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VULNERABILIDADE E RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Cibely Francine Pacifico


Paula Renata Cordeiro de Lima

A vulnerabilidade, em nossa sociedade, é um estado a ser evitado. Sempre ligada a


fraqueza e possibilidade de derrota ou prejuízo. A palavra vulnerabilidade vem do latim
vulnerabilis, que significa o que pode ser ferido ou atacado, logo está relacionado a algo que
nos fará mal e que devemos evitar a todo custo. Quando estamos em uma luta, temos que
tomar cuidado para não nos tornarmos vulneráveis; em uma guerra a vulnerabilidade pode
trazer a derrota; pessoas em situação de vulnerabilidade são pessoas expostas a todo tipo
de perigo e que devem ser ajudadas.
Nada disso é necessariamente mentira. Vulnerabilidade é sim um estado que nos
expõe a diversas situações, inclusive de risco. No entanto, uma outra reflexão pode ser feita:
em se tratando de relacionamentos, o quanto é ruim estar vulnerável?
Somos seres sociais, e vivemos imersos em interações com outros indivíduos, somos
parte de uma grande comunidade. Então por que ainda assim temos tanta dificuldade de
estabelecermos intimidade com outras pessoas, inclusive aquelas que nos são tão caras?
Nosso medo de vulnerabilidade (que até então é entendida como sinal de fraqueza,
algo ruim, vergonhoso) nos faz encarar nossos relacionamentos como guerras e disputas:
“Não posso demonstrar tanto interesse”; “Só vou me envolver se ele/a me provar que
realmente gosta de mim”, entre inúmeras outras frases que demonstram nossas estratégias
para proteger nosso território (nosso coração, nossos sentimentos, nossa reputação, nossa
carreira, e por ai vai...).
Desvendar ao outro nossos segredos e características mais pessoais esta
estreitamente relacionado ao nosso medo de ser punido, e isto acaba prevalecendo fazendo
com que raras vezes consigamos demonstrar quem realmente somos.
Passamos a agir então estrategicamente, sempre no plano racional, e quando
partimos pra ação, já esperamos uma reação da outra parte (nosso “adversário”). O quanto
isso pode descrever uma relação saudável? Relações de amizade, amorosas, no trabalho,
em nossas famílias...O quanto é possível ter uma relação verdadeira e profunda se
estivermos sempre escondendo nossas fraquezas, mostrando apenas um lado para o outro?
A resposta para isso é que não é possível. Por tanto tempo (e até hoje) temos visto
relacionamentos como jogos, e a vida como algo a se ganhar que esquecemos do valor (e
do sabor) de relações reais e cruas.
Vocês devem estar discordando, pensando que suas relações são sim reais, e que
não há jogo em nenhuma delas. Que bom! Fico muito feliz com isso. Mas temo que essa
seja a realidade da minoria de nós. Por isso, gostaria de pedir que analisasse hoje a forma
como você vem se relacionando nas diversas áreas da sua vida!
A maioria de nossas relações, envolve medo de errar, de ser deixado sozinho, de ser
julgado, de não ser bom o suficiente e de forma inconsciente estamos nos fechando para
que não vejam esses medos; envolve vergonha, do que fazemos, do que pensamos, do que
não somos e do que deveríamos ser, e por isso sofremos por não sermos aceitos como
realmente somos.
Queremos, desejamos uma aceitação incondicional, queremos que os outros
convivam com nossos erros, com nossas falhas, mas nos recusamos a mostra-las. Isso
torna tudo um pouco mais complicado. Esse jogo de esconde esconde nos traz relações
inseguras, instáveis e não profundas. No primeiro sinal de intimidade real, fraqueza exposta
ou erro do outro, o castelo começa a ruir.
Não quero propor que você dê o seu pior às pessoas, mas por que precisamos
escondê-lo a qualquer custo? Por que temos tanto medo de sermos inteiros em nossas
relações? De sermos quem realmente somos? E o que isso nos traz? Nos traz medo de
errar, porque o erro não é aceitável, e vergonha em falhar, porque não sabemos como o
outro vai reagir a nossa falha. Quando na verdade o que queremos e precisamos são
contextos de aceitação, de crescimento geral através da compreensão dos limites e
características do outro.
Entretanto mostrar-se vulnerável a um completo estranho ou a qualquer pessoa sem
usar critérios é bastante ariscado. Mas que tal escolher alguém próximo, com quem você
gostaria de aprofundar e fortalecer sua relação, e fazer algo que lhe tire da sua zona de
conforto e mostre um pouco mais sobre você?
Podemos nos comportar a fim de estabelecer intimidade e nos expor de forma mais
vulnerável tanto pela fala quanto por gestos. Entre tais comportamentos podemos citar: dar e
receber carinho, falar sobre nossas emoções, positivas e também negativas, contar algo
doloroso sobre nossa história, demonstrar nossos temores, pedir ajuda, deixar-se chorar em
frente de outra pessoa, solicitar afeto, reconhecer seus erros e limites, etc.
Enfrentar o medo de ser punido e assumir o risco ao se colocar vulnerável não é fácil,
mas é recompensado pelo maior envolvimento com as pessoas, por usufruir de
comportamentos de intimidade de ambos os lados, por relações mais saudáveis, profundas
e duradouras.

Cibely Francine Pacifico (CRP 08/17607)


Graduada em psicologia pela Universidade Estadual de Londrina, e especialista em
neuropsicologia. Atualmente é sócia-fundadora do Núcleo Evoluir - Psicoterapia,
Neuropsicologia e Ciência do Comportamento, de Londrina - PR, onde atua como psicóloga
clinica

Paula Renata Cordeiro de Lima (CRP 08/17354)


Graduada em psicologia pela Universidade Estadual de Londrina, e mestre em Análise do
Comportamento pela mesma instituição. Atualmente é sócia-fundadora do Núcleo Evoluir -
Psicoterapia, Neuropsicologia e Ciência do Comportamento, de Londrina - PR, onde atua
como psicóloga clinica, também é

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