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PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O RESGATE DE VALORES MORAIS

E CÍVICOS NA DISCIPLINA DE EMC: UMA CONTRIBUIÇÃO À MELHORIA


DO PROGRAMA DE ENSINO DA 9ª CLASSE NO COMPLEXO ESCOLAR
Nº116-EMACULADA CONCEIÇÃO-LUBANGO

1.1. Conceitos

Noção de Valor

Uma abordagem sobre a problemática do resgate dos valores morais e cívicos


na perspectiva da educação, fundamentalmente, no que respeita a forma como
esta última deve contribuir para o tão propalado resgate afigura-se uma tarefa
não muito fácil pela transversalidade do tema, porém não irrealizável.

Contudo, é imprescindível compreender os conceitos que constituem a


amálgama do tema, designadamente, valor, moral, civismo, ética e outros afins,
pois, se atender-se o facto da abordagem dos mesmos serem interdisciplinar,
faz-se necessário limitá-los na perspectiva da linha que conforma o objecto
deste estudo.

A noção que se pode ter de valor é bastante abrangente, pela complexidade do


seu carácter, e porque constitui objecto de estudo de diferentes domínios do
saber, entre os quais a própria Filosofia, através da sua vertente ética e
axiológica e ainda a Sociologia, Psicologia, a Pedagogia, Economia, entre
outras. É por esse motivo que Soquia (2018: 57), fez essa contundente
admiração: «a palavra valor, à primeira vista, parece ser muito clara e óbvia
quanto ao seu significado. Mas, depois de uma consideração mais atenta, pode
resultar difícil definí-la».

Nesta esteira, Hilemusinda (2019) alude que «normalmente, quando se fala de


valor, entende-se a preciosidade duma coisa, duma pessoa, de uma acção, de
uma atitude. Tudo aquilo que constitui objecto de apreço, digno de estima,
chama-se valor» (p.36).

Fazendo jus ao que acima foi realçado Hilemusinda (2019) comenta e confirma
igualmente que a palavra valor pode ter vários significados, conforme o
contexto em que for empregue, que podem ser filosóficos e morais económico,
sociológico, cultural, religioso, etc. o autor realça que além dos significados já
assinalados pode-se ainda apontar: «[…] reputação, talento, prestígio,
merecimento, valentia, coragem, preciosidade de uma coisa, conjunto de
normas - morais e éticas, etc.»(p.36).

Por outro lado, é importante afirmar que os valores são intrínsecos às


sociedades, pois não existem culturas, nem sociedades despidas destes, pois
são os valores que orientam as acções e os comportamentos dos membros
que a sociedade

Noutro ângulo ainda, é imprescindível salientar que não há valores que não
resultem da história do Homem, é por isso que caminham com ele, no seu
processo evolutivo, de geração em geração, sendo que estão intimamente
ligados ao processo histórico e cultural de um povo e visam, em cada tempo e
espaço, expressar o seu modus vivendi sobre aquilo que acha das coisas (Lau,
2005).

Tendo como ponto de partida o que acima foi reflectido, pode se afirmar que a
discussão em torno do conceito em análise, bem como da sua problemática,
funda-se naquilo que se denomina Axiologia, termo que deriva do grego axia,
que significa “valor trata-se de uma discussão histórica, pois que ela já vem de
muito tempo pelo que não há um só, mas muitos sentidos para o referido termo
(Georgen, 2005 citado por Almeida, 2013).

Na sequência deste intróito uma questão se coloca. Afinal o que são valores,
que tipos de valores existem, como podem ser classificados. Estas indagações,
apesar de terem razão de ser, as suas respostas não podem ser encontradas
de forma leviana, dada a transversalidade que a discussão do conceito
encerra. Contudo, é possível encontrar-se alguma respostas entre os autores
consultados, embora nem sempre consensuais, o que é de resto, normal no
domínio das ciências sociais e humanas.

Assim, tendo em consideração ao que acima foi referido, pode-se encontrar em


Jamba (2011) uma noção do termo em análise, a partir da sua origem
etimológica. No entendimento do citado autor, valor é uma palavra de origem
Latina; «valoris», que significa: «aquilo que uma coisa vale; qualidade de uma
coisa fundada sobre a utilidade» (p.13).
Por seu turno Cechinel (2018) define valores como conceitos ou ideias
(verdade, justiça), objectos (ouro, dinheiro) ou relações (igualdade,
fraternidade) que servem de baliza para as nossas acções.

No mesmo ângulo de visão, e apoiando-se na enciclopédia da Filosofia


Contemporânea, Ndala () define valores humanos como sendo as
determinações sociais dos objectos circundantes que põem de manifesto a sua
significação positiva ou negativa para o homem e a sociedade.

De acordo com (Lau, 2005) valor é uma qualidade atribuída a uma coisa, a
partir da avaliação ou juízo de valor feito sobre ela, que pode ser positivo ou
negativo.

Já para Fabelo (1996 citado por (Ndala) "o valor humano é a significação
essencialmente positiva que possuem os fenómenos e os objectos da
realidade, não é qualquer significação, senão aquela que joga um papel
positivo no desenvolvimento da sociedade.

Por seu turno Pais (1999) define valor como tudo aquilo que uma ou mais
pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e
desenvolvido. O autor consolida a sua ideia asseverando que o valor não é
simplesmente uma preferência, mas uma preferência que se crê e/ou se
considera justificada — quer seja moralmente como fruto de um raciocínio,
quer como consequência de juízo estético.

Como se pode notar, mesmo a partir da etimologia do termo analisado,


conseguir-se obter um conceito acabado de valor não é fácil, daí a necessidade
de se limitar o âmbito da abordagem. Contudo, é possível aferir que mesmo
sendo, o termo, visto como ideias, como objecto ou relações ou seja,
independentemente da forma como o termo é visto, uma coisa é certa, os
valores servem como balizas que orientam as acções humanas.

A afirmação acima encontra fundamento no facto de que valor é uma qualidade


encontrada nos objectos e não só, podendo ser negativo ou positivo. Vimos
também que valor é uma significação fundamentalmente positiva, ou seja, as
pessoas vivendo em sociedade, tendem a perpetuar valores sólidos que
sirvam, de facto, de linhas mestras para guiar o futuro das novas gerações.
Por outro lado, é preciso também levar em consideração que na definição do
termo em análise dois sentidos concorrerem para esta compreensão,
designadamente o sentido objectivo e o subjectivo. Hilemusinda (2019)
esclarece os dois ângulos do termo. Assim, em sentido objectivo, entende-se
por valor aquele carácter das coisas pelo qual são dignas de apreço e de
estima, ao passo que em sentido subjectivo, é aquele carácter das coisas pelo
qual são estimadas por um sujeito ou por um grupo de determinados sujeitos.

Ainda nesta esteira, de acordo com entendimento de Jamba (2011) a dimensão


objectiva considera os valores como metas, objectivos, fins que apontam a
conduta humana. Já a dimensão subjectiva diz respeito ao facto dos valores
estarem «[…] intimamente ligados às motivações e aos desejos, dependendo
da energia emocional e sentimental que impulsiona as acções» (p.14).

Ainda na senda do que acima foi dito Lau (2005) complementa que o valor tem
um sentido objectivo porque não é possível valorizar algo que não existe de
facto, ou seja, que tenha uma existência real. O citado autor avança como
exemplo, um carro que só é útil porque traz consigo a sua utilidade, neste caso,
o valor do carro para o Homem.

Já no que se refere ao sentido subjectivo, o autor que vimos citando explica


que o homem, no uso das suas faculdades psíquicas, estabelece o valor de
cada coisa, sendo, por isso que é possível encontrar-se situações da vida real
em que um mesmo objecto seja considerado belo para alguém e feio para
outro (Lau, 2005).

Como se pode notar, a partir do que acima foi aludido, valor pode então
assumir duas dimensões, a objectiva e a subjectiva. Contudo, Jamba (2011) a
respeito desta distinção, faz uma importante observação que deve ser levado
em consideração, quando refere que independentemente das duas dimensões,
é preciso ter-se em atenção que nenhuma dimensão reduz a outra, ou seja, a
subjectividade do valor não anula a sua objectividade, mas sim completa-a.
Assim, na base desta visão, o citado autor explica que apreciar um valor
somente na dimensão subjectiva é subestimar tal valor.
Uma outra consideração a ter-se em conta, quando se analisa o conceito de
valor, assenta nas suas características. Deste nodo, um valor pode ser positivo
ou negativo. A primeira característica agrupa consigo todas as qualidades
positivas que devem ser atribuídas aos objectos independentemente da área
desse objecto. por exemplo a verdade, o bem, a paz, a alegria, o belo ou o
bonito, o agradável, o útil, etc, ao passo que a característica negativa
determina as qualidades de tipo desagradável que se atribuem às coisas: falsa,
mentirosa, maldosa, azeda, amarga, feia, conflituosa, inútil, não agradável, etc.
portanto, em síntese, pode afirmar-se que o valor de um objecto será positivo
quando agrada aos sentidos e ao espírito e negativo quando não causa uma
harmonia agradável (Lau, 2005).

Por fim, importa pontuar que a par do tipo e característica, os valores também
comportam diferentes classificações. Nesta óptica, segundo Ndala () o valor
pode ser ético-cognoscitivo, ético-morais, estéticos, económicos, sócio-
políticos e religiosos (Ndala)" (17).

Uma outra classificação mais elucidativa é a que nos apresenta Lau (2005)
apoiando-se na filosofia dos valores, este autor classifica os valores em dois
grupos básicos, designadamente: o dos valores de ordem material, estes que
por sua vez integram os valores utilitários, estéticos, simbólicos, económicos e
alguns de âmbito social, etc e o grupo dos valores de ordem espiritual ou ideal
que integra os valores: éticos, religiosos, etc. por seu turno, os valores éticos
se prendem às qualidades morais do comportamento humano: o bem e o mal,
a verdade e a falsidade, o ódio, etc.

Por fim, Hilemusinda (2019) classifica os valores em: valores humanos; valores
morais; valores cívicos e sociais; valores culturais; valores patrióticos; valores
filantrópicos; valores familiares; valores educativos; valores religiosos e valores
patrióticos.

De igual modo, nesta reflexão sobre os valores, é preciso ter-se em


consideração o caracter transitório destes, pelo facto de não serem eternos,
mas, são acima de tudo, históricos e culturais, pois mudam com o tempo e
porque as pessoas mudam, na medida em que mudam os seus interesses
(Passos, 2004, citado por Siqueira, 2010: 10).
É também importante sublinhar que é a consciência humana que forma o valor,
isto a partir da vivência que estabelece com as coisas. Deste modo, é lógico
salientar que para a formação do valor, três elementos se destacam,
designadamente a vivência com objecto; a ideia desse objecto e a qualidade
em si a ser atribuída ao objecto (Lau, 2005).

Finalmente é preciso considerar, nesta análise em torno da compreensão do


termo do conceito em pauta que este comanda, sem dúvidas, as nossas
acções, os nossos comportamentos. Neste sentido, pode-se frisar que o valor é
a força, energia, que reside nas coisas ou seres e que as orienta para um fim
positivo ou negativo. Daí, tal como já foi devidamente ressaltado acima, a
existência de valores positivos e negativos (Jamba, 2011).

Ainda na senda desta reflexão Cechinel (2018) e Oliveira (2012) concordam


com o que acima foi sublinhado sobre o caracter central dos valores na
condução das acções humanas ao comentar que deles dependem os nossos
comportamentos, na medida em que são incentivados ou reprimidos. Orientam
as nossas acções e servem como bússolas que indicam o caminho para
escolhas mais sustentáveis ou menos sustentáveis. Como exemplo o quando
uma pessoa faz do dinheiro um valor, todas as suas decisões vão certamente
girar em torno do dinheiro.

Moral

Muitas vezes, toma-se conhecimento de movimentos de luta contra a fome.


Fica-se a saber que, pelo mundo fora milhares de pessoas, sobretudo crianças
e velhos, morrem de penúria alimentar e sentimos, por isso, piedade. Por outro
lado sentimos indignação diante de tamanha injustiça, especialmente quando
vemos o desperdício dos que não têm fome e vivem na abundância (Chaui,
2000).

Algumas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma


emoção forte, tais como o medo, orgulho, ambição, vaidade, até mesmo a
covardia, fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso,
culpa. Outras vezes, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa
cujas palavras e acções manifestam honestidade, honradez, espírito de justiça,
altruísmo, mesmo quando tudo isso lhe custa sacrifícios (Chaui, 2000: 429).

Na exposição acima, pode-se constatar que quando as pessoas nas relações


que estabelecem entre si na sociedade, vezes há que são confrontadas com
situações, com factos da vida real em que são obrigadas a tomar algum
posicionamento, que pode ser de repulsa ou de aceitação, para esses e outros
casos, as pessoas exprimem sentimentos que a cientista Chaui (2000) chamou
de senso moral.

No final desta pequena reflexão chama-nos atenção um conceito muito


difundido e discutido. – moral. Hoje fala-se muito da perda dos valores morais e
da necessidade do seu resgate. Hilemusinda (2019) fala da perda, por parte
dos angolanos, em geral, dos valores humanos onde inclui já os valores
morais. Mais então o que venha a ser a moral.

De acordo com Jamba (2016) a moral é uma palavra vinda do latim: «mos;
moais», com significado de «modo de proceder», «costumes»,
«procedimento», «comportamento» que significa: hábito, igual a moral, ou seja,
moral igual a hábito, isto por que na percepção do citado autor o hábito
normalmente surge e é sustentado por uma obrigação, regra, norma ou lei.
Assim, quando o indivíduo por força da lei, norma, ou uma regra quer seja
objectiva como subjectiva, se sente impelido a proceder de uma e não de outra
maneira, com o decurso do tempo, esta prática se torna um hábito.

Não muito distanciado da anterior opinião Hilemusinda (2019) refere que


etimologicamente, o termo moral tem origem no latim, morales, cujo significado
é relativo aos costumes. Neste sentido, moral é definido como «conjunto de
regras adquiridas, através da cultura, da educação, da tradição e do quotidiano
e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade» (p.83).

De acordo com Cunha (2015 citado por Cechinel, 2018) também confirma que
o termo “Moral” deriva do Latim Mores, que significa “costume”. Ou seja, aquilo
que se consolidou ou se cristalizou como sendo verdadeiro do ponto de vista
da acção.
A moral é um facto social porque se institui entre os homens nas relações que
estabelecem entre si ao longo do desenvolvimento cada sociedade. É com
justa razão que a filósofa Chaui (2000) considerou que

cada cultura e cada sociedade instituí uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e
ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus

membros. Salienta ainda que a Moral é fruto do padrão cultural vigente e


incorpora as regras eleitas como necessárias ao convívio entre os membros
dessa sociedade, regras estas determinadas pela própria sociedade. Para o
autor, Moral define o modo de ser das pessoas, transmite regras, conceitos,
valores a serem seguidos ou não. Esses conceitos são adquiridos por meio da
convivência com os outros nas relações diárias.

Ainda relativamente ao seu surgimento, a moral na sociedade, Vázquez (1999


citado por Cechinel, 2018) refere que este ocorre devido a necessidade de se
conviver em grupo, pois o homem precisa de regras que digam o que é bom ou
mal para a coletividade. É nesta perspectiva que, de acordo com o citado autor
a Moral é considerada um fato histórico, mutável com o tempo. Contudo,
segundo salienta o autor, a sua origem se situa fora da história, partindo de três
direções fundamentais:

- A primeira teria o divino como referência. De acordo com esta perspectiva,


seria Deus que com o poder sobre o homem estaria não sujeito a Moral, mas
acima dela.

- A segunda explicação refere que a Moral vem da natureza do homem, faz


parte da sua biologia natural.

- já na terceira e última concepção o autor indica que o homem é um ser


abstrato, irreal, sendo a origem e fonte da Moral, que permanece e dura
através das mudanças históricas e sociais (Cechinel, 2018).

Moral- Conjunto de costumes, crenças, valores e normas de uma pessoa ou


grupo social, que funciona como um guia para o trabalho, ou seja, que orienta
sobre o bem ou mal - certo ou errado - de uma ação. brasil
Fernando Savater, citado por Jamba (2011) Moral é o conjunto de condutas e
normas que as pessoas costumam aceitar como validas, é um conjunto de
hábitos e costumes assentes em valores objectivos, isto é, valores universais
ou absolutos; é uma forma habitual de proceder de acordo a lei natural; É agir
com base na orientação da consciência).

a moral e um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que


regulam a conduta individual e social dos homens” (p. 61). E a segunda
acrescenta: A moral é um sistema de normas, princípio e valores, de acordo
com a qual se regulam as relações mútuas entre os indivíduos, ou entre eles e
a comunidade, de tal maneira que ditas normas, que têm um caráter histórico e
social, se acatem livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de
modo mecânico, exterior ou impessoal (Vazquez, 81: 2005)

Tudo aquilo que desperta nas pessoas repúdio ou interesse, impedindo-as de


ficar indiferentes (Siqueira, 2010: 5).

que exprime um conjunto de princípios pessoais que nos levam para uma auto
– realização, dito doutro modo, esta característica têm a ver com o bem-estar,
não só do ponto de vista físico, mas sobretudo psicológico e social (Jamba).

Para Cunha (2015) a Moral é constituída pelos valores previamente


estabelecidos e comportamentos socialmente aceitos e passíveis de serem
questionados pela Ética em busca de uma condição mais justa. É possível uma
ação Moral ou imoral sem qualquer reflexão Ética, assim como é possível uma
reflexão Ética acompanhada de uma ação imoral ou amoral. Basicamente, nas
palavras do autor, quando se trata de Moral, o que é certo e errado depende do
lugar e do tempo onde se está (CECHINEL, 2018).

a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões


e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às
relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como
parte de nossa vida intersubjetiva. (Chaui, 2000: 429).

Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que
são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os
juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor -
avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas
artes, na política, na religião. Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações,
experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e
decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis (Chaui, 2000: 429).

Assim, a moral é entendida como o próprio conjunto de crenças, regras e


princípios que foram socialmente construídos e orientam a conduta humana, ou
seja, diz respeito aos comportamentos e o que é considerado como bom ou
justo de determinada sociedade, em um momento específico da história. É
necessário salientar o caráter histórico da moral. Em diferentes tempos,
valorizamos determinados valores e atitudes que se modificam, assim como
muda a sociedade em que vivemos. Portanto, a moral é entendida como um
conjunto de princípios e valores que são transmitidos de uma geração para
outra. De tal modo, a vivência moral é uma experiência comum a todos os
seres humanos e está presente em todas as dimensões da vida social, pois
não existe uma cultura sem moral, isto é, sem definições de tipos de condutas
esperadas como certo/errado, ou bom/ruim, ou, ainda, de regras que devem
ser seguidas (Silva, 2013).

a consciência moral referem-se a valores tais como a justiça, honra, espírito de


sacrifício, integridade, generosidade; a sentimentos provocados pelos valores
designadamente: admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento, cólera,
amor, dúvida, medo e a decisões que conduzem a acções com consequências
para nós e para os outros (Chaui, 2000: 429).

Valores Morais: são uma gama de virtudes que a pessoa capta e/ou descobre
de forma consciente ou inconsciente e se manifestam na sua conduta: o amor
a compaixão, a justiça, a misericórdia, a hospitalidade, o respeito, a
responsabilidade, a liberdade.( (Jamba).17).

Pe. António Gomes Barbosa, os valores morais possuem duas características.


o dever ser; que se traduz em normas morais obrigatórias orientadas para dois
pólos: concreção jurídico-política que possui uma dimensão global obrigatória,
ou seja, este primeiro tem a ver com questões de justiça e critério de valoração
1.2. Diferentes abordagens sobre os valores morais e cívicos;
1.2.1. Valores morais e cívicos

Na secção anterior foram discutidos alguns conceitos, designadamente, valores


e moral cuja percepção pode ajudar a encontrar a noção de Valores Morais e
cívicos, um conceito central deste estudo.

Importa ainda lembrar que na anterior abordagem ficou-se com a noção de que
valor é uma qualidade que a pessoa atribuí a uma coisa, a partir da avaliação
feita sobre ela, podendo esta qualidade ser positiva ou negativa.

Viu-se também que a Moral é um conjunto de normas, regras, hábitos,


costumes que visa regular de forma harmoniosa a convivência entre as
pessoas numa determinada sociedade, sendo que ela define o modo de ser
das pessoas, transmite regras, conceitos e valores a serem seguidos ou não.

Com estas noções entende-se que estão reunidas as condições para uma
outra abordagem em torno do conceito central que acima aludimos - os valores
morais e cívicos. Contudo, para que este exercício seja considerado, de algum
modo, completo é necessário proceder-se, ainda que em curtas linhas, ao
levantamento daquilo que se pode perceber por cívica ou civismo.

Neste sentido, é possível adiantar-se, desde logo, por clarificar que a palavra
Cívica (o) quer dizer de cada cidadão ou relativo aos cidadãos, como membros
da Nação; respeitante ao bem público; que diz respeito ao bem comum
(Soquia, 2018).

Deste modo pode-se então afirmar que cívica provém do conceito de cidadão.
Por seu turno, um cidadão será uma pessoa que se considera numa fase
madura e suficientemente desenvolvido para agir de forma consciente e
responsável dentro da sociedade. Entretanto, é importante deixar claro que
normalmente as crianças e adolescentes ficam fora dessa categoria.

Então, cívico será tudo o que tenha a ver com os cuidados e com o ambiente
da cidade1. Este termo, por seu turno também nos remete ao conceito de
civismo relativo dedicação do cidadão pelo interesse público. Trata-se de
1
Idem
comportamento demonstrativo de respeito pelos valores da sociedade e pelas
suas instituições (Soquia, 2018).

Hilemusinda (2019) esclarece que o termo civismo é usado quando se quer


referir as atitudes e comportamentos através dos quais os membros das
sociedades manifestam no quotidiano, na convivência, na defesa e protecção
valores que regem a vida colectiva visando a preservação da sua harmonia e
bem-estar de todos. Assim sendo, ainda de acordo com o autor, o civismo diz
respeito à defesa dos valores de um grupo organizado, de uma sociedade, de
uma instituição, de um país.

Assim, este respeito, este comportamento configura aquilo que se pode


resumir como actos de cidadania, termo que segundo Maria (2016) «pressupõe
a observância de certos direitos e deveres, para a possibilidade de uma vida
em sociedade, sendo que o Estado tem um papel preponderante na sua
prossecução mas o individuo é detentor formal de direitos de participação
pública, como efectivo legislador.

Compreende-se por isso quando Maria (2916) refere que é suposto o Estado
ter como finalidade a realização do bem comum dos seus cidadãos,
promovendo o seu crescimento material e espiritual. Mas de acordo com o
autor a satisfação deste desiderato, não depende única exclusivamente do
Estado, cada cidadão deve exercer também o seu papel individual e
colectivamente. E uma das formas que corporiza esse exercício, é, sem dúvida,
a observância prática dos valores morais, o usufruto dos direitos e o
cumprimento dos deveres para com o trabalho, a família, o Estado e outros
entes socialmente aceites

É na senda do que foi dito acima, e numa perspectiva não muito longe, que o
termo cívica é entendido como um adjectivo utilizado para referir-se à várias
questões relacionadas com o civismo ou convivência social dentro de uma
comunidade. Normalmente é usado para adjectivar alguns tipos de pauta
(pautas cívicas) de comportamento, assim como certos tipos de conhecimento
que estão dentro de uma disciplina escolar conhecida como educação cívica ou
instrução cívica2.

Por outras palavras, civismo pressupõe que o homem é um cidadão e como tal
usufrui de direitos, mas também cumpre deveres enquanto membro de uma
sociedade, de um Estado, de um país, esses deveres são, por sua vez,
fundados em valores, portanto valores cívicos (Maria, 2016: 105).

Assim sendo uma questão se coloca. Que valores cívicos devem ser
educados? Para esta questão haverá certamente muitas respostas, contudo,
na perspectiva deste estudo, os valores cívicos a serem educados devem
incidir em aspectos relevante tais como a composição de uma sociedade, os
direitos e obrigações de quem a compõe, o que é a família, o que é um grupo
de amigos, que tipo de vínculos existem dentro de uma sociedade, as
diferentes formas de governo e as formas que cada cidadão tem para participar
activamente não só da política, mas também em muitos outros aspectos
relacionados à sociedade3.

Pode-se então concluir que o processo de educação cívica é extremamente


importante pelo facto de permitir desenvolver as pessoas um conjunto de
crenças, valores e práticas sociais. Contudo, é importante realçar, tal como
referido por Silva (1999: 25) que esta acção educativa deve ter como como
finalidade principal:

a) O desenvolvimento integral do sujeito nos diversos níveis: enquanto


pessoa, membro de uma comunidade e cidadão responsável;

b) A adequada integrarão ético-política do indivíduo na comunidade onde


se insere, clarificando os seus direitos e deveres no quadro das várias
redes sociais, jurídicas e políticas;
c) Assegurar a reprodução de modelos sociais e políticos de cariz
democrático onde se garantam os principais direitos do homem,
contribuindo assim para uma cidadania assumida no âmbito nacional,
comunitário e mundial
2
Editorial QueConceito
3
Idem
Analisados e compreendidos os conceitos que integram o conceito central
deste estudo. Pode-se então definir valores morais e cívicos como um conjunto
de princípios e normas que devem ser seguidos por todos os cidadãos, para
um correcto funcionamento da sociedade em que se encontram e para melhor
se comportarem nas suas relações interpessoais (Soquia, 2018: 13).

Por fim é importante pontuar que embora a educação moral e cívica seja uma
das disciplinas escolares mais agredidas e menos consideradas, na realidade é
a que talvez tenha ligação mais directa com a realidade (características que
pode faltar a muitas outras disciplinas escolares e que são criticadas)
activamente não só da política, mas também em muitos outros aspectos
relacionados à sociedade4.

1.2.2. Do ponto de vista filosófico

A problemática dos valores nas sociedades do conhecimento e nas tertúlias


filosóficas é perene porque acompanha o homem e a sua cultura em todas as
épocas da história, aliás, estes constituem os elementos principais de qualquer
sociedade e de qualquer cultura (Hilemunsinda, 2018: 38).

1.2.3. Do ponto de vista ético

Há uma estreita relação entre a ética e a moral, aliás a fronteira entre dois
conceitos é bastante ténue. Uma das particularidades desta relação reside no
facto de ambos os conceitos fazerem parte da Filosofia.

O que se acaba de afirmar acima pode ser confirmado nas palavras de Silva
(2016 citado Cechinel, 2018) quando este define Ética como uma parte da
Filosofia prática, também conhecida por Filosofia Moral.

Assim sendo, entende-se que seja natural que as pessoas confundam “ética”
como sinónimo de “moral”. Isso porque, de acordo com (Siqueira, 2010: 20)
«[…] na origem, as expressões ética e moral significavam quase a mesma
coisa. Tanto moral – do latim, mos, moris – quanto ética – do grego, éthos –
queriam dizer hábitos e costumes». No entanto, (Chaui, 2000: 436) esclarece

4
Idem
que «[…] a simples existência da moral não significa a presença explícita de
uma ética,[…], isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o
significado dos valores morais».

Igualmente, Kundogente () destaca essa diferença quando refere que a ética


diferencia- se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a
normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais recebidos, a ética, ao
contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano.
Contudo, para uma melhor compreensão desta relação, comecemos por
perceber o que é ética, de acordo com diferentes autores, começando pela
etimologia do termo.

Já acima foi dito que etimologicamente falando o termo “Ética” vem do grego
ethos que significa morada, habitat, refúgio, ou seja, o lugar onde as pessoas
habitam. Entendida deste modo, a Ética será então um tipo de postura; um
modo de ser, à natureza da acção humana, ou seja, como lidar diante das
situações. Noutra perspectiva, ainda em conformidade com a origem
etimológica do termo, a Ética é o princípio que indica como se deve agir em
determinadas situações, dito doutro modo, a ética é a decisão que se pode
fazer através da razão (Cunha, 2015 citado por Cechinel, 2018).

A partir da noção etimológica de ética acima apreendida pode-se então definir


Ética como «a ciência normativa dos actos humanos e do governo da vida»
(Soquia, 2018:83).

para Chaui (2011) a ética é uma parte da filosofia que se dedica às coisas
referentes ao caráter e à conduta dos indivíduos. Neste sentido, de acordo com
a autora citada o seu foco incide na análise de um conjunto de ideias que são
valores propostos por uma sociedade e para a compreensão das condutas
humanas individuais e colectivas.

A ética é. segundo Almeida (2013) é um conjunto de regras, princípios e


maneiras de agir e de pensar que guiam um grupo de pessoas, uma
sociedade, um ser humano.
Chaui (2011) complementa que a ética procura indagar as causas ou motivos,
os sentidos, fundamentos e finalidades desse conjunto de valores e condutas
das pessoas em sociedade. Neste sentido, pode-se depreender que a ética se
ocupa com a figura do agente ético e das suas acções e atitudes, procurando
aferir os seus motivos e os valores conforme aos quais uma acção ou uma
atitude são consideradas eticamente correctas.

A partir do que acima se expôs, pode-se fazer uma breve discussão ou reflexão
sobre as diferenças entre a moral e a ética. A fim de se possa mais facilmente
aferir se entre os dois termos ou conceito existe, de facto, alguma relação. Para
no fim poder-se perceber como é encarada a moral do ponto de vista ético.

Com efeito, já antes foi constatado que a Moral é um conjunto de normas que
pela educação, tradição ou mesmo pelo quotidiano com o objectivo de regular
o comportamento do homem em sociedade. De igual modo Já antes também
foi dito em outras palavras que Ética, Motta (1984 citado por Almeida, 2013) é
um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem na relação
que estabelece com os outros homens na sociedade por formas a garantir o
bem-estar social.

Analisando o que foi dito acima, Ética será a forma como o homem deve se
comportar no seu meio social, pois, trata de hábitos, atitudes e acções. Assim,
a identificação de um comportamento ético num indivíduo, pressupõe também
identificar certas qualidades morais indispensáveis como: justiça,
generosidade, compaixão, humildade, tolerância, misericórdia, fidelidade, e
entusiasmo. (Almeida, 2013).

O que acima foi frisado faculta-nos a noção de que a moral é a prática, é o


exercício das condutas humanas em sociedade - conduta moral. Já a ética são
os princípios que orientam essa conduta. Portanto, como se pode aferir, do
ponto de vista teórico, ética e moral não são a mesma coisa (Cortella (2003,
citado por Siqueira, 2010: 21).

Entretanto, embora ética e moral não sejam, do ponto de vista teórico, a


mesma coisa, tal como acima foi sublinhado, porém se considerarmos o
sentido prático, a finalidade da Ética e da Moral são bastante semelhantes, pois
ambas são responsáveis por construir as bases que guiarão a conduta do
homem, determinando a forma de se comportar em determinada sociedade
(SILVA, 2016 citado por Cechinel, 2018).

Por outro lado, se a Ética, como já foi várias vezes afirmado, é o conjunto de
valores e costumes difundidos por uma determinada sociedade, a Moral será a
prática individual influenciada por esse conjunto de valores éticos. Deste modo,
pode, então, afirmar-se que ambas se complementam, uma vez que as
decisões morais dos indivíduos são também influenciadas pelos valores que
estes recebem a família, da sociedade, da comunidade ou do grupo de que
fazem parte (Carneiro, 2016 citado por Cechinel, 2018).

Entende-se, desde logo, a partir do que acima foi frisado, que a Moral é objecto
da Ética, pois, representa as normas e recomendações quanto à conduta
humana assimiladas pelo hábito ou pela prática, já a ética avaliar quando a
conduta ou comportamento social de indivíduos ou grupos de indivíduos é
moral ou não (Vasquez, 1992) e Com isso é possível perceber-se que a Ética e
a Moral embora tenham significados diferentes, porém, na prática são
conceitos interligadas, sendo que, um depende do outro (Carneiro, 2016 citado
por Cechinel, 2018).

Feitas essas observações como pode agora procurar entender qual é a análise
que se pode fazer da moral do ponto de vista da ética. Pode-se, dizer que para
a ética uma acção, um determinado comportamento, atitude humana só será
considerada moral se for eticamente correcta, justa, conforme as próprias
normas e princípios estabelecidos pela sociedade. Logo uma acção imoral não
é ética.

É na perspectiva do que acima foi dito que Chaui (2000) pode afirmar que a
acção ética é balizada pelas ideias de bom e mau, justo e injusto, virtude e
vício, isto é, por valores que podem variar de uma sociedade para outra ou na
história de uma mesma sociedade, mas que propõem sempre uma diferença
intrínseca entre condutas, segundo o bem, o justo e o virtuoso.

Uma determinada acção humana mesmo que aos olhos da sociedade


aparentemente se justifique a sua realização, só será moralmente ético se o
seu agente fez recurso à meios que não ferem a dignidade de outrem, se não
violam as normas, os valores socialmente aceites. « Costuma-se dizer que os
fins justificam os meios, de modo que, para alcançar um fim legítimo, todos os
meios disponíveis são válidos. No caso da ética, porém, essa afirmação deixa
de ser óbvia. Assim, uma acção só será ética se o seu agente o realizar de
forma racional, livre e responsável e se respeitar a racionalidade, liberdade e
responsabilidade dos outros e só será virtuosa se for realizada em
conformidade com o bom e o justo (Chaui, 2011: 379-435)

Portanto, por tudo quanto foi reflectido nesta secção, pode-se concluir que a
Ética é uma ciência prática e normativa que estuda a moral e determina o que
é bom e, a partir deste ponto de vista, como se deve agir, ou seja, ética é a
teoria ou a ciência do comportamento moral. Assim, do ponto de vista prático,
agir eticamente, é agir de acordo com os preceitos da moral instituída (Brasil,
s/d).

1.2.4. Do ponto de vista sociológico

Em abordagens anteriores ficou claro que a problemática dos valores morais e


cívicos, como conjunto de normas, princípios, preceitos que regulam e
disciplinam o comportamento ou conduta do homem nas relações que estes
estabelecem entre sim na sociedade, é transversal.

E a relação que os homens estabelecem no convívio do dia-a-dia, ou no


quotidiano, ocorre no contexto social, em sociedade no qual estão inseridos.
logo, quer a vida dos homens em sociedade, como a relação que estes
estabelecem entre sim, que como já foi afirmado acima, são disciplinados por
normas morais, é também objecto de estudo da Sociologia.

Esta perspectiva acima levantada é confirmada por Silva (2006) ao afirmar que
a relação social que se manifesta onde quer que haja agrupamentos humanos,
conforma o objecto da Sociologia. O autor lembra que à medida que a
convivência se desenvolve, também o conjunto das relações que se
estabelecem entre os indivíduos se torna mais complexo (Silva, 2006).

Entretanto é necessário lembrar que o desenvolvimento dessas relações não


se processa de forma caótica, desordenada e descontextualizada. Ocorre de
forma disciplinada, regrada e assente naquilo que a Sociologia chama de
modelos de relação social que não é mais senão um conjunto de valores a
serem observados, entre os quais, os morais e cívicos, sendo que estas
relações se desenvovem dentro de um determinado contexto social.

De notar que tal como ressaltado por Silva (2006) a Sociedade é constituída
por um conjunto variado e diversificado de relações sociais. Todavia, cada um
mostra-se bastante complexo no que diz respeito às formas e aos meios de
que se utilizam as pessoas para suprir suas necessidades. Para cada
situação/necessidade criam-se modelos de relação social que, ao longo do
tempo, consolidam-se como definitivos, à medida que produzem os resultados
esperados, ou são evitados, à medida que não satisfazem.

Ao analisar-se com a profundidade que se requer, o conceito de moral


formulado por Vázquez (2005) segundo o qual a moral é um sistema de
normas, princípios e valores que regulam as relações sociais e tem carácter
histórico e social que devem ser acatadas como convicção íntima para se
efectivar. Poderá facilmente entender-se que os primeiros enfoques do
conceito colocam não só a singularidade histórica da moral, mas também o seu
carácter sociológico da moral.

Consideramos que, pelo acima exposto, é possível estabelecer um paralelismo


entre os modelos de relação, também objecto da sociologia e os valores morais
e cívicos pois, a observância destes últimos «[…] exige necessariamente não
só que o homem esteja em relação com os demais, mas também certa
consciência» (Vazquez, 1993: 27).

Do ponto de vista pedagógico

A vinculação dos valores com a educação é um tema clássico em pedagogia,


já que os valores estão efectivamente incluídos na problemática relacionada
aos fins da acção educativa. Pelo lugar que ocupam na realização da pessoa e
no desenvolvimento da personalidade humana, os valores devem ser
considerados de maneira central e sistemática na acção educativa (Moreno).

Nos últimos -anos, os educadores tomaram mais consciência do significado e


da transcendência da relação valores-pedagogia. O V Congresso Mundial de
ClênclasHa Educação, celébrado no mês de julho de 1981, em Ouebec
(Canadá), teve como tema A escola e os valores, em resposta ao crescente
interesse por esse problema tanto no plano político quanto no cien- 1tífico e
pedagógico. Palestrantes das '. mais diferentes culturas e países expuseram
suas idéias em torno do sentido profundo dos valores para a educação e seu
significado diante da crise de identidade que sofre o ser humano
contemporâneo. Em vários momentos, destacou-se o fracasso da civilização
ocidental devido à limitação e à insuficiência de valores produzidos pelo
progresso científico e tecnológico. Constatou-se a necessidade de buscar a
sabedoria, que não é a mesma coisa que acumular conhecimentos, pois
consiste na busca de respostas para as indagações mais profundas do ser
humano, ou seja, nos valores que precisam ser realizados na vida para esta
não cair no vazio e no absurdo A vinculação dos valores com a educação é um
tema clássico em pedagogia, já que os valores estão efectivamente incluídos
na problemática relacionada aos fins da acção educativa. Pelo lugar que
ocupam na realização da pessoa e no desenvolvimento da personalidade
humana, os valores devem ser considerados de maneira central e sistemática
na acção educativa (Moreno).

No campo das ciências da educação, hoje em dia não se questiona mais se


existe relação entre educação e valores ou se é preciso educar em valores,
pois ninguém pode viver sem valores, e tampouco é possível educar sem eles.
Segundo Landsheere, nenhuma educação é possível sem que a noção de
valores seja central nela é nenhum projeto educativo pode ser realizado sem
que um plano de educação em valores ocupe um lugar central1 •

O questionamento nuclear é: Em que valores educar? Como educar em


valores? Em quais princípios e fundamentos baseiam-se os critérios de escolha
dos valores e da metodologia para educar em valores?

A questão "Em que valores educar?" remete necessariamente ao tipo de ser


humano que se deseja formar, pois a escolha de um ou de outro valor
determinará personalidades diferentes. A resposta a essa pergunta representa
uma opção ideológica entre as diversas teorias antropológicas, que oferecem
um mundo extremamente complexo de idéias, impossível de sintetizar
(Moreno).

A educação em valores requer uma metodologia complexa que leva em conta


desde os estímulos valorativos que se oferecem ao estudante até a . reflexão
sobre o ser humano e o seu destino. Estudos da antropologia cultural
demonstraram que muitos dos comportamentos da pessoa têm origem em
sistemas subconscientes que o indivíduo forma ao longo da vida, cujos
componentes são o valor e a atitude, e sua origem, em grande parte, é
determinada pela cultura.

A ciência pedagógica auxiliada pela psicologia aborda o estudo dos valores


fundamentalmente desde a sua expressão subjectiva, buscando a explicação
acerca de origem e regularidade do desenvolvimento daquelas formações
psíquicas, da sua estrutura e funcionamento, que possibilitam a orientação do
homem e a sua valorização com relação ao mundo que o rodeia, em particular,
produz as relações humanas e produz - se a si mesmo, (faz - se a si mesmo)
como parte desse sistema de relações (Ndala, 2011)

O estudo dos valores morais, como sistema de valores ou princípios que


caracterizam a esfera moral da personalidade do indivíduo, tem - se
desenvolvido desde as distintas ópticas conceptual e metodológica pela
Pedagogia (Ndala, 2011).

Para enfrentar as dificuldades educativas e da formação de valores não há


respostas prontas, daí a necessidade de descortinar (enxergar) o acto
educativo mediante uma perspectiva Freiriana de educação: é necessário
problematizar os abrigos mediante uma relação dialógica (dialogal), horizontal,
contextualizada, interactiva e participativa. Todos os actores sociais devem ser
chamados em suas responsabilidades para que (18). colaborem neste
processo, com destaque para: os abrigados, seus familiares, equipa de
profissionais, comunidade, comunidade local e redes de apoio (Ndala, 2011)

É através de uma postura ideologicamente orgânica que emergirá de


ambientes que possibilitem a dinamização das relações entre os pares sociais,
contribuindo activamente para a melhoria das condições dos abrigos, no
planeamento de políticas públicas, na oferta de novos serviços, no
reordenamento dos actuais abrigos e no investimento em formas alternativas
de· convivência que evitem a necessidade de abrigo. O sucesso de um olhar
educativo problematizador sobre o quotidiano dos abrigos é ter a utopia
agenciadora do oeseio de um dia falir a necessidade de que eles existam
(Ndala, 2011)

1.3. Evolução histórica sobre os valores morais e cívicos

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência moral que o
leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive (Mehanna, s/d).
contudo, a partir dos textos de Platão e de Aristóteles é possível perceber que
a filosofia moral inicia-se com Sócrates. Segundo contam estes eminentes
filósofos da antiguidade, Sócrates percorria praças e ruas de Atenas indagando
aos atenienses o que eram os valores nos quais acreditavam e que
respeitavam ao agir (Chaui, 2000).

Com estas questões, entende-se que Sócrates procurava entre os ateniense


sujeitos éticos. Outro sim, as questões socráticas, por assim dizer, inauguram a
ética ou filosofia moral, porque entende, ele, que um sujeito ético moral será
somente aquele que sabe o que faz, que conhece as causas e os fins da sua
acção, o significado de suas intenções e das suas atitudes e a essência dos
valores morais (Chaui, 2000).

Entretanto, segundo o que nos informa Ndala (2011), a primeira etapa


importante do nascimento do conhecimento de valores surge com o
pensamento dos estóicos, isto nos séculos IV e III, que definiam valores
humanos como toda a contribuição à vida sobre a base da razão. De acordo
com o autor, nesta altura, falava-se de valores como a virtude, honestidade,
etc;

Outro momento importante, foi o do pensamento filosófico dos séculos XVII e


XVIII em que se desenvolve o conceito de valores humanos na perspectiva de
que o valor de todas as coisas é o seu preço, dado pelo próprio homem, o qual
pressupõe a persistência de uma concepção subjectiva do fim, tal como
sustenta o filósofo Thomas Hobbes (Ndala, 2011).
Ainda de acordo com a descrição de Ndala (2011) uma outra etapa da
evolução de conceitos de valores humanos pode-se situar em termos de
horizonte temporal em finais do século XVIII e princípios do século XIX, no
pensamento clássico alemão. Aqui o conceito de valores se eleva sobre a
noção do bem, vinculando-o à significações económicas.

já com o surgimento do Marxismo na segunda metade do século


XIX, o conceito de valores humanos vulgariza-se e assenta sobre
a base da relação entre o factor objectivo e o factor subjectivo na
consciência humana, quer dizer, da correlação entre a vida
material e a vida espiritual da sociedade. Foi nesta linha de
pensamento que o pedagogo alemão Scholz sustenta a tese de
que os valores são uma relação sujeito - objecto resultante das
valorizações de um processo de reflexo específico. na
consciência, que expressa a importância e a significação da
realidade para o homem (Ndala, 2011: 14).

Ainda, hoje, apesar da multiplicidade dos ângulos de abordagem que se


verifica, os valores morais e cívicos ainda continuam a ser analisados, tal como
já examinado, tendo em conta o seu caracter subjectivo e também objectivo.
Um outro aspecto que se deve ter em conta quando se analisa a evolução
sobre os valores morais e cívicos são as teorias que se desenvolveram em
torno do estudo do conceito. Dentre esta teorias, as que mais sobressaem, são
nomeadamente a Psicologia Genética de Jean Piaget e Teoria sociomoral de
Kolberg.

Na teoria conhecida como Psicologia Genética do de Jean Piaget, a


inteligência não é inata, entretanto a gênese da razão, da afetividade e da
moral é feita progressivamente através de estágios sucessivos, onde a criança
organiza o pensamento e o julgamento. O saber é construído e não imposto de
fora. Nessa perspectiva, o desenvolvimento moral é concomitante ao
desenvolvimento lógico, com aspectos paralelos de um mesmo processo geral
de adaptação (Mahenna,s/d).

Piaget considera que os seres humanos não nascem desde já com a


capacidade de avaliar o certo ou errado, o bem ou o mal, tal capacidade se
desenvolve ao longo do processo de socialização. Assim sendo, ainda de
acordo com o autor as pessoas se tornam morais por um processo de
construção, em que os indivíduos passam da anomia para a heteronomia, até
alcançar a autonomia (Alencar, 2014).

Na fase da anomia, a criança ainda não está por dentro do universo moral, isto
é, ela apresenta apenas hábitos de conduta, ao passo que na heteronomia, a
moral começa a fazer parte dos valores dos sujeitos, predominando o respeito
unilateral e as relações de coacção. Por fim, na autonomia, a criança não mais
julga o correcto com base nas prescrições dos adultos, mas em acordos
mútuos e princípios universais (Alencar, 2014).

Para Piaget a fase da heteronomia se refere a moral do dever, onde uma


criança segue as regras fixadas pelas autoridades que a rodeiam (pais, irmãos
mais velhos, etc) e as obedece por temor à perda de afecto ou ao castigo.
Trata- se de uma moral que resulta ou é fruto da coacção, isto é, um tipo de
relação social em que predomina o respeito unilateral (Mahenna,s/d).

Por fim alcança-se então a fase da autonomia que se refere a “moral do bem”,
nesta fase a criança é mais livre de autoridades e capaz de construir normas
entre iguais. Piaget sugere que criança passe pela fase da heteronomia, ou
seja, de obediência à autoridade, para que, depois, o espírito de cooperação
possa ser construído, através do respeito mútuo e da reciprocidade. O
objectivo da educação moral, portanto, é a de auxiliar a criança em construir
sua autonomia (Mahenna,s/d).

Para o alcance da autonomia da autonomia moral da criança passa em


primeiro lugar por não impor à ela aquilo que tem a capacidade de descobrir
por si; e em segundo lugar deve-se criar situações que permitam à criança
compreender a necessidade e as razões das regras. Neste sentido, segundo
Piaget, as actividades escolares em grupo são as mais indicadas para a
construção moral, pois é nelas que a cooperação é mais provocada (Alencar,
2014).

Os trabalhos em grupo são os mais ainda os mais aconselhados porque


entendimento de Piaget, facilitam a construção da autonomia, pois as crianças,
ao trabalharem juntas, podem trocar pontos de vista, discutir, ganhar em
algumas ideias e perder em outras. para Piaget, educar moralmente, é
proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a
reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir a sua moralidade
(Mahenna, s/d).

Outro estudioso que também se dedicou à pesquisas relativas aos valoreis


morais e cívicos Lawrence Kohlberg, tendo desenvolvido a Teoria sociomoral.
Kohlberg é um pesquisador norte-americano que desde cedo interessou-se
pelo estudo do desenvolvimento moral inspirado na teoria psicanalítica de
Piaget, tendo criado a teoria (Fini, 1991: 59).

Kohlberg (1992) Criou a teoria dos estágios morais, pois acreditava que o nível
mais alto da moralidade exige estruturas lógicas novas e mais complexas do
que as apresentadas por Piaget. Assim, segundo o autor, existem três níveis
de moralidade, designadamente: o nível pré-convencional; desdobrado em dois
estágios; Nível convencional II, também com dividido em dois estágios e
finalmente o nível pós-convencional igualmente desdobrado em dois estágios o
que totaliza seis.

De acordo com o Kohlberg citado por Fini (1991: 59) o Nível pré-convencional
é característico da maioria das crianças e se estende até por volta dos 9 anos
de idade, Neste nível a criança responde à regras culturais e rótulos de bom e
mau, certo ou errado, mas interpreta estes rótulos em termos das
consequências físicas isto é, punição, prémio.

De notar que o primeiro estágio deste nível diz respeito a orientação para a
punição e a obediência e entende – se que o sujeito moralmente correcto é
aquele que não é punido. Já o segundo estágio diz respeito ao Hedonismo
Instrumental Relativista. Assim, uma a acção moralmente correcta será aquela
que está baseada no prazer ou da satisfação das necessidades da pessoa.

Por seu turno o II que é o Nível convencional é baseado no desempenho


correcto de papéis e no atendimento de expectativas. Deste modo, manter as
expectativas da família, do grupo, ou da nação é considerado valioso em si
mesmo.
Os estágios a que corresponde á este nível são os números 3 e 4. O terceiro é
relativo à moralidade do bom garoto, de aprovação social e relações
interpessoais. o comportamento moralmente certo é pautado na aprovação do
outro, ou seja, o bom comportamento é aquilo que agrada aos outros ou ajuda
aos outros e recebe aprovação.

Já o quarto diz respeito à orientação para lei e ordem e refere – se ao grande


respeito que existe pela autoridade, por regras fixas e pela manutenção da
ordem social. De notar que neste estágio o comportamento moralmente
considerado correcto consiste em cumprir o dever, mostrar respeito pela
autoridade e manter a ordem social vigente.

O terceiro nível chamado de pós-convencional relaciona – se a moralidade por


princípios éticos universalizantes. Definir valores morais e princípios que
tenham validade e aplicação independente da autoridade É considerado pelo
autor, como o mais alto da moralidade, pois que é neste estágio que o
indivíduo começa a perceber os conflitos entre as regras e o sistema.

Tal como foi referido este nível comporta dois estágios, no caso, o quinto
relativo à orientação para o contrato social. Para este estágio, os
comportamentos correctos são definidos em termos de direitos individuais
gerais e de padrões que foram criticamente examinados e aprovados pela
sociedade como um todo. Já o sexto que se refere aos princípios universais de
consciência.

Torna-se importante notar que neste estágio o «certo» é definido por uma
decisão de consciência individual, isto é, de acordo com princípios éticos
escolhidos pela própria pessoa, princípios esses que apelam para a lógica, a
universalidade e a consistência (Braghirolli et al. 1995).

1.4. Importância da observância dos valores morais e cívicos numa


determinada sociedade
É comum nos nossos dias, ouvir cenas caricatas como por exemplo um pai que
viola a própria filha, filho que viola a mãe, marido e esposa a traírem-se um ao
outro. Em fim, a sede de viver uma vida fácil, faz com que muito muitas vezes o
ser humano aja como um escravo, embora seja príncipe (Jamba, 2011).

Outrossim, nos lares é cada vez mais sentida a ausência dos pais, mostrando-
se descomprometidos e despreparados para proteger e orientar os filhos.
Estes, por sua vez, não respeitam os pais. Não lhes tratam com a dignidade
requerida, saem de casa e vão não se sabe aonde, e nada dizem aos pais,
quando regressam, não dizem onde estiveram, as vezes chegam a casa
bêbados, drogados e não admitem que se lhes repreenda (Kundongende,
2013)

As meninas evoluem para relações sexuais prematuras que lhes levam a


gravidez precoce e com ela o disfuncionamento de educação pois os pais não
estão suficientemente maduros para educar o novo ser. Por outro lado, em
casa não se aplicam as regras de boas maneiras (Kundongende, 2013).

À nível da gestão, administração do bem público, os dirigentes políticos, os


governantes fazem do erário público sua propriedade, degeneram-se em
acções de corrupção, nepotismo, bajulação, não destinam as verbas para
projectos que favoreçam a maioria da população, tais como construção de
escolas, hospitais, sistemas de abastecimento de água. Fazem da ostentação
dos bens que são de todos, e arrogância o seu quotidiano, a sua prática de
vida.

As situações acima retratadas não são uma ficção ou um simples capítulo de


novela, são situações reais que determinadas sociedades e, a nossa não será,
obviamente, uma excepção, vivem. Trata-se de um retracto claro de que os
valores morais e cívicos estão em queda.

É preciso, pois, que a sociedade como um agrupamento ou um conjunto de


pessoas que vivem de forma interdependente, estabelecendo relações e
cooperando para a realização de objectivos comuns, reflicta sobre a
necessidade e importância da observância dos valores morais e cívicos, isto
porque de acordo com Dala (2018: 43) «os valores tornaram-se importantes no
entendimento da conduta humana».

Na verdade, quando as pessoas estão educadas nos ditames dos valores


morais e cívicos, produzem as virtudes que a sociedade aprecia e se esforça
por preservar, nomeadamente, a amizade, honestidade, compaixão, amor,
generosidade, castidade, etc. neste sentido, inegavelmente, a moral ajuda as
pessoas a desviarem-se dos vícios e a evitar desordens como a
desonestidade, o roubo, a ganancia e a corrupção (Kiura, Gitau e Kiura, 2010:
17).

Hilemusinda (2018:83) reforça a ideia anterior ao fazer notar que os valores


criam novos significados e maneiras de conceber a vida, aceitação mútua,
pessoal e social. O autor acrescenta ainda que os valores libertam-nos de
convicções preconceituosas e individualistas e conclui que o respeito dos
valores humanos ajuda a promover a verdadeira prosperidade do homem, da
nação e do mudo, além de manter alta a nossa auto-estima.

Nesta esteira, Zau (2015) também mostra preocupação quanto a necessidade


do homem, vivendo em sociedade, estar educado em valores e que estes
sejam observem de forma rigorosa, principalmente, numa sociedade como a
nossa que vive um processo longo de transição para a democracia. Nas suas
palavras o autor comenta que

o indivíduo impreparado e habituado e que não possua os


recursos cognitivos, emocionais e axiológicos que o capacitem
para a promoção da sua própria autodisciplina, é incapaz de
decidir livremente, com convicção moral e cívica, pois falta-lhe
conhecimentos e competências para agir de forma responsável
(Zau, 2015: 16).

A análise que se pode fazer das palavras de Zau (2015) é de que um individuo
não pode agir de forma responsável, não é capaz de disciplinar as suas
acções, a sua conduta, o seu comportamento se não estiver moral e
civicamente educado, confirmando, deste modo, que de facto os valores morais
são as balizas que orientam as nossas acções.
Zau (2015) transfere a preocupação da observância dos valores do nível
individual para a sociedade, enfatizando, sobretudo as consequências que uma
sociedade despida de valores pode acarretar quando comenta que

Numa sociedade em transição para a democracia, estando os


cidadãos isentos de uma Educação para o Desenvolvimento,
carente de valores, passa a reinar, contrariamente ao “comos”, a
tendência para a desorganização, a desordem e o “caos”. Para
além da instrução e formação, falta-lhes trabalho educacional
(em sentido restrito) e as instituições escolares e académicas, se
tornam incapazes de cumprir integramente com o seu papel
social para a qual foram criadas (Zau, 2015:16).

Como se pode aferir, a observância dos valores morais e cívicos é um


imperativo social, porque permite as pessoas discernir sobre o que está certo e
é bom, assim como aquilo que está errado e é mau. Por outro lado, os valores
guiam as pessoas a praticarem o bem e o que é bom para elas próprias, assim
como para a comunidade, além de ajudá-las a compreenderem e a exercerem
os seus direitos cívicos; assegura-lhes a legítima expectativa de certos direitos
perante a sociedade (Kiura, Gitau e Kiura, 2010: 17).

A observância dos valores morais e cívicos é imprescindível, pois, são s


valores que motivam a acção dos indivíduos ou do grupo de indivíduos, dando
direcção e intensidade emocional na consecução de metas axiológicas.
Outrossim, os valores são princípios e regras que orientam a conduta das
pessoas para buscarem o desejável pela própria sociedade (Schwartz, 2005;
Ros, 2006 citados por Dala, 2018).

é importante sublinhar que «o homem não pode viver sem uma certa referência
aos grandes valores morais que possam nortear a sua conduta». Assim,
enquanto existir, o homem precisará sempre de 'balizas', o seja, necessitará de
normas, regras e princípios reguladores que o ajudem a orientar a sua vida no
caminho da rectidão. Essas balizas não se podem encontrar noutro lugar, que
não seja no campo da ética e da moral, já que toda uma sociedade sem ética
toma-se um 'caos' (Soquia, 2018).

Deste modo é possível concluir que de facto a observância de valores morais e


cívicos numa sociedade é bastante importante, pois limita o poder de cada um
no interesse de uma convivência social sã, harmónica e equilibrada entre os
membros da sociedade. É por isso que, no entender de Hilemunsinda (2018),
para se medir a qualidade de uma sociedade, ou de uma nação, é necessário
olhar pelos valores que defende, ostenta e dos quais se orgulha.

Acerca dos valores morais e cívicos em angola

Falar dos valores morais e cívicos em Angola pode ser uma tarefa que não se
afigure muito fácil. Muito estudiosos têm- se debruçado esta problemática e
fazendo uma análise sobre essas narrativas, pode-se concluir que os autores
comungam da ideia segundo a qual a situação actual dos valores morais e
cívico no país não é o dos melhores.

Sobre a problemática dos valores Hilemunsinda (2018) deixa um aviso claro e


muito profundo quando diz que «qualquer sociedade onde os verdadeiros
valores são atropelados, subestimados e banalizados entra em crise e perde a
sua identidade e prestígio» (p.39). e de facto estaremos a beira do colapso se
nada for feito para travar a galopante crise dos valores morais e cívicos que se
regista em Angola.

Contudo, em sede do que acima foi dito, é necessário observar que factores
diversos têm contribuído para tal situação. Este, é de resto, também o
entendimento de Maria (2016: 102) quando afirma que «em Angola, houve e há
contextos histórico-sociais que têm propiciado a emergência de condutas
pouco consentâneas com a construção de uma sociedade equilibrada, onde
reine a justiça social».

Contudo, para uma melhor uma compreensão da actual realidade, é pertinente


recuar na história e fazer uma breve análise do percurso por que a situação
dos valores morais e cívicos vem trilhando até aos nossos dias. De notar que
sobre este percurso existem alguns estudos que vamos procurar sintetizar nas
páginas que se seguem.

Sabe-se que antes do período colonial Angola era um território já habitado e


dividido em vários reinados, as sociedades pré-coloniais regiam-se por normas
da moral e do direito costumeiro. As normas eram rigorosamente observadas,
acatadas e respeitadas por todos os membros da comunidade.
Entretanto esse período marcada por uma forte coesão, espirito de interajuda
entre os membros das comunidades viria a ser perturbado com a presença
estrangeira que num primeiro plano fingiam em estabelecer relações
comerciais assentes no princípio da reciprocidade de vantagens, de relações
cordiais mas não tardou a imporem a sua vontade com o estabelecimento do
colonialismo.

O regime colonial desagregou as sociedades já fortemente organizadas facto


que abalou as estruturas dos valores culturais, morais e cívicos dos autóctones
na tentativa de impor valores alheios, estranhos para melhor dominarem,
obrigando os nativos a adoptarem condutas e cultura europeia.

Assim, aqueles nativos que tinham conseguido adoptar convenientemente os


as regras, princípios e normas, ou mudus vivendis europeu passaram a
pertencer à uma classe diferente, a dos assimilados, ao passo que os demais
permaneciam indígenas, sem “cultura” logo sem moral, pois a moral que
imperava era a europeia. Esta estratificação social foi legitimada por um
diploma legal, o estatuto indígena”.

Seguiu-se, então, o período pós-independência, em que o país teve como


sistema político, o de partido único, assistiu-se a um Estado centralizado, cuja
ideologia não permitiu o debate franco e aberto de questões culturais tidas
como bastante sensíveis (Maria 2010: 23).

Esta etapa foi marcada pela imposição de valores, por meio de uma educação
excessivamente ideológica ou pelos aparelhos repressivos do Estado. Nessa
etapa o Estado não só impôs valores sem o mínimo de consenso social, mas
como também procurou afastar do processo educativo formal outros actores
que poderiam dar uma contribuição valiosa, como por exemplo, as igrejas
(Maria, 2016).

Na época que se seguiu a proclamação da independência em 11 de Novembro


de 1975, segundo refere, Hilemusinda (2018) em Angola, o marxismo-
leninismo foi transformado como seguimento politico que permitiu a negação e
subalternização da religião e à maior parte dos valores tradicionais, espirituais
e culturais.
Vieira & Meneses (2016: 199) caracterizaram esta etapa como tendo sido
bastante conturbada, revolucionaria e também romântica, isto porque no
entender dos autores, tratou-se do fase da vida do pais em que o sonho e a
realidade se confundiam com os anseios e a necessidade de se construir um
novo pais e criar o homem novo angolano, imbuído de uma consciência moral
revolucionária capaz de compreender e conceber cientificamente o mundo e a
sociedade.

No que se refere aos valores morais, os autores acima citados comentam que,
o sistema de educação da época em análise não contemplava nos seus
objectivos, nem nos programas curriculares áreas como a educação moral e
cívica ou afins. As orientações fundamentais em matéria de política educativa,
definiam dentre os vários objectivos, formar as novas gerações sob a base da
ideologia marxista-leninista; desenvolver as capacidades físicas e intelectuais;
desenvolver a consciência nacional e o respeito pelos valores tradicionais
(MPLA, 1978 citado por Vieira & Menezes, 2016: 199).

Contudo, conforme salientado pelos autores que vimos citando, a escola


angolana da época não se posicionava num vazio de valores, porque a
disciplina de ciências sociais, baseada em conteúdos da ideologia
marxista-leninista, transmitia valores assentes no amor a pátria e na fidelidade
a ideologia dominante.

Ainda no seguimento da caracterização desta época, é também importante


considerar o facto de se ter vivido uma situação de guerra civil que devastou o
país vários longos anos e que teve apenas um breve interregno em maio de
1991 com a assinatura dos acordos de Bicesse-Portugal, entre o Governo
liderado pelo MPLA e o então movimento rebelde- a UNITA.

Sobre esse período Hilemusinda (2018), deixa claro que «Angola viveu […]
tempos críticos e violentos, que feriram e ferem ainda hoje, a essência da
dignidade do próprio homem» (p.73) Com este propósito, Maria (2016)
igualmente comenta, que a guerra desestruturou famílias, destruiu
comunidades inteiras e seus bens, bem como também destruiu ou fragilizou
parte dos seus hábitos e costumes dos povos. Enraizou a cultura da violência,
diminuiu o sentimento de solidariedade e de amor ao próximo.

Como se pode notar o condicionalismo da guerra jogou um papel


preponderante no sufoco ou asfixia dos valores humanos, fundamentalmente
os valores morais cívicos e culturais. Isto porque, como se sabe, a família é o
berço da educação primária e esta que inicialmente começa por educar em
valores as crianças, adolescentes e jovens. Ora se ela se desestrutura, os
valores entram em perigo.

Entretanto, em 1992 começaram a operar-se na sociedade angolana profundas


transformações socio-políticas e económicas e ideológicas com a instauração
do regime multipartidário e consequente realização das primeiras eleições.
Estas mudanças também ocorreram no sistema de educação, e como
consequência nos seus objectivos deixaram de constar referências ao
marxismo-leninismo.

Num sentido mais amplo do percurso de análise dos valores morais e cívicos,
em Angola segundo Maria (2016) há considerar nesta época de mudanças, de
transição para a democracia, a entrada em cena de vários outros actores,
como as igrejas, as organizações da sociedade civil e novos meios de
comunicação social, mormente privados e começa a se fazer sentir com maior
impacto a influência da chamada sociedade em rede.

Assinala-se também nesta época o início da liberalização da economia, porém,


feita sem um programa bem estruturado facto que causou sérios danos
económicos, sociais e mesmo culturais. Destaca- se, também nesta época a
consolidação paulatina do espirito do enriquecimento fácil. Importante notar
também que a pobreza extrema, exclusão social, bem como a delapidação do
erário público, ganharam terreno nessa etapa (Maria, 2016).

contudo, só em 2001 é que as autoridades angolanas começaram a


implementar reformas consideradas profundas, com a implementação de um
novo sistema de educação, através da promulgação da Lei de Bases do
Sistema de Educação, também conhecida como Lei no 13/01, de 31 de
Dezembro, e o Decreto no 2/05, de 14 de Janeiro, que aprova o plano de
implementação progressiva do novo Sistema de Educação (Vieira & Menezes,
2016: 199).

A educação é, neste novo ordenamento jurídico, considerada um amplo


sistema de formação social, alargado aos diversos contextos de vida e não
apenas aos contextos tradicionais como a família e a escola. No entanto, e de
registar a ausência de referencias à esfera cívico-politica. Embora, os
objectivos gerais da educação se refiram aos propósitos da construção da
cidadania (Vieira & Menezes, 2016: 199).

Entre objectivos educativos do sistema de educação, inaugurado com Lei nº


13/01, de 31 de Dezembro já são feitas referencias a educação moral, cívica e
estética, bem como a dimensão socializadora, ao respeito pela diferença, pela
tolerância, entre outros valores, visando desta forma contribuir para a
preservação e o desenvolvimento da cultura nacional, a protecção ambiental, a
consolidação da paz, a reconciliação nacional, a educação cívica, cultivar o
espirito de tolerância e respeito pelas liberdades fundamentais (LBSE, alinea
d), artigo 32). (Vieira & Menezes, 2016: 199).

Na actualidade como é caracterizada a situação dos valores morais e cívicos


em Angola? Ora o facto de a sociedade em geral se ter despertado para a
necessidade do resgate desses valores é porque algo não vai bem. Igrejas,
intelectuais, estudiosos, comunicação social, políticos, escritores, organizações
cívicas vem cada vez mais levantado a voz em prol do resgate dos valores.
Afinal como e quando se começaram a perder

Na verdade os valores a que vimos analisando nunca mais se reergueram e


terá que haver um trabalho bastante árduo e conjugado de todos para que tal
aconteça. O processo é longo, o caminho a ser percorrido é tortuoso, mas o
certo é que precisa urgentemente resgata-los.

Para muitos, essa redefinição pode parecer um fato comum e, talvez, sem
grandes consequências. Porém, creio que se trata de algo muito grave a que
devemos dar atenção. Em nossa opinião, trata-se de uma crise profunda, ou
seja, de uma crise que muda o nosso modo de ser e de se posicionar diante da
vida. Em termos gerais, pode-se dizer que a crise ética de nosso tempo
corresponde a uma inversão de valores e não a uma ausência de valores
(Oliveira, 2012: 421).

Pensemos um pouco: se antes os interesses comuns e coletivos eram mais


importantes do que os interesses privados, a sociedade mostra que hoje o que
realmente importa é a vida de cada um. Houve não a eliminação de um valor,
mas sua substituição por outro: o interesse público deu lugar aos interesses
pessoais que, não raras vezes, se deixam levar pelo egoísmo. Houve, portanto,
uma inversão de valores (Oliveira, 2012: 421).

está ocorrendo mudanças evidentes nos valores morais, pela falta de qualidade
na média televisiva efetivamente integrada aos lares e relações familiares, pela
ausência de valores a serem perpetuados pela família, pelas alterações
culturais e econômicas resultando em ‘valores em crise’ que precisam ser
trabalhados (Monteiro, 2013: 86).

A crise de valores se expressa na confusão entre o bem e o mal, o certo e o


errado, o justo e injusto. Em outras palavras, é a confusão entre valor e contra-
valor. Os valores são produtos culturais, sujeitos às variações do tempo e do
espaço. Sempre que uma determinada cultura decide eleger alguma atitude
(porque o campo da ética é o campo das atitudes) como valor, estabelece-se o
contra-ponto com a atitude oposta (Oliveira, 2012: 422).

Admite-se que muitos valores e bons costumes se encontram deteriorados nos


nossos dias. Quais são as causas? Que moral terá um cidadão diariamente
com fome? Que moral terá um cidadão sem emprego? Que moral terá ele sem
um salário compatível às exigências do mercado? Que moral poderá ter com
os atrasos de salários? Que consciências terá o cidadão comum da protecção
e preservação do bem comum quando sabe que os seus dirigentes são os
primeiros a devastarem o bem comum? Que consciência terá um cidadão
cidadão que observa a falta de alternância política? (Lau, 2005)

Outro exemplo da inversão de valores: a corrupção parece ter virado moda em


nosso país. A injustiça tornou-se regra comum em muitos setores da
sociedade. a generalização da corrupção mostram que as pessoas passaram a
dar mais valor aos seus interesses pessoais do que à honra, à dignidade e ao
respeito pela população. O individualismo e o egoísmo parecem imprimir
profundamente suas marcas em cada um de nós: cada um por si e Deus por
todos parece ser a regra de ouro, o princípio moral que orienta, nesses tempos
de crise, as nossas escolhas (Oliveira, 2012: 424).

Ainda outro exemplo concreto desse quadro de inversão de valores é a busca


do prazer. Isso parece ser a única coisa que de fato interessa. Assim, os
relacionamentos tornaram-se descartáveis. Não há respeito nem
responsabilidade. E quem fala desses valores é taxado de antiquado. Vivemos
na cultura do hedonismo10, isto é, do culto do prazer e da satisfação imediata
de nossos desejos. Nada mais interessa senão o conforto (temos controle
remoto para tudo) e o que exige menos esforço (tudo o que é dever ou
obrigação passou a ser visto com maus olhos). Para alguns, jogar o lixo na rua
é mais fácil do que procurar o lugar adequado! Isso é um exemplo típico de
atitude hedonista (Oliveira, 2012: 424).

Quanto à questão da sustentabilidade, veja-se também que ocorrem muitas


situações de inversão de valores: no que diz respeito à sustentabilidade
social11, por exemplo, percebe-se que a acumulação de renda e de patrimônio
nas mãos de poucos é um 424 falso valor, que vai na contramão da equidade
na distribuição de renda e no esforço de diminuição das diferenças sociais.

e) Há muitos outros exemplos a serem analisados: a impunidade prevalece em


quase todos os âmbitos da vida social; ser esperto passou a ser mais
importante do que ser honesto; a palavra dada pouco significa; ser uma pessoa
de bem é coisa do passado; pensar nos outros é coisa antiquada; o bem
individual está acima do bem comum; matamos crianças inocentes antes de
nascerem; matamos de fome milhões de pessoas por ano enquanto fortunas
são gastas na indústria da guerra e da corrupção política (Oliveira, 2012: 425).

os valores devem ser objeto permanente de reflexão e trabalho da escola como


um todo, visando uma educação para a autonomia e moral nas escolas,
priorizando os aspectos como dignidade, solidariedade, respeito mútuo, justiça,
de modo que as aprendizagens sejam vivenciadas, exploradas, discutidas e
reflectidas (Monteiro, 2013).
Estamos convencidos que se restituirmos ao homem a dignidade e o valor que
lhe cabem, respeitando a sua inviolabilicladc, integridade, sacralidade, (223)
individualidade e personalidade, esta podridão cultural que nos asfixia, deixará
o lugar para uma cultura promotora do valor-homem, uma cultura criadora
duma nova forma espiritual para a sociedade, mediante o. cultivo das pessoas,
cujas relações não serão mais massificadas, mas sim personalizadas; das
relações numéricas passar-se-á às relações nominais, interpessoais: todos se
respeitarão como valores absolutos, incentivando e emanando, desta feita,
aquela cultura que todos almejamos e reclamamos com urgência, a cultura do
humano, a cultura da comunhão :fraterna, enfim, a cultura da convivência
pacífica (Imbamba)

Hoje, para Angola, mais do que nunca, urge trabalhar pela qualidade do
homem e da sua personalidade; em outros termos, urge recuperar e relançar a
dimensão espiritual do homem que, ao longo dos anos, foi e continua a ser
espezinhada, esvaziada de dignidade e valor e massacrada sem piedade. Por
isso, a nova cultura do homem novo deve ser uma cultura do espírito, uma
cultura do ser: (Imbamba)

Uma cultura verdadeiramente humanística deve ter de mira, sobretudo e antes


cio mais nada, a promoção da dimensão espiritual do homem, o crescimento
do seu ser interior. A meta mais importante para a pessoa é crescer em
sabedoria e bondade, Todos os demais desenvolvimentos devem servir para
este escopo. Toca [por conseguinte] à sociedade [Estado] criar as condições
que facilitem a todos os homens a realização do seu desenvolvimento pleno,
satisfazendo, na justa medida, as necessidades de todos e oferecendo a todos
um nível de educação que os torne mais conscientes e responsáveis na
conquista duma personalidade mais rica (Imbamba)

1.5. A constituição e os valores morais e cívicos

constituicao (2010: 12), no seu artigo 22.o, em Angola todos os cidadaos


gozam dos direitos, liberdades e garantias e da proteccao do Estado e tem
deveres para com a familia, a sociedade e o Estado e outras instituicoes
legalmente reconhecidas.
1.6. A prática social angolana

Quando éramos pequenos, nossos pais sabiam muito bem quais valores
deveriam nos ensinar: ser honestos, verdadeiros, procurar fazer sempre o bem
etc. O que era o bem ou o mal pareciam estar bem definidos e ninguém tinha
dúvida sobre os valores morais. Hoje, contudo, nós que crescemos e somos
pais e mães, nos sentimos por vezes perdidos. Vivemos, sem dúvida, um
momento de crise ética. O que significa dizer que vivemos um momento de
crise de valores? Em primeiro lugar, refere-se a uma mudança cultural que está
redefinindo os valores de nossa sociedade. (Chaui, 2000: 434).

Considere-se o seguinte elenco de valores: cortesia, respeito, boa-fé, gratidão,


honestidade, integridade, generosidade, solidariedade, justiça e fraternidade.
Pouca gente declararia publicamente sua discordância quanto à sua validade e
importância. No entanto, e na prática, é possível verificar o descaso social com
relação à sua aplicação. Tomemos como exemplo o comportamento das
pessoas no trânsito, o maior e mais sistemático exemplo de desrespeito à vida
e às pessoas. Portanto, da chamada “crise de valores”. O discurso ético de
muitos nem sempre coincidirá com sua atitude como condutores. Seu veículo
termina sendo uma arma. Adeus à cortesia, com relação aos demais
motoristas, e ao respeito, com relação aos pedestres, que dificilmente
conseguem atravessar a rua, sequer na faixa que lhes é reservada (Siqueira,
2010: 11).

1.7. A disciplina de EMC como forma de contribuir para o


desenvolvimento integral da pessoa humana

A educação tem tido, e continua a ter, dois grandes objectivos: (1) desenvolver
a inteligência e os conhecimentos, e (2) desenvolver a moral, dos alunos. São
muitos os autores (Sócrates, Platão, Dewey, Piaget, Kohlberg, Lickona, Kamii,
entre outros) que consideram que a autonomia moral e a autonomia intelectual
constituem os objectivos educacionais prioritários. Defendem que não só se
devem formar cidadãos que usem a sua inteligência em benefício dos outros, e
de si próprios, mas, também, que contribuam para a construção de um mundo
mais justo (Lickona,1991 citado por Marchand, s/d: 1).
Ryan propõe que a escola deverá proclamar sem receio os valores adultos
consensuais da comunidade, tais como: a honestidade, a justiça, a
solidariedade com os mais fracos, a responsabilidade pelo ambiente, etc.,
assim como deve claramente transmitir o repúdio radical da violência, dos
comportamentos destrutivos, da promiscuidade sexual, etc., assumindo--se
como referência da própria comunidade e como espaço de cidadania activa
(Silva,1999).

A família, a escola, a religião e o Estado, na opinião de Marx, são as principais


instituições que cuidam de nos dizer o que devemos e o que não devemos
fazer (Oliveira, 2012: 421).

Puig (2007) a formação moral deve proporcionar aprendizagens éticas, ou seja,


deve possibilitar ao sujeito aprender a viver: aprender a ser, aprender a
conviver, aprender a participar e aprender a habitar o mundo. Aprender a ser
significa construir uma ética pessoal, uma ética de si mesmo, que inclui a
formação de um pensamento autónomo e crítico que torne o indivíduo capaz
de construir os próprios critérios de conduta. Aprender a conviver equivale à
tarefa formativa para superar a tendência à separação e contribuir para que os
indivíduos estabeleçam vínculos pessoais baseados na compreensão do outro.
Por sua vez, aprender a participar é aprendizagem da vida em comum, é
trabalhar por uma ética que torne os indivíduos cidadãos activos, participativos.
Finalmente, aprender a habitar o mundo é a proposta de um trabalho educativo
reflexivo sobre a responsabilidade pelo planeta, pela humanidade (Alencar,
2014).

os valores refletem a personalidade dos indivíduos e são a expressão do


legado cultural, moral, afetivo, social e espiritual conferido pela família, pela
escola, pelos pares, pelas instituições e pela sociedade em que vivem,
devemos pensar numa educação voltada para atender às necessidades
impostas por essas instâncias. Uma educação que forneça subsídios para que
o cidadão saiba ter respostas plausíveis para os problemas que irá enfrentar no
seu dia a dia (SAVIANI, 2002 citado por Almeida, 2013).

Cabe ressaltar, contudo, que a escola não pode arcar sozinha com essa tarefa,
a família e a sociedade não se podem omitir, deixando a responsabilidade só
para a escola, nem a escola deve aceitar a tarefa da formação moral à margem
da realidade familiar e social. A educação, então, necessita ser baseada em
responsabilidades partilhadas, que exigem alta dose de compreensão,
interação, discernimento e colaboração (SAVIANI, 2002 citado por Almeida,
2013).

Há a necessidade que a escola actue na formação ética e de personalidade


dos adolescentes, incentivando-os a manterem projectos solidários que tenham
como principal perspectiva o trato com respeito, responsável e solidário nas
suas relações interpessoais, o que significa valorizar e compreender a opinião
e escolhas de outrem, aceitando, sintonizando e dialogando com os demais. O
processo educativo deve priorizar a formação de valores através do
desenvolvimento da capacidade de escutar e da solidariedade os membros dos
grupos; através do comprometimento com o bem comum de todos e de cada
um, todos sendo responsáveis por todos. São necessárias reformas estruturais
que alterem a cultura do ter para uma cultura do ser a fim de que efectivamente
seja elevado o nível moral da sociedade (Monteiro, 2013: 84).

Estando os valores presentes de forma universal, em todos os espaços sociais,


então o ensino dos valores não se pode evitar (Almeida, 2013).

Nenhum ser humano está programado para fazer o bem ou o mal. O ambiente
em que vive e a educação – tanto formal quanto informal – que recebe são
elementos que influenciam e condicionam a formação do seu caráter, mas não
serão determinantes. Porém não se deve esperar ou exigir tanto da moralidade
espontânea, baseando-se apenas no caráter das pessoas, especialmente
daquelas que integram o serviço público (Siqueira, 2010:18).

A situação atual lança uma reflexão sobre nossas concepções a respeito dos
valores; sobre o lugar que a educação em valores ocupa em nossas propostas
e em nossos projetos educativos e familiares; sobre os enfoques da educação
moral que adotamos e influenciam a orientação escolar e familiar. Podemos
afirmar até que a preocupação com a educação em valores e com a educação
voltada para a formação ética tornou-se universal e está presente em todos os
âmbitos da vida humana (Almeida, 2013)
Numa sociedade em transformação, como esta que se apresenta no século 21,
a educação em valores é decisiva para a formação do sujeito futuro e do
próprio futuro. E, como o que se presencia nos dias atuais é uma profunda
crise de valores, educar em valores surge como uma exigência permanente,
provocada pela cultura da modernidade que apresenta uma necessidade
urgente de uma educação voltada para o ensinamento dos valores morais.
(Almeida, 2013)

A importância da educação no momento atual é cada vez maior e mais


urgente, sua influência se faz sentir cada dia com mais intensidade no
desenvolvimento do ser humano. Esta necessidade provém da conscientização
do ser humano quanto a sua responsabilidade e dignidade; por outro lado, o
progresso da técnica e os meios de comunicação social oferecem às pessoas a
oportunidade de se dedicarem a cultivar os valores da inteligência, da vontade,
da cultura, além daqueles valores éticos e morais. Acredita-se que a educação
em valores é um processo que mantém relação direta com os aspectos
especificamente humanos do indivíduo. Educar é ajudar o desenvolvimento e a
afirmação do caráter próprio da humanidade e de cada indivíduo. A pessoa
educa-se à medida que se torna consciente de si mesma e responsável por si
mesma. Mas essa tarefa, que só ela pode realizar, não pode ser efetivada sem
a assistência alheia. (Almeida, 2013)

Por sua vez Saviani (2002, p. 35) destaca que toda e qualquer “reflexão sobre
os problemas educacionais inevitavelmente nos levará à questão dos valores”.
A vinculação dos valores com a educação é um tema bastante referendado nas
ciências da educação, já que os valores estão efetivamente incluídos na
problemática relacionada aos fins da ação educativa. Pelo lugar que ocupam
na realização da pessoa e no desenvolvimento da personalidade humana, os
valores são considerados de maneira central e sistemática na ação educativa
(Almeida, 2013).

No campo das ciências da educação, hoje em dia não se questiona mais se


existe relação entre educação e valores ou se é preciso educar em valores,
pois ninguém pode viver sem valores, e tampouco é possível educar sem eles.
Pode-se dizer, então, que nenhuma educação é possível sem que a noção de
valores seja central nela e nenhum projeto educativo pode ser realizado sem
que um plano de educação em valores ocupe um lugar central. Trata-se, pois,
de uma tarefa que deve ser realizada, de acordo com o autor acima (Almeida,
2013).

Porém, se a questão girar em torno de ‘Em que valores educar?’


inevitavelmente remete-nos à questão: ‘que tipo de ser humano se deseja
formar?’, sim, pois a escolha de um ou de outro valor determinará
personalidades diferentes. A resposta a essa pergunta representaria uma
opção ideológica entre as diversas teorias antropológicas, que oferecem um
mundo extremamente complexo de idéias, impossível de sintetizar. (Almeida,
2013)..

Há, desde as duas últimas décadas, um certo consenso - nos cidadãos, nas
famílias, nos partidos da maior parte dos países - quanto à necessidade de que
a escola desempenhe um papel mais activo no desenvolvimento dos valores
nos alunos. Esta tendência está claramente manifesta nas conclusões da Iª
Conferência Este-Oeste de Educação Moral, que se realizou no Verão de 1987,
no Japão. Oradores de 15 países, depois de descreverem os problemas morais
com que se confrontavam, e de que modo tentavam combatê-los, chegaram à
conclusão de que as causas para tais problemas eram comuns, a saber: a crise
na família; o impacto negativo da televisão nas crianças; o aumento do
egocentrimo, do materialismo e da delinquência, nos jovens. Face a esta
situação, apelaram a que o sistema educativo interviesse mais activamente na
educação moral dos educandos (Marchand, s/d).

Existem, ainda, (cf. Lickona, 1991), importantes razões para que a escola
eduque para os valores: (1) a transmissão de valores é, e sempre tem sido,
uma tarefa da civilização; (2) as grandes questões com que se confrontam as
pessoas individuais e a raça humana são questões morais ( a grande questão
individual é: "de que modo devo viver a minha vida?"; duas grandes questões
da humanidade são: "de que modo viver com os outros?", "de que modo viver
com a natureza?"); (3) as democracias, na medida em que são regimes
políticos em que as pessoas exercem um papel determinante, sentem especial
necessidade de desenvolverem os valores dos cidadãos; e (4) o papel da
escola na promoção dos valores torna-se particularmente importante numa
época em que milhões de crianças recebem muito pouca educação moral na
família, e em que a Igreja perde gradualmente influencia. A estas razões, é
importante acrescentar uma outra que, embora apresentada em último lugar, é,
porventura, uma das mais importantes, a saber, nenhuma forma de educação
é neutra ou independente de valores (Beltrão & Nascimento, 2000).
(Marchand, s/d).

Têm sido várias as metodologias utilizadas para desenvolver os valores. A


mais antiga, e talvez a mais persistente, foi (é?) a doutrinação. Através da
disciplina, do bom exemplo dos professores, do curriculum, as escolas
tentaram (tentam?) ensinar - focalizando-se mais nas condutas do que nos
raciocínios - as virtudes do patriotismo, do trabalho, da honestidade, do
altruísmo e da coragem e, assim, "educar o carácter" dos alunos (Marchand,
s/d).

A doutrinação e a educação do carácter foram, desde cedo (nos Estados


Unidos, desde a década de 20) postas em questão. Diversos factores
contribuíram para que tal acontecesse (cf. Lickona, 1991). De entre eles,
destacamos três: (1) a transposição para o domínio da moralidade da
concepção de relatividade de Einstein, o que deu origem ao relativismo moral,
em que "tudo é relativo ao diferentes pontos de vista", (2) os estudos
desenvolvidos por Hartshorne e May (1920), com uma amostra de 10.000
crianças, que mostraram que os seus comportamentos variavam com a
especificidade das situações 6 (tais como o grau de risco que envolviam), o
que levou a que se questionasse sobre a existência de uma dimensão interna
consistente a que se poderia chamar carácter ( "se o carácter não existe, como
pode ser educado?"), e (3) o desenvolvimento do positivismo lógico, que
encara os juízos de valor enquanto "opiniões pessoais" e não enquanto juízos
objectivos e racionais referentes ao bem e ao mal. Neste contexto, a
moralidade "privatiza-se", i.é., torna-se um assunto pessoal e privado, e não
um assunto a ser debatido publicamente e muito menos a ser transmitido nas
escolas. A escola pública retrai-se quanto ao papel a desempenhar na
educação dos valores. Esta mudança ocorre, nos E.U., nos anos 50.
(Marchand, s/d).

Evidentemente que, embora deixe de educar moralmente de maneira explícita,


a escola fá-lo implicitamente. A escola continua a regular o comportamento
moral dos alunos - por ex. exige obediência aos professores, proíbe a violência,
o vandalismo, pune os delitos. Através de exemplos dos professores e de
colegas tenta desenvolver comportamentos de respeito, de cuidado, entre
outros. A educação dos valores passa a fazer parte do currículum escondido.
(Marchand, s/d).

Nos anos 60, com a emergência do personalismo e do relativismo, surge uma


perspectiva alternativa de educação moral - a clarificação dos valores, ( Raths,
Harmin, & Simon, 1966). A clarificação dos valores rejeita, explicitamente, a
doutrinação e a educação do carácter e propõe que os professores, num clima
de não-directividade e de total neutralidade, ajudem os alunos a clarificar os
seus próprios valores, a assumi-los e a pô-los em prática. Este movimento teve
um enorme impacto, que se deve, sobretudo, à simplicidade da sua aplicação.
Com efeito, não só oferece aos professores dúzias de actividades, como não
exige nenhuma formação específica (Marchand, s/d).

Embora a clarificação dos valores tenha alguns aspectos positivos, o principal


consistindo em ajudar os alunos a pensar sobre valores e a fazer a ligação
entre os valores que defendem (e.g., "A poluição é má") e a acção
desenvolvida, ou a desenvolver ("O que têm feito quanto a isso?"), desde logo
sofreu diversas criticas: (1) confunde frequentemente, como se pôde verificar
pelo exemplo anterior, questões triviais com questões éticas importantes, (2)
não diferencia o gostar de fazer (e.g. roubar) do dever fazer (e.g. respeitar a
propriedade dos outros),e (3) baseia-se no relativismo moral, não
hierarquizando os valores e, portanto, não sugerindo que alguns valores podem
ser melhores, ou piores, do que outros (Marchand, s/d).

A este propósito Lickona conta-nos a seguinte história: um professor pergunta


aos seus alunos durante o exercício de votação de valores: "Quantos já
roubaram numa loja?" Muitos alunos levantam a mão. O professor (quebrando
a neutralidade!) pergunta: "Não acham que roubar lojas é errado?" Um aluno
responde: "Não, porque temos direito a possuir bens materiais". Vários alunos
concordam com ele. Frente a tal situação o professor pensa: "O que fazer?
Graças a Deus, a campainha está a tocar para sair".(Marchand, s/d).

Nos anos 70, surge uma nova abordagem de desenvolvimento moral e de


educação moral - a abordagem cognitivo desenvolvimentista (ou estrutural -
construtivista) de Lawrence Kohlberg - que não só rejeita o relativismo ético da
clarificação dos valores, como acentua a componente cognitiva da moralidade
(Marchand, s/d).

Esta abordagem defende: (1) que existem princípios universais (sendo o mais
forte a justiça), que constituem os critérios por excelência de avaliação moral (é
de salientar que este universalismo se situa no domínio do dever ser e não do
ser) , (2) que as pessoas constróem tais princípios activamente, e regulam a
sua acção de acordo com esses princípios, (2) que existem diversos níveis de
moralidade, sendo os mais elevados mais diferenciados, mais integrados e
mais universais. Propõe, ainda, que a educação moral se centre na discussão
de dilemas morais - hipotéticos e reais - em contexto da sala de aula,
chamando, porém, a atenção de que as pessoas só evoluem moralmente se
estiverem inseridas numa "atmosfera moral" (Kohlberg, 1976, p.50), ou numa
"comunidade justa" (Power, Higgins e Kohlberg, 1989). Os efeitos da
estimulação do desenvolvimento moral serão necessariamente 8 limitados se
as pessoas viverem em ambientes em que prevalece uma moral de obediência
e de respeito unilateral (moral heterónoma) (Marchand, s/d).

A abordagem de Kohlberg embora tenha sido, e continue a ser, uma valiosa


alternativa às restantes abordagens de desenvolvimento e de educação moral,
recebeu diversas críticas, de que salientamos duas : (1) o modelo cognitivo
desenvolvimentista não tem suficientemente em conta a natureza
multidimensional da moralidade - i.e., além da dimensão cognitiva, a dimensão
afectiva e motivacional, (2) o modelo cognitivo desenvolvimentista subvaloriza
a importância de factores, tais como diferenças de sexo, de raça, de classes
sociais e de cultura, no modo como as pessoas atribuem significado às suas
experiências morais (Day & Tappan, 1996). (Marchand, s/d).

Com o objectivo de superar tais críticas surgiu, nos últimos anos, uma
abordagem do desenvolvimento e educação moral, que se baseia nas
teorizações de Bruner, Day e Tappan, entre outros, designada "abordagem
pela narrativa" ( the narrative approach). A abordagem pela narrativa centra-se
nas histórias pessoais, ou colectivas, nas quais se colocam - e se vivem -
conflitos e escolhas morais. Esta abordagem advoga que a vivência de tais
situações implica as três dimensões de moralidade, assim como os factores
acima descritos (Marchand, s/d).

Desde sempre, e nas mais diversas culturas, se contam histórias com o


objectivo de entreter as crianças e, também, de transmitir valores de gerações
mais velhas para as mais novas. No entanto, só recentemente se tem
analisado o papel das histórias (storytelling) e das narrativas (narratives) -
nomeadamente das narrativas orais – no desenvolvimento dos valores. Quais
as razões do recente interesse pela utilização das histórias e narrativas no
desenvolvimento e educação moral? De acordo com Day, Tappan e
colaboradores (cf. Day & Tappan, 1996), autores que apresentam uma das
mais desenvolvidas concepções de desenvolvimento moral e de educação
moral através da narrativa, existem diversas razões para que tal aconteça.
Razões ligadas ao facto das diversas conceptualizações de desenvolvimento e
de educação moral até então dominantes, nomeadamente a de Kohlberg,
serem objecto de diversas críticas, e razões ligadas ao papel que a narrativa
desempenha na vida das pessoas, em geral, e na dimensão moral das
pessoas, em particular. Nas palavras de Lapsley (1996, p.103) "a narrativa é
uma forma de discurso especialmente interessante porque contar histórias é
uma actividade central da vida humana. Os nossos pensamentos e acções
estão 9 estruturados em práticas discursivas (...) Quando me pergunta ' O que
aconteceu?', eu conto uma história". De acordo com Tappan & Brown (1989,
pp.183-184), "as pessoas atribuem significado às suas experiências de vida
representando-as sob a forma de narrativa", e " as pessoas desenvolvem-se
moralmente tornando-se 'autores' das suas histórias morais e aprendendo as
lições morais das histórias em que contam as suas experiências." (Marchand,
s/d).

A abordagem pela narrativa - contrariamente à abordagem que utiliza um


conjunto de dilemas hipotéticos estandartizados para elícitar o raciocínio moral
(ver Kohlberg, 1981, 1984; Rest, 1983, entre outros)- centra-se nas
experiências reais das pessoas, nos seus conflitos e escolhas pessoais. Os
proponentes desta perspectiva defendem que a vivência de experiências
morais implica as três dimensões da moralidade - a cognição, a emoção e a
acção - e tem em consideração os factores contextuais - i.e., diferenças de
género, de raça, de classe social e de cultura. De acordo com Tappan & Brown
(1989), a representação de experiências morais pressupõe uma interacção
complexa da cognição ("o que ele/ela pensou"), da afectividade ("o que ele/ela
sentiu") e da acção ("o que ela/ela fez"), dependendo estas dimensões de
factores contextuais (Marchand, s/d).
.
A vida moral não é apenas contada, as narrativas morais são dramatizadas , no
sentido em que se repetem as opções e intenções perante uma audiência
internalizada, ou real. Contar uma história pressupõe, ainda, reflectir sobre a
experiência narrada. Tendo em consideração estas características, diversos
autores (cf. Day & Tappan, 1996; Tappan & Brown, 1989), levantam a hipótese
de que as pessoas se desenvolvem moralmente através das narrativas que
ouvem e das suas próprias narrativas (Marchand, s/d).
.
A perspectiva de educação moral pela narrativa propõe que os professores
convidem os seus alunos a contar as suas próprias histórias morais (Tappan &
Brown, 1989) ou a ouvir, ler e discutir histórias, novelas ou outras peças da
literatura (Coles, 1989). Para que seja bem sucedida esta abordagem
pressupõe, de acordo com os seus proponentes (ver Tappan & Brown, 1989):
(1) uma relação com um professor sensível e empático quanto a diferentes
perspectivas, vozes e linguagens (nomeadamente de género, de cultura e de
classes sociais) (2) a utilização, pelos professores, de uma metodologia
interpretativa.
10
Embora passível de críticas de natureza teórica, de que se destaca o perigo de
se cair no relativismo (cf. Lourenço, 1996) e, se se tiver em consideração
alguns proponentes mais radicais desta abordagem (e.g. Brown et al. (1991),
numa neutralidade excessiva (com efeito, a empatia e neutralidade que o
professor deve manifestar em relação às diferentes vozes, linguagens, histórias
e acções - "those stories should be told, not judge", afirmam Brown et al.,
(1991) - pode conduzir à situação extrema de todas as vozes, linguagens,
histórias e acções serem moralmente equivalentes), e embora ainda haja
poucos trabalhos empíricos com o objectivo de avaliar os seus efeitos no
desenvolvimento moral (estamos a iniciar um estudo neste âmbito), esta
perspectiva é considerada uma metodologia de educação dos valores
promissora, nomeadamente em crianças pequenas, em crianças e jovens
provenientes de culturas não europeias, e pertencendo a meios sócio-culturais
desfavorecidos (cf. Cunha, 1996; Tappan & Brown, 1989). (Marchand, s/d).

Numa altura em que se propõe "a integração, com carácter transversal, da


educação para a cidadania em todas as áreas curriculares", pensamos que a
utilização de narrativas, dos seus heróis e heroinas (por ex. de grandes
cientistas, grandes estadistas, grandes defensores de causas justas,
personagens de romances) pode constituir uma boa metodologia de
desenvolvimento dos valores, na condição de não se limitar a proporcionar uma
identificação acrítica com modelos. Para contrariar o perigo do relativismo
interessa que a identificação com os modelos seja acompanhada de reflexão
crítica, isto é, baseada em princípios éticos universais (sendo o mais forte a
justiça), constituindo tais princípios os critérios por excelência de avaliação
moral (Marchand, s/d).

Segundo Fonseca (2011), os valores são fundamentais para a formação do ser


humano, por serem encarados como “fios que compõe a teia de sentidos que
suporta a vida” (p. 69), mostrando que é através destes que os indivíduos
avaliam o seu quotidiano.
Vimos o valor que tem a educação no desenvolvimento de qualquer projeto
humano. Mas ele será insuficiente caso não seja, também, humanizador. Um
projeto técnico construído dentro dos parâmetros científicos e tecnológicos
mais arrojados será sempre um projeto humano. Contudo, se não responder a
um “para quê”, não revelará a substância diferenciadora de sua qualidade,
oferecendo-lhe sentido e razão de ser. Em se tratando de um projeto
excludente, em nada contribuirá para tornar mais harmônica a convivência
humana. (Siqueira, 2010).

Segundo o autor, a inclusão da Educação Moral e Cívica no currículo do ensino


fundamental, “apoiada numa metodologia voltada para a conscientização
espontânea, tem por objetivo amplo o resgate dos valores permanentes e
imutáveis de uma sociedade e de uma nação, tais como a família, a cidadania,
o comportamento ético, o amor à Pátria”. Conforme preconiza, “os conflitos e
as tensões crescem a cada dia no seio das famílias e preceitos como honrarás
pai e mãe estão se tornando obsoletos”. Afirma ainda que ...a violência, as
drogas e o vandalismo são triste reflexo da desestruturação familiar, da
vulgaridade dos meios de comunicação de massa e o ter tornou-se mais
importante que o ser (...) a falta de referenciais éticos e a consagração da
impunidade concorrem para o desajuste das famílias e a marginalização das
crianças, adolescentes e jovens (Limam 2000 citado por Amaral, 2007: 356).

a inclusão da disciplina Educação Moral e Cívica permitirá resgatar os valores


perdidos para as drogas e a violência. No entanto, para o deputado, para uma
sociedade e uma nação valores como família, cidadania e ética são
permanentes e imutáveis. É necessário refletir sobre quais princípios se
baseiam seus argumentos. A família é um valor imutável e permanente? Em
que concepção de família se baseia? O que se configura como uma família
desestruturada? E a ética pode ser considerada um valor imutável e
permanente? Para finalizar, o que seria uma metodologia voltada para a
conscientização espontânea? O deputado conclui que “urge fortalecer,
repensar e reorganizar os valores da família e da sociedade e que somente por
meio da educação é que se obtém a paz social e a verdadeira democracia”.
Será a educação a única responsável pela paz e pela democracia (Limam 2000
citado por Amara, 2007: 356)?

Segundo o autor, a implantação das disciplinas mencionadas pode parecer


insignificante, mas Nader acredita que provocará alterações na vida de muitos
jovens e poderá futuramente surtir efeitos mais abrangentes, uma vez que,
freqüentemente, a imprensa divulga o aumento da violência nas escolas e o
envolvimento de jovens em assaltos, assassinatos e tráfico de drogas. No que
se refere à disciplina Educação Moral e Cívica, acredita que ...ajudará a
conscientizar os jovens de sentimentos como o amor à pátria e aos seus
símbolos, tradições, instituições e respeito aos vultos de sua história, bem
como o amor à família, preservação do espírito religioso, da dignidade, da
liberdade com responsabilidade, dos valores éticos e morais, de solidariedade
humana e aprimoramento do carácter (Nader, 2005 citado por amaral, 2007).

Diante do tempo cada vez mais exíguo que muitos pais dispõem para conviver
com seus filhos, educando-os adequadamente, e também diante do papel por
vezes deletério que os meios de comunicação de massa, particularmente a
televisão, assumem na formação das personalidades das crianças e
adolescentes, a criação de um componente curricular para a abordagem de
questões éticas e cívicas se reveste de inequívoca importância (Simon, 1997
citado por Amaral, 2007).

O desenvolvimento moral do homem é condição essencial no processo de


socialização. Assim, a educação moral deve acontecer em todos os espaços
em que as pessoas estão em relação e, em decorrência dessa convivência,
possam experimentar as vantagens da cooperação, da solidariedade, da
igualdade, da justiça. Entendemos que, de acordo com a perspectiva de Puig
(1998) precisamos desenvolver uma educação moral para ser capaz de
detectar e criticar injustiças, estar comprometido com a construção de uma vida
mais justa para todos, comportar-se de acordo com princípios auto-escolhidos,
adquirir as normas e valores considerados justos em sociedade, pois a
educação moral pode se dar em momentos distintos que vão da adaptação às
normas da sociedade ao conhecimento e reconstrução dos próprios valores
(Mahenna s/d).

Uma escola quase exclusivamente orientada para o saber não pode garantir
que os sujeitos dessa escolarização sejam simultaneamente competentes no
desempenho de tarefas profissionais e socialmente aptos para gerirem o
espaço de direitos e deveres que a sociedade lhes proporciona. Daí a lacuna
sentida por todos quanto a outras competências que urge desenvolver nos
jovens ao nível moral, de uma educação do carácter, ao nível socio-politico, em
suma, de uma educação para os valores nos quais se integra a formação para
a cidadania (Silva,1999: 27).

A formação para a cidadania, ou educação cívica, vem assim colmatar uma


lacuna no currículo da educação formal, quer a sua inserção se faça por via da
criação de uma nova disciplina assim designada, quer pela integrarão desta
área na disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, quer ainda, do modo
como neste momento o sistema educativo a contempla, ou seja, através de
variadas estratégias formativas que a própria escola desenvolve ou virá a
desenvolver adentro na dinâmica dos seus projectos educativos próprios
(Silva,1999: 27).

No entanto, a realidade do nosso ensino diz-nos que só uma reestruturação


das escolas e dos serviços e um investimento na formação dos professores
poderá criar o ambiente propício a uma real e efectiva formação pessoal e
social do educando, para uma educação cívica e moral, para que, através da
vivência prática, a criança, o adolescente, o jovem possam assumir livremente
os valores de uma sociedade justa, democrática e solidária, sentindo-se
preparados para actuar, civicamente, nas instituições e capacitados para a
resolução dos problemas da vida (Martins, 1998).

É, pois, necessário um projecto educativo que se apoie em valores. Há valores


universais, valores herdados e valores novos, que teremos de construir a partir
de valores mais antigos. Torna-se necessário criar sempre novos valores a
partir dos valores herdados. A educação terá de ser isso. Não há educação
sem valores como não há educação sem liberdade. A educação tem de ser
livre mas terá, também, de ser uma ligação do passado ao futuro, a mediação
entre a cultura do passado que se projecta no presente mas que pretende criar
o futuro. Ε que sem futuro não há educação. Educar é sempre pensar no
futuro. Ε relacionar os valores do passado, assumidos porque válidos, e os
valores criados (Martins, 1998).

Neste momento, é importante esclarecer que o entendimento relativo à


educação em valores incorporada por esse trabalho não se assemelha com a
ideia de instruir os educandos quanto aos procedimentos e atitudes
supostamente adequadas a serem seguidas. Não se trata de transmissão de
valores com base em ideais prédefinidos, mas sim da possibilidade de inserir
no ambiente escolar um procedimento dialógico capaz de levar os alunos a agir
conforme e refletir acerca de seu papel de cidadão (Lopes, 2011).

A transmissão de virtudes, nos moldes de uma cartilha prédefinida como


instrumento de domesticação, não atende a uma dimensão de cidadania
cosmopolita, na qual o respeito à pluralidade é fundamental. Assim, educar em
valores, no atual contexto, implica necessariamente em “abandonar a versão
tradicional do caráter instrumental, centralizada na transmissão de
comportamentos virtuosos com base em ideais préestabelecidos” (GOERGEN,
2001, p. 148). Desse modo, compartilha-se do seguinte entendimento (Lopes,
2011):

O correto agir é o resultado de um projeto de aprendizagem, uma tarefa


educativa. O correto agir não preexiste na forma de prescrições que a
educação teria como que em carteira para transferir aos alunos. A educação,
portanto, não pode gerar nos alunos um conjunto acabado de disposições
(virtudes) voltadas para a justiça, para o respeito ou a solidariedade. Em outros
termos, não é pela educação que alguém se torna justo. O que a educação
pode fazer é abrir aos alunos o mundo do agir moral por meio de um processo
pedagógico/reflexivo/comunicativo a respeito das proposições morais que
integram o ambiente cultural (GOERGEN, 2001, p. 152-153). (Lopes, 2011).
Os “valores cívicos”, assim definidos por Cortina (2005, p. 180) são os
elemento que integram os mínimos considerados por todos como
irrenunciáveis, mesmo em meio à diversidade. Ou seja, em meio aos diversos
“códigos morais” que transitam nos âmbitos familiares, religiosos e
profissionais, a ética cívica faz parte de diferentes grupos pertencentes a todos
esses setores da vida e a muitos outros.

Certamente, o objetivo da educação em valores consiste em indicar os


caminhos que devem ser trilhados, “mas em explicitar os mínimos morais que
uma sociedade democrática deve transmitir”, valores esses irrenunciáveis
(CORTINA, 2009) que “[...] os membros de uma sociedade pluralista
compartilham,44 sejam quais forem suas concepções de vida boa, seus
projetos de vida feliz” (CORTINA, 2005, p. 149).

Nessa perspectiva, os valores cívicos constituem um vínculo capaz de unir


membros pertencentes aos mais variados núcleos sociais; seja como membros
de uma determinada família, profissão, religião ou vizinhança. Por esse motivo,
a ética cívica é considerada pluralista e própria dos membros de uma
comunidade civil e não do Estado. Isso significa afirmar que, apesar de ser
essa ética pública, própria do cidadão, que “legitima as instituições políticas”,
ao Estado cumpre o papel de respeitá-la e observá-la (CORTINA, 2008). De
mais a mais, a ética cívica brota da realidade social, como um conjunto de
valores e princípios compartilhados em meio ao pluralismo. Vale sempre
recordar: ninguém nasce ético. Educa-se em valores, estimulando e
fortalecendo uma cultura e um modo de ser pessoal e coletivo que seja
inclusivo. Que faça com que mais e mais seres humanos sejam aceitos em 52
função de sua humanidade e não em decorrência de sua “animalidade”, aqui
considerada como expressão de mais ou menos poder, mais ou menos força
bruta. Isso não se fará sem o fortalecimento da cidadania, que considera, em
seu processo educativo, o valor das pessoas como fins em si mesmas e não
como coisas. Um imperativo ético que se faz pela aplicação do direito e pela
educação em valores. Materialização de um sonho de humanidade e de
cidadania que vá além da racionalidade instrumental da educação. Nesse
sentido, “se buscamos a formação de pessoas autônomas com desejo de auto-
realização, então é necessária uma educação moral, no mais amplo sentido da
palavra „moral‟” (CORTINA e MARTÍNEZ, 2005, p. 170). (Siqueira, 2010).

A educação em valores supõe algo mais que a mera afinidade com um tipo de
literatura que estimule esse tipo de reflexão. Implica a tentativa de adequação
das expectativas da organização e de seus respectivos servidores. Um esforço
de ambas as partes a fim de demonstrar permanente abertura para o alcance
de objetivos práticos, associados à excelência. O que significa chamar a
atenção para a reeducação de procedimentos operacionais e atitudinais,
priorizando a qualificação de “relações interpessoais pautadas em valores
vinculados à democracia, à cidadania e aos direitos humanos” (ARAÚJO, 2007,
p. 35). (Siqueira, 2010).

Uma forma privilegiada de caracterizar o compromisso com alguns princípios e


valores morais será a de dar-lhe a maior concretude possível. Só assim o valor
“respeito à dignidade da pessoa humana”, por exemplo, deixará de ser um
compromisso meramente discursivo, incorporando-se ao cotidiano das
organizações. Ao assumir o compromisso com a educação em valores, haverá
exigências impostas a seus interessados. Ainda que não possam eliminar,
deverão combater, reduzindo ao máximo alguns fatores de incompatibilidade.
53 Faz-se necessário, então, envidar esforços para realizar a transição de
relações fundadas em comando e controle, para outras, baseadas em liderança
e motivação. Isso requer o incremento dos níveis de autonomia, consciência,
liberdade e responsabilidade dos atores envolvidos (Siqueira, 2010).
.
Na prática, será preciso estimular o estabelecimento de relações que valorizem
o diálogo e a construção coletiva de soluções para os problemas que sejam
comuns, integrando as partes interessadas e influenciando sua mudança: de
agentes passivos a cada vez mais ativos e comprometidos com a organização.
(Siqueira, 2010).

1.8. Considerações gerais acerca do programa de EMC da 9ª classe

A assimilação desses valores leva a pensar nos conteúdos (que valores?) e


nos métodos. Fala-se da "clarificação de valores", e do método da narração, do
exemplo histórico, no método da discussão de dilemas ou da problematização
ou ainda do ensino directo, depende da filosofia adoptada. Todos os métodos
têm merecido críticas diversas. Não podemos, no entanto, adoptar atitudes
reducionistas e apontar apenas defeitos a uns e qualidades a outros.
Naturalmente não pode ser adoptada uma teoria no seu estado puro. É preciso
aproveitar as virtualidades de cada método e não esquecer que há valores
universais que devem ser assimilados, mas numa atitude reflexiva e
consciente. O aluno deve assimilar um valor depois de o ter discutido,
compreendido e, em liberdade, o ter adoptado como seu (Martins, 1998).

Daí que a posição do professor deva ser a de criar e gerir conflitos, estimular o
aluno à reflexão, criar um ambiente democrático, para que, em plena liberdade,
ele adquira uma capacidade de reflexão e de crítica perante os problemas da
vida que o levem a adoptar atitudes, a tomar decisões. "A perspectiva
pedagógica é a perspectiva própria ao professor reflexivo, que pondera as
achegas das várias disciplinas, dos vários métodos e das várias didácticas e as
aplica criteriosamente aos seus alunos, de acordo com a sua situação,
necessidades e contextos" (Cunha, 1993).

A Escola contribui então para a construção da identidade do adolescente, quer


através de toda a área curricular, quer através do chamado currículo oculto. Ε
na participação, na acção reflectida que o educando desenvolve as suas
capacidades e competências, na educação cívica e no raciocínio (e no juízo)
moral (Martins, 1998).

Bibliografia

SILVA, I. (1999). Cidadania e valores morais: contributo para uma


possível inserção curricular destas áreas. GEPOLIS: Revista de filosofia
e cidadania. Lisboa. ISSN 0873-7193.6(1999)24-38.

OLIVEIRA, P. E. de, (2012). Crise de valores: desafio à sustentabilidade.


Disponível em agrinho.com.br/materialdoprofessor/crise-de-valores-
desafios-a-sustentabilidade.
Pedro dOrey da Cunha, "Objectivos, conteúdos e métodos da disciplina
de desenvolvimento pessoal e social", Inovação, 6 (1993) 287-308.

MARTINS, I. (1998). Educação e ensino a perenidade dos valores. In


HVMANITAS- Vol. L (1998).

Mehanna, A. (s/d). Desenvolvimento de valores morais, éticos e


científicos na educação

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