Velha Cristandade e o
Além-Mar
Resumo
O texto pretende estabelecer relações entre a difusão do culto a
Nossa Senhora do Rosário na América portuguesa — principalmente
entre os negros — e a anterior catolização da África banto, ela mesma
concomitante à promoção do uso do rosário na velha cristandade, a par-
tir de finais do século XV.
Palavras-chave: expansão portuguesa, Igreja Católica, devoção ao ro sá-
rio, negros.
Abstract
Peregrination of the Rosary between Old Christianity and Overseas
The text intends to establish a relationship between the spread of
the Our Lady of Rosario cult in Portuguese America – principally among
Negroes – and the prior Catholicism of Banto Africa. It is concurrent
with the advance of the use of the rosary in old Christianity since the end
of the 15th century.
Keywords: Portuguese expansion; Catholic Church; devotion to the ro-
sary; Our Lady of Rosario; Negroes.
Résumé
Voyages du Rosaire entre la Vieille Chrétienté et l’Outre-mer
Dans ce texte, on vise à établir des relations entre la divulgation du
culte à la Vierge du Rosaire en Amérique portugaise – surtout chez les
Noirs – et la préalable catholicisation de l’Afrique bantoue, celle-ci étant
contemporaine aux incitations à l’usage du rosaire dans la vieille
chrétienté, à partir de la fin du XVe siècle.
Mots-clé: expansion portugaise; Église catholique; dévotion au rosaire;
la Vierge au Rosaire; Noirs.
Assim, ainda que não seja exato, atribui-se geralmente aos cru za-
dos a extensão do uso do colar de contas, tomado dos mulçu ma-
nos.
Importa, no entanto, aqui, marcar que essa devoção ganhou
força no contexto da Reforma católica. Por volta de 1470, o do mi-
nicano Alano de Rupe publicou uma obra que despertou a crença
nos poderes do rosário como meio de obter graças e a proteção da
Virgem Maria, sobretudo em Colônia e Augsburgo. Seu livro ins-
pirou outras obras e missionários, em especial os dominicanos. Em
Estudos Afro-Asiáticos, Ano 23, nº 2, 2001, p. 4
O Rosário de Vieira
Notas
Segundo A. C. Gonçalves, os cronistas João de Barros, Rui de Pina e Garcia de Re sen-
de não estão de acordo quanto às datas e número de ex pedições de Dio go Cão. “A pri-
meira vi agem teria sido 1482 — 83 e a se gunda, na qual subiu o rio Con go até as ca ta-
ratas do Yelala, em 1484 — 85” (Gonçalves, 1992:525).
“Até as ilhas de Cabo Verde, a armada foi comandada por Gonçalo de Sousa. Mas,
tendo fa lecido este, assumiu o coman do Rui de Sousa [...]” (Araú jo & Santos,
1993:646)
“A que Ordem pertenceriam estes três pri meiros missionários? Surgem diferentes
possibilidades. João de Barros, na sua Década Primeira, capítulo III, quando refere a
educação, no convento dos Lóios (frades de São João Evangelista) dos jovens na tu ra is
do Con go e do seu baptismo, antes de se rem entregues aos cuidados de Gon çalo de
Sousa para os restiuir à pátria, diz que foi escolhido um dominicano. Os Lóios, por
sua vez, reivindicam para a sua obra a primazia da acção apostólica empreendida e
mencionam como su perior frei João de Santa Maria, ‘re ligioso de grandes letras e vir -
tudes’, bem como Frei João de Portalegre, Frei António de Lisboa e o ‘Ma nicongo’,
Frei Vicente dos Anjos, assim chamado por ter sido um dos mais notáveis mis si o ná ri-
os da evangelização do Congo” (Ara újo & Santos, 1993:648).
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