A. A. Carminatto, C. Matuck, E. Farraboti, F. A. C. Adami; J. A. Klein, M. G. F. Santos, W.

Barrella

Deposição dos resíduos sólidos em diferentes marés nas praias de

Santos- SP, Brasil

Amanda Aparecida Carminatto1,2; Carlos Matuck1; Edineia Farraboti1,2;

Fabiola Andrea Chofard Adami1; Janaina Alves Klein1;
Maria das Graças Freitas dos Santos1; Walter Barrella1

1
Universidade Santa Cecília – UNISANTA
2
Bolsista CAPES

Resumo
Foram caracterizados e quantificados resíduos sólidos depositados na faixa entremarés
nas praias de Santos, SP-Brasil. As praias são comumente impactadas pela deposição do
lixo deliberadamente descartado nesse ambiente pela população e pelo lixo marinho que
é trazido até a praia através do movimento natural das marés. A metodologia foi
aplicada numa área de 33 mil metros quadrados, na estação verão, alta temporada e em
maré de quadratura. Foram realizadas duas amostragens, uma na maré baixa e outra na
maré alta. A quantidade de resíduos de material plástico encontrado resulta em impacto
negativo à sustentabilidade dos recursos costeiros e marinhos. Através de testes
estatísticos dos dados coletados foram avaliadas as diferenças absolutas e a soma da
abundância de cada item e em cada uma das praias amostradas, e por análise de
agrupamento foram identificadas as similaridades e dissimilaridades entre elas. Foi
constatada a presença de resíduos em abundância nas praias estudadas e a mensuração
de sua distribuição em condições diferenciadas. Utilizou-se o índice Bray Curtis e a
análise de Kruskall Wallis para essas análises, tendo sido identificados três grupos
semelhantes de distribuição destes resíduos, do que se denota além do lixo descartado
deliberadamente nas praias, as influências do movimento hidrodinâmico entre a região
estuarina e a costa, agravando a deposição. Assim discute-se diferenças entre as praias,
os resíduos encontrados em preamar e baixa mar, a interferência dos órgãos
competentes para a ação local e a conscientização dos munícipes e turistas.

Palavras-chave: resíduos sólidos, praias, marés, deposição, orgânico, antrópicos.

Abstract
Solid wastes deposited in the intertidal zone on the beaches of Santos, SP-Brazil were
characterized and quantified. The beaches are normally, impacted by garbage disposal
deliberately discarded in the environment by the population and the marine garbage that
is brought to a beach through the natural movement of the tides. The methodology
chosen was applied in an area of 33 thousand square meters, in the summer season, high
season and in quadrature tide. Two samplings were performed, one at low tide and the
other at high tide. The amount of plastic material waste found results in a negative
impact on the sustainability of coastal and marine resources. Through statistical tests of
the data collected, the absolute differences were evaluated plus the sum of the
abundance of each item and in each one of the sampled beaches, and by cluster analysis
were identified as similarities and dissimilarities between them. It was verified a
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presence of abundant residues in the studied beaches and the measurement of their
distribution under different conditions. The Bray Curtis index and Kruskal Wallis
analysis were used for these analyzes. Three similar distribution groups were identified
for these residues, which is denoted as well as the deliberately discarded garbage on the
beaches as influences of the hydrodynamic movement between the estuarine and coastal
regions, aggravating the deposition. Thus it is discussed the differences between
beaches, the waste found in preamar and low sea, the interference of the competent
organs for a local action and an awareness of the municipalities and tourists.

Keywords: solids residues, beaches, tides, deposition, organic, anthropic.

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Introdução estético e representando uma ameaça à

saúde e segurança dos banhistas e à toda
Os resíduos sólidos são restos a forma de vida (WIDMER et al.,
nos estados sólido e semissólido, 2004).
provenientes de atividades A cidade de Santos encontra-se
antropogênicas (ABNT, 2004). Grande no litoral paulista e se destaca pelas
parte desses resíduos sólidos é formada praias divididas por canais. Os canais
por materiais sintéticos cujos processos são conhecidos por terem solucionados
de degradação são mais lentos do que os graves problemas de saneamento da
aqueles de origem orgânica, o que cidade no início do século XX e foi
permite que permaneçam mais tempo projetado pelo engenheiro sanitarista
poluindo o ambiente (ANDRADE- Francisco Rodrigues Saturnino de Brito
NETO, 2010). Assim, os estudos dos (PEDROSA et al., 2016).
impactos decorrentes da interferência Dentro desse contexto, o
humana, demonstram o estado de objetivo do presente estudo foi observar
conservação e o nível de a deposição de resíduos sólidos na faixa
vulnerabilidade dos ambientes. entremarés nas praias de Santos,
A presença dos resíduos sólidos durante os estofos de maré baixa e alta,
em ambientes marinhos pode provocar bem como compará-las entre si.
danos aos organismos que neles vivem, Diagnosticar o impacto e origem destes
além daqueles causados nos processos resíduos com a finalidade de contribuir
ecossistêmicos (ARAÚJO, 2008; para as práticas preventivas destinadas a
SILVA et al., 2008). A ocorrência de conservação ambiental. Assim como
lixo em áreas costeiras tem sido verificar os dispositivos legais que
reportada por pesquisadores em vários preveem a proteção do ambiente
países, sendo recorrente inclusive no marinho e sua real aplicabilidade para a
Brasil onde é destacada como uma redução da poluição ambiental.
ameaça crescente (COE; ROGERS,
2000; SANTOS et al., 2005; ARAÚJO; Material e Métodos
COSTA, 2007; MOORE, 2008).
Os organismos marinhos mais A cidade de Santos localiza-se
atingidos pelos resíduos sólidos são no Estado de São Paulo, nas
aqueles que tendem a confundi-lo como coordenadas geográficas em latitude:
fonte de alimento. Tartarugas marinhas, 23º 57' 39" S, longitude: 46º 20' 01" W,
mamíferos e aves marinhas podem com área de 280,9 Km2 (área total do
ingerir esse lixo confundindo-o com município parte insular e parte
suas presas o que acaba por continental) possuindo uma população
comprometer o seu sistema digestivo, estimada pelo IBGE em 2016 de
levando à morte por inanição, 434.359 habitantes. De acordo com a
sufocamento ou emaranhamento Prefeitura Municipal, cerca de 191,2
(ANDRADE-NETO, 2010). quilogramas de pequenos lixos são
Praias são ambientes recolhidos diariamente por 7
tipicamente contaminados pelos quilômetros de extensão de praia
resíduos sólidos, afetando seu valor (PREFEITURA MUNICIPAL DE

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SANTOS, 2017). trecho de praia entre Emissário

Para o presente trabalho, foi
considerada a seguinte divisão dos
canais de Santos (figura 1), Praia do
José Menino (da divisão administrativa
de São Vicente até o Emissário
Submarino), Emissário Submarino (o
Submarino e canal 2), Praia do Gonzaga
(do Canal 2 ao Canal 3), Praia do
Boqueirão (do Canal 3 ao Canal 4),
Praia do Embaré (do Canal 4 ao Canal
5) e Praia da Aparecida e Ponta da Praia
(do Canal 5 ao Canal 7).

Figura 1 - Localização dos trechos onde foram realizados os transectos (em amarelo) nas praias de
Santos, da Praia do José Menino até a Ponta da Praia - Santos/SP. JM= José Menino, EM= Emissário
Submarino, GO= Gonzaga, EMB=Embaré e APPP= Aparecida e Ponta da Praia. Fonte: Adaptado do
Google Earth.

A pesquisa foi realizada num dia
de verão, em alta temporada, sem
registro de chuvas na semana que
antecedeu as coletas e o mar sob
influência de uma lua de quadratura. A
coleta se deu no dia 09 de março de
2017, durante o estofo de maré baixa
(período matutino 07:26h) e estofo de
maré alta (período vespertino 13:41h),
compreendendo a faixa entremarés.
Os autores se dividiram em
equipes, onde cada equipe percorreu um
trecho de praia, ao mesmo tempo, nos
mesmos horários de estofo de marés,
para obter informações sincronizadas
sobre a deposição dos resíduos sólidos
ao longo de todas praias de Santos.
Os transectos foram definidos a
partir do limite das águas do mar na
praia, popularmente conhecida como a
”linha do deixa”, percorrendo toda
extensão da praia, aproximadamente

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5.500 metros, perfazendo um total de 33
mil metros quadrados de área
percorrida.
Foram quantificados os resíduos
localizados dentro de uma faixa de 3
metros para cada lado do transecto,
sendo considerados os resíduos sólidos
com tamanho superior a 2 cm. Além
disso, o material encontrado foi
classificado e fotografado.
Em laboratório analisou-se a
abundância dos tipos de resíduos e a
ocorrência dos mesmos em marés baixa
e alta. Para comparar as praias estudas
quanto a deposição dos resíduos,
utilizou-se uma análise univariada não
paramétrica de Kruskal-Wallis. Em
seguida os dados foram ordenados
através de uma análise de componente
principal para verificar a correlação
entre as praias e os tipos de resíduos
encontrados nelas. E por fim, uma
análise multivariada de agrupamento
hierárquico de Cluster para identificar
similaridades e dissimilaridades entre as
praias em relação a deposição dos
resíduos.
Para essas análises estatísticas
Figura 2. Resíduos de origem orgânica e antropogênica encontrados na faixa entremarés das praias de
Santos, SP.
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foi utilizado o programa PAST 3.14
(HAMMER et al., 2001).
Resultados e discussão
Foram identificados 20 itens de
diferentes tipos de resíduos nos trechos
das praias estudadas. Dentre os resíduos
de origem orgânica, foram encontrados
organismos pertencentes aos Filos
Chordata: peixe e tartaruga,
Equinodermata: estrela-do-mar e
bolacha-do-mar, Mollusca: bivalve e
gastrópode e Cnidário: água-viva. Para
vegetação foram consideradas as folhas,
galhos, propágulos, sementes e restos de
alimentos. Dentre os resíduos de origem
antrópica, foram encontrados: cigarro,
corda, isopor, madeira (proveniente de
resto de móveis e cascos de
embarcações), metal, mineral (pedra
ornamental e brita), nylon, papel,
tecido, espuma, vidro, borracha,
plástico duro (tampas, garrafas, copo
etc.) e plástico mole (sacolas e
embalagens em geral), conforme figura
2.
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A ocorrência numérica dos
resíduos antrópicos e orgânicos
encontrados nas praias de Santos
totalizou 15.873 itens, sendo eles:
12.738 na maré baixa e 3.135 na maré
alta. É perceptível que a abundância de
itens prevaleceu na maré baixa cerca de
80,25%, enquanto a maré alta exibiu
inferioridade numérica de 19,75%.
Dentre a abundância relativa dos
resíduos presentes nas faixas
entremarés, podemos destacar os
orgânicos como os mais representativos,
destacando os moluscos (9.507= 59%),
seguidos da vegetação (4.289= 27%) e
equinodermos (920= 5,8%). Os
moluscos, classificados como conchas
de bivalves e de gastrópodes, são
organismos normalmente encontrados
nesta faixa de areia, pois podem ser
encontrados enterrados vivos na
superfície, onde também se depositam
conchas dos organismos mortos. São
predadores e filtradores bastantes
especializados para sobreviver nessa
zona. (RIOS, 1994; CORTÉS;
NAROSKY, 1997; THOMÉ et al.,
2004; SCHROEDER, 2001;
SEELIGER et al., 2004).
As folhas, galhos, propágulos e
sementes classificados como vegetação,
são comumente encontrados nessa faixa
entremarés e nesta localidade por ser
próxima a região estuarina, pois pode
ser vegetação oriunda de manguezais e
que acabam na praia devido a atividade
das marés. De acordo HARARI;
CAMARGO (1998), o grande contraste
das intensidades das circulações de
maré, na parte mais profunda e nas
regiões internas rasas são marcantes
diferenças de intensidade de correntes
nos dois lados da Baía de Santos. A
convergência e divergência das marés,
UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 4 (2017) p. 233 - 247
enchentes e vazantes, dos Canais de São
Vicente e de Bertioga fazem com que
ocorram o encontro das águas. A
movimentação da maré nas áreas rasas e
a rotação anti-horária das correntes na
região costeira contribui para a
quantidade de vegetação encontrada na
praia.
A bolacha-do-mar é um
organismo adaptado às condições locais
e desempenha importante papel na
reciclagem de matéria orgânica que
chega em grande quantidade pelo
sistema estuarino. Vivem
semienterradas na areia em busca de
alimento; ocorre desde os Estados
Unidos até o sul do Brasil. A
quantidade de bolachas-do-mar mortas
encontradas nesta faixa de areia é
justificada pelo fato de ser um animal
comumente lançado na beira da praia
pelas ondas e correntes, durante a maré
alta ou tempestade, e acabam morrendo
pela falta de umidade, permanecendo na
areia da praia apenas sua carapaça
calcária (VALENTE, 2006;
SCHROEDER, 2001; SEELIGER et al.,
2004; GIANUCA, 1998).
Dentre os resíduos de origem
antropogênica, destacam-se os plásticos
como os mais numerosos (723= 4,56%),
sendo eles: os plásticos moles tais como
sacolas, embalagens em geral (490=
3,09%) e os plásticos duros (233=
1,47%) constituídos por tampas, copos,
garrafas, canudos, entre outros. O
restante dos resíduos antrópicos
representa (231=1,45%), como o nylon,
filtro de cigarros, isopor, madeira,
borracha, entre outros. O plástico como
o mais representativo dentre os resíduos
antrópicos seguiu a tendência já
observada em outros trabalhos
(ARAÚJO; COSTA, 2006; ARAÚJO;
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COSTA, 2007; DIAS-FILHO et al.,
2011; SANTOS et al., 2004; SILVA et
al., 2008), fato justificado pelo baixo
custo de fabricação e flexibilidade de
formas, o que incentiva o uso. Aliado a
este fato, o plástico é extremamente
durável, de difícil degradação e de fácil
flutuação, características que acabam
favorecendo sua dispersão pelo
ambiente (MAGALHÃES; ARAÚJO,
2012). Em estudo realizado na região
costeira de Portugal, avaliou-se a
predominância de resíduos plásticos
presentes no lixo marinho bentônico
com abundância de 82% em relação aos
itens coletados (NEVES, 2013). Apesar
deste trabalho considerar apenas
resíduos superiores a 2 cm, vale
também ressaltar a dificuldade na
limpeza dos resíduos de pequena
dimensão, denominado micro lixo,
como comentam D´Antonio et al.
(2012).
Em relação a quantidade de
resíduos encontrados nas marés baixa e
alta, podemos ressaltar que a maior
parte foi encontrada durante a
amostragem de maré baixa, totalizando
12.738 itens (80,24%), enquanto que na
maré alta foram 3.135 itens (19,76%).
Dentre os resíduos orgânicos na
maré baixa foram encontrados um total
de 12.245 itens (96,12%) e na maré alta
2.694 (85,93%). Os resíduos orgânicos
mais abundantes na maré baixa, foram
as conchas de moluscos, partes da
vegetação urbana e do manguezal,
bolachas-do-mar e estrelas-do-mar
(equinodermos) e os medusas
(cnidários). Ainda entre os itens
orgânicos, os mais abundantes na maré
alta foram os peixes mortos (cordados).
Considerando os resíduos de
origem antropogênica, foram
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encontrados na maré baixa 493 (3,87%),
enquanto que na maré alta 441
(14,07%). Os plásticos mole e duro
foram os mais abundantes na maré
baixa enquanto que o cigarro, a pedra
(pedra ornamental e brita), o metal, a
borracha e a espuma foram os resíduos
antrópicos que ocorreram em maior
número na maré alta. A baixa
quantidade de resíduos sólidos
antrópicos na maré baixa pode estar
associada à limpeza urbana realizada
pela prefeitura minuto antes do início
das coletas.
De acordo com o teste não-
paramétrico de Kruskal-Wallis (tabela
1), foi possível observar que a praia do
Boqueirão em maré baixa se diferenciou
significativamente da Praia do José
Menino também em maré baixa
(p=0,021) e da praia do Gonzaga na
maré alta (p=0,024). A praia do José
Menino quando comparada com a praia
do Boqueirão, ambas em maré baixa, é
possível observar que na Praia do José
Menino não foram encontrados
cnidário, vidro, plástico, mineral,
madeira, isopor, espuma, corda e
borracha, enquanto que na praia do
Boqueirão não foi observado cnidário,
papel, nylon e corda. A diferença entre
a praia do Gonzaga em maré alta em
relação a praia do Boqueirão em maré
baixa, se dá devido a ausência de
cordado, vidro, tecido, papel, material
orgânico, mineral, metal, isopor,
espuma e cigarro na praia do Boqueirão.
A praia da Aparecida e Ponta da
Praia destacaram-se e tiveram
diferenças altamente significativas,
quando comparadas com as marés
baixas e altas das praias de José
Menino, praia do Emissário Submarino
e praia do Gonzaga, e apenas em maré
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alta na praia do Boqueirão, conforme comparada aos 67 equinodermos da

pode ser visto na tabela 1. Essa
diferença se dá pela notável quantidade
de moluscos (8.116) e de vegetação
(3.216) encontrados nas praias da
Aparecida e Ponta da Praia. Em relação
à praia do Boqueirão na maré alta, é
notória a diferença da quantidade de
172 equinodermos quando se
Praia da Aparecida e Ponta da Praia. Já
em maré alta, a praia da Aparecida e a
Ponta da Praia se diferenciam da Praia
do José Menino em maré baixa e da
praia do Gonzaga em maré alta com o
mesmo valor de p = 0,036, devido à
quantidade de moluscos (1.147) e de
vegetação (782).

Tabela 1 - Relação dos resíduos encontrados entre as diferentes praias durante as marés baixa e
alta realizado através do teste Kruskal-Wallis, das Praias de Santos-SP.
AMOS J J E E G G B B E E A A
TRA M M M M O O O O M M PP PP
M M I I M M M M B B P P
B A M M B A B A M M M M
B A B A B A
JMMB 0 0,702 0,681 0,608 0,777 0,963 0,021 0,392 0,050 0,239 0,004 0,036

JMMA 0 0,942 0,839 0,988 0,623 0,065 0,625 0,130 0,378 0,011 0,080

EMIMB 0 0,942 0,895 0,603 0,082 0,688 0,145 0,442 0,019 0,104

EMIMA 0 0,918 0,523 0,138 0,720 0,170 0,486 0,030 0,153

GOMB 0 0,706 0,091 0,643 0,146 0,456 0,013 0,102

GOMA 0 0,024 0,355 0,062 0,229 0,002 0,036

BOMB 0 0,240 0,967 0,441 0,293 0,805

BOMA 0 0,351 0,745 0,043 0,226

EMBMB 0 0,489 0,306 0,762

EMBMA 0 0,176 0,413

APPPMB 0 0,487

APPPMA 0

Observação: utilizou-se o arredondamento para calibrar os dados em três casas decimais, as

significâncias foram indicadas da seguinte forma: 0,01<p≤ 0,05 significativo e p<0,01 altamente
significativo.

Através da análise de Submarino e Gonzaga tanto nas marés

componente principal (figura 3), foi
possível observar 3 grupos de praias
correlacionados entre si de acordo com
a abundância e o tipo de lixo
encontrados nelas.
O primeiro grupo composto
pelas praias do José Menino, Emissário
baixas quanto nas marés altas, tendo os
resíduos águas-vivas e tecidos
ocorrendo em comum. O segundo grupo
seria a praia do Boqueirão nas marés
baixa e alta e a praia do Embaré na
maré alta, tendo como os resíduos em
comum; espuma, pedras, borracha,

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metal, peixes, tartarugas e bolachas-do-
mar compondo essas praias. E o terceiro
grupo é composto pelas praias
Aparecida e Ponta da Praia nas marés
baixa e alta e a praia do Embaré na
maré baixa, essas praias possuem em
comum os resíduos; isopor, madeira,
plástico mole e duro, cigarro, orgânico,
vidro, corda, vegetação, moluscos,
nylon e papel.
Os resultados obtidos com a
análise de componente principal
Figura 3. Correlação entre as praias em marés baixa e alta com resíduos encontrados através da análise de
componente principal.
Ainda, foi realizada uma análise
de agrupamento hierárquico de Cluster,
que apresentou um índice Bray-Curtis
de 0,9656 para o coeficiente de
correlação, mostrando que as praias são
similares entre si. Através da figura 4,
UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 4 (2017) p. 233 - 247
mostram que as praias estão próximas
entre si, essa formação pode estar
associada com a influência de correntes
estuarinas e oceânicas que
potencializaram o acúmulo de lixo
flutuante e que através do movimento
natural das marés é trazido até a praia.
Além da canalização dos cursos de água
para drenagem urbana, que contribui
também para carrear resíduos sólidos
até a zona costeira.
observa-se a similaridade de grupos das
praias, em ambas marés, a segregação
da Praia da Aparecida e da Ponta da
Praia – APPP em relação às demais,
visto que, estas apresentaram itens em
todas as categorias de resíduos com a
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exceção a tecido e espuma. que próximo aos canais (3 e 4) não

A deposição dos resíduos
encontrados na Praia de José Menino,
em maré alta e baixa, diferenciou-se das
outras devido à ausência de plásticos
mole e duro. Existe dissimilaridade da
Praia do Gonzaga frente às Praias do
Emissário, Boqueirão e Embaré, pois
ela possui a menor quantidade de
categorias de resíduos.
Em relação a Praia do Boqueirão
foi possível observar que os resíduos se
estendiam no centro da praia, uma vez
foram encontrados resíduos. Na análise
da baixa maré em relação a alta, houve
diferença na contagem e caracterização
de itens presentes na baixa sizígia. Os
itens que não apareceram em alta
foram: vidro, tecido, orgânico, mineral,
metal, madeira e isopor.
A Praia do Embaré diferencia-se
das demais na variação entremarés, pois
em alta maré não apresentou papel,
mineral, corda e filtro de cigarro.

Figura 4. Dendrograma pelo agrupamento das praias (preamar e baixa-mar) pelo Índice de Similaridade
Bray-Curtis (0,9656 – coeficiente de correlação).

Através deste estudo, foi palafitas do Brasil, a beira do rio dos

possível constatar a presença de Bugres, na região estuarina, estima-se
resíduos em abundância nas praias que residam mais de 8 mil pessoas em
estudadas e a mensuração de sua casas sobre a água, o equivalente a 21%
distribuição em condições do total de pessoas em condições
diferenciadas. Uma das causas subnormais de moradia conforme o
prováveis da origem desse lixo seja o IBGE. O maior problema das invasões
seu descarte incorreto pela população nesta área é a falta de estrutura e
residente no sistema estuarino de saneamento básico, havendo descarte de
Santos. lixo de todo tipo tornando o trecho em
A questão das invasões um esgoto a céu aberto. Contudo, não se
clandestinas no mangue é um quadro pode levar saneamento a localidades
antigo da região, tendo seu registro por onde não há regularização fundiária,
volta da década de 50. Santos abriga o especialmente por se tratar de área de
maior complexo de favelas sobre preservação. Há no Conselho Nacional

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do Meio Ambiente, registro de ações usuários de forma geral (banhistas e

civis públicas, impetradas pelo comerciantes) sobre as consequências
Ministério Público do Meio Ambiente da presença de lixo nos ambientes
de Santos para apuração de costeiros, tanto para os próprios
responsabilidades, pois a SABESP usuários quanto para a biota marinha; e
propiciou fornecimento de água sem da melhor forma de recolher o lixo
recolhimento de esgoto naquela região imediatamente após sua produção, a fim
invadida. De maneira paliativa, de evitar o acúmulo e dispersão na areia
organizações não governamentais e na água (DIAS-FILHO et al., 2011).
realizam ações para recolhimento de Uma medida válida é mostrar as
lixo na região, principalmente plástico, pessoas, desde cedo, que poluir menos é
e trabalhos de educação ambiental junto melhor pra todos. Se essa educação
a população local, em relação ao mesmo começa na escola, tomando o estudante
tema (CONAMA, 2017). nos primórdios do desenvolvimento de
É relevante observar que apesar seu conhecimento, isto contribuirá para
de haver legislação em todas as esferas que se forme um cidadão mais
do Poder Público (Federal, Estadual e consciente e comprometido com o bem-
Municipal) no que concerne os meios estar social, conferindo ao mesmo uma
de proteção ambiental, na prática, sua consciência da realidade socioambiental
efetividade é questionável haja vista a (MEDEIROS et al., 2011).
citada acumulação de resíduos sólidos Ainda sobre a origem dos
nas praias do município. resíduos, de acordo com Martins
Na prática, a Prefeitura (2008), muito do lixo marinho
Municipal de Santos pratica um encontrado na região de entremarés é
trabalho de limpeza das praias, decorrente do alijamento de navios que
recolhendo 50 a 60 toneladas de acessam o Porto de Santos. Mesmo que
resíduos diariamente em toda a extensão o descarte ocorra em alto mar, as
da praia. Este lixo é encaminhado para correntes marítimas acabam por
o aterro sanitário. Além disso, há uma conduzi-los às praias da região. Há
embarcação do tipo catamarã que protocolos que permitem ao Brasil
complementa a limpeza coletando os adotar e realizar intervenções em alto
resíduos flutuantes no mar. Pelo menos mar para fiscalizar e aplicar penalidades
240 toneladas de resíduos sólidos a embarcações que procederem ao
deixaram de poluir e estuário e a Baía alijamento de substâncias poluentes.
de Santos nos últimos cinco anos Trata-se de norma de Direito
(PREFEITURA MUNICIPAL DE Internacional originada no Programa
SANTOS, 2017). das Nações Unidas para o Ambiente e
Apesar de todo o esforço e que foi absorvida pela legislação pátria.
investimento público feito na limpeza Contudo, uma norma eficaz se
das praias, as fontes de contaminação vislumbra no Plano Setorial para os
ainda não são controladas ou Recursos do Mar do Decreto 6.678/08
remediadas satisfatoriamente. É que tem como um dos objetivos à luz da
preciso que haja investimento focado Política Nacional de Recursos do Mar a
em campanhas de conscientização dos garantia de qualidade do Ambiente

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Marinho. Sua abrangência a proteção da
biodiversidade e do patrimônio genético
existente nas áreas marinhas sob
jurisdição nacional e zona costeira
adjacente, que embora vise a exploração
sustentável dos recursos marinhos
também promove o desenvolvimento do
conhecimento científico do ambiente
marinho. Tal iniciativa permitirá no
futuro a adoção de medidas mais
eficientes no combate à poluição
marinha.
Conclusão
Foi possível compreender o
impacto causado pela deposição dos
resíduos sólidos encontrados na faixa de
areia das praias de Santos em preamar e
baixa mar. Entre os resíduos antrópicos,
o plástico foi o mais representativo
presente nas praias de Santos, pois ele é
usado em embalagens de alimentos,
cuja longa permanência no ambiente
ocorre devido ao demorado tempo
necessário para sua decomposição.
No estofo de maré baixa, houve
uma maior ocorrência de resíduos,
destacando os de origem orgânica. E em
maré alta, teve uma menor ocorrência
de resíduos, fato esse justificado pelo
serviço de limpeza realizado pela
prefeitura no momento das coletas.
Através do teste não-
paramétrico de Kruskal-Wallis, foi
possível observar que há uma diferença
significativa entre algumas praias de
Santos em marés baixa e alta em relação
a composição do lixo. A praia da
Aparecida e Ponta da Praia destacaram-
se e tiveram diferenças altamente
significativas, quando comparadas com
as marés baixa e alta das praias de José
Menino, praia do Emissário Submarino
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e praia do Gonzaga e apenas em maré
alta na praia do Boqueirão. E a praia do
Boqueirão em maré baixa se diferenciou
significativamente da Praia do José
Menino também em maré baixa e da
praia do Gonzaga na maré alta.
A análise de componente
principal, mostrou que as praias de
Santos são agrupadas em 3 grupos de
praias similares entre si de acordo com
os tipos de lixo encontrados nelas. O
primeiro grupo composto pelas praias
do José Menino, Emissário Submarino e
Gonzaga tanto nas marés baixas quanto
nas marés altas. O segundo grupo
composto pela praia do Boqueirão nas
marés baixa e alta e a praia do Embaré
na maré alta. E por fim, o terceiro grupo
é composto pelas praias Aparecida e
Ponta da Praia nas marés baixa e alta e a
praia do Embaré na maré baixa.
Através do resultado da análise
de agrupamento hierárquico de Cluster,
observou-se que as praias da Aparecida
e Ponta da Praia em ambas marés foram
as mais similares entre si diferenciando-
se de todo restante.
A antropização das praias é uma
questão relevante ao controle do
impacto ambiental, em especial a zona
costeira e manutenção do ambiente
marinho. Salienta-se que impacto
ambiental é um conceito diferente de
poluição, toda poluição gera impacto,
mas nem todo impacto gera poluição
(SÁNCHES, 2008).
A depreciação da beleza é
decorrente de deposição indevida, tanto
pelo uso inadequado do espaço por
frequentadores locais e turistas, quanto
por acúmulo trazido do ambiente
marinho, causado por destinação
indevida de resíduos sólidos.
O estudo dos ambientes sujeitos
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à interferência humana demonstra seu
estado de conservação, avalia impactos
decorrentes e seu nível de
vulnerabilidade a partir da influência
antrópica.
Sugerem-se outras pesquisas
inovadoras, pois há de se projetar
melhores políticas públicas para
gerenciamento de recursos hídricos,
costeiros, educação ambiental e práticas
preventivas destinadas a conservação
ambiental. Assim sendo, a mudança em
mínimos aspectos ao longo dos anos
pode modificar a paisagem e
comprometer ecossistemas (MUCELIN;
BELLINI, 2008).
Agradecimentos
À CAPES pelas bolsas
concedidas ao primeiro e terceiro autor.
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