Você está na página 1de 31

Universidade Metodista Unida de Moçambique

Curso de Licenciatura em Teologia

TEO 10/ 1o Ano 2020

Ficha de Apontamento no1

A presente ficha de apontamento, consiste em oferecera os estudantes


material de apoio, cuja abordagem se centra nos seguintes temas:

1. A origem da Bíblia ( Autor, Local, Data, e Línguas Bíblicas).

2. O assunto da Bíblia: lei, profecias, filosofia, histórias, sabedoria, novelas.

3. Os livros do Antigo Testamento numa visão geral nas Bíblias: Católicas;


Protestantes e os Livros apócrifos

4. Comparação entre as Bíblias Católicas e Protestantes

1. Origem da Bíblia

A origem da Bíblia primeiramente está em Deus, ou seja, a Bíblia é a Palavra


de Deus. A Bíblia surgiu porque Deus resolveu se revelar ao homem de
forma especial comunicando-se com ele através de Sua santa Palavra.

Mas é verdade que as pessoas têm muita curiosidade em saber como a


Bíblia surgiu. De fato é interessante entender o caminho desde a origem da
Bíblia até os nossos dias, quando temos uma coleção de livros nas mãos
traduzidos em nosso próprio idioma. Esse caminho, no entanto, foi complexo
e envolveu um processo de milhares de anos.

Estudar sobre a origem da Bíblia de forma alguma afronta a autoridade, a


infalibilidade e a inerrância das Escrituras (cf. Salmo 12:6; 119:140; João
10:35; 2 Timóteo 3:15-17; 2 Pedro 1:20,21). A Bíblia por si mesma declara
explicitamente que ela é a Palavra de Deus. Para se ter uma ideia, apenas no

Ficha de apontamento no 1 1

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Antigo Testamento há mais de duas mil declarações que afirmam que foi
Deus quem falou o que está escrito na Bíblia.

1.1 Autor

A Bíblia foi escrita por diversos autores que viveram em épocas diferentes
num período aproximado de 1.500 anos. É difícil estipular um número exato,
mas geralmente é aceite que pelo menos 40 pessoas diferentes escreveram
a Bíblia. Todavia, todas essas pessoas têm em comum o fato de terem sido
escolhidas por Deus para escreverem sua santa Palavra inspirada pelo
Espírito Santo. Então isso faz do próprio Deus o verdadeiro autor das
Escrituras.

Muitos dos homens que foram usados por Deus para escrever a Bíblia
podem ser identificados através da própria Bíblia. Isso significa que muitos
textos bíblicos trazem indicações sobre a identidade de seus autores. Há
também aqueles escritores da Bíblia cuja a autoria é afirmada por antigas
tradições. No entanto, de alguns escritores bíblicos é impossível descobrir
sua identidade.

1.2 Local

Não temos um lugar especifico o qual designamos como sendo especifico


para compilação da Bíblia. A formação da Bíblia foi um processo que que
durou um período longo. Olhado para a Historia de Israel encontramos
espaços geográficos os quais admite a hipótese ter sido lá onde a Bíblia
sobretudo o AT foi escrito nomeadamente: em Judá, o reino do Sul
( Palestina); na Samaria, o reino de Israel ao Norte (Palestina); na Babilônia,
onde o Povo Judeu esteve exilado entre 587 a. C a 539 a.C.; e no Egipto
onde muitos Judeus viviam na diáspora.

1.3 Data

Ficha de apontamento no 1 2

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Aproximadamente entre 1.500 ou 1.400 a.C. e 100 d.C. Isso significa que o
primeiro livro da Bíblia foi escrito há quase 3.500 anos. Mas o AT levou mais
de 1000 anos para ser escrito. A datação individual dos livros deverá ser
apresentada de forma particular ou seja no inicio de cada um bem como em
cada bloco. Mas é importante que se delimite-se a datação a partir do tempo
de Moisés como sendo o período que começou a a ser escrito o AT.

1.4 Línguas Bíblicas

1.4.1 Hebraico

A maior parte do texto do Antigo Testamento foi escrita originalmente em


hebraico, embora a palavra "hebreu" não é encontrada no Antigo Testamento
para designar o nome de sua própria língua, No Antigo Testamento, "hebreu"
significa a pessoa ou povo que falava o idioma hebraico. A língua em si é
chamada de "a língua de Canaã" (Is 19.18) ou "judaico" (Ne 13.24).

O hebraico é, na realidade, um dos vários dialetos cananeus, que incluíam o


fenício, o ugarítico e o moabita.

Existiam outros línguas cananeias (por exemplo, o amonita), mas


insuficientes inscrições restaram para a investigação dos estudiosos. Tais
línguas já estavam presentes na terra de Canaã antes que os israelitas a
conquistassem.

Grupo linguístico

O hebraico pertence ao grupo semítico das línguas. As línguas desse grupo


eram faladas do mar Mediterrâneo às montanhas a leste do vale do rio

Ficha de apontamento no 1 3

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Eufrates, e da Arménia (Turquia), ao norte, à extremidade sul da península
árabe.

As línguas semíticas são classificadas em meridional (árabe e etiópico),


oriental (acadiano) e setentrional noroeste (aramaico, siríaco e cananeu
[hebraico, fenício, ugarítico e moabita]).

Características

O hebraico, assim como as outras antigas línguas semíticas, concentra-se


mais na observação do que na reflexão. Isto significa que as coisas são em
geral observadas segundo sua aparência como fenómenos, e não analisadas
no que respeita ao seu ser ou essência interior. Os efeitos são observados,
mas não acompanhados através de uma série de causas.

A vivacidade, concisão e simplicidade da língua hebraica torna-a difícil de ser


traduzida em sua inteireza. E surpreendentemente lacónica e direta. Por
exemplo, o Salmo 23 contém 55 palavras em hebraico. A maioria das
traduções requerem cerca de duas vezes mais. Apresentamos as duas
primeiras linhas no original, com barras separando cada palavra hebraica

O hebraico é uma língua pictórica, na qual o passado não é meramente


descrito, mas verbalmente pintado. Não é apresentada apenas uma
paisagem, mas um panorama em movimento. O curso dos acontecimentos é
revivido novamente na visão da mente (note 0 uso frequente do advérbio
"eis", um hebraísmo levado para 0 Novo Testamento). Essas expressões

hebraicas comuns, como "Ele se levantou e se foi", "Ele abriu a boca e


disse", "Ele levantou os olhos e viu" e "Ele levantou a voz e chorou" ilustram
a força pictórica da língua.

Muitas expressões teológicas significativas do Antigo Testamento estão


fortemente vinculadas à língua e gramática hebraicas. Até mesmo 0 nome
mais sagrado de Deus, o "SENHOR" (Jeová ou Javé), está diretamente
relacionado com o verbo hebraico "ser" (ou talvez "ocasionar ser"). Vários

Ficha de apontamento no 1 4

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


outros nomes de pessoas e lugares no Antigo Testamento podem ser mais
bem entendidos somente com um conhecimento prático do idioma hebraico.

O hebraico é uma língua pictórica, na qual o passado não é meramente


descrito, mas verbalmente pintado. Não é apresentada apenas uma
paisagem, mas um panorama em movimento. O curso dos acontecimentos é
revivido novamente na visão da mente (note 0 uso frequente do advérbio
"eis", um hebraísmo levado para 0 Novo Testamento). Essas expressões

hebraicas comuns, como "Ele se levantou e se foi", "Ele abriu a boca e


disse", "Ele levantou os olhos e viu" e "Ele levantou a voz e chorou" ilustram
a força pictórica da língua.

Muitas expressões teológicas significativas do Antigo Testamento estão


fortemente vinculadas à língua e gramática hebraicas. Até mesmo 0 nome
mais sagrado de Deus, o "SENHOR" (Jeová ou Javé), está diretamente
relacionado com o verbo hebraico "ser" (ou talvez "ocasionar ser"). Vários
outros nomes de pessoas e lugares no Antigo Testamento podem ser mais
bem entendidos somente com um conhecimento prático do idioma hebraico.

Gramática

Muitas figuras de linguagem e técnicas de retórica do Antigo Testamento nos


serão mais inteligíveis se nos familiarizarmos com a estrutura do hebraico.

Alfabeto e Forma de Escrita — O alfabeto hebraico consiste em 22


consoantes; os sinais para as vogais foram inventados e acrescentados
tardiamente na história da língua. A origem do alfabeto é desconhecida. Os
exemplos mais antigos de um alfabeto cananeu foram preservados no
alfabeto cuneiforme ugarítico do século XIV a.C.

O antigo estilo de escrever as letras é chamado de escrita fenícia ou paleo-


hebraica. E a forma de escrita predecessora do grego e de outros alfabetos
ocidentais. Os caracteres usados nas modernas Bíblias hebraicas (caracteres
aramaico ou quadrados) entraram em uso depois do exílio de Israel na
Babilônia (século VI a.C.). O estilo mais antigo ainda era usado
esporadicamente na era cristã primitiva em moedas e para escrever o nome

Ficha de apontamento no 1 5

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


de Deus (como nos mostram os rolos do mar Morto). O hebraico sempre foi
escrito da direita para a esquerda.

Consoantes — O alfabeto cananeu das línguas fenícia e moabita era


composto de 22 consoantes. A língua cananéia mais antiga, retratada no
ugarítico, tinha mais consoantes. O árabe também preserva algumas
consoantes do antigo cananeu encontradas no ugarítico e que faltam no
hebraico.

Vogais — Na forma original da escrita consonantal hebraica, as vogais eram


simplesmente compreendidas pelo escritor ou pelo leitor. Com base na
tradição e pelo contexto, o leitor fornecia quaisquer vogais que fossem
necessárias para 0 entendimento, algo muito semelhante ao que acontece
com as abreviações em português ("pp." para "páginas"; "tb." para
"também"). Depois do início da era cristã e após a ruína da nação, a
dispersão dos judeus e a destruição de Jerusalém fizeram com que o
hebraico se tornasse uma "língua morta", não sendo mais largamente falada.
Por conseguinte, a perda da pronunciação e compreensão tradicionais
tornou-se mais do que uma possibilidade, razão pela qual os copistas judeus
sentiram a necessidade de permanentemente estabelecer os sons das
vogais.

Primeiro foram acrescentadas vogais chamadas "mães da leitura"


(matreslectionis). Eram consoantes usadas de maneira especial para indicar
as vogais longas. Estas foram adicionadas antes da era cristã, como revelam
os rolos do mar Morto.

Mais tarde (por volta do século V d.C.), os copistas chamados massoretas


acrescentaram sinais vocálicos para indicar as vogais curtas. Pelo menos
três sistemas diferentes de sinais vocálicos foram empregados, em diferentes
épocas e lugares. O texto utilizado nos dias de hoje representa o sistema
inventado pelos copistas massoretas, que trabalhavam na cidade de
Tiberíades. As vogais, cada uma das quais podendo ser longa ou curta, são
indicadas por pontos ou traços colocados em cima ou em baixo das
consoantes. Certas combinações de pontos e traços representam sons
vocálicos muito curtos ou "semi- vogais".

Ficha de apontamento no 1 6

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Ligação — O hebraico une muitas palavras que nas línguas ocidentais seriam
escritas separadamente. Algumas preposições (be-, "em "; le-, "para"; ke-,
"com o") são diretamente anexadas ao início do substantivo ou verbo que
introduzem, como também o são o artigo ha-, " 0", "a ", e a conjunção vav-,
"e". Os sufixos são usados no lugar de pronomes, tanto no relacionamento
possessivo quanto no acusativo. A mesma palavra pode ter simultaneamente
um prefixo e um sufixo.

Substantivos — O hebraico não tem género neutro; tudo é masculino ou


feminino. Os objetos inanimados podem ser masculinos ou femininos,
dependendo da formação ou característica da palavra. Em geral, as palavras
ou idéias abstratas que indicam um grupo são femininas. Os substantivos são
derivados de raízes e formados de diversas maneiras, seja pela modificação
da vogal, seja pelo acréscimo de prefixos ou sufixos à raiz. Diferente do
grego e de muitas outras línguas ocidentais, os substantivos compostos não
são característicos do hebraico.

O plural em hebraico é formado pelo acréscimo da desinência -im aos


substantivos masculinos (serafim, querubim) e da desinência -ote aos
substantivos femininos.

Três desinências originais indicativas de caso — o nominativo, o genitivo e o


acusativo — foram gradualmente caindo em desuso durante a evolução da
língua hebraica.

Para compensar a falta de desinências de caso, o hebraico serve-se de


vários indicadores. O objeto indireto é indicado pela preposição le- ("para"); o
objeto direto, pelo sinal objetivo ete; e o relacionamento genitivo é designado
pela colocação da palavra antes do genitivo no "estado construto",

ou forma curta. Adjetivos — A língua hebraica é deficiente em adjetivos.

No original hebraico, um "coração dobrado" é enunciado por "um coração e


um coração" (SI 12.2), e "diversos pesos" é na verdade "uma pedra e uma
pedra" (Dt 25.13); "toda a descendência real" é "a semente do reino" (2 Rs
11.1).

Ficha de apontamento no 1 7

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Os adjetivos que realmente existem em hebraico não têm a forma
comparativa ou a superlativa. A relação é indicada pela preposição "de". Em
hebraico, "melhor que você" é expresso literalmente por "bom de você". "A
serpente era mais astuta que todas as alimárias" é, palavra por palavra, "a
serpente era astuta de toda alimária" (Gn 3.1). O superlativo é expresso por
diversas construções diferentes. A ideia de "profundíssimo", literalmente, é
"profundo, profundo" (Ec 7.24); 0 "melhor cântico" é, ao pé da letra, "cântico
dos cânticos" (compare "rei dos reis"); "santíssimo" é, textualmente, "santo,
santo, santo" (Is 6.3).

Verbos — Os verbos hebraicos são formados por uma raiz, que geralmente é
constituída por três letras. De tais raízes, as formas verbais são
desenvolvidas pela mudança das vogais ou pelo acréscimo de prefixos ou
sufixos. As consoantes radicais fornecem a parte mais importante da
semântica da língua e proporcionam estabilidade de significado, algo não-
característico das línguas ocidentais. As vogais são bem flexíveis, dando
considerável elasticidade ao idioma hebraico.

O uso dos verbos hebraicos não é caracterizado por uma definição precisa
dos tempos. Em hebraico, os tempos verbais — sobretudo na poesia — são
grandemente determinados pelo contexto. As duas formações de tempo são
o perfeito (ação completa) e o imperfeito (ação incompleta). O imperfeito é
ambíguo. Representa o modo indicativo (presente, passado, futuro), mas
também pode representar outros modos como o imperativo, o optativo e 0
jussivo ou coortativo. Um emprego distintivo do tempo perfeito é o "perfeito
profético", no qual a forma perfeita representa um acontecimento futuro,
considerado tão certo que é expresso no passado.

Estilo

A enunciação em hebraico é caracterizada por uma qualidade pictórica.

Vocabulário — A maioria das raízes hebraicas expressava originalmente


alguma ação física ou denotava algum objeto natural. O verbo "decidir"
originalmente significava "cortar"; "ser verdadeiro", em termos originais, tinha

Ficha de apontamento no 1 8

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


0 sentido de "estar firmemente imóvel"; "ter razão" queria dizer "ser reto"; "ser
ilustre" denotava "ter peso".

Os termos abstratos são alienígenas às características do hebraico. Por


exemplo, o hebraico bíblico não tem palavras específicas para "teologia",
"filosofia" ou "religião". Conceitos intelectuais ou teológicos são expressos
por termos concretos. A ideia abstrata do pecado é representada por
palavras como "errar 0 alvo", "torto", "rebelião" ou "Trespassar" ("atravessar o
limite"). Mente ou intelecto é denotado por "coração" ou "rins", emoção 0u
compaixão é expresso por "entranhas" (vide Is 63.15). Outros termos
concretos em hebraico são "chifre", para indicar força ou vigor, "esqueleto",
para aludir a própria pessoa (eu), e "semente", para referir-se a
descendentes. Uma qualidade mental é frequentemente descrita pela parte
do corpo relacionada, como sua personificação mais apropriada. A força
pode ser representada pelo "braço" ou "mão", a ira pela "narina", o desagrado
pelo "caimento da face", a aceitação pela "face que brilha", o pensamento
pela "fala".

Alguns tradutores tentam representar determinada palavra hebraica sempre


pela mesma palavra em outro idioma, mas isto causa sérios problemas. As
vezes, há considerável discordância sobre a exata nuança do significado de
uma palavra hebraica em certo texto. Uma determinada raiz frequentemente
representa uma variedade de significados, dependendo do uso e do contexto.
A palavra para "bênção" também pode significar "maldição, saudação, favor,
louvor".

A palavra para "julgamento" também é empregada no sentido de "justiça,


veredicto, penalidade, ordenança, obrigação, costume, procedimento". A
palavra para "força" ou "poder" também significa "exército, virtude, mérito,
coragem".

Maior ambiguidade surge do fato de que algumas consoantes hebraicas


simbolizam duas consoantes originais diferentes, que se fundiram ao longo
da evolução da língua. Duas palavras que superficialmente parecem
idênticas podem ser remontadas a duas raízes diferentes. Para um exemplo
desse fenómeno na língua portuguesa, compare "manga" (do latim "manica":

Ficha de apontamento no 1 9

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


parte do vestuário onde se enfia o braço) Com //manga" (do malaio: fruto da
mangueira).

Sintaxe — A sintaxe hebraica é relativamente descomplicada. São usadas


poucas conjunções subordinativas ("se", "quando"/ "porque" etc.). Em geral,
as sentenças são coordenadas pelo emprego único da conjunção "e". As
traduções dos textos bíblicos geralmente tentam mostrar a conexão lógica
entre a sucessão de orações, ainda que isso nem sempre fique claro.

Em Génesis 1.2— 3.1, todos os 56 versículos (menos três) começam n0


original com "e"; contudo, a RC1 traduz essa conjunção variadamente, como
"e" (Gn 1.3), "assim" (Gn 2.1),porém" (Gn 2.6) e "ora" (Gn 3.1).

0 estilo hebraico é avivado pelo uso do discurso direto. O narrador não


declara simplesmente que "Fulano de tal disse que-(discurso indireto). Em
vez disso, as partes falam por si mesmas (discurso direto), criando uma
vivacidade que permanece mesmo depois de repetidas leituras.

Poesia — A poesia hebraica utiliza-se de uma variedade de técnicas de


retórica. Algumas delas — como a assonância, a alteração e 0 acróstico —
só podem ser apreciadas no original hebraico. Mas 0 paralelismo, a mais
importante característica da poesia hebraica, continua evidente mesmo de

pois da tradução. Entre as muitas formas possíveis de paralelismo, existem


quatro categorias comuns: (1) 0 paralelismo sinonímico, que é um estilo
repetitivo, no qual as linhas paralelas dizem a mesma coisa com palavras dife

rentes; (2) o paralelismo antitético, que denota um estilo contrastante, no qual


pensamentos contrários são expressos; (3) 0 paralelismo completivo, com
uma linha paralela completável que inteira o pensamento da primeira; (4) o
paralelismo ascendente, no qual uma linha paralela predominante apanha
algo da primeira linha e a repete. Numerosas outras formas de paralelismo
enriquecem a poesia hebraica. As possíveis variações de paralelismo são
quase infinitas.

Figuras de Linguagem — A língua hebraica é abundante em expressivas


figuras de linguagem baseadas no caráter e modo de vida do povo hebreu.

Ficha de apontamento no 1 10

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Certas expressões estranhas, mas de conhecimento geral, encontradas na
literatura de outras línguas, provêm do estilo hebraico, como "a menina dos

olhos" (Dt 32.10; SI 17.8; Pv 7.2; Zc 2.8) e "a pele dos meus dentes" (Jó
19.20). Alguns dos mais extraordinários modos de expressão hebraicos são
difíceis de transmitir para outro idioma, como "descobrir 0 ouvido", que
significa "mostrar, revelar". Outras expressões são mais familiares, como
"endurecer a cerviz", indicando "ser obstinado, rebelde"; "inclinar 0 ouvido",
denotando "escutar com atenção".

1.4.2. O Aramaico

O livros de Génesis 31.47 retrata o uso do hebraico e do aramaico feito por


duas pessoas que eram contemporâneas. Jacó, 0 pai dos israelitas, e Labão,
o arameu, referiram-se ao mesmo memorial ou "montão do testemunho" em
sua própria língua: Labão chamou-o pela expressão em aramaico, mas Jacó

usou o termo em hebraico.

Lingüisticamente, o aramaico é muito próximo ao hebraico e parecido na


estrutura. Os textos em aramaico na Bíblia são escritos com os mesmos
caracteres que os em hebraico. Ao contrário do hebraico, o aramaico usa um
vocabulário maior, incluindo muitas palavras emprestadas e uma variedade

maior de conectivos. Também contém um elaborado sistema de tempos


verbais, ampliado pelo uso de particípios com pronomes ou com várias
formas do verbo "ser". Embora 0 aramaico seja menos eufónico e poético do
que o hebraico, é provavelmente superior como veículo de expressão exata.

O aramaico talvez tenha a mais longa, contínua e viva história de qualquer


língua conhecida. Era usado durante o período patriarcal bíblico e, nos dias
de hoje, ainda é falado por alguns povos. O aramaico e seu cognato, 0
siríaco, desdobraram-se em muitos dialetos em diferentes lugares e períodos.
Caracterizado pela simplicidade, clareza e precisão, adaptava-se facilmente
às diversas necessidades da vida diária. Poderia servir igualmente bem como

Ficha de apontamento no 1 11

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


língua para eruditos, estudantes, advogados ou negociantes. Alguns 0
descrevem como o equivalente semítico do inglês.

A origem do aramaico é desconhecida, mas parece ter estreita relação com o


amorita (língua falada pelos amorreus) e possivelmente com outros antigos
dialetos semíticos do Norte, pouco conhecidos pelos eruditos. Embora na
verdade nunca tenha existido um reino aramaico como tal, vários "estados"
arameus se desenvolveram em centros de influência. Algumas curtas
inscrições aramaicas dessa época (séculos X a VIII a.C.) foram encontradas
e estudadas.

Pelo século VIII a.C., os representantes do rei Ezequias pediram que os


porta-vozes do rei assírio Senaqueribe lhes falassem em aramaico — porque
bem o entendiam —, e não em hebraico (2 Rs 18.26, ARA). Por volta do
período persa, o aramaico tinha se tornado a língua do comércio
internacional. Durante o seu cativeiro, os judeus provavelmente o adotaram
por conveniência — certamente para fins comerciais — , enquanto o hebraico
era confinado aos doutos e líderes religiosos.

Pouco a pouco, sobretudo depois do exílio babilônico, a influência do


aramaico foi permeando a Palestina. Neemias lamentou que os filhos de
casamentos mistos não soubessem falar hebraico (Ne 13.24). Parece que os
judeus continuaram se servindo do aramaico amplamente durante os
períodos persa, grego e romano. Eventualmente, as Escrituras hebraicas
foram traduzidas em paráfrases aramaicas, chamadas targuns, alguns dos
quais foram descobertos entre os rolos do mar Morto.

Pequenas porções que podem ser encontradas em Génesis 31:47b; Esdras


4:8 – 6:18; 7:12 – 16; Jeremias 10:11b e Daniel 2:4b – 7:28, foram escritas
em aramaico. Tanto o hebraico quanto o aramaico são línguas semíticas que
pertencem à mesma família do acádio, que era a língua falada pelos Assírios
e pelos Babilônios, do amorita, do fenício, do ugarítico,do amonita, do
moabita e do árabe.

Várias cópias em Hebraico, do Antigo Testamento, chegaram até nossos


dias. Três destas cópias são de maior importância para os nossos estudos.
Estes são: O Texto Massorético, o Pentateuco
Ficha de apontamento no 1 12

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Samaritano, e os Manuscritos do Mar Morto.

O aramaico tornou-se a língua comum em todo o Oriente Médio e


Mesopotâmia, como fruto da ascensão do império Babilônico. Os judeus -
conquistados no século VI a.C. - bem como todos os outros povos
subjugados pelos babilônios e persas, passaram a usar o aramaico como o
idioma do dia a dia, do comércio e posteriormente, também do serviço da
sinagoga. O aramaico é uma língua pertencente ao ramo semítico norte -
ocidental e muito próxima do hebraico, que pertence ao mesmo ramo. No
segundo livro do Reis encontramos um curioso incidente que demonstra
claramente que o aramaico era usado como idioma diplomático, e que era
entendido tanto por judeus e assírios – ver 2 Reis 18:17 – 26. Com o passar
do tempo o aramaico adquiriu uma importância crescente no meio do judeus,
suplantando o hebraico que se viu reduzido à língua sagrada da Bíblia
Hebraica, dos serviços religiosos das sinagogas, dos estudos e das
discussões rabínicas e era falado no dia a dia quase que exclusivamente na
cidade de Jerusalém.

Nos serviços religiosos nas sinagogas era feita a tradução para o aramaico,
após a leitura hebraica de cada versículo da parashá – capítulo, porção ou
secção do Pentateuco; e, logo após a leitura de cada

dois ou três versículos da haftará – conclusão feita com a leitura de algum


dos profetas. Este trabalho era efetuado por um tradutor profissional
chamado de meturgman, que fazia a tradução “ad lib” ou espontaneamente, e
sem o uso de nenhum material escrito.

Os Targuns são uma coleção de escritos baseados no texto do Antigo


Testamento. Estes escritos em aramaico são do início da Era Cristã e
algumas partes são até mais antigas. Os targuns surgiram em uma época em
que o povo judeu precisava de uma interpretação dos ensinamentos do
Antigo Testamento em uma linguagem acessível. Em certas partes os
Targuns refletem uma tradução relativamente culta do Antigo Testamento.
Juntamente com a tradução encontramos comentários e histórias que
reforçam o significado do texto. Por este motivo os Targuns não são
Ficha de apontamento no 1 13

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


considerados uma testemunha fiel do Antigo Testamento, apesar de nos
auxiliarem a compreender as primeiras interpretações judaicas.

O Grego

A língua grega é bela, rica e harmoniosa como instrumento de comunicação.


É uma ferramenta adequada tanto para o pensamento vigoroso quanto para
a devoção religiosa. Durante seu período clássico, o grego era a língua de
uma das maiores culturas mundiais. Durante esse período cultural, a língua,
a literatura e a arte desenvolveram-se mais do que a guerra. A mente grega
preocupava-se com os ideais de beleza. A língua grega refletia o talento
artístico em seus diálogos filosóficos, em sua poesia e em seus discursos
imponentes.

A língua grega também era caracterizada pela força e vigor. Era susceptível a
variedade e efeitos estupendos. O grego era a língua do raciocínio, com
vocabulário e estilo que permitiam penetrar e esclarecer os fenómenos, em
vez de simplesmente narrar as histórias. O grego clássico desenvolveu com
perfeição muitas formas a partir de algumas raízes de palavras. Durante os
séculos imediatamente antes de Cristo, o Mediterrâneo oriental passou não
apenas por uma helenização, mas também por uma "semitização". Essas
duas influências podem ser observadas na tradução grega do Antigo
Testamento.

A tradução das Escrituras hebraicas para 0 grego foi um evento que marcou
época. Mais tarde, a Septuaginta (a mais antiga tradução grega do Antigo
Testamento) exerceu forte influência no pensamento cristão. Consequência
necessária do fato de os escritores hebraicos usarem a língua grega foi a
influência que a mentalidade grega e certas formas de pensamento gregos
causaram na cultura judaica. Dentre 0 rico e refinado vocabulário grego, os
judeus logo se apropriaram de algumas expressões para idéias que iam além
do escopo da terminologia hebraica. Por conseguinte, velhas expressões
gregas adquiriram novos e amplos significados nessa tradução do Antigo
Testamento feita por judeus de fala grega.

Ficha de apontamento no 1 14

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


O Antigo Testamento em grego foi muito importante para o desenvolvimento
do pensamento cristão. E frequente que 0 uso de determinada palavra grega
na Septuaginta forneça um elemento importantíssimo para o seu significado
no Novo Testamento. O dialeto "greco-judaico" do Antigo Testamento é por
vezes reconhecido em passagens do Novo Testamento, cuja tradução tenha
sido feita muito literalmente. Em outras vezes, a tradução do Novo
Testamento a partir de textos do Antigo Testamento é muito livre.

2. O assunto da Bíblia: lei, profecias, filosofia, histórias, sabedoria,


novelas

O conteúdo em epigrafe, trata de assuntos meramente ligados a constituição


da Bíblia. Se se lembrarem, nas lições anteriores sobre a Bíblia Hebraica,
abordamos a cerca das três grandes divisões da T aNaKh. Nomeadamente
Torah, Nevyim e Ketuvim. Nestes grandes grupos encontramos livros que as
compõe.

2.1 Lei

A lei (Torah) contem cinco livros que mais tarde chamados Pentateuco que
constituíram o cerne da Bíblia.

Os antigos judeus atribuíram a o nome de Torah que significa (instrução


ou lei) porque esses livros continham textos legislativos inseridos numa
moldura histórica.

Os cinco livros do Pentateuco são: O Génesis (livros das origens); o Êxodo


(livro cujo o assunto principal é a saída dos Israelitas no Egipto); o Levítico
( uma colecção de prescrições rituais relativas ao culto público e privado); os
Números (Narrações de permanência dos hebreus no Deserto); e o
Deuteronómio (colecção de discursos e de exortações à fidelidade para com
Deus pela observância dos seus mandamentos)

Considera-se Moisés como o autor do Pentateuco, sem afirmar que ele tenha
composto inteiramente. No actual estado de ciência Bíblica, admite-se
comummente que o fundo antigo da origem mosaico recebeu no decurso
Ficha de apontamento no 1 15

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


dos séculos da historia dos hebreus diversos acréscimos e modificações
particularmente nos textos legislativos dos livro de Levítico e Deuteronómio.

O livro de Génesis

Este contém tradições da mais remota antiguidade. Utilizou-se seu redator


de fontes da origem diversa, as quais por vezes apresentam algumas
divergências. Não se trata de um verdadeiro livro histórico nem tão pouco de
normal normal com finalidade de expor as origens do mundo e da
humanidade.

Este livro encontra-se dividido em duas partes sendo a primeira as origens


propriamente ditas (Gn 1 -11), onde aprofunda a historia dos patriarcas. A
segunda parte começa de (Gn 12-50) sendo esta a aprofundar o ensino pela
história dos patriarcas como Deus colocou em Abraão os primeiros alicerces
da verdadeira aliança não mais com a humanidade inteira, mas sim com um
povo eleito na qual Abraão seria o Pai.

Livro de Êxodo

O livro de Êxodo que significa saída, trata assuntos sobre a libertação do


povo de Deus da servidão no Egipto.

Os hebreus estabelecidos na delta do rio Nilo, depois da morte de José,


tiveram que suportam jugo dos egípcios. Em todo AT vai se tornar o símbolo
do adversário-tipo do povo eleito, o poder terreno que procura contrariar os
planos divinos.

Deus chama Moisés para uma grandiosa missão e revela-se a ele primeiro
na sarça ardente, e torna-se o chefe do povo oprimido e combate guiado
divinamente os poderes do mundo.

Levítico

Ficha de apontamento no 1 16

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


No livro de Levítico a maioria das prescrições rituais do culto mosaico
apresenta apenas um interesse documentário. O livro de Levítico é um
manual redigido para eles de acordo com usos e curtumes já antigos. Este
manual passou por muita transformações, tendo recebido adições depois da
construção do Templo no Século X a.C.

Livro dos Números

O nome Números provem das importantes listas de números e de nomes


contidos nos seus primeiros capítulos. Entende-se como continuação do livro
de Êxodo. Um dos aspectos importante a sublinhar é a divisão do povo
hebreu em 12 tribos ou clãs, divisão essa que permitiu uma vida autónoma,
apenas com uma vaga coesão por participarem das mesmas crenças, do
único culto, da mesma legislação e da fidelidade à mesma aliança religiosa.

Livro de Deuteronómio

Este é um livro essencialmente religioso e judaico. É denominado por


segunda lei e está intimamente ligado a legislação anterior de Moisés, de
onde se seguem uma verdadeira continuidade e uma intima coerência no
desenvolvimento da revelação em Israel,

2.2 Profecias

O povo de Israel tornou-se uma nação que foi libertado da escravidão do


Egipto. Tendo recebido o dom da lei, comprometeram-se a viver uma vida de
obediência a Deus e praticar uma religião que lhe recordava constantemente
sua dependência do perdão e da misericórdia divina.

Nota se que constantemente o povo cometia falhas à sua vocação e às


promessas, cedendo ao culto dos ídolos,á guerra civil, á imoralidade, e á auto
complacência, pelo que era mister que continuamente lhe relembrassem o
sentido da própria existência.

Foi nesse âmbito que Deus suscitou homens para reconduzir o povo a Deus
e recordar-lhes seus caminhos. O relaxamento conduziu o povo no

Ficha de apontamento no 1 17

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


esquecimento. A lei santa e vital de Deus deixou de ser uma força capaz de
modelar os homens e a sociedade.

Vezes há em que a culpa consistia antes demais nada numa inversão de


justas prioridades. Os sacrifícios destinados a expiar as
desobediências,foram considerados em certos períodos da historia
veterotestamentária como um sucedâneo da vida de obediência, como
técnicas rituais aptas aplacar Deus.

Neste contexto, quando a religião da nação se reduzia a esta espécie de


ritualismo imoral, os profetas elevavam se protesto numa perspectiva de
recordar ao povo as verdadeiras prioridades e insistir na exigência primária
de Deus; o povo devia obedecer aos mandamentos de Deus e viver segundo
as normas dadas por Ele.

Foi assim que a profecia foi se constituído no mundo judaico. Nisso ali
encontramos profetas verdadeiros e falsos.

Tomando em conta que o mundo esta cheio de vozes contraditórias, que


pretendem falar com autoridade, as opiniões religiosas são extremamente
variadas e muitas vezes colidem umas as outras; entretanto seus fautores
pretendem todas falar em nome de Deus. Como se pode descobrir onde esta
a vontade de Deus?

Os profetas postos numa situação semelhante à nossa, respondera: Só o


que concorda com as Escrituras pode ser considerado como vontade de
Deus. Dt 13 fala de falso profeta como aquele que convida o povo a seguir
deus estranhos, que propõe a revolta contra Deus, o SENHOR que vos fez
sair da terra do Egipto..., para vos afastar do caminho em que o Senhor teu
Deus te ordenou a caminhar. E outras palavras, a verdade de Deus
expressa por Moisés é o critério pelo qual se deve medir a verdades das
várias opiniões. Jeremias 23:9-22 aplica de modo concreto tal critério.

Os profetas foram portanto pessoas com que Deus estabeleceu um


relacionamento mais intimo. Sua vocação não era hereditária como a dos
sacerdotes. Os profetas foram escolhidos por Deus em ambientes sociais
diversos. Alguns como Jeremias e Jonas se mostraram relutantes,

Ficha de apontamento no 1 18

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


principalmente quando souberam o que Deus pretendia deles, mas depois,
fortes da intimidade com Ele, levaram sua mensagem aos contemporâneos e
a nós.

A mensagem dos profetas

Deus governa a história e chama todos à conversão. Trata se de cinco


temas frequentes que constituem o núcleo do ensinamento dos profetas:
Deus Senhor da História; Estar de acordo com Deus; fundamento moral da
religião e da sociedade; um misto de Juízo e de esperança; e o reino
messiânico.

2.3 Filosofias

No AT existe um livro especifico, menos popular que os outros, mas que


tem seu foco especifico voltado para um olhar filosófico. Trata se do
Eclesiastes sou Qohelet.

Eclesiástes é uma palavra grega que quer dizer algo como "pregador" em
sua raiz tem a palavra Eclesia que significa Igreja o que significa que
Eclesiastes não é um livro especificamente de um autor mas de uma
comunidade.

O ponto principal do livro é a fugacidade e transitoriedade de tudo na vida. A


palavra vaidade é utilizada inúmeras vezes para indicar o quanto o espírito
humano é variável e falível, não possuindo a parte suficiente para perceber
que o fluxo de mudanças captado pelos sentidos é ilusório. Neste ponto , é
impossível não associar as ideias do Eclesiastes com Parmênides e
aposição ao panta rhei de Heráclito. O livro de Eclesiastes é bem mais que
um tratado teológico ou uma obra de filosofia, um testo humano. É um livro
que espelha as referencias de seu tempo. É um livro menos presado pela
filosofia por estar circunscrito ao circulo Teológico

Ficha de apontamento no 1 19

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


2.4 Histórias

As Historias no Antigo Testamento são encontrados nos chamados Livros


Históricos da Bíblia. Estes livros compreendem o registo da Historia do povo
de Israel desde a conquista da Terra Prometida sob liderança de Josué até a
restauração de Jerusalém após o cativeiro Babilônico. Considera-se livros
que a bordam essa Historia os seguintes: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel,
1 e 2 Reis, 1 e 2 Crónicas, Esdras, Neemias e Ester.

Isso significa que a narrativa dos Livros Históricos compreende um período


de centenas de anos. Nesse espaço de tempo, os Livros Históricos também
relatam o início da monarquia em Israel com o reino unificado, depois o reino
dividido, e a queda dos Reino do Norte e do Reino do Sul diante dos impérios
assírio e babilónico respectivamente.

Diferentes grupos dos livros Históricos

O TNK ou Bíblia Hebraica, a dos protestantes apresenta o mesmo numero


de livros históricos embora com uma organização diferente enquanto que a
Bíblia Católica comparadas as Bíblias hebraica, protestante, difere quanto ao
numero, pela inclusão de outros livros históricos cuja sua autenticidade não é
reconhecida ou seja não considerado como inspirados por Deus na tradição
Judaica e pela Igreja Reformada, por exemplo, os livros de Tobias, Judite e 1
e 2 Macabeus.

Apesar das diferenças na organização dos livros históricos entre as Bíblias


cristãs e a Bíblia Hebraica, o conteúdo deles é exatamente o mesmo. Na
verdade a cronologia dos livros do Antigo Testamento conforme apresentada
nas Bíblias cristãs, e que dá origem à organização dos livros por assunto e
característica, é algo mais recente.

Escritores dos livros Históricos

Admite-se a hipótese de que os sobre História do povo de Israel tenham sido


escritos por diversos autores de diferentes épocas, sob a inspiração do

Ficha de apontamento no 1 20

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Espírito de Deus. A maioria desses autores é desconhecida. Os estudiosos
acreditam que a composição individual de cada um dos Livros Históricos
talvez tenha começado muito antes da data de conclusão desses livros. Isso
quer dizer que existe a possibilidade de vários autores terem participado da
composição de um único livro.

Por exemplo: muitos eruditos consideram que os livros de Josué, Juízes,


Samuel, Reis e Rute foram finalizados durante o período do cativeiro
babilônico; embora tenham sido iniciados muito antes desse tempo. Os
estudiosos também acreditam que os livros de Crónicas, Esdras-Neemias e
Ester, foram finalizados após a restauração de Judá do cativeiro na Babilônia.

Alguns nomes são sugeridos como possíveis autores de parte dos Livros
Históricos. A tradição judaica, por exemplo, a credita a autoria dos livros de
Rute, Juízes e Samuel ao profeta Samuel – pelo menos a maior parte do
conteúdo desses livros. Da mesma forma, o Sacerdote Esdras  aparece
como possível autor dos livros de Esdras, Neemias e Crónicas. Apesar de
serem possibilidades plausíveis, já que estamos falando de dois dos mais
notáveis personagens bíblicos, faltam evidências que comprovem essa
informação.

Mensagem central dos livros históricos

Como já foi explicado, os Livros Históricos contam a história do antigo Israel.


Então naturalmente cada livro trata de assuntos e expressa ênfase teológica
que reflete cada período dessa longa história.

Josué, Juízes, Samuel e Reis

Os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis, registaram a história dos israelitas


a partir da conquista de Canaã sob o comando de Josué (Josué 1); e termina
nos tempos do exílio babilônico falando sobre a libertação do rei Jeoaquim da
prisão (2 Reis 25:27-30). Como a sequência desses livros parte do conteúdo
histórico e teológico de Deuteronómio, ela é chamada pelos eruditos de
“História Deuteronomística”.

Ficha de apontamento no 1 21

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Então esses livros falam sobre a conquista da Terra Prometida; o período dos
juízes de Israel; o estabelecimento da monarquia; a divisão do reino; e os
frequentes pecados de Israel (Reino do Norte) e Judá (Reino do Sul). Esses
pecados resultaram no exílio do povo daquela terra; apesar da constante
exortação do Senhor ao arrependimento através do ministério profético.

Crónicas, Esdras e Neemias

Os livros de Crónicas, Esdras e Neemias ,fazem uma abordagem da história


do povo de Deus especialmente focando a restauração de Judá. Os livros de
Crónicas repetem boa parte do conteúdo dos livros de Samuel e Reis, e
destacam o reinado da Casa de David. O segundo livro de Crónicas termina
registando a proclamação de Ciro que permitiu o retorno do primeiro grupo de
judeus exilados à Terra Prometida.

Os livros de Esdras e Neemias falam da restauração do exílio que é


brevemente introduzida em 2 Crónicas. Por isso esses livros avançam até a
restauração de Jerusalém em aproximadamente 400 a.C. Assim, eles falam
da reconstrução do Templo liderada por Zorobabel; da restauração dos
muros de Jerusalém sob a liderança de Neemias; e do trabalho de Esdras na
reforma da vida religiosa do remanescente judeu.

Rute e Ester

Os livros de Rute e Ester registam dois eventos particulares, mas não menos
importantes. Rute conta a história da família de Noemia, e explica a linhagem
do rei David a través de seus ancestrais Rute e Boaz. O Livro de Ester conta
a história do grande livramento do povo de Deus enquanto esteve sob o
domínio persa.

Mas no geral, cada um dos livros históricos registam acontecimentos


importantes para a unidade da narrativa bíblica. Os Livros Históricos são
fundamentais para o correto entendimento acerca do relacionamento de
Deus com o povo da aliança. Além disso, a mensagem dos Livros Históricos
aponta diretamente para a vinda do Messias como o verdadeiro filho de
David no qual se cumprem todas as esperanças acerca de um reino perfeito,
eterno e glorioso.
Ficha de apontamento no 1 22

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Quanto aos livros que foram posteriormente contados entre os Livros
Históricos pela Igreja Católica, eles se concentram no e período
intertestamentário, principalmente no século 2 a.C. com a resistência dos
judeus aos Selêucidas.

2.5 Sabedoria

No Antigo testamento a sabedoria é antes a voz de reflexão e da experiência,


do que a voz do simples comando ou pregação.ela persuade, eventualmente
importuna, mostrando como a ordem do mundo concorda com os
mandamentos dados ela aos homens e como é absurdo contra os princípios
da criação.

A sabedoria assume varias formas. A preferida é a comparação vivaz, às


vezes desenvolvida ate assumir a forma parabólica ou da alegoria.

O termo mashal designa todas essas formas, desde o proverbio ao


sarcasmo. Outra figura literária para introduzir alguém a pensar é a
adivinhação ou uma expressão enigmática. Finalmente, há um nível mais
profundo, há a pesquisa e a reflexão sobre o modo como Deus governa o
mundo e sobre o fim da vida humana.

A sabedoria não esta limitada aos livros agrupados sob este nome como:
Provérbios, Jó, Eclesiastes, mas encontramos um espírito didático de
sabedoria em Salmos1, Isaías 28: 23ss, Jeremias 17:5ss, Oséias 14:9.

Um figura importante que importa referir do ponto de vista dos sábios numa
perspectiva Bíblica, foi o Salomão. Este gozou de maior reputação no âmbito
da sabedoria por causa dos seus dotes pessoais e também pelo facto de ter
patrocinado o estudo e arte.

2.6 Novelas

Ficha de apontamento no 1 23

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Um Outro aspectos que merece ser tratado em relação assunto da Bíblia
no AT é novela. Uma das grandes novelas que encontramos no AT diz
respeito José.

A novela de José relata à primeira vista uma "história" de família, as


vicissitudes ocorridas na vida de Jacó e seus filhos, os conflitos e a
reconciliação entre irmãos, (vede em Gn 37 a Gn 50).

A novela de José constitui "uma unidade com um único arco de tenção" que
se estende de Gn 37 a 50, compreendendo vários episódios intermediários e
momentos retardantes.

Estilo e estrutura

A novela de José apresenta um estilo narrativo amplo, a estrutura clara e


direccionada e sua configuração marcada pela sabedoria, conferem á novela
de José um destaque especial no AT.

Há necessidade de compreender a narrativa , em termos gerais, como uma


grandeza coesa em si no AT.

3. Os livros do Antigo Testamento na visão geral: Bíblias Católicas,


Bíblias Protestante e Livros apócrifos

Nesta lição não se pretende fazer uma analise separado das Bíblias na
versão Católica ou Protestante mas sim tratar de uma forma geral e salientar
ao que diferencia entre elas. Trata-se de duas Bíblias ou escrituras sagradas
uma compilada pela Igreja Católica e outra pela Igreja Reformada ou
protestante.

O Antigo Testamento numa visão geral é constituído por livros canonizados,


isto é que pertencem um cânon. A palavra “Cânon” vem do hebraico - qaneh
e do grego - kânon. Essas duas palavras, em seus sentidos originais,
significavam uma vara ou medida. Assim como uma vara podia ser usada
como padrão de medida, o Cânon bíblico também era um padrão de medida
Ficha de apontamento no 1 24

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


para a fé e a prática dos crentes. Isto era assim porque as pessoas podiam
comparar suas vidas àquilo que era requerido pela Bíblia. Além disso, a
palavra “cânon” também podia ter a conotação de um padrão dentro do qual
os escritos bíblicos deveriam encaixar-se.

Entretanto os livros canonizados pelos Judeus deveria ter sido escrito por
um profeta ou uma pessoa com dom de profecia. Os autores humanos não
poderiam, de forma alguma, saber a vontade de Deus, se não fosse pela
presença do Espírito assistindo-os em seus entendimentos. Era preciso que a
mão do Espírito de Deus estivesse presente no processo de redação. Sua
presença asseguraria que o produto final fosse a verdade de Deus e que
comunicasse fielmente a mensagem de Deus.

Entre a Igreja Católica e Igrejas Protestantes existe livros são ambos


regidos pelas escrituras sagradas, mas encontramos um entretanto em que
alguns escritos na Bíblia católica são refutados pela Igreja Protestante.

3.1 Bíblias Católicas

Numa visão geral, nas Bíblias Católicas, o AT está constituído por 46 livros,
destes por sua vez subdivididas de acordo com conteúdos dos livros, e estão
agrupados de seguinte forma: Livros da lei, também chamados Pentateuco;
Livros históricos; Livros didático; e livros proféticos. Nestes 46 livros estão
adicionado 7 livros os quais tornaram motivos de discussão que culmina com
a edição da Bíblia Protestante.

Os 7 livros referidos formaram os chamados apócrifos cuja a sua relação


nominal iremos debruçar de forma específica.

3.2 Bíblias Protestantes

Nas edições protestantes, na Bíblia encontramos diferença na quantidade de


livros que compõe o Antigo Testamento. Enquanto as edições católicas
apresentam 46 livros, as protestantes 39.

Ficha de apontamento no 1 25

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Esta diferença regista-se a partir do Século XIV com a Reforma onde os
protestantes renegaram o Magistério da Igreja Católica alegando ser uma
Igreja corrompida. Sendo assim empreenderam um grande esforço
arqueológico para recuperar a Chamada Igreja primitiva.

Neste movimento, os reformistas descobriram que o povo judeu possuía


uma lista diferente de livros sagrados, e que a edição católica tinha a mais 7
livros sagrados do que os encontrados na pesquisa arqueológica. Esses
Sete livros que marcam a diferença, foram rejeitados pelos protestantes e
chamaram de apócrifos.

3.3 Os Livros Apócrifos do Antigo Testamento

O uso do termo "apócrifo" com o sentido de "não canónico" data do século V


d.C., quando Jerónimo exortou que os livros encontrados na Septuaginta e
nas Bíblias em latim e que não estivessem no cânon dos escritos do Antigo
Testamento deveriam ser tratados como apócrifos.

O termo apócrifos - significa obra ou fato sem autenticidade, ou cuja


autenticidade não se provou – e, em hebraico, estes livros são chamados de
– hissonim – externos ou heréticos.

Não eram para ser desconsiderados inteiramente, visto que faziam parte da
grande efusão contemporânea da literatura nacional judaica. Ao mesmo
tempo, não deveriam ser usadas como fontes para doutrinas cristãs, e sim,
na melhor das hipóteses, como leituras suplementares de elevação espiritual
ou natureza inspirativo.

Os livros apócrifos foram considerados pelos judeus como estando


especificamente "fora do cânon" e pejorativamente denominados por
apócrifos, são: 1 Esdras, 2 Esdras, Tobias, Judite, os acréscimos a Ester,
Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, a Epístola de Jeremias, os
acréscimos ao livro de Daniel (Oração de Azarias, Cântico dos Três Jovens,
História de Susana e História de Bel e o Dragão), a Oração de Manassés, 1

Ficha de apontamento no 1 26

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Macabeus e 2 Macabeus. Diversos manuscritos da Septuaginta incluíam
material pseudo-histórico sob os títulos de 3 e 4 Macabeus. Assim, até
mesmo entre os livros apócrifos havia alguma variação em termos de
conteúdo, dependendo da tradição do manuscrito que se seguisse. Entre os
antigos eruditos cristãos também havia alguma diferença de opinião acerca
dos limites precisos da Escritura canónica hebraica e, por conseguinte, do
material apócrifo. Houve uma séria ruptura entre a tradição hebraica e a
rabínica, causada pelos escritos de Agostinho, que promovia a interpretação
de que os livros apócrifos tinham a mesma autoridade que os outros escritos
das Escrituras canónicas hebraicas e cristãs. Alguns intérpretes dissidentes
ergueram-se em apoio à posição de Jerónimo, mas as interpretações de
Agostinho foram adotadas pelo Concilio de Trento (1546) e tornaram se
ensinamentos oficiais do catolicismo. O livro chamado 1 Esdras parece ser
uma compilação de material histórico extraído de diversas partes do Antigo
Testamento, notadamente de Crónicas, Esdras e Neemias. Inclui uma
interpolação interessante, o Debate dos Três Soldados (1 Esdras 3.1—5.6),
no qual a supremacia da verdade é demonstrada por alguns infelizes erros e
inconsistências históricas encontradas no livro, em nítido contraste com a
exatidão das fontes canônicas nas quais o compilador de 1 Esdras se
baseou. O livro chamado 2 Esdras consiste mormente em um Apocalipse
judaico, no qual Esdras, em uma série de visões, lamenta a situação difícil do
Israel exilado e procura por uma figura messiânica que restaure a nação à
sua glória anterior.

O livro de Tobias é uma mistura de folclore e romance, escrito talvez em


cerca de 200 a.C. Obviamente pretendia instruir os judeus sobre as atitudes
apropriadas relacionadas à piedade voltada a Deus. O próprio Tobias é
retratado como resoluto no sofrimento e um exemplo a seus companheiros
em assuntos de caridade, justiça, moralidade e obrigações religiosas. Assim
como acontece com 1 Esdras, o livro contém erros históricos e geográficos.

O livro de Judite narra a maneira como uma mulher judaica empreendedora


mata um líder inimigo e salva o seu povo. Entretanto, é inverossímil que a
narrativa tenha sido baseada em fatos históricos. Também está marcada por
erros cronológicos e de outros tipos.
Ficha de apontamento no 1 27

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


Os acréscimos ao livro de Ester compreendem as seguintes secções: o
sonho de Mardoqueu, o edito de Assuero contra os judeus, as orações de
Mardoqueu e Ester, Ester diante do rei, o edito de Assuero em favor dos
judeus e um epílogo.

Essas secções foram projetadas para serem intercaladas no texto do livro


canónico. E provável que tenham sido escritas originalmente em grego.

Sabedoria de Salomão, compilado talvez em cerca de 100 a.C., apresenta


uma elaboração dos ensinamentos acerca da sabedoria encontrada em
Provérbios e Eclesiástes. Contudo, sua essência doutrinária é
consideravelmente mais próxima do pensamento grego que do hebraico. O
livro era extensamente lido na primitiva era cristã.

Eclesiástico, também chamado de Sabedoria de Jesus, filho de Siraque, era


grandemente estimado tanto por judeus quanto por cristãos. O autor era um
escriba que desejava dar uma forma mais permanente aos seus ensinos,
pelo que utilizou como modelo o livro canônico de Provérbios. Suas
instruções mantêm-se estritamente fiéis à ortodoxia judaica, ainda que o
autor mostre tendências ao pensamento saduceu.

O livro foi escrito provavelmente em cerca de 180 a.C. Baruque extrai


abundante material de certos profetas e sábios do Antigo Testamento e está
na forma de discurso enviado expressamente aos exilados judeus na
Babilônia.

Seus temas principais são o pecado, o castigo e o perdão de Israel. A


Epístola de Jeremias, documento supostamente enviado aos judeus que
estavam a ponto de serem levados cativos para a Babilônia, é na realidade
um tratado religioso condenando a idolatria.

Os acréscimos ao livro de Daniel compõem-se de três secções


suplementares alheias ao hebraico e ao aramaico da obra canônica. A
Oração de Azarias, a qual reconhece a justiça divina do cativeiro babilônico,
é seguida pelo Cântico dos Três Jovens, quando foram libertos da morte na
fornalha de fogo ardente. A História de Susana mostra como Daniel salva da
morte uma mulher inocente. Este relato parece ter sido baseado em um conto

Ficha de apontamento no 1 28

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


popular babilônico. A história de Bel e o Dragão contém duas narrativas que
ridicularizam a idolatria e mostram a falta de poder dos deuses babilónicos.

A Oração de Manassés consiste em um curto salmo penitencial, que


representa o suposto pedido do rei pela misericórdia divina durante um
período de aprisionamento na Babilônia (compare 2 Cr 33.10-13).

Evidentemente, 1 Macabeus (de modo muito semelhante a Crónicas) foi


escrito com o propósito de registar uma história "espiritual" da nação de
Israel, à exceção que trata exclusivamente do período dos Macabeus. E
baseado em algumas fontes literárias genuínas, embora a autenticidade de
determinados trechos da obra seja questionável. Enquanto que 1 Macabeus
procura apresentar uma narrativa razoavelmente objetiva dos hasmoneus, 2
Macabeus consta de um sumário retórico de uma obra consideravelmente
maior a respeito dos assuntos vigentes na era dos Macabeus. li ainda mais
teologicamente orientado do que 1 Macabeus e contém diversos erros
cronológicos, bem como outras contradições efectivas.

Os livros apócrifos do Antigo Testamento retratam graficamente as condições


dos tenebrosos dias em vigor antes do nascimento de Jesus. Infelizmente,
conflitos militares, políticos e ideológicos faziam parte da vida judaica até
que, no século II d.C., a resistência ao governo romano chegou ao fim. Houve
ocasiões, como no período dos Macabeus, em que se obteve uma pequena
trégua das pressões militares e religiosas pagãs. Contudo, de modo geral, o
judeu ortodoxo era uma figura sitiada em sua própria terra. Um povo calejado
por sucessivas atrocidades e pelas omnipresentes tropas — primeiro
egípcias, depois sírias e finalmente romanas — somente encontraria uma
verdadeira liberdade nas promessas messiânicas de sua literatura nacional.
Em todo caso, a libertação da nação só se daria em um futuro um tanto
distante. Por enquanto, estando os judeus em luta contra as influências
políticas e religiosas de outras nações, tinham de se contentar com histórias
de heroísmo e abnegação em tempos de guerra, bravura diante da
perseguição, resolução na derrota e a expectativa de uma época de
prosperidade florescente, como descrita em alguns dos escritos
apocalípticos.

Ficha de apontamento no 1 29

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


4. Comparação entre as Bíblias Católicas e Protestantes

Os vinte e quatro livros da Bíblia Hebraica são ordenados em uma ordem


diferente pela Septuaginta (LXX), que classificou-os de acordo com o seu
género literário e não de acordo com a sua aceitação no cânone, conforme o
costume judaico. Além deste fato, os tradutores ou compiladores da LXX
incluíram vários livros que não tiveram aceitação no cânone hebraico. Entres
estes podemos citar os seguintes livros ou adições aos livros canónicos:
Judith, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus,
Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 Esdras (versão apócrifa do livro canônico
de Esdras), Salmos de Salomão, Odes, Ester em sua versão grega,
acréscimos gregos ao livro canônico de Ester, Epístola de Jeremias,
acréscimos gregos ao livro canônico de Daniel contando as histórias de
Suzana e de Bel e o dragão. Alguns destes escritos ou foram compostos
diretamente em grego, tais como 2 Macabeus e Ester, na versão grega, ou
tiveram seu original hebraico perdido, tais como Tobias, 1 Macabeus, Judith e
Eclesiástico.

Posteriormente, alguns destes livros foram aceites no cânone da Bíblia


católica romana de forma definitiva em 1546, e são chamados de
deuterocanónicos pelos católicos ou de apócrifos pelos protestantes e pelos
judeus.

Em geral, os teólogos protestantes seguem a tradição estabelecida por


Jerónimo, considerando que os livros apócrifos do Antigo Testamento são o
excesso do cânon da Septuaginta em comparação com as Escrituras
hebraicas.

Quando a Bíblia hebraica começou a ser traduzida para o grego durante o


reinado de Ptolomeu II (285-246 a.C.), no Egito, os eruditos envolvidos na
tarefa incluíram vários livros que, porquanto ficassem de fora da lista
geralmente aceita dos escritos canónicos hebraicos, ainda tinham um
significado na história e na sociedade judaicas. Esse procedimento retratava
a atitude vigente na Palestina onde, como mostram os rolos do mar Morto,
houve poucas tentativas sérias para separar os escritos canónicos das outras
Ficha de apontamento no 1 30

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face


formas de literatura religiosa. A decisão tomada pelas autoridades judaicas
acerca do que reputar como Escritura canônica naturalmente teve relação
com o que constituiria os livros apócrifos do Antigo Testamento.

Evidências textuais apresentadas por certos manuscritos e fragmentos


encontrados nas cavernas do mar Morto tornam razoavelmente certo que os
últimos escritos canónicos hebraicos foram completados várias décadas
antes do tempo em que Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), começou suas
conquistas no Oriente Próximo. O mais demorado foi o processo pelo qual
essas composições vieram a ser aceitas como canônicas. Somente após
difundidas, lidas e avaliadas favoravelmente em comparação com a
espiritualidade da Torá é que lhes foi conferida canonicidade geral. Assim, a
distinçãoção entre os escritos canónicos e os apócrifos foi estabelecida tanto
através do uso e do consenso geral por parte do judaísmo ortodoxo como
também de outras maneiras. Eruditos próximos aos nossos dias sugeriram
que o assim chamado "Concilio de Jâmnia", realizado na Palestina, por volta
de 100 d.C., foi responsável pela preparação de uma lista de livros do Antigo
Testamento apropriados para uso entre os fiéis. Entretanto, estudos
subsequentes lançaram consideráveis dúvidas sobre a historicidade de tal
concilio, ao mesmo tempo que revelaram que as autoridades judaicas
daquele período consideravam seus escritos não-canônicos mais como um
obstáculo.

Ficha de apontamento no 1 31

Preparado por Isaías Filipe Machegane Face

Você também pode gostar