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Radiojornalismo na era digital:

Internet como fonte de notícias na Rádio CBN – São Paulo1

Lenize Villaça Cardoso

Orientadora: Profª. Drª. Gisela Swetlana Ortriwano

1
Trabalho apresentado à Sessão de Temas Livres.
Lenize Villaça Cardoso2
Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente.
Resumo:
Verificar como os jornalistas de rádio utilizam a Internet no dia–a-dia da redação para
acessar várias fontes de informação e compor as notícias. A pesquisa partiu da hipótese
de que os jornalistas estariam repetindo com a Internet a mesma relação de busca de
informações já mantida com outros meios de comunicação, como o próprio rádio, a
televisão e o jornal, em que a checagem e a confirmação das fontes teriam de ser o
primeiro critério adotado pelos profissionais antes de “darem” a notícia, mas que nem
sempre acontece.O método aplicado foi o da pesquisa de campo juntamente com a
observação da elaboração dos programas Jornal da CBN e o informativo Repórter CBN.
Percebemos que a consulta virtual está sendo realizada nas mesmas mídias tradicionais
que já dominam rádio, televisão e jornal, só que agora pela Internet.A relação se repete.

Palavras-chave: radiojornalismo, Internet, Rádio CBN, comunicação, all news

2
Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes, ECA/USP, professora das disciplinas
Radiojornalismo I e II. Autora dos textos O rádio e o fluxo global: o desafio do jornalista no início do século XXI.
Revista Mackenzie: educação, arte e história da cultura. São Paulo: Mackenzie. Ano2, nº2. p.107-10 e Rádio também
tem repórter investigativo In: Jornalismo Investigativo. São Paulo: Publisher, 2003, p.179-91. e-mail:
lenize@mackenzie.com.br
Apresentação

A área de jornalismo, assim como todas as áreas das Ciências da Comunicação,


sofreram profundas modificações na teoria e na sua aplicação nos últimos anos devido à
influência de novos recursos eletrônicos, tais como o computador e a Internet.
Conseqüentemente, mudanças foram e continuam sendo exigidas na prática
profissional, pois as necessidades de informação dos leitores, ouvintes e telespectadores
se renovam a cada dia.

Nesse contexto, a proposta da presente dissertação é analisar a relação dos


jornalistas de rádio frente ao uso da World Wide Web no cotidiano da redação como
“porta” de acesso a várias fontes de informação, contextualizando, assim, o panorama
atual do radiojornalismo em uma área de comunicação recente, que vem sendo discutida
em todo o mundo.

No Brasil, pesquisas sobre o uso da Internet por jornalistas ainda são incipientes.
No entanto, esta situação deve se modificar rapidamente, tendo em vista que muitas
emissoras de rádio, além de utilizar os meios já tradicionais de informação, como a
televisão, o rádio, o fax, o telefone, os ouvintes, o jornal, a assessoria de imprensa etc.,
estão cada vez mais utilizando a nova ferramenta tecnológica como meio de captação de
informações, além de reafirmar novos caminhos de comunicação com o seu público
através do e-mail. As opções na rede de informações parecem, como vemos, não cessar:
ainda há os muitos sites de emissoras de rádio na rede mundial de computadores que,
além de transportar seu som, divulgam seu conteúdo na web. Aqui, porém, esses meios
de transmissão de informação não são aprofundados, uma vez que eles não compõem
nosso objeto de estudo.

O trabalho tem como objetivo descrever e analisar a rádio CBN – central


brasileira de notícias, de são Paulo, emissora que se dedica essencialmente ao
jornalismo 24 horas por dia. Ao mesmo tempo em que se constituiu em uma fonte de
informação para a pesquisa, ela ofereceu, também, uma visão do radiojornalismo
brasileiro e do que está sendo produzida na sua teoria e em suas diversas práticas.

Considerando o aspecto bastante amplo do tema, optamos pela observação de


campo através da técnica da semana composta, da realização de entrevistas não-
diretivas, além do apoio de pesquisas bibliográficas e sites na Internet que
possibilitaram perceber os rumos que o jornalismo tem tomado nas emissoras de rádio
da cidade de São Paulo, tanto da coleta de informações quanto da produção jornalística
do que é levado ao ar.
Os passos da pesquisa

As novas fontes de informação que a Internet permite ao jornalista de rádio e a


utilização destas permitindo acesso em tempo real aos acontecimentos é a principal
questão a ser analisada nesta dissertação.
A pesquisa procura compreender as novas relações estabelecidas entre a World
Wide Web e o radiojornalismo brasileiro, levando em consideração o atual modus
operandi da apuração da matéria via Web tendo como objeto de pesquisa a
programação da Rádio CBN - São Paulo através do Jornal da CBN e a produção do
informativo Repórter CBN.
A presença de novas relações também estimula reflexões e questionamentos.
Sabendo-se que nessa relação há imensa variedade de abordagens e temáticas, definiu-
se pela observação de algumas peculiaridades, sendo a busca pela notícia via web uma
das mais instigantes. Através dela parte-se para um leque de possibilidades e se instaura
uma problemática: quais seriam os caminhos percorridos? Que elementos atuariam para
a construção dessas notícias? Qual papel seria desempenhado pelo âncora e redatores? E
o que esses noticiários representariam no processo jornalístico contemporâneo?

Para alcançar o objetivo maior desta pesquisa, porém, foi necessária a definição
de objetivos específicos como averiguar as preferências de consulta de site por parte dos
jornalistas; os sites mais apreciados/acessados; os assuntos mais apreciados/acessados e
o porquê; a opinião do jornalista sobre os sites que consulta; a freqüência que o site é
consultado em um dia de trabalho; como são encontrados novos sites; se a Internet é
usada como fonte principal ou de apoio; o tratamento dado pelo jornalista à notícia do
site para a linguagem radiofônica; o quanto o jornalista domina o uso da Internet como
ferramenta de trabalho; o tempo que o jornalista dispõe para pesquisa na Internet; como
é produzido o Repórter CBN voltado para a relação específica com a Internet; a opinião
dos jornalistas sobre os e-mails; o tratamento dado pelos jornalistas aos e-mails; se há
chamadas para a participação do ouvinte, divulgando o endereço eletrônico; como
acontece a participação do ouvinte em relação ao e-mail.

Desenvolvemos a pesquisa na Rádio CBN São Paulo da seguinte maneira:

• Configuração dos programas a serem estudados: Jornal da CBN e Repórter CBN.


Dentre a programação da Rádio CBN, optamos pelo estudo do Jornal da CBN pelo fato
de este ser exibido no horário nobre do rádio, ou seja, no período da manhã, e, também,
por ser o programa mais ouvido da emissora. O Repórter CBN, no entanto, foi estudado
pela sua importância na programação, cujas inserções acontecem a cada meia hora da
programação e, também, por ter como linha editorial as principais notícias do dia  o
que pressupõe uma atualização constante do informativo.

• Determinação do tempo de aplicação da pesquisa: utilização do método da semana


composta, válido pelo Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para la
America Latina – CIESPAL. 3 O método consiste na constituição de um corpus sobre o
qual incide uma análise posterior. Observou-se um programa por semana, durante cinco
semanas consecutivas, em dias alternados.

• Seleção das edições: ambos os programas foram analisados de segunda à sexta-feira,


excluindo-se os finais de semana. Isso porque, ainda que o Jornal da CBN tenha
continuidade aos sábados e domingos, este é apresentado com um rodízio de âncoras,
fator divergente do restante da semana e que descaracterizaria o trabalho. Situação
semelhante ocorre no caso do Repórter CBN que tem menos inserções aos fins de
semana, chegando a ficar horas sem ser veiculado, por conta dos programas do
jornalismo esportivo.

• Realização das entrevistas: feita com jornalistas responsáveis pelo informativo


Repórter CBN, com seus redatores e chefes de reportagem, e com o Jornal da CBN,
com o âncora, o locutor noticiarista, o editor e, ainda, o coordenador regional de
jornalismo, gerente de jornalismo.

A observação foi feita entre 06h e 20h, tendo os horários sidos escolhidos com
base nos seguintes critérios: observamos, dentro do estúdio, a transmissão do Jornal da
CBN das 06h às 9h30min. Em seguida, na redação, observávamos a elaboração do
Repórter CBN pelo redator do horário, podendo variar das 10h às 20h. Tal variação se
dava, geralmente, por dois motivos: primeiramente, porque a partir das 10h a escuta de
rádio cai abruptamente, cedendo lugar aos canais de televisão; e, em segundo lugar,
porque entre as 20h30min.E 23h, o informativo passa a ser feito pelo chefe de
reportagem da noite, com o acúmulo de duas funções, fato que descaracterizaria nosso

4
KIENTZ, Albert. Comunicação de massa: análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Eldorado,
1985. p.61.
estudo e outro de nossos objetivos, qual seja, o de pesquisar quem é contratado para a
função, especificamente.

Após as observações e anotações dos programas, o corpus foi decomposto em


unidades de informação menores, de acordo com o dia da semana e os temas relevantes
dentro da proposta de trabalho.

Em relação à observação de campo do Repórter CBN, esta foi realizada de forma


aleatória. Como o informativo é produzido em São Paulo, de segunda à sexta-feira entre
04h e 14h, somando um total de 21 inserções nesse período, e entre 17h30min. E 23h,
com um total de 12 inserções, somando total de 33 informativos ao dia, a amostragem
foi de 10% de cada dia, ou seja, 3 por dia, distribuídas de modo aleatório no período da
manhã, da tarde e da noite. Em alguns momentos, a seleção foi feita a partir de cada
dois programas produzidos, isto é, observamos um deles ou, até mesmo a observação
seqüencial dos programas. O passo seguinte foi o recurso da amostra probabilística
através de métodos quantitativos de análise, em que foram anotadas quantas vezes cada
site foi consultado, bem como outras fontes.

Entretanto, o acompanhamento do Jornal da CBN seguiu ininterruptamente a


anotação da edição, principalmente em relação ao uso da Internet pelo âncora e pelo
locutor noticiarista.

A análise dos dados foi feita com suporte teórico. Além disso, levamos em
consideração observações anotadas durante a realização da pesquisa e das entrevistas,
incluindo a apresentação de um relatório final.
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

JORNAL DA CBN

O número de inserções da internet nas cinco edições estudadas do Jornal da


CBN varia de 18 a 28 vezes. Nas três primeiras edições o número de e-mails
corresponde a mais da metade das inserções, 65% na pesquisa nº 1, 73% na pesquisa nº
2 e 58% na pesquisa nº 3, enquanto que nas duas últimas a média e de 50%.
O número de notícias lidas da internet sem citar a fonte de informação é variado.
Na pesquisa nº 2 chegou a 80%, mas também pode representar bem menos como é o
caso da última pesquisa com 45%.
Nas cinco edições do Jornal da CBN estudadas, o âncora Heródoto Barbeiro
leu 34 notícias via web e 63 e-mails, o que significa que ele leu praticamente o dobro de
e-mails em relação às notícias no mesmo período. Isso quer dizer que há um espaço
significativo para a participação do ouvinte durante o Jornal da CBN. E se
compararmos esse número em relação aos e-mails recebidos em 16/01/2002 (990), em
24/01 (464) e 01/02/2002 (184), números fornecidos pelo próprio âncora, em um total
de 1638 nestes três dias, também é um número significativo: 4%.
Os números mostram ainda que Heródoto Barbeiro mais citou a fonte de
informação via internet do que não citou, uma proporção de 20 para 14, mas com pouca
margem de distância, 59% com fonte e 41% sem fonte. Em relação aos e-mails, 63 ao
todo, ele leu na íntegra 57 vezes, o que corresponde a 90% e resumidamente nove deles,
equivalente aos 10% restantes. Situação idêntica quanto à citação ou não dos nomes dos
ouvintes nesses e-mails recebidos. Em 57 há a citação, 90% e em 9 não, 10%.
Outro dado importante é que Heródoto lê na íntegra quase todos os e-mails, resumindo
apenas aqueles que são muito grandes ou prolixos. Outro detalhe interessante é que o
jornalista faz essa leitura na tela, abrindo os e-mails durante o Jornal da CBN e
chegando inclusive a respondê-los também.
Nas três horas e meia do Jornal da CBN, foi constatado que os locutores noticiaristas
dão preferência à leitura advinda da pasta redatores do que a leitura de notícia via
internet. Para se ter uma idéia disso, Laerte Vieira leu sete notícias advindas da internet
em três edições do Jornal da CBN em que participou, mas todas elas sem citar fonte
enquanto que nessas mesmas edições ele leu 39 notícias da pasta redatores, ou seja, uma
proporção de 39 para 7. João Carlos Santana também preferiu a pasta redatores às
notícias na internet, nas duas edições do Jornal da CBN em que participou (4ª e 5ª
pesquisas). No dia da quarta pesquisa usou a pasta redatores oito vezes contra uma
notícia da internet e na quinta pesquisa, ele leu 14 vezes a pasta redatores contra duas
notícias da internet, totalizando em duas edições do jornal da cbn a leitura de três
notícias da internet, mas todas sem citar fonte versus 22 da pasta redatores.
Observação:
A fonte de informação mais acessada nestes cinco dias estudados foi a Agência
Estado, com 83 acessos, uma vez que a agência de notícia não é advinda da internet.

REPÓRTER CBN

Em segundo lugar é que é constatada a presença da web na elaboração do


Repórter CBN com o número de acessos ao site globonews.com.br, 59 vezes. Em
terceiro está o site uol.com.br, com 32 acessos. Nesse sentido é interessante notar que o
globonews.com.br pertence ao grupo das organizações globo, o mesmo a que pertence a
rádio cbn, na divisão do sistema globo de rádio. No entanto, há outro dado interessante
aqui. No terceiro lugar está um site que não pertence ao grupo globo, sendo que ainda
temos como fonte de informação o site do oglobo.com.br mas que perde longe do
número de acessos ao uol: 32 do uol a 12 do oglobo.com.br.
Em contrapartida, as fontes de informação menos utilizadas foram pasta
redatores e e-mail profissional, com dois acessos cada nas cinco edições estudadas. Uma
explicação para isso é que as redatoras afirmaram não ser comum receberem releases
via e-mail porque quem recebe é o pessoal da pauta, mas ocasionalmente recebem. Já
quanto à pasta redatores a manchete advinda da mesma não freqüente porque uma vez
que o texto já foi feito já pode estar ultrapassado para o repórter cbn que vai ao ar a cada
meia hora com manchetes novas.
Em relação à quantidade de acessos à internet nestes dias, do total de 105 mais
da metade foi ao site globo.news.com.br: 59 vezes, o que equivale a 56% dos acessos e
o uol.com.br o segundo mais acessado pelas redatoras: 32 vezes, 30% e 11% para
oglobo.com.br, 32 vezes. O e-mail profissional fica com o número de acessos restantes
á internet, dois, equivalentes a 3%.
Outro detalhe é que ao todo foram pesquisadas nestas edições pelas redatoras 199 fontes
de informação: 105 via internet, 53%, e 94 através de outras fontes(47%), que
originaram 45 novas manchetes.
Portanto, os números mostram que o Repórter CBN é elaborado em cima de
duas principais fontes de informação: a Agência Estado e o site do da globonews.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado tem a intenção de contribuir com as discussões existentes


sobre o rádio - o mais antigo meio eletrônico de comunicação -, frente à utilização da
Internet a partir da metade dos anos 90 no Brasil. Para tornar o estudo possível, um dos
procedimentos adotados foi o da observação de campo. Como a pesquisa partiu de um
tema amplo  no caso, o uso da Internet para a captação de notícias pelos jornalistas de
rádio , optamos pela análise prática e específica de programas radiofônicos. Daí, a
tentativa de estabelecermos pontos em comum entre a prática diária do radiojornalismo
na REDE CBN DE RÁDIO e os programas Jornal da CBN e Repórter CBN, decorrente
da necessidade da delimitação do objeto de estudo.

Na complementação dos procedimentos metodológicos, realizamos a


combinação de diversos instrumentos de pesquisa, tais como as entrevistas não-
diretivas, que possibilitaram a compreensão dos processos de elaboração dos programas,
em conjunto com a observação de campo e as visitas à Rádio CBN – São Paulo, para
descobrirmos os detalhes que hoje compõem um boletim informativo e um programa de
rádio em plena era digital. Os resultados da pesquisa podem ser englobados sob dois
aspectos, a saber, o da prática e o da teoria do “fazer jornalismo”.

Nesse estudo, observamos que a procura pela notícia via web funciona como
apoio para o Jornal da CBN e é imprescindível para o Repórter CBN. Apesar de serem
programas diferentes dentro da Rádio CBN a busca e geração de notícias são feitas da
mesma forma: consulta-se sites noticiosos de “confiança”, faz-se a checagem virtual
entre os mesmos, transforma-se para a linguagem radiofônica e veicula-se a informação.
Essa seqüência só é mudada para a checagem convencional através de telefonemas,
acompanhamento de emissoras de televisão (escuta), ou até in loco, quando é uma
notícia de impacto.
Apreendemos ainda nesse estudo que a Internet se tornou uma fonte tão
importante quanto repórteres, releases, radioescutas, ouvintes e, que no caso do
Repórter CBN e Jornal da CBN, as fontes nacionais virtuais consultadas são as mesmas:
www.globonews.com.br, www.uol.com.br e www.oglobo.com.br, pertencentes a grandes
conglomerados de comunicação(que podem manter uma fonte viciada de informação e
muitas vezes defendendo interesses de suas próprias empresas). Outro detalhe é que
tanto www.globonews.com.br como www.oglobo.com.br, são sites pertencentes às
Organizações Globo, assim como a Rádio CBN, circulando as mesmas informações já
veiculadas nos jornais e televisões da Globo. Com isso, percebemos que até o momento
não houve espaço significativo para novas fontes na Rádio CBN, as fontes de
informação vêm do próprio grupo para depois outros como a Folha de São Paulo e O
Estado de S. Paulo. Portanto, a consulta virtual está sendo realizada nas mesmas mídias
tradicionais que já dominam rádio, televisão e jornal. O que mudou então foi a
recepção, a Internet é uma nova mídia por onde chega a notícia, mas apresenta o mesmo
domínio de conteúdo conhecido nas fontes impressas e televisionadas.

Repórter CBN – mesmo os chefes tendo afirmado categoricamente que usam a


Internet apenas como indicativo de algo que está acontecendo e não como produto final,
na prática isso nem sempre ocorre. Na maioria das vezes só há tempo para a checagem
virtual, o que significa confiar em um outro emissor da notícia que não seja a CBN. A
checagem convencional é realizada dependendo do ”peso da informação” como notícias
de desdobramento no dia-a-dia ou de comoção pública. Nos dias estudados, houve casos
em que a chefia esperou pela confirmação segura da mesma, dada à sua repercussão,
sendo esta veiculada em outra edição do Repórter CBN, ou seja, até 30 minutos depois,
e não naquele primeiro momento, com a nítida preocupação com a credibilidade da
emissora. Há uma preocupação em não se veicular uma notícia errada, mas essa
mobilização é mais comum quando o fato é de muita repercussão, como já foi
mencionado, caso contrário, mantém-se a checagem virtual.

Notamos também que, no caso do Repórter CBN, a checagem virtual é reflexo


de uma redação “enxuta”, como ocorre em várias emissoras no País. Com isso, a
responsabilidade pela informação divulgada está cada vez mais centrada no emissor: as
agências e sites de notícia nacionais e internacionais e não necessariamente à equipe de
repórteres e redatores da CBN. Não queremos aqui discutir como funcionam as
redações dos sites e agências noticiosas (isso por si só seria tema para outro trabalho)
mas sabemos também que apresentam os mesmos problemas e desafios enfrentados
pelo rádio: contenção de gastos e profissionais, e a obrigação de produzir uma
“avalanche” de notícias para seus assinantes, o que pode em alguns casos, apesar da
seriedade dessas empresas, ocasionar em erro de informação pela pressa em veicular
uma notícia. Durante as entrevistas, os próprios profissionais da CBN admitiram que
não raramente encontram erros nesses sites, apesar de nunca terem sido derrubados
pelos mesmos por perceberem esses erros. O que se pode apreender aqui é que esses
profissionais têm na grande maioria experiência profissional e, por isso, não cometem
erros, mas como ficam os recém-formados ou menos atentos? Então ao se
copiar/propagar diretamente essas informações sem checá-las convencionalmente,
quando a agência ou o site errar, a emissora de rádio errará junto.

Um outro dado no Repórter CBN é o gilette-press virtual, no qual os redatores


editam/modificam o texto, através do copia-cola-modifica, processo conhecido e antigo
no radiojornalismo, agora pela Internet e, que, agiliza a elaboração de um texto
radiofônico.

Jornal da CBN – como já foi exposto, durante a participação do locutor


noticiarista, o mesmo leu a notícia via web também com uma checagem virtual realizada
no estúdio e na hora do programa diversos sites de notícia. A checagem com a redação
só ocorreu quando o assunto era de relevância. Além disso, tanto o âncora quanto o
locutor noticiarista acabam por fazer um gilette-press virtual, com ou sem citação de
fonte: o âncora lendo resumidamente as notícias já impressas da web fornecidas pelo
editor e o locutor fazendo essa edição na hora em que lê na tela.

Diferentemente do Repórter CBN, cujas características de formato exigem


notícias manchetadas, no Jornal da CBN a citação da fonte é muito mais importante
porque há tempo e condições de aprofundamento do assunto e, para o ouvinte, o “dono”
ou responsável por aquilo que está sendo veiculado é sempre quem veicula a notícia.
Dessa forma, quando a fonte é citada, a responsabilidade da informação é passada para
seu emissor, caso contrário, a responsabilidade é da emissora de rádio. Isso torna a
situação mais delicada, por não ter ocorrido uma checagem sobre o assunto lido, a não
ser em outros sites de notícias que também podem falhar. Portanto, pode ser muito
perigoso tanto para a Rádio CBN como para quaisquer outras emissoras de rádio
confiarem “cegamente” na credibilidade dos sites consultados.
De acordo com várias teorias da comunicação a notícia deveria ser sempre
veiculada citando-se a fonte. Porém, no caso de uma rádio, dar crédito o tempo todo
para as notícias ocasionaria, no mínimo, um desconforto ao ser ouvida sempre ao fim de
uma nota e a de que a emissora não possui fontes próprias.

Destacamos também que no caso da Rádio CBN o número de funcionários é


ainda mais importante por conta da proposta de transmissão de notícias 24 horas por dia
e é justamente nesse item que há uma contradição: atualmente o número de jornalistas
gira em torno de 35, com 13 repórteres distribuídos durante os quatro turnos4 , sendo que
em 1996, antes da disseminação da Internet no Brasil, chegou ao ápice com 70
profissionais. No entanto, cabe aos empresários da comunicação perceberem isso e
contratarem mais profissionais, o que tornará possível a checagem adequada dessas
fontes e a manutenção da credibilidade das emissoras de rádio perante seu público.

A Internet proporcionou uma nova dinâmica ao rádio, de forma a eliminar a


desagradável sensação que se tem de estar sempre atrasado com relação ao
acontecimento propriamente dito e a disponibilizar, nos programas, um número maior
de notícias a serem veiculadas, mas o jornalismo de rádio deveria ser feito por muitos
profissionais, com funções de apuração e checagem para depois divulgar as notícias por
meio de boletins e reportagens, e a Internet ao contrário do que pensam muitos, não
deveria diminuir o número de profissionais na redação. Percebemos pelo exemplo da
proposta da CBN que serão necessários muitos mais jornalistas para se checar e
divulgar esse volume de informações advindo da Internet.

A Internet é uma ferramenta de revitalização do rádio na sociedade de


informação não só para quem trabalha, como já foi demonstrado, mas também para o
ouvinte com o envio de e-mails, possibilitando uma maior participação nos programas,
mas cabe ainda ao emissor o controle do que vai ser divulgado ou não o que
descaracteriza uma total e efetiva dupla mão de comunicação, em outras palavras o
verdadeiro sentido da interatividade. Todavia, enquanto não houver o fim da chamada
“exclusão digital”, a interatividade disponível na Internet será privilégio de poucos. A
Internet é num primeiro momento um fator diferencial, mas ainda não plenamente e
4
Vale destacar que na Rádio CBN – São Paulo todos os jornalistas da redação são contratados como repórter, com
numerações de 1 a 5, exemplo: repórter 1, repórter 3, etc, conforme o tempo de casa e mudança e/ou acréscimo de
funções, mas na prática compõem as funções já conhecidas e destacadas no Capítulo 3, itens 3.2.3 e 3.2.3.1 como
redator, repórter e radioescuta. Para efeito de contagem, esses 13 profissionais são os que efetivamente saem como
repórteres diariamente para fazer matéria, cabendo aos demais (22) também a possibilidade de se fazer reportagens
externas, permitidas pelo registro como repórter. Mas esses jornalistas só são acionados como repórteres quando há
necessidade porque desempenham, na redação, outras atividades como redação e produção.
devidamente explorado em uma redação de rádio também pela falta de material
humano, talvez reflexo de um jornalismo na era digital ainda sem um caminho definido.
Em outras palavras, checagem virtual, gilette-press virtual e maior participação do
ouvinte por e-mail são apenas o começo da interface entre o rádio e a Internet o que
ainda não significa qualidade na informação e sim quantidade. Em uma era onde a
tecnologia digital está disponível nas redações, agilizando o dia-a-adia da notícia,
voltamos a situações do passado, ainda que disfarçadas sob o “manto” da novidade que
pode ser o meio virtual. Considerando as noções sobre o que caracteriza cada época, e a
Internet ser muito mais veloz que o Telex, podemos afirmar que nos deparamos, em
plena era digital, com a mesma espera passiva como acontecia com o Telex nas
redações de rádio nos anos 70 e 80. Mudou, portanto, o meio pela qual ocorre tal espera
pela notícia, mas no fundo, apesar da tecnologia, o jornalismo continua muitas vezes
dependendo do fato chegar até a redação. Onde estão os repórteres?

Ao analisarmos a busca e elaboração da notícia em um processo radiojornalístico


na era digital, não desejamos concluir a discussão sobre o tema, ao contrário,
pretendemos apenas apresentar uma tendência verificada em uma emissora de rádio que
optou por uma programação jornalística, com proposta de um modelo all news, com
credibilidade em todo o País e que utiliza a Internet como ferramenta de trabalho.
Certamente, um novo caminho já começou a ser traçado, mas, por enquanto, ainda vale
para o jornalismo de rádio o adágio popular: “na prática, a teoria é outra”.A teoria é a
de que o rádio em conjunto com a Internet, torne-se muito mais interativo e qualitativo,
fato que ainda não aconteceu. Mas se considerarmos que a utilização da Internet
comercial não tem uma década no Brasil, ou seja, ainda é um novo meio de
comunicação que está se estabelecendo e sendo descoberto, há muito por vir e
acontecer.

Com essa dissertação, não pretendemos esgotar o assunto. O trabalho de


pesquisa realizado foi uma abordagem inicial que mostrou a importância do tema e
poderá dar origem a novos debates e trabalhos acadêmicos que enriqueçam o
conhecimento do meio radiofônico.
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