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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE MESTRADO EM LINGUÍSTICA

JULIANA NEUMA DA SILVA FERREIRA

ANÁLISE DO GÊNERO DISCURSIVO CARTAZ E DE SUA


APLICABILIDADE EM MURAIS NA ESFERA DISCURSIVA DE
ESCOLAS PÚBLICAS

SÃO PAULO

2014
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
MESTRADO EM LINGUÍSTICA

ANÁLISE DO GÊNERO DISCURSIVO CARTAZ E DE SUA


APLICABILIDADE EM MURAIS NA ESFERA DISCURSIVA DE
ESCOLAS PÚBLICAS

JULIANA NEUMA DA SILVA FERREIRA

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Sueli Berti dos Santos

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado em Linguística da Universidade
Cruzeiro do Sul como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Linguística.

SÃO PAULO
2014

===2
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA


BIBLIOTECA CENTRAL DA
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

Ferreira, Juliana Neuma da Silva.


N___p
Análise do gênero discursivo cartaz e de sua aplicabilidade na
esfera discursiva de escolas públicas / Juliana
Neuma da Silva Ferreira. -- São Paulo; SP, 2014.

75 p. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Sonia Sueli Berti Santos.


Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em
Linguística, Universidade Cruzeiro do Sul.

1. Linguística - 2. Gêneros discursivos - 3. Cartaz - 4. Educação


II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em
Linguística. III. Título.

CDU:

===3
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU


MESTRADO EM LINGUÍSTICA

Análise do gênero discursivo cartaz e de sua aplicabilidade em


murais na esfera discursiva de escolas públicas

Juliana Neuma da Silva Ferreira

Dissertação de mestrado defendida e aprovada

Pela Banca Examinadora em ____/____/___

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Sueli Berti dos Santos
Universidade Cruzeiro do Sul
Presidente

___________________________________________________
Examinadora interna: Profa Dra. Ana Lucia Tinoco Cabral

Universidade Cruzeiro do Sul

___________________________________________________
Examinadora Externa: Profa Dra Maria Auxiliadora Baseio
Universidade de Santo Amaro (UNISA)

===4
À
Minha avó Deolinda Alves Fernandes (in
memorian), um ser humano memorável que nunca
desistiu da educação de seus filhos e netos, viveu
92 anos, podendo colher belos frutos de sua
sofrida plantação.
===5
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e ao mestre Jesus, por ter me oportunizado estar nesse


plano, convivendo com todas as pessoas que fazem parte da minha vida e que
contribuem para meu processo de evolução.

À minha querida orientadora Profa Dra Sonia Sueli Berti Santos, por toda
paciência e dedicação com que direcionou nosso trabalho.

Ao corpo docente da Universidade Cruzeiro do Sul, por ter aberto novos


horizontes, por mim nunca navegados, e ter contribuído para a realização deste
trabalho de pesquisa.

As professoras Ana Lucia Tinoco Cabral e Maria Auxiliadora Baseio, pela ética
e respeito com que contribuíram para a continuidade dessa dissertação.

À Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Caraguatatuba, pelo espírito


visionário em capacitar seus profissionais.

Aos colegas de curso, pelo companheirismo, incentivo e parceria durante


nossa trajetória.

Aos alunos, professores e gestores da E.E. Alcides de Castro Galvão, por


autorizar, participar e acreditar nessa pesquisa.

Aos meus familiares, especialmente aos meus pais, que souberam superar
todos os desafios para constituir uma família e educar com amor e
perseverança suas filhas.

Ao meu amado esposo Evandro da Silva Ferreira, pelos vinte anos de amor
dedicação e companheirismo, sempre compreendendo minhas ausências e
incentivando meu crescimento intelectual.

===6
"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se
não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não
houver folhas, valeu a intenção da semente. A
semente foi lançada, mesmo que não venha a existir a
sombra das folhas, a beleza das flores e a colheita
dos frutos. Ainda assim, valeu a experiência de
tornar-se um semeador”.

Henrique de Souza Filho (Henfil)

(1944- 1988)

Jornalista, e cartunista brasileiro.


===7
FERREIRA, J. N. S. O gênero cartaz na esfera discursiva escolar. 2014. 97
f. Dissertação (Mestrado em Linguística).Universidade Cruzeiro do Sul, São
Paulo, 2014.

RESUMO

À luz dos estudos de Bakhtin e de seu Círculo, o presente trabalho tem por
objetivo analisar o gênero discursivo cartaz na esfera escolar, inferindo em sua
construção junto aos discentes de modo a torná-lo, efetivamente, um instrumento
de difusão do conhecimento. Nossa pesquisa elegeu, para o estudo de caso, uma
escola da Rede Estadual de Ensino do município de Caraguatatuba (SP), que
contempla os anos finais o Ensino Fundamental II e todo o Ensino Médio, foco de
nosso trabalho. Contudo, para que possamos atingir os objetivos dessa pesquisa,
partiremos do estudo do gênero cartaz e das esferas que se utilizam desse
gênero, para que possamos, posteriormente, nos aprofundar na produção dos
cartazes escolares e das análises que esse processo nos permitirá realizar.
Esperamos com esta pesquisa contribuir para uma reflexão na qual a prática da
confecção de cartazes, nas instituições de ensino, seja planejada de modo que o
produto final possa atingir suas finalidades, de transmitir o conhecimento
adquirido disseminando-o por todo espaço escolar.

Palavras-chave: Gênero discursivo, Cartaz, Escola.

===8
FERREIRA, J. N. S. The poster genre in school discursive sphere. 2014. 97
f. Dissertação (Mestrado em Linguística).Universidade Cruzeiro do Sul, São
Paulo, 2014.

ABSTRACT

In light of the studies of Bakhtin and his Circle, this paper aims to analyze the
poster discursive genre in the school sphere, implying a built next to the
students so as to make it effectively provides a tool for disseminating
knowledge. Our research has elected, for the case study, a school in State
Schools in the municipality of Caraguatatuba (SP), which includes the final
years the Secondary School and all high school, the focus of our work.
However, to ensure we achieve the goals of this research, we leave the study of
the genre poster and balls that use this kind, so that we can subsequently delve
into the production of educational posters and analyzes that allow us to perform
this process. We hope this research contribute to a reflection in which the
practice of preparation of posters, in educational institutions, is designed so that
the final product can achieve its purposes, to transmit the acquired knowledge
disseminating it throughout the school space

Keywords: Gender discourse, Poster, School.

===9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 .......................................................................................................................... 37

Figura 2 .......................................................................................................................... 37

Figura 3 .......................................................................................................................... 38

Figura 4 .......................................................................................................................... 42

Figura 5 .......................................................................................................................... 43

Figura 6 .......................................................................................................................... 44

Figura 7 .......................................................................................................................... 45

Figura 8 .......................................................................................................................... 45

Figura 9 .......................................................................................................................... 46

Figura 10 ........................................................................................................................ 46

Figura 11 ........................................................................................................................ 50

Figura 12 ........................................................................................................................ 50

Figura 13 ........................................................................................................................ 51

Figura 14 ........................................................................................................................ 51

Figura 15 ........................................................................................................................ 53

Figura 16 ........................................................................................................................ 54

Figura 17 ........................................................................................................................ 56

Figura 18 ........................................................................................................................ 57

Figura 19 ........................................................................................................................ 59

===10
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

1.1 O percurso da pesquisa ..................................................................................... 14

2 A NOÇÃO DE GÊNEROS DISCURSIVOS ............................................................... 16

2.1 Transmutações do gênero e dialogismo............................................................. 18

2.2 Enunciado concreto e linguagem verbo visual ................................................... 20

2.3 O conceito de esfera .......................................................................................... 23

2.4 O cartaz ............................................................................................................. 25

3 CATEGORIAS DE ANÁLISE DO GÊNERO CARTAZ ............................................. 27

3.1 Breve história do cartaz ..................................................................................... 28

3.2 O cartaz na esfera publicitária ............................................................................ 29

3.3 As característica do gênero cartaz na esfera escolar ......................................... 30

3.4 O cartaz na escola: um instrumento de aprendizagem ....................................... 33

4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ............................................................................. 35

4.1 Percursos preliminares ...................................................................................... 35

4.2 As propostas de produção de cartazes pelo corpo docente .............................. 39

4.3 Análises dos elementos constitutivos dos cartazes produzidos pelos alunos ..... 41

5 PROPOSTA METODOLÓGICA ............................................................................... 48

5.1 Teoria da Zona Proximal .................................................................................... 57

5.2 Expectativas das possíveis contribuições deste trabalho para a prática de


produção de cartazes na escola ..................................................................................... 60

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 62

===11
7 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 64

8 ANEXOS ................................................................................................................... 67

===12
1 INTRODUÇÃO

Como já é de se saber, a comunicação é uma necessidade humana,


desde os primórdios da humanidade há a tentativa dos homens em não somente
comunicar-se oralmente, mas também expressarem-se, por meio de desenhos,
sons, canções, gestos, rituais e registros, que foram se desenvolvendo ao longo
do tempo até chegarmos à escrita que temos hoje.

Em se tratando do uso da língua, temos em Bakhtin (2003,p.262) que seu


emprego efetua-se em forma de enunciados, delimitados pela alternância dos
sujeitos em diversas esferas da atividade humana, enquadrando-se nas, também
diversas, funções da linguagem e das situações de comunicação.

Nesse contexto, temos as instituições de ensino como um dos grandes


locais de formação e convivência dos indivíduos, sendo, atualmente, um dos
primeiros lugares na qual estes possam estabelecer suas relações, advindas do
convívio social, desenvolvendo-se e aprendendo por meio de atos
comunicacionais.

Desta forma, nossa pesquisa vivencia o cotidiano escolar, no que se


refere às produções de cartazes e suas apresentações em murais, sendo
observado todo o processo, desde a comanda inicial proposta pelo docente até a
exposição em murais dos cartazes produzidos por seus alunos.

Contudo, temos que a produção dos cartazes, propostas por alguns


docentes, tendem a explanar brevemente dos conteúdos abordados em
determinada disciplina, sendo constantemente observada uma profusão de
cartazes produzidos pelos alunos que assim que concluídos são expostos, com a
intenção de apresentar o trabalho realizado pelo grupo.

De certo modo, podemos analisar que os docentes das diversas


disciplinas que compõe o Ensino Médio, creem na habilidade já adquirida por
seus alunos, durante os anos escolares, no que se refere à confecção de

===13
cartazes, não direcionando o trabalho, deixando por analisar e avaliar o produto
final e sua apresentação, atentando-se principalmente nos conteúdos expostos.

A problemática instaurada, que pode ser inicialmente diagnosticada pela


dissociação entre o que o professor solicita e o que o aluno produz, dificulta o
leitor a ter a curiosidade e a sensibilidade de apreciar a produção destes cartazes,
não oportunizando uma situação de aprendizagem ou apenas a intencionalidade
de compartilhar informação e conhecimento.

Sendo assim, este trabalho surgiu da necessidade que sentimos em


estudar o uso do gênero cartaz nos anos finais do Ensino Médio de uma escola
pública, no município de Caraguatatuba (SP), no atendimento ao gênero e suas
especificidades, a fim de que possamos analisar na referida esfera a
funcionalidade do cartaz e de como este pode se constituir um elemento
favorecedor do processo de aprendizagem.

1.1 O percurso da pesquisa

Feitas tais considerações, cabe aqui ressaltar, que esta pesquisa possui
ao todo quatro partes, que de modo a considerar a pertinência de seu tema, a
presente dissertação possui o objetivo geral de analisar o gênero discursivo
cartaz, na esfera escolar, inferindo na construção destes, de modo a contribuir
para o atendimento ao gênero e a sua funcionalidade na comunidade escolar.
Como objetivos específicos temos:

a) Analisar as características do gênero discursivo cartaz na esfera


discursiva escolar

b) Refletir sobre a relação estabelecida entre a orientação de produção


dos cartazes dada pelos professores em face da produção realizada e
entregue pelos alunos;

c) Inferir na construção dos cartazes na esfera escolar, de modo a


contribuir para sua funcionalidade;

===14
Trataremos inicialmente, nos servindo da obra de Bakhtin e de seu
Círculo, a definição do gênero discursivo e em sequência o gênero cartaz e as
esferas que fazem uso desse recurso linguístico, fazendo-se necessária a
abordagem sobre os conceitos de esfera, estilo, enunciado concreto e linguagem
verbovisual.

Daremos, posteriormente, enfoque à esfera publicitária e em seguida à


esfera escolar, pois é nesse contexto que nosso trabalho se concretiza, por ser a
escola um ambiente de interação, comunicação, e sua comunidade ter a
oportunidade de vivenciar em seu cotidiano uma profusão de gêneros, que vem a
contribuir com o fator educacional, de modo que os alunos possam apropriar-se
destes para produzir seus trabalhos e registros, bem como motivar suas relações
interpessoais, num constante processo de ensino aprendizagem.

Neste momento, o trabalho de pesquisa contemplará o estudo do uso do


cartaz, seus elementos constitutivos, estrutura composicional e funcionalidade na
esfera escolar, que vem a se constituir como local de efetiva atividade humana,
intrínseca a ao uso da língua.

Partiremos então para a pesquisa de campo, caracterizando o cartaz na


escola e como este se apresenta como um instrumento de aprendizagem,
coletando o corpus inicial, que se compõe de um cartaz inicialmente produzido
por um grupo de alunos, seguindo a comanda de seu professor e analisando-o a
luz da teoria de Bakhtin e de seu Círculo.

Numa segunda etapa da pesquisa, atuaremos junto aos alunos de modo


a inferir na apresentação do cartaz, evidenciando suas características e funções,
oportunizando ao grupo de alunos um novo olhar, podendo estes refazê-lo,
introduzindo nesse novo fazer a reflexão abordada.

Por fim, analisaremos o novo corpus, constituído do cartaz refeito,


focando no atendimento ao gênero e a esfera, levando em consideração a análise
realizada pelos alunos, e as impressões que estes tiveram ao comparar o primeiro
e o segundo cartaz, bem como as expectativas das possíveis contribuições deste
trabalho para a prática de produção de cartazes na escola.
===15
2. A NOÇÃO DE GÊNEROS DISCURSIVOS

Para tratarmos sobre os gêneros discursivos, e conseguintes todos os


outros conceitos que aqui serão abordados, tomaremos como referência o
lingüista Bakhtin1 (1895-1975), por este fornecer em suas obras subsídios
teóricos, que convergem com nossa proposta de trabalho, nos pautando também
nas produções do Circulo Bakhtin, grupo de intelectuais o qual influenciou.

Nessa perspectiva, temos que a comunicação, atividade inerente e


essencial ao homem, está ligada ao uso da linguagem, podendo os gêneros ser
considerados como parte da nossa rotina, pois servimo-nos destes para
comunicarmos verbalmente, e por estarem relacionados às atividades sociais, se
desenvolvem de forma dinâmica e heterogênea.

Sendo assim, o emprego da língua vem a efetuar-se em formas de


enunciados orais e escritos, utilizados pelos sujeitos dentro de uma esfera da
atividade humana. Como podemos observar no trecho da obra A Estética da
Criação Verbal (2003), de Bakhtin:

Esses enunciados refletem as condições específicas e as


finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo
(temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pelos recursos
lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, sobretudo, por
sua construção composicional. Todos esses três elementos – o

1
Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895 -1975) - foi um filósofo e pensador russo, teórico da
cultura europeia e as artes. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador da linguagem humana,
Seus escritos, em uma variedade de assuntos, inspiraram trabalhos de estudiosos em um
número de diferentes tradições (o marxismo , a semiótica , estruturalismo , a crítica
religiosa) e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia,
antropologia e psicologia. Embora Bakhtin fosse ativo nos debates sobre estética e
literatura que tiveram lugar na União Soviética na década de 1920, sua posição de
destaque não se tornou bem conhecida até que ele foi redescoberto por estudiosos russos
na década de 1960. É criador de uma nova teoria sobre o romance europeu, incluindo o
conceito de polifonia em uma obra literária. Explorando os princípios artísticos do
romance, François Rabelais, Bakhtin desenvolveu a teoria de uma cultura universal de
humor popular. Ele é dono de conceitos literários como polifonia e cultura
cômica, cronotopo, carnavalização, menippea (um eufemismo em relação à linha principal e
levando o desenvolvimento do romance europeu no "grande momento"). Bakhtin é autor de
diversas obras sobre questões teóricas gerais, o estilo e a teoria de gêneros do discurso.
Ele é o líder intelectual de estudos científicos e filosóficos desenvolvidos por um grupo de
estudiosos russos, que ficou conhecido como o "Círculo de Bakhtin“.
===16
conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão
indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente
determinados pela especificidade de um determinado campo da
comunicação. (BAKHTIN, 2003, p. 261-262)

O enunciado, definido por Bakhtin como unidade real da comunicação


discursiva (Bakhtin, 2003, p.269), se apresenta sempre de forma individual e
única, pois mesmo que seja proferido novamente não será repetitivo, pois este
se constrói junto às condições no qual é produzido em determinada esfera.

Desta forma, o gênero vem a desempenhar um papel fundamental no


processo de interação verbal, articulando o querer dizer individualizado do falante
com sua realidade histórico social, e que de acordo com determinada esfera, irão
refletir suas especificidades e finalidades, constituindo-se de uma indissociável
união entre uma construção composicional, um estilo e um conteúdo temático.

Brevemente, iremos elucidar cada um dos três itens apontados no


parágrafo anterior, assim o faremos no corpo do texto, pois compreendemos que,
conforme já citado, são indissociáveis e pertinentes ao contexto de produção.
Nesse sentido, podemos caracterizar a construção composicional pela estrutura
do gênero, a arquitetura do texto, de modo a compreender a organização das
partes na constituição de um todo.

Já a questão do estilo, vem a caracterizar-se pela representação da


escolha dos recursos que edificam o enunciado, lexicais, gramaticais e
fraseológicos, também como o modo em que as frases se organizam nos
enunciados. Por fim, o conteúdo temático, que corresponde ao assunto abordado
no ato da enunciação, motivando o ato comunicativo, estabelecendo uma relação
entre o enunciado e o objeto de sentido.

Aprendemos a falar nos apropriando do discurso do outro, o reproduzindo


e modificando de acordo com a esfera, inserida em um contexto; ao compreender
o enunciado como sendo um ato comunicativo, relativamente estável, chegamos
à definição dos gêneros do discurso, que parte da escolha do falante e suas
especificidades, e se classificam em duas categorias, como veremos a seguir.

===17
2.1 TRANSMUTAÇÃO DO GÊNERO E DIALOGISMO

Um gênero pode desdobrar-se, originando novos gêneros, sendo que


este não é imutável, e do mesmo modo que a sociedade a cada dia sofre
transformações e atualizações, com o gênero não acontece de forma diferente,
demonstrando-se flexível e heterogêneo.

Bakhtin e seu Círculo aborda a questão do gênero de modo a classificá-


los em primários ou secundários diferenciando-se em seu nível de complexidade.

Os gêneros primários são formados nas condições de comunicações


discursivas imediatas, de características simples e espontâneas como, por
exemplo, o bilhete ou a carta. Já os gêneros secundários advêm de condições
culturais mais desenvolvidas, organizadas e complexas, podemos citar como
exemplo o romance ou os artigos científicos. Em especial, o gênero secundário
possui a predominância da escrita.

Assim, temos que conforme as esferas vão se transformando e dando


origem a novas esferas, os gêneros, para atendê-las, também vão tornando-se
mais complexos, originando novos gêneros, como esclarece o mesmo autor:

Os gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros


primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em
circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea. Os
gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros
secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma
característica particular: perdem sua relação imediata com a
realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios.
(BAKTHIN, 2000, p. 282).

Podemos dizer que os gêneros secundários apropriam-se dos gêneros


primários, transformando-os e criando novos gêneros, tendo esse processo
conceituado por BAKHTIN como transmutação do gênero.

Como vimos anteriormente, as esferas transformam-se de acordo com as


atividades humanas, ou seja, com a sociedade, e ao se transportarem de uma
esfera para outra, de acordo com as peculiaridades destas, os gêneros sofrem a

===18
transmutação, que segundo Bakhtin e seu Círculo, são oriundas de esferas
distintas, sendo aceitável que a transmutação também venha a ocorrer entre
gêneros da mesma esfera, como no caso de um poema escrito num romance,
contemplado, neste caso, o gênero literário.

Há que se destacar que o conceito de enunciado, esfera e gênero é


determinante para a transmutação, devido a diversidade de manifestações das
atividades sociais e a rapidez, ou dinamicidade, com que surgem novas esferas,
conforme BAKHTIN (1997), cada esfera comporta um repertório de gêneros do
discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera
se desenvolve e fica mais complexa.

Nessa perspectiva, a escola, esfera abordada em nosso trabalho, é um


dos ambientes reais das transformações da sociedade, na qual os alunos
vivenciam situações de aprendizagem de acordo com as interações entre os
sujeitos e as disciplinas afins, fazendo o uso de diferentes gêneros para que além
de se comunicarem, possam interagir, produzindo suas tarefas cotidianas e
possibilitando a construção social da realidade.

O gênero cartaz, foco de nossa pesquisa, vem a compor essa gama de


gêneros contemplados pela escola. É muito utilizado em todos os níveis de
Ensino, sendo mais significativo a partir do Ensino Fundamental II, pois neste os
alunos possuem maior autonomia nas produções acadêmicas, sendo um recurso
sugerido pelos professores para apresentações de trabalho, a fim de apresentar o
conteúdo abordado nas aulas para a comunidade escolar, incentivando a
pesquisa, o trabalho em grupo e interagindo discursivamente, com o intuito de
promover a aprendizagem.

Nesse sentido, Bakhtin teve seus estudos desenvolvidos sobre os


gêneros discursivos considerando o dialogismo estabelecido no processo
comunicacional, na qual as relações interativas são constituintes dos processos
produtivos de linguagem, ou seja, das interações dialógicas, advindas das
realizações discursivas como segue:

===19
Quando considera a função comunicativa, Bakhtin analisa
a dialogia entre ouvinte e falante como um processo de interação
“ativa”, quer dizer, não está no horizonte de sua formulação o
clássico diagrama espacial da comunicação fundado na noção de
transporte da mensagem de um emissor para um receptor,
bastando, para isso um código comum (BAKHTIN apud BRAIT,
2006,p.156).

Na teoria do dialogismo, os gêneros são concebidos de acordo com suas


finalidades comunicacionais, inserido na manifestação da cultura, sendo estes
expressões de seu tempo, das marcas das descobertas da humanidade, atuantes
como memórias criativas, vivendo o presente, porém não esquecendo seu
passado, como podemos observar:

O gênero não pode ser pensado fora da dimensão


espácio-temporal, Logo, todas as formas de representação que
nele estão abrigadas são, igualmente, orientadas pelo espaço-
tempo. (BAKHTIN apud BRAIT, 2006,p.158).

Sendo uma forma de base na composição de enunciados, o dialogismo é


um princípio que constitui a linguagem, sendo mediador da realidade e das
diferentes vozes presentes nos discursos, podendo até dizer, que o ambiente se
faz necessário como condição para o diálogo acontecer.

Portanto se pensarmos numa escala comunicacional, na qual a escola


está inserida, os gêneros discursivos podem ser estendidos para além da
interação verbal, acolhendo a enunciação concreta e a diversidade cultural
manifestada no contexto pedagógico, pertencentes a uma esfera da vida social
dos sujeitos que a compõe.

2.2 ENUNCIADO CONCRETO E LINGUAGEM VERBO-VISUAL

O envolvimento com as aquisições de regras de comunicação acompanha


o ser humano desde o inicio, estabelecendo as mínimas noções da comunicação,
tornando possível a convivência em sociedade, até evoluirmos nas padronizações
das relações comunicacionais a qual temos nos dias atuais.

Apresentando-se através do desejo de comunicação do enunciador, os


enunciados são constituídos de uma unidade significativa, que vem a depender
===20
das atitudes responsivas de seus leitores que o concretizam como objeto de
comunicação. (BERTI-SANTOS, 2011) Desta forma, o enunciador, no ato de sua
enunciação, deve ter consciência do âmbito social a que o público, destinatário de
sua enunciação, está inserido.

O enunciado equivale à frase ou a sequências de frases, sendo estas


uma sequência de palavras organizadas; é concebido como unidade de
comunicação, sendo únicos, dentro de situações e contextos específicos.

Uma das características do enunciado vem a ser a expressividade, na


qual remetemos a ideia de dialogismo, sendo que sempre produzimos frente a
enunciados já produzidos, determinados pela alternância entre os sujeitos.

Ao aprofundarmos nossos estudos nos enunciados, de acordo com o


pensamento bakhtiniano, temos que sua concepção não se encontra acabada em
uma determinada obra, mas na construção do conjunto das obras do autor.
Assim, observamos que toda diversidade de enunciados, nas diferentes esferas,
que tratam do material linguístico concreto, está intrinsecamente relacionado a
enunciados concretos (orais e escritos) e a comunicação.

O enunciado configura o processo interativo entre os participantes da


enunciação, valendo-se também de sua natureza social, cultural e histórica,
remetendo-se a enunciações anteriores e produzindo enunciações posteriores,
tendo a língua integrada a vida por meio de enunciados que a realizam, como
necessidade de expressão do ser humano.

Comunicamos-nos, em termos práticos, fazendo uso dos gêneros, ou


seja, todos os enunciados por nós pronunciados estão moldados de modo
estáveis, seguidos de toda intencionalidade, individualidade e subjetividade, em
termos teóricos desconhecemos sua existência.

Segundo BAKHTIN 2003, adquirimos o conhecimento da língua materna


por meio da comunicação entre as pessoas que fazem parte de nossa
convivência, advindas de enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos

===21
durante toda nossa existência, de acordo com nossos processos interativos que
vão se manifestando conforme as diferentes esferas que atuamos.

De acordo com o domínio que temos dos gêneros, podemos ter maior
liberdade para empregá-los, tendo consciência de nossa atitude responsiva frente
aos outros participantes da comunicação discursiva, pois temos a compreensão
do enunciado conforme seu todo, e a escolha da palavra não têm característica
isolada como uma unidade da língua, mas sim o sentido concreto, de determinada
realidade, como segue:

A palavra no enunciado concreto é carregada de tom


emocional ou entonação axiológica, por conseguinte, quando
escolhemos palavras para o enunciado, elas deixam de ser
palavras e passam a ser unidades discursivas e somos guiados
pelo tom emocional do nosso enunciado, uma vez que na
construção de nosso enunciado evidenciamos nossas marcas
ideológicas, nossa alteridade. (BERTI-SANTOS, 2011)

Desta forma, a escolha que fizemos para estabelecermos a comunicação


discursiva traduz nossa individualidade, ou seja, o estilo. Essa relação integra o
gênero a esfera, pois para cada esfera que atuamos possui um gênero
correspondente as suas especificidades, que consequentemente corresponde a
um estilo, ou seja:

Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros


discursivos, são correias de transmissão entre a história da
sociedade e a história da linguagem, Nenhum fenômeno novo
(fonético, léxico, gramatical) pode integrar o sistema da língua
sem ter percorrido um complexo e longo caminho de
experimentação e elaboração de gêneros e estilos. (BAKHTIN,
2003 P. 268)

Assim, onde há gênero há estilo, e ao passar de um gênero a outro o


estilo não somente é modificado, como vem a transformar e renovar tal gênero. A
escolha determinada pelo falante, nada mais é do que estilo, que vem a ser um
elemento constitutivo da linguagem.

O aspecto expressivo é determinado principalmente pelo estilo individual


do enunciado, sendo que a intencionalidade do enunciador revela-se por meio
das escolhas dos recursos linguísticos e do gênero, determinando também a

===22
composição, marcada pelos recursos lexicais ,e gramaticais, podendo até
incluirmos a linguagem verbo -visual.

De certa forma, para compreendermos os enunciados verbos-visuais, faz-


se necessária a análise de como os elementos constituintes desse enunciado
concreto estão dispostos, e, de como estes estão articulados com o outro, ou
seja, a quem se destina.

Sendo assim, um enunciado somente se dá por acabado, quando este


permitir que o outro se pronuncie em resposta, estabelecida nas relações
dialógicas, dentro de uma esfera de comunicação. Temos como exemplo, nas
instituições de ensino, a comunicação por meio da exposição de cartazes, que
vem a dialogar com toda a comunidade escolar, objetivando, nessa esfera,
informar ou divulgar um conteúdo teórico disciplinar, incentivando a pesquisa, o
conhecimento e o anseio de saber mais.

O cartaz vem a gerir uma necessidade que os alunos e as instituições de


ensino possuem de apresentar, mostrar, expor e transmitir conhecimentos. As
relações dialógicas, nessa esfera, partem de uma realidade coletiva de pequenos
grupos produtores, para uma coletividade apreciadora maior, na qual abrange não
somente os alunos daquele ano/período, mas todos os alunos pertencentes a
instituição, independente do nível acadêmico a que pertença.

Bakhtin (2006, p.127), aponta que “toda forma comunicativa é produto de


sentidos”, desta forma temos o diálogo como um dos recursos mais importantes
da interação verbal, de qualquer tipo, não bastando somente a comunicação face
a face, imbricadas na comunicação verbal e não verbal, haja visto, que estas
constituem signos de caráter ideológico.

2.3 O CONCEITO DE ESFERA

O uso da linguagem está diretamente relacionada às diversas esferas da


atividade humana, portanto, o conceito de esfera está intrinsecamente ligado ao
contexto sócio-histórico, sendo compreendida como:

===23
“um nível especifico de coerções que sem desconsiderar a
influência da instância socioeconômica, constitui as produções
ideológicas segundo a lógica particular de cada esfera/campo.”
(GRILLO APUD BRAIT, 2006, p.143).

Portanto, Bakhtin e seu Círculo trata a língua como uma atividade


humana, e de acordo com nossos estudos, em sua concepção, temos na
interação verbal o espaço de constituição e existência da língua (BRAIT 2006,
p.137), exigindo dos falantes, para que se estabeleça uma unidade de
comunicação verbal, a escolha de um gênero que segundo BAKHTIN (2003,
p.286) vem a ser “tipos de enunciados relativamente estáveis”. Contudo, ainda
podemos acrescentar que toda essa diversidade de manifestações está imbricada
a uma esfera.

É na interação verbal que o espaço de constituição e existência da língua


se localizam, não advindo de um abstracionismo, mas do fenômeno social da
interação, realizada através da enunciação, tendo esta estreita relação com o
contexto social, de modo a constituir e delimitar seu conteúdo.

Desta forma temos uma situação social imediata, na qual os indivíduos se


interagem num ambiente social comum, e uma situação social mais ampla, na
qual as interações são definidas por suas especificidades, de acordo com as
esferas, tendo assim a expressão individual dialogicamente orientada,
manifestada em razões das condições sócio-históricas do indivíduo.

A relação entre o indivíduo e seu meio social é compreendida de forma


que as relações venham a se constituir em uma determinada esfera, que vem a
ser redimensionada em virtude da posição que nela o individuo ocupa e as
relações por ela, esfera, estabelecidas.

Por sua vez, todas as esferas que contemplam as ações de interação da


língua vêm a ser “um espaço de refração que condiciona a relação
enunciado/objeto do sentido, enunciado/enunciado, enunciado/co-enunciadores”
BRAIT (2006, p.147).

A noção de esfera é imprescindível para o estudo dos gêneros


discursivos, bem como a classificação, pois temos que a variedade de esferas
===24
corrobora com o surgimento, de uma também, variedade de gêneros, que de
acordo com a esfera possui suas especificidades, dando condição para que este
venha a atender sua função, como podemos observar no fragmento a seguir:

As esferas dão conta da realidade plural da atividade humana ao


mesmo tempo que se assentam sobre o terreno comum da
linguagem verbal humana. Essa diversidade é condicionadora do
modo de apreensão e transmissão do discurso alheio, bem como
da caracterização dos enunciados e de seus gêneros (BRAIT,
2006, p.147).

A despeito de tudo o que por nós, até o presente foi conceituado,


passemos, a seguinte, ao estudo nos quais o cartaz se constrói enquanto gênero
discursivo.

2.4 O CARTAZ

Após toda a introdução teórica sobre os gêneros discursivos, chegamos


ao foco de nosso trabalho, ou seja, gênero cartaz e suas especificidades
discursivas.

Em se tratando de suas funções, o cartaz deve ser compreendido como


um meio de comunicação que se dirige a todos, sem distinção, fazendo uso de
recursos visuais e verbais, de forma a convencer, transmitir saberes, anunciar e,
sugerir. Por vezes assume um caráter apelativo, pela sua qualidade estética,
sendo de fácil compreensão e dinamicidade.

Como um gênero textual, o cartaz possui a finalidade de informar,


conscientizar, sensibilizar seu leitor de acordo com o assunto abordado. Suas
características priorizam a divulgação, o aspecto atraente, mensagem curta e
direta nas quais possam ser agregadas imagens com palavras, o diferenciando
de outras linguagens artísticas como, por exemplo, a pintura.

O cartaz vem a compor o ambiente como um componente estético,


sendo uma abertura para a arte não alienada, mas próxima da realidade que
nos cerca, de modo que o espectador deve capturar seu conteúdo
rapidamente, ou seja, possui a característica de reduzir o texto de acordo com
===25
a velocidade de deslocamento de seu leitor, atraindo o olhar, no mesmo
instante em que emite a mensagem.

Sendo assim, a imagem não deve ser tão simplificada, prejudicando


seu entendimento, ou carregada de informações, que possa vir a confundir o
leitor, mas deve se apresentar numa composição sutil unindo o verbal e o
visual numa arquitetura que venha a contribuir com a discursividade, atraindo o
olhar.

Podemos acrescentar ainda, Segundo Moles:

Em suma, o cartaz é o exemplo típico de uma


mensagem da coletividade ao individuo, comportando duas
partes necessárias, indissoluvelmente ligadas na mensagem,
mas que convém estudar separadamente – a mensagem
semântica ou denotativa, objetivável e traduzível, expressa de
modo claro para o receptor, para o espectador, por uma
combinação de signos conhecidos – a mensagem estética ou
conotativa, subjetiva e pessoal, mas partilhada por um grande
número de pessoas e que, desde a introdução das técnicas do
“diferencial semântico”, tornou-se mensurável ou referenciável,
num espaço qualquer de coordenadas(MOLES, 1969, p.28-27)

Por se constituir de um elemento do mecanismo social, de


comunicação de massa, o cartaz auxilia a qualquer sistema institucional, dentre
eles a escola, ambiente em que escolhemos para compor nossa pesquisa
sobre este gênero.

Deste modo, após uma breve elucidação no que se refere a


fundamentação teórica, partiremos para uma abordagem sobre as categorias
de analises do cartaz, bem como as esferas que se utilizam dos cartazes, para
conseguinte apresentarmos nossa pesquisa de campo.

===26
3. CATEGORIAS DE ANÁLISE DO GÊNERO CARTAZ

Traçando um paralelo entre a fundamentação teorica e nosso trabalho


de pesquisa, cabe destacar que o cartaz sofre influência de discursos que
circulam em outras esferas, além da pedagógica e científica, do qual
escolhemos por aprofundar nossos estudos, este decorre da esfera publicitária,
que o originou como gênero discursivo, do desejo de anunciar campanhas, de
informar ou convidar, por exemplo.

A partir de nossas pesquisas, e na intenção de realizar um trabalho que


pudesse convergir para a contribuição com a prática docente, elaboramos um
estudo por categorias de análises, que nos permitissem, inicialmente, estudar o
cartaz de modo a situá-lo historicamente, portanto nossa primeira categoria de
análise consta da história do cartaz.

Apontando para a esfera publicitária, iremos analisar a aplicabilidade


do cartaz e o modo como este testemunhou as diversas e intensas
transformações culturais, comportamentais, sociais, tecnológicas e políticas,
sempre estando presente na paisagem urbana, utilizando-se principalmente de
recursos gráficos vinculados aos visuais para cumprir sua função, planejados
pelos artistas que o concebem.

Após, seguiremos para a análise do cartaz na esfera escolar, sua


aplicabilidade enquanto recurso pedagógico, tendo as primeiras impressões,
sem qualquer interferência, na tentativa observar a relação entre a produção e
sua apresentação em murais, que vem a compor o ambiente escolar, fazendo
parte de uma ação cotidiana.

Para encerrar este capítulo, antes de seguir para continuidade das


análises com a pesquisa de campo, trataremos por buscar a relação da
produção dos cartazes, na esfera escolar, com o processo de ensino
aprendizagem.

===27
3.1 BREVE HISTÓRIA DO CARTAZ

A história do cartaz vem acompanhando a história do desenvolvimento


da Humanidade, na qual podemos aqui destacar o Código de Hamurabi (2067-
2025 a.C.), descrito como o primeiro Código de Leis, concebido em pedra.

De suporte animal (pergaminho) ou de suporte vegetal (papiro) os


cartazes eram exemplares únicos, e restringiam-se somente as pessoas que
passavam por onde estavam expostos.

Com o advento tecnológico, que uniu o papel (uma pasta vegetal criada
pelos chineses) a descoberta da imprensa móvel (criada no século XV
d.C.,pelo ourives Johannes Gutenberg), foi possível reproduzir cartazes em
quantidade ilimitada, abrangendo um contingente maior de pessoas,
divulgando, noticiando, informando.

Com o processo da litografia (técnica de gravura que cria desenhos


sobre uma matriz com um lápis gorduroso, baseando-se na de repulsão entre
água e óleo) pode-se inserir cores e traços curvilíneos as impressões, sendo
este recurso muito utilizado por pintores, que produziam verdadeiras obras de
arte.

Na Europa, o pintor francês Jules Chéret, em 1860, iniciou a produção


de cartazes publicitários, combinando imagem e texto com estilo artístico, que
causavam impacto por usar principalmente imagens femininas com alegria e
beleza. Junto a Tolousse-Lautrec, estabeleceu uma nova forma de arte e
comunicação.

No século XX, o cartaz tornou-se um dos principais recursos de


divulgação, expressando com sua arte as transformações sofridas pela
sociedade ao longo dos anos, evoluindo no caráter gráfico, e em sua extensão,
graças à produção em grande escala.

Como uma ferramenta de comunicação, o cartaz transformou-se


acompanhando as transformações da sociedade, modificando-se, expressando
os movimentos artísticos, mudanças políticas e culturais, atingindo o público
===28
com suas cores e formas, sendo elemento constituinte da paisagem urbana,
que de forma peculiar pode documentar o comportamento da sociedade em
qualquer período que se queira aprofundar, revelando as características de
tempo-espaço.

3.2 O CARTAZ NA ESFERA PUBLICITÁRIA

Em se tratando do cartaz na esfera publicitária, este vem a ser um


instrumento de divulgação, fazendo uso de imagens que circulam em nosso
cotidiano, inspirados na teoria das motivações2.

Em seu papel econômico, de acordo com nossos estudos,


constatamos que o investimento em publicidade consome em torno de 1% a
2% da arrecadação bruta de uma nação, determinando assim a importância da
produção publicitária.

Por conseguinte, uma infinidade de profissionais atua na esfera


publicitária, com o auxílio do progresso técnico, formação específica e a
logística, conseguem fornecer por meio de suas agências de publicidade o
acesso aos cartazes, com uma visão correta, direcionada a velocidade de
locomoção dos pedestres, veiculando anúncios e informações.

Desta forma o cartaz vem a se constituir de um exemplo típico de


mensagem que parte da coletividade para o indivíduo, como cita Abraham
Moles, em sua obra O Cartaz:

Esta situação de cartaz como mensagem da


sociedade ao indivíduo, não é estática; pela sua repetição em
múltiplas cópias posta em diferentes lugares, o cartaz se
decalca pouco a pouco no cérebro dos membros da sociedade
para ai se constituir num elemento da cultura. É ai que ele vai
dissociar seus elementos conotativos e denotativos,
reagrupando-os conforme sua função (MOLES, 1969, p.27)

2
As Teorias da Motivação foram desenvolvidas na segunda metade do século XX, e estão em constante
pesquisa. Muitos estudiosos caracterizam estas teorias como do estudo da “Satisfação”, pois visam medir
o índice de motivação das pessoas, baseadas em suas necessidades e aspirações.
===29
Em sua função, o cartaz visa primeiramente à informação, num
segundo emprego, objetiva a propaganda publicitária, de modo a convencer,
seduzir seu público alvo, utilizando-se de recursos verbos-visuais, tom
apelativo e recursos expressivos para esse fim.

Ainda segundo Moles (1974, p. 56 - 57), o papel do cartaz publicitário


no espaço urbano é fundamental e seu conteúdo estético, cultural e funcional
está vinculado à teoria dos signos3.

Desta forma e não menos importante, a estética, na esfera publicitária,


expressa a mensagem a ser transmitida, não tendo características delimitadas,
podendo usar de toda liberdade para apropriar-se de diferentes formatos para
difundir sua mensagem, atingindo seu público.

Como se pode ver, o cartaz na esfera publicitária sofre influências de


seu espaço-tempo, mantendo-se como importante meio de comunicação até os
dias atuais, como parte integrante da mídia, dividindo seu espaço na
intencionalidade de divulgar com o rádio, televisão e revistas, sem perder suas
características.

3.3 AS CARACTERÍSTICA DO GÊNERO CARTAZ NA ESFERA ESCOLAR

O gênero cartaz, ao ser atualizado nos murais das escolas, mesmo que
seja típico da esfera publicitária, na qual compõe a paisagem urbana como um
componente estético, contempla uma infinidade de enunciados que circulam na
esfera pedagógica, o que traz inovações ao gênero. Pois como vimos
anteriormente o gênero pode transformas-se de uma esfera para outra.

3
A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais") é a ciência geral dos signos e da
semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de
significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura,
do conceito ou da idéia. Mais abrangente que a lingüística, a qual se restringe ao estudo dos signos
lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer
sistema sígnico - Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião,
Ciência, etc. (http://biblioteconomiadigital.blogspot.com.br/2011/01/fundamentos-da-teoria-dos-
signos.html)
===30
Na esfera pedagógica, o cartaz torna-se mais coercivo, delimitado pelo
conteúdo especificamente encomendado e o direcionamento dado pelo
docente, que difere da liberdade do artista ou designer que cria o cartaz na
esfera publicitária.

As inovações trazidas pelo gênero cartaz, na esfera pedagógica,


traduzem a identidade dos educandos, que se utilizam da criatividade
ideológica de suas interações para produzir, retomando o que podemos
chamar de memória discursiva, necessitando para a confecção do cartaz de
todo o conhecimento prévio que possuem do gênero, adquirido ao longo dos
anos escolares.

O docente ao solicitar a encomenda de um cartaz, objetiva também a


aprendizagem de seus educandos, buscando desenvolver suas habilidades,
potencializando o aprendizado além do gênero, construindo novos conceitos
por meio dessa decisão didática.

Na esfera pedagógica, o cartaz se apresenta como um instrumento


capaz de interagir com sua comunidade escolar, contribuindo para a
construção do conhecimento, na qual a linguagem verbo-visual tem seu sentido
constituído pelo leitor.

Desse modo, o cartaz estabelece uma relação dialógica no ambiente


escolar, atuando como uma estratégia pedagógica, desenvolvendo nos alunos
produtores o caráter de pesquisa, tornando-os mais críticos, com capacidade
de transformar a realidade que o cercam.

No tocante ao desenvolvimento acadêmico dos educandos e sua


formação, podemos ter como fator primordial o conhecimento de mundo sobre
as questões que compõem seu dia a dia, pois é a partir desse ponto que os
discentes criam suas hipóteses, pautados no pré- conceito.

Para comporem seus cartazes, os discentes veem-se diante de uma


folha em branco, geralmente utilizam uma cartolina como suporte, e a partir do

===31
conhecimento internalizado, mediado pelo docente, encontram o desafio de
expressarem-se por meio de palavras e imagens.

Entretanto, os alunos partem do destinatário, ou seja, da exposição


realizada com o conjunto de cartazes produzidos por sua turma, endereçada a
toda a comunidade escolar. O fator dialógico inicia-se com a escolha do gênero
discursivo e sua concepção, neste caso o cartaz.

Partindo do princípio do gênero, este revela uma expressão típica de


enunciado, sendo a posição ativa do falante que determinará os meios
linguísticos, para dar sentido a sua produção, determinando também suas
características de estilo e composição.

Ao iniciarem a produção de um cartaz, os grupos de alunos envolvidos


com a tarefa, estabelecem o que será realizado a partir de escolha estilísticas,
articulando os elementos verbais e visuais dentro do contexto sócio-histórico, e,
no tempo-espaço em que se encontram, gerando assim a composição do todo.

Ao trabalharem com o gênero cartaz, na escola, os alunos acabam por


refletir em sua produção os conteúdos das experiências anteriores,
conservadas na memória, dos conceitos científicos que já foram aprendidos e
está internalizado. Desta forma os enunciados estão vinculados às vozes que o
compõe.

Diante desse fazer, a memória discursiva se constitui como processo


de interação, estabelecendo as condições necessárias para o funcionamento
do discurso, na qual sua ativação tem como resultante a produção do sentido,
de acordo com a esfera em que o sujeito atua.

Diante do contexto que aborda a produção dos cartazes, podemos, por


conseguinte, analisar que os enunciados verbos-visuais, nos permite perceber
a forma pelo qual o texto está intrinsecamente ligado a imagem, sendo assim,
as imagens sem o texto não possuem coerência, como segue:

Diante desse enunciado composto de imagens, cores,


figuras, há um projeto gráfico que disponibiliza os elementos no
espaço discursivo e de elementos verbais que se articulam
===32
com as sequências visuais. Os elementos verbais e os visuais
não podem ser separados quando se pretende entender o
sentido expresso por esse enunciado concreto.(BERTI-
SANTOS, 2011, p.06)

Por fim, sendo o cartaz um gênero discursivo, na qual seus enunciados


refletem suas especificidades, de acordo com o conteúdo temático, estilo e
construção composicional, determinados pela sua esfera, apresentaremos
primeiramente este como um instrumento a favor da aprendizagem, para
posteriormente seguir com nossa pesquisa de campo, a fim de expor como o
cartaz se manifesta no ambiente escolar.

3.4 O CARTAZ NA ESCOLA: UM INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM

Dentre os inúmeros instrumentos que corroboram com o processo de


ensino-aprendizagem no ambiente escolar, está o cartaz, que por suas
características dialógicas, torna-se objeto de constante utilização por parte do
corpo docente e administrativo, com a principal proposta de transmitir o
conhecimento adquirido além de levar informações para toda comunidade escolar
mediante a conceitos abordados em determinada disciplina.

O termo conhecimento, do latim cognoscere, significa conhecer pelos


sentidos, experiência e saber. Assim o ato de conhecer está intrinsecamente
relacionado entre dois termos, o indivíduo e o objeto. A função do objeto é deixar-
se aprender, enquanto o indivíduo tende a aprender o objeto.

Não podemos compreender o termo conhecimento como saberes


apreendidos, acabados, pois na esfera escolar este se modifica de acordo com as
condições sócio-históricas e culturais, que fazem parte do processo de produção
do conhecimento do indivíduo.

Sabemos que para uma aprendizagem significativa, faz-se necessária


uma relação entre uma nova informação com o saber já adquirido, e ao expor os
cartazes das diferentes disciplinas que compõe o currículo escolar, toda a
comunidade escolar tende a observá-los, gerando com esse movimento

===33
pedagógico a valorização da produção do aluno, que fica motivado em ver sua
produção exposta, bem como favorece a troca de conhecimento e saberes entre
seu grupo e, por conseguinte, com toda a escola.

Portanto, a produção de cartaz na escola vem a ser uma ação educativa


que tem por objetivo auxiliar na promoção do conhecimento dentro do processo
de ensino aprendizagem, no qual o aluno estabelece uma relação entre o
conhecimento já adquirido e as informações que lhe chegam, as organizando e se
apropriando do novo significado, em um constante processo de construção e
reconstrução dos conhecimentos.

===34
4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Diante de todo o exposto, para que possamos atender os objetivos dessa


pesquisa e constatarmos a pouca eficácia apresentada pelo uso de cartazes nos
murais das escolas, concentramos, inicialmente, nosso olhar para o que
encontramos no espaço escolar. Partindo desta realidade, pudemos dar o passo
inicial para nosso trabalho, contemplado nos percursos preliminares deste
trabalho.

4.1 PERCURSOS PRELIMINARES

Durante nossa trajetória profissional, ministramos aulas em diversas


instituições de ensino, sendo assim, sempre observamos como o cartaz é uma
ferramenta continuamente utilizada pelos docentes, bem como pelo corpo
administrativo, para informar alunos e comunidade sobre seus índices, atividades
e principalmente divulgar seus eventos.

Desta forma, surgiu a motivação para realizarmos essa pesquisa, no


intuito de atrelar os cartazes expostos nos murais escolares, ao estudo de seu
gênero e esfera, de modo a analisar como este se faz presente no cotidiano
escolar.

Nessa perspectiva, escolhemos a sala de aula do 2º ano A, do Ensino


Médio. da Escola Estadual Alcides de Castro Galvão, localizada no bairro do
Ipiranga, na cidade de Caraguatatuba, Estado de São Paulo, para realizar o
trabalho em tela.

A sala do 2º ano A, composta por trinta e dois alunos matriculados, possui


alguns aspectos relevantes para a elaboração desta pesquisa, pois todos os
alunos são receptivos e interessados em participar das atividades propostas, além
de terem um bom relacionamento interpessoal, respeitando a própria produção e
a do colega, o que irá corroborar com nosso trabalho.

===35
Portanto, aguardamos no segundo semestre do ano letivo de 2013, a
encomenda, produção e a exposição do primeiro cartaz, para que pudéssemos
estabelecer as estratégias de pesquisa, bem como a forma de atuação junto ao
grupo de alunos, selecionados para o desenvolvimento do trabalho.

Assim, os alunos expuseram nos murais da escola os cartazes da


disciplina de Física, contemplando os conteúdos do terceiro bimestre, abordando
temas como a teoria do Big Bang e os grandes nomes da Física.

Inicialmente fotografamos os murais e individualmente os cartazes, a fim


de que pudéssemos traçar nosso plano de ação, de acordo com a produção
apresentada, focando a análise a partir da realidade exposta, não da realidade
subentendida.

O que percebemos, em nossa observação inicial, foram cartazes


produzidos sem qualquer preocupação estética, e alguns, inclusive, com erros
ortográficos. Visualmente os murais não atraem os olhares, nem tampouco
despertam a curiosidade para apreciação.

Com isso, percebemos que a forma de expor os cartazes nos murais


também vem a ser um elemento favorecedor, que pode potencializar a exposição,
de modo a atrair olhares e também motivar os outros alunos a apreciarem,
dialogando com o objeto produzido.

Partindo dessa primeira análise, nosso projeto de pesquisa foi


apresentado aos alunos do 2º ano A, que foram convidados a fazer parte desse
trabalho, e como primeira ação foram retirados da sala de aula para percorrerem
o espaço escolar, com a única tarefa de apreciarem seus murais e todo o
conteúdo nestes fixados, inclusive os que continham os cartazes produzidos por
eles, na aula de Física.

Assim tivemos os primeiros registros de nossa pesquisa, como mostram


as imagens a seguir:

===36
Figura 1: Mural da E.E. Alcides de Castro Galvão (Set/2013)

Figura 2: Mural da E.E. Alcides de Castro Galvão (Set/2013)

===37
Figura 3: Mural da E.E. Alcides de Castro Galvão (Set/2013)

Nas imagens 1, 2 e 3, podemos observar alguns dos murais que


continham exposições apreciadas pelos alunos, sendo que como percebemos, a
Unidade Escolar conta com espaço destinado a exposições de trabalhos
elaborados por seus alunos junto a seus professores, delimitados por espaços
constituídos de molduras em madeira com acabamento em pintura de tinta
esmalte acrílica brilhante.

A abordagem, nesse primeiro momento, foi de forma espontânea,


sugerindo aos alunos que observassem os cartazes e refletissem sobre o prazer
em apreciar e ler seus conteúdos, de forma a interagir com algum desses
mesmos conteúdos abordados na exposição e, anteriormente, vistos em sala
junto ao professor de Física.

De frente aos cartazes, os próprios alunos não se reconheceram em suas


produções, observavam insatisfeitos de estarem ali, frente a frente com o mural

===38
que continha o trabalho de cada grupo da sala. Todos estavam refletindo sobre a
própria produção e a dos outros colegas.

Solicitei que escolhessem, retirando do mural, um dos cartazes


produzidos, para que este fosse levado à sala de aula, a fim de ser estudado por
todos os alunos, para que assim pudéssemos avaliar sua constituição de modo a
melhorá-lo tanto em seu conteúdo como em sua apresentação visual. E assim o
fizeram.

Ao escolherem um cartaz, não houve qualquer tipo de apontamento ou


crítica, nesse momento acreditaram na nova oportunidade de apresentar o cartaz
e melhorá-lo em sua forma de expor. Enfim, tínhamos o corpus inicial de nosso
trabalho de pesquisa, podendo partir para a segunda fase do trabalho, que
objetiva a análise do cartaz selecionado.

4.2 AS PROPOSTAS DE PRODUÇÃO DE CARTAZES PELO CORPO


DOCENTE

Ao retornarem à sala de aula, os alunos tiveram a oportunidade de,


coletivamente, protagonizarem um estudo direcionado sobre o cartaz selecionado.
Primeiramente, foram conduzidos a retomar, na memória, a comanda dada pelo
professor de Física para a produção dos cartazes, elencando, conforme
solicitado, os passos seguidos para que se chegasse à produção final.

Segundo os alunos os grupos foram formados de acordo com as


afinidades, estando estes livres para compor como quisessem, estipulando o
número máximo de cinco, e o mínimo de três alunos.

Cada grupo iria escolher um, entre os conteúdos bimestrais abordados


nas aulas de Física, para que fosse este o tema a ser explorado na produção do
cartaz. Após cada grupo ter seu tema, o professor apresentou o cronograma com
a ordem das apresentações e a data de entrega para exposição, e, orientou-os de
modo a buscar uma padronização nas produções coletivas.

===39
Os alunos, portanto, deveriam confeccionar os cartazes em cartolina
branca, selecionar o título que deveria estar em destaque, elaborar margem e
inserir o conteúdo abordado, podendo ser utilizado colagens ou desenhos se
desejassem.

Com a abertura dada pela instituição de ensino, pudemos apresentar


nossa pesquisa para o professor de Física, que com toda a boa vontade aceitou
em participar, nos respondendo aos questionamentos que viessem a sanar
nossas dúvidas em relação à encomenda da atividade e seus objetivos
pedagógicos. Tivemos confirmada, pelo docente, a comanda relatada pelos
alunos, e este ainda acrescentou à abordagem feita em relação à importância
dada a qualidade estética do trabalho, lembrando-os que seriam fixados em
mural.

Neste momento, os alunos puderam produzir os trabalhos de acordo com


o conhecimento prévio, adquirido ao longo dos anos escolares, desta forma
observamos que alguns cartazes seguiram a orientação fornecida pelo professor,
inserindo o título em destaque, os conteúdos, margens, desenhos e colagens.

De acordo com a data estipulada entregaram os cartazes, tal atividade foi


complementada com a apresentação dos grupos para a sala criando um debate
na qual os alunos apontavam no cartaz o conteúdo abordado, descrevendo-os, de
forma a compartilhar o conhecimento explorado pelo grupo, e, por fim, após todas
as apresentações, foi montada a exposição dos trabalhos nos murais.

Do ponto de vista metodológico, elaborar propostas diversificadas que


venham a promover situações de aprendizagem dos alunos, depende por muitas
vezes da relação estabelecida entre o que o docente solicita e, de como os
discentes a compreendem, assim, quanto mais objetiva e clara for a proposta a
ser desenvolvida, melhor será a resposta dada pelos alunos.

Diante do exposto, nessa sondagem inicial, pudemos verificar que ao


solicitar o trabalho de execução de cartazes, o professor não se atentou em exibir
exemplos positivos (como gostaria que o trabalho fosse executado) ou negativos
(trabalhos dos quais não atingem os objetivos necessários para sua proposta), ou
===40
inserir um modelo pré estabelecido, apontando para o grupo como gostaria que
fosse realizado o cartaz. Deste modo os alunos produziram os trabalhos de
acordo com a comanda verbalizada em sala de aula pelo docente.

Na tentativa de avaliarmos todo o processo metodológico, nos remetemos


à entrevista com o professor, e neste sentido acreditamos que os docentes que
ministram aulas no Ensino Médio, acreditam que a habilidade em produzir
cartazes já se faz presente no cotidiano dos alunos, e por esse motivo, parece
existir certa negligência na intencionalidade do corpo docente, tanto na
abordagem para a encomenda do trabalho, quanto durante seu processo de
execução e sua apresentação final. De certa forma, nos parece que tal evidência
vem a explicitar os motivos pelos quais alguns cartazes não atingem as
expectativas do docente.

Tendo esse processo descrito, pudemos entender o contexto em que se


deu a produção do cartaz, para que possamos agora seguir para a análise dos
cartazes produzidos, e, em especial, o cartaz selecionado.

4.3 ANÁLISES DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS CARTAZES


PRODUZIDOS PELOS ALUNOS

Passamos para as atividades em sala de aula, nesse momento os alunos


foram convidados a observarem o cartaz coletado do mural da Unidade Escolar, e
por meio de uma ação coletiva foram elencando as características que o cartaz
apresentava, promovendo um debate.

Acreditamos que o ato de refletir sobre a própria produção, gera, por parte
do aluno, um estado de inquietação que vem de encontro com a necessidade de
pensar na busca de soluções, levantando hipóteses e problematizando a
realidade de forma desafiadora.

Este repensar crítico do aluno diante de sua produção vem a


desencadear a condição dialógica que permite viabilizar um novo processo de

===41
reconstrução, sendo este fator presente nos estudos deixados por Vygotsky4, em
sua teoria do desenvolvimento, que sustenta que todo conhecimento é construído
socialmente, no âmbito das relações. (VYGOTSKY, 1977)

Diante do cartaz, os alunos foram instigados a analisar se este


contemplava os requisitos selecionados pelo professor de Física, quando da sua
encomenda, iniciando pelo suporte (cartolina branca), e encerrando na qualidade
estética para expô-lo no mural.

Figura 4: Cartaz selecionado (Set/2013).

4
Lev Semenovich Vygotsky . (1896-1934) nasceu na Rússia, num contexto histórico de
conflitos políticos (Revolução Russa), sendo este um dos motivos pelo qual sua obra só foi
conhecida e valorizada mais recentemente, apesar de sua pesquisa ser de suma importância
para as ciências educacionais e psicológicas Fez seus estudos na Universidade de Moscou para
tornar-se professor de literatura. O objetivo de suas pesquisas iniciais foi criação artística. Foi só
a partir de 1924 que sua carreira mudou drasticamente, passando a dedicar-se a psicologia
evolutiva, educação e psicopatologia. Pensador importante foi pioneiro na noção de que o
desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condição de
vida A partir daí ele concentrou-se nessas áreas e produziu obras em ritmo intenso até sua
morte prematura em 1934, devido à tuberculose.
===42
Figura 5: Cartaz selecionado, colagem esquerda (Set/2013).
===43
Figura 6: Cartaz selecionado, colagem direita (Set/2013).
===44
Primeiramente apontaram o suporte em que o cartaz foi produzido, ou
seja, a cartolina branca, e também como fatores positivos, referiram-se a
presença do título em destaque (A teoria do Big Bang), bem como o conteúdo
abordado, pertinente ao título e exposto de forma extensa. Justificaram como fator
positivo a extensão do texto, pois se algum aluno tiver a curiosidade em saber
mais sobre o título, bastaria aproximar-se e realizar a leitura.

Relataram ainda sobre a presença das imagens do físico e da explosão


constituindo o Universo, bem como a presença das referências bibliográficas,
denominado no cartaz como fontes consultoras.

Figura 7: Detalhe do título.

Figura 8: Detalhe da imagem do Físico George Anthony Gamow.

===45
Figura 09: Detalhe da imagem do Universo constituído após a explosão cósmica.

Figura 10: Detalhe das fontes consultoras.

Como fatores negativos, referiram-se principalmente sobre o aspecto


visual, de forma a não ter, o cartaz, atrativos que chamem a atenção do público
para apreciação, de modo a transmitir o conhecimento, bem como a ausência de
margem, cor e letras chamativas para destacar o título.

O conteúdo extenso é citado novamente, desta vez como um fator


negativo, pois conforme a grande quantidade de texto, o tempo para apreciar e
compreender a mensagem torna-se grande, não despertando o desejo de
apreciação, prejudicando a captação do conteúdo.

Com essa dinâmica, em sala de aula, os alunos puderam direcionar o


olhar de acordo com suas convicções, fazendo uso de suas experiências

===46
acadêmicas para gerar as discussões em grupo e os apontamentos sobre como
deveria ser a produção do cartaz.

No tocante a todo o exposto, nosso trabalho utilizará deste contexto para


realizar as inferências, além de traçar a metodologia de trabalho para que os
educandos possam compreender o uso e a função do cartaz, atendendo suas
expectativas na esfera escolar.

===47
5 INTERVENÇÃO METODOLÓGICA

Diante de todo o exposto, pelos alunos, referente ao cartaz selecionado,


nosso trabalho parte para uma introdução teórica sobre o gênero cartaz e sua
aplicabilidade em diferentes esferas, focando nas características do cartaz e de
como torná-lo um instrumento de significância na aprendizagem dos educandos.

Assim, tivemos como determinante que o cartaz deve instigar seu leitor a
ter uma breve percepção de determinado assunto, gerando notícia e informação,
sendo mais um aliado no processo de significação da aprendizagem escolar.

Elaboramos um plano de aula, com duração de cem minutos, ou seja,


duas horas aulas, com o objetivo de apresentar aos alunos um pouco sobre a
teoria de construção do cartaz, sua elaboração, exposição e principalmente as
características que constitui esse recurso linguístico, não deixando de abordar as
questões de interações nas quais o cartaz vem a corroborar no processo de
ensino-aprendizagem.

Assim, iniciamos a aula apresentando a bibliografia na qual embasaremos


nossos estudos, sendo o livro O cartaz, de Abraham Moles, citado e referenciado
neste momento, assim os alunos poderiam ter acesso sempre que necessitarem
de recursos teóricos, pois o livro ficou durante todo o processo na biblioteca da
escola para consulta dos grupos, bem como foi disponibilizado, pela instituição de
ensino, o laboratório de informática, para toda e qualquer pesquisa.

Apresentamos inicialmente as esferas do cartaz, evidenciando a esfera


publicitária, tão presente no cotidiano dos alunos, para que desta forma
iniciassem o trabalho de percepção visual, atrelada a arquitetura do cartaz, as
cores, as formas e todo o conjunto que o constitui como gênero.

Por meio de exemplos do cotidiano, como os cartazes das peças teatrais


e exposições, na esfera cultural, ou, os cartazes das campanhas de vacinação, na
esfera social e institucional, pudemos aguçar o olhar do grupo de alunos, e, por

===48
meio dessa pluralidade, novos conceitos foram introduzidos, de acordo com a
nova experiência de observação direcionada.

Vivenciar uma prática já exercida por grandes profissionais da área,


apresentando alguns cartazes coletados do ambiente urbano, facilitou a
aproximação teórica, pois íamos constituindo a fala teórica retomando as imagens
dos cartazes coletados, tendo os alunos uma metodologia que favorecia a
atenção e a interação com a aula.

Neste momento foi de suma importância ressaltar os objetivos dos


cartazes publicitários, que possuem um estilo mais livre, atentando-se
primordialmente para percepção do olhar, dinamicidade e linguagem direta ao
receptor.

Em contrapartida buscou-se apontar os objetivos dos cartazes escolares,


que possuem um caráter acadêmico, com o objetivo de compartilhar informação e
transmitir o conhecimento.

Avaliamos esta situação de aprendizagem positivamente, pois os


resultados obtidos partirão desta fase de estudo, e tivemos boa participação dos
alunos, que contribuíram para o bom desenvolvimento da aula.

Pudemos, então, iniciar o trabalho de reconstrução do cartaz, munidos de


novos olhares e novas estratégias para realizar, em grupo, o estudo do que foi
produzido anteriormente, e o de que será realizado, a partir do conhecimento
adquirido.

Por se tratar de uma atividade coletiva, pudemos observar a retomada


dos grupos de estudo, cada um com seu cartaz inicial, prontos para iniciarem uma
nova discussão sobre a produção já finalizada e a nova, que se iniciava. Desta
forma, diante dos cartazes cada grupo iniciou seu trabalho de reconstrução dos
cartazes.

===49
Figura 11: Um dos grupos trabalhando na produção do novo cartaz.

Figura 12: Um dos grupos trabalhando na produção do novo cartaz.


===50
Figura 13: Alunos do cartaz selecionado realizando a nova produção.

Figura 14: Alunos do cartaz selecionado realizando a nova produção.

===51
Dentre todo o novo processo, este foi o mais interessante, pois com um
olhar mais aguçado e com novas habilidades, adquiridas após a avaliação
coletiva dos conteúdos abordados, os alunos conseguiram compreender que os
murais são elementos constituintes do espaço escolar, sendo que os cartazes não
devem simplesmente preencher os murais sem chamar a atenção do publico para
apreciá-los.

O desenvolvimento do caráter critico por parte dos alunos foi um fator


relevante para a pesquisa, sob nosso ponto de vista, pois se iniciou um processo
de criação mais centrado e focado no atendimento aos objetivos do cartaz na
escola, para seu público alvo, sem perder o caráter estético, valorizando-o, de
modo a ser este o foco para viabilizar o olhar dos demais alunos para os murais,
com cartazes mais interessantes com uma construção mais elaborada.

O cartaz inicialmente produzido, entregue nas mãos do grupo, serviu


como referência para o novo estudo. Neste suporte os alunos puderam traçar
nova letra para o título, selecionar um parágrafo de impacto para inserção em
novo cartaz, bem como tiveram a liberdade para rasurar, fazendo uso de grifos e
sublinhados.

Desta forma, achamos conveniente reapresentá-lo após o estudo do


grupo, comprovando a efetiva utilização do cartaz inicial, tendo este passado por
nova análise, sendo objeto de estudo para o novo saber compreendido durante as
aulas expositivas.

===52
Figura 15: Cartaz selecionado após intervenção de estudo do grupo..

===53
Após o estudo do cartaz inicial, tivemos como resultado final o segundo
cartaz, reconstruído pelo grupo de alunos, com base nas análises coletivas.

Figura 16: Cartaz reconstruído a partir da análise do corpus inicial

===54
Após a produção do segundo cartaz por cada grupo, realizamos o
pareamento com o primeiro cartaz produzido, já apresentado anteriormente neste
trabalho, de modo a realizar uma discussão pautada em ambas produções. Com
a participação de toda a sala, pudemos apreciar o conteúdo teórico aplicado na
segunda produção, tendo os alunos a percepção da evolução entre um trabalho e
outro.

Inicialmente relataram sobre o aspecto visual do novo cartaz, chamando a


atenção do olhar para conteúdo abordado, bem como os desenhos, que
apresentaram total ligação com o título e seu conteúdo.

Num segundo momento, o grupo de alunos da classe foi motivado a


relatar sobre o conteúdo, e avaliarem se este atinge seu objetivo de transmitir o
conhecimento sobre o tema.

Neste momento a sala dividiu-se, sendo que uma maioria acredita que o
conteúdo do novo cartaz atinge as expectativas, tendo despertado o interesse do
tema pelos alunos, que se desejarem possam se aprofundar com pesquisas
individuais.

Porém, o restante da sala acredita que o conteúdo poderia ser um pouco


mais extenso, dando maiores informações, enriquecendo mais o publico alvo com
conhecimentos sobre o tema, sanando o conteúdo de forma a buscarem novas
fontes se desejarem ir além do tema, relatando também a visível qualidade visual
do trabalho, que chama atenção para o olhar, e com isso vem a gerar desejo em
completar a leitura de seu conteúdo.

Observamos, com essa dinâmica, o quanto os alunos sentiram-se


satisfeitos com a própria produção, um tanto orgulhosos por se mostrarem
capazes produzir atendendo as expectativas, participando de todo o processo de
construção do conhecimento atrelado a prática vivenciada no cotidiano escolar,
utilizando-se das mesmas ferramentas, porém aplicando novas estratégias.

Para finalizar esse processo de análise da construção do cartaz,


intervenção teórica e reconstrução, solicitamos aos alunos que registrassem suas

===55
impressões sobre a atividade, criando um relato simples que apresentasse uma
análise sobre o primeiro e o segundo cartaz, de acordo com as impressões do
grupo.

Figura 17: Relato entregue pelo grupo de alunos do cartaz analisado

===56
Figura 18: Relato entregue pelo grupo de alunos do cartaz analisado

Ao entregarem tivemos claramente a certeza do entendimento do grupo


em relação ao cartaz e sua aplicabilidade na esfera escolar. Com o texto
apresentado, também pudemos perceber o conteúdo adquirido de forma concreta,
aplicada e internalizada.

Por todo o processo deste trabalho de pesquisa, no que se refere ao


conhecimento prévio, ao novo conhecimento apreendido e por conseqüência o
conhecimento adquirido, que se tornou a realidade dos alunos, nos remeteremos
a Vygotsky, em sua teoria da zona proximal, para conceituarmos o processo
vivenciado pelos alunos.

5.1 A TEORIA DA ZONA PROXIMAL

Em se tratando das questões pedagógicas, a qual o cartaz está


imbricado, temos que este possui caráter de criação, manifestando
artisticamente o conhecimento cientifico mediado pelo docente. Ao realizá-lo, o
aluno traça uma ligação de codificação/decodificação com o ambiente que o
cerca, interagindo e o representando.

Tomando os estudos de Vygotsky na esfera escolar, ou pedagógica,


podemos concluir que este considera de extrema importância o papel da
===57
escola, pois é nesse ambiente que os alunos elaboram suas estruturas mentais
e seu desenvolvimento, nela também internalizam os principais conceitos
científicos, em colaboração com o professor, que realiza a mediação,
estimulando a zona de desenvolvimento proximal, transmitindo os conceitos e a
cultura, de acordo com a inserção histórico-social de seus alunos.

A teoria de zona proximal foi elaborada por Vygotsky, baseado em dois


fatores, sendo o primeiro relacionado à influência que o indivíduo sofre do
outro, e o segundo relacionado ao desenvolvimento real e o desenvolvimento
potencial, que o indivíduo possui.

No nível de desenvolvimento real, podemos enfatizar aquilo que o


indivíduo consegue realizar independentemente, sem interferência ou auxílio, é
a sua capacidade individual de realizar tarefas, já sanadas todas e quaisquer
dificuldades.

Já o nível de desenvolvimento potencial, pauta-se no desconhecido,


naquilo que o indivíduo adquire por meio de inferências, da colaboração
significativa do outro, das habilidades não alcançadas.

Sendo assim, a interação social, proposta por Vygotsky, é de extrema


importância no processo de construção do sujeito, pois seu desenvolvimento
muito depende da relação com o outro e as contribuições que este pode lhe
oferecer.

Assim, a zona de desenvolvimento proximal refere-se ao percurso que


o indivíduo irá realizar para desenvolver as funções que estão em processo de
amadurecimento que se tornarão funções consolidadas (VYGOTSKY, 1977).
Temos que o nível de desenvolvimento real, ao ser acrescido de informações
ativa o desenvolvimento proximal, e este após de processado, gera o nível de
desenvolvimento potencial, que alcançado irá compor o nível de
desenvolvimento real novamente, num ciclo constante de aprendizado.
Conforme quadro:

===58
Figura 19: Quadro:Zonas de Desenvolvimento (BERTI-SANTOS 2003)

É, portanto, desta forma que compreendemos a intervenção realizada e


apresentada em nossa pesquisa, iniciamos com a coleta do corpus inicial, que
se constitui do cartaz produzido pelos alunos a partir do nível de
desenvolvimento real, ou seja, daquilo que realizaram independentemente,
sem inferências.

Produzimos uma discussão coletiva e apresentamos o novo,


conceituamos o cartaz e suas esferas, ou seja, aquilo que até o presente
momento era desconhecido pelo grupo.

Houve, então, uma convergência entre o real, internalizado, e o


conhecimento novo, advindo de uma interferência externa, modificando a
realidade, agindo diretamente nos resultados a serem obtidos, ativada,
segundo Vygotsky, pela zona proximal.

===59
A partir das novas técnicas, do estudo do material linguístico, os alunos
entraram no nível de desenvolvimento potencial, daquilo que seriam capazes
de realizar, seguindo novas orientações, necessitando de auxílio para executar
o novo cartaz. Desta forma obtivemos um novo corpus, constituído de novos
conceitos, que neste momento, ao ser internalizado, torna a fazer parte do
desenvolvimento real

Portanto, segundo a teoria de Vygotsky, devemos partir do nível de


desenvolvimento real de nossos educandos, tendo traçados os objetivos a
serem alcançados. Assim, ao ativar a zona proximal, mediando o novo, o
professor, agente principal nesse processo, provoca o avanço que não se daria
de modo espontâneo, tornando o processo de ensino-aprendizagem eficaz.

5.2 EXPECTATIVAS DAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DESTE


TRABALHO PARA A PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE CARTAZES NA
ESCOLA

É na escola que os educandos têm a possibilidade de ampliar, durante


os anos de estudo, sua capacidade de utilizar a maior quantidade de gêneros
possível, tanto orais quanto escritos. Nesse ambiente ainda podem entrar em
contato com variações linguísticas e estilística, apropriando-se, desta forma,
dos gêneros do discurso que circulam socialmente, constituindo-se um sujeito
crítico, sendo apenas leitor ou até mesmo produtor.

Nossa intenção em produzir esta pesquisa não é a de corrigir ou impor


ações aos docentes, mas direcionar um novo olhar para os cartazes
produzidos pelos discentes e apresentados à toda comunidade escolar, a fim
de que estes sejam verdadeiramente um instrumento de aprendizagem.

No contexto geral, de nossa pesquisa, percebemos que os cartazes


inicialmente produzidos não tiveram uma preocupação estética, pudemos
observar que nos grupos a intenção prioritária era a de introduzir o conteúdo
teórico abordado na disciplina.

===60
Durante o percurso pudemos observar os alunos produzindo de forma
direcionada, o que fez toda a diferença, conforme apareciam as dúvidas
solicitavam auxílio, além de terem todos os membros do grupo presente para
opinar e colaborar com a produção.

Com isso acreditamos que oportunizar o momento de produção em sala


vem a ser um fator positivo, pois os docentes podem atuar, interferindo
diretamente na produção.

Vimos que com nossa proposta de pesquisa, os alunos puderam, por


meio da prática de elaboração de cartazes, perceber que mesmo estando nos
anos finais do Ensino Médio, necessitam de auxílio em suas produções, portanto,
acreditamos que nossas expectativas ultrapassaram nossa intencionalidade, pois
observamos os alunos dependentes de orientações, e estes assim se
reconheceram durante o processo de reconstrução do cartaz..

Diante dessa experiência, nossa perspectiva vem a ser junto aos alunos,
que perceberam durante as análises e produções que a autonomia que acreditam
possuir, neste nível de ensino, não os deixa a vontade em produzir de acordo a
sanar as expectativas de seus professores.

Talvez muitos não se preocupem em produzir com afinco, desejando


apenas cumprir com o solicitado, porém o que pudemos observar foi adolescentes
em final de curso interessados em realizar uma atividade de modo a atingir os
objetivos propostos, tendo inclusive a satisfação em nomear o trabalho, o que
para nós só vem a confirmar o cumprimento de nossos objetivos.

===61
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, temos a escola como o local onde podemos socializar o


conhecimento acumulado historicamente, sendo o docente o agente no qual
esse objetivo se finda, na concretização da tarefa de ensinar, portanto, faz-se
necessário que este selecione a melhor maneira, ou seja, o método pelo qual
possa adequar as suas ações de forma a atingir seu maior objetivo, que visa à
assimilação do conhecimento por seus alunos, garantindo assim o sucesso de
sua ação.

Por se tratar de um instrumento a favor da aprendizagem e ser tão


comum seu uso na prática pedagógica, o cartaz vem a compor o ambiente
escolar, tornando parte de seu cotidiano, presente de diversas formas, para
atingir determinados objetivos, fazendo também parte das leituras que os
discentes fazem no contexto escolar.

Tais razões, justificam a importância em criar-se o hábito de introduzir


no ambiente escolar um planejamento para a produção de cartazes, de modo
que estes ao serem expostos, sejam efetivamente um instrumento de
aprendizagem, transmitindo o conhecimento adquirido, dialogando com toda a
comunidade escolar, instigando o olhar, gerando notícia, curiosidade e
informando.

Com este trabalho de pesquisa, visamos também fomentar ações que


venham a contribuir com futuras produções no sentido de se criar, futuramente,
um guia para educadores, um instrumento de auxilio para os docentes, no qual
estes possam pautar suas ações no que se refere à produção de cartazes no
ambiente escolar.

Realizou-se em primeiro lugar uma leitura das produções realizadas


pelos alunos, e o que encontramos como resultado nos auxiliou por toda a
trajetória desta pesquisa.

Tendo em consideração todo o esforço que foi empregado por cada


aluno na realização da atividade de produção de cartazes, bem como a

===62
tentativa do docente em criar uma situação de aprendizagem, que partisse do
trabalho em grupo, promovendo uma dinâmica que contribuísse para a
formação do aluno, inclusive nas suas relações interpessoais, este trabalho
atingiu o objetivo de analisar o gênero discursivo cartaz, na esfera escolar,
inferindo em construção, tornando-o um instrumento pedagógico.

Foi também possível concluir que os cartazes quando produzidos


durante as aulas, possibilitando ao docente realizar inferências e aos discentes
buscar contribuições com colegas e professoras, alcança um resultado final
positivo, pois junto ao seu grupo os alunos acabam discutindo mais sobre o
tema a ser abordado, levantando hipóteses, construindo coletivamente fazendo
uso do conhecimento já internalizado, tornando-se protagonistas de suas ações
e se satisfazendo com sua produção, elevando a autoestima e se vendo como
agente transformador do ambiente escolar.

Conclui-se, ainda que ao encomendar os trabalhos de cartazes, o


docente pode procurar meios para que se especifique com maior clareza a
solicitação, usando de recursos pedagógicos, independente da crença dos
alunos ter tais habilidades adquiridas, como roteiros, passo a passo, uso de
imagens, apresentações de slides ou até mesmo um modelo de referência que
pode ser entregue aos grupos. Desta forma os alunos terão maior segurança
em realizar suas produções, e o resultado final poderá atingir maiores níveis de
satisfação.

Desta forma, poderemos contribuir para um espaço escolar que venha


a se constituir também como um ambiente formador, por meio inclusive das
exposições de seus alunos.

===63
7 BIBLIOGRAFIA

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===66
ANEXOS

Anexo 01 – Corpus inicial

===67
Anexo 02 – Corpus final

===68
Anexo 03 – Relato dos alunos

===69
Anexo 04 – Continuação do relato dos alunos

===70
Anexo 05: Fachada da E.E. Alcides de Castro Galvão (set 2013)

Anexo 06: Espaço interno da E. E. Alcides de Castro Galvão


===71
Anexo 07: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

Anexo 08: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)


===72
Anexo 09: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

Anexo10: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

===73
Anexo 11: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

Anexo 12: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

===74
Anexo 13: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

Anexo 14: Cartaz pertencente ao mural análise (set 2013)

===75

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