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USOS E IMPLICAÇÕES DOS TERMOS “SEXO” E “GÊNERO” NAS

PUBLICAÇÕES DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Mateus Oka
fariasoka@outlook.com
Carolina Laurenti
laurenticarol@gmail.com
Universidade Estadual de Maringá

RESUMO

A origem e a difusão da separação analítica de “sexo” e “gênero” remetem a uma


vasta bibliografia, sobretudo no âmbito biomédico, caracterizando uma pluralidade
quanto às suas acepções e os usos feitos desses conceitos. O campo das ciências
da saúde, por um lado, revela sua aproximação com discussões feministas por meio
de políticas públicas e, por outro, historicamente é uma precursora de usos
normativos de “sexo” e “gênero”. Dado esse panorama, buscou-se investigar os
usos dos termos “sexo” e “gênero” em artigos da área, selecionados na base de
dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
Foram obtidos 18 artigos, cujo conteúdo foi sistematizado na forma de tabelas e,
posteriormente, articulado em uma análise qualitativa, que destacou alguns usos
normativos dos conceitos. Dentre as utilizações possíveis dessas palavras, foi
possível identificar: (a) uma sinonímia entre os conceitos; (b) a noção de “gênero”
como relação entre os “sexos”, marcada por desigualdades; e (c) a tese de questões
de “gênero” como um conjunto de mitos da cultura sobre a sexualidade. A discussão
realizada não visou prescrever usos corretos dos conceitos. Pensando nas
implicações éticas e políticas, pretendeu-se contribuir na produção e circulação de
debates nesse campo.

Palavras-chave: Sexo; Gênero; Saúde; Ciência; Ética.

INTRODUÇÃO

A definição tradicional de “sexo” remete, inevitavelmente, às biociências: “O


sexo biológico é constituído pelas características fenotípicas (órgãos genitais
externos, órgãos reprodutores internos, mamas, barba) e genotípicas (genes
masculinos e genes femininos) presentes em nosso corpo.” (BRASIL, 2010, p. 16). A
estreita relação dessa categoria com o campo biomédico – quando entendida
segundo essa acepção tradicional – se confirma pela sua própria negação no
conceito de “gênero”, que, por sua vez, é “a construção histórica, cultural e política
das diversas possibilidades de ser feminino(a) e/ou masculino(a). Ultrapassa,
portanto, o ‘ser macho’ ou ‘ser fêmea’”; e, consequentemente, na definição de
identidade de “gênero”, “não há um elo imediato e inescapável entre [...] o corpo
biológico em sua totalidade, e o sentimento que a pessoa possui de ser homem ou
mulher.” (BRASIL, 2010, p. 16-17).
Os estudos de John Money foram um dos primeiros a sugerir a possibilidade
de uma descontinuidade entre o corpo biologicamente concebido e a identidade
masculina ou feminina construída posteriormente ao nascimento. Conforme o
médico, “Nós nos tornamos homens e mulheres em etapas.” (MONEY; TUCKER,
1981, p. 9). O objetivo do cientista era, em suma, fazer com que “hermafroditas,
travestis, transexuais e homossexuais” (MONEY; TUCKER, 1981, p. 9) pudessem
adequar um “sexo”, por exemplo, feminino, a um “gênero” também considerado
feminino. Assim, as intervenções clínicas encaminhariam os rumos para que esses
sujeitos pudessem adequar seu corpo a uma identidade culturalmente reconhecida.
A constituição dos conceitos de “sexo” e de “gênero” está, portanto, baseada
em uma separação epistemológica, tipicamente moderna, entre campos
disciplinares das ciências biológicas e das ciências humanas, divididas entre a
natureza e a cultura – “sexo” e “gênero”, respectivamente. Se “gênero” diz respeito
às construções históricas de uma identidade masculina ou feminina, ou às relações
de poder entre homens e mulheres, essas temáticas fariam parte do objeto de
estudo tradicionalmente concebido das ciências humanas. Em contrapartida, ao
entender “sexo” conforme as características fenotípicas e genotípicas de corpos
sexuados em “macho” e “fêmea”, essa categoria estaria situada no âmbito das
biociências1.

1
É interessante pensar, nessa lógica, no lugar disciplinar das ciências da saúde e, talvez, a
psicologia. Ao pensar nas identidades dissidentes e tentar adequá-las a um modelo de
heterossexualidade compulsória (BUTLER, 2003), o médico John Money precisou acionar
conhecimentos tradicionalmente divididos das ciências humanas e das biociências, separadas
também por uma noção de objetividade científica (LAURENTI, 2014). Esses conhecimentos muitas
vezes entendidos de maneira dicotômica constituem uma pluralidade disciplinar das ciências da
saúde e, talvez, um desafio na tentativa de articulá-los.
Como pontuado por Haraway (2004), a cisão entre “sexo” e “gênero” tem
também uma importância política que fora fomentada por feministas da década de
1970: a desnaturalização – no sentido de retirar a “natureza”, entendida de maneira
análoga a “sexo” – dos papeis sociais impostos às mulheres na cultura ocidental. O
objetivo era se desfazer do determinismo biológico que pairava ao identificar as
dimensões culturais imbricadas no que significa ser “mulher” com a determinação
biológica do “sexo feminino”. Era necessário dizer que nascer com um corpo
feminino não era intrínseco a uma condição de submissão, subjugação e
inferioridade em relação aos homens. A preocupação feminista, nesse sentido, é
revelar que as identidades masculinas e femininas, bem como as posições sociais
que ocupam são contingentes historicamente e culturalmente. O caráter mutável e
flexível de uma cultura permitiria transformar essas desigualdades de “gênero”.
O feminismo da década de 70 do século XX, assim, influenciou as produções
científicas, transformando, pouco a pouco, um campo anteriormente conhecido
como estudos da mulher em estudos de gênero, como uma tentativa de criticar o
essencialismo que a posição de “sexo feminino” determinava. Ao passo que essas
mudanças foram realizadas, a utilização da palavra “sexo” sofreu um decréscimo em
detrimento do termo “gênero”, ao ponto de uma “perspectiva de gênero” ser
promovida por instituições ligadas às políticas em saúde (AQUINO, 2006). Assim, de
um lado, a área das ciências da saúde está no contexto de inauguração da
separação analítica entre “sexo” e “gênero”, e, de outro lado, esse campo de
estudos também é influenciado atualmente por movimentos sociais que modificam e
regulam determinados usos dessas palavras. Entretanto, Aquino (2006) sinaliza um
esvaziamento do conceito de “gênero” nas publicações das ciências da saúde, que
se traduz na sua mera substituição ao termo “sexo”. Em outras palavras, a autora
aponta que o fomento da “perspectiva de gênero” muitas vezes ocorre apenas na
forma de uma mudança na linguagem corrente, e não em um entendimento de
“gênero” como um conceito ou uma ferramenta analítica.
Dessa forma, os usos dos termos “sexo” e “gênero” pelas publicações nas
ciências da saúde não são isentos de problemas. Ao passo que tanto o conceito de
“gênero” como o de “sexo” não possuem consenso para suas definições2, os seus
diferentes usos possuem implicações para a própria pesquisa – no sentido
epistemológico e metodológico – e para o âmbito ético e político no contexto social
em que essas produções científicas estão inseridas. Assim, o objetivo desta
pesquisa foi mapear os usos correntes dos termos “sexo” e “gênero” nos artigos do
campo das ciências da saúde.

SELEÇÃO DAS PUBLICAÇÕES

Para realizar essa proposta investigativa recorreu-se ao uso da base de


dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
um dos mais importantes índices de literatura científica no campo das ciências da
saúde na América Latina e no Caribe. Utilizando as palavras “sexo” e “gênero” para
a busca de artigos, foram usados como critério de seleção artigos escritos em
português, que apresentassem no resumo as palavras “sexo” e “gênero”, tendo
como país de filiação e como assunto da pesquisa o Brasil.
Uma leitura prévia dos 121 artigos encontrados foi realizada, a fim de eliminar
as repetições de publicações e aqueles textos em que, por alguma falha no filtro,
não apresentavam de fato as palavras “sexo” e “gênero” (N = 12). Para não
comprometer a discussão com redundâncias e possibilitar um debate produtivo por
meio de uma variedade de usos dos termos pesquisados, foram ainda estabelecidos
alguns critérios de exclusão para os artigos que: apresentavam exclusivamente um
uso de “sexo” e “gênero” como um grupo estatístico e/ou perfil sociodemográfico dos
sujeitos de pesquisa (N = 64); utilizavam “gênero” apenas como categoria

2
O conceito de “gênero” é plural desde os diversos interesses políticos e teóricos em que está
inserido, bem como as questões de tradução que impedem a universalização de seu sentido nos
diferentes idiomas e seus contextos culturais (HARAWAY, 2004). Além disso, a definição de “sexo” é
também disputada não apenas no âmbito filosófico (BUTLER, 2003), mas nas próprias biociências.
Margulis e Sagan (2002) definem “sexo” como troca de material genético; Roughgarden (2005)
aponta a utilidade teórica e prática em conceituar “sexo” apenas em relação ao tamanho dos gametas
que os seres vivos sexuados apresentam; um estudo sobre a determinação gonadal e o cromossomo
Y descreve a existência de “mulheres XY” e “homens XX”, mas não evidenciam os critérios para que
esse sujeito seja caracterizado como “mulher” ou “homem” (DAMIANI et al., 2000). Enquanto isso, a
ideia de um “sexo” homogêneo e coerente em todo o corpo – alinhando gônadas, genitálias,
cromossomos, hormônios etc. – já fora questionada, abrindo espaço para entender a anatomia
humana de maneira menos enrijecida ou monista (MACHADO, 2005).
taxonômica (N = 15); seus usos ocorriam somente em uma revisão de literatura (N =
8); e sua versão completa não estava disponível (N = 4). Assim, no total 18 artigos
foram selecionados para este estudo. Cada uso feito das palavras “sexo” e “gênero”
foi sistematizado em forma de tabela, sendo discutido cada um deles no contexto da
pesquisa. Posteriormente, a fim de possibilitar as discussões, as utilizações
encontradas foram agrupadas em categorias temáticas, sendo elas: (a) uma
sinonímia entre os conceitos, (b) a noção de “gênero” como relação entre os “sexos”,
marcada por desigualdades, e (c) a tese de questões de “gênero” como um conjunto
de mitos, senso comum, tabus, concepções, da cultura sobre a sexualidade.

OS USOS DE “SEXO” E “GÊNERO”

A separação, por meio de categorias temáticas, dos usos realizados dos


termos “sexo” e “gênero” nas publicações de ciências da saúde não pretende
esgotar o conteúdo dos artigos ou prescrever uma interpretação válida de suas
teses. Ao invés disso, pretende-se utilizá-los como ferramentas analíticas que
possam produzir um debate, de maneira que este se mostre útil para refletir nas
formas correntes e tradicionais de se pensar “sexo” e “gênero”. As categorias
temáticas apresentadas são alguns dos usos encontrados ao longo do estudo, não
contemplando a totalidade das análises realizadas na pesquisa.
A primeira relação encontrada entre os usos de “sexo” e “gênero” foi (a) uma
sinonímia entre os conceitos. Em outras palavras, há uma “tradução” realizada de
“sexo” para “gênero” e vice-versa, como se fossem sinônimos. O estudo de Golias e
Caetano (2013), que busca os dados das vítimas dos acidentes entre motocicletas
ocorridas no Paraná por meio do SIATE (Sistema Integrado de Atendimento ao
Trauma e Emergências)3, possui usos desses termos que são ilustrativos. Conforme
o artigo, a partir do banco de dados foi reunido informações sobre “número, gênero,
idade [...] e gravidade do caso” das vítimas dos acidentes (GOLIAS; CAETANO,
2013, p. 1237). Contudo, o dado que consta no SIATE não é “gênero”, mas “sexo”.
Assim, houve um intercâmbio dessas palavras como se o sentido delas

3
O banco de dados pode ser acessado em: <http://www.bombeiroscascavel.com.br>.
permanecesse intacto ao serem trocadas. Isso ocorre em oito artigos encontrados
para análise (ANTUNES et al., 2002; EMERICH et al., 2012; GOLIAS; CAETANO,
2013; GRECO et al., 2007; GUERRA et al., 2004; LIMA et al., 2013; MEDEIROS et
al., 2014; PELLOSO et al., 2008).
Como já pontuado por Aquino (2006), a versão conceitual de “gênero” parece
guardar em seu uso um status de criticidade, como uma forma mais “politicamente
correta” (p. 128) em comparação com “sexo”. Conforme um dos artigos da amostra
da pesquisa, as políticas públicas em saúde “devem levar em conta que existem
dois gêneros, masculino e feminino, e ser adaptados distintamente para ambos.”
(ANTUNES et al., 2002, p. 89). Em todos os casos, a relação entre os conceitos é
mimética, permanecendo inalterado o seu sentido tanto quando utilizado “sexo
feminino” ou “gênero feminino”.
Assim, a questão levantada é se, de fato, faz diferença utilizar “sexo” ou
“gênero” nesses contextos. Tomando como exemplo o uso feito por Golias e
Caetano (2013), é possível questionar: de que maneira é registrado o “sexo” das
vítimas dos acidentes? Se, eventualmente, uma pessoa trans4 é o sujeito envolvido
no caso, qual seria o “sexo” a entrar para a estatística do banco de dados? Nesse
sentido, faria diferença se, ao invés de “sexo”, fosse registrado o “gênero”?
Independentemente das possíveis respostas que surgiriam a essas
perguntas, o que se percebe é que há uma pressuposição de uma cisgeneridade
dos sujeitos de pesquisa. Em outras palavras, não há, de antemão, a consideração
da presença de pessoas desalinhadas com uma norma de sexo-gênero-desejo
conforme uma heterossexualidade compulsória (BUTLER, 2003). A possibilidade de
sublimar o conceito de “sexo” para “gênero” revela, desde o início, o prognóstico de
que o sujeito estudado esteja normativamente alinhado, de, por exemplo, um “sexo
feminino” para um “gênero feminino”.
Em outra análise, há (b) a noção de “gênero” como relação entre os “sexos”,
marcada por desigualdades. Esse uso diz respeito às “históricas e desiguais

4
Conforme Maranhão Filho (2012), “A expressão trans* é um termo ‘guarda-chuva’, utilizado por
algumas das pessoas que se declaram em situações de trânsito identitário de gênero. [...] Por terem
um gênero atribuído na gestação e/ou nascimento que não as contemplam (feminino/masculino) e
pelo fato de se identificarem com o gênero distinto deste, vivenciam experiências entre gêneros.” (p.
91).
relações de gênero, que teimam em perdurar e vulnerabilizar as mulheres”
(SAMPAIO et al., 2014, p. 1303). Assim como conceitos de “classe” ou “raça”
tendem a ser marcadores de diferença de poder, “gênero” traria luz às
desigualdades entre o “sexo feminino” e o “sexo masculino”. Dessa forma, usos
como “conflitos de gênero”, “desigualdade de gênero”, “violência de gênero” são
recorrentes nesses estudos e poderiam ser substituídas por “desigualdade entre os
sexos”, visando demarcar um maior poder de um grupo em relação ao outro.
Nesse contexto, é útil pensar no estudo de Araújo e colaboradoras (2011) em
que foram avaliados também artigos das ciências da saúde, mas em relação ao uso
parcial ou completo do potencial analítico da palavra “gênero”. O sentido parcial,
para as autoras, refere-se àquele que trata as diferenças entre os “sexos” de
maneira apenas descritiva – sendo esse o campo de “gênero” –, enquanto o sentido
completo atentaria para as relações de poder desiguais entre “homens” e
“mulheres”. Seguindo esse raciocínio, os quatro artigos situados nessa categoria
temática (ARAÚJO et al., 2012; CHACHAM et al., 2012; SAMPAIO et al., 2014;
SCHRAIBER et al., 2008) utilizam “gênero” em seu sentido completo.
Em um dos estudos, postula-se que “De acordo com a perspectiva teórica das
relações de gênero, explica-se a violência, sobretudo a sexual, enquanto
comportamento principalmente masculino.” (SCHRAIBER et al., 2008, p. 134).
Entretanto, a mesma pesquisa, quando passou a tratar sobre os casais
homossexuais, parece ter encontrado dificuldades: a “perspectiva de gênero”
adotada sugere uma posição dual, oposta e binária entre os “sexos” que prescreve
uma condição oprimida dos sujeitos femininos. Nesse contexto, o estudo sugeriu a
hipótese de que “nos casais homossexuais masculinos e femininos parece haver
uma crise das relações e identidades tradicionais que também gera violência.” (p.
134). Nesse ponto, é interessante levantar a discussão realizada por Butler (2003,
2011) acerca da política identitária do feminismo.

De fato, deve-se ponderar a futilidade de um programa político que


tenta transformar radicalmente a situação social das mulheres, sem
primeiro determinar se a categoria da mulher é socialmente
construída de tal modo que ser mulher signifique, por definição, estar
numa situação oprimida. (BUTLER, 2011, p. 76)
A crítica butleriana é dirigida às agendas feministas que pretendem
representar as “mulheres” sem questionar a estabilidade identitária do sujeito
feminino que o próprio feminismo regula. A categoria de “mulheres” que o feminismo
visibiliza, e por meio da qual busca a sua emancipação, promove, ao mesmo tempo,
uma estrutura de poder que regula e fixa quem são essas “mulheres”.
Por fim, oito artigos (ANTUNES et al., 2002; ARAÚJO et al., 2012; CHACHAM
et al., 2012; GUERRA et al., 2004; MARTINS et al., 2012; MEDEIROS et al., 2014;
PELLOSO et al., 2008; SAMPAIO et al., 2014) foram analisados, sob (c) a tese de
questões de “gênero” como um conjunto de mitos, senso comum, tabus,
concepções, da cultura sobre a sexualidade. Nesse sentido, o termo poderia se
referir a questões de “sexo”, pois tratam de ideias sobre os papeis tradicionais
desempenhados por homens e mulheres, mas o uso de “gênero” em detrimento de
“sexo” parece estar justamente relacionado ao caráter cultural dessas “questões”.
Essa formulação pode ser ilustrada nos seguintes trechos: “Esta fase [a
adolescência] é considera fundamental, pois estão presentes [...] tabus, mitos e
questões de gênero relacionados à sexualidade.” (MARTINS et al., 2012, p. 99);
“ainda permanece um sistema de crenças que inclui estereótipos sobre homens e
mulheres, atitudes diante dos papeis apropriados para cada sexo” (GUERRA et al.,
2004, p. 48).
As “questões” de gênero, sempre associadas à sexualidade, revelam um
caráter normativo – no sentido de tradicional, muitas vezes algo a ser ultrapassado.
É comum que essas pesquisas se voltem a estudos com jovens e adolescentes,
especialmente em prevenção à gravidez e a infecções sexualmente transmissíveis,
como grupos especialmente vulneráveis em relação à “sexualidade”. Nesse sentido,
para esses estudos, é importante “compreender e desmistificar” (MARTINS et al.,
2011, p. 99), sendo responsabilidade das pesquisas científicas disponibilizarem
conhecimentos seguros para orientar a vida de jovens de uma maneira saudável.
Nessa formulação, a ciência parece se encontrar à parte da cultura – que, por sua
vez, pode ser fonte de desinformação e práticas perigosas em relação a um
desenvolvimento saudável –, constituindo um conhecimento “desmistificado”.
Entretanto, a tese de uma ciência deslocada da cultura parece fazer parte de
um panorama teórico advindo da modernidade, que prescreve uma isenção por
parte das pesquisas em relação aos valores, às interpretações, à subjetividade, à
cultura, em detrimento dos fatos. Segundo essa perspectiva, a ciência deveria se
preocupar com os fatos, e não com os valores (LAURENTI, 2014). Essa formulação,
contudo, parece incompatível com uma perspectiva de “gênero” que se mostre
crítica em relação às práticas culturais que reproduzem normas de uma
heterossexualidade compulsória, o que inclui a própria ciência. Assim, é necessário
questionar quais são as práticas no contexto das próprias pesquisas científicas que
reiteram uma normatividade acerca de “sexo” ou de “gênero”, entendendo a ciência
de maneira contingente à história e cultura em que ela é produzida.

IMPLICAÇÕES

A despeito de vários artigos demonstrarem um caráter engajado de suas


pesquisas – como em estudos das categorias (b) e (c) –, aparentemente há menos
consideração a respeito das próprias práticas de “gênero” que possam ser reiteradas
por suas intervenções e políticas públicas a que estão atreladas. Uma utilização de
“sexo” de maneira mimética a “gênero”, como se fossem sinônimos, parece
pressupor de antemão a inexistência de pessoas dissidentes de uma norma da
heterossexualidade compulsória no grupo de sujeitos de pesquisa estudados. A
definição de relações de “gênero” como uma desigualdade entre os “sexos” parece
situar uma identidade feminina em um contexto de opressão intrínseca à condição
de ser “mulher”. A categoria de “mulheres”, nesse sentido, corre o risco de enrijecer
normativamente a identidade dos próprios sujeitos do qual se pretende libertar,
determinando quem é, de fato, “mulher” e quem não o é. Por fim, situar a ciência
fora de uma crítica das práticas discursivas tradicionais de “sexo” e de “gênero” não
parece ser uma alternativa coerente com a própria “perspectiva de gênero”. Assim, a
questão levantada se trata de reconhecer e pensar as formas pelas quais as
próprias práticas científicas podem se revelar normativas em relação a “sexo” e a
“gênero”. Em suma,

[...] a reprodução mais mundana de uma identidade de género


verifica-se pelas várias maneiras como os corpos são representados
em relação às expectativas profundamente entrincheiradas e
sedimentadas da existência de género. Consideremos que há uma
sedimentação das normas de género que produz o fenómeno
peculiar de um sexo natural, ou uma mulher verdadeira, ou qualquer
número de ficções sociais predominantes e forçadas, e que esta é
uma sedimentação que, ao longo do tempo, tem produzido um
conjunto de estilos corpóreos os quais, de uma forma reificada,
surgem como configuração natural de corpos em sexos que existem
numa relação binária um com o outro. (BUTLER, 2011, p. 76-77)

Em outras palavras, aceitar que “a ciência, como todo conhecimento


científico, parte de uma visão de mundo mais ou menos explícita.” (LOPES;
LAURENTI; ABIB, 2012, p. 43) e, portanto, pode reproduzir práticas normativas
presentes no âmbito cultural em que ela é produzida, revela algumas implicações
desses usos diversos que são realizados tanto de “sexo” como de “gênero”. Essas
considerações, em primeiro lugar, preocupam-se com o ponto de partida
epistemológico que sustentam essas utilizações. Isso quer dizer também que essa
reflexão possui uma importância metodológica no âmbito das pesquisas científicas,
pois “não há método descontextualizado de compromissos filosóficos, pelo contrário,
é de uma filosofia que se deriva o método.” (LOPES; LAURENTI; ABIB, 2012, p. 43).
Quando, nos métodos do trabalho, parte-se do pressuposto de que há uma
homogeneidade quanto ao “sexo” ou ao “gênero” dos sujeitos de pesquisa, incorre-
se no risco de excluir pessoas que, de fato, não poderiam ser contempladas em uma
norma que alinha “sexo” e “gênero” em uma heterossexualidade compulsória. As
pesquisas encontradas que fazem esses usos frequentemente destacam a
importância do caráter cultural da diferença entre “homens” e “mulheres” – ou,
analogamente, entre pessoas do “sexo masculino” e do “sexo feminino” –, mas não
incluem em sua análise a dimensão cultural das próprias categorias de “masculino” e
“feminino”, e de “sexo” e de “gênero”, de seu caráter contingente e arbitrário.
Nesse contexto, é útil trazer à tona a pesquisa etnográfica de Machado (2005)
nas clínicas de “correção do sexo” voltadas para pessoas intersexo no Brasil. O
estudo discorre sobre como o “sexo” não é simplesmente uma condição física e
estática do corpo, mas se trata de um campo discursivo múltiplo – há o “sexo”
cromossômico, genital, gonadal, hormonal, no qual os saberes médicos de
diferentes áreas competem em busca do verdadeiro “sexo” ou “gênero” do sujeito.
Nessa dimensão do “sexo”, as diversas técnicas clínicas intervêm fisicamente e
discursivamente para assegurar o aspecto “cosmético” da genitália – ou seja,
binário: a necessidade de se construir um pênis que penetre, ou uma vagina
penetrável. Nos corpos de pessoas intersexo se evidencia o caráter discursivamente
reiterado do “sexo”, pois a sua forma normativa – binária – nunca consegue
completamente enquadrar todos os corpos. É nesse sentido que, para Butler (2003),
o próprio “sexo” é uma categoria inscrita culturalmente, em uma lógica normativa de
“gênero” que regula um binarismo aparentemente natural e estático.
Essa discussão levanta as implicações éticas e políticas que giram em torno
dos conceitos de “sexo” e de “gênero”, pois desde John Money – ou seja, nas
primeiras tentativas teóricas de se separar analiticamente essas duas dimensões –
há um caráter normativo no uso dessas palavras, voltadas para a “correção” de
sujeitos inadequados a um padrão cultural heterossexual. Há, portanto,
consequências éticas quanto à possibilidade de reprodução desse aspecto
normativo no âmbito das pesquisas científicas5.
Dessa forma, simplesmente a inserção de estudos das ciências humanas não
garante um caráter crítico do estudo ou uma fuga à normatividade e aos padrões
tradicionais de “gênero”. Por outro lado, há possibilidade no próprio campo das
biociências de pensar nos efeitos da normatividade, como é demonstrado em
Roughgarden (2005). A bióloga revela que é possível repensar nas bases filosóficas
da biologia, no sentido de que haja a formulação de uma ciência que ateste a
diversidade biológica dos seres vivos, inclusive no interior da cultura humana. Sob
esse lume, uma dualidade entre conhecimentos das ciências humanas e das
biociências não contemplaria as possibilidades de produção de debates na área,
sobretudo nas publicações de ciências da saúde.

5
Além disso, a palavra “gênero” atualmente passa a receber significados políticos particulares,
sobretudo nos movimentos que levantam a expressão “Gênero não!”. Em 2014, a palavra “gênero” foi
retirada do Plano Nacional de Educação, acompanhada dos movimentos a favor da retirada de
discussões acerca da diversidade sexual e de “gênero” nos currículos escolares (CARVALHO et al.,
2015). Posteriormente, em disputas políticas sobre os Planos Municipais de Educação, foram
encontradas/os manifestantes segurando cartazes com os dizeres “Menino já nasce menino/Menina
já nasce menina/Educação com ideologia de gênero é opressão!” (TOLOMEOTTI; CARVALHO, 2016,
p. 80). Nesse sentido, questiona-se quais os efeitos desses movimentos também no debate sobre as
palavras “sexo” e “gênero” no campo das ciências da saúde.
É importante ressaltar que esse estudo não pretende prescrever quais são os
usos corretos ou não de “sexo” ou de “gênero”, mas que há importância em pensar
nas implicações epistemológicas, metodológicas, éticas e políticas de suas
utilizações correntes. A pluralidade de possibilidades, pelo contrário, pode contribuir
para um aumento no debate e na reflexão sobre os efeitos desses conceitos, de
maneira que usos mais éticos a depender de cada contexto de pesquisa sejam
realizados. Assim, considera-se que “a validade de um conhecimento não é aferida
pela sua suposta aproximação com uma realidade imutável, mas pela possibilidade
de esse conhecimento abarcar de modo crescente relações até então nunca vistas,
ou, antes, pensadas.” (LOPES; LAURENTI; ABIB, 2012, p. 132).
Dessa maneira, é apresentada neste estudo uma tentativa de fazer circular
esses debates no campo das ciências da saúde, de forma que, como efeito, seja
suscitada uma reflexão acerca das implicações das pesquisas científicas na
reprodução de práticas normativas quanto a “sexo” e “gênero”.

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USES AND IMPLICATIONS OF THE WORDS "SEX" AND "GENDER" IN


PUBLICATIONS OF HEALTH SCIENCES

ABSTRACT

The origin and diffusion of the analytical separation of "sex" and "gender" refer to a
vast bibliography, mainly in the biomedical scope, characterizing a plurality as to their
meanings and the uses made of these concepts. The field of health sciences, on one
hand, reveals its approximation to feminist discussions through public policies and,
on the other hand, is historically a forerunner of normative uses of "sex" and
"gender." Given this outlook, we sought to investigate the uses of the terms "sex" and
"gender" in articles of the area, selected in the Latin American and Caribbean Health
Sciences Literature (LILACS) database. 18 articles were obtained, whose contents
were systematized in charts and, later, articulated in a qualitative analysis, that
highlighted some normative uses of the concepts. Among possible uses of these
words, it was possible to identify: (a) a synonymy between the concepts; (b) the
notion of "gender" as a relation between the "sexes", marked by inequalities; and (c)
the thesis of "gender" issues as a set of culture myths about sexuality. The
discussion did not intend to prescribe correct uses of the concepts. Thinking about
the ethical and political implications, it was intended to contribute to the production
and circulation of debates in this field.

Keywords: Sex; Gender; Health; Science; Ethic.

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