Você está na página 1de 34

2.

ª edição
2009

IARA BEMQUERER COSTA

lingÜística III
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
© 2008-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-
ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

C872L
v.3

Costa, Iara Bemquerer.


Lingüística III. / Iara Bemquerer Costa. – Curitiba, PR: IESDE, 2009.
256 p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0778-3

1. Socioingüística. 2. Fala. 3. Conversação. I. Inteligência Educacional e Siste-


mas de Ensino. II. Título.

09-4215. CDD: 401.9


CDU: 81’42

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Júpiter Images / DPI Images

Todos os direitos reservados.

IESDE Brasil S.A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Iara Bemquerer Costa

Doutora em Ciências (Lingüística) pela Universidade Estadual de Campinas (Uni-


camp). Mestre em Lingüística pela Unicamp. Graduada em Letras-Português pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Sumário
Análise da fala e da conversação......................................... 15
A conversação como objeto de estudo.............................................................................. 15
Propriedades definidoras da conversação........................................................................ 16
Algumas modalidades de conversação............................................................................. 19
Transcrição da fala..................................................................................................................... 22
Conclusão...................................................................................................................................... 27

Conceitos fundamentais
para a Análise da Conversação............................................. 35
A especificidade da conversação.......................................................................................... 35
Os turnos de fala......................................................................................................................... 36
Tópico conversacional.............................................................................................................. 40
Pares adjacentes......................................................................................................................... 43
A hesitação................................................................................................................................... 47
Conclusão...................................................................................................................................... 48

Estratégias de organização do diálogo............................. 57


A paráfrase.................................................................................................................................... 57
A correção..................................................................................................................................... 60
A repetição.................................................................................................................................... 62
Os marcadores conversacionais............................................................................................ 63
Conclusão...................................................................................................................................... 68

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
A aquisição da linguagem...................................................... 75
Teorias de aquisição da linguagem..................................................................................... 76
A aquisição da fonologia......................................................................................................... 83
Observações sobre a aquisição da escrita......................................................................... 86
Conclusão...................................................................................................................................... 87

Análise retórica da argumentação...................................... 95


A Retórica Clássica e sua revitalização na Nova Retórica............................................. 95
Conceitos fundamentais da Nova Retórica.....................................................................100
O ethos: imagem do autor projetada no discurso........................................................107
Conclusão....................................................................................................................................108

A teoria da argumentação na língua................................117


A contribuição de Oswald Ducrot para o estudo da argumentação.....................117
A pressuposição........................................................................................................................120
O subentendido........................................................................................................................122
Os operadores argumentativos..........................................................................................123
Conclusão....................................................................................................................................127

Teoria da informação.............................................................133
Informação X redundância...................................................................................................133
Contribuições da teoria da informação para o estudo das línguas.......................136
A informatividade como fator de textualidade.............................................................138
Fontes de expectativa para a avaliação da informatividade....................................142
Conclusão....................................................................................................................................143

Teoria dos atos de fala...........................................................151


O conceito de atos de fala:
origem, contribuições para a Lingüística e limites.......................................................152

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
As enunciações performativas............................................................................................155
Tipos de atos de fala................................................................................................................156
Conclusão....................................................................................................................................159

As máximas conversacionais...............................................169
As relações entre a lógica e a conversação segundo J.P. Grice................................169
Princípios organizadores da conversação.......................................................................171
Implicatura conversacional...................................................................................................178
Conclusão....................................................................................................................................179

Conceitos básicos da Análise do Discurso.....................187


Surgimento e consolidação da Análise do Discurso...................................................188
Formação ideológica e formação discursiva..................................................................191
O conceito de discurso...........................................................................................................192
Discurso e interdiscurso.........................................................................................................194
Conclusão....................................................................................................................................196

O sujeito na Análise do Discurso.......................................203


Condições de produção e jogo de imagens...................................................................203
O conceito de sujeito na Análise do Discurso................................................................208
Sentido e efeito de sentido...................................................................................................210
Conclusão....................................................................................................................................211

Exemplos de Análises do Discurso....................................221


Exemplo 1: A linguagem politicamente correta e a Análise do Discurso............221
Exemplo 2: O mito de informatividade, imparcialidade
e objetividade em funcionamento nos comentários telejornalísticos.................226
Conclusão....................................................................................................................................229

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Gabarito......................................................................................237

Referências.................................................................................247

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Apresentação

A Lingüística – ciência que tem como objeto o estudo da linguagem – foi criada
e se consolidou a partir da obra genial de Ferdinand de Saussure, especialmente do
seu Curso de Lingüística Geral, publicado em 1916. Alguns pressupostos assumidos
por ele foram fundamentais para a delimitação do objeto de estudo da Lingüística
e do método adotado para a análise das questões incluídas no campo de estudo
circunscrito para a nova ciência. Para o estruturalismo, que caracteriza a Lingüística
da primeira metade do século XX, a língua é concebida como um sistema de signos,
e analisada a partir das relações de semelhança e diferença entre os elementos nos
diversos níveis desse sistema: na fonologia, na morfologia, na sintaxe.

A definição do objeto e do método de análise formulados pelo estruturalismo


alavancou os estudos da linguagem e permitiu avanços consideráveis na análise
tanto das línguas já estudadas há séculos – as européias, por exemplo – como de
numerosas línguas americanas e africanas, que não contavam com descrições pré-
vias nem dispunham de sistemas de escrita. No entanto, a definição do objeto pela
Lingüística estrutural deixa fora do campo de estudo uma série de questões rele-
vantes sobre a organização e funcionamento das línguas naturais. O estruturalismo
parte da oposição entre língua (sistema de signos) e fala (uso da língua) e define a
primeira como seu objeto de estudo. Conseqüentemente, ficam de fora todas as
questões que envolvem a relação do falante com a linguagem, a ligação entre os
fatos sociais e o uso da língua, as unidades lingüísticas maiores que a sentença.

Este livro focaliza uma série de formulações teóricas e metodológicas poste-


riores ao estruturalismo e que têm em comum a revisão dos limites do estudo da
linguagem estabelecidos por uma concepção formalista. Algumas dessas refor-
mulações são motivadas pela observação de propriedades das línguas naturais
que uma abordagem formalista não capta. Exemplos dessas reformulações são:
os estudos da argumentação na língua, que mostram que as expressões lingüísti-
cas têm intrinsecamente uma carga argumentativa; a teoria dos atos de fala, que
coloca em evidência a existência de ações que são realizadas pela produção de
enunciados lingüísticos.

Outras reformulações são motivadas pela incorporação de questões relevantes


antes excluídas dos estudos lingüísticos, como o funcionamento da fala. A Análise
da Conversação procura desenvolver uma metodologia adequada para a identifi-
cação dos princípios que regem a interação entre os falantes quando fazem o uso
mais trivial de sua língua: conversam no dia-a-dia sobre qualquer tema.

Há também ampliações significativas dos estudos da linguagem motivadas


pelo diálogo entre a Lingüística e outras áreas do conhecimento que também
tratam de questões que têm reflexos no uso da linguagem. O diálogo com a Psi-
cologia e as teorias de aquisição da linguagem formuladas por psicólogos como

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Jean Piaget foi fundamental para o desenvolvimento da Psicolingüística. A revita-
lização da Retórica – a partir da releitura da Retórica Clássica – produziu uma série
de estudos da argumentação. As contribuições da Sociologia, a partir dos estudos
da ideologia, e da Psicanálise, que fornece elementos para uma compreensão do
sujeito, alavancam o surgimento de uma área dos estudos lingüísticos muito pro-
dutiva atualmente, a Análise do Discurso. A teoria da informação contribuiu para
a compreensão do funcionamento dos textos.

Nas 12 unidades deste volume, são apresentados os conceitos mais relevan-


tes de cada uma dessas áreas, com o uso de exemplos que possam facilitar o seu
entendimento e indicações de fontes às quais o estudante pode recorrer para o
aprofundamento do estudo nas áreas que lhe despertarem maior interesse.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

O objetivo deste capítulo é apresentar algumas contribuições da teoria


da informação para os estudos lingüísticos. Para tanto, começaremos com
uma apresentação de dois conceitos fundamentais – informação e redun-
dância – que são incorporados e adaptados às várias áreas do conheci-
mento que se utilizam dos conceitos oriundos da teoria da informação:
engenharia, informática, comunicação, entre outras.

Em seguida, apontaremos alguns usos que a Lingüística faz desses


conceitos para o estudo das línguas naturais. Finalmente, daremos ênfase
à contribuição mais significativa dos conceitos de informação e redundân-
cia para a Lingüística, que foi a incorporação da informatividade como um
dos critérios nucleares para a construção/interpretação de textos. Mos-
traremos como Beaugrande e Dressler (1983) propõem a aplicação dos
conceitos de informação e redundância para o estudo do texto e como Val
(1991) usa a informatividade como um critério fundamental para a avalia-
ção da produção escrita de estudantes.

Informação X redundância
O ponto de partida para a formulação dos conceitos de informação e
redundância é a identificação dos elementos presentes em qualquer situ-
ação comunicativa. A teoria da comunicação representa esses elementos
em um esquema clássico, representado no diagrama abaixo:

Elementos do processo de comunicação

(Código)

Emissor Canal Recebedor

Mensagem

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

Esse esquema mostra que a comunicação supõe necessariamente pelos


menos dois indivíduos, um que produz uma mensagem (o emissor), outro a
quem a mensagem é endereçada (o recebedor). É claro que a posição de emissor
e especialmente a de recebedor podem ser ocupadas por grupos de indivíduos.
Um programa de televisão, por exemplo, é normalmente produzido por uma
equipe, ou seja, por um emissor coletivo e, dependendo da audiência do canal
em que tal programa é veiculado, pode ter milhões de recebedores.

Para que a mensagem seja recebida por aqueles a quem se destina, uma pri-
meira condição é que ela seja codificada, quer dizer, que seja representada em
um sistema simbólico conhecido tanto pelo emissor quanto pelo recebedor. As
línguas naturais são, evidentemente, os sistemas simbólicos mais usados para a
comunicação, são “o código” por excelência. Além das línguas naturais, estamos
familiarizados também com vários outros códigos:

 sinais de trânsito;

 imagens usadas, por exemplo, na publicidade, com combinação de dese-


nhos, fotos e cores;

 linguagem gestual como se vê na Linguagem brasileira de sinais (Libras) –


usada na comunicação com surdos-mudos;

 gestos que têm o significado compartilhado pelos membros da socieda-


de: polegar erguido (positivo) ou voltado para baixo (negativo); mão aber-
ta (espere), entre outros;

 linguagem matemática;

 sons musicais.

Para exemplificar o funcionamento do processo de comunicação, imagine a


seguinte situação: suponha que você esteja andando pela rua e perceba que
alguém que caminha a seu lado deixou cair um celular e continuou andando
sem se dar conta da perda. Numa situação como esta, você, naturalmente, vai
chamar a atenção da pessoa que perdeu o aparelho e vai se comunicar com ela,
estabelecer um contato a fim de informá-la sobre a perda do aparelho.

As condições para que você seja bem-sucedido nessa tentativa de comunica-


ção estão representadas no esquema do processo da comunicação. Você está na
posição de emissor e a pessoa que deixou cair o celular é o recebedor. O contato
entre ambos é feito pela comunicação face a face, já que vocês se encontram
suficientemente próximos para que as ondas sonoras produzidas quando você
134 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

dirige a palavra ao seu interlocutor sejam ouvidas por ele, sem a necessidade de
nenhum recurso tecnológico. O canal é essa comunicação direta, frente a frente.
Para enviar a mensagem ao recebedor, você precisa codificá-la, representá-la em
um sistema lingüístico ou em algum outro sistema simbólico.

Suponha que você diga: “Olhe aqui, amigo, você deixou seu celular cair!”.
Uma condição para que a comunicação se efetive (que a mensagem codificada
lingüisticamente por você seja decodificada por seu interlocutor) é que vocês
conheçam a mesma língua (o mesmo código). Caso ele não fale português, você
terá de lançar mão de alguma forma alternativa de codificação de sua mensa-
gem: usar mímicas, por exemplo. Você pode mostrar-lhe o celular, apontar para
o local onde o aparelho caiu, fazer gestos representando essa queda.

A informação é uma propriedade da mensagem. No exemplo citado, você


emite uma mensagem que contém uma informação considerada relevante para
o recebedor: você comunica-se com ele para informá-lo de que ele deixou cair
o celular. Sua mensagem, no caso, transmite ao recebedor uma informação que
ele não conhecia previamente.

A avaliação da informação nas mensagens é extremamente relevante em


várias áreas. Basta pensarmos que todo o desenvolvimento da tecnologia digital
e da informática se dá a partir da descoberta do volume de informações que
podem ser transmitidas ou armazenadas em um sistema binário. O interesse da
engenharia e da informática pela informação está focado em seu tratamento
quantitativo. Para essas áreas, é importante fazer a distinção entre as informa-
ções que são enviadas/armazenadas uma única vez e as que são redundantes,
que são enviadas/armazenadas mais de uma vez ou que podem ser deduzidas
de outras.

A redundância não é necessariamente um defeito na mensagem. Como não


existe forma de transmissão/armazenamento que seja totalmente segura, é in-
teressante que dados importantes sejam registrados mais de uma vez. Se con-
siderarmos a comunicação do ponto de vista do receptor, temos de levar em
conta que qualquer pessoa tem momentos de oscilação entre prestar bastante
atenção ao que ouve ou lê e se distrair, ler ou ouvir de forma desatenta. Assim,
a redundância na informação é interessante, pois ajuda na fixação daquilo que
é relevante.

A publicidade explora até o limite a redundância, a repetição, de maneira que


o público-alvo grave suas mensagens na memória. Telenovelas e outros progra-
mas televisivos também usam o recurso de apresentar a mesma informação re-

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 135
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

petidas vezes, para atingir um público que supostamente está com a atenção
dividida entre a telinha e outros apelos do ambiente doméstico.

Contribuições da teoria da informação


para o estudo das línguas
As noções de informação e redundância são incorporadas por várias áreas da
Lingüística. Uma das aplicações desses conceitos pode ser vista na semântica,
quando se procura caracterizar as propriedades do significado dos itens lexicais.
Observe o seguinte exemplo:

(1) Cledir é pai de Camila.

A definição do significado da palavra “pai” vai enfatizar aquilo que é funda-


mental: “Homem que deu origem a outro ser humano”. Na frase acima, afirma-
se diretamente que a relação entre Cledir e Camila é de paternidade. Mas há
também uma série de outras informações que podem ser inferidas a partir da
afirmação de que Cledir é pai:

(1’) Cledir é um indivíduo do sexo masculino.

(1”) Cledir é um adulto.

Essas são informações redundantes. A semântica procura identificar as infor-


mações fundamentais associadas ao significado das palavras e apontar também
informações redundantes, que podem ser deduzidas das fundamentais.

Os estudos de estilística chamam a atenção para os usos de expressões que


contêm redundâncias desnecessárias, taxando-as de pleonasmos viciosos. Veja
alguns exemplos:

 subir para cima;

 entrar para dentro;

 Brigadeiro da Aeronáutica;

 amanhecer o dia;

 continuar a permanecer;

 conviver junto;

136 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

 em duas metades iguais;

 empréstimo temporário;

 escolha opcional;

 fato real.

No estudo dos sistemas fonológicos das línguas, observa-se também a pre-


ocupação em distinguir as características articulatórias que têm um caráter dis-
tintivo no sistema de uma língua (contêm informação nova) e aquelas que são
redundantes, que podem ser inferidas a partir das informações distintivas.

Tomemos como exemplo o sistema vocálico do português, que contém um


conjunto de vogais anteriores (/ /, / /, / /), uma vogal central (/ /) e um conjunto
de vogais posteriores (/ /, / /, / /), cinco das quais podem ter também uma re-
alização nasal: (/ /, / /, / /. / /, / /). Ao analisar as propriedades articula-
tórias desse conjunto de vogais, observa-se que algumas são produzidas com o
arredondamento dos lábios, outras sem esse arredondamento. Todas as vogais
posteriores do português são realizadas com o arredondamento dos lábios. De
forma complementar, todas as que não são posteriores (anteriores e central) são
pronunciadas sem o arredondamento dos lábios.

Ao fazer a análise dos traços distintivos usados para caracterizar o conjunto


de vogais do português, os traços que indicam a posição da língua [+ posterior]
X [– posterior] são relevantes e fornecem uma informação fundamental para
fazer a distinção entre todos os fonemas vocálicos da língua. Mas o traço que
corresponde à posição arredondada ou retraída dos lábios é uma informação
redundante. Todas as vogais posteriores são também arredondadas e as não
posteriores são também não-arredondadas. Assim, na análise do sistema vocá-
lico do português, o traço que representa a posição da língua é distintivo (apre-
senta um alto grau de informatividade) enquanto o que representa a posição
dos lábios é redundante e pode ser deduzido a partir da característica da vogal
quanto à posterioridade:

[– posterior] → [– arredondado]
Vogais do português
[+ posterior] → [+ arredondado]

Uma das aplicações mais produtivas dos conceitos de informação e redun-

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 137
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

dância nos estudos lingüísticos foi a introdução do conceito de informatividade


como um dos fatores nucleares para a avaliação de textos. O ponto de partida
para esse uso dos conceitos de informação e redundância é o trabalho de Beau-
grande e Dressler (1983). Esse livro serviu de base para o conhecido estudo de
Val (1991) sobre um conjunto de redações produzidas no vestibular da UFMG
por candidatos ao curso de Letras.

A informatividade como fator de textualidade


Beaugrande e Dressler (1983) conceituam texto como uma ocorrência comu-
nicativa, que pode ser avaliada segundo sete critérios de textualidade. Os dois
primeiros critérios estão centrados no texto: coesão e coerência; os outros cinco
estão centrados nos usuários: informatividade, situacionalidade, intertextualida-
de, intencionalidade e aceitabilidade (FAVERO, 1985, p. 15). Vamos nos concen-
trar aqui na discussão da informatividade. Aqueles que tiverem interesse em ter
mais informações sobre o conjunto de fatores de textualidade podem consultar
o livro Redação e Textualidade (Val, 1991), que faz uma boa apresentação dos
sete critérios de textualidade e de seu uso para a avaliação de textos.

A informatividade de um texto diz respeito ao fato de os elementos contidos


em um texto serem esperados ou inesperados, conhecidos ou desconhecidos
por parte dos receptores. Trata-se de uma questão de grau: em geral os textos
não são avaliados como “informativo X não informativo”, mas como apresentan-
do um grau maior ou menor de informatividade. Para exemplificar esse conceito,
Favero (1985, p. 15-16) toma como ponto de partida o verbete “água” em uma
enciclopédia, que é iniciado com a seguinte afirmação:

(2) A água é a substância mais comum na Terra.

Essa afirmação tem um grau de informatividade baixíssimo, ou seja, o que se


afirma aí não apresenta novidade alguma para a maioria dos leitores.

Mas a continuidade do mesmo verbete apresenta um volume considerável


de informações novas e inesperadas, ou seja, apresenta um grau de informativi-
dade bem mais alto do que a frase inicial:

(3) A água não é apenas a substância mais comum na Terra, mas


também uma das mais singulares. Nenhuma outra substância pode
fazer tudo o que a água é capaz de realizar. A água compõe-se de pe-
quenas partículas chamadas moléculas. Uma gota de água contém

138 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

muitos milhões de moléculas. Cada molécula, por sua vez, consiste


de partículas menores ainda, chamadas átomos. As moléculas de
água são compostas de átomos de hidrogênio e de oxigênio.
Até a mais pura das águas contém outras substâncias além dos sim-
ples hidrogênio e oxigênio. Por exemplo, a água contém porções
ínfimas de deutério, um átomo de hidrogênio que pesa mais do que
o átomo ordinário do hidrogênio.

Se observarmos o verbete da enciclopédia juntando seu início transcrito em


(2) e o restante, apresentado em (3), veremos que para o leitor típico de uma en-
ciclopédia, que não é especialista em química, o texto apresenta um equilíbrio
entre informações conhecidas e informações novas. Ou seja, apresenta um nível
médio de informatividade, que é o nível ideal para que o leitor não tenha dificul-
dades na interpretação do texto.

Beaugrande e Dressler (1983) propõem três ordens de informatividade, que


apresentamos esquematicamente a seguir.

(Favero, 1985, p. 14-16; Val, 1991, p. 14. Adaptado.)


Ordens de informatividade

Características Problemas de interpretação

Os textos que se restringem à primeira ordem


de informatividade são pouco interessantes.
Primeira ordem → no plano conceitual, pre- Para se tornarem aceitáveis, é necessário
sença de informações altamente previsíveis; atribuir um sentido novo ao lugar comum, de
no plano formal, predominância do lugar co- forma que possam se tornar mais informati-
mum. vos, ser alçados à segunda ordem de informa-
tividade.
↓↓↓

Para os falantes, o texto ideal se coloca em


Segunda ordem → no plano conceitual, pre- um nível médio de informatividade: as infor-
sença de informações pouco previsíveis; no mações conhecidas permitem que o leitor o
plano formal, uso de construções que apre- enquadre em seus conhecimentos prévios;
sentem alguma originalidade. as informações novas garantem o interesse, o
envolvimento do leitor.

↑↑↑
Textos totalmente inusitados tendem a ser
Terceira ordem → no plano conceitual, pre- rejeitados pelo leitor, que não consegue
sença de informações inteiramente inusita- processá-los. Para serem interpretados, são
das; no plano formal, construções totalmente necessárias explicações que acrescentem
originais. informações conhecidas e permitam que o
texto passe à segunda ordem de informativi-
dade.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 139
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

Há textos que se enquadram na primeira ordem de informatividade, o que


se justifica pela intencionalidade e situacionalidade. É o caso, por exemplo, dos
sinais de trânsito e dos avisos variados que orientam nosso comportamento em
locais públicos:

 Pare;

 Pare fora da pista;

 Curva acentuada à direita;

 É proibido fumar;

 Saída;

 Acesso restrito;

 Proibido banho e pesca.

São avisos apresentados de forma padronizada, que têm o objetivo de trans-


mitir informações relevantes, como a topografia da estrada, que pode apresen-
tar riscos ao motorista, ou as normas de comportamento esperadas no local.

Mas há também situações em que o leitor espera textos com um grau médio
de informatividade e se vê frustrado diante de produções que apresentam
apenas amontoados de lugares comuns. Isso pode ser observado na seguinte
redação de um vestibulando da UFMG:

Violência social
(VAL, 1991, p. 92)

A sociedade atual está muito marginalizada. Há tanta violência no mundo,


tantas guerras, desavenças, tudo por ambição, egoísmo.

A marginalização é total. Todos se agridem, se matam na luta pela sobre-


vivência, a procura de um mundo melhor, de uma vida mais calma, só que
estão fazendo o contrário, causando mais guerras e mais desunião.

A fome e a miséria são umas das causas da nossa marginalização, fazendo


com que os homens se matam pela sobrevivência. É o “pão nosso de cada
dia”. Os analfabetos, os deficientes físicos ou mentais e principalmente o
“menor abandonado”, todos eles e mais outros estão por aí à procura de uma

140 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

mão, de um coração aberto e só encontram portas fechadas não permitindo


que eles vivam.

Na época em que vivemos, todos nós precisamos é de paz, amor e não o


que está acontecendo. O homem está se tornando cada vez mais escravo do
seu egoísmo, do seu ódio e de sua ambição, está acabando com o amor, não
deixando-o florescer em seu coração.

Só o amor constrói. Vamos! Plante uma flor e faça germinar em seu cora-
ção, criando verdadeiras, fortes e férteis raízes.

Em seu estudo sobre as redações produzidas por candidatos ao curso de


Letras da UFMG, Costa Val chama a atenção para a baixa informatividade desse
texto, para sua construção centrada na repetição de uma série de chavões:
O texto é exemplo da abordagem lírica e pueril do tema, muito freqüente entre as redações
analisadas. Introduz o assunto apontando a generalização da violência no mundo, desenvolve-o
contrapondo o ideal (um mundo melhor, uma vida mais calma) à realidade social (a fome, a miséria,
o menor abandonado) e conclui afirmando que só o amor constrói e que, portanto, a maneira de o
homem encontrar paz, amor e acabar com seu egoísmo, seu ódio, sua ambição é plantar uma flor e
fazê-la germinar em seu coração. Corresponde a uma análise simplista da realidade, fruto da não-
penetração nos problemas e da generalização apressada. (VAL, 1991, p. 93)

Um texto como o que foi apresentado e comentado acima não apresenta afir-
mação alguma que consiga atrair o leitor, apresentar-lhe alguma dificuldade de in-
terpretação. Textos com grau muito baixo de informatividade tendem a ser rejeita-
dos por serem desinteressantes, por não trazerem novidade alguma para o leitor.

No oposto da escala estão os textos cuja interpretação exige do leitor um


esforço para conseguir integrar as informações nele contidas em esquemas de
interpretação da realidade que façam parte do seu conhecimento prévio. Tome-
mos um exemplo da literatura. William Faulkner inicia o romance O Som e a Fúria
com o seguinte parágrafo:
Do outro lado da cerca, pelos espaços entre as flores curvas, eles estavam tacando. Eles foram
para o lugar onde estava a bandeira e eu fui seguindo junto à cerca. Luster estava procurando
na grama perto da árvore florida. Eles tiraram a bandeira e aí tacaram outra vez. Então puseram
a bandeira de novo e foram até a mesa, e ele tacou e o outro tacou. Então eles andaram, e eu fui
seguindo junto à cerca. Luster veio da árvore florida e nós seguimos junto à cerca e eles pararam
e nós paramos e eu fiquei olhando através da cerca enquanto Luster procurava na grama.

Quem inicia a leitura do romance tem dificuldade em enquadrar a narrativa


desse parágrafo em um conjunto de conhecimentos prévios. Só depois de ler
um número significativo de páginas, conseguirá reunir as informações necessá-
rias para passar o texto da terceira para a segunda ordem de informatividade. Só
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 141
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

conseguirá fazer isso quando reunir pistas suficientes para perceber que o autor
representa aí o relato de um jogo de golfe do ponto de vista de uma persona-
gem com retardo mental. Para interpretar esse trecho, é necessário que o leitor
consiga elaborar um quadro a partir do qual as informações do parágrafo se in-
tegrem em um todo coerente, ou seja, é necessário que o texto seja rebaixado
para a segunda ordem de informatividade.

Fontes de expectativa para a avaliação da infor-


matividade
Segundo Beaugrande e Dressler (1983), os interlocutores avaliam a informa-
tividade de qualquer texto a partir de um conjunto de fatores, ou de fontes de
expectativas que direcionam o processo de interpretação. Eles apontam cinco
fontes de expectativas, conforme ressalta Favero (1985, p. 18-19).

1.ª fonte de expectativas – o mundo real e seus fatos


O mundo real é a primeira fonte para as crenças subjacentes à comunicação
textual. Podemos produzir e interpretar muitos textos não-factuais, mas o ponto
de orientação para a interpretação é usualmente o mundo real; para passar a
uma interpretação não-factual, o leitor precisa encontrar sinais explícitos no
texto.

Ao interpretar qualquer texto, alguns pressupostos são assumidos para qual-


quer mundo textual. Veja alguns exemplos: as causas têm efeitos; alguma coisa
não pode ser falsa e verdadeira ao mesmo tempo e sob as mesmas circunstân-
cias; tampouco pode ser simultaneamente existente e inexistente; os objetos
têm massa e volume.

2.ª fonte de expectativas – organização da


linguagem no texto – as convenções formais
Ao encontrar no texto seqüências de letras que correspondem a seqüên-
cias de sons impronunciáveis na língua, os falantes reconhecem abreviaturas
de formas mais longas. É o que se observa com o uso de formas como Sr., Sra.,
Ltda.
142 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

3.ª fonte de expectativas – técnicas de arranjos de


seqüências, de acordo com a informatividade
Na organização das frases, os elementos altamente informativos tendem a
aparecer no fim das frases, enquanto os elementos de baixa informatividade
tendem a aparecer no começo ou serem substituídos por pronomes ou ainda
omitidos por elipse. Essas técnicas refletem o equilíbrio entre manter um ponto
de orientação bem claro no texto e garantir um nível razoavelmente alto de
informatividade.

4.ª fonte de expectativas – tipos de texto


Os tipos de texto controlam as opções a serem utilizadas. A seleção lexical, as
estruturas sintáticas, a organização dos parágrafos são diferentes conforme se
trate de um texto poético ou de um texto jornalístico, por exemplo.

5.ª fonte de expectativas – o contexto imediato


O contexto em que um texto é produzido e interpretado pode modificar
sensivelmente as expectativas delineadas pelas quatro fontes indicadas ante-
riormente. Pode-se tomar como exemplo a interpretação dos textos de compo-
sitores de MPB como Chico Buarque de Holanda produzidos durante o regime
militar. As informações contextuais são relevantes para a interpretação de várias
canções compostas nesse período.

Conclusão
Mostramos neste capítulo como os conceitos de informação e redundância,
fundamentados na Teoria da Informação, tornaram-se instrumentos para algu-
mas áreas dos estudos lingüísticos. Observa-se um primeiro uso desses conceitos
na formulação do conceito de traços tanto na fonologia quanto na semântica.

Procuramos dar ênfase ao uso mais produtivo desses conceitos, ou seja, na


incorporação do conceito de informatividade pela Lingüística Textual como um
dos fatores fundamentais para a produção/interpretação de textos, ao lado da
coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade e intertex-

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 143
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

tualidade. O uso do conceito de informatividade pela Lingüística Textual é um


instrumento importante para explicar por que determinados textos são rejeita-
dos por sua obviedade, outros são aceitos sem restrições e alguns só são interpre-
tados a partir de um esforço excepcional por parte do leitor.

Texto complementar

Redação e textualidade
(VAL, 1991, p. 30-33)

Critérios para a análise da informatividade


A informatividade é entendida pelos estudiosos como a capacidade do
texto de acrescentar ao conhecimento do recebedor informações novas e
inesperadas. Neste trabalho, esse termo é entendido como a capacidade
que tem um texto de efetivamente informar seu recebedor. Não é tomado
apenas como um sinônimo de originalidade, mas ganha outra acepção.

Por um lado, no que tange à necessidade de imprevisibilidade, o conceito


foi ampliado e passou a abranger o aspecto mais geral do fator intertextua-
lidade, na medida em que se tomou como informação conhecida e previsí-
vel a voz do senso comum, da ideologia dominante, presente nas redações
estudadas. Por outro lado, o termo passou a recobrir a exigência do que se
chamou suficiência de dados, na medida em que se considerou que, para ser
informativo, o texto, além de se mostrar relativamente imprevisível, precisa
apresentar todos os elementos necessários à sua compreensão, explícitos ou
inferíveis das informações explícitas.

Para avaliar a imprevisibilidade, Beaugrande e Dressler (1983, p. 140-141)


propõem uma escala de três ordens, aplicável (e efetivamente aplicada) pelo
falante comum. Na primeira ordem os autores enquadram as ocorrências de
elevada previsibilidade e, conseqüentemente, baixa informatividade, como
os clichês e estereótipos, as frases feitas, as afirmações sobre o óbvio. Os
textos que não ultrapassam esse patamar, ainda que dotados de coerência
e coesão, resultam pragmaticamente ineficientes, porque desprovidos de
interesse. Na segunda ordem ficam as ocorrências em que o original e o pre-

144 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

visível se equilibram, angariando boa aceitabilidade, porquanto apresentam


novidade sem provocar estranheza. São de terceira ordem as ocorrências que,
aparentemente pelo menos, não figuram no leque de alternativas possíveis
e que, por isso mesmo, desorientam, ainda que temporariamente, o recebe-
dor. Postulam os autores que, na comunicação efetiva, o processamento dos
textos se faz através do alçamento para a segunda ordem das ocorrências
de baixa informatividade e do rebaixamento, também para essa ordem me-
diana, daquelas que provocam estranheza, de modo a atribuir sentido tanto
a umas quanto a outras. Assim, no todo textual, o óbvio ganhará razão de
ser e o inusitado se explicará, passando a ter, um e outro, rendimento eficaz
dentro do texto. O discurso em que esse processamento, em uma ou outra
direção, não for possível, tenderá a ser rejeitado: no primeiro caso, porque se
mostrará pouco informativo e desinteressante; no segundo caso, porque se
mostrará difícil de ser entendido, impenetrável.

De outra parte, avaliar a suficiência de dados é examinar se o texto fornece


ao recebedor os elementos indispensáveis a uma interpretação que corres-
ponda às intenções do produtor, sem se mostrar, por isso, redundante ou
rebarbativo. Os dados cuja explicitação é necessária são aqueles que não
podem ser tomados como de domínio prévio do recebedor nem podem ser
deduzidos a partir dos conhecimentos que o texto ativa.

Assim, avaliar a informatividade significa, para mim, medir o sucesso do


texto em levar conhecimento ao recebedor, configurando-se como ato de
comunicação efetivo. Esse sucesso depende, em parte, da capacidade do
discurso de acrescentar alguma coisa à experiência do recebedor, no plano
conceitual ou no plano da expressão (imprevisibilidade). De outra parte, re-
sulta no equilíbrio entre o que o texto oferece e o que confia à participação
de quem o interpreta (suficiência de dados).

Um texto informativo pode não ser de processamento imediato e deman-


dar algum esforço de interpretação. Em contrapartida, é um texto que se
mostra apto a engajar o recebedor, a conquistar a adesão dele, viabilizando,
assim, o estabelecimento de uma relação comunicativa verdadeira.

Um texto com baixo poder informativo, que não fornece os elementos


indispensáveis a uma interpretação livre de ambigüidades, ou que se limita a
repetir coisas que nada somam à experiência do recebedor, tem como efeito
desorientá-lo ou irritá-lo, ou simplesmente não alcançar sua atenção. Tende

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 145
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

a ser rejeitado. Mesmo que não chegue a ser tomado como não-texto, é ava-
liado como produção de má qualidade, com a qual não vale a pena perder
tempo. Em suma, mesmo para textos coerentes e coesos, um baixo poder
informativo tem como correlata uma baixa eficiência pragmática.

Estudos lingüísticos
1. Leia o seguinte trecho de uma redação escolar reproduzido no livro Proble-
mas de Redação (PÉCORA, 1983, p. 82):

[...] quanta coisa linda ao nosso redor; quer mais do que a pureza e in-
ocência do sorriso de uma criança? Quer mais do que a simplicidade de uma
flor? Acho que todos os nossos problemas ficam muito pequenos em meio a
tanta paz, a tanta simplicidade, em meio a tanta força.

Use o conceito de “informatividade” e as fontes de expectativa formulados


por Beaugrande e Dressler (1983) para avaliar esse trecho. Qual é o grau de in-
formatividade do texto? As expectativas do leitor são ou não atendidas pelas
informações selecionadas pelo autor da redação escolar?

146 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação

2. Leia o seguinte trecho de um livro destinado a alunos de Engenharia Elétri-


ca.

O processo de transferência é caracterizado pela tendência ao equilíbrio,


que é uma condição em que não ocorre nenhuma variação. Uma força motriz,
o movimento no sentido do equilíbrio e o transporte de alguma quantidade
são fatos comuns a todos os processos de transferência. A massa do material
através da qual as variações ocorrem afeta a velocidade do transporte, e a
geometria do material afeta a direção do processo.

Considere o que acontece quando uma gota de corante é colocada na


água. O processo de transferência de massa faz com que o corante se difun-
da através da água, atingindo um estado de equilíbrio facilmente detectado
visualmente. Podemos detectar uma variação semelhante através do olfato
quando uma pequena quantidade de perfume é borrifada no quarto. A con-
centração torna-se mais fraca nas vizinhanças da fonte à medida que o per-
fume se difunde através do quarto. [...] Podemos ainda sentir a variação pelo
paladar, quando um cubo de açúcar se dissolve e difunde na boca. Portanto,
os processos de transferência fazem parte da experiência diária. (SISSON,
Leighton E.; PITTS, Donald R. Fenômenos de Transporte. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1988, p. 2)

a) Avalie o grau de informatividade do primeiro parágrafo do texto para um


leitor da área humanística, estudante de um curso de Letras, por exem-
plo. Em que ordem de informatividade esse parágrafo pode ser enqua-
drado?

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 147
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Lingüística III

b) Compare os níveis de informatividade dos dois parágrafos. Há diferenças?

148 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Teoria da informação


Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, 149
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Gabarito

Teoria da informação
1. Este trecho de redação escolar assemelha-se ao analisado por Val
(1991): “Violência social”. O estudante não apresenta nenhuma infor-
mação nova, o que contraria a expectativa do leitor/professor. O texto
é construído a partir de um conjunto de chavões, de lugares-comuns
que o tornam repetitivo e desinteressante. Quem lê esse texto tem a
impressão de estar relendo algo repetido milhares de vezes.

2.

a) O primeiro parágrafo do texto é de difícil leitura para alguém que


não atua na área de Engenharia Elétrica. É um texto que tende a
ser rejeitado pelo leitor, que não consegue atribuir-lhe um signifi-
cado. Ou seja, está na terceira ordem de informatividade, segundo
a análise de Beaugrande e Dressler (1983).

b) O segundo parágrafo trabalha com exemplos do cotidiano. Com


isso acrescenta explicações e informações que podem permitir
que o texto passe à segunda ordem de informatividade. Assim, a
leitura dos dois parágrafos em conjunto aumenta a possibilidade
de interpretação do texto tanto para leitores da área a que se des-
tina quanto para leitores de outras áreas do conhecimento.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,


mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br

Você também pode gostar