redução de 35% sobre o custo final das obras construídas com

arquitetura usando o solo, em relação às de arquitetura convencional.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A pesquisa foi estruturada em 7 capítulos, referindo-se o primeiro, à introdução, contemplando a

contextualização do tema, o problema, os objetivos do trabalho, as justificativas para a escolha do

tema e a estrutura da dissertação.

O capítulo 2 estuda e analisa a técnica mista, estabelecendo uma base teórica sobre: o uso desta

técnica em alguns países como o Japão, o Equador, o Paraguai, Portugal e Brasil; a estrutura e o

entramado; o solo; e as recomendações para execução da mesma.

O capítulo 3 trata da técnica mista estruturada com bambu, introduzindo o assunto e apresentando

as suas diversas aplicações; destaca o bambu como material de construção; classifica, apresenta a

distribuição geográfica e mostra a quantidade de gêneros e espécies existentes; estabelece os

bambus mais utilizados na construção civil; fala sobre o tratamento do bambu; e finaliza

estabelecendo a espécie de bambu existente em São Sebastião do Passe, com base em laudo

técnico.

O capítulo 4 refere-se à metodologia do trabalho e é composto pela classificação da pesquisa,

delimitação, identificação das variáveis, estágios da pesquisa e estudo de caso.

O capítulo 5 destina-se ao Estudo de Caso. Apresenta a cidade de São Sebastião do Passé e o

bairro do Alegre como local do Estudo de Caso. Define a poligonal de estudo (unidade de

análise), quantifica as habitações da poligonal, define o universo de amostragem, levanta dados


24

sobre a população do universo de amostragem e, principalmente, sobre aspectos construtivos das

habitações.

O capítulo 6 discute, avalia e faz recomendações para melhorias tecnológicas da vedação vertical

da técnica mista a partir das análises com base nos trabalhos referenciais sobre técnica mista e

técnica mista estruturada com bambu, relacionando-os com os dados do estudo de caso. As

discussões, análises e recomendações se referem a elementos da vedação vertical da técnica

mista, ou a elementos cuja performance tem relação com a mesma. Os elementos objeto de

discussão, análise e recomendações foram: a drenagem, a estrutura, o entramado, o solo, o reboco,

a pintura, a cobertura e as esquadrias

O capítulo 7 conclui o trabalho, referindo-se ao cumprimento dos objetivos da pesquisa, tanto o

objetivo geral quanto os específicos, encerrando o mesmo com recomendações para novas

pesquisas sobre o tema


25

2. TÉCNICA MISTA

Este capítulo realiza uma revisão bibliográfica sobre técnica mista, referindo-se a

origem deste processo construtivo, ao uso do mesmo em alguns países, de modo especial no

Brasil. Aborda aspectos construtivos sobre a técnica de execução da estrutura e do entramado,

estabelece parâmetros para a escolha e correção do solo e propõem recomendações para a

execução da citada técnica.

Considerada como sendo um dos processos construtivos mais antigos da humanidade, a

técnica mista teve como berço a Arábia, onde se desenvolveu e aprimorou seu uso. Sua

facilidade de apreensão e praticidade de execução, a disponibilidade de materiais construtivos, as

possibilidades de efeitos plásticos oferecidos pelo solo moldável e as condições de conforto

térmico motivaram a mesma a ultrapassa fronteiras e se expandir muito além dos oceanos, sendo

disseminada para todos os continentes, atendendo a necessidade de habitar de muitos povos.

De forma simplificada, a técnica mista consiste em uma construção estruturada

normalmente em esteios e vigas de madeira para suporte da edificação como um todo, esteios

para fixação das esquadrias, uma trama denominada de entramado, executada com madeira ou

bambu para receber o solo de fechamento que é aplicado em estado plástico e uma cobertura em

palha ou telha.

A denominação técnica mista é recente e visa unificar como termo internacional,

evitando-se a pluralidade de nomes usados em diferentes países, sendo que em alguns, a citada

técnica recebe mais de um nome. Por exemplo, o Brasil a conhece como taipa de mão, taipa de

sopapo, pau-a-pique, pescoção, barro armado, taipa de sebe, ou simplesmente taipa.


26

2.1 ALGUMAS FORMAS DE CONSTRUIR A TÉCNICA MISTA

Embora o processo de se construir a técnica mista seja caracterizado por uma estrutura

em madeira ou bambu, onde as vedações são constituídas por um entramado que recebe o solo de

fechamento em estado plástico, cada povo adaptou a forma de construir à sua cultura e

disponibilidade de materiais de sua região.

Para ter-se uma idéia sobre a maneira como alguns povos utilizam a técnica mista,

apresenta-se a seguir, o modo de execução da mesma no Japão, em Portugal e em alguns países

da América Latina.

2.1.1 No Japão

No Japão esta técnica é constituída, em geral, tendo como estrutura a madeira e como

trama o bambu. Segundo Lopez (1974, p. 222 a 225), são fixados os elementos de madeira que

servem como estrutura principal (colunas ou pilares, vigas, soleiras e caixões para as esquadrias)

e para a vedação vertical é construído um entramado de madeira e bambu. Um marco formado

por elementos de madeira que recebe uma trama de bambu com varas verticais e horizontais com

diâmetro entre 8 e 13mm, distanciadas entre si de aproximadamente 30 cm. Recobrindo esta

trama principal de bambu é confeccionado uma nova trama, com peças afastadas entre si de 2,5 a

4 cm, sendo amarrada com uma espécie de cipó.

Para preenchimento da trama é preparada uma massa plástica a base de solo argiloso,

usando-se entre 3 e 5 camadas para fechamento, geralmente aplica-se 3 camadas. A camada final

apresenta uma composição diferenciada, que depende da tradição local, pois, é esta camada que

irá destacar a aparência da parede em relação à cor e textura.


27

A primeira camada é aplicada por um taipeiro em um dos lados da trama, enquanto do lado

oposto outro taipeiro dá o acabamento, ficando a mesma com espessura de 9 a 18 mm,. Esta

camada é composta na relação de 100 partes de argila, por 300 partes de areia fina e 3 partes de

fibras vegetais (palha cortada) com comprimento de 3 a 9 cm.

A segunda camada, com espessura entre 3 e 6 mm deve ser aplicada entre 2 e 4 semanas

após a primeira. A composição é a mesma da camada anterior, porém, as fibras devem ter um

comprimento entre 1,8 e 2,1 cm.

A camada final, a depender do costume local, poderá ser composta por argila de solo

colorido, areia, cola, cal, conchas marinhas e fibras vegetais.

2.1.2 No Equador

Segundo Salas (2003, p.39), a técnica mista (bahareque) no Equador é uma das técnicas

de construção com terra de boa aceitação. Conforme o autor, ela se constitui numa construção

mista de madeira e solo muito utilizada nas províncias do sul do Equador e no resto da serra

daquela região, enquanto que, na costa, é muito comum a técnica mista ser construída com

bambu “Guadua” e solo, o que também, acontece na costa central do Pacífico Sul, em terras da

Venezuela, Colômbia e Peru.

Referindo-se a abalos sísmicos, Sala (2003, p.40) salienta que o abalo de 1949 que

destruiu a cidade de Ambato, na serra central do Equador, grande parte das habitações que não

sofreram colapso foram as de técnica mista, se constituindo como técnica mais confiável por

seus usuários.

Salas (2003, p.43), referindo-se a esta capacidade de suporte a abalos sísmicos pela

técnica mista afirma que observações pessoais realizadas nos sismos que aconteceram no

Equador em 1987 (El Rventador), em 1996 (Pujili) e 1997 (Bahia de Caráquez) mostraram que
28

não houve colapso das habitações em técnica mista. As habitações, embora deformadas, não

desabaram, salvaguardando a vida de seus habitantes, que segundo Salas, é a função mais

importante do comportamento de uma habitação.

Para Salas, a técnica mista no Equador, como em toda a América do Sul, é usada desde

tempos remotos. O autor anteriormente citado, fala sobre vestígios de técnica mista encontrados

na província de El Oro, no litoral equatoriano, lugar onde a aproximadamente 4.000 anos A. C.

se desenvolveu a cultura Narrio.

Segue-se a descrição de 3 formas de se construir a técnica mista no Equador, segundo Salas

(2003, p.40 a 42).

Primeiro, o bahareque (técnica mista) tradicional

Tem base numa estrutura de madeira sobre a qual se coloca um recobrimento de peças de

caniço ou de madeira roliça com 3 a 4 cm de diâmetro. Dentro dessa trama coloca-se o solo com

palha e pedaços de pedra ou ladrilho, dependendo da região onde se constrói.

Segundo, o bahareque (técnica mista) parado

Usado de maneira especial pela comunidade indígena de Saraguro na península de Loja. Inicia-se

a construção nivelando o terreno. Em seguida procede-se as escavações de aproximadamente 60

cm de profundidade onde são colocadas as bases em pedra talhada que sobressaem entre 20 e 40

cm do nível natural do terreno. Sobre a base de pedra, em furo previamente executado são

colocados os pilares principais, com afastamento em torno de 3,80 m (4 varas). Depois são

colocadas peças verticais denominadas de “parentes”, em madeira roliça, com diâmetro entre 10

e 15 cm, afastadas entre si de aproximadamente 40 cm. Sobre os pilares, no nível do pé direito

são colocadas vigas de madeira com seção de mais ou menos 3,5 x 7,5 cm e na altura média das

paredes são fixadas outras vigas, de mesma seção, para evitar a deformação dos “parentes”.

Nesta altura se procede a montagem das peças da cobertura e depois a armação para receber as
29

portas e janelas. O próximo passo é a colocação das varas de ambos os lados da parede, com

afastamento máximo de 20 cm, fixadas com fibras naturais. Finalmente procede-se o

“barreamento” de terra com palha.

Terceiro, o bahareque (técnica mista) gualluchaqui

Trata-se de uma mistura entre o bahareque parado e o bahareque tradicional. É usado em

lugares úmidos, onde os pilares são reforçados com madeiras colocadas na diagonal e os

“parentes” são colocados a 45°, propiciando uma melhor resposta à solicitação de abalos

sísmicos. Este tipo de bahareque vem sendo usado de 30 a 40 anos para cá em planta de 2

pavimentos. O térreo é construído em adobe ou outro material e o pavimento superior em

bahareque gualluchaqui. Esta técnica é usada em Loja, Murona Santiago e Zamorna Chichique.

Em nenhum dos casos se costuma dar um acabamento a parede, ela fica com a textura do

“barreamento” de lodo e fibra.

2.1.3 No Paraguai

O Paraguai, segundo Rios e Nessi (2003, p.90), apresenta 2 tipos de técnica mista: o

“estaqueo”, também conhecido como parede francesa; e a “palha com barro” (paja embarrada).

Os autores citam referências históricas que revelam uma habitação construída com muros de

“estaqueo” no ano de 1792.

Rios e Nessi apresentam uma casa urbana na cidade de Pilar cujo exemplo é similar à

construção de 1792. Esta última sofreu danos com a última inundação que afetou a cidade, onde

a água atingiu a marca de aproximadamente 80 cm acima do piso. A Figura 1 é de uma casa

degradada pela enchente, enquanto as Figuras 2 e 3 destacam as rupturas das vedações verticais

e elementos das mesmas.


30

FIGURA 1 – HABITAÇÃO URBANA EM PILAR - PARAGUAI


Fonte: (RIOS e NASSI, 2003, P.95)

Olhando-se as figuras 1, 2 e 3, percebe-se que a técnica de “estaqueo” é bastante semelhante à

técnica mista executada no Brasil

FIGURA 2 – DETALHE DA HABITAÇÃO URBANA EM PILAR - PARAGUAI


Fonte: (RIOS e NASSI, 2003, P.96)

As figuras 2 e 3 destacam a vedação vertical da habitação, onde são vistas peças de bambu

substituindo as varas, estando as mesmas amarradas com couro nas peças do “enchimento” e o

solo de fechamento do entramado.


31

FIGURA 3 – DETALHE DA HABITAÇÃO URBANA EM PILAR - PARAGUAI


Fonte: (RIOS e NASSI, 2003, P.97)

O sistema construtivo é bastante semelhante ao usado no Brasil. Uma estrutura principal em

esteios de madeira, vigas de madeira, um trama de peças verticais (enchimento) e ao invés das

varas, ripas horizontais de bambu, em ambos os lados, amarradas com fibras vegetais. E

finalizando, o fechamento da trama com solo argiloso.

Sobre a “palha embarrada”, Rios e Nessi não descrevem muito. Os autores afirmam que a

mesma é disposta sobre peças de madeira, tipo varas que são suportadas pelos pilares, sendo a

palha amarrada nas varas com couro ou arame, formando assim uma superfície de ambos os

lados, interno e externo. Em seguida a palha é embebida em solo argiloso em estado plástico,

quase líquido.

Os autores informam que exemplares antigos desta técnica podem ser encontrados na zona

serrana da rota Transchaco a uns 150 km de Assunção, como também o quartel de Islã Poí, a

altura de Porto Casado a uns 140 km do rio Paraguai.


32

Rios e Nesi apresentam outras formas de se construir usando a técnica mista, onde as

principais diferenças estão nas peças da estrutura e entramado, onde são usados os materiais

encontrados na região em que se constrói, englobando a madeira, o bambu, a taquara e o solo

local.

2.1.4 Em Portugal

Para Galhano e Oliveira (1992, p.281), o tabique (técnica mista) em Portugal é anterior ao

Século XVII. Segundo os autores, constitui-se em uma técnica barata e fácil, com origens e

manifestações provincianas, subsistindo até os dias atuais.

Em Portugal, conforme caracterização feita pelo autor, o processo da técnica mista (tabique)

compõe-se de uma estrutura principal, formada por esteios e vigas de madeira, com seção quase

sempre quadrada em torno de 10 a 12 cm, e uma estrutura secundária, também de madeira,

porém, de peças com menor seção. A estrutura secundária é composta de peças verticais, com

seção quadrada ou roliça de aproximadamente 8 cm, travadas por peças em diagonal de mesma

seção, sendo complementada por uma trama de ripas de seção retangular em torno de 1,5 por 4

cm, também em madeira, de ambos os lados, fixadas por pregos, formando uma trama destinada

a receber a massa plástica de solo sem cozimento, água e, na maioria das vezes, palha. Após a

secagem da massa plástica é aplicado o reboco e depois da secagem deste a pintura.

Segundo Galhano e Oliveira (1992), o tabique é encontrado no território português até os

dias atuais como acréscimos, trapeiras, e outras formas de andares suplementares, principalmente

no Douro, Trás-os-Montes e entre o Douro e o Minho. Outra característica apontada pelos

autores é que as vedações verticais trazem seus paramentos externos revestidos com telhas,

lousas ou chapas de zinco. Uma forma de proteger os paramentos verticais externos das

intempéries.
33

No norte de Portugal, nas localidades de Alpedrina, Fundão, Covilã, Guarda, Muxagata, Vila

Nova de Foz Côa, Lamêgo, Tarouca, Ucânia e Salzedas, conforme investigação feita pelo autor

em maio de 2004, é bastante comum, ainda nos dias atuais encontrar tabiques sobre a forma de

acréscimos e principalmente sobre o pavimento térreo (rés-do-chão), este quase sempre em

pedra. As figuras de 4 a 9, a seguir, ilustram as características citadas pelos autores

referenciados, e mostram exemplares de técnica mista em varias localidades visitadas.

A técnica mista tem mostrado em vários locais, sua capacidade de resistir a abalos sísmicos

sem colapso total. Em Portugal, segundo Galhano e Oliveira (1992), as construções em tabique

(técnica mista) foram as que melhor resistiram ao terremoto de 1755.

A Figura 4 é de uma construção na cidade de Lamego, na Rua do Castelo, em Portugal, onde

o pavimento térreo é construído em pedra e sobre o mesmo foi erguido o restante da construção

em técnica mista. Essa maneira de se construir é bastante utilizada no norte de Portugal e deve-

se ao fato da grande quantidade de pedras existente na região e também, por ser uma forma de

evitar que a umidade do solo atinja a vedação vertical da técnica mista. A construção da Figura

4, adiante, é uma habitação centenária, onde o estado de degradação do revestimento é visível.

Outra diferença em relação à técnica mista no Brasil é o uso de ripas substituindo as varas.
34

FIGURA 4 – TÉCNICA MISTA SOBRE O PAVIMENTO TÉRREO NA RUA DO CASTELO, LAMEGO, PORTUGAL
Foto do autor - maio de 2004
35

Lamego é uma das cidades portuguesas que possui na atualidade uma quantidade expressiva de

edificações em técnica mista (tabique). A Figura 5 é de um conjunto de edificações na cidade de

Lamego, cujas construções são todas em técnica mista e estão construídos sobre o pavimento

térreo

FIGURA 5 – TÉCNICA MISTA SOBRE O PAVIMENTO TÉRREO EM LAMEGO, PORTUGAL


Foto do autor - maio de 2004

Para proteger os paramentos externos mais afetados pelos ventos e chuvas, os mesmos recebem,

além do reboco, um segundo revestimento, cujo material depende da existência do mesmo no

mercado local, do poder aquisitivo e gosto do proprietário. A Figura 6 destaca a vedação vertical

da lateral de uma edificação, na cidade de Tarouca, revestida com chapas de zinco. Tarouca,

embora próxima a Lamego, tem uma quantidade bem inferior de habitações em técnica mista,

mesmo assim, de qualidade expressiva, guardando a mesma forma de se construir.


36

FIGURA 6 – TÉCNICA MISTA REVESTIDA COM CHAPAS DE ZINCO EM TAROUCA, PORTUGAL


Foto do autor - 2004

As figuras 7 e 8 são construções em técnica mista. A Figura 7 é na cidade da Guarda, em

Portugal, construída sobre o pavimento térreo, tendo a fachada frontal e lateral revestidas com

ardósia. A Figura 8 é na aldeia de Salzedas, destacando todo o paramento frontal revestido,

também, com ardósia. O revestimento das vedações verticais é de fundamental importância para

proteção contra as intempéries, principalmente as águas de chuvas. E, quanto melhor for o

revestimento, maior proteção o mesmo irá propiciar à vedação vertical, estabelecendo uma

durabilidade maior para a edificação


37

FIGURA 7 - TÉCNICA MISTA REVESTIDA COM LOUSAS EM GUARDA, PORTUGAL


Foto do autor - maio de 2004

FIGURA 8 - TÉCNICA MISTA REVESTIDA COM LOUSAS NA ALDEIA DE SALZEDAS, PORTUGAL


Foto do autor - maio de 2004
38

A Figura 9 é de um edifício na cidade de Covilã que caracteriza bem a construção da técnica

mista (tabique) em Portugal. Trata-se de um prédio de três pavimentos, onde o pavimento térreo

é construído com pedras e os dois pavimentos superiores executados em técnica mista

FIGURA 9 - TÉCNICA MISTA SOBRE PAVIMENTO TÉRREO EM COVILÃ, PORTUGAL


Foto do autor - maio de 2004
39

Portugal, embora na atualidade quase não mais se construa usando-se a técnica mista,

principalmente, em função do elevado custo da madeira, é um país que guarda uma quantidade

significativa de exemplares desta técnica construtiva, principalmente nas regiões do Douro, Trás-

os-Montes e entre o Douro e o Minho.

As características marcantes do uso desta técnica no território português são: o cuidado

com a umidade, onde a maioria das construções em técnica mista são executadas sobre o

pavimento térreo, quase sempre em pedra; o uso de contraventamento da construção; a

preocupação em revestir as vedações verticais; e quando o revestimento se constitui apenas do

reboco o mesmo recebe a proteção da pintura.

2.1.5 A técnica mista no Brasil

Segundo Milanez (1958), antes da chegada dos portugueses os habitantes nativos do Brasil,

nossos antepassados, os índios, não usavam o solo para construir. Seus abrigos eram edificados

com estruturas de paus roliços e vedações de palha e folhagens.

Sabe-se que os africanos, trazidos como escravos, contribuíram para o uso da técnica mista,

principalmente os descendentes da Guiné que vieram para o Brasil, pois em sua pátria

construíam suas casas de pau-a-pique, com enchimento de lama e cobertura da palha. Para

Milanez (1958), nossas casas “barreadas” parecem se originar de costumes africanos.

A Figura 10 é um exemplar de construção em técnica mista representativa da imigração

japonesa no Brasil, cujo edifício foi projetado por Kazuo Hanaoka, em 1942, para abrigar uma

fábrica de chá. O edifício foi construído na cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, conforme

http://www.uns.arq.br/comphap/bens.htm (em 11/10/2006).


40

FIGURA 10 – CONSTRUÇÃO EM TÉCNICA MISTA, MARCA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA, EM MOGI DAS CRUZES - SP
Fonte: http://www.uns.arq.br/comphap/bens.htm (em 11/10/2006)

Brasileiro (2002) destaca como construções em taipa de mão no Brasil o primeiro muro

na cidade de Salvador, para defesa contra os índios; a cidade de Olinda em Pernambuco,

construída inicialmente em taipa de mão e de pilão; as cidades mineiras de Ouro Preto e

Diamantina; Vassouras no Rio de Janeiro; e tantas outras nos estados de São Paulo, Goiás e

Mato Grosso assim como, construções modernas, apresentadas na exposição “Arquitetura de

Terra no Brasil”, na década de 1980.

Na região nordeste do Brasil, principalmente nos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e

Bahia, como é do conhecimento do autor deste trabalho, a construção da técnica mista, via de

regra, começa pelo nivelamento do terreno, sendo em seguida executada a estrutura principal (os

esteios), que convencionalmente é feita com madeira roliça, exceto as peças de apoio para portas

e janelas. Os esteios são fixados no solo de fundação a uma profundidade média de 80 cm. Nesse
41

ponto a estrutura recebe uma trama com peças roliças de aproximadamente 8 cm de diâmetro,

colocadas na vertical, afastadas umas das outras mais ou menos 25 cm e fincadas no solo a uma

profundidade em torno de 30 cm. Apoiadas nas peças verticais são colocadas na horizontal, de

ambos os lados as varas, amarradas normalmente com cipó ou arame, distanciadas entre si em

torno de 10 cm. Sobre a estrutura é colocada a cobertura, que dependendo da região e poder

aquisitivo, é feita com telha cerâmica, normalmente de fabricação artesanal ou de palha. A fase

de tapagem da trama promove um verdadeiro trabalho em mutirão. Os vizinhos se reúnem,

fazem um barreiro próximo à construção, onde misturam o barro com água, às vezes, adicionam

fibras, e quando a mistura pisoteada adquire a consistência ideal para o uso em questão, é

transportada com as mãos para o preenchimento da trama, até recobrir a face externa da

estrutura. Quando o poder aquisitivo permite, após a secagem do solo, é aplicado o reboco e,

posteriormente a pintura.

Para Silveira e Gama (1982), a taipa de pau-a-pique, que é um processo construtivo dos

mais antigos de nossa cultura, vem sendo conservada pela tradição oral e é conhecida de quase

toda família de baixa renda, ou seja, mais da metade da população brasileira, porém é

desconhecida nas comunidades abastadas e nos meios universitários

Lopes (2002) afirma que no Brasil, da mesma forma que em Portugal, as técnicas mais

utilizadas foram o adobe, a taipa de pilão e a taipa de mão ou pau-a-pique, encontrando-se

exemplares em praticamente quase todo o território brasileiro. Sobre a taipa de mão, a autora

afirma ser uma técnica construtiva que utiliza materiais fornecidos pela natureza e que é

facilmente assimilada, sendo uma constante nas construções da zona rural e de cidades do

interior do Nordeste do Brasil, embora, se perceba que a mesma necessita da implementação de

melhoramentos técnicos, e a população usa a referida técnica apenas por não ter acesso a outra

maneira de construir. Para Souza (1996), o que ocorre é que a antiga forma de construir com
42

técnica mista tem sido substituída e adulterada e o que resta hoje é só um arremedo do que

outrora se praticava.

Para Lopes e Ino (2003), o processo básico comumente empregado consiste em levantar

toda a estrutura das paredes, colocar o madeiramento do telhado, a cobertura e efetuar o

enchimento dos vãos. Para as autoras, a versatilidade da técnica mista está na grande

adaptabilidade às condições locais, utilizando-se materiais naturais da região.

Alguns autores destacam os motivos que levaram a técnica mista a ser empregada de

forma generalizada, principalmente no Brasil, onde desde a colonização ela se faz presente em

todo o país. Para Vasconcellos (1979), um dos motivos que levou esta técnica construtiva a ser

uma das mais difundidas foi a facilidade como se constrói. Já Schmidt (1946) afirma que ela foi

amplamente utilizada, pois, comparada com a taipa de pilão que precisa de taipeiros

especializados, ela dispensa a mão-de-obra especifica dos taipeiros, é durável e de grande

resistência as intempéries, desde que sejam adotados cuidados específicos, principalmente em

relação à umidade, além de propiciar menor custo. Alvarenga (1984), apresenta a rapidez da

execução como uma das principais vantagens desta técnica. Para Souza (1996), a taipa de mão

teve nas terras de Minas Gerais total preferência sobre a taipa de pilão, por ser mais fácil sua

execução, mais rápida, econômica, além de ser leve e de facilmente adaptar-se às topografias

acidentadas.

Costa e Mesquita (1978) desatacam no interior de Minas Gerais, uma casa velha de

fazenda, construída no tempo do império, com paredes de pau-a-pique, sem apresentar qualquer

tipo de rachadura. As paredes foram feitas com solo, areia e estrume de gado. Para os autores o

esterco de gado possibilita maior firmeza ao reboco. Os mesmos observaram que a casa do joão-

de-barro também possui estrume de gado na sua composição.


43

Aditar estrume de gado na composição do solo a ser aplicado para preenchimento da

trama na técnica mista é um procedimento conhecido, se não de todos, pelo menos da maioria

dos construtores que utilizam esta técnica, assim como da maioria dos pesquisadores sobre o

assunto. Entende-se que são as fibras vegetais contidas no esterco do gado que vai propiciar uma

menor retração ao solo quando seco.

No Brasil, o revestimento das paredes tem muito a ver com a condição econômica de seus

moradores, onde a grande maioria possui renda baixa ou muito baixa e suas habitações não

recebem reboco, na maioria das vezes sequer conseguem concluir suas moradias, ficando meses

e até anos habitando uma casa inacabada. Esta situação é encontrada em todo o país,

demonstrando as péssimas condições de habitação, a falta de emprego e renda para suprir não

apenas à necessidade básica de moradia, mas também a falta de alimentação, assistência à saúde,

educação e lazer. A Figura 11ilustra esse quadro

FIGURA 11 – TÉCNICA MISTA NO BAIRRO DO ALEGER, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ, BAHIA, BRASIL
Foto do autor - outubro de 2004
44

A habitação em técnica mista inacabada, pertencente a uma família de baixa renda, situada à

Rua Emílio Albino Abraão, no bairro do Alegre (Alegre de cima), em São Sebastião do Passé,

Bahia, Brasil, localidade onde foi realizado o estudo de caso. A parte habitada não possui

revestimento, propiciando ninhos de insetos, como o vetor transmissor da doença de Chagas, o

“barbeiro” e outros mais

A figura 12 é de outra casa em técnica mista na Rua Candeal Pequeno, no bairro de Brotas

cidade de Salvador, Bahia, Brasil. A casa tem aproximadamente 50 anos de construída e mesmo

nas condições precárias em que se encontra, continua sendo habitada.

FIGURA 12 – TÉCNICA MISTA SOBRE O SOLO EM SALVADOR, BAHIA, BRASIL


Foto do autor - agosto de 2004

A Figura 13 é de mais uma casa de técnica mista, no povoado do Moreira, no município de

Palmeira dos Índios, Alagoas, Brasil, onde o revestimento das vedações verticais internas e

externas é rebocado e pintado. A construção, com aproximadamente 20 anos de construída está


45

em perfeitas condições de habitabilidade, sem fissuras, sem bolor e, sem marcas de umidade. A

mesma foi construída sobre alicerce que se eleva do nível do terreno, em torno de

aproximadamente 50 cm, o que protege a vedação do solo, minimizando a penetração de águas

pluviais

Este procedimento, além de ser recomendado para a técnica mista por vários autores, coloca

a habitação em destaque.

FIGURA 13 - TÉCNICA MISTA REVESTIDA E PINTADA, NO POVOADO MOREIRA, PALMEIRA DOS ÍNDIOS, ALAGOAS, BRASIL
Foto do autor - agosto de 2004

Nestes poucos exemplos apresentados da técnica mista no Brasil, os tipos e padrões de

acabamento das construções, variam, desde as de aspectos de pobreza, às vezes de miséria, até as

de padrões de qualidade e estado de conservação muito bons, a depender do poder aquisitivo de

seus proprietários ou do conhecimento dos riscos a que se expõem não revestindo corretamente

as vedações verticais
46

2.2 A ESTRUTURA E O ENTRAMADO NA TÉCNICA MISTA

Lopes (1998) constata em construções de taipa no Brasil, o uso de pilares de bambu, de

carnaúba (Copernicia cerifera), de alvenaria de tijolo cerâmico, de madeira serrada ou roliça e de

estrutura metálica, além do uso de painéis autoportantes, que dispensam o uso de pilares.

Segundo Lopes (2002), o bambu, espécie vegetal resistente é outro material bastante indicado

para a ossatura interna da taipa

Faltam no entanto recomendações referentes ao tratamento que as diferentes alternativas

necessitam, a fim de terem uma vida útil duradoura. Quanto à indicação do uso do bambu na

composição da ossatura que compõe a vedação vertical, uma das qualidades que estimula o uso

do mesmo é a possibilidade de se colher este material a partir do quarto ano de plantado.

Para Lopes e Ino (2003) o entramado ou malha interna funciona como suporte para

sustentação do solo e, geralmente é produzido no próprio local. O tipo mais comum consiste no

uso de paus roliços, no sentido vertical, e de varas flexíveis horizontais, fixadas dos dois lados e

amarradas através de fibras vegetais, como cipó-imbé (Phyllodendrum imbé), buriti (Mauritia

flexuosa), tucum (Bactris glaucescens), sisal (Agave sisalana), tiras de couro, arame, ou ainda

presas por pregos. As autoras falam ainda em entramado onde as varas formam um trançado em

xadrez, citam o uso de arame em substituição às varas, citam o entramado com bambu e o uso de

painéis pré-fabricados em madeira serrada, cada uso a depender da facilidade e do custo de cada

região.

Na abordagem das autoras sobre o entramado, falta serem definidos parâmetros como o

diâmetro e afastamento entre as peças verticais de madeira roliça e das varas horizontais. Quando

citam o uso de arame em substituição às varas, não estabelecem o tipo, o diâmetro e o

afastamento entre os mesmos. Da mesma forma, quando usa o entramado de bambu, ou painéis
47

pré-fabricados não especificam o tipo, a seção e o afastamento das peças de bambu ou de

madeira.

Para Di Marco (1984), a técnica mista, conhecida aqui no Brasil como taipa de sopapo ou

taipa de mão, consiste em um entramado de madeira ou bambu, formado por ripas horizontais e

verticais amarradas com tiras de couro, cipó, barbante, prego ou arame, preenchido com uma

mistura de solo, água e fibras. Este conjunto, juntamente com peças portantes verticais de

madeira, forma a parede da edificação. A mistura denominada “barro”, é lançada com as mãos

nos dois lados ao mesmo tempo, e apertada sobre a trama da parede. Após a secagem do “barro”,

é aplicado o reboco e, posteriormente, a pintura.

O autor descreve os componentes de uma construção em técnica mista, diz ser o

entramado formado por ripas de madeira ou de bambu, o que não é o normal. Geralmente as

peças verticais da trama possuem diâmetro superior ao de uma ripa, em torno de 8 cm.

Continuando, Di Marco diz que as peças da estrutura são de madeira, porém, não define os

diâmetros. A recomendação que Di Marco faz, sugerindo apertar a mistura sobre a trama, ajuda

no adensamento do solo, o que minimiza os vazios, evitando maiores fissuras. Inclusive,

recomenda-se que ao invés de jogar o barro aos sopapos, o correto é colocar o mesmo na trama

com as mãos e depois adensá-lo

Contraventar a estrutura e o entramado com peças em diagonal é uma forma antiga de

tornar os paramentos verticais estanques, assim como a construção como um todo, o que na

atualidade não está sendo praticado aqui no Brasil. A Figura 14 é da vedação vertical de uma

construção na Rua do Cale, na cidade portuguesa do Fundão e ilustra a forma usada pelos

portugueses para contraventar as citadas vedações das construções em técnica mista, propiciando

às mesmas sua estanqueidade


48

FIGURA 14 – CONTRAVENTAMENTO DO ENTRAMADO EM PORTUGAL


Foto do autor - 2004

2.3 O SOLO PARA USO NA TÉCNICA MISTA

Apresenta-se a seguir a definição do pesquisador Milton Vargas sobre o termo terra ou

solo, a saber:

“o termo terra ou solo é aplicado a todo material da crosta terrestre que não oferece resistência à

escavação mecânica e que perde totalmente a resistência quando em contato prolongado com

água. A origem do solo seja imediata ou remota, se dá a partir de processos físicos químicos de

fragmentação e decomposição das rochas, pela ação das intempéries”. (VARGAS, 1977)

A seguir será apresentada uma série de procedimentos empíricos para escolha do solo

ideal a ser usado em construções de técnica mista. O procedimento empírico,embora não tenha
49

caráter científico, ele fornece alguns parâmetros para a tomada de decisão da escolha do solo

mais adequado. Esses métodos são instrumentos porque eles auxiliam a população de baixo

poder aquisitivo para a escolha da melhor opção de solo a ser usado na vedação vertical da

técnica mista. Outro aspecto positivo desses métodos empíricos é a facilidade de transferência de

conhecimentos para uma população que em geral tem pouca escolaridade.

2.3.1 Retirada da amostra e teste para uso do solo mais adequado

Lengen (2002, p.298), referindo-se ao solo como material de construção diz que quase

todos os tipos de solo servem para construir muros utilizando-se blocos de adobe, taipa de pilão

ou técnica mista. Como em sua composição entram diferentes tipos de solo, às vezes precisa-se

misturar solo de vários pontos do mesmo terreno, mesmo em lotes pequenos.

Este procedimento para escolha do solo é muito vago por não apresentar de uma forma

mais concreta parâmetros para a escolha do solo mais adequado para construções com técnica

mista. É um tanto parecido com a visão de Frota e Le Roy (1978) que simplesmente

recomendam o uso de solo argiloso para fechamento da trama da técnica mista.

Para Mitidieri e outros (1987), assim como para Milanez (1958), a escolha do solo deve

ser feita através de amostras retiradas a uma profundidade de 40 cm. Mitidieri e outros (1987)

também recomendam um teste rápido para escolha do melhor solo. Este teste consiste em retirar

quatro amostras de diferentes pontos de um mesmo terreno, umedecê-las com água e fazer bolas

com as mãos. Ao secar, a bola que apresentar menor número de fissuras indicará de modo

prático, o solo mais adequado para a taipa.

Estes autores apresentam um procedimento empírico, porém ele procura estabelecer

parâmetros que possibilitam comparação entre diferentes amostras auxiliando dessa forma o

usuário na tomada de decisão. Todavia, eles ainda deixam vago a quantidade de água a ser
50

utilizada para umedecer o solo e confeccionar as bolas de teste. Também não deixam claro o

tempo que levará para secar esses corpos de prova, uma vez que a secagem mal conduzida das

bolas de solo pode mascarar o resultado dos testes.

Gieth e outros (1994) recomendam o teste da pressão dos dedos. Consiste em colocar um

pouco de amostra de solo na palma da mão, adicionar água até obter uma mistura coesa sem que

prenda à mão e formar uma bola. Ao se aplicar uma leve pressão com os dedos, verifica-se o

comportamento da amostra: a) caso a bola se esfarele, o teor de areia é muito alto; b) caso não se

rompa após uma forte pressão dos dedos, há predominância de argila em sua composição; e c) se

ocorrer rompimento após uma forte pressão, o solo apresenta-se com teor de areia e argila

convenientes para o uso da taipa.

Este autor, comparado aos citados anteriormente, em relação à confecção dos corpos de

prova acrescenta um parâmetro mais objetivo quanto à quantidade da água a ser misturada com o

solo. Também auxilia, de forma comparativa, a escolha do melhor solo para o uso em técnica

mista, que, não deve ser composto pela predominância de areia ou de argila, e sim uma amostra

equilibrada dos dois componentes.

Com relação à escolha do solo para a técnica mista, Neves e outros (2005) apresentam o

teste do rolo (verificação do solo adequado para a taipa), que consiste em tomar uma porção de

solo umedecido e amassado, rolar sobre uma superfície plana até a obtenção de um cordão com

200 mm de comprimento e diâmetro de 25 mm, deslizar o cordão suavemente sobre a superfície,

de forma a ficar em balanço além de sua borda, até que ocorra a ruptura do segmento em

balanço. Em função do comprimento do segmento rompido, tem-se um indicativo da quantidade

de argila ideal para a taipa: se romper o cordão com menos de 80 mm, não há argila suficiente; se

a ruptura ocorrer com comprimento entre 80 mm e 120 mm, tem-se a quantidade ideal de argila;

e comprimentos acima de 120 mm indicam argila em excesso.


51

Embora Neves e outros (2005) não deixem claro os procedimentos para coleta de solos,

conforme Mitidieri e outros (1987) e Milanez (1958), a autora aponta um outro processo para

análise empírica do solo que ajuda de forma objetiva a escolha do solo mais apropriado para a

construção de vedações verticais da técnica mista. Também não faz referência à quantidade de

água a ser misturada à quantidade de solo, conforme Gieth e outros (1994).

Os autores supracitados forneceram parâmetros, embora empíricos, para escolha do solo

mais adequado para a construção da vedação vertical da técnica mista. Adotando o critério

empírico apresentado por esses autores visando à população a que se destina essa técnica,

recomenda-se a retirada do solo a uma profundidade de 40 cm, conforme recomenda Mitidieri e

outros (1978) e Milanez (1958). Optou-se por coletar a amostra a 40 cm abaixo da superfície do

terreno natural por ser uma situação que possibilita a extração de um solo sem resíduos orgânicos

e mais limpo de impurezas, como entulho, etc. A presença de impurezas prejudica a confecção

do corpo de prova e mascara o resultado. Para escolha do melhor solo, entre os testes

apresentados recomenda-se o teste do rolo (NEVES e outros, 2000) ou o da bola (GIETH e

outros, 1994). A escolha de um dos dois testes é recomendada devido à simplicidade de

execução de ambos e à resposta em relação à plasticidade ideal da mistura.

Uma vez apresentados os parâmetros para escolha do solo, serão relacionadas, a seguir,

as sugestões dos autores que procuram melhorar o solo do ponto de vista de retração e aumento

de resistência. Essas recomendações apresentadas, visando à correção do solo, também são feitas

de forma empírica.

2.3.2 Correção do solo para a técnica mista

Para Lopes e Ino (2003), em algumas regiões a preparação do solo é feita com solo e água, ou

ainda com adição de fibras vegetais, como: fibras de sisal, de coco, de piaçava, bagaço de cana,
52

palhas, esterco de gado, entre outros, ou ainda com adição de minerais como a cal ou o cimento.

Esses aditivos funcionam como estabilizantes do solo, diminuindo a retração e aumentando a

resistência.

As autoras chamam a atenção de que o solo pode ter suas características de estabilidade e

aumento de resistência quando se introduz fibras vegetais ou minerais. Da forma como foi

colocado faltou definir proporções para compor a mistura a ser aplicada na vedação vertical de

técnica mista.

Milanez (1958), tratando sobre a mistura para o “barreamento”, chama a atenção para a

quantidade adequada de água, pois o excesso aumenta a possibilidade de fissuras por secagem.

Afirma ainda que a adição de palha picada na mistura permite a evaporação de água na massa

toda por igual, inclusive de dentro para fora. O autor recomenda que o solo seja colocado com as

mãos entre as varas do entramado e não aos “sopapos” como normalmente é feito. Segundo o

autor, este cuidado ajuda a propiciar uma obra bem acabada

No entanto, Milanez não define quais são os parâmetros que subsidiam a afirmação bem

acabada, apenas chama a atenção para uma nova forma de aplicação do solo na trama, alerta para

a importância da quantidade de água com o volume de solo, levando em conta fissuras que

podem vir a surgir posteriormente com a mistura do solo já aplicado. Faltou apresentar uma

relação em forma de volume ou peso, de quanto se deve colocar de quantidade de água para a

quantidade de solo, ficando em aberto esta relação. Faltou indicar o volume da palha a ser

introduzido na massa. Quanto ao adensamento do solo com as mãos na trama, esta forma

possibilita uma maior compactação do mesmo, se comparado com o procedimento na forma de

sopapo. O adensamento possibilita maior resistência mecânica à vedação vertical, por ter menor

quantidade de vazios, se comparado com o arremesso de sopapo. Outra observação, para

melhorar o solo a ser aplicado na trama, é feita por Gieth e outros (1994), recomendando deixar a
53

mistura em repouso, por um período de doze horas, de preferência durante a noite. Para Gieth e

outros, este procedimento garante ao solo um melhor estado plástico para a aplicação. Essa

recomendação também é de caráter empírico, porém procede, pois, para solos argilosos esse

tempo possibilita a uniformidade da umidade

Conforme a DAM (1988), a aplicação do solo deverá ser feita em três fases. A primeira

consiste em se aplicar uma camada com as mãos, sem cobrir as ripas. Espera-se de quinze a

trinta dias, tempo necessário para a parede secar e aplica-se a segunda camada, que deve

preencher todas as trincas e cobrir as ripas. Aguarda-se novamente a parede secar e aplica-se a

terceira camada ou reboco, constituído de uma argamassa fina de cimento ou cal, mais areia e

saibro, no traço em volume de 1:3:5. O acabamento do reboco é dado alisando a argamassa com

colher de pedreiro.

Os procedimentos apresentados pela DAM (1988) são os que instruem o usuário desta técnica a

fazer de uma forma metódica, tanto as etapas ou fases de aplicação do solo sobre a trama, como

também a definição do traço em volume para o reboco final da vedação vertical em técnica mista

2.4 RECOMENDAÇÕES PARA EXECUÇÃO DA TÉCNICA MISTA

Para Lopes e Ino (2003), o uso de instrumentos simples como o esquadro, o prumo e o

nível são importantíssimos, pois quando relegados contribuem para prejudicar a aparência e a

rigidez da construção, tornando a estrutura desequilibrada e as paredes desalinhadas

É relevante a recomendação das autoras, pois o uso do esquadro é fundamental na

locação dos esteios, o uso de um prumo na fixação dos esteios, da ossatura e do enchimento da

vedação vertical vai propiciar uma edificação equilibrada, com paramentos alinhados e o nível

estabelecerá um plano de base, referencial para as medidas verticais.


54

Para Pinto (1993) e Souza (1996) os principais agentes causadores dos danos na vedação

vertical de solo são as infiltrações de água, seja por capilaridade do solo, seja por falta de

proteção adequada, devido a rebocos mal executados. Os autores recomendam proteger a

edificação do contato com a umidade do solo, elevando-se a construção do chão ou utilizando

alicerces com a devida impermeabilização. Mitidieri e outros (1987) e PROAFA (1979) sugerem

o uso de cinta de concreto magro para evitar umidade nas paredes. A Fundação DAM(1988) e

Gietg e outros (1994) recomendam o uso de sapata corrida de pedra e tijolos cerâmicos,

protegida no coroamento com camada impermeabilizante. Para Ferraz (1992), além de ser

necessário evitar o contato da construção com a umidade do solo, a pintura melhora a

salubridade e conservação da habitação, além de torná-la agradável visualmente. Segundo Lopes

(1998), as construções recentes em taipa usam geralmente materiais impermeabilizantes, como

pintura asfáltica, betume, resina, sacos plásticos e base de concreto, de acordo com a

disponibilidade local, para proteção contra danos causados pela incidência de água nas peças

verticais de madeira.

As recomendações citadas anteriormente são convenientes para impedir a ascensão de

água por capilaridade que vem do solo, como também águas de chuvas que incidem direta ou

indiretamente na vedação vertical, ficando a cargo do executor decidir o tipo de proteção que

caiba melhor no orçamento do usuário.

Para Alvarenga (1984), a falta de revestimento é um dos maiores problemas da habitação

em técnica mista, pois ele evita o alojamento de insetos nas gretas e protege as paredes contra a

ação da água. A autora destaca o reboco usado na zona rural de Minas Gerais que é feito com o

próprio solo misturado com maior quantidade de areia e aplicado em duas camadas. A primeira

mais áspera usa o cascalho misturado com o solo, estrume e água. A segunda difere apenas com

o tipo de areia, que é mais fina. Alvarenga não especifica o traço para a composição do reboco,
55

não define a granulometria da areia e do cascalho para execução do reboco, ficando vagas e

subjetivas essas recomendações. Para Gieth e outros (1994) a mistura do reboco deve ter uma

parte de cal e oito de saibro, ser aplicada sobre as paredes levemente umedecidas, em forma de

bolas, usando-se as mãos. Coberta toda a superfície, pressiona-se levemente a mistura para uma

perfeita aderência. A regularização é feita por pressão com a colher de pedreiro, para agregar os

componentes e aflorar a água da mistura. A seguir, se passa a desempenadeira e, depois a

esponja de camurça. Neste ponto, a superfície precisa apenas secar para receber a pintura, que

pode ser à base de cal

As recomendações dos autores citados anteriormente aponta para uma composição em

volume para a massa de reboco, além de estabelecer o preparo da vedação vertical e a forma de

aplicação da mesma, visando uma boa aderência entre o reboco e a superfície de aplicação.

Segundo Lopes e Ino (2003), no protótipo do PROAFA (1979), em Fortaleza, Ceará, usou-

se um chapisco impermeabilizante nas paredes internas e externas até a altura de 50 cm, para

evitar infiltrações de água em ambos os lados

Faltou definir qual o traço usado no chapisco, qual o aditivo impermeabilizante e sua

quantidade na mistura

Deve-se fazer o contraventamento do entramado, fixando as peças em diagonal entre os

pilares, propiciando uma amarração completa da edificação. Também, é importante ser feito um

contraventamento no plano horizontal da cobertura sobre as vigas que definem o pé direito da

edificação. Este último deverá ser executado com peças em diagonal, formando um triângulo

com os vértices externos, sendo as mesmas paralelas ao plano das vigas dos frechais,

propiciando, desta forma, uma estanquidade não apenas às vedações verticais, mas à edificação

como um todo.
56

3. A TÉCNICA MISTA ESTRUTURADA COM BAMBU

O bambu é um material de construção que apresenta baixíssimo consumo energético no

processo de produção e existente na região do estudo de caso, sem, no entanto ser utilizado na

técnica mista local. Aqui, aborda-se o bambu como material de construção, estabelece-se a

classificação, os gêneros e espécies do bambu, a distribuição geográfica, citam-se as espécies

mais usadas na construção e apresenta-se os tipos de tratamento do mesmo.

Para Barbosa e Mattone (2002), empregar produtos que envolvem baixo consumo de

energia no seu processo de obtenção, que geram menor quantidade de rejeitos e que apresentam

baixa emissão de poluentes é de interesse para toda humanidade

Incentivar a retomada do uso do solo para construir utilizando o bambu como elemento

de vedação vertical da técnica mista é opção viável, que poderá oferecer uma edificação de custo

baixo, em condições de segurança, conforto térmico, durabilidade e harmonia com o meio

ambiente

Lopez (1974) referindo-se à “parede de argila reforçada com bambu”, a técnica mista, nos

fala dos motivos pelo qual o Japão, um dos países mais industrializados da Ásia, onde se constrói

com as mais modernas técnicas, continua nos dias atuais a construir casas de “argila estruturada

com bambu”. Segundo o autor, o colorido e a beleza de sua textura, aliados ao conforto térmico

são as razões pelas quais os japoneses as preferem.

Na Índia, o grande número de templos budistas, cujas cúpulas foram construídas com

bambu e solo, são exemplos de uso da técnica mista, tendo como referência maior a 7a maravilha

do mundo, o conjunto arquitetônico de Taj Mahal, cuja estrutura é toda montada com bambu e

revestida com argamassa especial. A figura 15 retrata o templo que foi construído na cidade de

Agra, Estado de Uttar Pradesh, em 1631 pelo imperador Shah Jahan, onde foi edificada a tumba

para sua esposa favorita, Mumtaz Mahal.


57

FIGURA 15 – VISTA GERAL DO TAJ MAHAL


Fonte: http://www.taj-mahal.net/ Em 25/07/2006

Referindo-se às aplicações do bambu GRAÇA (1988) e LOPEZ (1974) apresentam

algumas, como o uso para a construção, paisagismo, álcool etílico, celulose e papel, alimentação

e medicamentos, entre outras.

3.1 O BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

Para Cordero (1989, p.12), a baixa densidade, a forma circular oca e as excelentes

características físicas e mecânicas fazem com que esta planta seja empregada na construção

como elemento estrutural, painéis de vedação e outros usos. Afirma o autor que além da Índia,

Indonésia e Filipinas, que usam bastante o bambu como material de construção, na Colômbia,

em função da abundância e do baixo custo, a construção de casas de bambu e madeira ganhou

popularidade.

Devido às propriedades físicas apresentadas pelo bambu, principalmente, aos elevados

números relacionados à capacidade de suporte aos vários esforços, este material tem sido usado

para diversos fins, desde a construção de pequenos muros, casas, abóbadas de grandes templos,

pontes e aquedutos, entre outros.

Lopez (1974) apresenta as propriedades físicas do bambu destacando a capacidade de

resistência do mesmo aos diversos esforços, relacionando um bom número de espécies. A boa

performance deste material vem motivando o uso do mesmo como elemento estrutural, inclusive
58

como reforço do concreto, substituindo o uso convencional do ferro em estruturas de pequeno

porte.

No capítulo destinado à arquitetura, Lopez (1974), destaca, entre outros pontos, os

sistemas de construção em bambu empregados na Colômbia, o uso e a influência do bambu na

arquitetura hindu, o bambu na arquitetura japonesa, as espécies de bambu de maior uso na

construção, o uso do bambu nos jardins japoneses, a deformação artificial do bambu, os

materiais de construção obtidos do bambu, das estruturas espaciais de bambu, o uso do bambu na

construção de elementos de concreto, e as vantagens e desvantagens do emprego do bambu na

construção.

Iniciativas têm sido tomadas para a utilização do bambu na construção, visando diminuir o

custo final e utilizar materiais ambientalmente corretos, conforme Figura 16.

FIGURA 16 – EDIFICAÇÃO EM BAMBU, COM PAINÉIS MONOLÍTICOS ARGAMASSADOS, EM MACEIÓ, ALAGOAS


Foto do autor - dezembro de 2004

A construção da foto é uma moradia de interesse social com 38 m², construída no bairro de

Bebedouro, em Maceió doada no dia 14/11/03 a uma família carente, como resultado de uma
59

parceria entre o Instituto do Bambu, a Universidade Federal de Alagoas e o Serviço Brasileiro de

Apoio as Pequenas e Médias Empresas – SEBRAE, visando disseminar o uso do bambu na

construção civil em áreas urbanas

A habitação, onde mora uma família de 4 pessoas, foi visitada pelo autor deste trabalho em

2004 e em 2005. Nesta obra, a vedação vertical foi feita com painéis de bambu do tipo

“esterilha”, de ambos os lados e revestida com uma argamassa convencional.

Em maio de 2005, o Instituo inovou construindo uma casa usando o “sistema pré-fabricado

de bambu com microconcreto”, conforme Figura 17. A casa serve de oficina para artesões que

fabricam instrumentos musicais, tendo como matéria prima básica o bambu e está na área da

Universidade Federal de Alagoas, onde funciona a sede do Instituto

FIGURA 17 – EDIFICAÇÃO EM BAMBU, COM PAINÉIS EM MICROCONCRETO, EM MACEIÓ, ALAGOAS


Foto do autor - janeiro de 2005

Considerando ser o Instituto do Bambu o órgão mais próximo de Salvador, cujo objetivo é

pesquisar e desenvolver a tecnologia do uso do bambu, principalmente, como material de

construção, durante o desenvolvimento deste trabalho o autor visitou o mesmo, fazendo contato

com o corpo técnico, buscando informações sobre os tipos de bambus por ele utilizado, a origem
60

dos mesmos e o de trabalho que estava sendo desenvolvido. Para abrigar a sede do Instituto mais

uma casa foi construída, usando-se o sistema pré-fabricado com painéis de microconcrteto,

conforme Figura 18

FIGURA 18 – EDIFICAÇÕES EM BAMBU, COM PAINÉIS EM MICROCONCRETO, EM MACEIÓ, ALAGOAS

Foto do autor - janeiro de 2005


Segundo o Instituto, a construção apresentou um custo 40% inferior ao das casas

convencionais, inovando o sistema anterior que aplicou o reboco no local sobre painéis de

bambu, caracterizando painéis monolíticos. Agora, a nova construção inova com fechamento de

painéis pré-fabricados, em placas confeccionadas em forma metálica, com encaixes macho e

fêmea, usando uma argamassa denominada de “microconcreto”. O novo material é composto por

uma mistura de cimento, areia, cal, borracha moída (resíduo de pneus) e bambu triturado.

Entre as atividades desenvolvidas pelo Instituto do Bambu está a fabricação de viveiros

marinhos. A estrutura dos viveiros é de bambu, sendo as peças impermeabilizas de forma

simples e a custo baixo. A técnica utiliza garrafas plásticas já descartadas, que são cortadas na

parte superior e na inferior, sendo introduzidas nas peças de bambu de modo a ficarem

sobrepostas. Em seguida, as garrafas são aquecidas com um secador de cabelos até atingirem o

ponto de fusão do plástico que adere à superfície do bambu, conforme Figura 19. Pode-se aplicar
61

esta solução na técnica mista para impermeabilizar as partes dos esteios e das peças verticais do

entramado em contato com o solo

FIGURA19 – BAMBU IMPERMEABILIZADO COM GARRAFAS PLÁSTICAS


Foto do autor – janeiro de 2005

Entre ourtras construções com bambu, no Brasil, tem-se o atelier do artista José Joaquim

Sansano, em Pindorama, São Paulo, edificado em 1993 e o Memorial da Cultura Indígena, com

365 m², do arquiteto David Rees Dias, construído em Campo Grande, Mato Grosso do Sul,

conforme Figura 20, estruturado com bambu e coberto com piaçava.

FIGURA 20 – MEMORIAL DA CULTURA INDIGENA, CAMPO GRANDE-MS


Fonte: http://www.uniderp.br/Atlas/indig3.jpg Em 25/07/06
62

3.2 BAMBU: CLASSIFICAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA, GENEROS E

ESPÉCIES

Lopez (1974, p.6), estabelece que botanicamente o bambu está classificado como

“bambuseae”, um grupo da extensa família Graminae. Devido às características do seu caule,

Gaion, Paschoarelli e Pereira (2006, p.2) classificam o bambu como planta lenhosa,

monocotilédone, e pertencente às angiospermas, tendo como denominação científica

“bambusae” e subfamília das “gramínae”. Para Graça (1988) essa gigantesca gramínea é

largamente utilizada em várias regiões do mundo, fazendo parte da cultura de chineses,

japoneses, filipinos, indianos e latino-americanos, entre outros. Falando sobre o campo de

utilização do bambu, Graça (1988) afirma que o mesmo pode ser consumido como saborosa

iguaria, transformado em matéria-prima para papel e celulose, amido, álcool, instrumento

musical, móveis, etc. Ainda segundo Graça (1988), o bambu tem aplicação no campo da

tecnologia aeroespacial, sendo utilizado pela NASA como isolante de naves espaciais.

Geograficamente a distribuição natural do bambu é bastante heterogênea, tanto em

quantidade como em variedade de espécies. No mundo, o sul da Ásia e ilhas vizinhas são as

regiões de maior concentração do bambu e onde seu emprego está mais desenvolvido.

A quantidade de gêneros e espécies de bambu varia a depender das fontes de pesquisa.

Para Makino e Nemoto, segundo Lopez (1974), existem no mundo 47 gêneros e 1.250 espécies.

A variação decorre em função da classificação botânica de um vegetal considerar, geralmente, a

morfologia de suas flores e frutos, e certas espécies de bambu florescem apenas uma vez durante

sua existência e desaparecem em seguida. A Figura 21 ilustra as partes do bambu que é formado

pelo rizoma, parte subterrânea, e pelo colmo, galhos e folhas, parte aérea.
63

COLMO, GALHOS E FOLHAS

RIZOMA

FIGURA 21 – PARTES E SUBPARTES DO BAMBU


Fonte: http://www.bambubrasileiro.com/info/plantio Em 25/07/06

Os rizomas podem ser classificados como leptomorfo, paquimorfo ou metamorfo. O

rizoma leptomorfo é predominante de climas temperados e apresenta usualmente diâmetro menor

que do colmo correspondente, tem forma cilíndrica, sendo a seção interrompida nos nós por um

diafragma. A Figura 22 representa a configuração de um rizoma leptomorfo.

FIGURA 22 – RIZOMA LEPTOMORFO


Fonte: http://www.bambubrasileiro.com/info/plantio Em 10/10/06

O rizoma paquimorfo cresce em touceiras, é curto e grosso, de forma curva, raramente

esférica e com espessura máxima usualmente maior do que a do colmo, abrangendo bambus de

clima tropical. Temos como exemplo de paquimorfo os bambus do gênero Bambusa e

Dendrocalamus, conforme configurado na Figura 21.


64

O rizoma metamorfo ou intermediário não se adapta nem ao leptomorfo nem ao

paquimorfo, sendo a transformação de um em outro. A ilustração da Figura 23 apresenta o n° 5

como rizoma metamorfo, uma mescla entre o leptomorfo e o paquimorfo.

FIGURA 23 – RIZOMAS LEPTOMORFOS, PAQUIMORFOS E METAMORFO (O N° 5)


Fonte: http://www.bambubrasileiro.com/info/plantio Em 10/10/06

A propagação do bambu acontece principalmente de forma assexuadamente pela

ramificação dos rizomas (sistema radicular do bambuzal), dos colmos ou galhos. Os colmos são

a parte que mais facilmente distingue uma espécie de outra por terem tamanhos, diâmetros, cores

e texturas diferenciadas.

Segundo Lopez (1974), o bambu tem origem que remonta o final do período Cretáceo e

início do período Terciário, ou seja, em torno de 65 milhões de anos atrás. Geograficamente

essas espécies são encontradas nas áreas tropicais, sub-tropicais e temperadas, com exceção da

Europa, onde não existe espécies nativas. A distribuição aproximada de bambus nos continentes

é de 3% na África, 30% nas Américas e 67% na Ásia e Oceania.

Cerca de 440 espécies de bambu, divididas em 41 gêneros existem nas Américas,

distribuídas desde a América do Sul, entre Argentina e Chile, até o México e sul dos Estados

Unidos. No Brasil, aproximadamente 200 dessas espécies são nativas, existindo muitas espécies

a serem identificadas. Os anexos 1 e 2 relacionam os bambus existentes no Brasil, sendo que o


65

anexo 1 apresenta as espécies nativas no Brasil, com destaque para as da Bahia e no anexo 2 as

espécies originárias de outros países e cultivadas no Brasil.

No Brasil, em função do quase abandono do uso da taipa de mão na atualidade, e do

desconhecimento generalizado sobre as propriedades do bambu como material de construção,

temos pouco registro do uso deste material em construções de técnica mista.

3.3 TIPOS DE BAMBU MAIS USADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Para Graça (1988), os bambus mais utilizados na construção são o Phyllostachys, o

Guadua, o Bambusa tuldoides, o Dendrocalamus giganteus, o Bambusa tulda e o Dendrocalamus

asper. Para Lopez (1974), as espécies nativas e cultivadas nas Américas de maior uso na

construção são: o Chusquea spp, o Bambusa aculatea (Guadua aculatea), o Bambusa

amplexifólia (Guadua amplexfolia), o Bambusa superba (Guadua superba) e o Bambusa guadua

(Guadua angustifólia). O Guadua superba é encontrado no Brasil. Lopez cita ainda outras

espécies usadas na construção originarias da Ásia e cultivadas nas Américas, a saber: Bambusa

textilis, Bambusa tuldoides e Bambusa vulgaris. Quanto ao Bambusa vulgaris, Lopez chama a

atenção para o fato de que o mesmo é propício ao ataque de insetos.

. Cultivado inicialmente para atender à fabrica de celulose instalada no município de Santo

Amaro da Purificação, o Bambusa vulgaris, em função da facilidade de propagação da gramínea

que é, expandiu-se por toda a área de São Sebastião do Passé e dos municípios vizinhos. Falta,

no entanto, o uso da cultura do bambu como material de construção, obedecendo-se os cuidados

referentes ao cultivo, à colheita, à cura e ao tratamento de forma correta, para evitar-se o

apodrecimento precoce do mesmo. Na entrada de São Sebastião do Passe, na via principal de

ligação com a BR-324, a aproximadamente 1 km do centro da cidade, já é encontrado bambu da

espécie vulgaris, conforme Figura 24.


66

FIGURA 24 – BAMBU A 1 Km DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor – 2006

3.4 TRATAMENTO DO BAMBU

O bambu, apesar de sua alta resistência, não está imune ao ataque de pragas e doenças.

Quanto mais sua seiva é rica em amido, como é o caso do bambu da espécie vulgaris, mais

atrativo ele oferece aos insetos. Dos insetos que atacam o bambu, dois são os mais comuns a

broca do bambu (Dinoderus minutus) e o cartucho do bambu (Rhinastus lastistermus). São

insetos minúsculos, que atacam transformando a parte lenhosa do bambu em pó.

Os maiores inconvenientes para o uso do bambu e da madeira como materiais de

construção são os ataques pelos insetos destruidores, por fungos e pelo fogo. Enquanto

elementos de bambu ou de madeira não tratados exigem ser trocados aproximadamente a cada
67

dois ou três anos, os que recebem tratamento com substâncias de preservação aumentam a vida

útil para quinze anos ou mais

Para Graça (1988), ainda durante o período de cultivo faz-se necessário a preservação

contra o aparecimento de pragas e doenças, evitando-se sérios prejuízos para toda a plantação.

Para tanto, pode-se fazer o controle através da remoção manual dos insetos adultos e da

destruição das larvas novas (processo natural) ou sob a orientação de técnico especializado,

agrônomo de confiança, ou de órgão agrícola usando método de aplicação de inseticida.

Vários são os métodos de tratamento do bambu com a finalidade de, após o corte,

aumentar a durabilidade do mesmo, sem perda de suas qualidades mecânicas e estéticas. Os

métodos são divididos em dois tipos: métodos químicos e naturais ou não químicos

Cada vez mais pesquisadores buscam métodos naturais para o tratamento do bambu,

usando substâncias como o Neem, tiririca, eucalipto e tantino da acácia negra.

Entre os produtos químicos mais usados na atualidade, destacam-se o CCA (cobre, cromo

e arcênico), o Pentox, o Bórax (com ácido bórico), solução de cal e octaborato. Por propiciarem

boa retenção e possuírem baixa toxidade os preservativos à base de boro são os mais

recomendados.

Com base em Lopez (1974), Antunes (1983), Cardoso Junior (2002), Legen (2002), e

Graça (1988), apresenta-se a seguir os modos de tratamento do bambu mais aplicados.

Os métodos naturais são muito utilizados, apresentam custo baixo e fácil execução,

podendo ser empregados pelos próprios usuários, porém, não têm eficácia reconhecida

cientificamente. Entre os métodos naturais mais utilizados podemos citar o método de tratamento

na mata, o esfumaciar, a lixiviação com água e o tratamento com calor.

Fazer corretamente uma relação entre os métodos e técnicas é fundamental para o

tratamento do bambu. Existem métodos de tratamento em que o bambu deve estar verde, como
68

os métodos de tratamento por osmoses, por capilaridade e por difusão. Outros métodos, ao

contrário, exigem que o bambu esteja seco, como os tratamentos por imersão, por vácuo e por

pressão.

3.4.1 Tratamentos naturais

3.4.1.1 Cura

Segundo Antunes (1983), a cura é um processo de eliminação da seiva e redução do amido

que, se não removido, serve de atrativo para os insetos xilógafos que, com estes componentes e

mais a umidade encontram ambiente propício para sua propagação. Segue-se os principais

métodos de cura do bambu, conforme Lopez (1974), a saber:

a. Cura na mata

A cura na mata é uma maneira de obter a redução do amido pela simples transpiração das

folhas. O processo consiste em se cortar o colmo e deixá-lo na touceira encostado nos colmos

não cortados e apoiado sobre uma pedra, para não ter contato com o solo, devendo ficar na

vertical. O colmo cortado fica assim durante um período entre quatro e oito semanas, a depender

das condições climáticas. É aconselhável a aplicação de uma solução inseticida na área de corte

para evitar o ataque de brocas. Um dos indicativos que a cura está chegando é a queda de suas

folhas. Esta é a cura mais recomendada por preservar mais a cor e não sofrer ataques de fungos.

b. Cura por imersão

Método que consiste em manter os colmos submersos em água num tanque ou rio durante

no mínimo quatro semanas ou no máximo oito semanas. Após retirados da água, os colmos são

colocados para secar ao ar livre em locais abertos e ventilados. Este não é dos mais eficientes

métodos, pois, caso o colmo permaneça submerso mais tempo que o necessário, as peças ficam

quebradiças, com rachaduras e podem aparecer manchas.


69

c. Cura com calor

Faz-se a cura com calor sobre um braseiro, onde a aproximadamente 40 cm acima das brasas

são colocados os colmos e estes deverão ficar em movimento giratório em torno de seu próprio

eixo, de modo a evitar a queima da peça. Também, pode ser feito com o uso de um maçarico,

sendo que com o maçarico, a cura é feita peça por peça.

Durante o tratamento a seiva sai pelos extremos dos colmos em forma de vapor ou bolhas.

O banho de calor torna as paredes duras, dificultando o ataque de insetos. O inconveniente desse

tratamento é que o calor pode produzir contrações e rachar o bambu.

3.4.1.2 Secagem

Para evitar rachar e trazer inconvenientes para o uso do bambu, faz-se necessário, após a

cura, promover-se a secagem do mesmo. É uma operação que deve ser realizada com cuidado,

pois o bambu racha com muita facilidade se não forem tomados os devidos cuidados. De modo

geral, a secagem conduz a uma melhora em todas as propriedades de resistência mecânica e pode

ser realizada de várias maneiras. Lopez (1974) apresenta 3 formas de secagem:

a. Secagem ao ar

Em local abrigado da chuva, do sol, bem ventilado e seco, os colmos são empilhados sobre

suportes acima do solo de pelo menos 30 cm. O empilhamento deverá ser feito em camadas,

sendo colocadas peças perpendiculares, de apoio sobre cada camada para empilhamento da

camada seguinte. Nas pilhas, os colmos devem ficar, entre si, no mínimo metade de seu

diâmetro, de modo a garantir ventilação. Ao ar livre, não se tem um tempo exato a ser prescrito

para secagem das peças. Estima-se entre seis e doze semanas o tempo para secar, adquirir

resistência e evitar fissuras.


70

b. Secagem ao fogo

Processo semelhante à cura com calor. Recomenda-se que antes do processo a umidade da

peça seja reduzida a 50%. Esse processo, além de eliminar os resíduos do bambu, serve para

alinhar peças que tiveram uma má formação.

c. Secagem em estufas

É semelhante ao processo de secagem em estufa utilizado para madeiras. Oferece maior

controle sobre a umidade e é mais rápido. Numa estufa convencional o tempo de secagem é de

duas a três semanas.

3.4.2. Tratamento químico preservativo

Assim como a madeira, algumas espécies de bambu são mais propensas que outras ao

ataque de fungos e insetos, devendo, portanto, ser tratadas com produtos inseticidas e fungicidas.

Quando para determinada espécie de bambu o tratamento natural não gera resultado satisfatório,

via de regra, produtos químicos são usados para impedir a vida e o desenvolvimento de

micoorganismos que atacam o bambu. Esses produtos químicos não devem alterar as

características físicas e mecânicas do bambu; devem ser dissolvidos em água; ser líquido, de

modo a facilitar as aplicações; ser inodoro e não expelir substâncias tóxicas após aplicação; e

produzir o mínimo possível de resíduo tóxico no meio ambiente. Entre as formas de impregnação

desses produtos, as principais são:

a. Fervura

Consiste em ferver o bambu em água pura ou com solvente de outros produtos. Para cada

grupo de fervura deve-se manter um período de 15 a 60 minutos. Antes da fervura recomenda-se

passar um pano ou estopa molhada de óleo diesel no bambu. Um dos produtos usados na solução
71

é a soda cáustica misturada com água, na proporção de 10 litros de água para 1 litro de soda

cáustica, tendo como tempo de fervura 15 minutos.

b. Substituição da seiva

Método simples que deve ser efetuado logo após o corte e sem retirada das folhas. Corta-se

o colmo e encosta-o na moita o mais vertical possível e, ao cessar o gotejamento da seiva na

região do corte, coloca-se, na base do colmo, um recipiente com solução preservativa. A solução

é absorvida até as parte mais altas devido à transpiração das folhas. A duração do tratamento

depende das dimensões do colmo.

c. Difusão por encharcamento vertical

Para efetuar o tratamento as peças devem ser cortadas com tamanho superior ao tamanho

final a ser utilizado. Em seguida, com uma verga de ferro comprida, fura-se os nós (diafragmas),

com exceção do último que servira como tampão da peça. Derrama-se a solução preservativa

(normalmente um borato) dentro de cada peça, enchendo-a por inteiro. Doze dias após,

completa-se cada peça com a solução. Três dias depois de completada a solução, ou seja, quinze

dias após o primeiro enchimento da peça, o último nó é rompido e deixa-se a solução escorrer

por um filtro para dentro de um recipiente. A solução do recipiente pode ser reutilizada, desde

que se corrija a quantidade de boro na solução.

d. Impregnação por imersão

Para realizar o processo faz-se necessário um tanque para imersão das peças de bambu.

Uma forma prática e muito utilizada para se construir o recipiente de imersão é serrar barris de

chapa de ferro, de 200 litros, ao meio e soldá-los. Coloca-se no recipiente uma solução

preservativa onde as peças ficam por um período maior ou igual a 5 semanas. Esse tempo

depende do estado em que se encontram as peças. Segundo Cardoso (2000), o tempo de imersão

para as peças rachadas pode ser reduzido em um terço ou até metade do tempo normal,
72

conseguindo-se ótimo resultado. Chama-se a atenção para esse método, pois não foram

encontradas soluções adequadas ecologicamente, o que torna o processo inviável.

e. Pressão hidrostática

Este método é aplicado a bambus recém cortados, cuja seiva está em movimento. Baseado

no princípio físico da gravidade, a seiva corre de um recipiente posicionado superior ao bambu e

é retirada pela outra extremidade da peça, durando o tratamento entre 5 e 6 dias. Segundo Lopez

(1974, p. 100), Boucherie em 1873 idealizou este método, sendo o mesmo aprimorado em 1953

por Purushotham, Sudam y Sagar que desenvolveram o Método de Pressão Hidrostática de

Boucherie, dando origem ao Tratamento a Pressão pelo Método de Boucherie Modificado.

f. Tratamento a Pressão pelo Método de Boucherie modificado

O tratamento é feito de forma pressurizada de modo a fazer passar a solução química

através dos colmos e fibras do bambu. Utiliza-se uma bomba de ar comprimido que pressuriza

um tanque com saídas de canalizações para mangueiras adaptadas às extremidades do bambu.

Peças de bambu recém cortadas e com alto teor de umidade facilitam o tratamento por

substituição da seiva. Cuidados especiais devem ser tomados quando do manuseio dessas

substâncias químicas que são tóxicas e podem, se não devidamente manipuladas, afetar a saúde

do operador, contaminar o solo e a água.

g. Injeção pelos colmos

A substância preservativa é injetada em cada entrenó com seringa ou outro dispositivo que

possibilite a aplicação. Para tanto são feitos furos em ziguezague, um em cada nó.
73

4. METODOLOGIA

4.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Resolveu-se por pesquisar o aspecto tecnológico do tema casa de técnica mista,

juntamente com aspectos sócio-econômicos relevantes para o estudo em questão.

Extensa, é a amplitude de questões a serem pesquisadas cientificamente abordando a

técnica. Poder-se-ia pesquisar sobre a segurança estrutural, intrusão, conforto térmico, acústico,

lumínico, sobre os materiais a serem empregados no interior e exterior da construção. Em vista

do exposto, optou-se por pesquisar o aspecto tecnológico referente a vedação vertical da técnica

mista, por ser o seu principal subsistema. Também é relevante a diversidade de funções que a

vedação vertical desempenha no sistema construtivo de técnica mista, podendo ser apenas de

vedação, de vedação estrutural, ou de elemento visual, como pano de fundo, ressaltado pela cor e

textura. Neste trabalho, resolveu-se pesquisar melhorias tecnológicas referentes à vedação

vertical da habitação em técnica mista, levando-se em consideração aspectos como: segurança

estrutural, estanqueidade aos ventos e chuvas e à propagação de doenças, materiais alternativos

para a trama que recebe o solo e melhoria do processo construtivo.

Grande é a gama de informações relacionadas aos aspectos sócio-econômicos, porém,

neste trabalho foi pesquisado, no contexto da área de estudo, apenas informações referentes à

população que ocupa a área, à ocupação dos chefes de família e à renda familiar, para

caracterizar o tipo de usuário e saber se de fato trata-se de comunidade de interesse social, além

de informações sobre a existência de insetos, principalmente do “barbeiro”, vetor transmissor da

doença de Chagas.
74

4.2 IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Esta pesquisa levantou como variáveis de estudo:

● o perfil de usuários das habitações de técnica mista no bairro do Alegre;

● o material adotado na trama de vedação vertical;

● o tipo de solo adotado para enchimento da trama; e

● o tipo de revestimento das vedações verticais.

4.3 ESTÁGIOS DA PESQUISA

Este trabalho foi desenvolvido envolvendo os seguintes estágios: estágio da pesquisa

bibliográfica; estágio de investigação sobre a utilização atual da técnica mista; e o estudo de

caso

4.3.1 Estágio da revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica acompanhou todo o período deste trabalho, desde a concepção do

projeto de pesquisa até a entrega para a defesa da dissertação. Foi realizada com base na

produção existente na área, constituída de livros, artigos, dissertações e teses, disponibilizadas

em formato papel e Internet. Para concretização dos objetivos deste trabalho foram

desenvolvidas duas fontes de pesquisa bibliográfica: a primeira apoiada na revisão bibliográfica

sobre técnica mista, com revisão da literatura, análise e interpretação do conteúdo relacionado ao

tema construções com o material solo e técnica mista; e a segunda, também embasada na revisão

bibliográfica, contemplando o estudo da técnica mista estruturada com bambu.


75

4.3.2 Estágio de investigação sobre a utilização atual de técnica mista

Considerando ter sido Portugal o país que trouxe para o Brasil a técnica mista, no período

compreendido entre dezembro de 2003 e maio de 2004, foi realizada uma investigação no

território português sobre a forma atual de execução da técnica mista naquele país. Neste

período, a parte de estudos bibliográficos foi desenvolvida na Universidade de Évora, junto ao

Departamento de Planeamento Biofísico e Paisagismo, sob a orientação do Professor Dr.

Virgolino Ferreira Jorge, tendo como colaboradoras as arquitetas Mariana Correia e Maria

Fernandes, ambas integrantes do PROTERRA

Na oportunidade, foi realizada uma visita, em dezembro de 2003, a uma exposição de

trabalhos referentes à “construção com terra crua” na Escola Superior Gallaecia, em Vila Nova

de Cerveira; uma conferência sobre “arquitetura em terra, herança e futuro”, em 18 de abril de

2004, na Câmara Municipal da cidade de Moura, onde aconteceu também, uma exposição sobre

“terra na arquitetura Ibero-Americana”; outra conferência, em 8 de maio de 2003, no Salão

Nobre da Câmara Municipal da cidade de Évora; uma exposição sobre “a terra na arquitetura”,

em 9 de maio de 2003, na Galeria do INATEL em Évora; e uma visita a campo no norte de

Portugal, onde se encontram bastantes exemplares de técnica mista (tabiques), incluindo as

localidades de Alpedrina, Fundão, Covilã, Guarda, Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, Lamego,

Tarouca, Ucanha e Salzedas. Entrevista com setores técnicos e pessoas das localidades,

levantamento fotográfico e levantamento cadastral de edificação em técnica mista foram

realizados procurando-se criar um paralelo entre a técnica mista existente na atualidade nos dois

países

No Brasil, fazendo parte das investigações de campo durante o período que antecedeu a

preparação para coleta das evidências até a etapa de elaboração do relatório sobre o estudo de

caso, foram realizadas investigações sobre a técnica mista. Isto aconteceu no Município
76

alagoano de Palmeira dos Índios, contemplando exemplares existentes na sede e na localidade do

Moreira, assim como na cidade de Salvador, Estado da Bahia, no bairro de Brotas. Assim como

na pesquisa de campo em Portugal, as fontes de evidência utilizadas foram entrevistas com

pessoas das localidades que habitam casa em técnica mista e com mestres taipeiros, assim como,

levantamento fotográfico e, levantamento cadastral de edificações.

4.3.3 Estágio do estudo de caso

O estudo de caso ocorreu entre agosto de 2005 e novembro de 2006. Contemplou a fase

preparatória: a coleta de evidências, a análise das evidências e o relatório. Na fase preparatória

foram defendidas as questões a serem aplicadas junto à comunidade a ser investigada, foi

delimitada a poligonal da área de estudo e foram incorporadas ao mapa do IBGE (que continha

apenas a via principal) as construções existentes na poligonal. A fase de coleta das evidências

compreendeu o trabalho das entrevistas, dos croquis referentes às plantas e corte das edificações,

da observação direta e das fotografias, além da retirada de amostras para caracterização do solo e

para reconhecimento da espécie de bambu existente nas imediações da área. A análise das

evidências foi realizada com base na estratégia lógica de descrição do caso, onde se procurou

primeiro examinar os dados, categorizar e classificar para em seguida desenvolver a análise dos

mesmos usando a técnica de construção da explanação. A estrutura adotada foi a analítica linear,

tendo como meta conduzir as constatações e resultados do caso para a conclusão do mesmo.
77

4.4 ESTUDO DE CASO

Como e por que estabelecer recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical

na técnica mista em habitações de interesse social no bairro do Alegre em São Sebastião do

Passe? As duas perguntas apontam para um enquadramento da pesquisa usando como estratégia

preferida o estudo de caso, ou seja, uma investigação empírica onde o foco se encontra em

fenômenos contemporâneos inseridos em contexto da vida real, conforme estabelece, YIN (p.19

e 32)

Segundo Yin (1994), nos últimos anos, a avaliar pelo crescente número de projetos de

investigação que utilizam como método o estudo de caso, o mesmo tem ganho elevada

popularidade como método investigativo. O tópico das “decisões” como foco principal dos

estudos de caso pode ser evidenciado da seguinte forma,

A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos


de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto
de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram
implementadas e com quais resultados (SCHRAMM, 1971 apud YIN,
2005, p.31)

Esta pesquisa procura esclarecer as decisões tomadas com vistas a estabelecer

recomendações de melhoria tecnológica da vedação vertical da técnica mista em habitação de

interesse social, e usa como meio de implementação uma cartilha a ser distribuída em formato

papel para a comunidade estudada e disponibilizada em meio digital, via Internet.

As características tecnicamente importantes para a lógica do planejamento de um estudo

de caso podem ser expostas segundo duas definições. Na primeira, a definição técnica começa

com o escopo de um estudo de caso:

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um


fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos. (YIN, 2005, p.32)
78

Neste trabalho o fenômeno de investigação é a técnica mista, com o foco voltado para as

vedações verticais, tendo como contexto da vida real o bairro do Alegre em São Sebastião do

Passe.

Como nem sempre fenômeno e contexto são discerníveis em situações da vida real, um

conjunto inteiro de outras características técnicas, como a coleta de dados e as estratégias de

análise de dados, exigem a segunda definição técnica:

A investigação de um estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente


única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de
dados, e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências, com
os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como
outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições
teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. (YIN, 2005 p.33)

Neste estudo de caso as proposições teóricas para condução da coleta e análise dos dados

tiveram como referência os estudos bibliográficos, a observação direta e o conhecimento prévio

do pesquisador sobre os elementos tecnológicos da técnica mista e em particular a tecnologia de

se construir as vedações verticais.

Com relação aos propósitos básicos de um estudo de caso, Yin (1994) afirma que o

mesmo pode ser conduzido com o propósito de: explorar, descrever ou explicar. Para o autor,

unir a teoria sobre o objeto de estudo facilita a resolução dos projetos de estudo de caso e ajuda a

deixá-los mais explícitos. Este estudo de caso teve como propósito descrever a situação sócio-

econômica dos moradores que habitam casas em técnica mista no bairro do Alegre em São

Sebastião do Passe, e os problemas tecnológicos da técnica mista, em particular os problemas da

vedação vertical, buscando recomendar as melhorias para problemas diagnosticados, dentro das

condições sócio-econômicas.

Assim como os experimentos, os estudos de caso são passíveis de serem ampliados por

proposições teóricas. Segundo Yin (2005, p.30), “o estudo de caso como experimento, não
79

representa uma “amostragem”, e, ao fazer isso, seu objetivo é expandir e generalizar teorias

(generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística)”.

4.4.1 Fase preparatória

Para Philliber, Schwab & Samsloss (1988) apud Yin (2005, p.41), uma maneira de se

pensar em um trabalho de pesquisa exige, pelo menos responder a quatro problemas: “quais

questões estudar, quais dados são relevantes, quais dados a coletar e como analisar os

resultados”.

Neste estudo de caso foram levantadas as questões relacionadas à técnica mista e em

particular à vedação vertical da técnica mista praticada no bairro do Alegre. Foram considerados

relevantes dados referentes ao perfil sócio-econômico da população do estudo de caso, dados

referentes às construções em técnica mista e dados referentes ao subsistema vedação vertical.

Dentro das questões a serem estudadas e com base nos dados considerados relevantes foram

enumerados os dados a serem coletados, conforme apresentado no Apêndice A

As questões deste trabalho estão relacionadas com a pergunta: como e por que estabelecer

recomendações para melhoria tecnológica da vedação vertical na técnica mista em habitação de

interesse social, no bairro do Alegre, em São Sebastião do Passé?

Para responder a pergunta foco do trabalho foram verificadas questões sobre: o perfil

sócio-econômico dos habitantes das edificações em técnica mista referente à área de estudo; os

elementos das construções, como área construída, número de pavimentos, cômodos existentes,

tempo de construção e construtor; o sistema construtivo, envolvendo os subsistemas fundação e

estrutura das edificações, vedação vertical, cobertura, piso e instalações; as patologias das

construções; e outras informações sobre ampliação e reforma, orientação das construções,


80

impermeabilização entre piso e paredes, nível de satisfação dos usuários das moradias e uso do

bambu na técnica mista.

A partir das respostas sobre as questões estabelecidas, proposições foram feitas visando

uma análise das mesmas no sentido de verificar se cada proposição estava voltada para o objeto

de estudo, ou não.

A unidade de análise é a componente relacionada com o problema fundamental de se

definir o que é um “caso”. Yin (2005, p.44) estabelece, “como orientação geral, sua tentativa de

definição da unidade de análise (e, portanto, do caso) está relacionada à maneira como você

definiu as questões iniciais da pesquisa”. Neste trabalho, as questões iniciais da pesquisa dizem

respeito a melhorias da vedação vertical em técnica mista para habitações de interesse social,

sendo eleita como unidade de análise a poligonal estabelecida para investigação no bairro do

Alegre, em São Sebastião do Passé. O estudo de caso foi desenvolvido entre agosto de 2005 e

novembro de 2006, tendo como foco a população que habita as casas de técnica mista, as

características da técnica mista no Alegre, o método construtivo e a possibilidade de uso do

bambu. Referente à população, pesquisou-se a quantidade da mesma, as faixas etárias, sua renda

familiar e a ocupação dos chefes de família. Quanto às características da técnica mista,

verificou-se o tipo de solo local, tipo de madeira, o tempo de construção das habitações, as

reformas e ampliações, as áreas das habitações, a situação dos revestimentos, da pintura, os

materiais de cobertura, o número de águas da cobertura, as instalações elétricas, telefônicas, de

água potável e de esgoto, o estado de conservação das habitações e o nível de satisfação dos

usuários. Sobre o método construtivo, indagou-se sobre o preparo do terreno, a locação e fixação

dos esteios, a execução da vedação vertical, da cobertura, do piso, das instalações elétricas, da

água potável e do esgotamento sanitário. A respeito da possibilidade de uso do bambu foi

perguntado quem já usou, se conhece alguém que já usou e se usaria em sua casa.
81

Num estudo de caso existe uma etapa que prenuncia a análise de dados na pesquisa,

devendo haver um projeto de pesquisa dando base a essa análise. Yin (2005, p.47), afirma que

“uma abordagem promissora para os estudos de caso é a idéia da “adequação ao padrão” descrita

por Donald Campbell (1975), por meio da qual várias partes da informação do mesmo caso

podem ser relacionadas à mesma proposição teórica”.

A primeira estratégia relacionada à lógica que une os dados às proposições neste estudo de

caso foi seguir as proposições teóricas que motivaram o estudo. A partir da questão principal

(como e por que estabelecer recomendações para a melhoria tecnológica da vedação vertical da

técnica mista?) foram estabelecidas proposições, como: estudar a situação sócio-econômica da

população; estudar as características da técnica mista no Alegre; estudar o método construtivo e

a possibilidade de uso do bambu na técnica mista. A segunda estratégia foi ter o cuidado de se

certificar de que os dados que seriam coletados poderiam ser analisáveis.

Como critério para interpretar as constatações, o estudo de caso em questão usou a

recombinação das evidências quantitativas e qualitativas, a base teórica pesquisada e o

desenvolvimento da descrição do caso.

Como teoria para o trabalho de planejamento desta dissertação, foram desenvolvidos

componentes de pesquisa vistos anteriormente. Segundo Yin (2005, p.49), “forçará efetivamente

a iniciar uma formulação de uma teoria preliminar relacionada ao seu tópico de estudo”. Neste

trabalho foi realizada uma base teórica sobre a técnica mista e a técnica mista estruturada com

bambu visando à formulação de uma teoria preliminar relacionada com as recomendações para

melhoria tecnológica da vedação vertical em técnica mista em habitação de interesse social.

Segundo Yin (2005, p.49), “para os estudos de caso, o desenvolvimento da teoria como parte da

fase de projeto é essencial, saber se o propósito decorrente do estudo de caso é desenvolver ou

tratar a teoria”.
82

O objetivo da base teórica foi estabelecer uma direção suficientemente forte para

determinar quais os dados deveriam ser coletados e a estratégias de análise desses dados. Nesta

dissertação, os trabalhos existentes pesquisados foram suficientes para oferecer uma boa

estrutura teórica facilitando projetar o estudo de caso. Estando o estudo de caso em questão

apoiado na teoria descritiva, o seu interesse, segundo Yin (2005, p.50), deve se voltar a questões

sobre: “o propósito do trabalho descritivo; a ampla, porém realista, variedade de tópicos que

podem ser considerados uma descrição “completa” do que está sendo estudado; e o provável (is)

tópico (s) que será (ão) a essência da dissertação”. Continuando, Yin (2005, p.51) afirma que

“boas respostas a essas questões, incluindo o fundamento lógico subjacente às respostas, o

ajudarão a percorrer um longo caminho rumo ao desenvolvimento da teoria necessária”.

Os critérios para julgar a qualidade de qualquer pesquisa social empírica, segundo Yin

(2005, p.55-56), são quatro testes que vêm sendo utilizados: a validade do constructo; a validade

interna; a validade externa; e a confiabilidade.

A validade do constructo tem por finalidade adotar técnicas voltadas para validar os dados

coletados, a seqüência da narrativa e o resultado do estudo. Conforme Yin (2005, p.57), o usa de

fontes múltiplas de evidência, o encadeamento das evidências e a revisão do rascunho do

relatório de estudo por acompanhantes do estudo, são medidas necessárias.

Este estudo de caso usou fontes múltiplas de evidência (entrevista, observação direta e

fotografia), estabeleceu um encadeamento de evidências e usou o orientador, o co-orientador e

outros pesquisadores especialistas nos diversos temas abordados para revisar o rascunho do

mesmo.

A validade externa visa saber se as descobertas do estudo de caso são generalizáveis além

do estudo de caso imediato, logo, se faz necessário testar uma teoria e utilizar a lógica da

replicação em estudos de casos múltiplos.


83

A confiabilidade tem como objetivo minimizar os erros e os vieses de um estudo de caso.

Para o estudo de caso em questão foi desenvolvido um questionário contendo as evidências

relativas ao caso e elaborado um banco de dados com os elementos significativos. Segundo Yin

(2005, p.60), no passado, os procedimentos da pesquisa do estudo de caso foram escassamente

documentados, para tanto, como tática específica para superar essas deficiências recomenda-se o

uso de um “protocolo de estudo de caso” para dar conta da documentação e o desenvolvimento

de um “banco de dados” para o estudo em questão.

Os projetos sobre estudos de caso podem ser definidos como estudo de caso único ou

estudo de casos múltiplos. Porém, projetos referentes a estudos de caso único ou de casos

múltiplos podem refletir situações de projetos diferentes e dentro desses dois tipos pode haver

unidades unitárias ou múltiplas de análise, transformando os dois em quatro tipos de projetos.

Segundo Yin (2005, p.61), “os quatro tipos resultantes de projeto para estudo de caso são

projetos (holísticos) de caso único (Tipo 1), projetos (incorporados) de caso único (Tipo 2),

projetos (holísticos) de casos múltiplos (Tipo 3) e projetos (incorporados) de casos múltiplos

(Tipo 4)”.

Yin (2005, p.62-63) recomenda utilizar o estudo de caso único quando o mesmo representa

um dos fundamentos lógicos: o caso decisivo; um caso raro ou extremo; o caso representativo ou

típico; o caso revelador; e o caso longitudinal. Este projeto trata de estudo de caso único, cujo

fundamento lógico é o caso representativo ou típico, no qual, o objetivo é capturar as

circunstancias e condições de uma situação lugar-comum, ou seja, investigar melhorias

tecnológicas para a vedação vertical da técnica mista.

Alguns atributos são necessários para o pesquisador de caso. Yin (2005, p.83) estabelece

cinco pré-requisitos para um pesquisador de estudo de caso: ser capaz de fazer boas perguntas e

interpretar as respostas; ser um bom ouvinte e não ser enganado pelas próprias ideologias e
84

preconceitos; ser adaptável e flexível às situações encontradas, vendo-as como oportunidades e

não como ameaças; ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas; e ser imparcial

em relação a noções preconcebidas.

Para este estudo de caso foram desenvolvidos alguns modelos de questionário até chegar

ao formulário definitivo. Em toda a pesquisa de campo, assim como na pesquisa bibliográfica e

na coleta de dados, o pesquisador esteve sempre atento, tanto a ouvir como a verificar

evidências, o que aconteceu também durante a observação direta. O trabalho foi desenvolvido

sempre com o foco direcionado para o propósito inicial da investigação, sem necessidade de

adaptabilidade e flexibilidade para condução do estudo. A compreensão das questões estudadas

foi um pré-requisito fácil, tendo-se em vista o apoio da base teórica. Finalmente, o pesquisador

procurou estar atento a descobertas contrárias ao que comumente se esperaria.

4.4.2 Coleta das evidências

As evidências são os elementos básicos de um caso. Neste estudo, as entrevistas seguiram

a linha de investigação do pesquisador, refletindo o objetivo proposto e foram apoiadas em

questões reais de forma não tendenciosa. Todas as entrevistas foram realizadas em função da

disponibilidade dos respondentes, transcorreram espontaneamente, sendo usadas sempre

questões “amigáveis” e “não ameaçadoras”. A observação direta contribuiu com a coleta de

evidências, complementando informações não contidas no formulário de entrevista, como o

comportamento das vedações verticais em dias de chuva, nos quais, a umidade e a falta de

drenagem atingem de forma direta a casa de técnica mista, principalmente a vedação vertical.

Como artefato físico utilizou-se a fotografia que em muito ajudou a esclarecer e confirmar

evidências detectadas nas entrevistas e na observação direta, assim como contribuiu com novas

evidências.
85

A coleta dos dados, segundo Yin, (2005, p.124), deve atender a três princípios básicos:

“utilizar várias fontes de evidência; criar um banco de dados para o estudo de caso; e manter o

encadeamento das evidências”. Este estudo utilizou os três princípios. Trabalhou com três fontes

de evidências, ajudando o pesquisador a fazer frente ao problema de estabelecer a validade do

constructo e a confiabilidade do estudo; criou um banco de dados representativo das evidências

coletadas; e, por fim, procurou manter o encadeamento das evidências, de modo a permitir ao

leitor do estudo de caso acompanhar o mesmo, das questões iniciais à conclusão, dentro de uma

seqüência lógica

4.4.3 O método

O estudo de caso foi realizado em São Sebastião do Passé por ser uma cidade

relativamente próxima a Salvador (em torno de 60 km) e por contar com habitações de interesse

social, onde aproximadamente 50% das habitações são de técnica mista. Para definição da

poligonal de estudo em São Sebastião do Passé, o pesquisador investigou os bairros da cidade e

constatou “in loco” que o bairro do Alegre é o que tem o maior número de casas construídas com

técnica mista. Diante disto, foi determinada a escolha deste bairro como recorte na malha

urbana. Para a coleta de evidências foi estabelecida uma poligonal de 80.203 m², que abriga 233

construções, sendo 96 em técnica mista e 137 em alvenaria de bloco cerâmico. O questionário

foi aplicado de forma aleatória, em 24 habitações de técnica mista, sendo pesquisadas as

habitações que no momento tivessem um respondente

Para Pattou (1980), a pesquisa qualitativa é associada a dados qualitativos, abordagem

interpretativa e análise do caso ou conteúdo. Para Myers (2000), a pesquisa qualitativa busca

compreender os fenômenos a partir dos próprios dados, das referências fornecidas pela

população estudada e pelos significados atribuídos aos fenômenos. Estas definições reforçam a
86

importância dos dados na pesquisa qualitativa, exigindo a escolha adequada das fontes de

evidência e dos princípios para a coleta dos dados.

As questões levantadas através das entrevistas com os moradores contemplaram

a. Dados gerais sobre os habitantes

Nome do proprietário, endereço, número de habitantes do sexo masculino, número de

habitantes do sexo feminino, idade dos moradores, renda familiar e fonte de renda.

b. Dados gerais sobre a construção:

Área construída, número de pavimentos, cômodos, tempo de construção e construtor.

c. Dados gerais sobre o sistema construtivo:

Sobre os subsistemas fundação e estrutura, paredes, cobertura, piso e instalações.

d. Dados sobre patologias:

Sobre umidade, trincas, bolor,fendas e insetos.

e. Outras informações:

Sobre reforma e, ou ampliação da habitação, orientação da fachada,

impermeabilização entre piso e parede, nível de satisfação dos usuários das moradias

e se já usou, se conhece quem usa e se usaria em sua habitação o bambu como

material de construção

Os dados obtidos através de observação direta do pesquisador informaram a situação de

infra-estrutura da área de estudo e forneceram elementos para cadastrar o estado de conservação

das habitações contidas na poligonal. Como elementos de infra-estrutura anotou-se a existência

ou não de passeio, drenagem, rede de esgoto, de água, rede elétrica e telefonia. Como estado de

conservação foram observadas as 96 habitações da poligonal, adotando-se os referenciais a

seguir:
87

▪ casa em ruína: : edificação parcialmente desmoronada;

▪ casa em tombamento: edificação que não desmoronou, porém está

escorada para não desabar;

▪ casa em estado ruim: edificação sem reboco e sem pintura;

▪ casa em estado regular: edificação com reboco e com pintura apenas na

parede frontal; e

▪ casa em estado bom: : edificação totalmente rebocada, pintada e no

prumo, sem escoramento de qualquer natureza.

Os dados fotográficos retrataram trechos da poligonal, conjunto de edificações, detalhes de

patologias e os habitantes das 24 habitações que foram objeto de entrevista, inclusive as

habitações.

Como parte do estudo de campo foram retiradas amostras de solo na poligonal de estudo

com a finalidade de caracterização do mesmo, assim como amostras de bambu fora da poligonal

nas imediações da cidade, também com a finalidade de caracterização da espécie de bambu.

4.4.4 Análise das evidências

Este estudo procurou, na fase de análise dos dados, examinar, categorizar, classificar em

tabelas e recombinar as evidências, quando necessário, para tratar as proposições iniciais do

estudo. Para Yin (2005, p.143), “a melhor preparação para conduzir a análise de estudo de caso é

ter uma estratégia analítica geral”. O autor estabelece três estratégias baseando-se em:

proposições teóricas, explanações concorrentes e descrições do caso. Este estudo adotou como

estratégia analítica geral de análise das evidências uma estrutura descritiva visando estabelecer

um encadeamento das evidências.


88

O caráter descritivo apoiou-se em descrições compactas do caso, buscando um alcance

analítico e investigativo da situação, visando sempre detectar problemas e buscar soluções a

serem recomendadas.

“É aqui que o estudo de caso ultrapassa a mera função descritiva e atinge um nível

analítico que pode ajudar a gerar teorias e novas questões para a futura investigação” (PONTE,

1994, apud COUTINHO e CHAVES, 2002)

Interpretar e avaliar a descrição dos fatos foi o que exigiu maior dedicação do tempo,

principalmente para os dados da maior significância. Buscou-se sempre o foco do trabalho, pois

o ponto crítico de uma investigação qualitativa não é o fato de se acumular dados e sim, o de

filtrar a grande parte dos dados acumulados e revelar essências que tenham a ver com o contexto,

de modo a propiciar um juízo consistente acerca das conclusões do estudo

Os resultados das entrevistas foram sistematizados e apresentados sob a forma de tabelas

apresentadas no escopo do trabalho, as anotações sobre observações diretas foram armazenadas

no banco de dados, assim como as fotografias, das quais, parte está no escopo do trabalho

acompanhando a narrativa e parte foi armazenada. No final da análise foi feita uma checagem

para verificar se todas as evidências foram analisadas e se a análise teve como foco as questões

mais importantes.

4.4.5 Construção do relatório

Para a construção do relatório foi adotada a estrutura analítica linear que é a mais

vantajosa para o público alvo em questão, por representar a abordagem padrão em relatórios de

pesquisa e é aplicável a estudos de casos descritivos. A estrutura analítica linear consiste

seqüencialmente em um tema (problema), a revisão da literatura, a análise dos métodos


89

analisados, as descobertas feitas a partir dos dados coletados e analisados, e as conclusões e

implicações feitas a partir das descobertas.

Definido o público alvo, formado por grupos especiais interessados no tema, líderes

comunitários, colegas acadêmicos, profissionais da área e a banca examinadora, assim como a

estrutura de composição, foram adotados vários procedimentos de apoio junto ao orientador, co-

orientador, professores do mestrado e colegas mestrandos, que disponibilizaram seu tempo e

conhecimentos para discutir e contribuir com o andamento do trabalho.

O relatório situa o local destinado ao estudo, estabelece a unidade de análise, descreve e

avalia a situação sócio-econômica da população, as características da técnica mista do Alegre, o

método construtivo da mesma e a investiga sobre a possibilidade de uso do bambu na técnica

mista no Alegre. A seguir, discute, avalia e estabelece recomendações para a melhoria

tecnológica da vedação vertical da técnica mista.


90

5. ESTUDO DE CASO

Este capítulo trata sobre o Estudo de Caso realizado no bairro do Alegre na Cidade de São

Sebastião do Passé, local possuidor de habitações de interesse social em técnica mista. O estudo

buscou detectar as patologias da vedação vertical executada com a técnica em pesquisa e seus

agentes causadores, visando-se estabelecer recomendações para a anulação das mesmas. O estudo

começa com o estabelecimento da unidade de análise, faz-se a avaliação sócio-econômica da

população, apresenta-se dados sobre as características da técnica mista local, descreve-se o

processo construtivo da mesma e avalia-se a possibilidade da utilização do uso do bambu em

substituição à madeira.

Em função do objetivo da investigação, tornou-se como requisito encontrar o mais

próximo de Salvador, para facilitar o desenvolvimento da mesma, uma localidade com habitações

de interesse social executadas em terra crua e com uso da técnica objeto de estudo. Desta forma,

o bairro do Alegre, situado na periferia da cidade de São Sebastião do Passé, foi escolhido.

São Sebastião do Passé está localizada nas coordenadas geográficas 12° 30´ 46” S e 38°

29´48” O, conforme indica a Figura 25, encontra-se numa altitude de 37m e dista

aproximadamente 60 km da Capital do estado, Salvador.

FIGURA 25– MAPA DO ESTADO DA BAHIA, LOCALIZANDO SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Fonte: IBGE
91

O clima de São Sebastião do Passé é quente e úmido, seu território possui 553,4 km²,

limitando-se com os municípios de Terra Nova, Catu, Pojuca, Mata de São João, Dias Dávila,

Candeias, São Francisco do Conde e Santo Amaro. Segundo o IBGE, censo de 1999, tem uma

população de 38.422 habitantes, sendo 19.258 homens e 19.164 mulheres.

São Sebastião do Passé, possui segundo o AGRITEMPO (2008), solo argiloso e arenoso,

além de contar com uma pequena reserva de mata, o que justifica a existência de habitações em

técnica mista, tanto na zona rural quanto na zona urbana. Na sede municipal a área que dispõe de

um maior número de habitações em técnica mista é o bairro do Alegre.

FIGURA 26– FOTO AÉREA DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Fonte: PREFEITURA DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ

5.1 O bairro do Alegre

O bairro do Alegre, um dos mais pobres da cidade, está situado na parte sul da sede

municipal e apresenta uma quantidade significativa de habitações erguidas com trama de madeira

e fechada com barro argiloso, o sistema construtivo de técnica mista, denominado localmente de
92

“taipa”. Para efeito de desenvolvimento do trabalho foi definida uma poligonal, onde se realizou

o estudo de caso, conforme mapas a seguir.

FIGURA 27 – MAPA GERAL DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ - LOCALIZAÇÃO DA POLIGONAL DE ESTUDO


Fonte: IBGE

A poligonal foi definida ao longo da Rua Emílio Albino Abraão e tem como referência no

mapa a Central de Abastecimento de São Sebastião do Passé. A área total da poligonal é de

80.203 m². Os pontos vermelhos dentro da poligonal indicam construções em técnica mista e os

demais, construções em alvenaria de bloco cerâmico.


93

FIGURA 28 – MAPA DA POLIGONAL DESTACANDO AS EDIFICAÇÕES


Lançamento das edificações: O AUTOR Base cartográfica: IBGE

5.1.1 Casas em técnica mista e casas em alvenaria na poligonal de estudo

A poligonal engloba 233 habitações, sendo 96 em técnica mista e 137 em alvenaria de

bloco cerâmico, conforme dados da tabela 1.


94

Tabela 1 – TOTAL DAS CONSTRUÇÕES NA POLIGONAL

SISTEMA CONSTRUTIVO QUANTIDADE %

TÉCNICA MISTA 96 41,20

ALVENARIA DE BLOCOCERÂMICO 137 58,80

TOTAL 233 100,00

FIGURA 29 – POLIGONAL DE ESTUDO DESTACANDO AS 96 CASAS EM TÉCNICA MISTA


Indicação das casas: O AUTOR Base cartográfica: IBGE

5.1.2 Habitantes no universo de amostra das 24 casas

Das 96 casas em técnica mista, foi realizada investigação em 24 casas, sendo as mesmas

escolhidas em função da disponibilidade de seus moradores quando do cadastramento das

edificações para lançamento no mapa do IBGE. O universo de amostragem, 24 casas, possui uma

população de 95 habitantes, sendo 53 do sexo masculino e 42 do sexo feminino, com


95

predominância da faixa etária compreendida entre 6 e 10 anos, (com 21,05% do total), seguida da

população de faixa etária entre 21 e 30 anos (17,89%), conforme tabela 2 a seguir.

Tabela 2 – HABITANTES NAS CONSTRUÇÕES EM TÉCNICA MISTA

FAIXA ETÁRIA SEXO MASC. % SEXO FEM % TOTAL %

DE 0 A 5 ANOS 6 11,32 4 9,52 10 10,53

DE 6 A 10 ANOS 11 20,75 9 21,43 20 21,05

DE 11 A 15 ANOS 8 15,09 2 4,76 10 10,53

DE 16 A 20 ANOS 6 11,32 4 9,52 10 10,53

DE 21 A 30 ANOS 7 13,21 10 23,81 17 17,89

DE 31 A 40 ANOS 4 7,55 7 16,67 11 11,58

DE 4 A 50 ANOS 1 1,89 2 4,76 3 3,16

DE 51 A 60 ANOS 3 5,66 4 9,33 7 7,37

DE 61 A 70 ANOS 6 11,32 - - 6 6,31

ACIMA DE 70 ANOS 1 1,89 - - 1 1,05

TOTAL 53 100,00 42 100,00 95 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.1.3 Ocupação dos chefes de família no universo de amostragem

A situação de ocupação dos chefes de família apresenta o “biscate” como sendo a

principal fonte de renda, prevalecendo sobre as demais com 50%, seguida dos

aposentados/pensionistas com 29,16%, sendo 16,67 empregados e 4,17% autônomos, conforme

tabela 3.
96

Tabela 3 – SITUAÇÃO DE OCUPAÇÃO DOS CHEFES DE FAMÍLIA

OCUPAÇÃO QUANTIDADE %

AUTONOMO 1 4,17

BISCATEIRO 12 50,00

EMPREGADO 4 16,67

APOSENTADO/PENSIONISTA 7 29,16

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.1.4 Renda familiar no universo de amostragem

A renda mensal familiar no universo da amostragem varia entre R$ 30,00 (trinta reais) e

R$ 600,00 (seiscentos reais), sendo que 91,66% têm renda igual ou inferior a 1 S. M., 25% com

renda menor que 1/2 S. M. e apenas 8,34% têm renda entre 1 e 1/2 S. M. O valor da renda média

das 24 famílias é de R$ 257,79 (duzentos e cinqüenta e sete reais e setenta e nove centavos). A

tabela 4 traz detalhada a situação da renda familiar.

Tabela 4 – RENDA FAMILIAR

RENDA FAMILIAR QUANTIDADE % % ACUMULADO

(-) DE ½ S. M. 6 25,00 25,00

DE ½ A (-) DE 1 S. M. 11 45,83 70,83

1 S. M. 5 20,83 91,66

(+) DE 1 E (-) DE 2 S. M. 2 8,34 100,00

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


97

5.2 DADOS REFERENTES À

TÉCNICA MISTA ATUAL EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ

Usando a terra crua, ou seja, a terra natural, sem processo de queima, e a madeira, local,

vinda das mata existente no município, boa parte dos moradores do Alegre, em torno de 42%,

construíram suas casas em técnica mista. Mostra-se a seguir dados referentes à caracterização do

solo local, ao tempo de vida das atuais habitações em técnica mista, as construções reformadas e

ou ampliadas, às áreas construídas e aos demais elementos relativos às construções atuais.

5.2.1 O solo local

Para conhecimento do solo local foram realizados ensaios de laboratório e testes expeditos

de campo, elaborados em duas etapas, conforme apresentado a seguir:

Primeira etapa

– Apenas caracterização do solo local

Caracterização realizada pelo Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da

Universidade Federal da Bahia.

Visando conhecer e caracterizar o solo da área de estudo, foram coletadas três amostras de

solos em pontos distintos localizados no início da poligonal que engloba a área de estudo,

próximo ao meio e no final da mesma. A primeira amostra foi retirada próximo ao meio da

poligonal, no fundo da habitação de número 40, indicada na figura 29, página 99, uma casa

situada ao “pé da ladeira”, ponto que separa o Alegre de Cima do Alegre de Baixo. A figura 30

registra a retirada da primeira amostra de solo, no mesmo local do barreiro onde foi preparado o

solo para a construção.


98

FIGURA 30 – FOTO REFERENTE À RETIRADA DA PRIMEIRA AMOSTRA DE SOLO


FOTO DO AUTOR (2005)

Para a segunda amostra retirou-se o solo no início da poligonal, na parte posterior da casa

1 do mapa referente a figura 29, no Alegre de Baixo, a aproximadamente, 4 m da parede de fundo

da citada residência; e finalmente, a terceira amostra foi coletada do lado direito (olhando da rua

para a habitação) da casa 87, do mapa referenciado anteriormente, próximo ao final da poligonal,

no Alegre de cima.

O anexo 2 contem os ensaios de caracterização realizados pelo Laboratório de Geotecnia

da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, realizados de acordo com a NBR-7181

Análise granulométrica, NBR-6459 Limite de liquidez, NBR-7180 Limite de plasticidade e NBR-6508 Densidade real dos grãos,

todas, normas da ABNT.

. Os dados de caracterização do solo feitos na primeira etapa pelo Laboratório de Geotecnia

da Escola Politécnica estão na Tabela 5.


99

Tabela 5 – CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DA PRIMEIRA ETAPA

LIMITES AMOSTRA 1 AMOSTRA 2 AMOSTRA 3

WL 55% 32% 69%

WP 29% 21% 34%

IP 26% 11% 35%

GRANULOMETRIA SEGUNDO A NBR-7181 DA ABNT

PEDREGULHO 3% 5% 0%

AREIA GROSSA 1% 7% 1%

AREIA MÉDIA 1% 16% 2%

AREIA FINA 21% 21% 0%

SILTE 36% 31% 36%

ARGILA 38% 20% 51% COR

AVERMELHADA - -

TEXTURA DE ARGILA - -

ORIGEM SEDIMENTAR - -

Segundo o PROTERRA (2003, p.221), para o uso do solo em na taipa de mão, caso o

mesmo seja composto de partículas granulares mais finas, deverá apresentar uma composição

granulométrica em torno de 0% de pedregulho; 1% de areia grossa; 49% de areia fina; 31% de

silte e 19% de argila. Caso o solo seja composto de partículas granulares mais grossas, deverá

possuir uma composição granulométrica em torno de 5% de pedregulho; 19% de areia grossa;

52% de areia fina; 17% de silte e 7% de argila. Avaliando-se os dados granulométricos dos 3

solos e comparando-os com a recomendação do PROTERRA, o mais próximo para o uso em

técnica mista seria o da amostra 2.

O critério do PROTERRA, como visto anteriormente, não especifica uma faixa de valores

para as frações do solo, apenas cita como referência “em torno de um determinado percentual”,
100

deixando em aberto os limites inferiores e superiores do percentual. Deixa também de referenciar

o percentual de areia fina em ambas as composições granulométricas.

Com base na análise do laboratório, faz-se adiante uma avaliação dos dados

representativos das três amostras e uma comparação entre os dados granulométricos apresentados

e os dados granulométricos considerados pelo PROTERRA (2003) como sendo os de melhor

composição para a técnica mista.

Os índices de plasticidade que, segundo a NBR-7180, correspondem aos respectivos

limites de liquidez (WL) menos os limites de plasticidade (WP), indicam, a depender do seu

valor, a plasticidade dos solos. Ainda segundo a citada norma, solos com índice de plasticidade

(IP) igual a 0 (zero), correspondem a solos não plásticos; solos com IP maior que 1 e menor que

7, correspondem a solos pouco plásticos; solos com IP maior que 7 e menor que 15,

correspondem a solos de média plasticidade; e, solos com IP maior que 15, correspondem a solos

muito plásticos. Desta forma, os solos das amostras 1 e 3 são de muita plasticidade e o solo da

amostra 2, de plasticidade média.

A tabela 6, a seguir, apresenta cada solo e sua respectiva plasticidade.

Tabela 6 – PLASTICIDADE DOS SOLOS DA PRIMEIRA ETAPA

CLASSIFICAÇÃO: NÃO PLÁSTICO POUCO PLÁSTICO MEDIANAMENTE PLÁSTICO MUITO PLASTICO

SOLOS - - 2 1e3

Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007

Porém, apenas o IP não é suficiente para se julgar a plasticidade de um solo. Casagrande

(1948), propôs a conhecida carta de plasticidade, em função do IP e do WL. O laboratório de

geotecnia da Escola Politécnica da UFBA trabalha com a carta de plasticidade onde divide o grau

de compressividade dos solos em três áreas e não em duas, como era feito convencionalmente, e

usa a classificação segundo o Sistema Unificado de Classificação dos Solos - USCS. A carta é
101

representada por um gráfico onde o eixo das abscissas representa os valores do limite de liquidez

(WL) e o eixo das ordenadas o IP. Duas retas horizontais definidas pelos Ip = 4 e IP = 7, e uma

reta inclinada que separa os solos com tendência a solos argilosos, os situados acima da reta e os

com tendência a solos siltosos, os que estão abaixo da mesma, definem a área dos solos com

tendência a SC-SM (argilosos e siltosos de baixa compressividade). Duas retas verticais situadas

nas abscissas 30 (WL = 30) e 50 (WL = 50), separam as áreas correspondentes à compresividade

dos solos. Os solos à esquerda da abscissa 30, acima da ordenada de IP = 7 e da reta inclinada

têm tendência a serem solos CL (argilosos de baixa compressividade). Os solos à esquerda da

abscissa 30, abaixo da ordenada de IP = 4 e da reta inclinada têm tendência a serem solos ML

(siltosos de baixa compressividade). Os solos compreendidos entre as abscissas 30 e 50 e acima

da reta inclinada, têm tendência a solos CI (argiloso de média compressividade), sendo os abaixo

da reta inclinada, com tendência a solos MI (siltoso de média compressividade). Os solos à direita

da abscissa 50 e acima da reta inclinada têm tendência a solos CH (argiloso de alta

compressividade) e os situados abaixo, de solos MH (siltoso de alta compressividade).

A figura 31 mostra a carta de plasticidade com os 3 solos caracterizados, onde o solo 1

está na área CH (solo argiloso de alta compressividade), o 2 na área CI (solo argiloso de média

compressividade) e o solo 3 na área MH (solo siltoso de alta compressividade).


102

FIGURA 31 – CARTA DE PLASTICIDADE DOS 3 SOLOS NATURAIS DA PRIMEIRA ETAPA


Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2007

Outro elemento a ser considerado é a atividade (A) do solo, caracterizada pela carga elétrica

negativa existente na superfície das partículas do argilo-mineral. As atividades físicas oriundas da

carga superficial são denominadas de “atividade de superfície do argilo-mineral”. A intensidade

da atividade depende principalmente das características do argilo-mineral contido no solo, sendo

a atividade, segundo Skempton (1953), o valor do IP dividido pelo percentual de argila do solo

(% < 0,002mm). Ainda, segundo Skempton, caso o resultado desta relação seja menor que 0,75 o

solo é considerado inativo; caso seja maior que 0,75 e menor que 1,25 o solo é medianamente

ativo; e, se for maior que 1,25 o solo é ativo. Com base na classificação do solo, segundo

Skempton e nos ensaios de laboratório, a mostra 1 possui A= 0,68, a amostra 2 possui A= 0,55 e

a amostra 3 possui A= 0,69, ou seja, os solos das 3 amostras são solos inativos.

A tabela 7 mostra a classificação dos 3 solos em relação à atividade dos mesmos.

Tabela 7 – ATIVIDADE DOS SOLOS DA PRIMEIRA ETAPA

CLASSIFICAÇÃO: INATIVO MEDIANAMENTE ATIVO ATIVO

SOLOS 1, 2 e 3 - -

Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006
103

Entre os solos argilo-minerais, o grupo caulinita, o ilita e o montmoronilita são

considerados como principais. A caulinita possui 0,3 <A< 0,5, logo , são solos inativos; a ilita,

0,5 <A< 1,5, sendo parte inativo, parte medianamente ativo e parte ativo; e a montmorilonita, 4

<A< 8, sendo todos altamente ativos. Quanto maior a atividade do argilo-mineral, maior será a

compressibilidade do solo e maior será a deformabilidade do mesmo em presença da água. Dessa

forma, os solos do grupo caulinita são os mais indicados para o uso na taipa de mão, assim como,

os do grupo ilita com A< 0,75.

Com base nas análises apresentadas e nos resultados de laboratório, a princípio, o solo

mais apropriado para uso na taipa de mão é o solo 2, classificado pela carta de plasticidade,

segundo o USCS, como CI (solo argiloso de média compressividade), sendo descartados os solos

1 e 3, por serem altamente compressivos. Para uso dos mesmos, é recomendável o aditamento de

solo arenoso, e ou, siltoso de baixa compressividade, ou ainda, o aditamento de fibras vegetais e

outros materiais recomendados pelo estudiosos de solos para o uso em pauta. Tal aditamento

ajudará a reduzir o fenômeno de retração da massa plástica a ser usada.

Segunda etapa

– Caracterização e testes expeditos de campo do solo natural e das misturas

Numa segunda etapa foram realizados novos ensaios com amostras retiradas dos mesmos

terrenos da primeira etapa. A nova caracterização visou comparar os resultados dos solos naturais

da primeira etapa, com as novas amostras da segunda etapa, e caracterizar novos solos obtidos a

partir da mistura com adição de areia de um dos solos da segunda etapa. Também, foram

realizados testes expeditos recomendados por autores citados neste trabalho, com o propósito de

comparar os resultados das leituras de cada teste com os resultados da caracterização obtidos em

laboratório.
104

Os solos da segunda etapa foram destacados dos da primeira com a inserção da letra A.

Assim, as amostras dos solos naturais receberam a denominação de 1A, 2A e 3A. Os solos

misturados foram obtidos a partir do solo natural 3A, e as denominações estabelecidas

acrescentando-se um numeral, na ordem crescente, de 1 a 8. Ou seja, o primeiro solo misturado é

o solo 3A.1, o segundo 3A.2 e assim sucessivamente, até o solo 3A.8.

A amostra do solo natural 1A foi retirada no terreno livre, ao fundo da casa 40 e no

mesmo local da amostra anterior, conforme mostra a figura 32.

FIGURA 32 – FOTO REFERENTE A RETIRADA DA PRIMEIRA AMOSTRA DE SOLO


FOTO DO AUTOR (2007)

A amostra do solo natural 2A, ao invés de ser coletada a 10 cm da cota superficial do

terreno e a 4 m do fundo da casa 1 como aconteceu na primeira coleta, foi retirada ao pé da

parede dos fundos, onde estava acumulada boa parte de solo proveniente da deteriorização da

citada parede. Antes da coleta, foi descartada a camada superficial de vegetação, conforme

mostra a figura 33.


105

FIGURA 33 – FOTO REFERENTE A RETIRADA DA SEGUNDA AMOSTRA DE SOLO


FOTO DO AUTOR (2007)

A amostra 3A foi retirada no mesmo local da anterior, ao lado direito da casa 87 em

técnica mista. A figura 34 mostra a foto do local da retirada da amostra..

FIGURA 34 – FOTO REFERENTE A RETIRADA DA TERCEIRA AMOSTRA DE SOLO


FOTO DO AUTOR (2007)

Onze amostras de solos foram enviadas para o Laboratório de Geotecnia da Escola

Politécnica da UFBA para efeito de caracterização dos 3 solos naturais e dos 8 solos misturados.

Outras onze amostras foram utilizadas para a realização de testes expeditos, como o teste das

bolas, de Mitidieri e outros (1987), citado no capítulo 3, página 62; o teste da pressão dos dedos,
106

de Gieth e outros (1994), citado no capítulo 3, página 62; o teste do rolo, de Neves e outros

(2005), citado no capítulo 3, página 63; e o teste de contração de Lengen (2002). O último autor

estabelece fazer-se uma mistura maleável do solo e colocar numa caixa de 4 x 4 x 40 cm,

deixando a mesma secar a sombra. Seca a mistura procede-se a medição de quanto a mesma

encolheu no sentido longitudinal da caixa. A medida não deve ser maior que 10% do

comprimento da caixa, ou seja, 4 cm.

Caracterização

A tabela 8 apresenta a caracterização dos solos da segunda etapa, também realizada pelo

Laboratório de Geotecnia da Escola politécnica da UFBA, conforme ensaios contidos no anexo 2.

Tabela 8 – CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DA SEGUNDA ETAPA

LIMITES 1A 2A 3A 3A.1 3A.2 3A.3 3A.4 3A5 3A6 3A7 3A8

WL 52% 48% 65% 37% 31% 24% 21% 22% 20% 22% NL%

WP 29% 26% 33% 22% 19% 15% 15% 15% 14% 14% NP%

IP 2 3% 22% 32% 15% 12% 9% 6% 7% 6% 8% NP%

GRANULOMETRIA SEGUNDO A NBR-7181 DABNT

PEDREGULHO 1% 1% 0% 1% 1% 2% 1% 1% 1% 0% 0%

AREIA GROSSA 4% 3% 1% 11% 12% 13% 12% 14% 13% 14% 15%

AREIA MÉDIA 6% 6% 2% 26% 26% 34% 35% 42% 41% 42% 45%

AREIA FINA 11% 17% 10% 13% 13% 15% 20% 19% 17% 16% 18%

SILTE 40% 32% 34% 21% 20% 18% 17% 8% 11% 9% 11%

ARGILA 38% 41% 53% 28% 28% 18% 15% 16% 17% 19% 11%

Comparando-se os dados das 3 amostras da primeira etapa (amostras 1, 2 e 3) com as 3

primeiras amostras da segunda etapa (amostras 1A, 2A e 3 A), tem-se:


107

Quanto à plasticidade, o solo 3A.8 é não plástico, o 3A.4, 3A.5 e 3A.6 são pouco plásticos

(1 <IP < 7), o 2, 3A.1, 3A.2, 3A.3 e 3A.7 são medianamente plásticos (7 < IP < 15), os demais, o

1, 3, 1A, 2A e 3A são muito plásticos (IP > 15).

A tabela 9 apresenta a plasticidade dos solos da primeira e segunda etapa, oferecendo de

forma simplificada uma leitura sobre a classificação dos mesmos.

Tabela 9 – PLASTICIDADE DOS SOLOS DAS 1ª E 2ª ETAPAS

CLASSIFICAÇÃO: NÃO PLÁSTICO POUCO PLÁSTICO MEDIANAMENTE PLÁSTICO MUITO PLASTICO

SOLOS 3A.8 3A.4, 3A.5 e 3A.6 2, 3A.1, 3A.2, 3A.3 e 3A.7 1, 3, 1A, 2A e 3A

Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007

Como visto antes, apenas o IP não basta para se julgar a plasticidade de um solo. A carta

de plasticidade apresentada na figura 35 mostra a posição de cada solo, conforme os resultados

do laboratório.

FIGURA 35 – CARTA DE PLASTICIDADE DOS SOLOS NATURAIS DAS DUAS ETAPAS E DOS SOLOS MISTURADOS
Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2007

Conforme a carta e segundo o USCS, são classificados como CH (solo argiloso de alta

compressividade) os solos 1 e 2; CI (solo argiloso de média compressividade) os solos 2A, 3A.1

e 3A.2 ; MH (solo siltoso de alta compressividade) os solos 3, 1A e 3A; SC (solo arenoso bem
108

graduado com argila) os solos 3A.3 e 3A.7; e SC-MC (solo arenoso bem graduado, com argila e

com silte) os solos 3A.4, 3A.5 e 3A.6.

A tabela 10 mostra à classificação dos solos ensaiados em laboratório referentes as duas

etapas, com base na carta de plasticidade e segundo o sistema USCS.

Tabela 10 – CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS SEGUNDO O USCS

CLASSIFICAÇÃO: CH CI CL MH SC SC – SM NP

SOLOS: 1e2 2A, 3A.1 e 3A.2 - 3, 1A e 3A 3A.3 e 3A.7 3A.4, 3A.5 e 3A.6 3A.8

Fonte: Laboratório de Geotecnia, Escola Politécnica - UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005, 2006 e 2007

Com relação à atividade, exceto o solo 3A.8 que é não plástico, tanto os solos da primeira

etapa, quanto os da segunda são inativos (A < 0,75).

A tabela 11 apresenta a atividade dos solos ensaiados na primeira e segunda etapa,

oferecendo, de forma simplificada, uma leitura sobre carga elétrica superficial de cada solo.

Tabela 11 – ATIVIDADE DOS SOLOS DA 1ª E 2ª ETAPAS

CLASSIFICAÇÃO: INATIVO MEDIANAMENTE ATIVO ATIVO

SOLOS 1, 2, 3, 1A, 2A, 3A,3A.1, 3A.2, 3A.3, 3A.4, 3A.5, 3A.6 e 3A.7 - -

Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006

Comparando-se a granulometria do solo da amostra 1 com o da 1A: o primeiro apresenta

2% a mais de pedregulho; 3% a menos de areia grossa; 5% a menos de areia média; 10% a mais

de areia fina; 4% a menos de silte; e o percentual de argila é igual para ambos, ou seja, 38%. O

solo da amostra 2 em relação ao 2A apresenta 4% a mais de pedregulho e de areia grossa; 10% a

mais de areia média; 4% a mais de areia fina; 1% a menos de silte; e 21% a menos de argila. A

amostra 2 foi retirada a aproximadamente 4 m da parede de fundo da casa, enquanto a amostra

2A foi retirada ao pé da citada parede. A amostra 3, da primeira fase, comparada com a amostra

3A tem granulometria bastante similar, com os mesmos percentuais de pedregulho, areia grossa e
109

areia média; o solo 3 tem 0% de areia fina e o 3A 10%; o 3 tem 2% a mais de silte; e 2% a menos

de argila que o 3A.

Comparando-se as frações de cada solo com as recomendadas pelo PROTERRA, os solos

mais próximos são os das amostras 3A.3 a 3A.7.

Com base nos resultados de laboratório e nas análises realizadas, os solos mais indicados

para a taipa de mão são os da tabela 12 (solos de 3A.3 a 3A.7), por serem plásticos de baixa

compressividade, e ou, arenosos bem graduados com silte e argila.

Tabela 12 – SOLOS POSSÍVEIS DE RECOMENDAÇÃO PARA A TAIPA DE MÃO

COMPRESSIVIDADE: SC (solo arenoso bem graduado, com argila) SC-CM (solo arenoso bem graduado, com argila e silte)

SOLOS 3A.3 e 3A.7 3A.4, 3A.5 e 3A.6

Fonte: Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica da UFBA Tratamento de dados: O autor Ano: 2005 e 2006

Testes empíricos

Como anunciado anteriormente, a seguir apresenta-se os elementos referentes aos 4 testes

expeditos anunciados, realizados com os solos da segunda etapa, ensaiados em laboratório, com

vistas a uma análise sobre a execução de cada teste e a comparação entre os resultados

apresentados pelos mesmos e os resultados obtidos em laboratório.

Teste das bolas – de Mitidieri e outros (Capítulo 3, página 62)

Foram confeccionadas as bolas referentes a cada amostra de solo, e após secagem das

bolas foi feita a avaliação visual para verificação do solo ou solos que apresentassem o menor

número de fissuras, conforme recomendações dos autores do teste.


110

A figura 36 apresenta, após a secagem, o conjunto das bolas dos solos amostrados na

segunda etapa, e a ampliação das bolas do solo 1A e 2A.

CONJUNTO DAS BOLAS JÁ SECAS

BOLA DO SOLO 1A BOLA DO SOLO 2A

FIGURA 36 – CONJUNTO DAS BOLAS APÓS SECAGEM E AMPLIAÇÃO DAS BOLAS DOS SOLOS 1A E 2A
FOTO DO AUTOR (2007)

A figura 37 mostra, individualmente, as bolas ampliadas, referentes aos solos 3A, 3A.1,

3A.2 e 3A.3, depois de secas.


111

BOLA DO SOLO 3A BOLA DO SOLO 3A.1

BOLA DO SOLO 3A.2 BOLA DO SOLO 3A.3

FIGURA 37 – BOLAS AMPLIADAS DOS SOLOS 3A, 3A.1, 3A.2 E 3A.3


FOTO DO AUTOR (2007)

A figura 38 mostra, individualmente, as bolas ampliadas, referentes aos solos de 3A.4,

3A.5, 3A.6 e 3A.7.


112

BOLA DO SOLO 3A.4 BOLA DO SOLO 3A.5

BOLA DO SOLO 3A.6 BOLA DO SOLO 3A.7

FIGURA 38 – BOLAS AMPLIADAS DOS SOLOS 3A.4, 3A.5, 3A.6 E 3A.7


FOTO DO AUTOR (2007)
113

A figura 39 mostra, a bola ampliada referente ao solo 3A.8.

BOLA DO SOLO 3A.8

FIGURA 39 – BOLA APÓS SECAGEM, REFERENTE AO SOLO 3A.8.


FOTO DO AUTOR (2007)

A tabela 13 apresenta os indicadores referentes às leituras visuais de cada amostra.

Tabela 13 – TESTE DAS BOLAS: AVALIAÇÃO VISUAL DAS FISSURAS

AMOSTRA LEIRURA VISUAL APÓS A SECAGEM DAS BOLAS

1A Terceiro solo classificado com maior número de fissuras

2A Quinto solo classificado apresentando poucas fissuras, quase imperceptíveis

3A Primeiro solo classificado com maior número de fissuras

3A.1 Segundo solo classificado com maior número de fissuras

3A.2 Quarto solo classificado com maior número de fissuras

3A.3 Solo sem aparentes fissuras

3A.4 Solo sem aparentes fissuras

3A.5 Solo sem aparentes fissuras

3A.6 Solo sem aparentes fissuras

3A.7 Solo sem aparentes fissuras

3A.8 Solo sem aparentes fissuras

Ensaios realizados pelo pesquisador Ano: 2007


114

Conforme a leitura visual, entre os solos naturais, o solo 2A é o que apresenta o menor

número de fissuras. Ele, juntamente com os solos misturados 3A.3, 3A.4, 3A.5, 3A.6, 3A.7 e

3A.8 não apresentaram fissuras, sendo segundo os autores do teste os mais indicados para o uso

na taipa de mão. Porém, considerando os ensaios de laboratório, o solo 3A.8 é não plástico, não

sendo recomendado para uso na técnica em questão. Também, o 2A foi classificado quanto ao IP

como muito plástico, e a carta de plasticidade classificou como solo CI (argiloso de media

compressividade), estando o mesmo próximo ao limite de CH (argiloso de alta compressividade),

o que não o recomenda a ser usado.

Esta foi a análise realizada para o teste das bolas, com base nos resultados obtidos através

da leitura visual dos mesmos e dos apresentados nos ensaios de laboratório.

Com relação ao teste, vale ressaltar que o método não controla a umidade de moldagem,

ou seja, a depender da umidade com que o solo é moldado o comportamento das fissuras

apresentará leituras diferentes para um mesmo solo.

A tabela 14 apresenta os solos, possíveis de serem usados na taipa de mão segundo os

autores do teste e segundo os ensaios de laboratório.

Tabela 14 – SOLOS POSSÍVEIS DE SEREM USADOS NA TAIPA DE MÃO, CONFORME OS TESTES


EXPEDITOS E OS RESULTADOS DO LABORATÓRIO

SOLOS 1A 2A 3A 3A.1 3A.2 3A.3 3A.4 3A.5 3A.6 3A.7 3A.8

TESTE X X X X X X X

LABORATÓRIO X X X X X

Ensaios realizados pelo pesquisador Ano: 2007

A tabela acima mostra que apenas 2 solos do teste das bolas considerados, segundo os

parâmetros estabelecidos pelos autores do mesmo, aptos a serem usados na taipa de mão, não

estão incluídos, segundo os resultados do laboratório. O 2A por ser medianamente compressivo,

o 3A.8, por não ser plástico.


115

5.2.2 Informações sobre as construções

A seguir são registradas informações referentes ao tempo de construção, às reformas e

ampliações, à área construída, à situação dos revestimentos e da pintura, ao material e ao número

de águas das cobertura, às instalações de água, esgoto, eletricidade e telefonia e, ao nível de

satisfação dos usuários das habitações

5.2.2.1 Tempo de construção das habitações

A maior parte das habitações tem entre 6 e 10 anos de construídas, totalizando

37,50% do universo de amostragem, seguidas das que possuem tempo de construção entre 0 e 5

anos (33,33%), depois, as construídas entre 11 e 15 anos (12,50%), as construídas entre 31 e 35

anos )8,33%) e, finalmente, as com tempo de construção entre 16 e 25 anos que representam

8,34%. A tabela 15, mostrada a seguir, registra as quantidades e percentuais relativo ao tempo de

construção das habitações em intervalos de 5 anos.

Tabela 15 - TEMPO DE CONSTRUÇÃO DAS HABITAÇÕES

TEMPO DE CONSTUÇÃO QUANTIDADE %

DE 0 A 5 ANOS 8 33,33

DE 6 A 10 ANOS 9 37,50

DE 11 A 15 ANOS 3 12,50

DE 16 A 20 ANOS 1 4,17

DE 21 A 25 ANOS 1 4,17

DE 26 A 30 ANOS - -

DE 31 A 35 ANOS 2 8,33

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


116

5.2.2.2 Habitações reformadas ou ampliadas

Das 24 habitações do universo de amostragem, apenas 1 foi reformada e 1 ampliada as 22

restantes não sofreram ampliação nem reforma. A tabela 16 apresenta os números e os percentuais desta

informação.

Tabela 16 – CONSTRUÇÕES REFORMADAS E AMPLIADAS

SITUAÇÃO QUANTIDADE %

REFORMADA 1 4,17

AMPLIADA 1 4,17

REFORMADA E AMPLIADA - -

NEM REFORMADA, NEM AMPLIADA 22 91,66

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.3 Áreas das habitações

A área construída das edificações contidas nas 24 habitações amostradas varia

entre 15 e 58m², sendo a média de 37,58m². A tabela 17 nos apresenta as faixas das áreas

construídas das 24 edificações e o percentual em relação ao número de casas amostradas.

Tabela 17 – ÁREA CONSTRUÍDA DAS HABITAÇÕES

ÁREA CONSTRUÍDA QUANTIDADE DE CASAS %

DE 15 A 24m2 2 8,33

DE 25 A 34m2 3 12,50

DE 35 A 44m2 17 70,83

DE 45 A 54m2 1 4,17

DE 55 A 64m2 1 4,17

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


117

5.2.2.4 Situação de revestimento das habitações

A maioria das habitações, cerca de 67%, tem apenas revestimento parcial,

preferencialmente a fachada principal é revestida, ficando o restante sem revestimento.

Aproximadamente 21% não apresentam qualquer revestimento e o restante, em torno de 12% são

totalmente revestidas. A tabela 18 apresenta em números a situação de revestimentos das

habitações.

Tabela 18 – SITUAÇÃO DE REVESTIMENTO DAS HABITAÇÕES

SITUAÇÃO DE REVESTIMENTO QUANTIDADE DE CASAS %

SEM REVESTIMENTO 5 20,83

PARCIALMENTE REVESTIDA 16 66,67

TOTALMENTE REVESTIDA 3 12,50

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.5 Situação da pintura nas habitações

A maioria das habitações, cerca de 50%, tem pintura parcial, sempre na fachada

principal, 42% não receberam qualquer tipo de pintura e apenas 8% são totalmente pintadas.

Tabela 19 – SITUAÇÃO DA PINTURA NAS HABITAÇÕES

SITUAÇÃO DA PINTURA QUANTIDADE DE CASAS %

SEM PINTURA 10 41,67

PARCIALMENTE PINTADA 12 50,00

TOTALMENTE PINTADA 2 8,33

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


118

5.2.2.6 Material de cobertura

A maioria das habitações, cerca de 71%, tem cobertura em telha cerâmica de

olaria, confeccionada artesanalmente, aproximadamente 21% são em fibrocimento, 4% em telha

cerâmica industrializada e 4% são cobertas com os três tipos citados, ou seja, a cobertura foi feita

com aproveitamento de telhas

Tabela 20 – MATERIAL DE COBERTURA DAS HABITAÇÕES

MATERIAL DE COBERTURA QUANTIDADE DE CASAS %

TELHA DE OLARIA 17 70,83

TELHA CERÂMICA INDUSTRIALIZADA 1 4,17

TELHA DE FIBROCIMENTO 5 20,83

TELHA DE OLARIA + CER. IND. + FIBROCIM. 1 4,17

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.7 Número de águas das coberturas

A maioria das habitações, cerca de 92%, tem cobertura em duas águas, e o

restante, em torno de 8% possuem apenas uma água.

Tabela 21 – NÚMERO DE ÁGUAS DAS COBERTURA

NÚMERO DE ÁGUAS QUANTIDADE DE CASAS %

1 ÁGUA 5 20,83

2 ÁGUAS 1 4,17

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


119

5.2.2.8 Habitações com instalações elétricas

A maioria das habitações, cerca de 96%, possui instalações elétricas do tipo

aparente. Apenas aproximadamente 4% não possuem instalações elétricas, embora a rede da

concessionária passe em frente da residência.

Tabela 22 – HABITAÇÕES COM INSTALAÇÃO ELÉTRICA

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS QUANTIDADE DE CASAS %

COM INSTALAÇÃO 23 95,83

SEM INSTALAÇÃO 1 4,17

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.9 Situação de telefonia nas habitações

A maioria das habitações, cerca de 88%, não possui qualquer tipo de telefone,

apenas, em torno de 12% dispõem de telefone móvel.

Tabela 23 – SITUAÇÃO DE TELEFONIA NAS HABITAÇÕES

TIPO DE TELEFONE QUANTIDADE DE CASAS %

FIXO - -

MÓVEL 3 12,50

SEM TELEFONE 21 87,50

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


120

5.2.2.10 Situação de instalação de água potável

A maioria das habitações, cerca de 63%, não possui instalação de água, embora a

rede da concessionária passe em frente das habitações. Aproximadamente 37% possuem

instalações de água, sendo abastecida pela concessionária. A maioria tem instalado apenas um

ponto.

Tabela 24 – SITUAÇÃO DE INSTALAÇÃO DE ÁGUA NAS HABITAÇÕES

SITUAÇÃO QUANTIDADE DE CASAS %

COM ÁGUA INSTALADA 9 37,50

SEM ÁGUA INSTALADA 15 62,50

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.11 Situação de instalação de esgoto

A maioria das habitações, cerca de 79%, não possui instalação de esgoto. Apenas

um percentual em torno de 21% contam com instalação de esgoto, cujo destino final é um buraco

fundo, vedado com laje de concreto, que eles chamam de fossa.

Tabela 25 – SITUAÇÃO DE INSTALAÇÃO DE ESGOTO NAS HABITAÇÕES

SITUAÇÃO QUANTIDADE DE CASAS %

COM ESGOTO 5 20,83

SEM ESGOTO 19 79,17

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS


121

5.2.2.12 Estado de conservação das 96 habitações em técnica mista da área de estudo

Para oferecer uma avaliação sobre o estado de conservação das habitações

existentes na área de estudo foi realizado um levantamento considerando a situação de cada uma

a saber:

Habitação em ruína - habitação deteriorada, parcialmente destruída;

Habitação em tombamento - habitação escorada, em situação de desbamento;

Habitação ruim - habitação parcialmente deteriorada;

Habitação regular - habitação não deteriorada, sem reboco e sem pintura; e

Habitação boa - habitação rebocada e pintada total ou parcialmente.

Das 96 habitações em técnica mista existentes na poligonal de estudo, a grande maioria

encontra-se em estado de conservação ruim, com aproximadamente 69%, cerca de 11% estão em

estado regular em torno de 7% o estado de conservação é bom; 8% estão em vias de tombamento,

encontram-se escoradas, e 5% estão em estado de ruína.

Tabela 26 – ESTADO DE CONSERVAÇÃO DAS HABITAÇÕES

ESTADO DE CONSERVAÇÃO QUANTIDADE DE CASAS %

EM RUÍNA 5 5,21

EM TOMBAMENTO 8 8,33

RUIM 66 68,75

REGULAR 10 10,42

BOM 7 7,29

TOTAL 96 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 96 CASAS


122

5.2.2.13 Nível de satisfação dos moradores das casas de técnica mista

Entre as famílias entrevistadas no universo das 24 habitações, nenhuma delas

elegeu como ótimo o nível de satisfação pela moradia. 50% acham a habitação em técnica mista

regular, em torno de 17% consideram boa e cerca de 33% acham ruim.

Tabela 27 – NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS MORADORES

NÍVEL DE SATISFAÇÃO QUANTIDADE DE CASAS %

ÓTIMO - -

BOM 4 16,67

REGULAR 12 50,00

RUIM 8 33,33

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.2.2.14 O uso do bambu no universo de amostragem

Tendo em vista a existência de bambu nas proximidades da área de estudo, foi

feito uma enquete entre as famílias que responderam ao questionário, sobre o uso de bambu em

construção, principalmente sobre seu conhecimento a respeito deste material e sua intenção em

usar o mesmo.

Perguntados se já usaram bambu na técnica mista, no universo das 24 casas que

serviu de amostragem, apenas cerca de 4% dos habitantes responderam afirmativamnete, e os

96% restantes nunca usaram. Perguntados se conhecia alguém que já usou o bambu,

aproximadamente 46% dos habitantes afirmaram conhecer, enquanto que os 54% negaram

conhecer. Finalmente, indagados se usariam em suas residências o bambu, 29% responderam que

sim, e os restantes, cerca de 71% responderam que não usariam.


123

Tabela 28 – O USO DO BAMBU NO UNIVERSO DE AMOSTRAGEM

QUEM JÁ USOU QUANTIDADE DE CASAS %

SIM 1 4,17

NÃO 23 95,83

TOTAL 24 100,00

CONHECE QUEM JÁ USOU QUANTIDADE DE CASAS %

SIM 11 45,83

NÃO 13 54,17

TOTAL 24 100,00

USARIA EM SUA CASA QUANTIDADE DE CASAS %

SIM 7 29,17

NÃO 17 70,83

TOTAL 24 100,00

UNIVERSO DE AMOSTRAGEM: 24 CASAS

5.3 O ATUAL SISTEMA CONSTRUTIVO DA TÉCNICA MISTA EM SÃO SEBASTIÃO

DO PASSÉ

Descreve-se a seguir o atual sistema construtivo da técnica mista em São Sebastião do

Passe a partir dos subsistemas básicos, a saber:

5.3.1 Subsistema de fundação e estrutura

Foram englobadas, fundação e estrutura em um único subsistema, em função da técnica

mista possuir como elemento estrutural os pilares (esteios), que funcionam também como
124

elemento de fundação. Para preparação do terreno de fundação, normalmente, é feita uma limpa

da vegetação existente no terreno e em seguida uma raspagem da camada superficial de modo a

retirar todo o vestígio de vegetação, inclusive raízes.

Preparado o terreno, é feita a colocação dos piquetes com o auxílio de linha de pedreiro e

esquadro, para locação dos buracos, onde ficarão os esteios principais. No local dos piquetes são

executados furos com uma profundidade média de 80cm e diâmetro de aproximadamente 20cm.

Em seguida os esteios de madeira, com diâmetro médio entre 12 e 15cm, são colocados nas cavas

e apiloados com o material de escavação, pedaços de pedra e metralha de construção até ficarem

o mais vertical e firmes possível

Fixados os esteios, os mesmos são cortados nas alturas previstas e recebem uma viga

horizontal de madeira na altura do pé-direito mínimo. Essa viga tem a função de amarração e

acompanha todo o perímetro, tanto das paredes externas, quanto das paredes internas. Em 95%

dos casos, os esteios não recebem nenhum tratamento para proteção contra umidade, fungos,

insetos, etc. Quando roliços, na maioria dos casos é apenas retirada a casca.

5.3.2 Subsistemas paredes

O subsistema paredes engloba o entramado, o barreamento (enchimento da trama com

barro argiloso), o reboco e a pintura, como mostrado a seguir

5.3.2.1 Entramado

O entramado é feito com peças verticais de madeira, chamadas “enchimento” e peças

horizontais denominadas “varas”. As peças de enchimento possuem diâmetro de

aproximadamente 5 cm, são colocadas entre esteios, afastadas destes e entre si cerca de 12 cm e
125

fixadas no solo em torno de 30 cm. As varas são colocadas afastadas do solo mais ou menos 10

cm, duas a duas, uma de cada lado do enchimento e ambas na mesma altura, sendo cada par de

varas distantes entre si aproximadamente 10 cm. As varas são fixadas nas peças de enchimento

por meio de arame fino galvanizado.

5.3.2.2 Barreamento

Concluída a trama, a mesma deverá ser preenchida com barro argiloso. Esta etapa é

conhecida como “tapagem da casa”. No caso da área de estudo, toda a área possui solo argiloso,

logo, a escolha do local do barreiro é sempre o mais perto possível do entramado. Escolhido o

local, uma área de mais ou menos 2 m de diâmetro, é feita uma limpa superficial para retirada da

vegetação existente e, em seguida, retirado o material superficial com resíduos de raízes e

qualquer outro material que não seja o solo argiloso. Em seguida o barro é cortado em camadas e

destorroado. Cada camada é umedecida com água e pisoteada até o mestre taipeiro definir o

ponto ideal do barro. Dado o ponto do barro o mesmo é transportado de mão em mão até o local

de fechamento do entramado, onde uma pessoa se coloca de um lado para aparar com as mão o

barro jogado pela pessoa que se encontra do lado oposto. Dessa forma, de mão em mão e de

sopapo em sopapo o entramado é preenchido e a parede, vedada.

No estudo de caso, como já visto anteriormente, a minoria das habitações recebeu reboco

e pintura, a grande maioria ficou sem reboco ou teve, apenas o paramento da fachada rebocada.

5.3.2.3 Reboco

Quando rebocadas, a aplicação do reboco é feita após o barreamento estar seco, em torno

de 4 semanas após a tapagem da casa. Normalmente, o reboco na área de estudo é constituído de

uma massa única, composta de cimento e areia no traço 1: 4 respectivamente. Via de regra, a
126

superfície acabada acompanha o plano da parede, sem que haja uma preocupação com o perfeito

nivelamento vertical.

5.3.2.4 Pintura

Sobre o revestimento (reboco), e quando o mesmo já está curado, é aplicada a pintura,

sempre a base de cal, como acabamento final da parede.

5.3.3 Subsistema coberturas

A maioria das habitações em técnica mista tem como material de cobertura a telha

cerâmica de olaria, em torno de 70%, aproximadamente 4% são em telha cerâmica

industrializada, outras 4% são cobertas com uma mistura de telha cerâmica industrializada, telha

cerâmica de olaria e telha de fibrocimento, sendo o restante, em torno de 22% cobertas com

telhas de fibrocimento.

A estrutura para suporte das telhas cerâmicas é composta de frechais, terças e cumeeira

(quando de 2 águas). Peças em madeira, quando roliças, com diâmetro de mais ou menos 12 cm,

quando retangular (aparelhadas com machado) com seção de 8 x 13 cm, aproximadamente.

A trama para sustentação das telhas são de caibros roliços de mais ou menos 7 cm de

diâmetro e ripas serradas de seção em torno de 1,5 x 3,5 cm, ou varas de aproximadamente 2 e 3

cm de diâmetro.

Para a estrutura das telhas de fibrocimento foram usadas peças roliças em torno de 12 cm

de diâmetro.
127

5.3.4 Subsistema esquadrias

A maioria das esquadrias é em madeira maciça, algumas fabricadas em carpintarias e

outras executadas artesanalmente. A fixação das esquadrias é feita, em esteios pré-fixados para o

fim específico, onde são fixadas as dobradiças para receber as folhas das esquadrias. Para

fechamento das mesmas são usados os mais diversos tipos de fechos, como fechaduras, cadeados,

ferrolhos, travessas e tramelas.

5.3.5 Subsistema pisos

Boa parte das habitações tem como pavimentação o chão batido, as demais são

pavimentadas com cimentado. O cimentado quase sempre apresenta rachaduras ou, em alguns

casos, deformações oriundas da acomodação do terreno

5.3.6 Subsistema instalações

5.3.6.1 Instalações elétricas

Mesmo contando com infra-estrutura de rede elétrica em baixa tensão, passando em frente

às habitações, aproximadamente 4% das habitações não possuem instalação elétrica em seus

domicílios, por seus habitantes não poderem arcar com o pagamento da conta. Todo o restante

das habitações tem instalação aparente de rede elétrica.

5.3.6.2 Instalações telefônicas

Nenhum dos moradores da área de estudo tem telefone fixo. Apenas 15,5% das habitações

usam telefone móvel e o restante não possui telefones.


128

5.3.6.3 Instalações de água potável

Toda a poligonal de estudo é dotada de rede de água da concessionária, a EMBASA.

Mesmo assim, 62,5% das habitações não dispõem de instalações de água, por não poderem arcar

com o pagamento da contar.

5.3.6.4 Instalações de esgoto sanitário

O bairro do Alegre não dispõe de rede de esgoto, sendo feito individualmente o

lançamento final do esgoto. Na poligonal do estudo, apenas 20,83% das habitações possuem

instalação de esgoto e fazem seu lançamento num buraco profundo coberto por laje de concreto,

que os moradores chamam fossa. O restante das habitações, 79,17% não tem instalações de

esgotamento sanitário.

5.4 O BAMBU EXISTENTE EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ

Foram retiradas duas amostras do bambu existente em São Sebastião do Passé para análise

da espécie, pelo setor competente da Escola de Biologia da Universidade Federal da Bahia, que

identificou ambas como sendo da espécie Bambusa vulgaris. As amostras foram retiradas de

moitas existentes na BR-110, que liga São Sebastião do Passé à BR-324, já próximas à entrada da

cidade, uma a 2 Km, e a outra, a 1 Km da entrada.

FIGURA 40 – BAMBU A 1 Km DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ FIGURA 41 – BAMBU A 2 Km DE SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ
FOTO DO AUTOR (2006) FOTO DO AUTOR (2006)
129

Tanto no município de São Sebastião do Passé, quanto nos municípios vizinhos,

principalmente Candeias, São Francisco do Conde e Santo Amaro a existência de bambu é

bastante significativa, de modo especial o município de Santo Amaro é o que mais cultiva essa

gramínea, pois lá foi instalada uma fábrica de papel. Para este autor, todos de características

semelhantes às amostras identificadas pela UFBA como Bambusa vulgaris.

Na área urbana de São Sebastião do Passé e arredores, são muitas as cercas que dividem

terrenos executadas com bambu. Porém, a falta de conhecimento sobre a necessidade de

tratamento do bambu, sobre as espécies mais apropriadas para cada fim e sobre a forma de

melhor utilizar o bambu, fazem com que o mesmo seja utilizado de forma inadequada,

comprometendo a utilização para o fim desejado


130

6. DISCUSSÕES, AVALIAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

Neste capítulo pretende-se discutir, avaliar e fazer recomendações sobre melhorias

tecnológicas da vedação vertical em técnica mista utilizada em habitações de interesse social.

Para tanto, serão questionadas e avaliadas as recomendações abordadas na base teórica, assim

como, situações apresentadas no estudo de caso.

O perfil sócio-econômico da população que vive na unidade de análise, referente ao

estudo de caso demonstrou tratar-se de uma área de habitação de interesse social, onde as

construções são em técnica mista, atendendo desta forma aos requisitos exigidos pelo tema em

questão. A área apresenta os subsídios para estudar os problemas técnicos das vedações verticais

da técnica objeto de estudo, restando ao pesquisador detectar os problemas, discutir, avaliar e

fazer recomendações para as melhorias tecnológicas referentes às patologias das citadas

vedações. O mais importante porém, é que as recomendações possam ser viabilizadas pela

população estudada, ou populações similares, nas quais, o fator renda familiar e renda per capta

apresentam valores muito baixos

O capítulo 5, na página 101, apresenta a situação de renda e uma síntese do perfil sócio-

econômico da população que ocupa a área do estudo de caso. As discussões, avaliações e

recomendações a seguir estarão ancoradas no tripé formado pelos problemas detectados no

estudo de caso, pelas recomendações levantadas na revisão da literatura e pela adequação das

recomendações à famílias com perfil sócio-econômico equivalentes ao da área de estudo.

Diante do exposto, a seguir, serão levantados os principais agentes de degradação da

habitação em técnica mista, em especial os responsáveis em degradar a vedação vertical e em

seguida serão estabelecidas as disposições construtivas referentes às recomendações de

melhorias tecnológicas para as mesmas. A análise das patologias das vedações verticais permitirá

distinguir os principais agentes de degradação, exigindo conhecer as conseqüências e efeitos para


131

entender os processos pelos quais se manifestaram, e assim, poder recomendar procedimentos de

forma mais eficaz. Entre os principais agentes de degradação, temos: as ações mecânicas, a

erosão, a infiltração e absorção de água, e a condensação de vapor de água.

As ações mecânicas

Ações mecânicas podem provocar danos estruturais na vedação vertical das construções

em técnica mista, como a acomodação da construção ao terreno natural, podendo provocar

fendas e conseqüente abertura de caminhos de preferência para o acesso de água, podendo chegar

a provocar rupturas ou mesmo colapso da construção. Normalmente, a deficiência de

contraventamento é o principal fator responsável.

A erosão

A ação de impacto dos seres vivos, da chuva, do vento com elementos em suspensão e

principalmente de sais solúveis higroscópicos pode provocar erosão na vedação vertical das

construções em “terra crua”.

Os seres vivos provocam pontualmente choques acidentais que podem ser responsáveis

por patologias de umidade.

O impacto da chuva, repetido e direto, vai alterando a superfície dos elementos externos

das vedações verticais, provocando desgaste. As ocorrências de água de chuva sobre uma

superfície contribuem para o desgaste e a erosão dessa superfície. Os salpicos da chuva ao

baterem no solo ou em outros elementos, produzem erosão nas superfícies das vedações verticais

afetadas pelos mesmos.

O vento produz uma ação mecânica, diretamente proporcional ao tamanho das partículas

em suspensão. Se houver contato com a água a ação poderá ser ainda mais forte.

Os sais solúveis higroscópicos existem em maior ou menor quantidade em grande parte

dos materiais de construção e também no solo. Eles existem com maior quantidade próximo da
132

orla marítima, devido aos cloretos, em zonas com elevada poluição atmosférica em virtude dos

sulfatos ou onde tenha havido contaminação por dejetos de animais por causa dos nitratos. Estes

sais são transportados pela água e cristalizam-se quando a água evapora-se. Quando esta

cristalização se dá na superfície provoca eflorescência, ocorrendo uma erosão superficial do

paramento, principalmente por degradação do revestimento, da caiação ou pintura. Os sais

quando cristalizados na superfície podem ser eliminados escovando-se, o que evita provocar

danos na superfície atingida. Quando a cristalização se dá no interior da vedação vertical provoca

criptoflorescência. Isto acontece quando a água atingiu sua migração de secagem no interior do

material ou na interface entre o solo de suporte e o revestimento. Quando cristalizam, os sais

aumentam de tamanho e essa expansão, na maioria das vezes, provoca a ruptura e a degradação

do material envolvente ou o afastamento entre camadas de materiais caso o tamanho de seus

poros não seja suficiente para suportar a expansão dos sais.

Na área de estudo, em função de não se tratar de área próxima à orla marítima e possuir

uma atmosfera interiorana, sem elevada poluição atmosférica, os possíveis sais solúveis

higroscópicos que podem atacar as vedações verticais seriam os oriundos de nitratos.

As principais conseqüências da erosão são a degradação de superfície, o destacamento do

revestimento, a degradação da camada superficial que suporta o revestimento e a acumulação de

vias de penetração de água e infiltração por absorção capilar.

A infiltração e absorção de água.

A água em contato com os elementos da vedação vertical, caso a vedação não esteja

devidamente estanque à presença de água, a tendência é que a mesma seja parcialmente

absorvida por infiltração via fendas existentes no paramento da vedação, por ascensão ou difusão
133

capilar. A água pode ter origem na chuva, no solo ou em acidentes, quando de vazamentos da

tubulação.

A infiltração e absorção de água pela vedação vertical provocam uma diminuição da

resistência mecânica e do isolamento térmico, o transporte dos sais solúveis higroscópicos, a

dilatação/retração do material, provocando novas fendas, as quais provocam maiores infiltrações

criando condições para o desenvolvimento de vegetação parasitária.

A condensação de vapor de água

O vapor de água em excesso e a ocorrência de situação propícia a que esse vapor

condense à superfície ou no interior da vedação vertical podem provocar o umedecimento do

material, geralmente colocado na superfície interior do elemento em contato com o exterior ou

na face interna entre materiais diferentes, ou, ainda, na espessura de um material.

Como conseqüência, a condensação traz o risco de degradação por desenvolvimento de

fungos e bolores conforme mostra a Figura 42, a redução do isolamento térmico, a diminuição

local da resistência mecânica e o risco de deslocamento do acabamento ou do revestimento pela

ação da hidratação/cristalização dos sais solúveis higroscópicos

IGURA 42 – BOLOR NA CASA 7 NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004
Em construções com “terra crua”, cuidados devem ser tomados visando proteger ao

máximo os elementos da construção da umidade e presença de água. Em termos de disposições

construtivas precisa-se garantir um eficiente corte de capilaridade relativamente ao solo e uma


134

boa proteção da vedação vertical através de uma cobertura estanque e com beirais longos.

Precisa-se, também de um revestimento adequado e compatível com o material que constitui seu

suporte e de uma pintura a base de cal, por ser de menor custo e eficaz para este tipo de vedação.

Direcionar a água de superfície, procurando afastar o mais possível da construção, ou seja,

definir um bom sistema de drenagem é fundamental. Na área de estudo, as habitações foram

construídas sem preocupação maior em relação aos problemas e às disposições construtivas

acima mencionadas. Quando muito, o proprietário, reveste a fachada frontal ou faz uma pequena

varanda frontal com largura entre 0,60 m e 1,20 m, o que já minimiza e muito o desgaste do

paramento protegido. A figura 43 apresenta uma das construções que possui varanda.

FIGURA 43 - TÉCNICA MISTA DETERIORADA NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004

Com relação à degradação causada por ações mecânicas, aconselha-se a executar o

contraventamento, tanto no plano das vedações verticais, quanto no plano de apoio da cobertura.
135

A qualidade da técnica mista executada na área do estudo de caso, conforme a figura 44,

é baixa e está longe de ser considerada uma construção segura e saudável pelo contrário, deixa

muito a desejar no que se refere a acabamento, durabilidade, aparência e salubridade

FIGURA 44 - CASAS EM TÉCNICA MISTA NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004

A seguir, será abordada cada disposição construtiva que mereça ser discutida, avaliada e

recomendada, sempre com base na abordagem anterior, na revisão da literatura, nos dados

contidos no estudo de caso e nas condições de execução pelas famílias que habitam a área de

estudo e similares. Ou seja, sempre levando em conta a condição de baixa renda da população a

que se destina este trabalho.

6.1 Sobre a drenagem

No período de chuvas a situação é ainda pior, por falta de drenagem adequada, de reboco,

de pintura e muitas vezes de uma cobertura estanque e de beirais longos. Neste período, as

construções sem revestimento sofrem mais degradação na vedação vertical, principalmente na

vedação externa, que está exposta e a umidade se infiltra até a parte interna. Outro fator

degradador é a água proveniente do terreno úmido da fundação que por capilaridade atinge o

piso, o que deteriora mais e mais a construção.


136

Recomendações para drenagem do terreno

Para evitar a permanência e a aproximação da água em relação à construção, é

importante, quando da escolha do terreno onde será situada a construção, o seguinte

Recomendação 1

Estabelecer, sempre que possível a cota de implantação do piso da habitação acima do

nível do terreno natural, em torno de 20 a 30 cm, no mínimo.

Recomendação 2

Executar calhas a céu aberto para direcionamento das águas de chuva, o mais afastado

possível das vedações externas

Recomendação 3

Estabelecer planos de escoamento entre o pé das vedações verticais e as citadas calhas.

6.2 Sobre a estrutura e o entramado

A madeira usada costuma apodrecer precocemente, devido à falta de tratamento adequado

e por ser uma madeira não apropriada para trabalhar em contato direto com ambiente úmido.

Sofrem, mais são as peças em contato direto com o solo, os esteios e as peças de “enchimento”,

conforme figura 45. Pode-se observar, na figura indicada, que as “varas”, peças horizontais do

entramado, não foram atacadas pela umidade e se encontram em condições normais de uso,

enquanto que o “esteio” de canto e as peças de “enchimento” em contato com a umidade estão

todas totalmente deterioradas. O acúmulo de água nas proximidades das vedações é sempre um

fator degradador, daí a necessidade da drenagem.


137

FIGURA 45 - TÉCNICA MISTA DETERIORADA NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004

A foto anterior ilustra o estado de degradação das peças de madeira em contato com o

solo. Peças que segundo os habitantes e pessoas que participaram da construção, não receberam

qualquer tratamento para subsistir ao meio onde foram colocadas

A água do solo, por capilaridade ou a água do beiral que bate no solo e respinga na

vedação vertical, conforme figura 46, se constitui elemento degradador tanto do solo que

constitui a vedação vertical, como das peças de madeira que constituem os esteios e o entramado.

A Figura 47, ampliada da figura anterior, visualiza a degradação da vedação vertical causada

pelos salpicos da água de chuvas e pelos ventos, que com impactos contínuos aos poucos minam

a resistência da camada superficial até o colapso total.


138

FIGURA 46 - TÉCNICA MISTA DETERIORADA NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004

FIGURA 47 – AMPLIAÇÃO DESTACANDO A UMIDADA QUE DEGRADA O SOLO DE FECHAMENTO E AS VARAS


Foto do autor - em 2004

Como constatado no estudo de caso, a técnica mista atualmente praticada na área utiliza a

madeira como elemento de estrutura e entramado, onde a mesma não é mais adquirida
139

gratuitamente, como acontecia no passado sua qualidade baixou de padrão, em função da grande

demanda e do extermínio das matas e seu preço sobe a cada dia. Diante do quadro atual, a

utilização do bambu poderá ser uma possibilidade a ser experimentada, tendo em vista a

existência do mesmo na região. A utilização do bambu em construção de técnica mista e em

outras técnicas, embora usada de forma tímida no Brasil, é feita em grande escala por povos de

outros países, destacando-se a América do Sul, a Colômbia, o Peru e a Venezuela. Para tanto,

entre nós será necessário criar uma cultura sobre o cultivo, tratamento e uso adequado do bambu

para os diversos fins, em especial para a construção, de modo a explorar as vantagens de uso

deste material. A capacidade do bambu aos esforços mecânicos, sua baixa densidade, seu baixo

consumo energético de produção, sua facilidade de reprodução, sua precoce idade de utilização

(a partir do 3° ou 4° ano) e a compatibilidade do nosso solo são fatores que propiciam seu uso,

principalmente quando o planeta mais precisa da prática de materiais com maior sustentabilidade

e que menos degradem o meio ambiente. Uma forma de investir na tecnologia do bambu na atual

conjuntura seria uma articulação entre entidades tipo ONGs, prefeituras, governos estaduais,

Ministério das Cidades, universidades e instituições de pesquisas.

Para a área de estudo, importante, também, será a importação de outras espécies de

bambu, mais apropriadas para o uso em questão, como o Guadua e o Phylostachis edulis.

Primeiro, porque é recomendável que se trabalhe com mais de uma espécie segundo, porque

podem ser tratados naturalmente, sem uso de produtos químicos e, ainda, pelas várias

possibilidades de uso destas duas espécies.

As peças da estrutura principal e do entramado, quer sejam de madeira ou de bambu,

deverão receber tratamento adequado para evitar a degradação por insetos ou pela umidade,

conforme mostra a Figura 48. As partes das peças em contato com o solo de fundação deverão

ser impermeabilizadas
140

FIGURA 48 - TÉCNICA MISTA DETERIORADA,NO BAIRRO DO ALEGRE, EM SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ


Foto do autor - em 2004
A figura anterior ilustra o estado de degradação de uma vedação vertical da área de

estudo, por falta de tratamento e impermeabilização das peças e do cuidado em afastar as águas

de chuva da vedação.

Importante também é o contraventamento da construção, devendo o mesmo ser feito com

peças em diagonal, conforme referência da Figura 14, Capítulo 2, página 36. A figura citada

ilustra a peça de contraventamento passando pelo entramado, numa construção de técnica mista

(tabique) em Portugal, onde esta prática é comum, diferentemente do que acontece na área

estudada.

Também, deve-se contraventar as vigas de travamento ao nível do pé direito mínimo,

travando-se os vértices com peças, também em diagonal, formando triângulos no plano de base

das vigas. Este procedimento oferece uma rigidez maior a toda a construção, evitando

desestabilização da construção como a da Figura 49, referente à casa 96 do mapa da Figura 29,

Capítulo 5, página 99.


141

FIGURA 49 – PARAMENTO VERTICAL ESCORADO (HABITAÇÃO EM VIA DE TOMBAMENTO)


Foto do autor - 2004

Importante, também, é a uniformidade da seção das peças verticais do entramado,

denominadas pela comunidade local de “enchimento”. Na área de estudo, além das mesmas

terem seções variadas conforme a Figura 50, na maioria das construções a seção máxima é de 5

cm, quando o ideal seria de aproximadamente 8 cm. Na unidade de análise percebe-se uma falta

de procedimentos importantes para propiciar uma vida útil bem maior das habitações. A madeira

utilizada apresenta uma verdadeira mistura de tipos, sem nenhum cuidado quanto à capacidade

maior ou menor de resistência aos esforços, considerando-se para todas a mesma capacidade de

carga e de vida útil, o, que acaba por comprometer a estanquidade do conjunto e a vida útil da

construção. Visualmente percebe-se que a “vara” do entramado possui quase que a mesma seção

da peça de enchimento.
142

FIGURA 50 – PEÇAS DO ENCHIMENTO COM SEÇÕES DIFERENTES


Foto do autor - 2004
Outro aspecto diz respeito ao afastamento máximo, que deve ser constante, cujo valor

deverá estar relacionado à seção das peças. A maior parte das construções, na área referente à

unidade de análise, não apresenta este cuidado. Destaca-se na Figura 51 o diâmetro das peças de

“enchimento”, que é bastante reduzido e a falta de modulação entre os espaços, tanto das peças

verticais, quanto das varas (peças horizontais), o que demonstra uma falta de critério na execução

do entramado.
143

FIGURA 51 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO A FALTA DE MODULAÇÃO ENTRE AS PEÇAS


Foto do autor - 2004

Recomendações para a estrutura e o entramado

Recomendação 1

As peças de mesma função deverão possuir seção equivalente, devendo receber

tratamento a base de carbolinio ou qualquer outro preservante de baixo risco ambiental, os

denominados “preservantes da nova geração”

Recomendação 2

As peças em contato direto com o solo, além de serem tratadas, deverão ser

impermeabilizadas com o uso de garrafas plásticas usadas, como foi abordado no Capítulo 3,

página 63 e ilustrado na Figura 19, página 64, ou serem implantadas em bases impermeáveis,

envolvendo toda a parte enterrada dos esteios com concreto impermeável, e as peças de
144

“enchimento”, fixadas em sapata corrida, também em concreto impermeável, recobrindo-as até o

nível do piso interno.

Recomendação 3

Executar a estrutura principal com madeira, enquanto não se domine a cultura do bambu.

Recomendação 4

Executar o entramado com madeira ou com bambu, pois a técnica de fazer o entramado é

a mesma para qualquer dos dois materiais. A escolha ficará por conta do menor custo.

Recomendação 5

Manter o espaçamento uniforme entre as peças do entramado, tanto entre as peças de

“enchimento”, quanto das “varas”, de forma a estabelecer um módulo o mais uniforme possível

para receber o solo de fechamento.

Recomendação 6

Executar o contraventamento da construção, referente aos paramentos verticais, com

peças em diagonais, conforme Figura 14, Capítulo 2, página 48, como do plano horizontal da

cobertura, no nível do pé direito (vigas do frechal).

6.3 Sobre o solo

Conforme visto anteriormente, o solo local possui argila em quantidade superior ao

recomendado para uso em técnica mista, necessitando ser corrigido, de modo a evitar o atual

elevado nível de retração. As figuras 52, 53 e 54 ilustram imagens das vedações verticais

preenchidas com os três tipos de solo amostrados na área de estudo.


145

FIGURA 52 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO O SOLO DA PRIMEIRA AMOSTRA


Foto do autor - 2004

Visualmente o solo da amostra 1 apresenta uma retração acentuada nas linhas demarcadas

pela estrutura e entramado, apresentando menos fissuras no bloco de solo que fecha cada módulo

do entramado.

FIGURA 53 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO O SOLOLO DA SEGUNDA AMOSTRA


Foto do autor – 2004
146

O solo da amostra 2 apresenta visualmente uma retração nas linhas demarcadas pela

estrutura e entramado aparentemente menor que o da amostra 1, e no bloco do solo que fecha

cada módulo do entramado, apresenta-se um desgaste causado pelo intemperismo

FIGURA 54 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO O SOLO DA TERCEIRA AMOSTRA


Foto do autor - 2004
O solo da amostra 3, no nível visual é o que apresenta uma retração maior, tanto nas

linhas demarcadas pela estrutura e entramado, quanto no bloco de solo que fecha cada módulo do

entramado

O comportamento dos solos retratou, com base em uma análise visual, o resultado

esperado, se comparados com as análises resultantes dos ensaios de laboratório apresentados

antes.

Na área de estudo o “barreamento”, via de regra, consiste apenas em uma fase, referente à

camada de fechamento da trama que constitui o entramado, sem preocupação em recobrir as

varas, conforme as Figuras 55 e 56. Esta prática possibilita, junto com outros agentes de
147

degradação, a penetração da água entre o solo de fechamento e as peças de estrutura e entramado

e dificulta a aderência do reboco à superfície de suporte.

FIGURA 55 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO A FALTA DE RECOBRIMENTO DAS VARAS


Foto do autor – 2004

FIGURA 56 – PARAMENTO VERTICAL DESTACANDO A FALTA DE RECOBRIMENTO DAS VARAS


Foto do autor - 2004
148

O ideal, para se obter o solo perfeito para, ser usado na técnica mista, assim como em

outras técnicas, é realizar exames laboratoriais de caracterização do solo e, a partir dos

resultados, proceder à devida correção, se necessária. Porém, em se tratando de habitação de

interesse social, onde qualquer custo a mais, mesmo que seja para melhoria de sua habitação,

torna-se oneroso, a melhor opção é recomendar o uso de testes empíricos, como os tratados no

capítulo 5, páginas 114 a 119

Recomendações para o uso do solo

Recomendação 1

Para escolha do melhor solo, a primeira recomendação é que a amostra seja retirada a

uma profundidade de 40 cm abaixo do terreno natura e em 4 pontos diferentes do terreno,

conforme Miditieri e outros (1987) e Milanez (1958), Capítulo 2, página 37.

Recomendação 2

Usar pelo menos 2 testes empíricos entre os indicados por Miditieri e outros (1987) teste

das bolas, que estabelece como melhor solo os das bolas de menor retração; o de |Gieth e outros,

teste da pressão dos dedos; o desenvolvido por Neves e outros (2005), teste do rolo; e os

recomendados por Lengen (2002), teste da cor, teste do odor, teste da mordedura, teste da

sedimentação, teste de sedimentação e teste de contração, também denominado como teste da

caixa, capítulo 2 páginas 37 a 40.

Recomendação 3

Evitar o excesso de água na mistura, ou seja, trabalhar com a mistura o mais seca possível

para evitar fissuras por secagem e usar palha picada na mistura para permitir a evaporação da

água na massa toda por igual, conforme Milanez (1958), capítulo 2, página 40.
149

Recomendação 4

Deixar a mistura em repouso, preferencialmente à noite, por um período de 12 horas,

conforme Gieth e outros (1994), Capítulo 2, página 41.

Recomendação 5

Colocar o solo com as mãos entre as varas do entramado, adensando o mesmo, conforme

Milanez (1985), Capítulo 2, página 40.

Recomendação 6

Fixar sobre as peças da estrutura e presas no entramado, uma tela plástica com trama de

aproximadamente ½ polegada para propiciar melhor aderência do solo de cobertura das peças. A

tela deverá ultrapassar, pelo menos, 20 cm além da peça de recobrimento.

Recomendação 7

Aplicar o solo em 3 fases (camadas), conforme recomenda DAM (1988), Capítulo 2,

página 41, tendo o cuidado para que a última de solo, que serve de suporte para o reboco, cubra a

superfície de todas as peças, tanto da estrutura, quanto do entramado.

6.4 Sobre o reboco

O revestimento (reboco) tem a função primordial de proteger a vedação vertical do

intemperismo, evitando a degradação do solo pela chuva e ventos fortes, além de vedar as suas

fissuras, propiciando um paramento uniforme, evitando ninhos de insetos como, o transmissor da

doença de Chagas, o “barbeiro”, e outros. Um revestimento bem executado e aplicado sobre

suporte adequado, é o principal responsável pela estanquidade da vedação vertical e proteção,

propiciando uma durabilidade maior da habitação e protegendo a mesma de doenças causadas

por insetos, que quando não revestida funciona como ninhos acolhedores dos mesmos. Não é por

menos que os estudiosos de técnica mista consideram o revestimento como um dos elementos
150

essenciais para a proteção das vedações verticais e saúde dos habitantes. Este cuidado não é

notado na área de estudo, onde apenas 12,5% das habitações são totalmente revestidas, 66,67%

possuem revestimento apenas na fachada frontal e as 20,83 restantes não são revestidas.

Para uma boa aplicação do reboco é necessário que a base de suporte possua as

características de aderência ao mesmo. Se a base para suporte do reboco não for executada com

material apropriado, o reboco acaba por desgarrar-se do paramento por falta de aderência,

conforme Figuras 57 e 58, inutilizando o trabalho executado, ou, no mínimo, diminuindo a vida

útil do reboco.

FIGURA 57 – VEDAÇÃO VERTICAL DESTACANDO A DETERIORIZÇÃO DO REBOCO


Foto do autor – 2004

FIGURA 58 – VEDAÇÃO VERTICAL DESTACANDO A DETERIORIZÇÃO DO REBOCO


Foto do autor - 2004
151

As figuras 57 e 58 ilustram como a falta de recobrimento da trama pela camada de

enchimento da mesma é responsável pela fissuração e degradação do reboco. A função do reboco

é proteger a vedação vertical do intemperismo, evitando a degradação do solo pela chuva e

ventos fortes e preencher as fissuras decorrentes da retração do solo, propiciando um paramento

uniforme e pronto para receber a pintura.

Seguem as recomendações consideradas pertinentes e necessárias para a aplicação do

reboco, de modo a propiciar uma proteção adequada da vedação vertical.

Recomendações para o reboco

Recomendação 1

Executar um perfeito nivelamento da superfície de suporte e que esta cubra todas as

peças, tanto do entramado, quanto da estrutura.

Recomendação 2

Usar um chapisco de impermeabilização nas paredes externas e internas até a altura de 50

cm do piso, conforme destacaram Lopes e Ino (2003) referindo-se ao PROAFA (1979), Capítulo

2, página 44.

Recomendação 3

Adotar os procedimentos DAM (1988), conforme Capítulo 2, página 41 ou os de Gith e

outros, também no Capítulo 2, página 43.

Recomendação 4

Fazer uma amostra com os 2 tipos de traço indicados anteriormente, por DAM e por

Gieth e outros, usando-se o que apresentar menos fissuras.


152

6.5 Sobre a pintura

Para Guimarães (1978), “apesar de vários exemplos de construções com terra que

resistiram a séculos, mesmo sem revestimento, é conveniente dar às paredes de solo-cimento,

uma proteção contra o desgaste, transmissão de calor e umidade”. A pesquisadora realizou uma

experiência para pintura em solo-cimento utilizando corpos de prova sem pintura, pintados com

Têmpera, com Hidracor, com Cimento Branco e Areia, com Conservado P e com Látex.

Segundo Guimarães, a pesquisa realizada demonstrou que entre as pinturas aplicadas, o

Conservado P e a tinta à base de Látex foram as que melhor apresentaram resultados, sendo que

a pintura à base de Látex exige um paramento com superfície bem acabada, sem furos ou trincas.

A pintura complementa a função do revestimento, de modo a oferecer ao mesmo uma

capacidade maior de impermeabilidade. Esta, além de contribuir com a impermeabilização da

vedação vertical, propiciará uma boa qualidade de higiene e um maior ou menor índice de

iluminação natural, a depender da cor adotada. Para habitação de interesse social, construída em

técnica mista, a pintura mais adequada, em função da melhor aderência e do custo é à base de

cal. Segundo Rodrigues (2006, p.11), nas pinturas tradicionais à base de cal, “a solidificação

ocorre na seqüência da cristalização dos constituintes, originando uma camada que atua como

consolidante do próprio reboco”. Para Rodrigues, a cor da pintura pode ser obtida com a mistura

de corantes orgânicos ou inorgânicos, naturais ou artificiais que além de conferir a cor, podem

ter importante papel na durabilidade do filme.

Conforme os dados obtidos no estudo de caso, apenas 8,33% das habitações receberam

pintura em toda a vedação vertical interna e externa e uma delas é mostrada na figura 59.
153

FIGURA 59 – VEDAÇÃO VERTICAL TOTALMENTE PINTADA, EXTERNA E INTERNAMENTE


Foto do autor – 2004

A casa da Figura 59 é pintada com tinta à base de Cal, com pigmento denominado no

comércio local “xadrez”, na cor azul. Este tipo de pintura foi bastante utilizado nas construções

coloniais brasileiras, e ainda hoje em casas de técnica mista (tabique), em Portugal.

A pintura à base de Cal tem a vantagem de encorpar a superfície da vedação vertical da

técnica mista, preenchendo todos os vazios, inclusive furos e fissuras, de modo a

impermeabilizar toda a área pintada. A pintura à base de Látex forma um filme, tornando-se

vulnerável nos pontos de fissuras e furos do paramento.

Metade das construções da área de estudo recebe pintura apenas na fachada principal,

conforme a Figura 60.


154

FIGURA 60 – VEDAÇÃO VERTICAL PARCIALMENTE PINTADA, APENAS A FACHADA PRINCIPAL


Foto do autor – 2004

A falta de reboco nas construções propicia uma má condição de higienização, a

deteriorização e o abrigo de insetos, conforme a Figura 61.

FIGURA 61 – VEDAÇÃO VERTICAL SEM REBOCO E SEM PINTURA EXTERNA E INTERNA


Foto do autor – 2004
155

Recomendações para a pintura

Recomendação 1

Pintar as vedações verticais com tinta à base de Cal, em função do baixo custo, aditando à

mesma cola plástica ou produto similar, encarregado de possibilitar uma melhor aderência entre

a pintura e a superfície de suporte, o reboco.

Recomendação 2

Usar cores claras, de preferência o branco ou o bege claro, de modo a propiciar um

melhor aproveitamento, tanto da luz natural, quanto da artificial.

6.6 Sobre a cobertura

6omo elemento que faz interface com a vedação vertical, a cobertura deverá, além de

vedar o interior da habitação, proteger parcialmente a vedação vertical. Portanto deverá ser

executada com bastante cuidado, de forma a se tornar uma vedação estanque ao intemperismo,

principalmente às águas de chuva, conduzindo as mesmas de forma eficaz e o mais longe que

puder da habitação. Por isso, é recomendável, sempre que possível, prolongar ao máximo os

beirais sobre a vedação vertical, de modo a propiciar uma área maior de proteção da mesma em

relação á chuva e lançar a água do beiral o mais longe possível da construção. Uma forma de

evitar o salpico da água de chuva da sobre a parte inferior da vedação vertical é usar uma calha

no beiral da cobertura, podendo ainda coletar a água para uso dos habitantes.

Na área de estudo mais de 70% das coberturas são em telha cerâmica de olaria, conforme

os dados da tabela 20, no capítulo 5 e as figuras 62 e 63. Esta telha, fabricada artesanalmente é

relativamente pequena, em torno de 35 cm de comprimento, de custo compatível com a

população amostrada, conforme demonstra o percentual de usuários, e juntamente com o solo de

fechamento da vedação vertical propicia uma temperatura ambiente agradável.


156

FIGURA 62 – COBERTURA EM TELHA CERÂMICA DE OLARIA


Foto do autor – 2004

FIGURA 63 – COBERTURA EM TELHA CERÂMICA DE OLARIA


Foto do autor – 2004
157

Recomendações para a cobertura

Recomendação 1

Travar a cobertura no nível da viga de frechal (pé direito mínimo), com peças horizontais

fazendo um triângulo em cada vértice externo da construção, de modo a dar mais rigidez à

vedação vertical.

Recomendação 2

Avançar com o balanço dos beirais o mais possível, de modo a propiciar uma melhor

proteção à vedação vertical.

Recomendação 3

Usar telhas cerâmicas de olaria, por propiciar um custo menor e um bom desempenho

térmico.

Recomendação 4

Usar varandas sempre que possível, e de preferência em todos os lados da construção,

protegendo desta forma, os paramentos verticais externos.

6.7 Sobre as esquadrias

Faz parte das vedações verticais as esquadrias as esquadrias cuja finalidade é possibilitar

o acesso à habitação, garantir a iluminação natural, permitir contemplar a paisagem exterior e

permitir a ventilação dos ambientes, sem perder as funções de estanquidade, principalmente das

águas de chuva, além de responder pela segurança da habitação contra intrusos. Na área de

estudo a maioria das esquadrias, em torno de 80% são fabricadas artesanalmente e o restante em

carpintarias da localidade. Na maioria são em madeira e não dispõem de aberturas em vidro, o

que torna os ambientes sombrios, quando fechadas. Quando muito, em alguns casos de

esquadrias executadas nas carpintarias, usam-se paramentos em veneziana. As 2 casas à direita


158

da Figura 64 são edificações em técnica mista, assim com, as 2 à esquerda da Figura 65, onde

se vêm o padrão das esquadrias utilizados na técnica mista da área de estudo.

FIGURA 64 – PADRÃO DAS ESQUADRIAS NA VEDÇÃO VERTICAL


Foto do autor – 2004
As esquadrias observadas são todas em madeira, sem condição de iluminação natural em

tempo de chuva, exceto na habitação que possui uma pequena varanda, a qual protege a janela e

a vedação vertical. Entende-se que este padrão de esquadria representa o padrão do “saber fazer”

da população, onde, muitas vezes, as tábuas compradas na madeireira são apenas juntadas e

presas com pregos a travessas horizontais, colocadas na parte de dentro.

FIGURA 65 – PADRÃO DAS ESQUADRIAS NA VEDDÇÃO VERTICAL


Foto do autor – 2004
159

A casa da direita apresenta uma janela em veneziana, o que permite uma permanente

condição de ventilação do ambiente; falta, porém, elemento que conduza a iluminação natural

para o interior da habitação.

Recomendações para as esquadrias

Recomendação 1

As esquadrias deverão possibilitar a penetração da ventilação, assim como da iluminação

natural nos ambientes, sempre que necessário.

Recomendação 2

As esquadrias deverão garantir a segurança da habitação contra intrusos e contra as

intempéries.

6.8 Síntese das discussões, avaliações e recomendações

Os estudos apresentados demonstraram o valor da construção executada em técnica mista,

principalmente para habitações de interesse social, nas quais, o poder de compra é baixo, sendo

esta técnica a que melhor se enquadra para a aquisição de sua moradia. Quando FLORES (1989),

afirma que a técnica mista é um sistema construtivo usado atualmente nos setores de escassos

recursos econômicos visando oferecer ao homem um teto, dando-lhe a esperança de no futuro

construir uma habitação mais durável, faltou analisar e recomendar melhorias no uso desta

técnica, visando estabelecer uma vida útil maior e condições de habitabilidade mais saudáveis.

Temos pelo mundo centenas de exemplos de construções erguidas em técnica mista,

muitas delas centenárias, que estão a demonstrar sua capacidade de segurança, durabilidade e de

ambiente saudável. Foram construções erguidas com materiais duráveis, executados de modo

tecnicamente correto, cujos espaços foram devidamente enquadrados em benefício da função, da

orientação e da forma de viver das famílias. Portugal tem, na cidade de Lamego um imenso
160

patrimônio de casas centenárias em técnica mista. Não apenas em Lamego, mas em Tarouca,

Guarda, Covilã, Fundão, Alpedrinha e tantas outras localidades, principalmente no norte de

Portugal.

Com relação ao estudo de caso, os dados, as fotos e os contatos dão um diagnóstico de

um povo financeiramente pobre, mas muito acolhedor. Ninguém se negou a responder o

questionário, que foi bastante amplo, com perguntas não apenas voltadas para a forma de se

construir, mas também referente a dados pessoais. O Alegre é uma área de periferia, mas lá não

existe a figura do invasor; cada um, dentro das suas minguadas possibilidades, conseguiu

comprar seu terreno e erguer sua moradia, ou já comprou a moradia pronta.

Em termos ambientais o problema maior é a falta de esgotamento sanitário, do uso de

água potável e de drenagem pluvial. Aproximadamente 80% dos moradores das casas em técnica

mista não têm vaso sanitário e os 20% que possuem banheiro com vaso sanitário fazem o

lançamento do vaso em fossa negra (sem tratamento). A instalação de água domiciliar é outro

problema, já que apenas, 37% das habitações possuem água instalada. A drenagem pluvial não é

satisfatória sequer na via principal.


161

7. CONCLUSÕES

Esta pesquisa atingiu os objetivos estabelecidos para o trabalho, onde avaliou o modo de

se construir com técnica mista em São Sebastião do Passé, estudou e diagnosticou o perfil

econômico da população alvo, o tipo de solo local, o uso e condições da madeira aplicada e,

estabeleceu recomendações para melhoria tecnológica das vedações verticais na técnica em

questão. O trabalho fez uma introdução sobre a necessidade urgente que os países,

principalmente os em desenvolvimento, estão passando para atender a demanda, cada vez maior,

de habitações destinadas à famílias de baixa renda. Fez também, uma abordagem sobre a

necessidade de utilização de materiais renováveis, que consumam o mínimo de energia em seu

processo produtivo e que não venham a comprometer o uso pelas gerações futuras. No trabalho

buscou-se resgatar o uso de construções com terra crua, em especial as que utilizam a técnica

mista, sendo desenvolvido uma pesquisa sobre o uso da citada técnica em países como o Japão,

Equador, Paraguai, Portugal e Brasil. Na pesquisa bibliográfica foram estudados e analisados os

principais elementos que compõem a vedação vertical da técnica mista, como a estrutura, o

entramado, o solo e as recomendações de diversos pesquisadores sobre a melhor forma de

execução e proteção da mesma. Realizou-se um Estudo de Caso no bairro do Alegre, em São

Sebastião do Passe, Bahia, onde foram pesquisadas 24 (vinte e quatro) habitações. Os dados

levantados na pesquisa propiciaram o estudo, a análise e o diagnóstico, que, juntamente com a

pesquisa bibliográfica propiciaram o estabelecimento de recomendações para melhoria

tecnológica da vedação vertical em habitações de interesse social.

No Estudo de Caso foi avaliada a condição sócio-econômica da população, da qual,

62,5% têm uma renda média per capta mensal de R$ 40,00 (quarenta reais), correspondente a R$

1,33 (um real e trinta e três centavos) de gasto diário por pessoa, caracterizando a população

como de baixa renda. Foram avaliados ainda, os principais materiais usados, o tempo de
162

construção das habitações e as patologias das construções. Descreveu-se a forma com que as

construções foram executadas, sendo em seguida discutidos e avaliados os elementos contidos na

investigação. Por se tratar de população de interesse social, as recomendações foram

estabelecidas visando o menor custo e a possibilidade de serem executadas pela comunidade

local. No entanto, a análise sócio-econômica demonstra que se faz necessária uma política

pública de emprego e renda, visto que 50% da população é desempregada.

Os estudos apresentados demonstraram o valor da construção executada em técnica

mista, principalmente para habitações de interesse social, onde, mesmo com recursos

econômicos escassos, o homem pode construir um teto. As recomendações feitas no trabalho

contribuirão para a elaboração de uma habitação mais duradoura e mais saudável.

O trabalho mostrou exemplos de construções erguidas em técnica mista em várias partes

do mundo, muitas delas centenárias, e que estão a demonstrar sua capacidade de segurança,

durabilidade e de ambiente saudável. São construções erguidas com materiais duráveis,

executadas de modo tecnicamente correto, cujos espaços foram devidamente enquadrados em

benefício da função, da orientação e da forma de viver das famílias. Entre os países que

utilizaram a técnica mista, conforme consta no capítulo 2, Portugal se destaca, abrigando na

cidade de Lamego um imenso patrimônio de casas centenárias construídas com esta técnica. Não

apenas Lamego, mas Tarouca, Guarda, Covilã, Fundão, Alpedrinha e tantas outras localidades,

principalmente no norte daquele país.

Na atualidade, o grande vilão da técnica mista para habitação de interesse social é a

madeira. A cada dia a madeira de lei convencional (Pau d´arco, Maçaranduba, Sucupira, etc.) se

torna mais escassa e seu preço mais elevado. Diante desse quadro, duas alternativas surgem

como substituto da madeira convencional: a madeira reflorestada, da qual, o eucalipto se

apresenta como o mais indicado, pelo curto tempo entre o plantio e o corte para utilização; e o
163

bambu, tão bom quanto a madeira, para o uso em questão. Acontece que o custo para o

tratamento do eucalipto é significativo e realizado com produtos químicos nocivos. Quanto ao

bambu, existe a necessidade de importação de pelo menos 3 espécies apropriadas para o uso em

construção civil cujo tratamento seja efetuado por processos não tóxicos, como o Phyllostacys, o

Guadua e o Dendrocalamus giganteus.

As 3 espécies podem, além do uso na construção civil, ser utilizadas para a fabricação de

peças musicais, mobiliário, cercas, reflorestamento e irrigação, sendo que a espécie Phyllostacys

também é usada como alimento para o homem. Outra grande vantagem é que a partir do quarto

ano o bambu já pode ser cortado e tratado para ser usado na construção civil.

Com relação ao estudo de caso, os dados, as fotos e os contatos mostraram a face de um

povo simples, financeiramente pobre e muito acolhedor. Ninguém se negou a responder o

questionário, que diga-se de passagem, é bastante amplo, com perguntas não apenas voltadas

para a forma de se construir, mas também, para a obtenção de dados pessoais. O Alegre é uma

área de periferia, mas lá não existe a figura do invasor. Cada um, dentro das suas minguadas

possibilidades conseguiu comprar seu terreno e erguer sua moradia, ou já comprou a moradia

pronta.

Em termos ambientais o problema maior é a falta de esgotamento sanitário.

Aproximadamente 80% dos moradores das casas em técnica mista não têm vaso sanitário e os

20% que possuem banheiro com vaso sanitário fazem o lançamento do vaso em fossa negra (sem

tratamento). Outro problema é a instalação de água domiciliar, já que apenas 37% das habitações

possuem água encanada. No mais, o dano ambiental maior é decorrente do uso da madeira para a

construção, que a cada dia contribui para a diminuição das poucas matas que restam. Com a

substituição da madeira pelo bambu, esse mal será sanado, ganhando-se ainda o reflorestamento

com o plantio do bambu, trazendo imediata melhoria ao meio ambiente. A retirada do barro para
164

a “tapagem da casa” é tão insignificante que não chega a comprometer seu uso para as gerações

futuras. Normalmente o barreiro é fechado logo após o final do barreamento. Uma forma mais

apropriada é a de fazer o barreiro no local da futura fossa e/ ou do poço sumidouro.

7.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O significado da moradia para o ser humano vai muito além de ser apenas um local de

abrigo. A moradia reúne a primeira das células sociais, a família. Ela é um símbolo de

identificação social e cultural e isso torna a análise da questão mais complexa. Neste trabalho,

além de se procurar identificar os problemas tecnológicos e ambientais, buscou-se avaliar e

encontrar formas para a moradia de interesse social. Nos estudos, avaliações e discussões foram

abordados pontos que poderão ser desenvolvidos em trabalhos futuros, assim como, deverá se

buscar uma forma capaz de transmitir as recomendações do trabalho para a população de

interesse social, através de:

 sistematização de um processo construtivo adequado ao uso do bambu na

técnica mista;

 estudo de formas compatíveis com o uso do bambu na técnica mista,

visando estabelecer novas tipologias;

 estudos sobre a durabilidade das construções em técnica mista;

 estudos sobre as patologias das vedações em técnica mista; e

 elaboração de uma cartilha com as recomendações aqui propostas.


165

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REFERENCIAS CITADAS

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176

APÊNDICE

FORMULÁRIO DOSS DADOS DA PESQUISA


177
178
179
180
181
182
183
184

ANEXOS

ANEXO 1

Espécies de bambu nativas do Brasil

e espécies originárias de outros países e cultivadas no Brasil


185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
195

ANEXO 2

Confirmação da espécie de bambu existente em São Sebastião do Passé


196
197

ANEXO 3

Resultado ods ensaios de caracteriuzação do solo


198
199
15
200
2
201
3
202
4
203
5
204
6
205
7

ANEXO 4

Mapa da poligonal de estudo destacando as casas em técnica mista


206
8

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