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LANCAMENTOS FUNARTE COLECAG ARTE BRASILEIRA CONTEMPORANEA, Os diversos movimeptos de vanguarda ocomr- dos a partir da ExposigZo Neoconcreta no Rio de, Janeiro em 1959 participam de uma preocupago comum — acionar de maneira permanente os mecanismos da experimenta- fo. A produgio nascida da utilizagdo das varias linguagens experimentals correntes, rotuladas como nova figuragio, happening, arte pop, arte cinética, arte conceitual, body art, video art etc, veio se agrupando, de 1959 ai6 hoje, em vérios momentos vanguardistas, alguns jé bem definidos historicamente, como por exemplo a Nova Objetividade ou o ‘Tropicalismo. E propésito desta Coleg documentar a obra Manual da ciéncia popular, A de alguns dos artistas que participaram ativa- apropriagio de objetos populares mente desse periodo, sem se preocupar coma pela arte. Como se faz esse anilise exaustiva dos movimentos mais repre- percurso? Os trabalhos apresenta- sentativos nem com a dissecagio de cada uma dos neste livro sfo portadores de das linguagens.experimentais_mencionadas, um saber popular. homem no se esquecendo de que existem proposi- ‘pritico’, o que reproduz segundo ‘ges que escapam de uma Stica estritamente instrugBes, € convidado a exeroer visual. E como também existem trabalhos « ago ctiadora.Itierério poético ‘que, por sua natureza, tendem 20 desapareci- do ‘sabedor de manuais’ — 0 mento completo, é essencial ressaltar a Manual anula a distincia da ‘importincia da documentagio em lio desta contemplaglo, convidando 0 o¥ ‘produgio especifica. pectador situagfo de produtor. Paes eco can esses ct el a, ean sere do dieons FOV ini ss Rae ver ae fn aon Fete ea nate ce cae FILME CULTURA O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO 2 O cinema colorido... LL 3 Entrevista com Grande Otelo, osé Carlos Burle, uth de Souza, Léa Garcia, Carlos Dlogues, “Ant6nle Pitenga, Zézimo Bulbul, Zezé Motta, Odllon Lopes, Valter Lima Junior. 8 Cinema e descolonizasao. 23 Metamorfose das mées nag. 28 Filmografia 30 AIMAGEMDO CAIPIRA 32 Filmes sertanejos, musica sertaneja e drama no circo...Pedro DellaPaschoa iénior. 33 Anotacées sobre Mazzaropi antennae None CasorAbres 37 Teixeirinha e o precério cinema gavcho. 42 GLAUBER ROCHA 44 Roteiro tricontinental de Xanglauber..... 45 Obsceno e nacional 50 CINEMA POLICIAL 59 60 CINEMA EROTICO 66 A pornografia é 0 erotismo dos outros... 66 Entrevista com A.P. Galante n O imaginario da Boca 7% CINCO CRITICAS © homem do pau brasil - Cinema inocente - A epso Fros, devs de amor - Cabaré mineiro. 80 attorect da EmprisaBrsira Sects de Reston Coaborarom mete mimero: Sob Cts Aver, otro e Gettin (EMBRAFILME). Jot Cares Rodrigues ko a heme Sraio Uo Minstera de Ecucorsorogramacia Vine André Andres, ornctta no Csr ge Abe, Elia Funeria Stibors AAmonio aves Gury, Jomafie¢curoreagta, momador€ iets ie Cary Jomate Grande Sen Coote men ie davopae Exes Fuko ‘Gey Mal Jorma feat Deeriomento de Asics | Reviako pour: ftmail Xaver, rico, pesqisndor Pero Dia Paschon Junior, Ses cade a dntonlo Cr Morera profesor de cinema pester a Fradusta Gites: Sd Let Panino,psqusador Seo Angst, Jorataa€ Seosde Gara ‘nto Feria rico decnema ee de cinema eaters Caer Gore ¢urtomerarise Stevo Siu creo de eee omen Sidra, en Sng econ Pade — tema in foe coe eet Guiherme Sarmento Joma oes pooguceder Vices Dash, post, eke de Asm Fortier Out Soto tas Vr, et, ‘nema enenrooor os Inpremte; 222 bpestusore profesor de cinema Ses unre Ditch diate So svete reve, eto “Angle Jas (Rd) e Moria tora e nese Masada de Olvera (Se) ‘est Caos Ase, joa ¢ Regrodasesfotogrtom cantata Jost Mow ¢ Fernando Ales 40 O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO O CINEMA COLORIDO ‘Na abertura do seminério Cinema e Descolonizas¥o, em janeizo ultimo em Salvador, Jean-Claude Bernadot props 4 So- siedade de Estudos da Cultura Negra, a organizadora do encon- tro, dseutir antes de qualquer outra coisa porgué o cinema. Discutir de onde surgira o interesse de Seeneb pelo cinema, ‘Uma conversa preliminar, quase um prélogo 20 semi nério proprismente dito, para tentar descobrir de que modo ‘cinema pode servir a uma sociedade empenhada no estudo e defesa das manifestagdes de cultura negra, de que modo 0 ck nema (enquanto modo de pensar © mundo, e nfo enguanto [produto feito para ser consumido nos cinemas comereiais e na {elevisio) pode trabalhar com uma sociedade empenhada em reafirmar que & possfvl falar de um processo civilizatério ne- {ro africano da mesma forma que costumamos falar de um rocesso civilizatorio europeu, sta proposta, esclareceu Jean-Claude, estava Sendo fet ‘ta a partir da sensago de que as formas de representagio do ‘mundo eriadas pela cultura negra eas formas de representagio sugeridas pelo instrumental einematogrifieo pareciam seguir ccaminhos diferentes, esencialmente simbélica ume, besice- mente realista a outra, Tratavase entio de descobrir onde se encontrariao ponto comurm. ‘A proposta foi logo abandonada, » conversa tomou outro rumo. Mas ali, naquele breve intervalo entre a fala de abertura e a intervengio de Marco Aurélio Luz, ficou no ar ‘uma sugestdo para imaginar um cinema a partir da montagem de algumas imagens feitas por cineastasafricanos com outras feitas por cineastas brasleitos. Uma sugestio para buscar um onto comum entre o cinema e a cultura negra brasleza, © sonhar coin ums cinematografia inspirada na poética do candomblé, ‘A sugestfo ficou no ar de modo impreciso. Como um plano aberto que dura pouco na tela e nfo nos deiea ver tudo (0 que se encontra na imagem. Como um plano que a gente per cebe sem ter tempo de perceber por inteiro, como coisa per cepbida 5 como uma divide, Talvez no candomble, a0 se sex vir de pedras,drvores,folhas de palmeira, conchas ¢ penas, de coisas amrancadas da natureza enfim, como material de base para montar suas ropresontagOes do mundo, tlver ata cultura negra i esteja fazendo um pouco de cinema. Talvez os filmes dos afticanos Sembene, Maldoror, Balogun, Traore ¢ Faye e dos brasileros Pitanga, Onofre e Quim Negro estejam trabalhando bbem na fronteira entre uma expressfo simbélica e uma outra naturalists. Talvez uma certa forma de relaeo com 0 cinema 4 que esteja impedindo que este trabalho se dé em maior pro- fundidade. éiassoltas, sugestoes para secem pensadas em conjun- to, durante 0 semindri, questOes impreciss, todas estas coi- 25 contidas na proposta de abertura foram abandonada,e a discussio tomou outro rumo, Na intervengio de Marco Auré- lio Luz © que tivemos foi uma afirmaedo de que o cinema bra- sileiro tom se comportado de maneira francamente racist Depois de um breve resumo historico do, tajeto do negro do final do século passado até hoje, 0 eaminho da escravidgo até 1 condigio de cidadso de segunda classe, seguiram-se alguns cexemplos da atitude reaciondriae preconceituosa do filme bra- sei, 3 JOSE CARLOS AVELLAR Deus ¢ 0 diabo na terra do sot mostra um personagem ‘negro, © Santo Sebastio, matando uma ecianga branca e canta {ue o sertfo vai vir mar sem dizer 0 que serd este mar — 0 ‘mar, explicou Marco Aurélio, €exatamente o sistema que sur- ‘gi em 1964, Bye bye Brasil mostra 0 personagem negro, 0 ‘Andorinha, como uma forga bruta a servigo do homem branco, Tenda dos milagres procuta mostrar que'o negro tem salvapo nna medida em que se ease com urna branca, Xica da Siva, este entZo parece ser 0 mais grave dos casos, mostra uma person: ‘gem desrespeitosa e apressiva com a mulher negra, E, para mostrar que o preconceito se estende também 03 indios, tomou ainda como exemplo Ajuricaba, onde se afirmaria que a salvagSo do fadio esté em sua transformagto ‘num operério. Estas conclusOes, apresentadas assim como Marco AU rilig fez no seminério, como coisa afirmada com toda a cer teza, de modo absolut, sem qualquer ponta do divida, soam ‘como grossa bobagem. Digo isto sem querer ser agrssivo. Digo assim s6 para matcar logo 0 absurdo desta iterpretag6es, que ‘nfo tém nada a ver com 0 que estes filmes efetivamente pro- ‘euram dizer, © marcar logo este absurdo como una bobagem ‘provoeada por uma concepeto colonizada de cinema, ‘Com frequéncia ss pessoas se reunem para discutir 0 cinema brasileiro sem diseutir antes — sem discuti a0 mesmo ‘tempo ~ o que cada uma delas entende por cinema, Discutem ‘como se cinema fosse uma coita s6 ja acabada, como sores: tasse ao filme brasileiro nfo inventarse livremente mas sim ajustar-se ao padifo corteto jé existente. A idéia de que existe uma formula, ou gramtica, ou estrutura, ou modo de fazer cinema que sea claro e universal, ‘compreendido por todo 0 mundo, em qualquer parte do mun: do, foi plantada na cabega das pessoas ié longo tempo pola frande inddstria, e ainda hoje esta idéia torta dd dests frutos szedos, As dscuss6es de filmes com frequéneia parte dai, ¢ ‘nfo de uma idéia de cinema que tenha crescido natural, do ‘ontato com 0 quadro social em que vivem a5 pessoas que Giscutem, que tenha crescido natural do imagindrio criado neste quadro social. Daf « stualidade de um debate sobre ci nema e descolonizagio. (0 padrao de cinema gerado pela grande indistria se serve de personagens exemplares, no sentido de tipos que mos- tram na tela o exernplo 2 ser seguido ou a ser recusado. E se serve ainda de um estilo de narragio em que as stuagdes se ‘explicam pela sua imediata aparéncia, eda sensapéo de reali de passada pela imagem ¢ o som em movimento na tel. (Sen- sagGo que vem de onde? Da atitude da camera, que imita 0 ‘comportamento do olho humano? Das dimensOes da tla, que cerca e domina a visio do espectador? Do escuro da sala e da imobilidade do espectador, que se vé assim levado a reagir come mum sonho, meio controlador meio eontrelado pelo filme? Sensaggo que vem do que conscientemente identifica- mos como reprodugGes de coisas vivas de verdade? Ou que vem do que se recebe pelo inconsciente — um signo que nos ‘pega sem que tenhamos consciéncia disto?). O modelo de ci

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