LICENCIATURA EM HISTÓRIA DOCENTE: WALDECI CHAGAS DISCENTE: THALITA FURTADO
FICHA DE ANÁLISE – DOCUMENTÁRIO: “A COR DO DO TRABALHO”
O documentário “A Cor do Trabalho”, produzido pela Secretaria do Trabalho,
Emprego, Renda e Esporte (Setre) da Bahia, foi dirigido por Antônio Olavo e tem como objetivo mais geral mostrar a importância da educação e do trabalho como meios de ascensão social com relação à população negra. Com duração em torno de 1 hora, aborda acerca do período da escravização dos povos negros, passando pelo pós-abolição até chegar nos relatos de vida de personalidades negras que se destacaram na sociedade. Inicialmente, o documentário aponta que, com a chegada dos colonizadores, a história do trabalho no Brasil foi pautada na acumulação de riquezas com base na exploração e escravização das pessoas negras trazidas do continente africano. Segundo Schwarcz (2015), as condições enfrentadas nessas viagens eram precárias, mal comiam ou bebiam água, sem contar que muitos adoeciam e os sobreviventes quando chegavam em seus destinos eram separados dos seus familiares ou conhecidos. Walter Fraga, historiador que aparece na obra, relata que partindo de outra perspectiva, o trabalho para essas pessoas era visto como uma possibilidade de conquista da liberdade. Muitas vezes eles trabalhavam fazendo horas extras e também nos feriados para conseguir comprar sua carta de alforria. Enquanto o trabalho intelectual, considerado digno, foi sendo destinado a população branca, os trabalhos manuais, subalternos, ficaram com as populações pobres que em sua maioria eram negros libertos e mestiços. Entre esses trabalhos, o documentário cita como exemplo os vendedores, carregadores e também os trabalhos realizados em obras como meios de sobrevivência. Apenas no século XIX ocorreu o fim do período de escravização e também a universalização do trabalho livre assalariado. Mas a gente pode se questionar: até que ponto a escravização acabou? Visto que, negros e negras foram jogados numa realidade na qual não obtiveram nenhum tipo apoio para sua integração, como retratado no documentário. Consequentemente, foram marginalizados tanto dos trabalhos considerados prestigiosos, quanto do meio educacional, portanto, sem recurso nenhum como suporte para sua ascensão social. Com relação à educação formal, ela foi uma problemática que persistiu durante muito tempo. Negros e negras tiveram o acesso às escolas negado durante o período republicano, pois hegemonicamente a educação foi destinada para as pessoas brancas, da elite, com poder aquisitivo. Além disso, o Brasil pós-abolição apresentado no documentário, serviu de palco para as políticas eugenistas com suas narrativas baseadas numa ciência racista. Tais ideias foram sendo disseminadas durante esse período, contribuindo significativamente para a segregação desses povos e reprodução do preconceito. Para parte da elite intelectual da época, a eugenia seria uma forma de “higiene social”, visando a exclusão dos elementos, considerados indesejados por eles, com o intuito de “melhorar” a sociedade. Após todo esse resgate histórico como forma de contextualização, com a presença de imagens do período, além de historiadores para reforçar as problemáticas existentes, o documentário parte para a reflexão com relação aos resquícios deixados por tais períodos. São apresentados os relatos de 32 pessoas negras que se destacaram na sociedade, como médicos, políticos, artistas, advogados, empreendedores e celebridades como a cantora Margareth Menezes. Alguns desses depoimentos foram gravados nos ambientes de trabalho dessas pessoas. Todos e todas contam suas histórias de como venceram em suas atividades profissionais, seja através do empreendedorismo ou da educação, rompendo com o estigma do preconceito racial de que aqueles lugares não eram pra eles. Muitos trazem em seus discursos a narrativa do quanto seus pais tiveram que trabalhar e batalhar para que eles pudessem estar ali, já que não queriam para eles o que tinham passado. Todavia, outros contam que tiveram seus sonhos adiados, pois ao invés de estudar, precisavam trabalhar, mas que com muita luta conseguiram ocupar os espaços que por vezes muitos ainda insistem em negá-los ou questioná-los. Sobre essa questão de adiar sonhos ou deixar a educação em segundo plano, é uma realidade que continua muito presente em nossa sociedade. Quantos e quantos jovens não precisam evadir da escola para ajudar seus pais a colocar o pão de cada dia na mesa? É uma reflexão de extrema importância e urgente no entendimento desse porquê. A partir de todas essas histórias e vivências contadas enquanto sujeitos negras e negros, percebe-se que os rastros de uma sociedade baseada na escravização e segregação ainda persistem. Apesar de toda luta e conquista, impulsionada por intermediário, por exemplo, do Movimento Negro, ainda existem obstáculos a serem superados. No mais, embora a educação tenha sido apresentada no documentário como forma de conquistar espaços em ambientes que não eram vistos para negros e negras, é preciso entender que ela não é salvacionista. Ela por si só é apenas um dos meios para se chegar nesses lugares, mas não é exclusividade. Por outro lado, se faz necessário também o investimento em políticas públicas sociais nos mais diferentes âmbitos, como cultura e economia, para que cada vez mais se veja negros e negras em espaços que sempre foram seus por direito. Apesar desse ponto, o documentário se faz bastante importante para encorajar e influenciar jovens sobre as oportunidades que eles podem ter através da educação e do trabalho. No mais, ainda serve para fortalecer uma política de valorização das raízes históricas do povo negro, pois intrega também em seu conteúdo as lutas e formas de resistências nos aspectos culturais, étnicos, religiosos e políticos.
Referências:
Documentário – A cor do trabalho. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (1h06min19seg).
Publicado pelo canal Voz da Consciência. Disponível em: <https://youtu.be/LIxQDjbDtZE>. Acesso em: abr. 2021. SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.