1.1. Conceitos
Noção de Valor
Fazendo jus ao que acima foi realçado Hilemusinda (2019) comenta e confirma
igualmente que a palavra valor pode ter vários significados, conforme o
contexto em que for empregue, que podem ser filosóficos e morais económico,
sociológico, cultural, religioso, etc. o autor realça que além dos significados já
assinalados pode-se ainda apontar: «[…] reputação, talento, prestígio,
merecimento, valentia, coragem, preciosidade de uma coisa, conjunto de
normas - morais e éticas, etc.»(p.36).
Noutro ângulo ainda, é imprescindível salientar que não há valores que não
resultem da história do Homem, é por isso que caminham com ele, no seu
processo evolutivo, de geração em geração, sendo que estão intimamente
ligados ao processo histórico e cultural de um povo e visam, em cada tempo e
espaço, expressar o seu modus vivendi sobre aquilo que acha das coisas (Lau,
2005).
Tendo como ponto de partida o que acima foi reflectido, pode se afirmar que a
discussão em torno do conceito em análise, bem como da sua problemática,
funda-se naquilo que se denomina Axiologia, termo que deriva do grego axia,
que significa “valor trata-se de uma discussão histórica, pois que ela já vem de
muito tempo pelo que não há um só, mas muitos sentidos para o referido termo
(Georgen, 2005 citado por Almeida, 2013).
Na sequência deste intróito uma questão se coloca. Afinal o que são valores,
que tipos de valores existem, como podem ser classificados. Estas indagações,
apesar de terem razão de ser, as suas respostas não podem ser encontradas
de forma leviana, dada a transversalidade que a discussão do conceito
encerra. Contudo, é possível encontrar-se alguma respostas entre os autores
consultados, embora nem sempre consensuais, o que é de resto, normal no
domínio das ciências sociais e humanas.
De acordo com (Lau, 2005) valor é uma qualidade atribuída a uma coisa, a
partir da avaliação ou juízo de valor feito sobre ela, que pode ser positivo ou
negativo.
Já para Fabelo (1996 citado por (Ndala) "o valor humano é a significação
essencialmente positiva que possuem os fenómenos e os objectos da
realidade, não é qualquer significação, senão aquela que joga um papel
positivo no desenvolvimento da sociedade.
Por seu turno Pais (1999) define valor como tudo aquilo que uma ou mais
pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e
desenvolvido. O autor consolida a sua ideia asseverando que o valor não é
simplesmente uma preferência, mas uma preferência que se crê e/ou se
considera justificada — quer seja moralmente como fruto de um raciocínio,
quer como consequência de juízo estético.
Ainda na senda do que acima foi dito Lau (2005) complementa que o valor tem
um sentido objectivo porque não é possível valorizar algo que não existe de
facto, ou seja, que tenha uma existência real. O citado autor avança como
exemplo, um carro que só é útil porque traz consigo a sua utilidade, neste caso,
o valor do carro para o Homem.
Como se pode notar, a partir do que acima foi aludido, valor pode então
assumir duas dimensões, a objectiva e a subjectiva. Contudo, Jamba (2011) a
respeito desta distinção, faz uma importante observação que deve ser levado
em consideração, quando refere que independentemente das duas dimensões,
é preciso ter-se em atenção que nenhuma dimensão reduz a outra, ou seja, a
subjectividade do valor não anula a sua objectividade, mas sim completa-a.
Assim, na base desta visão, o citado autor explica que apreciar um valor
somente na dimensão subjectiva é subestimar tal valor.
Uma outra consideração a ter-se em conta, quando se analisa o conceito de
valor, assenta nas suas características. Deste nodo, um valor pode ser positivo
ou negativo. A primeira característica agrupa consigo todas as qualidades
positivas que devem ser atribuídas aos objectos independentemente da área
desse objecto. por exemplo a verdade, o bem, a paz, a alegria, o belo ou o
bonito, o agradável, o útil, etc, ao passo que a característica negativa
determina as qualidades de tipo desagradável que se atribuem às coisas: falsa,
mentirosa, maldosa, azeda, amarga, feia, conflituosa, inútil, não agradável, etc.
portanto, em síntese, pode afirmar-se que o valor de um objecto será positivo
quando agrada aos sentidos e ao espírito e negativo quando não causa uma
harmonia agradável (Lau, 2005).
Por fim, importa pontuar que a par do tipo e característica, os valores também
comportam diferentes classificações. Nesta óptica, segundo Ndala () o valor
pode ser ético-cognoscitivo, ético-morais, estéticos, económicos, sócio-
políticos e religiosos (Ndala)" (17).
Uma outra classificação mais elucidativa é a que nos apresenta Lau (2005)
apoiando-se na filosofia dos valores, este autor classifica os valores em dois
grupos básicos, designadamente: o dos valores de ordem material, estes que
por sua vez integram os valores utilitários, estéticos, simbólicos, económicos e
alguns de âmbito social, etc e o grupo dos valores de ordem espiritual ou ideal
que integra os valores: éticos, religiosos, etc. por seu turno, os valores éticos
se prendem às qualidades morais do comportamento humano: o bem e o mal,
a verdade e a falsidade, o ódio, etc.
Por fim, Hilemusinda (2019) classifica os valores em: valores humanos; valores
morais; valores cívicos e sociais; valores culturais; valores patrióticos; valores
filantrópicos; valores familiares; valores educativos; valores religiosos e valores
patrióticos.
Moral
De acordo com Jamba (2016) a moral é uma palavra vinda do latim: «mos;
moais», com significado de «modo de proceder», «costumes»,
«procedimento», «comportamento» que significa: hábito, igual a moral, ou seja,
moral igual a hábito, isto por que na percepção do citado autor o hábito
normalmente surge e é sustentado por uma obrigação, regra, norma ou lei.
Assim, quando o indivíduo por força da lei, norma, ou uma regra quer seja
objectiva como subjectiva, se sente impelido a proceder de uma e não de outra
maneira, com o decurso do tempo, esta prática se torna um hábito.
De acordo com Cunha (2015 citado por Cechinel, 2018) também confirma que
o termo “Moral” deriva do Latim Mores, que significa “costume”. Ou seja, aquilo
que se consolidou ou se cristalizou como sendo verdadeiro do ponto de vista
da acção.
A moral é um facto social porque se institui entre os homens nas relações que
estabelecem entre si ao longo do desenvolvimento cada sociedade. É com
justa razão que a filósofa Chaui (2000) considerou que
cada cultura e cada sociedade instituí uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e
ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus
que exprime um conjunto de princípios pessoais que nos levam para uma auto
– realização, dito doutro modo, esta característica têm a ver com o bem-estar,
não só do ponto de vista físico, mas sobretudo psicológico e social (Jamba).
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que
são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os
juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor -
avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas
artes, na política, na religião. Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações,
experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e
decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis (Chaui, 2000: 429).
Valores Morais: são uma gama de virtudes que a pessoa capta e/ou descobre
de forma consciente ou inconsciente e se manifestam na sua conduta: o amor
a compaixão, a justiça, a misericórdia, a hospitalidade, o respeito, a
responsabilidade, a liberdade.( (Jamba).17).
Importa ainda lembrar que na anterior abordagem ficou-se com a noção de que
valor é uma qualidade que a pessoa atribuí a uma coisa, a partir da avaliação
feita sobre ela, podendo esta qualidade ser positiva ou negativa.
Com estas noções entende-se que estão reunidas as condições para uma
outra abordagem em torno do conceito central que acima aludimos - os valores
morais e cívicos. Contudo, para que este exercício seja considerado, de algum
modo, completo é necessário proceder-se, ainda que em curtas linhas, ao
levantamento daquilo que se pode perceber por cívica ou civismo.
Neste sentido, é possível adiantar-se, desde logo, por clarificar que a palavra
Cívica (o) quer dizer de cada cidadão ou relativo aos cidadãos, como membros
da Nação; respeitante ao bem público; que diz respeito ao bem comum
(Soquia, 2018).
Deste modo pode-se então afirmar que cívica provém do conceito de cidadão.
Por seu turno, um cidadão será uma pessoa que se considera numa fase
madura e suficientemente desenvolvido para agir de forma consciente e
responsável dentro da sociedade. Entretanto, é importante deixar claro que
normalmente as crianças e adolescentes ficam fora dessa categoria.
Então, cívico será tudo o que tenha a ver com os cuidados e com o ambiente
da cidade1. Este termo, por seu turno também nos remete ao conceito de
civismo relativo dedicação do cidadão pelo interesse público. Trata-se de
1
Idem
comportamento demonstrativo de respeito pelos valores da sociedade e pelas
suas instituições (Soquia, 2018).
Compreende-se por isso quando Maria (2916) refere que é suposto o Estado
ter como finalidade a realização do bem comum dos seus cidadãos,
promovendo o seu crescimento material e espiritual. Mas de acordo com o
autor a satisfação deste desiderato, não depende única exclusivamente do
Estado, cada cidadão deve exercer também o seu papel individual e
colectivamente. E uma das formas que corporiza esse exercício, é, sem dúvida,
a observância prática dos valores morais, o usufruto dos direitos e o
cumprimento dos deveres para com o trabalho, a família, o Estado e outros
entes socialmente aceites
É na senda do que foi dito acima, e numa perspectiva não muito longe, que o
termo cívica é entendido como um adjectivo utilizado para referir-se à várias
questões relacionadas com o civismo ou convivência social dentro de uma
comunidade. Normalmente é usado para adjectivar alguns tipos de pauta
(pautas cívicas) de comportamento, assim como certos tipos de conhecimento
que estão dentro de uma disciplina escolar conhecida como educação cívica ou
instrução cívica2.
Por outras palavras, civismo pressupõe que o homem é um cidadão e como tal
usufrui de direitos, mas também cumpre deveres enquanto membro de uma
sociedade, de um Estado, de um país, esses deveres são, por sua vez,
fundados em valores, portanto valores cívicos (Maria, 2016: 105).
Assim sendo uma questão se coloca. Que valores cívicos devem ser
educados? Para esta questão haverá certamente muitas respostas, contudo,
na perspectiva deste estudo, os valores cívicos a serem educados devem
incidir em aspectos relevante tais como a composição de uma sociedade, os
direitos e obrigações de quem a compõe, o que é a família, o que é um grupo
de amigos, que tipo de vínculos existem dentro de uma sociedade, as
diferentes formas de governo e as formas que cada cidadão tem para participar
activamente não só da política, mas também em muitos outros aspectos
relacionados à sociedade3.
Por fim é importante pontuar que embora a educação moral e cívica seja uma
das disciplinas escolares mais agredidas e menos consideradas, na realidade é
a que talvez tenha ligação mais directa com a realidade (características que
pode faltar a muitas outras disciplinas escolares e que são criticadas)
activamente não só da política, mas também em muitos outros aspectos
relacionados à sociedade4.
Há uma estreita relação entre a ética e a moral, aliás a fronteira entre dois
conceitos é bastante ténue. Uma das particularidades desta relação reside no
facto de ambos os conceitos fazerem parte da Filosofia.
O que se acaba de afirmar acima pode ser confirmado nas palavras de Silva
(2016 citado Cechinel, 2018) quando este define Ética como uma parte da
Filosofia prática, também conhecida por Filosofia Moral.
Assim sendo, entende-se que seja natural que as pessoas confundam “ética”
como sinónimo de “moral”. Isso porque, de acordo com (Siqueira, 2010: 20)
«[…] na origem, as expressões ética e moral significavam quase a mesma
coisa. Tanto moral – do latim, mos, moris – quanto ética – do grego, éthos –
queriam dizer hábitos e costumes». No entanto, (Chaui, 2000: 436) esclarece
4
Idem
que «[…] a simples existência da moral não significa a presença explícita de
uma ética,[…], isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o
significado dos valores morais».
Já acima foi dito que etimologicamente falando o termo “Ética” vem do grego
ethos que significa morada, habitat, refúgio, ou seja, o lugar onde as pessoas
habitam. Entendida deste modo, a Ética será então um tipo de postura; um
modo de ser, à natureza da acção humana, ou seja, como lidar diante das
situações. Noutra perspectiva, ainda em conformidade com a origem
etimológica do termo, a Ética é o princípio que indica como se deve agir em
determinadas situações, dito doutro modo, a ética é a decisão que se pode
fazer através da razão (Cunha, 2015 citado por Cechinel, 2018).
para Chaui (2011) a ética é uma parte da filosofia que se dedica às coisas
referentes ao caráter e à conduta dos indivíduos. Neste sentido, de acordo com
a autora citada o seu foco incide na análise de um conjunto de ideias que são
valores propostos por uma sociedade e para a compreensão das condutas
humanas individuais e colectivas.
A partir do que acima se expôs, pode-se fazer uma breve discussão ou reflexão
sobre as diferenças entre a moral e a ética. A fim de se possa mais facilmente
aferir se entre os dois termos ou conceito existe, de facto, alguma relação. Para
no fim poder-se perceber como é encarada a moral do ponto de vista ético.
Com efeito, já antes foi constatado que a Moral é um conjunto de normas que
pela educação, tradição ou mesmo pelo quotidiano com o objectivo de regular
o comportamento do homem em sociedade. De igual modo Já antes também
foi dito em outras palavras que Ética, Motta (1984 citado por Almeida, 2013) é
um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem na relação
que estabelece com os outros homens na sociedade por formas a garantir o
bem-estar social.
Analisando o que foi dito acima, Ética será a forma como o homem deve se
comportar no seu meio social, pois, trata de hábitos, atitudes e acções. Assim,
a identificação de um comportamento ético num indivíduo, pressupõe também
identificar certas qualidades morais indispensáveis como: justiça,
generosidade, compaixão, humildade, tolerância, misericórdia, fidelidade, e
entusiasmo. (Almeida, 2013).
Por outro lado, se a Ética, como já foi várias vezes afirmado, é o conjunto de
valores e costumes difundidos por uma determinada sociedade, a Moral será a
prática individual influenciada por esse conjunto de valores éticos. Deste modo,
pode, então, afirmar-se que ambas se complementam, uma vez que as
decisões morais dos indivíduos são também influenciadas pelos valores que
estes recebem a família, da sociedade, da comunidade ou do grupo de que
fazem parte (Carneiro, 2016 citado por Cechinel, 2018).
Entende-se, desde logo, a partir do que acima foi frisado, que a Moral é objecto
da Ética, pois, representa as normas e recomendações quanto à conduta
humana assimiladas pelo hábito ou pela prática, já a ética avaliar quando a
conduta ou comportamento social de indivíduos ou grupos de indivíduos é
moral ou não (Vasquez, 1992) e Com isso é possível perceber-se que a Ética e
a Moral embora tenham significados diferentes, porém, na prática são
conceitos interligadas, sendo que, um depende do outro (Carneiro, 2016 citado
por Cechinel, 2018).
Feitas essas observações como pode agora procurar entender qual é a análise
que se pode fazer da moral do ponto de vista da ética. Pode-se, dizer que para
a ética uma acção, um determinado comportamento, atitude humana só será
considerada moral se for eticamente correcta, justa, conforme as próprias
normas e princípios estabelecidos pela sociedade. Logo uma acção imoral não
é ética.
É na perspectiva do que acima foi dito que Chaui (2000) pode afirmar que a
acção ética é balizada pelas ideias de bom e mau, justo e injusto, virtude e
vício, isto é, por valores que podem variar de uma sociedade para outra ou na
história de uma mesma sociedade, mas que propõem sempre uma diferença
intrínseca entre condutas, segundo o bem, o justo e o virtuoso.
Portanto, por tudo quanto foi reflectido nesta secção, pode-se concluir que a
Ética é uma ciência prática e normativa que estuda a moral e determina o que
é bom e, a partir deste ponto de vista, como se deve agir, ou seja, ética é a
teoria ou a ciência do comportamento moral. Assim, do ponto de vista prático,
agir eticamente, é agir de acordo com os preceitos da moral instituída (Brasil,
s/d).
Esta perspectiva acima levantada é confirmada por Silva (2006) ao afirmar que
a relação social que se manifesta onde quer que haja agrupamentos humanos,
conforma o objecto da Sociologia. O autor lembra que à medida que a
convivência se desenvolve, também o conjunto das relações que se
estabelecem entre os indivíduos se torna mais complexo (Silva, 2006).
De notar que tal como ressaltado por Silva (2006) a Sociedade é constituída
por um conjunto variado e diversificado de relações sociais. Todavia, cada um
mostra-se bastante complexo no que diz respeito às formas e aos meios de
que se utilizam as pessoas para suprir suas necessidades. Para cada
situação/necessidade criam-se modelos de relação social que, ao longo do
tempo, consolidam-se como definitivos, à medida que produzem os resultados
esperados, ou são evitados, à medida que não satisfazem.
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência moral que o
leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive (Mehanna, s/d).
contudo, a partir dos textos de Platão e de Aristóteles é possível perceber que
a filosofia moral inicia-se com Sócrates. Segundo contam estes eminentes
filósofos da antiguidade, Sócrates percorria praças e ruas de Atenas indagando
aos atenienses o que eram os valores nos quais acreditavam e que
respeitavam ao agir (Chaui, 2000).
Na fase da anomia, a criança ainda não está por dentro do universo moral, isto
é, ela apresenta apenas hábitos de conduta, ao passo que na heteronomia, a
moral começa a fazer parte dos valores dos sujeitos, predominando o respeito
unilateral e as relações de coacção. Por fim, na autonomia, a criança não mais
julga o correcto com base nas prescrições dos adultos, mas em acordos
mútuos e princípios universais (Alencar, 2014).
Por fim alcança-se então a fase da autonomia que se refere a “moral do bem”,
nesta fase a criança é mais livre de autoridades e capaz de construir normas
entre iguais. Piaget sugere que criança passe pela fase da heteronomia, ou
seja, de obediência à autoridade, para que, depois, o espírito de cooperação
possa ser construído, através do respeito mútuo e da reciprocidade. O
objectivo da educação moral, portanto, é a de auxiliar a criança em construir
sua autonomia (Mahenna,s/d).
Kohlberg (1992) Criou a teoria dos estágios morais, pois acreditava que o nível
mais alto da moralidade exige estruturas lógicas novas e mais complexas do
que as apresentadas por Piaget. Assim, segundo o autor, existem três níveis
de moralidade, designadamente: o nível pré-convencional; desdobrado em dois
estágios; Nível convencional II, também com dividido em dois estágios e
finalmente o nível pós-convencional igualmente desdobrado em dois estágios o
que totaliza seis.
De acordo com o Kohlberg citado por Fini (1991: 59) o Nível pré-convencional
é característico da maioria das crianças e se estende até por volta dos 9 anos
de idade, Neste nível a criança responde à regras culturais e rótulos de bom e
mau, certo ou errado, mas interpreta estes rótulos em termos das
consequências físicas isto é, punição, prémio.
De notar que o primeiro estágio deste nível diz respeito a orientação para a
punição e a obediência e entende – se que o sujeito moralmente correcto é
aquele que não é punido. Já o segundo estágio diz respeito ao Hedonismo
Instrumental Relativista. Assim, uma a acção moralmente correcta será aquela
que está baseada no prazer ou da satisfação das necessidades da pessoa.
Tal como foi referido este nível comporta dois estágios, no caso, o quinto
relativo à orientação para o contrato social. Para este estágio, os
comportamentos correctos são definidos em termos de direitos individuais
gerais e de padrões que foram criticamente examinados e aprovados pela
sociedade como um todo. Já o sexto que se refere aos princípios universais de
consciência.
Torna-se importante notar que neste estágio o «certo» é definido por uma
decisão de consciência individual, isto é, de acordo com princípios éticos
escolhidos pela própria pessoa, princípios esses que apelam para a lógica, a
universalidade e a consistência (Braghirolli et al. 1995).
Outrossim, nos lares é cada vez mais sentida a ausência dos pais, mostrando-
se descomprometidos e despreparados para proteger e orientar os filhos.
Estes, por sua vez, não respeitam os pais. Não lhes tratam com a dignidade
requerida, saem de casa e vão não se sabe aonde, e nada dizem aos pais,
quando regressam, não dizem onde estiveram, as vezes chegam a casa
bêbados, drogados e não admitem que se lhes repreenda (Kundongende,
2013)
A análise que se pode fazer das palavras de Zau (2015) é de que um individuo
não pode agir de forma responsável, não é capaz de disciplinar as suas
acções, a sua conduta, o seu comportamento se não estiver moral e
civicamente educado, confirmando, deste modo, que de facto os valores morais
são as balizas que orientam as nossas acções.
Zau (2015) transfere a preocupação da observância dos valores do nível
individual para a sociedade, enfatizando, sobretudo as consequências que uma
sociedade despida de valores pode acarretar quando comenta que
é importante sublinhar que «o homem não pode viver sem uma certa referência
aos grandes valores morais que possam nortear a sua conduta». Assim,
enquanto existir, o homem precisará sempre de 'balizas', o seja, necessitará de
normas, regras e princípios reguladores que o ajudem a orientar a sua vida no
caminho da rectidão. Essas balizas não se podem encontrar noutro lugar, que
não seja no campo da ética e da moral, já que toda uma sociedade sem ética
toma-se um 'caos' (Soquia, 2018).
Falar dos valores morais e cívicos em Angola pode ser uma tarefa que não se
afigure muito fácil. Muito estudiosos têm- se debruçado esta problemática e
fazendo uma análise sobre essas narrativas, pode-se concluir que os autores
comungam da ideia segundo a qual a situação actual dos valores morais e
cívico no país não é o dos melhores.
Contudo, em sede do que acima foi dito, é necessário observar que factores
diversos têm contribuído para tal situação. Este, é de resto, também o
entendimento de Maria (2016: 102) quando afirma que «em Angola, houve e há
contextos histórico-sociais que têm propiciado a emergência de condutas
pouco consentâneas com a construção de uma sociedade equilibrada, onde
reine a justiça social».
Esta etapa foi marcada pela imposição de valores, por meio de uma educação
excessivamente ideológica ou pelos aparelhos repressivos do Estado. Nessa
etapa o Estado não só impôs valores sem o mínimo de consenso social, mas
como também procurou afastar do processo educativo formal outros actores
que poderiam dar uma contribuição valiosa, como por exemplo, as igrejas
(Maria, 2016).
No que se refere aos valores morais, os autores acima citados comentam que,
o sistema de educação da época em análise não contemplava nos seus
objectivos, nem nos programas curriculares áreas como a educação moral e
cívica ou afins. As orientações fundamentais em matéria de política educativa,
definiam dentre os vários objectivos, formar as novas gerações sob a base da
ideologia marxista-leninista; desenvolver as capacidades físicas e intelectuais;
desenvolver a consciência nacional e o respeito pelos valores tradicionais
(MPLA, 1978 citado por Vieira & Menezes, 2016: 199).
Sobre esse período Hilemusinda (2018), deixa claro que «Angola viveu […]
tempos críticos e violentos, que feriram e ferem ainda hoje, a essência da
dignidade do próprio homem» (p.73) Com este propósito, Maria (2016)
igualmente comenta, que a guerra desestruturou famílias, destruiu
comunidades inteiras e seus bens, bem como também destruiu ou fragilizou
parte dos seus hábitos e costumes dos povos. Enraizou a cultura da violência,
diminuiu o sentimento de solidariedade e de amor ao próximo.
Num sentido mais amplo do percurso de análise dos valores morais e cívicos,
em Angola segundo Maria (2016) há considerar nesta época de mudanças, de
transição para a democracia, a entrada em cena de vários outros actores,
como as igrejas, as organizações da sociedade civil e novos meios de
comunicação social, mormente privados e começa a se fazer sentir com maior
impacto a influência da chamada sociedade em rede.
Para muitos, essa redefinição pode parecer um fato comum e, talvez, sem
grandes consequências. Porém, creio que se trata de algo muito grave a que
devemos dar atenção. Em nossa opinião, trata-se de uma crise profunda, ou
seja, de uma crise que muda o nosso modo de ser e de se posicionar diante da
vida. Em termos gerais, pode-se dizer que a crise ética de nosso tempo
corresponde a uma inversão de valores e não a uma ausência de valores
(Oliveira, 2012: 421).
está ocorrendo mudanças evidentes nos valores morais, pela falta de qualidade
na média televisiva efetivamente integrada aos lares e relações familiares, pela
ausência de valores a serem perpetuados pela família, pelas alterações
culturais e econômicas resultando em ‘valores em crise’ que precisam ser
trabalhados (Monteiro, 2013: 86).
Hoje, para Angola, mais do que nunca, urge trabalhar pela qualidade do
homem e da sua personalidade; em outros termos, urge recuperar e relançar a
dimensão espiritual do homem que, ao longo dos anos, foi e continua a ser
espezinhada, esvaziada de dignidade e valor e massacrada sem piedade. Por
isso, a nova cultura do homem novo deve ser uma cultura do espírito, uma
cultura do ser: (Imbamba)
Quando éramos pequenos, nossos pais sabiam muito bem quais valores
deveriam nos ensinar: ser honestos, verdadeiros, procurar fazer sempre o bem
etc. O que era o bem ou o mal pareciam estar bem definidos e ninguém tinha
dúvida sobre os valores morais. Hoje, contudo, nós que crescemos e somos
pais e mães, nos sentimos por vezes perdidos. Vivemos, sem dúvida, um
momento de crise ética. O que significa dizer que vivemos um momento de
crise de valores? Em primeiro lugar, refere-se a uma mudança cultural que está
redefinindo os valores de nossa sociedade. (Chaui, 2000: 434).
A educação tem tido, e continua a ter, dois grandes objectivos: (1) desenvolver
a inteligência e os conhecimentos, e (2) desenvolver a moral, dos alunos. São
muitos os autores (Sócrates, Platão, Dewey, Piaget, Kohlberg, Lickona, Kamii,
entre outros) que consideram que a autonomia moral e a autonomia intelectual
constituem os objectivos educacionais prioritários. Defendem que não só se
devem formar cidadãos que usem a sua inteligência em benefício dos outros, e
de si próprios, mas, também, que contribuam para a construção de um mundo
mais justo (Lickona,1991 citado por Marchand, s/d: 1).
Ryan propõe que a escola deverá proclamar sem receio os valores adultos
consensuais da comunidade, tais como: a honestidade, a justiça, a
solidariedade com os mais fracos, a responsabilidade pelo ambiente, etc.,
assim como deve claramente transmitir o repúdio radical da violência, dos
comportamentos destrutivos, da promiscuidade sexual, etc., assumindo--se
como referência da própria comunidade e como espaço de cidadania activa
(Silva,1999).
Cabe ressaltar, contudo, que a escola não pode arcar sozinha com essa tarefa,
a família e a sociedade não se podem omitir, deixando a responsabilidade só
para a escola, nem a escola deve aceitar a tarefa da formação moral à margem
da realidade familiar e social. A educação, então, necessita ser baseada em
responsabilidades partilhadas, que exigem alta dose de compreensão,
interação, discernimento e colaboração (SAVIANI, 2002 citado por Almeida,
2013).
Nenhum ser humano está programado para fazer o bem ou o mal. O ambiente
em que vive e a educação – tanto formal quanto informal – que recebe são
elementos que influenciam e condicionam a formação do seu caráter, mas não
serão determinantes. Porém não se deve esperar ou exigir tanto da moralidade
espontânea, baseando-se apenas no caráter das pessoas, especialmente
daquelas que integram o serviço público (Siqueira, 2010:18).
A situação atual lança uma reflexão sobre nossas concepções a respeito dos
valores; sobre o lugar que a educação em valores ocupa em nossas propostas
e em nossos projetos educativos e familiares; sobre os enfoques da educação
moral que adotamos e influenciam a orientação escolar e familiar. Podemos
afirmar até que a preocupação com a educação em valores e com a educação
voltada para a formação ética tornou-se universal e está presente em todos os
âmbitos da vida humana (Almeida, 2013)
Numa sociedade em transformação, como esta que se apresenta no século 21,
a educação em valores é decisiva para a formação do sujeito futuro e do
próprio futuro. E, como o que se presencia nos dias atuais é uma profunda
crise de valores, educar em valores surge como uma exigência permanente,
provocada pela cultura da modernidade que apresenta uma necessidade
urgente de uma educação voltada para o ensinamento dos valores morais.
(Almeida, 2013)
Por sua vez Saviani (2002, p. 35) destaca que toda e qualquer “reflexão sobre
os problemas educacionais inevitavelmente nos levará à questão dos valores”.
A vinculação dos valores com a educação é um tema bastante referendado nas
ciências da educação, já que os valores estão efetivamente incluídos na
problemática relacionada aos fins da ação educativa. Pelo lugar que ocupam
na realização da pessoa e no desenvolvimento da personalidade humana, os
valores são considerados de maneira central e sistemática na ação educativa
(Almeida, 2013).
Há, desde as duas últimas décadas, um certo consenso - nos cidadãos, nas
famílias, nos partidos da maior parte dos países - quanto à necessidade de que
a escola desempenhe um papel mais activo no desenvolvimento dos valores
nos alunos. Esta tendência está claramente manifesta nas conclusões da Iª
Conferência Este-Oeste de Educação Moral, que se realizou no Verão de 1987,
no Japão. Oradores de 15 países, depois de descreverem os problemas morais
com que se confrontavam, e de que modo tentavam combatê-los, chegaram à
conclusão de que as causas para tais problemas eram comuns, a saber: a crise
na família; o impacto negativo da televisão nas crianças; o aumento do
egocentrimo, do materialismo e da delinquência, nos jovens. Face a esta
situação, apelaram a que o sistema educativo interviesse mais activamente na
educação moral dos educandos (Marchand, s/d).
Existem, ainda, (cf. Lickona, 1991), importantes razões para que a escola
eduque para os valores: (1) a transmissão de valores é, e sempre tem sido,
uma tarefa da civilização; (2) as grandes questões com que se confrontam as
pessoas individuais e a raça humana são questões morais ( a grande questão
individual é: "de que modo devo viver a minha vida?"; duas grandes questões
da humanidade são: "de que modo viver com os outros?", "de que modo viver
com a natureza?"); (3) as democracias, na medida em que são regimes
políticos em que as pessoas exercem um papel determinante, sentem especial
necessidade de desenvolverem os valores dos cidadãos; e (4) o papel da
escola na promoção dos valores torna-se particularmente importante numa
época em que milhões de crianças recebem muito pouca educação moral na
família, e em que a Igreja perde gradualmente influencia. A estas razões, é
importante acrescentar uma outra que, embora apresentada em último lugar, é,
porventura, uma das mais importantes, a saber, nenhuma forma de educação
é neutra ou independente de valores (Beltrão & Nascimento, 2000).
(Marchand, s/d).
Esta abordagem defende: (1) que existem princípios universais (sendo o mais
forte a justiça), que constituem os critérios por excelência de avaliação moral (é
de salientar que este universalismo se situa no domínio do dever ser e não do
ser) , (2) que as pessoas constróem tais princípios activamente, e regulam a
sua acção de acordo com esses princípios, (2) que existem diversos níveis de
moralidade, sendo os mais elevados mais diferenciados, mais integrados e
mais universais. Propõe, ainda, que a educação moral se centre na discussão
de dilemas morais - hipotéticos e reais - em contexto da sala de aula,
chamando, porém, a atenção de que as pessoas só evoluem moralmente se
estiverem inseridas numa "atmosfera moral" (Kohlberg, 1976, p.50), ou numa
"comunidade justa" (Power, Higgins e Kohlberg, 1989). Os efeitos da
estimulação do desenvolvimento moral serão necessariamente 8 limitados se
as pessoas viverem em ambientes em que prevalece uma moral de obediência
e de respeito unilateral (moral heterónoma) (Marchand, s/d).
Com o objectivo de superar tais críticas surgiu, nos últimos anos, uma
abordagem do desenvolvimento e educação moral, que se baseia nas
teorizações de Bruner, Day e Tappan, entre outros, designada "abordagem
pela narrativa" ( the narrative approach). A abordagem pela narrativa centra-se
nas histórias pessoais, ou colectivas, nas quais se colocam - e se vivem -
conflitos e escolhas morais. Esta abordagem advoga que a vivência de tais
situações implica as três dimensões de moralidade, assim como os factores
acima descritos (Marchand, s/d).
Diante do tempo cada vez mais exíguo que muitos pais dispõem para conviver
com seus filhos, educando-os adequadamente, e também diante do papel por
vezes deletério que os meios de comunicação de massa, particularmente a
televisão, assumem na formação das personalidades das crianças e
adolescentes, a criação de um componente curricular para a abordagem de
questões éticas e cívicas se reveste de inequívoca importância (Simon, 1997
citado por Amaral, 2007).
Uma escola quase exclusivamente orientada para o saber não pode garantir
que os sujeitos dessa escolarização sejam simultaneamente competentes no
desempenho de tarefas profissionais e socialmente aptos para gerirem o
espaço de direitos e deveres que a sociedade lhes proporciona. Daí a lacuna
sentida por todos quanto a outras competências que urge desenvolver nos
jovens ao nível moral, de uma educação do carácter, ao nível socio-politico, em
suma, de uma educação para os valores nos quais se integra a formação para
a cidadania (Silva,1999: 27).
A educação em valores supõe algo mais que a mera afinidade com um tipo de
literatura que estimule esse tipo de reflexão. Implica a tentativa de adequação
das expectativas da organização e de seus respectivos servidores. Um esforço
de ambas as partes a fim de demonstrar permanente abertura para o alcance
de objetivos práticos, associados à excelência. O que significa chamar a
atenção para a reeducação de procedimentos operacionais e atitudinais,
priorizando a qualificação de “relações interpessoais pautadas em valores
vinculados à democracia, à cidadania e aos direitos humanos” (ARAÚJO, 2007,
p. 35). (Siqueira, 2010).
Daí que a posição do professor deva ser a de criar e gerir conflitos, estimular o
aluno à reflexão, criar um ambiente democrático, para que, em plena liberdade,
ele adquira uma capacidade de reflexão e de crítica perante os problemas da
vida que o levem a adoptar atitudes, a tomar decisões. "A perspectiva
pedagógica é a perspectiva própria ao professor reflexivo, que pondera as
achegas das várias disciplinas, dos vários métodos e das várias didácticas e as
aplica criteriosamente aos seus alunos, de acordo com a sua situação,
necessidades e contextos" (Cunha, 1993).
Bibliografia