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Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

FCH354 - HISTÓRIA DAS AMÉRICAS II

Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH

Curso: História

Trabalho apresentado a Prof.ª Drª. Laila Brichta,

como forma de avaliação da disciplina História das Américas II,

pela discente Gabriele Gois.


A questão agrária no Paraguai

Resumo:

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma breve análise da questão
agrária no Paraguai nos contextos antes e pós guerra, refletindo como o
sistema neoliberal afetou o país em suas relações internas e externas em
termos fundiários.

Introdução:

Questões fundiárias básicas antes e depois da guerra de 1870 no Paraguai:

Considerando que antes da colonização da América pelos europeus no século


XVI o Paraguai assim como outros países americanos tinham uma população
indígena que mantinham relações de cultivo muito diferentes do modelo de
exploração que se instaura com a chegada dos espanhóis ao território, essas
configurações de relação com a terra mudam logo o objetivo é produzir para
exportar. Em 1811 com o Paraguai independente a expropriação fundiária e o
controle do mercado interno se destacam nesse período.

De acordo com Pomer (1981, p.30) no Paraguai por volta de


1864, grande parte do tesouro nacional era composto de terras públicas de
ocupação/exploração público-privada. Se considerarmos apenas as regiões que contribuíram
com a acumulação de capital, existiam três formas básicas de exploração agrária no Paraguai
antes da guerra: a) estâncias de gado; b) manufatura de ervas; c) chácara. O governo
dominava boa parte do território paraguaio com monopólio da exploração econômica da erva-
mate e, também administrava negócios nos ramos do couro e da madeira. ¹

Após a guerra o Paraguai teve que ceder para as nações vencedoras boa parte
de seus territórios como forma de pagamento de dívida de guerra, e que junto
ao remodelamento da produção capitalista interna na Europa na metade do
século XIX, gerando mudanças estruturais extremamente significativas no
Paraguai na segunda metade da década de 70, já que as nações colonizadoras
buscavam inserir suas colônias – nesse caso se tratando das colônias
americanas – a esse novo modelo exploratório, onde o objetivo era intensificar o
mecanismo de produção para a exportação introduzindo assim esses países
subdesenvolvidos no mercado internacional.
É já no século XX que buscando investir nas políticas agrarias a favor da agro
exportação que assim como outros países da américa latina o Paraguai adquire
uma divida externa muito grande, tomando empréstimos financeiros
principalmente por parte dos ingleses – que vale ressaltar aqui tinha grande
interesse em expandir seus domínios aqui na América latina – e assim o fez –
mesmo que de forma indireta.

Embora a Inglaterra não tenha participado diretamente na horrorosa façanha, foram seus
mercadores, seus banqueiros e seus industriais que se beneficiaram com o crime do Paraguai.
A invasão foi financiada, do começo ao fim, pelo Banco de Londres, a casa Baring Brothers e
banco Rothschild, em empréstimos com juros leoninos que hipotecaram o destino dos países
vencedores. (2000, p.135) ².

E adere ao modelo neoliberal para fortalecer o mercado interno e gerar produção


para a exportação. O problema de todo esse cenário é que para colocar tal
planejamento em pratica era necessário investimentos externos/internacionais
para gerar esse capital, logo o governo vigente do presidente Stroessner de 1964
a 1989, vale destacar aqui que era um governo ditatorial, facilitou a compra de
territórios por estrangeiros no pais, proporcional o acumulo de grandes lotes de
terra nas mãos de uma parcela pequena da população o que consequente fez
com que pequenos produtores e camponeses vendessem suas terras por um
custo mais inferior.

Todavia, as políticas agrárias desse período se definiram sob um marco de “práticas


clientelistas”, que visavam, além da viabilização de uma econômica agroexportadora mais
competitiva, garantir a lealdade política (FOGEL, 2001a; SOSTOA et. al., 2012) ³.

Sendo assim o mercado internacional se insere nesses países gerando um


grande incentivo à especialização da produção agrícola e con sequentemente a
sua mecanização para que se produzisse bens primários em grande escala para
a exportação.

A questão agrária no Paraguai atualmente:

A grande discussão em torno da terra no Paraguai é justamente pela


desapropriação de territórios por parte das politicas estatais do país que
reforçam as desiguales sociais e pobreza o levam principalmente a população
campesina a ter que lutar pela sua sobrevivência.
Em termos socioeconômicos, o que se vivencia no Paraguai no final do século XX corresponde
a uma aceleração e aprofundamento de tendências históricas verificadas em outros ciclos de
crescimento e desenvolvimento econômico do país, como a diferenciação de produtores; a
concentração da propriedade; a mecanização da produção; a diminuiç ão do emprego no
campo; a expulsão dos camponeses de suas terras; o aumento da migração campo-cidade; o
acirramento das desigualdades sociais e o aumento da pobreza 4.

Durante o regime ditatorial de Stroessner foi criada uma política de redistribuição


territorial, o que favoreceu fortemente aos grandes produtores em comparação
aos pequenos produtores, tal processo ficou conhecido como colonização do
estado e consistiu em três fases de execução:

Carter e Galeano (1995, apud BARBETTA & LAPEGNA, 2004) distinguem três etapas no
processo de redistribuição de terras ou “colonização”. O primeiro, entre 1954- 1974,
caracterizado pela forte presença do Estado na administração do processo. De 1975 a 1982 se
dá a segunda etapa, caracterizada por um crescimento do PIB agrícola, em função da
expansão dos cultivos comerciais para exportação, especificamente, o algodão e a soja – que
foi resultado não apenas da expansão das atividades das grandes empresas, mas também a
própria orientação das unidades campesinas para esses cultivos 6. Em conjunto, esses dois
cultivos representavam 61,5% das exportações em 1983, em contraposição a 17,3% em 1973
(ABENTE, 1989:35). Finalmente, a terceira etapa se inicia por volta de 1983 com os primeiros
sinais de desgaste desse modelo de desenvolvimento. 5.

Essa politica refletiu significativamente em termos socias uma vez que como já
mencionado anteriormente provocou o agravamento das desigualdades socias
principalmente referentes a população do campo, que a mecanização da
produção agraria gerando um aumento no desemprego, a migração rural para a
cidade e agravamento da pobreza já eminente, fazendo assim eclodir
manifestações de reivindicações democráticas bastante notórias dentre desse
contexto.

De acordo com Fogel (1988, 2001a), a reação foi mais visível nas grandes mobilizações,
principalmente entre 1984 e 1986, que reivindicavam, além de seus próprios interesses, outras
demandas da sociedade. No entanto, as respostas mais frequentes à marginalização
persistente do sistema nesse período foram as invasões de terras livres e latifúndios. Essas
manifestações, e principalmente os movimentos que conseguiram congregar grupos mais
organizados, conquistaram um espaço político importante, alimentando expectativas da
população e de analistas políticos sobre o potencial transformador desses atores sociais 6.

Com o fim do governo de Stroessner em 1989 surge no cenário politico uma


esperança de mudanças na ente então conjuntura, no entanto o que nasce é
uma clara rivalidade entre uma classe empresarial emergente que visa investir
fortemente na internacionalização dos negócios agrários, abrindo de vez as
portas para a venda de terras para investidores estrangeiros, reforçando a
especialização de bens de produção enquanto se tem uma parcela latifundiária
tradicional que busca manter as politicas do antigo regime que contribuíram para
a acumulação de territórios por parte dos mesmos. É claro que pelo grande
incentivo a esse modelo exportador essa classe empresarial emergente
conseguiu com que reformas importantes acontecessem, como é o caso das
reformas fiscais, “ajustes das políticas financeiras e monetárias7, e a liberalização
das taxas de juros, o que provocou a privatização de alguns setores, causando
o fechamento de bancos, afetou empresas, indústrias e principalmente a
população que junto aos sindicatos faziam movimentos contra essa privatização,
vale ressaltar que tais medidas provocaram um agravamento da dívida interna e
externa no país.

A maldição do Paraguai 7

Já que estamos falando sobre investimentos externos, há um grande


crescimento em um aspecto além da pobreza no país: o agronegócio. O mercado
do agroexportador cresce absurdamente no Paraguai entre os anos de 1995 e
2001 com a monocultura da soja.

Entre 1995 e 2001, a superfície cultivada de soja teve um aumento de 63% (ROJAS, 2009:34).
Já nos anos mais recentes, entre 2002 e 2008, o aumento da superfície cultivada foi de 83%.
Considerando os dados do último Censo Agropecuário realizado no país em 2008, que
compara dados com o censo anterior de 1991, o aumento da superfície da soja corresponde a
345,8% (MAG, 2008:56). 8

Porém, esse tipo de cultivo não favorece em nada os pequenos produtores já


que a compra e o cultivo de matérias como o algodão entrou em defasagem por
conta do plantio em larga escala de soja, o que provocou assim a mecanização
da produção já que a produção é mecanizada e dispensa mão de obra
campesina gerando um intenso êxodo rural, venda das propriedades dessas
populações de suas terras por preços baixíssimos para evitar a falência total de
bens e consequentemente agravando os índices de pobreza no pais.

Assim, o aumento das desigualdades no campo está estreitamente associado à dinâmica de


concentração impulsionada pelo avanço do agronegócio. Essa dinâmica pode ser identificada
nas informações apresentadas no Censo de 2008. De acordo com esses dados , a maior parte
do total de lotes (“fincas”) agropecuários, isto é, 40% do total, possui menos de 5 ha.
Considerando os lotes de menos de 10 ha., essa percentagem representa em torno de 64% do
total. Já a parcela de lotes de maior tamanho (acima de 500 ha. ) representa uma minoria,
apenas 2,58% do total. No entanto, quando se trata da superfície, o equilíbrio muda. Esse
2,58% dos lotes possui 85,48% das terras, enquanto o 97,41% restante dos lotes possui
apenas 14,52% das terras 9.

A “extranjerización” da terra.

Um fenômeno atual que vem recorrendo no Paraguai e que é bastante


preocupante em níveis internos é o fenômeno da “extranjerización”:

A “extranjerización” da terra e do território implica em uma perda de direitos por parte da


população campesina e dos povos indígenas, constituindo também um declínio da soberania
do Estado. Segundo estimativas do autor, 19% do território nacional – uma quinta parte do total
– estaria sob controle direto de empresas ou cidadãos estrangeiros 10.

A estrangeirização da terra ocorre também por conta de uma insegurança por


parte dos países desenvolvidos em termos de crises econômicas, alimentares,
e de possíveis atritos com as os países produtores de petróleo, sendo assim
esses países arrendam, compram ou recebem como doação esses territórios
nos países subdesenvolvidos. Tal processo ocorre desde de muito antes:

Ainda segundo Galeano (2012), a estrangeirização da terra no território paraguaio ocorre


simultaneamente ao processo de concentração da propriedade da terra. Ambos os processos -
estrangeirização e concentração - iniciaram em 1870 com o término da Guerra da Tríplice
Aliança (1864-1870) [2], uma vez que no ano de 1870 foi promulgada a Constituição que
estabelecia a vigência da propriedade privada sem nenhuma restrição, coincidindo com o
período histórico de articulação da economia do Paraguai com a economia mundial. Em 1885
foi promulgada a Ley de Venta de Tierras Públicas, com a justificativa de vender as terras
paraguaias para arcar com as dívidas da Guerra da Tríplice Aliança (PASTORE, 1972) 11.

A compra de territórios por parte estrangeira que é de suma importância para


entendermos a relação do Paraguai com o Brasil, pois por conta da expulsão de
camponeses dos territórios fronteiriços saqui no Brasil, justamente pela
mecanização da produção os proprietários dessas terras aqui no brasil
dispensaram boa parte da sua mão de obra human a e ai que os brasileiros vão
encontrar uma opção de sobrevivência possível em terras paraguaias. Mas a
questão dos chamados brasiguaios vai além de uma alternativa de sobrevivência
uma vez que esse grupo de brasileiros residentes no Paraguai conseguiram
direitos de cidadania garantidos pelos diversos acordos entre Brasil e Paraguai,
e muitos grandes produtores aqui do Brasil conseguiram expandir seus negócios
em território paraguaio para produzir comoditys como soja e milho, sendo a soja
a principal deles para o mercado a agro exportação.

A colonização de terras paraguaias pelos colonos brasileiros não foi um movimento


populacional espontâneo. Ela foi minuciosamente pensada pelas autoridades dos dois países.
Para o Brasil é interessante ter 10% da população do Paraguai composta de brasileiros. Isto,
segundo a oposição do governo paraguaio, força o seu país a cumprir qualquer acordo que já
tenha sido assinado entre as duas nações. Es un cuchillo en nuestras espaldas - costumavam
dizer. Para o governo paraguaio também foi interessante esta coligação: conseguiram mão-
deobra altamente especializada em lavouras mecanizadas a um custo baixo: os brasiguaios
(WAGNER, 1990, p. 13)12.

Considerações finais:

Sendo assim é importante perceber que para além de politicas de mercado que
façam um pais crescer é necessário se atentar para as demandas internas da
população, o Paraguai assim como os demais países da América latina tem
potenciais de riqueza e desenvolvimento gigantescos, mas que tem se
definhando a cada dia por suas lideranças adotarem um modelo econômico tão
explorador e sobretudo exportador que levam nossa riqueza para outros países,
matam de fome a nossa gente, tirando de nossas mãos direitos básicos para a
sobrevivência, em termos mais técnicos é realmente preciso se atentar para
essas questões pois a terra envolve política, sociedade, economia, e todos os
demais pilares sociais existentes.
Notas:

1- ALMEIDA,Francisco Barreto Neto; FLORES,Mariana Flores da Cunha


Thompson. PÓS-GUERRA, D. O.; APONTAMENTOS ACERCA DA POLÍTICA
AGRÁRIA NO PARAGUAI. XII Encontro Estadual de História ANPUH/RS,
(2014). p 3.

2 - ALMEIDA,Francisco Barreto Neto; FLORES,Mariana Flores da Cunha


Thompson. PÓS-GUERRA, D. O.; APONTAMENTOS ACERCA DA POLÍTICA
AGRÁRIA NO PARAGUAI. XII Encontro Estadual de História ANPUH/RS,
(2014). p 7.

3 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 6.

4 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 5.

5 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 7.

6 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, p 8, 2013.

7 - PEREIRA, Lorena Izá. Estrangeirização da terra no Paraguai: Migração


de camponeses e latifundiários brasileiros para o Paraguai. Boletim
DATALUTA, n.97, p. 9, 2016.

8 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 13.

9 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 13.
10 - Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA
QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações Internacionais –
IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013. p 14.

11 - PEREIRA, Lorena Izá. Estrangeirização da terra no Paraguai: Migração


de camponeses e latifundiários brasileiros para o Paraguai. Boletim
DATALUTA, n.97, p. 4, 2016.

12 - PEREIRA, Lorena Izá. Estrangeirização da terra no Paraguai: Migração


de camponeses e latifundiários brasileiros para o Paraguai. Boletim
DATALUTA, n.97, p. 4, 2016.

Referências:

• Garay, Sara Maria Costa. NEOLIBERALISMO E A EVOLUÇÃO DA


QUESTÃO AGRÁRIA NO PARAGUAI. Instituto de Relações
Internacionais – IRI/PUC-Rio, Belo Horizonte, 2013.
• PEREIRA, Lorena Izá. Estrangeirização da terra no Paraguai:
Migração de camponeses e latifundiários brasileiros para o Paraguai.
Boletim DATALUTA, n. 97, p. 01-14, 2016.
• ALMEIDA,Francisco Barreto Neto; FLORES,Mariana Flores da Cunha
Thompson. PÓS-GUERRA, D. O. APONTAMENTOS ACERCA DA
POLÍTICA AGRÁRIA NO PARAGUAI; XII Encontro Estadual de História
ANPUH/RS, (2014).

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