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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Curso de Especialização em Construção Civil do Departamento


de Engenharia de Materiais de Construção

RETRAÇÃO DO CONCRETO:
AVALIAÇÃO DO ESTADO DA ARTE

Gelson Ricardo Stürmer da Cruz Filho

Belo Horizonte
2007
1

Gelson Ricardo Stürmer da Cruz Filho

RETRAÇÃO DO CONCRETO:
AVALIAÇÃO DO ESTADO DA ARTE

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Construção Civil do
Departamento de Engenharia de Materiais e
Construção da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do
título de Especialista em Construção Civil.

Orientador: Prof. Dr. Abdias Magalhães Gomes


Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte
Curso de Especialização em Construção Civil
2007
2

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Formação de etringita .............................................................................9


U U

FIGURA 2 – Cristal de etringita .................................................................................12


U U

FIGURA 3 – Ábaco da PCA ......................................................................................19


U U

FIGURA 4 – Cimento Portland comum X cimento com retração compensada .........40


U U

GRÁFICO 1 – Teor de cimento X retração plástica ..................................................18


U U

GRÁFICO 2 – Retração em Função da Finura do Cimento ......................................38


U U

GRÁFICO 3 – Retração em função da finura do cimento com gesso .......................38


U U

GRÁFICO 4 – Retração em função do tempo para diversas umidades relativas .....45


U U

GRÁFICO 5 – Comparativo entre retração do concreto, argamassa e pasta de


U

cimento .....................................................................................................................48
U

GRÁFICO 6 – Influência da relação água/cimento e do teor de agregado ...............51


U U

GRÁFICO 7 – Efeito do tipo de agregados na retração ............................................53


U U

GRÁFICO 8 – Relação entre a retração axial e a largura dos prismas de concreto .55
U U

GRÁFICO 9 – Influência da retração diferencial .......................................................58


U U

GRÁFICO 10 – Influência da idade do concreto na retração ....................................59


U U
3

RESUMO

Neste trabalho foi avaliado o estado da arte da retração do concreto. Por meio de
investigações em livros, anais e da rede mundial de computadores, diversas faces
do fenômeno foram identificadas e analisadas. A forma como a retração se
desenvolve, fatores inibidores e contribuintes, formas de precaução e mitigação
foram observadas. A contribuição de agentes específicos na retração como a
quantidade água, o cimento e o agregado, também foram estudadas. Através dos
resultados e conclusões apresentados por este trabalho, pode-se entender melhor
os mecanismos de uma das características mais comuns e importantes do concreto,
a retração.

Palavras chave: retração, cimento, água, agregado, fissuras, hidratação, pega

ABSTRACT

In this work, the state of art of concrete shrinkage was evaluated. Through
investigations on books, annals and on the world wide web, diverse phenomenon
faces was identified and analyzed. The means how the shrinkage develops itself,
inhibitors and contributory factors, ways of precaution and mitigation was observed.
The contribution of specific agents on shrinkage like water content, cement and
aggregated, also have been studied. Through results and conclusions stated on this
work, the mechanisms of one of the most common and important concrete
characteristic could be better understood, the shrinkage.
4

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................5
U U

U1.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................6


U

U1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .........................................................................6


U

2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................7


U U

U2.1 ESTRUTURA DO CONCRETO ....................................................................7


U

2.1.1 Agregado .........................................................................................8


U U

2.1.2 Pasta de Cimento ............................................................................8


U U

2.1.3 Água ..............................................................................................10


U U

2.1.4 Zona de Transição do Concreto ....................................................11


U U

U2.2 MECANISMOS DA RETRAÇÃO .................................................................13 U

2.2.1 Retração Plástica ..........................................................................15


U U

2.2.2 Retração Por Secagem .................................................................21


U U

2.2.3 Retração Autógena .......................................................................27


U U

2.2.4 Retração Por Carbonatação ..........................................................31


U U

U2.3 INFLUÊNCIA DO CIMENTO NA RETRAÇÃO DO CONCRETO ................33 U

2.3.1 Tipos de Cimento e Compostos Mineralógicos .............................34


U U

2.3.2 Finura do Cimento .........................................................................37


U U

2.3.3 Cimentos Expansivos ....................................................................39


U U

U2.4 INFLUÊNCIA DA ÁGUA NA RETRAÇÃO DO CONCRETO .......................40 U

2.4.1 Umidade do Ambiente ...................................................................45


U U

U2.5 INFLUÊNCIA DO AGREGADO NA RETRAÇÃO ........................................47 U

2.5.1 Teor de Agregado .........................................................................50


U U

2.5.2 Forma do Agregado ......................................................................51


U U

2.5.3 Tipos de Agregado ........................................................................52


U U

2.5.4 Dimensão Máxima Característica do Agregado ............................54


U U

U2.6 DIMENSÕES DAS PEÇAS .........................................................................55


U

2.6.1 Retração Diferencial ......................................................................57


U U

U2.7 INFLUÊNCIA DA IDADE NA RETRAÇÃO DO CONCRETO ......................58 U

3 CONCLUSÃO ........................................................................................................60
U U
5

1 INTRODUÇÃO

O concreto é o material estrutural mais utilizado na atualidade. Apesar disso, o seu


comportamento e características são por vezes, desconhecidas ou relevadas por
engenheiros e técnicos em várias etapas do processo construtivo. Esse quadro,
aliado a falta de manutenção, tem causado às estruturas uma diminuição da sua
vida útil. Por tudo isso é imprescindível ao engenheiro conhecer as propriedades e
as reações do concreto.

O controle de qualidade do concreto na obra é essencial para que ele mantenha


suas melhores características. Mesmo quando o não elaborado in situ, a condição
final do concreto é influenciada por muitas variáveis. Pode-se citar como exemplo o
processo de cura, forma e desforma, descimbramento e métodos corretos de
transporte e lançamento, dessa forma, evitando a segregação dos agregados. Isso
faz com que o concreto mantenha a sua homogeneidade entre outros.

Por tudo isso, a preocupação com o aumento da vida útil das estruturas e a
utilização de materiais mais eficientes para a sua concepção têm se intensificado na
engenharia. Para isso, o estudo das propriedades reológicas do concreto e dos seus
mecanismos de ação, são de essencial importância para que se obtenha a
qualidade e durabilidade desejada.

Apesar de sua aparente simplicidade, o concreto tem uma estrutura altamente


complexa. É um material composto que consiste essencialmente de um meio
contínuo aglomerado, dentro do qual estão mergulhadas partículas ou fragmentos
de agregados. Sendo o concreto composto de diferentes materiais em proporções
variáveis, ele terá consequentemente, propriedades diversas.

O conhecimento de todas as propriedades que podem ocasionar variações


volumétricas no concreto é de fundamental importância para a prevenção de
patologias. Sendo assim, é de grande valia a preocupação, do profissional envolvido
com o processo de construção, com uma das propriedades mais peculiares do
concreto, a retração.
6

A retração do concreto é um fenômeno intrínseco a esse material e por isso sempre


acompanhou as obras em concreto. Ela é, sem dúvida, um dos fenômenos menos
desejáveis do concreto. Quando não controlada, ela pode gerar o surgimento de
fissuras, fato este que não apenas prejudica a sua aparência, mas o torna mais
permeável e vulnerável ao ataque por agentes externos, amenizando dessa forma,
sua resistência e durabilidade.

O bom entendimento dos mecanismos da retração, suas características, seus


agentes causadores e inibidores são fatores chaves para que o engenheiro possa
conceber uma estrutura mais durável e resistente.

1.1 OBJETIVO GERAL

• Avaliar e dominar o estado da arte da retração do concreto.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar e analisar os tipos de retração e suas respectivas causas;


• Avaliar os efeitos da retração na durabilidade de peças estruturais;
• Identificar métodos preventivos;
• Avaliar a importância do fator água/cimento bem como da cura no processo
de retração do concreto.
7

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ESTRUTURA DO CONCRETO

Mehta (1994) considera o que o concreto é o material estrutural mais amplamente


empregado e que a sua estrutura heterogenia é altamente complexa. As relações
entre a estrutura e as propriedades ainda não estão completamente esclarecidas.
Possuir uma boa familiaridade de alguns elementos da estrutura é essencial para se
discutir as propriedades importantes do concreto, como a retração.

Ao se examinar uma seção transversal de concreto, duas fases podem ser


facilmente distinguidas. Pode-se perceber que a peça é composta de uma massa
contínua da pasta endurecida e de agregados de tamanho e formas variadas. Ou
seja, a nível macroscópico, “o concreto pode ser considerado um material bifásico,
consistindo de partículas de agregado dispersas em uma matriz de cimento”
(MEHTA, 1994, cap. 1, p. 18).

Somente a nível microscópico as complexidades da estrutura do concreto aparecem.


As duas fases que compõem o concreto não estão distribuídas homogeneamente
em relação a elas mesmas. Em geral o volume de vazios capilares na pasta
decresce com a diminuição da relação água/cimento ou com o avanço da idade de
hidratação (MEHTA, 1994).

Além das fases (partículas de agregado e meio ligante), há também uma terceira
fase denominada zona de transição. Ela é uma fina camada situada na região
interfacial entre as partículas de agregado graúdo e a pasta. A zona de transição é o
elo mais fraco dos componentes do concreto e, apesar de sua pouca espessura,
exerce grande influência no comportamento mecânico do concreto (MEHTA, 1994).

É importante destacar também que cada uma das fases do concreto é de natureza
multifásica. O agregado pode conter vários minerais, microfissuras e vazios. A matriz
de pasta de cimento e a zona de transição, na maioria das vezes, possuem
8

diferentes tipos e quantidades de fases sólidas, poros e microfissuras, o que as


torna heterogêneas (MEHTA, 1994).

A estrutura do concreto, diferentemente de outros materiais de engenharia, não se


mantém estável. Isso acontece porque dois constituintes do concreto, a matriz de
pasta de cimento e a zona de transição, estão sujeitos a mudanças em suas
propriedades ao longo do tempo, devido a mudanças climáticas (i.e. mudança de
temperatura, umidade ambiente, pressão atmosférica e etc.) (MEHTA, 1994).

2.1.1 Agregado

O agregado é o responsável primordial pela massa unitária, modulo de elasticidade


e estabilidade dimensional do concreto. Estas são propriedades que dependem da
resistência e da densidade do agregado. As características físicas tais como volume,
tamanho e distribuição dos poros do agregado são mais importantes do que a
composição química ou mineralógica do concreto (MEHTA, 1994).

Geralmente o agregado constitui a fase mais resistente do concreto, com exceção


de agregados altamente porosos e fracos (i.e. pedra pomes). O tamanho do
agregado pode influenciar a resistência do concreto de forma indireta. Quanto maior
o tamanho do agregado do concreto e mais elevada a parcela de partículas chatas e
alongadas, maiores são as chances de ocorrer o acúmulo de água na superfície
destes agregados, e assim, enfraquecendo a zona de transição pasta-agregado. A
este fenômeno dá-se o nome de exsudação interna (MEHTA, 1994).

2.1.2 Pasta de Cimento

O cimento Portland anidro é um pó cinza que consiste de partículas angulares de


tamanho comumente entre 1 e 50 μm. Ele é conseguido através da moagem do
clínquer com uma porção de sulfato de cálcio. “O clínquer é uma mistura
9

heterogênea de vários minerais produzidos em reações a alta temperatura, entre


óxido de cálcio e sílica, alumina e óxido de ferro” (MEHTA, 1994. cap. 1, p. 23).

Neville (1997) lembra que o cimento Portland é composto principalmente de calcário,


sílica, alumina e óxido de ferro. A interação destes compostos resulta em uma série
de produtos mais complexos e que apesar de um pequeno resíduo de cal não ter
reagido por causa do curto espaço de tempo, o equilíbrio químico é atingido.

A hidratação do cimento Portland ocorre com reação entre cálcio, sulfato, aluminato
e íons hidroxila e resulta na formação de cristais aciculares de um sulfoaluminato de
cálcio hidratados, também chamados de etringita (MEHTA, 1994).

A FIG. 1 mostra uma formação de etringita e hidróxido de cálcio por meio de


microscopia ótica.

FIGURA 1 – Formação de etringita


Fonte: Portland Cement Association. 2007.

As partículas anidras de cimento tendem a atraírem umas as outras e formarem


flocos. Estes flocos aprisionam grande quantidade de água na mistura. Ao
aprisionarem água, estes flocos causam variações no equilíbrio água-cimento e são
10

fontes potenciais para a formação de uma estrutura porosa e heterogênea (MEHTA,


1994).

A pasta de cimento é composta por quatro fases sólidas. São elas: O silicato de
cálcio hidratado, hidróxido de cálcio, sulfoaluminatos de cálcio e grãos de clínquer
não hidratados. O silicato de cálcio hidratado constitui de 50% - 60% e portanto ele é
fator determinante para as propriedades da pasta. Ele é frequentemente chamado
de C-S-H 1 (MEHTA, 1994).
F F

O C-S-H não é um composto bem definido. “A relação C/S varia entre 1,5/2,0 e o teor de
água estrutural varia ainda mais. A morfologia do C-S-H varia de fibras pouco cristalinas
a um reticulado cristalino. Devido ás suas dimensões coloidais e á tendência a aglomerar,
os cristais de C-S-H puderam ser observados somente com o advento do microscópio
eletrônico” (MEHTA, 1994. cap. 2, p. 24).

Espaços interlamelares no C-S-H, vazios capilares e ar incorporado também estão


presentes na pasta de cimento. Estes compõem os vazios na pasta endurecida. A
porosidade total não interfere tanto na resistência e na permeabilidade do concreto.
A distribuição do tamanho dos poros e as variações de volume têm papel muito mais
importante nestes aspectos. Enquanto a distribuição do tamanho dos poros é
afetada pela relação água/cimento e pela idade (grau) de hidratação do cimento. Os
poros grandes influenciam principalmente a resistência à compressão e a
permeabilidade. Os poros pequenos influenciam mais a retração por secagem e a
fluência (MEHTA, 1994).

2.1.3 Água

Além de vazios e sólidos, a pasta de cimento também conta com água. Notadas pelo
microscópio, os poros de água na pasta parecem vazios. Assim como as fases
sólidas e os vazios, a água pode estar presente na pasta em várias formas. Estas
formas estão divididas através do grau de dificuldade ou de facilidade com que elas
podem ser retiradas da pasta. A água capilar, água adsorvida, água interlamelar e

1
C-S-H: Gel de silicato de cálcio hidratado (também conhecido como gel tobermorítico).
11

água quimicamente combinada são as formas em que a água pode ser encontrada
na pasta (MEHTA, 1994).

A água capilar pode ser entendida como o volume de água que está livre de
influência das forças de atração exercidas pela superfície sólida. Esta pode ser
dividia em água em vazios grandes (i.e. φ > 50nm, água livre) que não causa
qualquer variação volumétrica e em água retida por tensão capilar, retida em
capilares pequenos (5nm a 50nm) os quais causariam retração se fossem removidos
do sistema (MEHTA, 1994).

A água adsorvida está presente na pasta sob influência de forças de atração.


Sugere-se que elas estão retidas fisicamente por pontes de hidrogênio. A perda de
água adsorvida é a principal causa da retração da pasta na secagem (MEHTA,
1994).

A água interlamelar está associada à estrutura do C-S-H. Ela só é perdida quando


há uma secagem forte (i.e. menos que 11% de umidade relativa). A estrutura do gel
C-S-H apresenta uma retração considerável quando a água interlamelar é perdida
(MEHTA, 1994).

A água quimicamente combinada é parte integrante da estrutura de vários produtos


hidratados do cimento. Ao contrário dos outros tipos de água, esta só é liberada
quando ocorre a decomposição por aquecimento da estrutura. Só a secagem não é
suficiente para que esta água seja perdida (MEHTA, 1994).

2.1.4 Zona de Transição do Concreto

Apesar de ser constituída dos mesmos elementos da pasta de cimento, as suas


propriedades e a sua estrutura são diferentes da pasta. Isso porque durante o
processo de hidratação do concreto, uma fina camada de água se acumula ao redor
do agregado graúdo, o que faz com que haja uma relação água/cimento maior nas
proximidades do agregado. Por causa da relação água/cimento elevada, cristais
12

relativamente grandes de etringita e hidróxido de cálcio são formados, que por sua
vez, formam uma estrutura mais porosa do que na matriz da pasta. Após isso, com o
aumento da hidratação, ocorre a formação de cristais menores de etringita e
hidróxido de cálcio entre os espaços vazios, que ajudam a melhorar a resistência da
zona de transição (MEHTA, 1994).

Mesmo nos concretos com baixa relação água/cimento, tanto o volume quanto o
tamanho de vazios serão maiores na zona de transição do que na matriz da pasta
nas primeiras idades. Apesar disso, ela pode adquirir resistência igual ou até mesmo
maior do que a da matriz da pasta com o passar do tempo. Esse fenômeno acontece
por causa da formação de novos cristais que preenchem os vazios da zona de
transição através de reações químicas lentas entre os componentes da pasta de
cimento e agregados. Além disso, a redução dos grandes cristais de hidróxido de
cálcio, que possuem menor adesão contribuem para o aumento da resistência na
zona de transição (MEHTA, 1994).

A FIG. 2 mostra uma imagem capturada por microscopia ótica de um cristal de


etringita.

FIGURA 2 – Cristal de etringita


Fonte: Sheffield Hallam University. Materials and engineering research institute. 2007.
13

A presença de microfissuras é outro fator decisivo para que a zona de transição


apresente baixa resistência. As fissuras podem ser resultado das mais variadas
causas, como por exemplo, o teor de cimento, relação água/cimento, grau de
adensamento do concreto e umidade ambiente. A zona de transição está sujeita a
fissuração quando tensões de tração causadas por movimentos diferenciais agem
entre o agregado e a pasta. Essas movimentações são comumente provenientes de
variações térmicas e de umidade do concreto (MEHTA, 1994).

2.2 MECANISMOS DA RETRAÇÃO

No momento em que a água se desloca para o exterior de um elemento poroso não


inteiramente rígido, observa-se uma contração. Esse fenômeno é chamado de
retração. Ele pode acontecer em concretos frescos e em concretos com idades mais
avançadas. A retração é o resultado da perda de volume do concreto durante o
processo de cura, resultante do assentamento dos materiais que compõem o
concreto e da evaporação da água pela superfície. É função das condições
climáticas e independe do carregamento. Ela se baseia nos fenômenos capilares
que ocorrem nas redes de poros existentes no interior do concreto. As primeiras
manifestações de retração verificam-se antes da pega (NEVILLE, 1997).

São fatores que aumentam a retração do concreto: cimento de alta resistência


inicial; cimentos com maior índice de finos; presença de finos no concreto; maior
quantidade de água de amassamento.

Inúmeros fatores podem influenciar a retração, tais como: as condições ambientais, tipo
litológico do agregado, dimensão máxima característica, propriedades físicas (absorção,
massa específica) e elásticas do agregado, proporção dos materiais (principalmente a
quantidade de água), microfissuras (interface pasta/agregado graúdo, assim como pela
aderência entre os mesmos (ANDRADE, 1997, cap.15, p.1).

O concreto retrai quando exposto a condições atmosféricas normais e tensões


internas são formadas. A combinação de altas tensões e baixa resistência a fratura
do concreto frequentemente resultam em fissuras. Estas fissuras reduzem a
14

capacidade de carga do concreto, aceleram sua deterioração, aumentam o custo de


manutenção e reduzem o seu tempo de vida. A fissuração do concreto é um
fenômeno complexo, que depende de muitos fatores incluindo a própria retração,
propriedades dos agregados, assentamento do concreto, potencial de retração do
concreto. Os tipos de retração podem ser listados como retração plástica, retração
por secagem (hidráulica), retração por carbonatação e retração autógena (TIA et al,
2005).

A tendência à fissuração de um concreto pode ser classificada pela soma do seu


potencial de retração, extensibilidade, resistência e do seu grau de restrição às
deformações. Normalmente, uma grande extensibilidade do concreto permite
maiores variações de volume (KELLY 2 apud NEVILLE, 1997).
F F

A extensibilidade é um termo que pode ser dado ao concreto quando ele está
passível de sofrer grandes deformações sem fissurar. Para que um concreto esteja
livre de fissuras ele deve possuir baixo grau de retração e algo grau de
extensibilidade. Um concreto com alto grau de extensibilidade pode ser definido
como um concreto que possui um baixo módulo de deformação, alta fluência e alta
resistência à tração. Tendo tudo isso em vista, é razoável frisar que muitos
coeficientes que reduzem a retração por secagem do concreto, também tenderão a
reduzir a sua extensibilidade. Um aumento no consumo ou na rigidez do agregado
utilizado reduzirá a sua retração, porém, reduzirá também a sua extensibilidade e a
relaxação da tensão nesse concreto. Isso mostra que a tecnologia do concreto não é
facilmente aplicada na prática tendo em vista considerações simplesmente teóricas
(MEHTA, 1994).

É importante saber que os mesmos mecanismos responsáveis pela retração por


secagem da pasta também são responsáveis pela fluência da pasta. A fluência
ocorre quando uma tensão externa é aplicada na estrutura e essa, vem a se tornar
uma força que direciona o movimento da água retida nos pequenos capilares e da
água adsorvida fisicamente (MEHTA, 1994).

2
KELLY, J. W. Cracks in concrete: the causes and cures. S.l.: Concrete Construction, Apr. 1964, p.
89-93.
15

Quando a retração ocorre em estruturas delgadas tais como lajes, placas e pisos
industriais o problema da retração se mostra ainda mais pernicioso à estrutura, pois
ela pode levar à ruína precoce desses componentes pelo excesso de fissuras,
separação do material de preenchimento das juntas e empenamento de peças
quando ocorre de maneira diferencial (NEVILLE, 1997).

2.2.1 Retração Plástica

Segundo Mehta (1994) a retração plástica também é conhecida como retração por
pré-endurecimento ou retração pré-pega. A retração plástica recebeu este nome
porque ela se desenvolve quando o concreto ainda se encontra em estado plástico.
Ela é evidenciada quando, por exemplo, se coloca concreto fresco em formas de
elevada profundidade. Após algum tempo, percebe-se que a superfície do concreto
assentou e há o aparecimento de pequenas fissuras horizontais.

Conforme Schaels e Hover 3 (apud TIA et al, 2005), “O termo retração plástica é
F F

reservado para concretos frescos. A retração plástica ocorre quando a água é permitida a
evaporar da superfície fresca do concreto. Condições ambientais incluindo os efeitos
solares, velocidade do vento, altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar
influenciam drasticamente o potencial do fissuramento por retração plástica” 4 (TIA et al,
F F

2005, p. 4, tradução nossa).

Retrações plásticas são comuns em lajes, pois nestas peças ocorre uma secagem
rápida e a evaporação de água excede a taxa disponível de água de exsudação
(MEHTA, 1994).

Mehta (1994) cita uma variedade de causas que contribuem para a retração plástica
no concreto. Entre elas estão: exsudação ou sedimentação, absorção de água elo
lastro ou fôrmas ou pelo agregado, rápida perda de água por evaporação, redução
no volume de sistema cimento-água e deformações (inchamento ou assentamento)

3
SCHAELS, C. A.; HOVER, K. C. Influence of mix proportions and construction operations on plastic
shrinkage cracking in thin slabs. S.l.: ACI Material Journal, Nov-Dec. 1988. Vol. 85, p. 495-505.
4
No original: Plastic shrinkage is a term reserved for freshly poured concrete. Plastic shrinkage occurs
when water is allowed to evaporate from the fresh concrete surface. Environmental considerations
including solar effects, wind speed, high temperature and low relative humidity drastically influence the
potential of plastic shrinkage cracking.
16

da fôrma. A alta temperatura do concreto, baixa umidade relativa do ar e a alta


velocidade do vento são condições que, isoladas ou em conjunto, aumentam a taxa
de evaporação da água e aumentam a ocorrência de fissuras por retração plástica.

Para Andrade (1997) e Mehta (1994) a retração plástica e a fissuração acontecem


quando a taxa de evaporação de água do concreto fresco é maior do que a
exsudação. “Português” acha que as principais causas da retração plástica no
concreto são a evaporação demasiadamente rápida da água de amassamento e o
assentamento do concreto.

Neville (1997) defende que a relação entre a exsudação e a retração plástica não é
muito evidente. Ele argumenta que “o retardamento da pega favorece maior
exsudação e leva a uma maior retração plástica. Por outro lado, uma maior
capacidade de exsudação impede uma secagem da superfície do concreto
reduzindo a fissuração por retração plástica” (NEVILLE, 1994, cap. 9, p 425). Isso
teoricamente impediria a formação de fissuras devido a esse tipo de retração.

Coutinho (1973) lembra que o concreto possui uma estrutura essencialmente


heterogênea e que os seus três elementos principais, água, agregados e cimento,
têm densidades muito diferentes. E que por causa disso, a água que é a mais leve,
se separa do restante e se acumula na superfície do concreto.

A fissuração devido ao assentamento se dá logo nos primeiros minutos após a


concretagem e pode ser vista mesmo debaixo da película de água exsudada. Ela é
resultado do assentamento do conjunto que foi perturbado por inertes de maiores
dimensões ou armaduras (COUTINHO, 1973).

Segundo Coutinho (1973) o fato de a velocidade de evaporação da água de


amassamento ser superior a da chegada da água do interior do concreto à superfície
contribui com o aparecimento das fissuras. Isso causa uma tensão de compressão
na superfície do concreto por causa do aparecimento de tensões capilares. Por tudo
isso, o concreto fica submetido a uma pressão hidrostática e tende a sofrer
deformações verticais e laterais. As mesmas deformações quando impedidas, seja
17

por causa das ligações aos moldes, armaduras ou por grandes partículas de inerte,
manifestam-se em forma de fissuras.

De acordo com Coutinho (1973), as fissuras no concreto fresco devidas à


evaporação da água podem atingir profundidades razoáveis. Em pavimentos podem
atingir 10 cm, atravessando inclusive peças mais delgadas. As fissuras se
desenvolvem logo que a água livre superficial desaparece. São fissuras que se
estabilizam após a pega do concreto e conservam a sua forma original, não havendo
possibilidade de se desenvolverem após a pega. Elas podem ter seu inicio através
do assentamento do concreto e agravarem-se através da perda excessiva da água
de amassamento ou pela alta absorção dos agregados ou das fôrmas.

“Se ao mesmo tempo o concreto próximo á superfície tiver se tornado muito rijo para
fluir, mas não estivar resistente o suficiente para suportar as tensões de tração
causadas pela retração restringida, as fissuras aparecerão” (MEHTA, 1994, cap. 10,
p. 359).

A fissuração nesse tipo de retração também pode ser causada pela restrição que
algumas partes da estrutura impõem ao descarregamento uniforme das tensões (i.e.
armaduras e partículas grandes de agregado), ou até mesmo quando a contração
grande de uma área horizontal se torna mais difícil nesta direção do que na vertical
(ANDRADE, 1997).

Beresford e Mattison (apud COUTINHO, 1973) distinguiram as fissuras causadas


pela retração plástica. As fissuras advindas da restrição da armadura horizontal
seguem a própria armadura em um sentido contínuo, já às devidas ao agregado,
não possuem direções certas. Aparentemente essas fissuras não estão presentes
apenas na superfície do concreto. Em alguns casos, quando a seção transversal da
peça é exposta, percebe-se a presença de pequenas fendas junto ao agregado
graúdo.

Coutinho (1973) afirma que as fissuras de retração plástica ocorrem da seguinte


maneira: Um concreto recém-concretado, que ainda está no regime plástico, possui
duas camadas. A primeira, chamada de superior (acima da armadura horizontal), e
18

outra, adjacente à armadura horizontal, começam se assentarem simultaneamente.


A camada superior, após algum tempo, dependendo da velocidade de assentamento
e da altura da camada superior, finda o seu processo de assentamento. Porém, na
camada, adjacente a consolidação do concreto ainda continua devido à diferença de
altura entre as duas camadas. É nesse momento que começa a fissuração. Ou seja,
as fissuras de retração por assentamento são proporcionais à velocidade de
deslocamento vertical da coluna de maior profundidade.

Neville (1997) argumenta que maiores taxas de cimento na mistura e uma maior
relação água/cimento ajudam no aparecimento da retração plástica. O GRAF. 1,
logarítmico, explicita a teoria de Neville mostrando relação entre a retração e o
tempo (em dias), levando em consideração o teor de cimento da mistura,
temperatura do ar a 20OC, umidade relativa 50 % e velocidade do vento 1,0 m/s:

GRÁFICO 1 – Teor de cimento X retração plástica


Fonte: NEVILLE, 1997, cap. 9, p. 425.

A Portland Cement Association 5 desenvolveu um ábaco (FIG. 3) que provê um


F F

método gráfico para calcular a perda de água da superfície do concreto em

5
Associação Americana equivalente à Associação Brasileira de Cimento Portland.
19

condições climáticas diversificadas. Se a taxa de evaporação atingir 1 Kg/m2 por


hora, devem ser tomadas medidas para se evitar o desenvolvimento da retração
plástica.

FIGURA 3 – Ábaco da PCA


Fonte: INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA, 2006.

Para a utilização do ábaco deve-se seguir a linha tracejada entrando com os dados:
No primeiro quadrante, deve-se entrar com o valor da temperatura do ar e da
umidade relativa, em seguida, seguir em direção ao segundo quadrante, para a
direita, e entrar com a temperatura do concreto, descer para o quarto quadrante, e
20

entrar com a velocidade do vento e, finalmente, para a esquerda, no terceiro


quadrante, para encontrar a taxa de evaporação estimada.

Mehta (1994) e a Portland Cement Association diz que quando a taxa de


evaporação supera 1 Kg/m2, algumas precauções devem ser tomadas, são elas:

• Umedecimento da Sub-base (lastro) e das fôrmas


• Umedecimento dos agregados quando secos e absorventes.
• Construção de quebra-vento temporário para reduzir a velocidade dos ventos
sobre a superfície do concreto.
• Construção de brise soleil temporário para reduzir a temperatura na superfície
do concreto.
• Manter baixa a temperatura do concreto fresco pelo resfriamento do agregado
e da água de amassamento.
• Proteger o concreto temporariamente, com mantas, tais como lona de
polietileno durante qualquer demora apreciável entre lançamento e
acabamento.
• Reduzir o tempo entre lançamento e início da cura pela eliminação de atrasos
durante a concretagem.
• Minimizar a evaporação, proteger o concreto logo após o acabamento pelo
uso de sacos de aniagem saturados, espargimento de água, ou de um
composto de cura.

Deve ser lembrado que a evaporação aumenta quando a temperatura do concreto for
muito mais alta do que a temperatura ambiente: em tais circunstâncias, pode ocorrer
retração plástica mesmo que seja alta a umidade relativa do ar. Portanto, é melhor
proteger o concreto contra o sol e contra o vento, lançar e fazer o acabamento
rapidamente e iniciar a cura o mais cedo possível. Deve-se evitar lançar o concreto em
um sub-leito seco (NEVILLE, 1997, cap. 9, p. 424).

Geralmente, as fissuras devido a retração plástica podem ser prevenidas limitando a


evaporação d’água nas primeiras idades através de lonas plásticas, filmes mono-
moleculares, aspersão d’água ou mesmo evitando que o vento sopre em excesso
sobre o concreto fresco em conjunto com misturas corretas de concreto (TIA et al,
2005).
21

O tratamento das fissuras por retração plástica, quando superficiais, pode ser
realizado apenas com o alisamento da superfície através de colher de pedreiro ou
similar. Se a fissura atinge profundidades maiores, como se tem observado, a
revibração deve ser utilizada (COUTINHO, 1973).

Andrade (1997) e Mehta (1994) defendem que as fissuras plásticas são de modo
geral, paralelas, espaçadas entre 0,30 m e 1,0 m entre si e possuem profundidade
entre 25 a 50 mm de profundidade.

Mehta (1994) lembra que as fissuras de retração plástica e as fissuras de


assentamento podem ser sanadas pela revibração do concreto quando ele ainda se
encontra em estado plástico. A revibração também se mostra útil por aumentar a
resistência do concreto por aliviar as tensões de retração plástica ao redor das
partículas de agregado graúdo, além de melhorar a aderência entre o concreto e a
armadura.

Aditivos retardadores de pega podem resultar em maiores retrações do concreto no


estado plástico, provavelmente desta maneira, aumentando a extensibilidade do
concreto e assim, reduzindo a retração. Apesar disto, se o concreto alcançar uma
certa rigidez muito rapidamente e tendo uma baixa resistência, a retração plástica
não poderá ser acomodada e fissuras aparecerão no concreto (NEVILLE, 1997).

2.2.2 Retração Por Secagem

Existe uma relação direta entre a água e a retração. A saída de água do concreto e
o seu conseqüente movimento causam mudanças internas de pressão e por isso o
concreto retrai. A saída de água é regida pelas condições ambientais. A umidade
relativa das estruturas de concreto tende a se balancear com a umidade do
ambiente externo. A água é pressionada para fora pelos poros capilares do
concreto, resultando no tensionamento do concreto (TIA et al, 2005).
22

A pasta saturada não é dimensionalmente estável. Enquanto mantida a 100% de


umidade relativa (UR), praticamente não ocorrerá variação dimensional. No entanto,
quando exposta á umidade ambiente, que está normalmente muito abaixo de 100%, o
material começará a perder água e a retrair (MEHTA, 1994. cap. 2, p. 34).

Após a umidade relativa cair abaixo de 100%, a água livre que estava retida nas
grandes cavidades do concreto (i.e. φ > 50nm), inicia um processo de saída para o
ambiente. A perda desta água não causa retração significante no concreto, pois ela
não está ligada a ele através de ligações físico-químicas fortes. Sendo assim, uma
pasta de cimento pode ser exposta a uma umidade relativa abaixo de 100%, perder
uma quantidade considerável de água e não sofrer retração.

A contração manifesta-se imediatamente após o adensamento (i.e. contração no


estado fresco), e em seguida, após o início do endurecimento (retração por
secagem). A proteção superficial poderá minimizar os efeitos de secagem no estado
fresco e a revibração poderá ser utilizada para sanar este problema. Já no segundo
caso, se não forem tomadas providências que asseguram uma perfeita cura do
concreto, os efeitos da retração serão muito mais significativos, podendo o concreto
apresentar ainda mais fissuras a baixas idades (ANDRADE, 1997).

De acordo com Tia et al (2005), a retração por secagem compõe a maioria das
causas da retração. Ela ocorre no concreto endurecido como resultado do
movimento da água. A reação do cimento e da água resulta na formação do gel
silicato de cálcio hidratado (C-S-H) com espaços vazios para a água. O tamanho dos
poros preenchidos por água varia de largos poros capilares (> 5 nm) a menores
(0.5~2.5 nm) que são preenchidos com água adsorvida.

No momento que a secagem do concreto ocorre, pressões removem a água adsorvida


destes poros e forças hidrostáticas (tensões capilares) formam meniscos que exercem
tensões no C-S-H endurecido causando retração na pasta de cimento 6 (TIA et al, 2005, p.
F F

5, tradução nossa).

Segundo Tia et al (2005), a retração no concreto está substancialmente ligada ao


fator água/cimento. A quantidade de água tem uma influência direta no tamanho e

6
No original: As drying occurs, disjoining pressure removes adsorbed water from these pores and
hydrostatic forces (capillary stresses) form a meniscus that exerts stresses on the C-S-H skeleton
causing the cement paste to shrink.
23

na magnitude da porosidade. Pastas de cimento com altos fatores água/cimento


possuem alta porosidade, o contrário pode ser dito para pastas de cimento com
baixos fatores água/cimento, e consequentemente, apresentam retrações por
secagens mais baixas. Deve ser lembrado que, recentemente, aditivos reduzidores
do fator água cimento têm levado a um aumento da trabalhabilidade em misturas
com baixos teores de água/cimento.

Andrade (1997) defende que a retração por secagem pode ocorrer simultaneamente
ás retrações por carbonatação de origem térmica (i.e. advindas do resfriamento do
concreto).

A intensidade da retração também é influenciada pelo grau de hidratação. Em


idades avançadas, a percentagem de água quimicamente combinada é maior.
Sendo assim, menos água está disponível para se movimentar e
consequentemente, a ocorrência de retração nestes casos é menor. Em alguns
casos, contudo, a retração pode não diminuir com a hidratação do elemento em
questão desde que a hidratação também resulta em redução do tamanho dos poros
(TIA et al, 2005).

A retração ou pelo menos parte dela está relacionada com a remoção de água
intercristalina. Silicatos de cálcio hidratados sofrem uma redução nas partículas de
14 nm para 0,9 nm com a secagem. (L’HERMITE 7 , apud NEVILLE, 1994). LEA 8
F F F F

(apud NEVILLE, 1994) defende que o C3A e o sulfoaluminato apresentam


comportamento similar. Dessa forma, não se pode ter certeza se o movimento de
umidade relativo à retração é intercristalino ou intracristalino. Tendo isso em vista,
pode-se buscar a causa principal da retração na estrutura física do gel e não apenas
nas suas propriedades químicas e mineralógicas.

MEHTA (1994) acredita que parte de retração por secagem é reversível. Em testes
realizados, constatou-se que após 50 dias de secagem, o concreto, ao ser

7
L'HERMITE, R. Volume changes of concrete. Washington: Proc. 4th Int. Symp. on the Chemistry of
Cement., 1960. p. 659-694.
8
LEA, F. M. Cement research: Retrospect and prospect. Washington: Proc. 4st Int. Symp. on the
Chemistry of Cement., 1960. p. 5-8.
24

submetido a molhagem, apresentou uma redução da retração da ordem de 50%.


Mehta acredita que a porção da retração considerada irreversível, provavelmente é
resultado da formação de ligações químicas dentro da estrutura do C-S-H.

A ausência de um comportamento inteiramente reversível talvez seja devido à introdução


de ligações adicionais no interior do gel durante o período de secagem, quando se
estabelece um contado mais cerrado entre as partículas de gel. Se tiver se hidratado a
até um grau considerável antes da secagem, a pasta de cimento será menos afetada
pela configuração mais compacta do gel enquanto seco (NEVILLE, 1997, cap. 9, p. 442).

Conforme Andrade (1997, cap. 15, p. 3), a retração por secagem ou hidráulica
(higrométrica) é o “fenômeno que consiste na contração irreversível decorrente da
variação de umidade das pastas de cimento, argamassas ou concreto, assim com
em outros materiais cuja estrutura interna seja de natureza porosa”.

Neville (1997) argumenta que a retração do concreto não é completamente


reversível, mesmo quando colocado em água, ou em ambientes com 100% de
saturação a retração inicial não é completamente recuperada. Troxell et al 9 define F F

que a retração irreversível representa 0,3 a 0,6 da retração hidráulica.

Powers e Brownyard 10 (apud TIA et al, 2005) defendem que, dentre outros fatores
F F

responsáveis pela retração no concreto, também devem ser considerados as


misturas químicas, misturas minerais, a composição do cimento, haja vista ele altera
a reação dos produtos, porosidade e rigidez mecânica.

Neville (1997) diz que a velocidade de secagem do concreto não altera a magnitude
de retração, exceto se o material for retirado diretamente da água para um meio com
umidade muito baixa. O vento e a convecção forçada não têm nenhum efeito sobre a
velocidade de secagem do concreto endurecido, a menos que o concreto seja
recém-concretado.

9
TROXELL, G. E.; RAPHAEL, J. M.; DAVIS R. E. Long-time creep and shrinkage tests of plain and
reinforced concrete. S.l.: Proc. ASTM, 1958. p.1101-1120.
10
POWERS, T. C.; BROWNYARD, T. L. Studies on the physical properties of hardened Portland
cement paste. Chicago: PCA Bulletin 22, 1948.
25

Uma das razões para a retração no concreto é a perda de umidade dos poros
capilares e do C-S-H quando este é exposto a uma umidade mais baixa do que a
sua. Quando as tensões de tração resultantes da retração ultrapassam a capacidade
de tração do concreto ele fissura. Essas fissuras podem ser iniciadas ou propagadas
até o concreto mais profundo. Existem muitos métodos que permitem controlar a
retração e estimar o seu potencial de fissuração. A maioria destes métodos é
baseada em estudos em que corpos de prova são postos em situações nas quais é
simulado o processo de retração. Isso permite definir parâmetros como o tempo de
fissuração, quantidade e as dimensões das fissuras ao longo dos exemplos. Outros
métodos usados para o controle da fissuração por retração fazem uso da
microscopia ótica e de varredura eletrônica. Contudo, estes métodos somente são
aplicáveis para se verificar a existência de fissuras já existentes e as suas
dimensões, não sendo possível aplicá-las durante a fase inicial de cura do concreto
(FREIDIN, 2005).

Este tipo de fissuração do concreto é um dos problemas mais comuns e mais sérios
que as estruturas de concreto apresentam. Assim como a fissuração resultante do
decréscimo de temperatura, o agente motivador da fissuração devida à retração por
secagem é a união da tendência à contração e a restrição que evita que tal
aconteça. Ocorre que, quando a resistência de tração do concreto é alcançada pela
tensão de tração resultante, o concreto fissura (CARLSON 11 apud ANDRADE,
F F

1997).

Mehta (1994) afirma que elementos de concreto com dimensões média e pequena
sofrem retração por secagem e geralmente fissuram para aliviar as tensões
induzidas pela retração quando estas excedem a resistência do material. Para
Mehta a maioria das fissuras causadas por retração por secagem acontecem porque
a peças estruturais estão restringidas durante condições de baixa umidade relativa
do ar ao longo do tempo, assim sendo, ela não está livre para mover-se e
descarregar as tensões.

11
CARSON, R. W.; HOUGHTON, D. L.; POLIVKA M. Causes and Control of Cracking in Unreinforced
Mass Concrete. Detroit: ASTM Special technical Publication 167-B, Dez. 1978. 167-B, p. 229-233.
26

Andrade (1997), afirma que o desenvolvimento da tensão de tração que pode induzir
a fissuração envolve os seguintes fatores:

1. Velocidade e quantidade de retração por secagem


2. Módulo de elasticidade
3. Grau de restrição
4. Relaxação da tensão de tração durante a retração

Para Andrade (1997), a restrição causada pelo concreto para a retração pode ser
advinda de várias fontes. Como a retração por secagem é maior nas partes
superficiais da estrutura, o concreto interno restringe as retrações da parte mais
exposta do concreto, assim sendo, são formadas fissuras de retração. Essas
fissuras não penetram profundamente no concreto. Porém, a secagem do concreto é
um fenômeno contínuo, e as fissuras superficiais poderão evoluir para trincas
estruturais mais profundas e danificar a estrutura.

Além da aparência desagradável, as fissuras causam um aumento da


permeabilidade no concreto, reduzindo a durabilidade das estruturas e, em alguns
casos, podem até ameaçar a segurança da estrutura (MEHTA, 1994).

Em estruturas feitas com concreto massa ou estruturas muito grandes o processo de


fissuração pode ser agravado se a retração por secagem ocorrer em conjunto com o
resfriamento da superfície, resultando no desenvolvimento de altas tensões de
tração. Por isso é necessário uma proteção mais incisiva nas superfícies de grandes
elementos estruturais. Esse cuidado pode ser realizado, por exemplo, pela aplicação
de cura continua ou pela selagem das superfícies para minimizar a perda de
umidade (ANDRADE, 1997).

De acordo com Andrade (1997), a redução das fissuras causadas pela retração por
secagem pode ser reduzida tomando-se estas estratégias:

a) Reduzir as características de retração;


27

b) Usar juntas de dilatação, que induzirão as forças que produzirão a fissuração


a se formarem nas ranhuras dessas juntas, aliviando dessa maneira as
tensões de tração e evitando a formação de fissuras adicionais;
c) Revestir ou selar a superfície do concreto que minimizará a secagem,
reduzindo assim, o desenvolvimento da tensão de tração causadora da
fissuração;
d) Aumentar a capacidade de deformação do concreto.

2.2.3 Retração Autógena

Á retirada de água capilar pela hidratação do cimento ainda não hidratado dá-se o
nome de retração autógena. Também conhecido através do nome de auto-secagem
ou variação autógena de volume, ela ocorre sem a perda de água para o meio e no
interior de uma massa do concreto (NEVILLE, 1997).

Tia et al (2005) argumentam que a retração autógena ocorre no concreto selado


(i.e., sem perda de umidade) sem mudança de temperatura. A retração autógena
ocorre primariamente como resultado da retração química (i.e., redução no volume
devido a reação de hidratação) e auto secagem (i.e., o consumo interno de água
pela reação de hidratação).

Para Jensen et al (2004) a auto-secagem do concreto é resultado da contração


química que ocorre quando o cimento Portland é hidratado. Quando a hidratação se
desenvolve em um sistema fechado, há a criação de nanoporosidades que resultam
na drenagem da água contida nos capilares maiores para a nanoporosidade criada
pela contração química. Como conseqüência da migração de água para dentro do
concreto, meniscos são formados na rede capilar e casualmente nas
nanoporosidades. Os meniscos criam tensões de tração que fazem com que a pasta
de cimento hidratado sofra retração. Quanto mais finas as porosidades e os
capilares, maior será a retração autógena na pasta de cimento.
28

Para Balthar (2004) a retração autógena é resultado da redução da água livre nos
poros do esqueleto cimentício. Essa água pode ser adsorvida na superfície dos
hidratos de C-S-H ou participar da reação de hidratação. Assim, formam-se
meniscos (interface água/ar nos poros), os quais imprimem esforços resultantes da
tensão superficial, resultando na retração autógena.

Nos cimentos convencionais que apresentam proporção água/aglomerante maior


que 0,42, os meniscos desenvolvidos nos grandes capilares e a respectiva retração
autógena não são muito significantes (DAVIS 12 , H. E, apud JENSEN et al, 2004).
F F

Powers 13 (apud JENSEN et al, 2004) lembra que, em contrapartida, taxas de


F F

água/cimento inferiores a 0,42, que de acordo com ele representa a taxa mínima
necessária para que se alcance a hidratação plena em um sistema fechado, causam
aumentos severos na retração autógena na pasta de cimento.

Acker e Ulm 14 (apud Balthar, 2004, cap. 2.3, p. 36) definem que a retração autógena
F F

é menor que 100 με em concretos com relação água/cimento maiores que 0,45 e em
concretos que esta relação é inferior a 0,40, a retração pode chegar a valores em
torno de 300 με. “Isto ocorre em virtude do tamanho dos poros dos concretos, já que
as tensões na fase líquida, que produzem a compressão na matriz mineral, variam
inversamente com o tamanho dos poros na interface com a fase gasosa”.

Conforme Neville (1997), na prática, a retração autógena só ocorre no interior de


uma massa de concreto. Esse tipo de retração é menor do que a que ocorre em uma
pasta de cimento pura. Isso acontece porque no concreto, a contração é restringida
pelo esqueleto rígido da pasta de cimento já hidratada e também pelas partículas de
agregado. A retração autógena é proporcionalmente pequena quando comparada á

12
DAVIS, H. E. Autogenous Volume Change of Concrete. S.l.: Proceedings of the 43rd ASTM Annual
Meeting, 1940. Vol. 40, pp. 1103-1110.
13
POWERS, T. C; BROWNYARD, T. L. Studies of the Physical Properties of Hardened Portland
Cement Paste. S.l.: Research Laboratories of the Portland Cement Association, 1948. Bulletin 22.
14
ACKER, P.; ULM, F. Creep and shrinkage of concrete: physical origins and practical measurements.
S.l.: Nuclear Engineering and Design, 2001. Vol. 203, p. 143-158.
29

retração causada pela secagem do concreto e para efeitos práticos, não deve ser
diferenciada da mesma a não ser em grandes estruturas de concreto massa.

O fenômeno da auto-secagem é maior em concretos em que a relação água/cimento


é menor, por isso pode-se esperar que a retração autógena aumente nesses
concretos. Mas isso pode não acontecer devido a maior rigidez da pasta com
relações água/cimento menores (NEVILLE, 1997).

Apesar de a retração autógena ser tridimensional, ela é comumente expressa em


forma de deformação linear, dessa forma ela pode ser calculada em conjunto da
retração hidráulica. A retração autógena tende a aumentar a temperaturas mais
altas, com teores de cimento maiores, possivelmente com cimentos mais finos e com
cimentos com altos teores de C3A e C4AF. Sabe-se também que para um mesmo
teor de cimento composto, a retração autógena tende a ser diminuída pela adição de
cinza volante (NEVILLE, 1997).

A retração autógena é gerada através de mecanismos físicos e químicos que


determinam o comportamento macroscópico das estruturas de concreto. Estes
mecanismos ainda não estão bem entendidos, principalmente por causa da
complexa interação de agentes combinados, como a água e a temperatura. Isso faz
com que seja impossível uma previsão confiável do comportamento das estruturas
de concreto (JENSEN et al, 2004).

A retração autógena está ligada diretamente com o processo de hidratação do


cimento, que também rege o desenvolvimento da resistência no concreto. Sendo
assim, os mesmos parâmetros que definem a resistência de um concreto, também
definem a sua resistência, por exemplo: a finura do cimento, a relação água/cimento.
(ACKER; ULM 15 apud BALTHAR 2004).
F F Outros fatores também influenciam a
retração autógena como aditivos minerais e superplastificantes e a temperatura do
material, uma vez que a reação de hidratação é termoativada (BALTHAR 2004).

15
ACKER, P; ULM, F-J. Creep and shrinkage of concrete: physical origins and practical
measurements. S.l.: Nuclear Engineering and Design, 2001. Vol. 203, p. 143-158.
30

Sabe-se que a retração autógena pode ser medida de duas formas diferentes:
Medições de deformações volumétricas (i.e. tridimensionais) e medições lineares
(i.e. em uma só direção). O primeiro tipo de medição é mais adequado para se obter
dados de retração nas primeiras idades, enquanto que a outra é mais utilizada para
concretos com mais idade (JENSEN et al, 2004).

Estudos mostram os efeitos da temperatura na retração autógena para um concreto


com um determinado grau de hidratação: No primeiro caso, comprovou-se que a
magnitude de retração química aumenta com a temperatura, e no segundo, o valor
final da retração química decai quando a temperatura aumenta. O histórico da
temperatura possui muita influência no desenvolvimento da retração autógena.
Estudos anteriores mostram que a influência da temperatura na taxa hidratação
independe do grau de hidratação. Contudo, as últimas pesquisas questionam a
relevância deste conceito usual no estudo das deformações de origem autógena do
concreto (JENSEN et al, 2004).

Em concretos de alta resistência, a retração autógena se desenvolve com mais


intensidade do que em cimentos ordinários. Ela se desenvolve muito rapidamente
durante as primeiras 24 horas. A baixa concentração de aglomerante nesse cimento
faz com que as partículas de cimento se posicionem muito próximas umas das
outras configurando uma rede capilar muito fina e estreita. Como o volume de água
capilar não é muito grande, meniscos são formados rapidamente pela auto-secagem
e capilares finos são formados. Esses meniscos desenvolvem tensões de tração
consideráveis em um momento em que a pasta de cimento não está muito forte.
Quanto mais baixa a proporção água/aglomerante, mais cedo e maior será a
retração autógena desenvolvida (JENSEN et al, 2004).

Jensen et al (2004) defende que após sofrer retração plástica e autógena, o


concreto de alto desempenho enfrenta a retração térmica antes de ser submetido à
retração por secagem. O que faz com que a situação seja mais severa, é que o
concreto é submetido a diferentes formas de retração nas primeiras idades. A
principal diferença entre o concreto usual e o de alto desempenho é a prevenção
que deve ser feita para se evitar o desenvolvimento da retração plástica e autógena
tão logo quanto eles forem aplicados.
31

Todos os métodos já criados para o combate da retração autógena têm como


propósito a redução das tensões causas pelos meniscos criados pela auto-secagem.
Os métodos para se atingir este objetivo se dividem em dois tipos: O primeiro
consiste em hidratar a pasta com água externa e o segundo, em reduzir diretamente
as tensões causadas pelos meniscos através de aditivos químicos misturados na
pasta (SHAH; WEISS; YANG 16 apud JENSEN et al 2004).
F F

No primeiro processo a água pode ser fornecida ao concreto já na mistura dos


materiais ou através da aspersão de água tão logo a concretagem ocorrer. Weber e
Reinhardt 17 (apud JENSEN et al, 2004, cap. 5, p. 72) propõem que “o agregado
F F

miúdo seja embebido em água para criar uma fonte de água interna (interna ao
concreto) de água externa (externa a pasta de cimento)”. Jensen e Hansen 18 (apudF F

JENSEN et al, 2004) sugerem o uso de polímeros super-absorventes na mistura dos


elementos do concreto. Isso faria com que eles absorvessem a água livre na hora da
mistura e a provesse mais tarde, quando a auto-secagem começasse a se
desenvolver. Nos dois exemplos citados a água extra tornaria mais difícil a migração
da água capilar para os vazios menores do concreto, e assim, os meniscos não
seriam desenvolvidos dentro da rede capilar (JENSEN et al 2004).

2.2.4 Retração Por Carbonatação

Neville (1997) define que a retração por carbonatação se deve pela fixação do
dióxido de carbono na pasta de cimento e que por causa disso, a massa da pasta
aumenta. Junto com o aumento da pasta de cimento, ocorre também o aumento da
massa de concreto. Quando o concreto entra na condição de secagem e
simultaneamente sofre carbonatação, a retração causada pela perda de água é
16
SHAH, S.P.; WEISS, J.; YANG, W. Shrinkage Cracking: Can it be Prevented? S.l.: Concrete
International, 1998. VoI. 20, No 4, p. 51-55.
17
WEBER, S; REINHARDT, H.W. A new Generation of High performance Concrete: Concrete with
Autogenous Curing. S.l.: Advanced Cement-Based MateriaIs, 1997. VoI. 6, No 2, p. 59-68.
18
JENSEN, O.M.; HANSEN, P.F. Water-entrained Cement: Based MateriaIs. S.l.: Cement and
Concrete research, 2000. VoI. 31, No 4, p. 647-654, Part I.
32

compensada pela expansão devida à carbonatação, por isso, pode-se concluir


incorretamente que o concreto atingiu o seu ponto de equilíbrio, sendo a sua
secagem data por completo.

Andrade (1997) acredita que a carbonatação acontece por causa da reação entre o
cimento hidratado e o dióxido de carbono na atmosfera. A retração por carbonatação
ocorre na superfície do concreto. Neste processo ocorre a formação de cristais de
Ca(OH)2 principalmente, e dos silicatos de cálcio hidratados, com o gás carbônico.

Para Houst 19 (apud NEVILLE, 1997) a causa da retração por carbonatação é


F F

provavelmente a dissolução de cristais de Ca(OH)2, sob tensão por causa da


retração hidráulica e a deposição de CaCO3 em vazios não propensos á tensão.

A retração por carbonatação não tem grande influência em umidades muito baixas e
nem em umidades muito altas. O seu pico de ação se verifica em umidades
intermediárias. Isso pode ser explicado porque em baixas umidades, não há água
suficiente nos poros no interior da pasta de cimento para a formação de ácido
carbônico. Em altas umidades, quando os poros estão saturados de água, a difusão
do CO2 é muito lenta (NEVILLE, 1994).

Segundo Neville (1997) a seqüência de secagem da carbonatação tem muita


influência sobre a intensidade da retração. Quando a retração por carbonatação e a
retração por secagem agem em conjunto, elas produzem uma retração total inferior
a que acontece quando a retração de secagem acontece sozinha seguida pela
retração por carbonatação. Isso é devido ao fato de que uma maior parte da retração
por carbonatação acontece em umidades superiores a 50% e que, neste caso, essa
situação é menor. A carbonatação, apesar de produzir retração, reduz a perda de
água para o ambiente, reduzindo a fissuração.

19
HOUST, Y.R. Influence of shrinkage on carbonation shrinkage kinetics of hydrated cement paste, in
Creep and Shrinkage of Concrete. London: Spon, 1993. p.121-126.
33

2.3 INFLUÊNCIA DO CIMENTO NA RETRAÇÃO DO CONCRETO

A principal razão da retração é a pasta de cimento. Agregados que requerem baixas


concentrações de água irão produzir concretos com uma baixa demanda de cimento
que por sua vez, irão resultar em menos retração (LEGG 20 apud TIA et al, 2005).
F F

Tazawa e Miyazawa 21 (apud TIA et al, 2005) acham que a composição do cimento
F F

possui grande influencia na retração autógena e na retração hidráulica. Quando


comparado com o cimento Portland normal, uma maior retração autógena foi
observada em cimentos de alta resistência inicial nas primeiras idades e em
cimentos com escória de alto forno nas idades tardias. Menos retração autógena foi
observada em pastas de cimento com calor de hidratação moderado e em cimentos
Portland com baixo calor de hidratação com alto conteúdo de C2S. A retração
autógena depende da hidratação do C3A e C4AF e aumenta com o aumento destes
componentes.

Mehta (1994, cap. 4, p. 96) afirma que “a fonte principal de deformações


relacionadas à umidade no concreto é a pasta endurecida de cimento.” No entanto,
não se pode obter uma relação direta entre a retração e a quantidade de cimento.
Isso porque a restrição que outros fatores aplicam na deformação exerce grande
influência na dimensão da deformação.

De acordo com Andrade (1997) a retração estimada devida a secagem do gel puro
cimento Portland é de 1% e se relação água/cimento for muito alta, o gel terá uma
textura maior e, dessa forma, poderá ter um alto percentual de retração por
secagem.

O cimento possui centros cristalinos que permanecem após a hidratação. Acredita-


se que estes grãos são imunes aos efeitos da retração. Eles são compostos

20
LEGG, F.E. Jr. Agregates, Concrete Construction Handbook. S.l.: Ed. Dobrowolki / J. McGraw-Hill,
1998. 4th ed.
21
TAZAWA, E.; MIYAZAWA, S. Effect of self-desiccation on volume change and flexural strength of
cement paste and mortas. Proceedings. Sweden: International Research Seminar on Self-Desiccation
and Its Importance on Concrete Technology, 1997.
34

principalmente por resíduos de grãos de cimento não hidratados e cristais de


hidróxido de cálcio, estes, subproduto da hidratação. Já o resíduo do cimento
hidratado é composto por um material gelatinoso, um pouco poroso e suscetível de
grandes variações de volume por causa dos ciclos de molhagem e secagem.
(ANDRADE,1997).

Andrade (1997) acha que o teor de cimento tem pouca influência na retração.
Geralmente, cimentos mais finos, pozolânicos ou com adição de escória tem
tendência a aumentar a retração, mas que o efeito varia de acordo com o tipo de
agregado usado.

Swayze 22 (apud NEVILLE, 1997) argumenta que as propriedades do cimento têm


F F

pouca Influência sobre a retração do concreto e mostrou que uma maior retração em
corpos de prova compostos exclusivamente com pasta de cimento, não significa
uma maior retração no concreto.

2.3.1 Tipos de Cimento e Compostos Mineralógicos

Carlson (apud ANDRADE, 1997), diz que quando ensaiados puros, os três principais
compostos de cimentos alinham-se em ordem de retração decrescente: 1)
anuminato tricálcico; 2) silicato dicálcico; 3) silicato tricálcico. Porém, quando estes
compostos são utilizados puros no lugar do cimento, a retrações são da mesma
magnitude.

Mehta (1994) cita o cloreto de cálcio, escória granulada e pozolanas como agentes
que aumentam a retração no concreto. Estes compostos tendem a aumentar o
volume de poros finos no produto da hidratação do cimento. A retração está
diretamente associada com a água contida em pequenos poros na faixa de 3nm a

22
SWAYZE, M. A. Discussion on Volume changes of concrete. Washington: Proc. 4th Int. Symposium
on the Chemistry of Cement, 1960. p. 700-702.
35

20nm. Os concretos que contém adições capazes de refinar os poros normalmente


apresentam retração por secagem maior.

Para Pickett 23 (apud NEVILLE, 1997) a composição química do cimento não possui
F F

influência sobre a retração, exceto em cimentos que possuem deficiência em gesso


que apresentam retração aumentada. Lereh 24 (apud NEVILLE, 1997) afirma que
F F

quando se trata do retardamento da pega na pasta de cimento, o teor ótimo de


gesso é inferior ao que causa um mínimo de retração no concreto. Ou seja, em
qualquer cimento, a taxa de gesso satisfatória para a retração é menor do que a
usada para o controle da pega.

As variações na retração de concretos com diferentes tipos de cimentos Portland não


podem ser explicadas satisfatoriamente somente pelas diferenças na sua composição ou
finura. A composição química do cimento, entretanto, tem uma importante influência na
retração (CARLSON, 1979 25 apud ANDRADE, 1997, cap.15, p. 18).
F F

Reichard 26 (apud NEVILLE, 1997) fala que a retração do concreto composto com
F F

cimento aluminoso tem a mesma retração de cimentos ordinários Portland, porém,


ela ocorre muito mais rapidamente.

A adição de cinzas volante ou escória granulada de alto forno aumenta a retração.


Mantendo-se uma relação água/cimento constante, a adição de cinza volante ou
escoria pode aumentar em até 20% a retração. Utilizando-se de altos teores de
escória, a retração pode aumentar em até 60% (J. J. Brooks and A. Neville 27 , apud F F

NEVILLE, 1997).

23
PICKETT, G. Effect of gypsum content and other factors on shrinkage of concrete prisms. S.l.: J.
Amer Concr. Inst., Oct.1947. p.149-175.
24
LEREH, W. The influence of gypsum on the hydration and properties of Portland cement pastes.
S.l.: Proc. ASTM., 1946. p. 1252-1292.
25
CARSON, R. W.; HOUGHTON, D. L.; POLIVKA, M. Causes and Control of Cracking in
Unreinforced Mass Concrete. Detroit: ASTM Special technical Publication 167-B, Dez. 1978. p. 229-
233.
26
REICHARD, T. W. Creep and drying shrinkage of lightweight and normal weight concretes.
Washington: Nat. Bur. Stand. Monograph, 1964.

27
BROOKS, J. J.; NEVILLE, A. Creep and shrinkage of concrete as affected by admixtures and
cement replacement materials. In: Creep and Shrinkage of Concrete: Effect of Materials and
Environment. Detroit: ACI SP-135, 1992. p. 19-36.
36

Em concretos de resistência muito elevada, que contém superplastificantes, a


retração é o resultado de dois fatores importantes, porém opostos. A baixa relação
água/cimento, que resulta em baixas retrações e uma intensa auto-secagem aliada á
uma alta taxa de cimento que leva a retrações elevadas. Mas a estrutura mais rígida
desses concretos interfere na intensidade efetiva da retração (NEVILLE, 1997).

MATHER 28 (apud NEVILLE, 1997) diz que a adição de cloreto de cálcio


F F

normalmente aumenta a retração entre 10% e 50% e que isso se dá provavelmente


por causa da produção de um gel mais fino e, possivelmente também, por causa da
carbonatação de peças com idade avançada contendo cloreto de cálcio.

Duran 29 et al (apud TIA et al, 2005) defende que o uso de cinza volante em
F F

exemplos de argamassa reduz a retração em cerca de 30% a 40% quando


comparada a pasta de cimento Portland comum. Contudo, mais estudos
relacionados ao comportamento de cimentos com adição de cinza volante devem
ser feitos antes que se possa ser produzido cimentos com este aditivo.

Em relação à Cinza de casca de arroz (CCA), Silva, Akasaki e Tashima 30 (apud F F

SILVA et al, 2006) e Silva et al (2006) chegaram à conclusão que a adição CCA é
apenas é viável no combate a retração quando for substituída nos teores de 5% e
10% em detenção da argamassa.

28
MATHER, K. High strength, high density concrete. S.l.: J. Amer. Concrete. Inst., 1965. No. 8, p. 951-
962.
29
DURAN, A. C.; KILIC, A.; SEVIN, U. K. Strength and shrinkage properties of mortar containing a
nonstandard high-calcium fly ash. S.l.: Cement and Concrete Research, 2004. Vol. 34, p. 99-102.
30
SILVA, E. J.; AKASAKI J. L.; TASHIMA, M. M. Estudo da adição de cinza de casca de arroz em
pastas e argamassas. São Paulo: XVI Congresso de Iniciação Científica da UNESP, 2004.
37

2.3.2 Finura do Cimento

Mehta (1994) acredita que variações na finura e composição do cimento Portland


influenciam a taxa de hidratação, mas não o volume e as características dos
produtos de hidratação. Mehta lembra que muitos pesquisadores têm observado que
mudanças normais na composição ou finura do cimento podem afetar a retração por
secagem em corpos de provas pequenos de pasta de cimento ou argamassa, mas
que têm um efeito desprezível sobre o concreto.

Para a Andrade (1997), concretos compostos com cimentos mais finos geralmente
apresentam maior retração, haja vista que esse aumento de retração com a
diminuição da finura não é muito grande. Um exemplo são os cimentos comuns de
baixo teor de C3A que normalmente apresenta pouca variação da retração com o
aumento da finura. Porém, cimentos com quantidades regulares de C3A moídas
finamente, podem apresentar alta retração.

De acordo com Andrade (1997), os cimentos que possuem superfície específica


maior, ou seja, cimentos mais finos possuem maior retração. A teoria proposta por
Andrade pode ser verificada observando o GRAF. 2.
38

GRÁFICO 2 – Retração em Função da Finura do Cimento


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 29.

A finura do cimento só é importante quando as partículas maiores do que 75 μm,


que se hidratam relativamente pouco, apresentem efeito de contenção da retração
semelhante ao do agregado (NEVILLE, 1997). Em contrapartida, cimentos mais
finos não aumentam a retração do concreto com agregados normais ou leves,
embora seja aumentada a retração de pastas de cimento puras (NEVILLE, 1962 31 , F F

apud NEVILLE, 1997).

O GRAF. 3 demonstra o efeito da retração em função da finura dos cimentos e com


a adição de gesso.

GRÁFICO 3 – Retração em função da finura do cimento com gesso


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 4.

Pode-se perceber no gráfico 3 a influência do gesso na retração em função da finura


dos cimentos. Nota-se que, a partir de um certo momento, que varia de acordo com
a finura do cimento, a retração na pasta de cimento é cessada e o processo
contrário ocorrem, há a expansão.

31
NEVILLE, A. M. Shrinkage and creep in concrete: Structural Concrete. London: s.n., Mar, 1962. No.
2, p.49-85.
39

2.3.3 Cimentos Expansivos

Cimentos expansivos são aqueles, que nos períodos iniciais de hidratação, se


expandem. Essa expansão é útil para conter a contração causada pela retração do
concreto. No decorrer da expansão desse cimento é criada uma protensão da ordem
de 0,2 a 0,7 Mpa que normalmente compensa a retração por causa da secagem.
Esses cimentos são muito úteis na produção de pavimentos e lajes livres de fissuras
(MEHTA, 1994).

Neville (1997) lembra que concretos com retração compensada são os concretos
elaborados com cimentos expansivos. Eles se expandem já nos primeiros dias e
essa expansão causa uma protensão na armadura. O aço é tracionado e o concreto
comprimido.

De acordo com o ACI 32 (apud MEHTA, 1994) “o concreto com retração compensada é
F F

um concreto com cimento expansivo, o qual, quando adequadamente confinado pela


armadura ou outros meios, vai ter uma expansão igual ou ligeiramente maior que a
retração por secagem prevista. Por causa do impedimento, tensões de compressão serão
induzidas no concreto durante a expansão. Em seguida, a retração por secagem reduzirá
essa tensões” (MEHTA, 1994, cap. 11, p. 422).

Cimentos expansivos apesar de caros são muito úteis em estruturas que necessitam
de reduzida fissuração como plataformas de pontes, placas de pavimentos e
reservatórios de líquidos. Apesar de reduzirem a fissuração, cimentos expansivos
não imunizam o concreto contra ela. Sua grande vantagem é compensar a retração
normal com a sua expansão, como pode ser visto na FIG. 4 (NEVILLE, 1994).

A FIG. 4 faz um comparativo esquemático entre as variações volumétricas de um


cimento Portland comum e um cimento com retração compensada durante a cura
úmida e o tempo normal de exposição do concreto.

32
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Standard Practice for the Use of Shrinkage-Compensating
Concrete: reported by ACI 223-91. In: Manual of Practice. S.l., 1991. Part 1.
40

FIGURA 4 – Cimento Portland comum X cimento com retração compensada


Fonte: NEVILLE, 1997, cap. 9, p. 446.

De acordo com Neville (1997), hoje se produzem três tipos principais de cimentos
expansivos (tipo K, tipo M e tipo S), mas somente o tipo “K” está disponível para a
compra. Mehta (1994) lembra que o cimento expansivo tipo “K” não está disponível
para a venda no Brasil. O seu funcionamento consiste na grande quantidade de
etringita que é formada na hidratação do cimento tipo “K”. No tempo em que incide a
pega e o concreto desenvolve resistência, ele adere à armadura e começa a
expandir (se uma quantidade suficiente de água estiver presente). Como já foi
falado, isso causa uma tração no aço e compressão no concreto. Ao final desse
ciclo, o concreto entra no período de secagem e retrai como um cimento Portland
normal. Entretanto, a formação de tensões compressivas nesse concreto previnem a
formação de altas tensões de tração e o risco de fissuração do concreto devido à
retração por secagem é reduzido.

2.4 INFLUÊNCIA DA ÁGUA NA RETRAÇÃO DO CONCRETO

Andrade (1997) argumenta que a água desempenha a parte mais importante na


retração de misturas de cimento. No processo de hidratação do cimento, os
41

espaços, originalmente ocupados pela água, são preenchidos pela água de


amassamento com produtos hidratados, principalmente o gel. Admite-se que o
cimento se hidrata inteiramente, sendo esta a visualização mais simples do efeito da
variação do teor de água. O constituinte gelatinoso ajusta seu volume para
preencher todo o espaço disponível (ANDRADE,1997).

A água tem grande influência na retração da pasta de cimento e do concreto. Para


uma determinada proporção de água/cimento, concretos com consistência mais
aguada (i.e. com maior proporção de água na pasta de cimento) possuem maiores
chances de sofrer retração do que uma mistura mais rígida (TROXELL apud TIA et
al, 2005).

Mehta (1994) diz que a tanto a retração por secagem quanto a fluência aumentam
com o aumento da relação água/cimento. Provavelmente, devido a um decréscimo
na resistência e a um aumento na permeabilidade do concreto. Para um dado
consumo de cimento, o aumento da relação água/cimento causa um aumento de
retração por secagem.

“... A retração é tanto maior quanto maior a relação água/cimento, pois esta
determina a quantidade de água evaporável na pasta de cimento e a velocidade à
qual a água pode se deslocar para a superfície” (NEVILLE, 1997, cap. 9, pp. 428 -
429).

Brooks 33 (apud NEVILLE, 1997) demonstrou que a retração da pasta de cimento


F F

hidratada é diretamente proporcional à relação água/cimento entre os valores 0,2 e


0,6. Para valores superiores a este, a água pode ser removida por secagem, sem a
aparição de retração.

33
BROOKS, J. J. Influence of mix proportions, plasticizers and superplasticizers on creep and drying
shrinkage of concrete. S.l.: Mag. Concr., 1989. Res. 41, No. 148, p. 145-154.
42

Para Gaynor et al 34 (apud NEVILLE, 1997) o teor de água não tem influencia direta
F F

na magnitude da retração. A sua influência se dá por causa da redução da taxa de


agregado. O teor de água em si não é um fator primário. Sendo assim, misturas
contendo a mesma proporção de água, mas com proporções diferentes de outros
compostos, apresentarão retrações diferentes.

Aditivos retardadores de pega e redutores de água têm a capacidade de melhorar a


dispersão de partículas de cimento anidro na água e também causam um
refinamento dos poros do produto da hidratação. O refinamento dos poros do
cimento causa um aumento na retração por secagem, pois a água envolvida no
processo de retração está diretamente ligada a estes poros (MEHTA, 1994).

Brooks e Neville 35 (apud NEVILLE, 1997) acham que os aditivos redutores de água
F F

provavelmente causem um pequeno aumento na retração. O principal efeito seria


indireto, pois a aditivo pode modificar o teor de água ou o teor de cimento ou ambos,
que causaria um aumento da retração na mistura. Constatou-se que o uso de
superplastificantes aumenta o nível de retração em 10% ou 20%, mas como as
variações são muito pequenas, elas não podem ser aceitas com confiabilidade e
validade generalizada.

É importante que se impeça a perda de água do concreto não somente para não
prejudicar o aumento da resistência, mas também para evitar a retração plástica,
uma maior permeabilidade e a redução da resistência à abrasão (NEVILLE, 1997).

Conforme Andrade (1997) a água pode influenciar a retração na pasta de cimento


hidratada sob muitas formas, a saber:

34
GAYNOR, R. D.; MEININGER, R. C.; T. S. KHAN. Effect of temperature and delivery time on
concrete proportions. In: Temperature Effects on Concrete. Philadelphia: ASTM Sp. Tech. Publ.,
1983. No. 858, p. 68-87.

35
BROOKS, F. F.; NEVILLE; A. Creep and shrinkage of concrete as affected by admixtures and
cement replacement materials. In: Creep and Shrinkage of Concrete: Effect of Materials and
Environment. Detroit: ACI SP-135, 1992. p. 19-36.
43

• Adsorvida no C-S-H que representa a maior parte da água evaporável e por


conseqüência é a maior causa da retração no concreto.

• Em forma de água capilar. Vazios da ordem de 50 nm ou maiores, não


influenciam significativamente a intensidade da retração, já poros capilares da
ordem de 5 nm a 50 nm podem causar retração, por causa da evaporação de
água contida nestes poros, que irá depender das condições ambientais,
principalmente da umidade relativa do ar.

• Outras formas de água que existem na matriz da pasta de cimento. Estas


formas não possuem influência na retração. Apenas irão influenciar a retração
do concreto quando a umidade relativa estiver muito baixa (menor do que
11%) e combinada quimicamente no C-S-H.

Mehta (1994) propõe que a água adsorvida causa pressa ode desligamento quando
restrita em espaços reduzidos entre duas superfícies sólidas. A retirada desta água
causaria retração na estrutura por causa da redução da pressa de desligamento.

Á água interlamelar, presente entre as camadas da estrutura do C-S-H, pode ser


retirada do concreto quando este é submetido a condições extremas de secagem. A
dificuldade de extrair-se esta água se deve a forte ligação que ela apresenta ao
reticulado capilar e ao caminho tortuoso que a água deve percorrer para ser retirada
do meio interlamelar. Ao ser retirada, a água do C-S-H pára de exercer pressão
hidrostática e por causa disso sucedesse uma tensão de compressão entre as
paredes sólidas do poro capilar, causando assim, contração no sistema (MEHTA,
1994).

Neville (1997) propõe a existência de uma relação entre a massa de água perdida e
a retração. Em pastas de cimento puras a retração é proporcional à água perdida,
pois como não há água capilar presente, somente a água adsorvida é removida.
Analogamente em pastas contendo sílica pulverizada, que por razões de
trabalhabilidade necessitam de mais água, que geram a formação de poros capilares
contendo água livre, a retração se mostrou mais amena. Isso se deve porque no
processo de secagem a água livre contida dentro dos capilares é eliminada primeiro.
44

Só então, quando a água adsorvida começa a ser eliminada a retração das duas
pastas se assemelha.

Andrade (1997), afirma que a quantidade de água no concreto não influencia o


aparecimento de retração diretamente. Isso porque um aumento na quantidade de
água no concreto não irá apenas aumentar a relação a/c, mas irá também reduzir o
volume de agregado e, dessa forma, causará um decréscimo na fração do agregado
que consequentemente aumentará a retração do concreto.

Qualquer condição que permita a utilização de menos água de amassamento reduzia


substancialmente a retração. Outros fatores podem ter um efeito maior, mas se as
fissuras internas são resultantes da retração, o teor de água provavelmente será
36
apontado como o mais importante fator (CARLSON ANDRADE, 1997, cap.15, p. 18).
F F

Segundo Carlson (apud ANDRADE, 1997), a cada acréscimo de 1,0% de água de


amassamento de um concreto, a retração aumentará em torno de 2,0%. Isso porque
para cada 1% de acréscimo de água o volume do gel a se formar no concreto é
aumentado em quase 1% ao passo que a tendência a retração do gel também é
aumentada em 1% por causa da água extra.

Um efeito variável e complicador em todos os estudos relacionados a retração é a


duração da cura. Em concretos, particularmente naqueles nos quais a fissuração da
pasta entre as partículas de agregado seja predominante, a cura úmida prolongada
pode aumentar a retração pela redução da fissuração. Já em pastas de cimento,
geralmente há uma certa redução na retração por causa da cura úmida. (ANDRADE,
1997).

Para Powers 37 (apud NEVILLE, 1997) a cura úmida prolongada apenas retarda o
F F

aparecimento da retração e que a sua intensidade não é interferida pela cura. Em


relação a pastas de cimento, quando maior o numero de partículas hidratadas,
menor é o numero de partículas não hidratadas que restringem a retração, em

36
CARSON, R. W.; HOUGHTON, D. L.; POLIVKA, M. Causes and Control of Cracking in
Unreinforced Mass Concrete. Detroit: ASTM Special Technical Publication 167-B, Dez. 1978. p. 229-
233.
37
POWERS, T. C. Causes and control of volume change. S.l.: J. Portl. Cem. Assoc. Research and
Development Laboratories, Jan. 1959. No. 1, p. 29-39.
45

contrapartida, nas pastas onde há o maior volume de partículas hidratadas, há


também um menor volume de água. Além disso, esta pasta possuirá maior
resistência e por isso terá o seu potencial de retração diminuindo. Neville (1997)
afirma que concretos bem curados se retraem mais rapidamente e que em geral a
duração da cura úmida não é um fator importante para a retração.

2.4.1 Umidade do Ambiente

Neville (1997) afirma que a umidade relativa do ambiente que está ao redor do
concreto tem muita influência sobre a retração. “Quanto maior a umidade do
ambiente, menor a retração do concreto” (ANDRADE, 1997, cap.15, p. 29).

O GRAF. 4, logarítmico, demonstra a retração em função do tempo de concretos


conservados em umidades relativas variadas.

GRÁFICO 4 – Retração em função do tempo para diversas umidades relativas


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 29.

Ao analisar-se o GRAF. 4, pode-se perceber a forte influência da umidade relativa


na retração do concreto. A saturação da umidade relativa causou uma expansão no
concreto ao longo dos anos. Umidades inferiores a esta faixa causaram retração.
46

Pode-se constatar também que a o maior valor absoluto de expansão do concreto


submetido à umidade de 100% é cerca de seis vezes menor do que o exposto à
umidade de 70% e oito vezes menor do que o exposto à umidade de 50%
(NEVILLE, 1997).

Neville (1997) lembra que o concreto se contrai se executado em condições


atmosféricas não saturadas e que ele se expande se conservado em água ou a uma
umidade relativa de 100%. Tendo isso em vista, pode-se tomar que a pressão de
vapor no interior da pasta de cimento é sempre menor do que a pressão de vapor
saturado. Lorman 38 (apud NEVILLE, 1997) determinou que a umidade de equilíbrio
F F

higroscópico do concreto é de 94%, contudo, a aplicação deste valor é limitada, pois


essa umidade se restringe a elementos pequenos e praticamente sem contenções.

Andrade (1997) afirma que o concreto perde umidade muito lentamente, mas
absorve facilmente umidade da atmosfera. Pode-se concluir que a umidade a que o
concreto da estrutura está exposto, é a média anual da umidade relativa da
atmosfera.

Mehta (1944) admite que um aumento da umidade atmosférica torna o fluxo de água
das camadas mais internas do concreto para as camadas mais externas e para o
ambiente, mais difícil. A dificuldade se dá por causa do equilíbrio hidrostático entre o
concreto e o meio externo. Se o meio externo apresenta umidade relativa superior
ao do concreto, ele tende a doar água para o concreto e vice-versa.

38
LORMAN, W. R. The theory of concrete creep. S.l.: Proc. ASTM, 1940. p. 1082-1102.
47

2.5 INFLUÊNCIA DO AGREGADO NA RETRAÇÃO

Han 39 (apud TIA et al, 2005) afirma que os agregados afetam a deformação do
F F

concreto através da demanda de água, da dureza, da concentração volumétrica e da


interação entre pasta e agregado.

Para Andrade (1997), um corpo de provas moldado com calcário silicoso ou britado
possui cinco vezes menos retração do que um moldado apenas com cimento. As
partículas de agregado reforçam o concreto contra a retração.

A capacidade de restrição que estas partículas demonstram na pasta de cimento


contra a retração irá depender de vários fatores importantes, como:

1. A exensibilidade relativa da pasta e a compressibilidade do agregado (modulo


de elasticidade)

2. A ligação ou contato entre a pasta e o agregado;

3. Contração da pasta no estado fresco;

4. O grau de fissuração da pasta de cimento.

5. A variação de volume das partículas de agregado devido à secagem.

Andrade (1997) acredita que para concretos em geral, o modulo de elasticidade do


agregado está ligado à retração por secagem. Quanto menor o módulo de
elasticidade do agregado, maiores deformações devidas à retração o concreto
apresentará. Por conseqüência, se houver alguma restrição impedindo a descarga
das tensões geradas a partir dessa deformação, o concreto estará mais susceptível
à fissuração. Concretos com menor módulo de elasticidade também apresentarão
maior fluência. Dessa forma as tensões advindas da variação térmica serão
minimizadas.

39
HAN, N.; WALRAVEN, J. C. Creep and shrinkage of high-strength concrete at early and normal
ages. S.l.: Advances in Technology, 1996. p. 73-94.
48

As propriedades elásticas do agregado determinam o grau de contenção da


retração. “Por exemplo: agregado de aço resulta ema retração em terço menor do
que os agregados comuns”. (SHIDELER 40 apud NEVILLE, 1997, cap. 9, p. 431).
F F

Reichard 41 (apud NEVILLE, 1997) encontrou uma correlação entre a retração e o


F F

modulo de elasticidade do concreto que depende da compressibilidade do agregado


usado. A argila não possui boa contenção à retração e a sua presença pode
aumentar a retração em até 70%.

Venuat e Papadakis 42 (apud ANDRADE,1997) mostram as diferenças da retração do


F F

concreto, da argamassa e da pasta de cimento produzidos com o mesmo tipo de


cimento e mantido em ambiente com temperatura de 20oC e 50% de umidade
relativa do ar no GRAF. 5.

GRÁFICO 5 – Comparativo entre retração do concreto, argamassa e pasta de cimento


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 6.

Conforme Neville (1997), os agregados com altas resistências irão causar grandes
efeitos restritivos às tensões de retração e resultarão em menores retrações no
concreto.

40
SHIDELER, J. Lightweight aggregate Concrete for structural use. S.l.: J. Amer. Concr. lnst.,
Oct.1957. p.299-328.
41
REICHARD, T. W. Creep and drying shrinkage of lightweight and normal weight concretes.
Washington: Nat. Bur. Stand. Monograph, Mar. 1964.
49

Segundo Troxell 43
F F (apud TIA et al, 2005), os agregados que retraem
consideravelmente por causa da perda de água, usualmente possuem baixa
resistência. Esse tipo de agregado pode ter grandes valores de absorção de água,
que irá causar no concreto fortes retrações.

Em muitos casos o uso de agregados com alta absorção de água tem aumentado a
proporção de água no concreto e, dessa forma, aumentando a retração. Contudo,
deve ser lembrado que, recentemente, o uso de agregados com alta porosidade e
baixo peso tem sido proposto como um método capaz de minimizar a retração
autógena. Nestes estudos o agregado de baixo peso é saturado em vários graus
antes de ser misturado e o agregado age como um reservatório de água para suprir
o decréscimo de água que foi usada na hidratação da pasta (BENTUR et al 44 e F F

BREUGEL; VRIES 45 apud TIA et al, 2005).


F F

Para Mehta (1994) o consumo de cimento e água no concreto não possui influência
direta na retração por secagem. Isso porque o aumento no volume da pasta de
cimento significa um decréscimo da fração de agregado, que por sua vez, propicia
um aumento nas deformações relativas à retração.

Concretos elaborados com agregados que se retraem, por conseguinte, apresentam


retração. A utilização destes agregados pode gerar uma série de problemas na
utilização das estruturas devido a flechas ou empenamentos excessivos. Quando há
fissuração da peça, a sua durabilidade também pode ser comprometida. Por isso, é
prudente analisar e determinas a retração de agregados suspeitos. Rochas que
apresentam retração geralmente têm alta absorção e este fator é um sinal de
advertência de que o agregado deve ser cuidadosamente estudado em relação à
sua retração (NEVILLE, 1994).

43
TROXELL, G.; HARMER, D.; KELLY, J. Composition and Properties of Concrete. New York:
McFraw-Hill, 1996. p. 290-320, 2nd edition.
44
BLOOM, R.; BENTUR. A. Free and restrained shrinkage for normal and high strength concretes.
S.I.: ACI Materials Journal, 1995. Vol. 92, No. 2, p. 211.
45
VAN BREUGEL, K.; DE VRIES, J. Mixture optimization of low water/cement ratio high strength
concretes in view of autogenous shrinkage. Proceedings. Sherbrooke: International Symposium of
High Performance and Reactive Powder Concrete, 1998. p. 365-382.
50

Agregados leves geralmente apresentam maior retração devido ao seu módulo de


elasticidade menor. Agregados com grande proporção de finos, passante na peneira
75 μm, demonstram uma retração ainda maior devido à sua maior proporção de
vazios (NEVILLE, 1994).

Conforme Mehta (1994) tem se sugerido que a granulometria, dimensão máxima,


forma e textura do agregado são fatores que influenciam a retração. Para ele, o
módulo de deformação do agregado é o mais importante agente. Influencias
indiretas do agregado através do conteúdo de agregado no concreto ou na
capacidade de adensamento da mistura do concreto, também podem ser
consideradas.

2.5.1 Teor de Agregado

Ao analisarem-se dois concretos, sendo que ambos possuem a mesma resistência e


contém o mesmo tamanho de agregado, porém, o primeiro possui maior quantidade
de agregado (menor trabalhabilidade) e o segundo possui menos quantidade de
agregado (maior trabalhabilidade). Verificou-se que o primeiro apresentou menor
retração mantendo-se a relação água/cimento constante (ANDRADE,1997).

A influência da relação água/cimento e do teor de agregado pode ser reunida no


GRAF. 6 a seguir.
51

GRÁFICO 6 – Influência da relação água/cimento e do teor de agregado


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 26.

O GRAF. 6 deixa clara a importância do agregado para a retenção da retração no


concreto. Para um mesmo fator água/cimento, a retração aumenta agressivamente
quando o volume em percentagem de agregado diminui.

2.5.2 Forma do Agregado

Agregados esféricos ou cúbicos têm a área especifica menor do que partículas


achatadas e alongadas. Consequentemente, agregados esféricos ou cúbicos
requerem menos pasta e menos água para atingir uma boa trabalhabilidade
(SHILSTONE 46 apud TIA et al, 2005).
F F

Para uma dada trabalhabilidade, agregados floculentos e alongados aumentam a


demanda de água, dessa forma afetando a resistência do concreto endurecido tão quanto
aumentam a retração do concreto. Partículas esféricas ou cúbicas conduzem também a
uma melhor bombeabilidade e acabamento assim como produzem maiores resistências e

46
SHILSTONE, J. M. The aggregate: The most important value-adding component in concrete.
Proceedings. Austin: Seventh Annual International Center for Aggregates Research Symposium,
1999.
52

menor retração que agregados floculentos e alongados 47 . (SHILSTONE 48 apud TIA et al,
F F F F

2005, p. 7, tradução nossa).

A forma e a textura afetam a demanda por areia. Grãos alongados, angulares e


rugosos possuem grandes espaços e requerem mais areia para completar estes
espaços e prover um concreto trabalhável, assim aumentando a necessidade de
água e através disso aumentando a retração (LEGG 49 apud TIA et al, 2005).
F F

2.5.3 Tipos de Agregado

De acordo com Andrade (1997), o tipo litológico do agregado é capaz de propiciar


grandes mudanças na retração do concreto. Foi constatado que a hornblenda, o
piroxênio (provenientes do Canadá) e arenito são agregados que produzem concreto
de alta retração. Já o quartzo, o feldspato, o calcário e a dolomita produzem baixa
retração. Foi constatado também que o granito, por se tratar de uma combinação de
vários agregados, causa retrações de valores intermediários. Sendo assim, se
espera que granitos de alta rigidez apresentem menores retrações, assim como o
contrário.

O GRAF. 7 mostra a influência dos vários tipos de agregado, com traços iguais, na
retração do concreto.

47
No original: For a given workability, flaky and elongated aggregates increase the demand for water
thus affecting strength of gardened concrete as well as increase the shrinkage in concrete. Spherical
or cubical particles lead also to better pumpability and finishability as well as produce higher strengths
and lower shrinkage than flaky and elongated aggregates
48
SHILSTONE, J. M. Concrete mixture optimization. S.l.: Concrete International: Design and
Construction, Jun. 1990. Vol. 12, No. 6, p. 33-39.
49
LEGG, F.E. Jr. Agregates: Concrete Construction Handbook. S.l.: Ed. Dobrowolki / J. McGraw-Hill,
1998. 4th ed.
53

GRÁFICO 7 – Efeito do tipo de agregados na retração


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 24.

“Pode-se concluir que a compressibilidade do agregado é uma das propriedades que


governa a retração do concreto” (ANDRADE,1997, cap. 15, p. 22).

Troxell et al 50 (apud MEHTA, 1994) estudou os efeitos das características do


F F

agregado, principalmente do módulo de deformação, sobre a retração no concreto


em um período de 23 anos. Ele afirma que o modulo de deformação do agregado
afeta a deformação elástica do concreto. A partir disso, pode-se fazer uma
correlação entre a deformação elástica e a retração do concreto. A pesquisa
concluiu que a não só a retração, mas também a fluência do concreto aumentaram
em até 2,5 vezes quando se substituiu agregados com alto módulo de deformação
por agregados com baixo módulo de deformação. Geralmente quartzo e calcários
densos possuem módulos de deformação mais altos que os de arenitos e seixos.

50
TROXELL, G. E.; RAPHAEL, J. M.; DAVIS, R. E. S.l.: Proc. ASTM, 1958. Vol. 58, p. 1101-1120.
54

2.5.4 Dimensão Máxima Característica do Agregado

Para a Andrade (1997) e Neville (1997), a granulometria do agregado e o tamanho


dos grãos não têm influência direta sobre os valores da retração, porém, o uso de
um agregado maior permite o que se use uma mistura mais pobre e dessa forma,
resultando em menos retração.

Ao se alterar a dimensão máxima do agregado de 6,3 mm para 152 mm, ele passa a
ocupar 80% e não mais 60% do volume total de concreto, resultando assim, numa
redução da retração equivalente a um terço do valor original (NEVILLE, 1997).

“O concreto que usa um agregado bem graduado e com um tamanho máximo de


agregado requer menos pasta de cimento, assim diminuindo a exsudação, fluência e
retração” TIA et al, 2005, p. 8). O uso de agregado graúdo pode reduzir a retração
por secagem, mas em compensação, a quantidade de micro-fissuras dentro da
pasta irá aumentar (AICTIN 51 apud TIA et al, 2005).
F F

Jensen et al (2004) afirma que um método simples e bem difundido de reduzir a


retração do concreto é aumentar o conteúdo de agregado graúdo. De fato o uso de
agregado graúdo faz com que a retração seja diminuída. Esse fenômeno pode ser
explicado pela maior resistência provida pelo esqueleto rígido formado na pasta por
esse tipo de agregado. Isso faz com que a redução de volume aparente do concreto
seja diminuída. Mas essa resistência não reduz a retração real da pasta de cimento,
a menos que, é claro, a percentagem de cimento na pasta seja reduzida também.

Neville (1997) acha que não só a dimensão máxima, mas também a forma e a
textura dos agregados têm influência na retração por secagem. Essa influência pode
não se dar de forma direta. Isso porque a dimensão máxima do agregado interfere
principalmente na quantidade da água unitária, por conseqüência, isso contribui para
a diminuição da retração.

51
AICTIN, P. C. High Performance Concrete. London: E & FN Spon, 1998.
55

Para o concreto cujo volume de agregado graúdo (Dmáx > 4,8 mm) situa-se entre 50% e
70% do volume total do concreto endurecido, as deformações, sejam por ação de
carregamentos ou não, serão influenciadas pela proporção pasta/agregado graúdo, assim
como pela aderência entre os mesmos (ANDRADE, 1997, cap.15, p.1).

2.6 DIMENSÕES DAS PEÇAS

Andrade (1997, cap.15, p. 33) diz que “a retração observada diminui com o aumento
das dimensões. Sabe-se que a resistência ao transporte causada pelo comprimento
do caminho que a água deve percorrer para ser desligada do concreto dificultaria a
retração no concreto. O tamanho e a forma da peça de concreto determinam a
magnitude da retração por secagem.

O GRAF. 8 apresenta o desenvolvimento da retração através do tempo em função


da largura do prisma.

GRÁFICO 8 – Relação entre a retração axial e a largura dos prismas de concreto


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 34.
56

O gráfico demonstra claramente a influência da largura do prisma na evolução da


retração das peças. Conclui-se que peças pequenas, ou com largura do prisma
pequeno, sofrem mais os efeitos da retração do que as peças maiores. Isso se dá,
pois a água possui mais facilidade de passar para o ambiente em peças menores, e
assim, causam maior retração.

A retração tem relação com as dimensões das peças. A retração se mostra menor
em peças com dimensões maiores. A forma da peça também pode influenciar, mas
a relação entre o volume/área é primordial. Essa relação está ligada linearmente
com o logaritmo de tempo necessário para que metade de retração aconteça
(HANSEN E MATTOCK 52 apud NEVILLE, 1997). Hoobs 53 e Almudaiheem e Hansen 54
F F F F F F

(apud NEVILLE, 1997) argumenta que, teoricamente, o valor final da retração


independe das dimensões do elemento, mas que para períodos de tempo reais, a
retração é menor em elementos menores (grifo nosso). Já para Hoobs42 (apud
U U

ANDRADE) a retração é menor em elementos maiores (grifo nosso).


U U

Essa última correlação se aplica a concretos preparados com diversos agregados. A


velocidade com que o valor final da retração é atingido não se altera, mas a
intensidade da retração é influenciada pelo tipo de agregado (ANDRADE, 1997).

Mensi et al 55 (apud NEVILLE, 1997) desenvolveram um modelo generalizado que


F F

leva em consideração a perda de água em função da distância das superfícies de


secagem. O modelo foi criado com base na hipótese de que a velocidade de difusão
do vapor é proporcional à raiz quadrada do tempo decorrido.

52
HANSEN, T. C.; MATTOCK, A. H. The influence of size and shape of member on the shrinkage and
creep of concrete. S.l.: J. Amer, concr. Inst., Fev. 1966. p.267-290.
53
HOBBS, D. W. Influence of specimen geometry upon weight change and shrinkage of airdried
concrete specimens. S.l.: Mag. Concrt. Res., 1917. No. 99, p.70-80.
54
ALMUDAIHEEM, J. A.; HANSEN, W. Effect of specimen size and shape on drying shrinkage. S.l.:
ACI MateriaIs Journal, 1987. No. 2, p.130-134.
55
MENSI, R.; ACKER, P.; ARROLOU, A. Séchage du béton : analyse et modélisation: Materials and
Structures. S.l: s.n., 1988. No. 121, p. 3-12.
57

Para Neville 56 (apud ANDRADE, 1997), a retração proveniente das formas das
F F

peças e têm importância secundária. Elementos cilíndricos com a mesma relação


volume/área de elementos em forma de “I” apresentam um aumento médio na
retração de 14%. O aumento da retração pode ser explicado pela variação do
percurso médio da água até a superfície. Sendo assim, essa diferença não é
significativa para fins de projeto.

Ross 57 (apud NEVILLE, 1997) defende que a intensidade da reação varia muito com
F F

a forma e as dimensões da peça e que esta é função da relação área/volume.


Neville (1997) diz que uma parte dos efeitos das dimensões das peças pode ser
resultado da acentuada retração por carbonatação e assim sendo, a retração não
pode ser entendida como uma característica particular do concreto.

Neville (1997) acredita que existe uma complicação na utilização dos dados obtidos
em laboratório sobre a retração e a perda de água em elementos de pequenas
dimensões. A afirmativa é feita porque para Neville, a fissuração nestes elementos é
mínima e influencia na distribuição das tensões internas, alterando assim, a retração
efetiva. Por causa da pequena dimensão estes elementos perdem água mais
rapidamente e dificultam a transposição da experiência para elementos em escala
real.

2.6.1 Retração Diferencial

A perda de umidade de um elemento acontece de fora para dentro, de forma que a


parte superficial sofre a ação da retração de forma mais incisiva. Assim, se configura
um declínio da umidade que pode resultar em retração diferencial das partes do
elemento. A retração final é o resultado das tensões de tração nas proximidades da
superfície e de compressão no interior. Se a retração ocorrer de forma assimétrica,
pode haver empenamento na peça (NEVILLE, 1997).

56
NEVILLE, A. M. Propriedade do Concreto. São Paulo: Ed. Pini, 1982. p. 256-270.
57
ROSS, A. D. Shape, size, and shrinkage. London: Concrete and Constructional Engineering,
Aug.1944. p.1193-1199.
58

O GRÁF. 9 mostra a evolução da


retração em função da distância da
superfície para várias idades (dias).
Não houve secagem em outras
direções e os valores de retração
foram corrigidos levando em
consideração a variação de
temperatura.

A fissuração se desenvolve
gradativamente da superfície do
concreto durante a secagem e ocorre
muito lentamente. L'Hermite45
observou que a secagem atinge 75
mm de profundidade em um mês e
para atingir 600 mm ela leva dez anos.

GRÁFICO 9 – Influência da retração diferencial


Fonte: NEVILLE, 1997, cap.9, p. 439.

2.7 INFLUÊNCIA DA IDADE NA RETRAÇÃO DO CONCRETO

Troxell 58 (apud ANDRADE, 1997) defende que em ensaios de longa duração de


F F

retração por secagem e para uma larga faixa de dosagens de concretos, tipos de
agregado e condições ambientais, somente 20% a 25% da retração por secagem
aconteceram nas duas primeiras semanas, 50% a 60% nos três primeiros meses e
75% a 80% em um ano, em um total de 20 anos.

O GRAF. 10 demonstra a influência da idade do concreto na retração por secagem.

58
TROXELL, G. E.; HARMER, D.; KELLY, J. Composition and Properties of Concrete. New York:
McFraw-Hill, 1996. 2nd edition., p. 290-320.
59

GRÁFICO 10 – Influência da idade do concreto na retração


Fonte: ANDRADE, 1997, cap. 15, p. 30.
60

3 CONCLUSÃO

Através do estudo da arte da retração do concreto, podem-se entender alguns


aspectos deste fenômeno, e também, do próprio comportamento do concreto. As
causas da retração, métodos preventivos e a importância dos componentes do
concreto no desenvolvimento da retração foram avaliados.

O concreto é um material heterogêneo e está sujeito a uma série de variabilidades.


Tanto a sua estrutura como sua interação com o meio, são complexas e não são
facilmente entendidas. As condições de aplicação, o uso de compostos
mineralógicos e de aditivos são exemplos de fatores que afetem as propriedades do
concreto e o seu comportamento. Sendo a retração uma das propriedades do
concreto, o seu desenvolvimento também é influenciado por estas variações.

Muito ainda deve ser estudado sobre a retração, principalmente no campo


microscópico e até nanoscópico, onde ocorrem reações químicas e físicas
envolvendo os poros do concreto, a água e outros componentes químicos da
mistura.

Tendo tudo isso em vista, pode-se concluir que a retração no concreto ainda não é
um fenômeno totalmente desvendado. Mais estudos são necessários para um bom
entendimento desta propriedade do concreto e, consequentemente, para uma maior
resistência e durabilidade das estruturas.
61

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