Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PB 01 INTERMEDIÁRIA
Objetivos
A anemia megaloblástica é um distúrbio ocasionado por um bloqueio na síntese do DNA, que se caracteriza
por um estado em que a divisão celular se torna lenta, a despeito do crescimento citoplasmático. É uma
assincronia da maturação do núcleo em relação ao citoplasma – as células se preparam para uma divisão
que não ocorre e acabam se tornando maiores. São menos frequentes, em virtude da diminuição da
ocorrência de carências nutricionais.
As células mais afetadas são aquelas que possuem renovação mais rápida, como as precursoras da Medula
Óssea (MO) e as células da mucosa do trato gastrointestinal.
Anemia megaloblástica é apenas uma das causas de anemia macrocítica! Dividimos as anemias
macrocíticas em dois grupos: (1) anemia megaloblástica; e (2) anemias macrocíticas não megaloblásticas.
Megaloblastose se refere a uma anormalidade morfológica nos núcleos dos progenitores eritroides no
interior da medula óssea.
Os megaloblastos são reconhecidos como células defeituosas pelos macrófagos da medula óssea, sendo
destruídos no interior da própria medula (eritropoiese ineficaz).
Uma anemia megaloblástica deve ser atribuída à carência de vitamina B12 (cianocobalamina) e/ou ácido
fólico (folato), importantes cofatores para a síntese de DNA.
A hematopoese normal compreende intensa proliferação celular, que por sua vez implica a síntese de
numerosas substâncias como DNA, RNA e proteínas; em especial, é necessário que a quantidade de DNA
seja duplicada exatamente. Tanto os folatos como a vitamina B12 são indispensáveis para a síntese da
timidina, um dos nucleotídeos que compõem o DNA, e a carência de um deles tem como consequência
menor síntese de DNA.
VITAMINA B12
Tem uma estrutura semelhante ao heme, mas não consegue ser sintetizada no corpo humano.
* únicas fontes dietéticas são os compostos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios.
A deficiência de vitamina B12 tem como etiologia mais frequente a má absorção, em vez da pobre ingestão
alimentar.
Durante a digestão gástrica, a vitamina B12 é liberada e imediatamente se liga a uma glicoproteína: o
ligante R, secretado na saliva e na mucosa gástrica.
No duodeno, o complexo vitamina B12-Ligante R é dissolvido sob a ação das proteases secretadas pelo
pâncreas. Dessa forma, a vitamina B12 é liberada, sendo então captada pelo Fator Intrínseco (FI das células
parietais).
O complexo vitamina B12-FI é resistente à degradação proteolítica e prossegue até o íleo distal, onde
receptores específicos situados na borda em escova da mucosa ligam o complexo e possibilitam finalmente
a absorção da vitamina.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A principal manifestação clínica é a anemia; apesar de plaquetopenia e neutropenia ocorrerem com
frequência. A deficiência da síntese de DNA afeta a divisão celular em outros tecidos em que há rápida
multiplicação, em especial os epitélios do tubo digestivo, originando queixas de diarreia, glossite (ardência,
dor e aparência vermelha da língua, “língua careca”), queilite e perda do apetite.
A deficiência de vitamina B12 determina ainda uma degeneração do cordão posterior da medula espinal
pelo bloqueio da reação homocisteína-metionina. O quadro resultante, denominado “degeneração
combinada subaguda da medula espinhal”, inclui sensações parestésicas dos pés (formigamento ou picada
de agulhas) pernas e tronco, seguidas de distúrbios da marcha e comprometimentos das sensibilidades
termoalgésica e dolorosa “em bota” ou “em luva”.
A tríade de fraqueza, dor na língua e parestesias é clássica na deficiência de vitamina B12, mas os
sintomas iniciais variam muito.
Grande parte dos pacientes afetados pela carência de B12 apresenta manifestações hematológicas, na
mucosa gastrointestinal e, principalmente, neuro-psiquiátricas.
- Manifestações Hematológicas: Decorrem de queixas referentes à anemia, como palpitações, fraqueza,
cefaleia, irritabilidade. Estes pacientes são capazes de tolerar baixíssimos níveis de hemoglobina, pois a
anemia megaloblástica é uma anemia de instalação insidiosa.
- Manifestações Digestivas: Podemos observar diarreia e perda ponderal, ambos decorrentes de má
absorção. Pode haver uma sensação dolorosa na língua, que se mostra avermelhada e com atrofia de
papilas (glossite).
- Manifestações Neurológicas: Estas podem ocorrer com o hemograma normal e somente com a vitamina
B12 sérica baixa. Os achados incluem:
(1) parestesia em extremidades (alteração mais precoce) decorrente de uma polineuropatia;
(2) diminuição da sensibilidade profunda – proprioceptiva (noção de posição segmentar) e vibratória;
(3) desequilíbrio, marcha atáxica, sinal de Romberg, refletindo a perda da propriocepção inconsciente nos
membros inferiores;
(4) fraqueza e espasticidade nos membros inferiores, com sinal de Babinski, hiperreflexia profunda,
refletindo uma síndrome piramidal nos membros inferiores;
(5) deficits cognitivos, demência e psicoses.
Quadro clínico
As manifestações megaloblásticas das deficiências de vitamina B12 e de folatos são clinicamente
indistinguíveis.
Avaliação laboratorial
Hemograma:
O VCM está caracteristicamente aumentado, podendo atingir valores de até 140 fL. Embora existam outras
causas de macrocitose que não a anemia megaloblástica, quando nos deparamos com um VCM superior a
110 fL, o diagnóstico é bem provável, quando além de 120 fL, praticamente não há outro diagnóstico.
O CHCM encontra-se com valores normais, uma vez que a síntese da hemoglobina continua.
A neutropenia e a trombocitopenia podem se associar à anemia (pancitopenia), mas geralmente são de
intensidade leve a moderada.
Sangue Periférico:
Os principais achados são anemia macrocítica, leucopenia, trombocitopenia, acompanhados de
anisocitose, macrocitose com macroovalócitos (eritrócitos grandes e ovais, completamente
hemoglobinizados), poiquilocitose, e granulócitos polissegmentados.
A alteração mais característica é a hipersegmentação do núcleo dos neutrófilos (quase patognomônico de
anemia megaloblástica).
Medula Óssea (mielograma):
Geralmente é hipercelular, com uma diminuição da relação mieloide/eritroide. Os eritroblastos estão
aumentados de volume, com importante assincronia núcleo/citoplasma, isto é, um atraso na maturação do
núcleo quando comparado ao citoplasma. O núcleo imaturo apresenta uma cromatina granulada, ou com
aspecto “em peneira”, enquanto que o citoplasma encontra-se desproporcionalmente hemoglobinizado
(“avermelhado”).
Dosagem de Cobalamina e Folato Séricos:
Níveis normais de vitamina B12 encontram-se entre 200 e 900 pg/ml. Acima de 300 pg/ml torna
improvável o diagnóstico de carência da vitamina, enquanto que uma dosagem abaixo de 200 pg/ml
praticamente o confirma. Entre 200-300 pg/ml (normal baixa) é a faixa de incerteza.
O folato sérico apresenta níveis de 2,5 a 20 ng/ml. Um folato sérico abaixo de 2 ng/ml torna provável o
diagnóstico de carência de folato, em quanto que acima de 4 ng/ml, em termos práticos, exclui este
diagnóstico.
* O folato sérico deve ser colhido sempre em jejum e em pacientes sem história de anorexia, caso
contrário, não é um exame confiável (o folato sérico varia agudamente com a alimentação). Mais uma vez
há uma faixa de incerteza: entre 2-4 ng/ml. Neste caso, dosamos o folato eritrocitário (mais confiável).
* Devemos lembrar, também, que a deficiência de vitamina B12 pode levar a aumentos do folato no
sangue: como a cobalamina é necessária para a manutenção do folato no interior das células, em sua
ausência, este se “desvia” para o soro.
Dosagem de Ácido Metilmalônico e Homocisteína:
São o melhor parâmetro para o diagnóstico e diferenciação entre as deficiências de vitamina B12 e ácido
fólico.
O ácido metilmalônico (deficiência de B12) encontra-se elevado apenas na deficiência de cobalamina. Seus
valores normais situam-se entre 70 e 270 nmol/L.
A homocisteína (n = 5-14 nmol/L) tem seus valores elevados tanto na deficiência de cobalamina quanto na
de folato.
Outros Achados:
Os níveis de LDH e bilirrubina indireta encontram-se aumentados, pois estamos diante de uma destruição
aumentada de precursores das células vermelhas no interior da medula óssea (eritropoiese ineficaz).
* Sempre que suspeitamos de anemia megaloblástica devemos solicitar a dosagem sérica de vitamina B12
e folato. Esses exames bioquímicos têm substituído, na maioria dos casos, o aspirado de medula óssea, por
possuírem uma elevada especificidade para o diagnóstico.
Uma vez estabelecido o diagnóstico de anemia megaloblástica por carência de vitamina B12, o diagnóstico
de anemia perniciosa deve ser pesquisado através da dosagem do anticorpo antifator intrínseco
(sensibilidade 50-70% e especificidade 100%).
4) EXPLICAR A RELAÇÃO DA DOENÇA FALCIFORME COM A INFECÇÃO
A doença falciforme
É originada por uma mutação no cromossomo 11 que resulta na substituição de um ácido glutâmico pela
valina na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia ß da globina, dando origem à hemoglobina S. Os
eritrócitos cujo conteúdo predominante é a hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma
semelhante à de uma foice – daí o nome falciforme.
Os glóbulos vermelhos em forma de foice não circulam adequadamente na microcirculação, resultando
tanto em obstrução do fluxo sanguíneo capilar como em sua própria destruição precoce.
Manifestações clínicas da doença falciforme
- Vaso-oclusão -> baço vai diminuindo -> aplasia
- Necrose avascular da medula óssea (crises álgicas/síndrome mão pé/necrose da cabeça do fêmur)
- Filtração esplênica alterada (aumento do risco de infecções por germes encapsulados)
- Fibrose esplênica progressiva
A porcentagem de mortalidade entre crianças menores de 5 anos com anemia falciforme é de cerca de 25
a 30%, e a maioria das mortes neste grupo é secundária a infecções fatais, sequestro esplênico ou crises
aplásticas.
* pesquisa de hemoglobinopatias no exame de triagem neonatal (teste do pezinho) vem demonstrando ser
um passo importante para a diminuição dessas taxas
A atual expectativa de vida para a população americana com anemia falciforme é de 42 anos para homens
e 48 anos para mulheres.
O diagnóstico laboratorial da anemia falciforme é feito através de eletroforese de hemoglobina. As cadeias
ß globínicas são detectáveis em fase precoce da vida fetal, a partir da 10ª a 12ª semana de gravidez.
A doença falciforme manifesta-se em indivíduos homozigóticos para a hemoglobina S e em combinação
com outras hemoglobinas anormais, o que pode resultar em doença falciforme com diversos graus de
gravidade.
Vias aéreas
Otite média aguda pode ser comumente observada, tendo como principal etiologia o pneumococo.
Pneumonias por pneumococos, Hib e salmonelas são freqüentes. Pode ocorrer infecção secundária de
áreas enfartadas no parênquima pulmonar na síndrome torácica aguda, que apresenta manifestações
clínicas semelhantes às da pneumonia, como febre, tosse, dispnéia e dor pleural.
Sistema ósteo-articular
A necrose da medula óssea, secundária ao infarto ósseo, predispõe o paciente com anemia falciforme a
complicações como osteomielites e artrites sépticas. São mais comuns no sexo masculino (2:1), sendo rara
sua ocorrência abaixo de 1 ano de idade.
Os achados clínicos mais comuns são dor, edema, calor, rubor, sensibilidade local aumentada e febre
(temperatura acima de 38,2 °C). Exames laboratoriais podem mostrar leucocitose (acima de 15.000/mm3)
e velocidade de hemossedimentação aumentada.
A realização de culturas é recomendada (sangue, aspirado ósteoarticular), e, eventualmente, indica-se
biópsia óssea da área acometida.
O agente etiológico mais frequentemente isolado nos casos de osteomielite na maioria das séries é a
salmonela (57%).
O tratamento consiste em irrigação e desbridamento cirúrgico em casos selecionados, aliado a
antibioticoterapia.
Sistema nervoso
A meningite nos indivíduos com anemia falciforme apresenta alta taxa de mortalidade, além de atuar
como um dos fatores precipitantes de um acidente vascular encefálico.
A meningite causada pelo Hib tem transmissão através de gotículas e secreções nasofaríngeas, cessando
24 a 48 horas após o início da antibioticoterapia.
Sistema gastrointestinal
Na gastroenterite aguda causada pela salmonela, os sintomas se iniciam algumas horas após a ingestão de
comida contaminada e se manifestam através de náuseas, vômitos e diarréia, evoluindo com dor
abdominal, febre e calafrios.
Sistema genito-urinário
Indivíduos com anemia falciforme são susceptíveis a infecção do trato urinário. Há predomínio em
mulheres, e os principais agentes etiológicos são os germes gram-negativos, especialmente a Escherichia
coli.
Há também maior incidência de infecção do trato urinário em gestantes: aproximadamente duas vezes
maior que na população normal.
Septicemia
É um risco permanente devido à redução ou ausência de função esplênica. A sepse pode ser o evento
inicial na apresentação da anemia falciforme ainda não diagnosticada, uma vez que a maioria dos eventos
ocorre antes dos 3 anos de idade.
Os principais agentes etiológicos, por ordem decrescente de freqüência, são: pneumococo, Hib, Salmonella
sp, Escherichia coli, Enterobacter sp e Acinetobacter sp.
A apresentação clínica inicial se dá através de febre, vômitos e toxemia, ocorrendo com menor freqüência
achados torácicos anormais, meningismo, petéquias, choque e coagulação intravascular disseminada. A
confirmação se faz através de hemocultura.
Septicemia por salmonela tem sido associada a altas taxas de mortalidade. Os sintomas mais comuns são:
dor óssea, síndrome torácica aguda, icterícia intensa, dor abdominal, inapetência, vômitos e cefaleia.
Tratamento precoce deve ser instituído com ceftriaxona ou, na falta desta, penicilina cristalina associada a
cloranfenicol.