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SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO

Ansiedade, estresse e depressão

Sumário

01. Introdução 02

02. Psicologia da Gravidez 03

03. Primigestas e multíparas: ansiedade no terceiro trimestre 04

04. Indicadores de Estresse e Ansiedade entre primigestas e


multíparas no terceiro trimestre de gestação 07

05. Estresse e Ansiedade no terceiro trimestre de gestação 10

06. Indicadores de estresse na gestação 12

07. Estresse no terceiro trimestre de gestação 34

08. Estresse na gestação: um problema de saúde pública 36

09. Sintomas de Estresse, Ansiedade e Depressão no


Terceiro Trimestre de Gestação 38

10. Depressão Gestacional: um estudo exploratório 41


11. Ansiedade, Estresse e depressão no terceiro trimestre
44
da gravidez

12. Fatores de Risco para Depressão Gestacional de


Mulheres Usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) 52

Rafaela de Almeida Schiavo


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Introdução
        O Ciclo Gravídico Puerperal é marcado por alterações
emocionais, características deste período, com possibilidade de
desencadear conflitos psíquicos, comprometendo a saúde
mental da mulher.
       Tais alterações, frutos de fatores sociais e psicológicos, podem
influenciar o desenvolvimento da gestação, assim como o bem-
estar e saúde da mãe e do feto. Entre os fatores psicológicos que,
geralmente, implicam em complicação durante gestação, parto
e puerpério estão os sintomas de estresse, ansiedade e
depressão.
       A autora deste e-book Rafaela de Almeida Schiavo, pretende
apresentar aos leitores, a prevalência dos sintomas de ansiedade,
estresse e depressão de gestantes no final da gravidez e desta
forma mostrar a importância de se realizar uma boa avaliação do
estado psicológico de gestantes, pois, sabe-se que a maternidade
é um período potencial de crise, entretanto, poucos profissionais
têm se preocupado em investigar o estado emocional de
mulheres nessa fase, negligenciando o fato de que nem todas as
gestantes vivenciam este momento como o momento mais
pleno e feliz de suas vidas, como a mídia divulga.
       É necessário que profissionais da saúde tenham consciência
de que o período gestacional é sim, um momento potencial de
crise. Portanto, merece maior e melhor atenção à saúde e saúde
mental nesta etapa.

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Psicologia da Gravidez
        A gravidez é uma trajetória que faz parte do processo normal
do desenvolvimento. Este é um período na vida da mulher de
transição e ansiedade. Além das mudanças corporais, também
ocorrem mudanças psíquicas e sociais. Este fato é acentuado
quando é a primeira gestação. Nesta fase, a mulher deixa o status
de filha e esposa passando a desempenhar o papel de mãe.
       Estar na condição de grávida não é vivido com o mesmo
sentido emocional por todas as gestantes, tomar conhecimento
de que se está grávida, pode ser bem ou mal recebido
dependendo da mulher e a partir de então várias mudanças
podem ocorrer na vida desta e, independentemente de como é
recebida a notícia ou de como esta encara a gravidez, não estará
livre da ambivalência de amor e ódio pela gestação.
       O primeiro desejo de ter um bebê ocorre ainda na infância. O
brincar de boneca serve como identificação com sua mãe, a
menina pode fazer com a boneca tudo o que sua mãe faz com
ela, a boneca-bebê se torna um filho para ela. A relação da
gestante com seu bebê, portanto, inicia-se muito antes da
fecundação, antes mesmo de engravidar as mulheres fantasiam
um filho, criando sobre ele expectativas.

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Primigestas e multíparas
ansiedade no terceiro trimestre
        A gravidez é uma trajetória que faz parte do processo normal
do desenvolvimento. Neste período é esperado que a mulher
apresente ansiedade em decorrência das mudanças próprias
desta fase, e dependendo de como estas vivenciam tais
mudanças, podem apresentar níveis alterados de ansiedade. Este
trabalho pretendeu averiguar a proporção de ansiedade-estado
no terceiro trimestre de gestação de primigestas e multíparas e
averiguar se existe relacionamento entre a ansiedade-estado e
variáveis sociodemográficas e da gestação.
       Método: Investigou-se 159 gestantes, sendo 98 primigestas e
61 multíparas, no terceiro trimestre de gestação, todas usuárias
do SUS de uma cidade do interior paulista. Aplicou-se o
Inventário de Ansiedade-Estado (IDATE), utilizando-se, como
indicativo de sintomas de alta ansiedade, o critério de corte de
escore igual ou acima do percentual 75. Aplicou-se também uma
entrevista inicial para coleta de dados sóciodemográficos (idade,
estado civil, escolaridade, número de gestações) e dados à
respeito da gestação (saúde, ameaça de aborto, abortamento
anterior, planejamento da gravidez, desejo da gestante e do
parceiro pela gravidez). Os dados foram analisados usando o
programa estatístico SPSS for Windows, versão 17.0. Para as
análises de diferenças entre duas condições utilizou-se o Teste t
independente, adotando-se p < 0.05 como nível crítico e as

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análises de correlação foram submetidos ao Teste r de Pearson,


adotando-se p < 0.05, como nível crítico.
      Os resultados indicam que no terceiro trimestre 67 (42%)
manifestaram alta ansiedade, o teste t independente indicou que
existe diferença significativa entre a ansiedade-estado
manifestado por primigestas e multíparas (t(157)=2.09; p = 0.03), o
teste t indicou também que não existe diferença entre a
ansiedade-estado manifestada por adolescentes e adultas
(t(157)=1.53; p = 127), o teste r de Pearson foi utilizado para avaliar
se existe correlação entre a ansiedade-estado e os dados da
entrevista inicial das participantes. O teste indicou que das
primigestas houve associação nas variáveis da entrevista (ameaça
de aborto (r=0.233; p = 0.011); gravidez planejada (r=0.218; p=
0.016); desejo pela gravidez (r=0.539; p < 0.001) e desejo do
parceiro pela gravidez (r=0.455; p <0.001)). Já as multíparas
apresentaram relacionamento apenas na variável (desejo da
gestante pela gravidez) (r=0.240; p = 0.031).
      Discussão. Os resultados encontrados indicam que há uma
grande porcentagem de mulheres que estão apresentando
ansiedade clínica no final da gestação, dados estes preocupantes,
já que elevados níveis de ansiedade na gestação podem trazer
consequências para a mulher na gestação e no puerpério, para o
feto, para o nascimento do bebê e seu desenvolvimento humano.
      Os dados também revelam que existe diferença entre a
ansiedade manifestada por primigestas e multíparas, e não
encontramos diferença em relação adolescente e adulta. Entre as
perguntas do questionário inicial observou-se que existe um
relacionamento entre a ansiedade-estado manifestada por

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primigestas no terceiro trimestre e o ter passado por ameaça de


aborto no inicio da gestação, o planejamento da gravidez, o
desejo pela gravidez, e o desejo do parceiro. Quanto às
multíparas só foi encontrado associação na variável desejo da
gestante pela gravidez.
     Podemos concluir que mulheres que passaram por ameaça
de aborto no inicio da gravidez, as que não planejam e não
desejam a gestação, assim como seus parceiros, fazem parte de
um grupo de maior chance de apresentar alta ansiedade no final
da gravidez, merecendo maior atenção dos profissionais que a
atendem.

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Indicadores de Estresse e
Ansiedade entre
primigestas e multíparas
no terceiro trimestre de
gestação
        Estresse e ansiedade são condições normais no final da
gestação, pois é um momento de inseguranças e expectativas
quanto ao futuro. O problema ocorre quando o estresse e/ou
ansiedade são vivenciados de forma intensa nesse período, pois
em níveis elevados tanto o estresse quanto a ansiedade podem
tornar prejudiciais para a saúde materno-infantil.
        O presente trabalho buscou comparar os indicadores de
estresse e ansiedade entre primigestas e multíparas no terceiro
trimestre e investigar a associação entre tais indicadores com
variáveis sociodemográficas e dados da gestação. Para essa
pesquisa utilizou-se os instrumentos Inventário de Ansiedade
Traço/Estado (IDATE), Inventário de Sintomas de Stress de Lipp
(ISSL) e uma Entrevista Inicial com perguntas referentes a
gestação e expectativas com a gravidez.

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        Participaram 159 gestantes, sendo 98 primigestas e 61


multíparas, usuárias de uma Unidade Básica de Saúde de uma
cidade do interior paulista. Utilizou-se de estatística descritiva e
inferencial para a análise dos resultados. Os resultados indicaram
que 78% das primigestas apresentaram estresse, sendo que
destas 72% estavam na fase de resistência, 25% na fase de quase
exaustão e 3% na fase de exaustão, 87% apresentaram sintomas
psicológicos e 10% sintomas físicos e 3% apresentaram sintomas
físicos e psicológicos concomitantemente.
        Já as multíparas 95% delas apresentaram estresse, sendo
que destas 5% estavam na fase de alerta, 62% na fase de
resistência, 31% na fase de quase exaustão, 2% na fase de
exaustão, 21% apresentaram sintomas físicos, 74% sintomas
psicológicos e 5% sintomas físicos e psicológicos
concomitantemente. Quanto a ansiedade, 37% das primigestas
apresentou alta ansiedade e das multíparas 51%.
        Realizou-se o Teste t independente para verificar se existe
diferença estatística entre o estresse apresentado entre
primigestas e multíparas, observou-se que há diferença (t(157)
=2,51; p < 0.05), onde as multíparas apresentaram maior estresse
do que primigestas, e associando as variáveis de estresse com a
Entrevista Inicial por meio do teste X2, observou-se que não há
associação entre tais variáveis.
        Quanto a ansiedade, observou-se por meio do Teste t
independente que existe diferença significativa entre a ansiedade
manifestada por primigestas e multíparas (t(157) = 2,09; p < 0,05),
onde as multíparas apresentam níveis de ansiedade mais
elevados do que primigestas, e associando as variáveis de

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ansiedade com as da Entrevista Inicial por meio do teste X2,


observou-se que há relacionamento entre, a idade das gestantes
(X2 (1) = 4,31; p < 0,05), a escolaridade (X2 (3) = 12,39; p < 0,05), o não
planejamento da gravidez (X2 (1) = 15,94; p < 0,01), o não desejar a
gravidez (X2 (2) = 29,95; p < 0,01), e o não desejo do parceiro pela
gravidez (X2 (2) = 19,16; p < 0,01).
       Com esses resultados, ainda que com um número limitado
de participantes, é possível concluir que mães de pelo menos um
filho já nascido apresentam maior estresse e ansiedade durante o
terceiro trimestre do que as gestantes que não têm filhos
nascidos, pode se concluir também que o estresse no terceiro
trimestre não foi associado aos dados sociodemográficos e as
condições da gestação, entretanto a alta ansiedade no terceiro
trimestre está associada com menor grau de instrução, ao não
planejamento da gravidez, ao não desejo da gestante e do
parceiro pela gestação.

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Estresse e Ansiedade no
terceiro trimestre de
gestação
        O ciclo gravídico puerperal é marcado por alterações
emocionais características desse período, no entanto, há
possibilidade de desencadear transtornos psíquicos significativos
comprometendo a saúde mental da mulher. Fatores sociais e
psicológicos maternos podem influenciar o desenvolvimento da
gestação, bem como o bem-estar e saúde da mãe e do feto. Os
fatores psicológicos que geralmente implicam em complicação
durante gestação, parto e puerpério são o estresse e a ansiedade
vivenciados na gravidez.
       A presença de altos níveis de ansiedade e de estresse durante
a gestação pode ser um fator de risco para o equilíbrio
emocional materno e para o desenvolvimento do bebê, inclusive
durante o período fetal. O objetivo deste trabalho foi identificar o
estresse e ansiedade em primigestas após o sexto mês de
gestação.
       Participaram da pesquisa 54 primigestas, 16 estavam com seis
meses, 16 com sete meses, 14 oito meses e oito com nove meses.
Para realização dessa investigação foi utilizado os instrumentos
Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e o Inventário de
Sintomas de Stress de Lipp (ISSL).

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      Os resultados obtidos com o IDATE indicaram que cinco


gestantes apresentaram baixa ansiedade, 41 ansiedade e oito,
alta ansiedade. Já os resultados obtidos com o ISSL, indicaram
que 13 primigestas não apresentaram sintomas de estresse e 41
apresentaram sintomas, 31 estavam em fase de resistência e 10
em fase de quase exaustão. Delas, 37 foram classificadas com
sintomas psicológicos e seis foram classificadas com sintomas
físicos, sendo que, para duas participantes houve igual
prevalência dos sintomas físico e psíquicos.
      Podemos concluir que para estas participantes o estado
emocional prevalente após os seis meses de gestação é o ansioso
e que para a maioria, este também é um período estressante.
Pesquisas sugerem que medidas de prevenção como o
oferecimento de programas de atenção à gestante e apoio
psicossocial poderiam controlar a ansiedade e estresse na
gestação, minimizando problemas decorrentes de uma gravidez
ansiógena, tais como: nascimento prematuro, baixo peso,
ansiedade materna pós-natal e depressão pós-parto. O
acompanhamento psicológico durante a gravidez, em mulheres
de risco, pode contribuir para uma vivência mais saudável da
gestação, prevenindo perturbações obstétricas e patológicas.

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Indicadores de estresse
na gestação
        O estresse pode ser entendido como uma resposta
fisiológica, psicológica e comportamental, de um indivíduo que
procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas e/ou
externas ao organismo (MARGIS et al., 2003).  Santos e Castro
(1998) em uma revisão da literatura encontraram descrições de
estresse a partir de três conceituações distintas. A primeira é
centrada no ambiente reunindo acontecimentos ou
circunstâncias percebidas como ameaçadoras ou perigosas,
provocando sentimentos e situações de tensão; a segunda
concepção encara o estresse como uma resposta, centrando-se
nas reações das pessoas aos acontecimentos estressores e, a
terceira concepção inclui acontecimentos estressores e respostas
de tensão, descrevendo a relação entre a pessoa e o meio que a
envolve.
       Estresse é um estado que é percebido como uma ameaça ao
equilíbrio fisiológico do sujeito. Em geral, a resposta ao estresse é
projetada para ter uma duração limitada e as mudanças
resultantes desta atividade hormonal e de neurotransmissores,
são rapidamente restauradas aos níveis pré-estresse. Por este
motivo, o estresse foi denominado por Selye (1936) como
Síndrome de Adaptação Geral (SAG).
       No entanto, quando o estresse é de natureza crônica e o

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indivíduo não consegue se adaptar a ele, isso poderá resultar em


outros distúrbios, tais como: de ansiedade, depressão, diabetes,
alcoolismo, tabagismo e abuso de drogas. Mudanças
importantes na vida, tais como novo emprego, casamento,
separação e nascimento de um filho, também podem gerar
respostas de estresse nos sujeitos.
       Em 1956, Selye (1936) citado por Camelo e Angerami, (2004)
descreveu três fases ou estágios do estresse. A primeira,
denominada fase de alarme que tem inicio quando a pessoa se
defronta com um estressor, havendo um desequilíbrio
homeostático e, então, o organismo se prepara para "luta ou
fuga". É uma reação benéfica ao organismo à medida que
prepara para que ele possa atuar em situações de urgência.
       Goulart e Lipp (2008) ressaltam que o problema surge
quando a prontidão fisiológica não é necessária ou quando é
excessiva, característica da fase seguinte, denominada de
resistência. Ela ocorre quando a fase de alerta persiste, devido à
longa duração ou à grande intensidade do estressor e o
organismo se utiliza das reservas de energia adaptativa, na
tentativa de se reequilibrar. Se a reserva de energia adaptativa é
suficiente, a pessoa se recupera e sai do processo de estresse.
Porém, se o estressor exigir mais esforço de adaptação do que é
possível para aquele indivíduo, então, o organismo se enfraquece
e torna-se vulnerável a doenças (CAMELO; ANGERAMI, 2004;
GOULART JR.; LIPP, 2008). Por fim, Selye descreveu a fase da
exaustão, quando o organismo encontra-se esgotado pelo
excesso de atividades e pelo alto consumo de energia gasto na
tentativa de buscar o restabelecimento do equilíbrio

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homeostático. Tal fase ocorre quando a resistência da pessoa não


foi suficiente para lidar com a fonte de estresse ou se houver,
concomitantemente, a ocorrência de outros estressores
(CAMELO; ANGERAMI, 2004; GOULART JR.; LIPP, 2008).
      Lipp (2000) descreveu uma fase intermediária, entre a fase de
resistência e a de exaustão, denominada de Quase Exaustão. Essa
fase caracteriza-se por um enfraquecimento da pessoa que não
está conseguindo adaptar-se ou resistir ao estressor, mas que
ainda não tenha atingido a exaustão completa (CAMELO;
ANGERAMI, 2004; GOULART JR.; LIPP, 2008; LIPP, 2004).
      Em decorrência do estresse pode haver o enfraquecimento do
sistema imunológico, aumentando as chances de infecções,
como também pode afetar os aspectos afetivos emocionais do
sujeito, favorecendo o adoecimento. As respostas inadequadas
do sistema de estresse também podem prejudicar o crescimento
e desenvolvimento do individuo, e pode ser responsável por uma
série de problemas endócrinos, metabólicos, autoimunes e
psiquiátricos.
      Gestantes que são expostas por longo prazo a eventos
estressores, são fortes candidatas a apresentarem riscos à sua
saúde e a do feto. O feto responde ao estresse materno, com
aumento de frequência cardíaca. Além disso, o estresse materno
durante a gestação aumenta o risco à pré-disposição ao
desenvolvimento de doenças mentais. O estresse crônico durante
o período do desenvolvimento do cérebro humano, tem sido,
associado a déficits de aprendizagem e comportamentais, além
de distúrbios do humor, incluindo a depressão em idades mais
avançadas (VAN DER HOVE et al., 2006).

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       Para Busnel (2002 p.62) existem diferentes tipos de estresse


materno que podem causar efeitos no feto e sobre o recém-
nascido.

[...] o estresse transmitido pela mãe, através de toda


a sua fisiologia, pelas variações do ritmo cardíaco, da
pressão arterial, da respiração, eventualmente a sua
comunicação e todo o efeito hormonal produzido
por uma agressão. [...] estresse de origem externa.
São devido às drogas, ao fumo e ao alcoolismo. [...] o
estresse físico ou fisiológico que pode resultar de
surras – violência física a que é submetida à mãe- ao
excesso de calor, a grandes infecções, febres altas,
desnutrição e ao ruído intenso.

       O estresse na gestação, em geral, está associado, aos


aborrecimentos diários sentidos no início da gravidez e ao medo
do parto em meados da gestação. No período gestacional,
principalmente a primigesta, passa por diversas situações
inesperadas e desconhecidas.
       O estresse durante a gestação pode ser um fator de risco para
o equilíbrio emocional materno e para o desenvolvimento do
bebê, inclusive durante o período fetal. Crianças cujas mães
foram expostas a eventos estressores na gravidez, apresentam
taxas elevadas de problemas emocionais e comportamentais,
sugerindo que o estresse materno no período gestacional pode
causar um efeito sobre o feto, que dura até pelo menos meados
da infância (O’CONNOR; HERON; GOLDING; GLOVER, 2003;

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O’CONNOR et al., 2002; GUTTELING et al., 2005; HUIZINK et al.,


2002).
       Além disso, o estresse no período gestacional pode ser um
fator na perturbação da etiologia do desenvolvimento neural,
implicando em psicopatologias tais como: algumas formas de
esquizofrenia e transtornos afetivos já na idade adulta (WATSON,
et al., 1999; TALGE; NEAL; GLOVER, 2007).
       Um estudo realizado por Buitelaar et al. (2003) avaliou o
estresse de gestantes por meio de questionários e coleta de
saliva para verificar a concentração de cortisol como medida
endocrinológica do estresse materno. Após o nascimento do
bebê os pesquisadores avaliaram o desenvolvimento cognitivo
da criança por meio da Bayley Scales of Infant Development
(BSID), aos três e oito meses de idade, verificando que os bebês,
filhos de mulheres que apresentaram estresse durante a
gravidez, apresentaram atrasos cognitivos no desenvolvimento,
principalmente os bebês de oito meses de idade. Os autores
sugerem que os prejuízos cognitivos, foram mais observados em
bebês com oito meses, pois estes apresentam um
desenvolvimento maior de consciência e interesse no mundo
externo, do que bebê com idade inferior.
       Sabe-se hoje, que qualquer substancia ingerida pela grávida é
passada ao feto, atravessando a placenta. Desta forma, as
perturbações emocionais que provocam alterações neuro-
hormonais, também irão repercutir sobre o estado
neurofisiológico do feto. Os mesmos são lançados na corrente
sanguínea e passados ao feto pelo cordão umbilical, provocando
um estado no feto, semelhante àquele sentido pela gestante
(WILHEIM, 1997; BUSNEL, 1999).  

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       A placenta tem função de barreira intermediária e


mensageira ativa do “diálogo” materno-fetal, produzindo e
liberando substâncias reguladoras da fisiologia. O estresse
fisiológico e patológico influencia tal função, de modo que, o
estímulo do estresse endógeno ou exógeno estimule a secreção
de Hormônio Liberador de Corticotrofina (HLC) placentário, como
resposta adaptativa da placenta para fugir dessas condições
adversas (FLORIO et al., 2002).
       Sabe-se que a atividade do eixo Hipotálamo-Pituitária-
Adrenal (HPA) é aumentado em mulheres grávidas. O estresse
pré-natal quando duradouro, pode provocar perturbações no
HPA, o cortisol ao atravessar a placenta pode afetar o feto e
perturbar o processo de desenvolvimento em curso, podendo
desta forma, ocasionar maior vulnerabilidade à psicopatologia
em crianças e adolescentes, que foram expostos por longo prazo
ao estresse materno, no período fetal (O’CONNOR et.al., 2005;
VAN DEN BERGH; MULDER; MENNES; GLOVER, 2005).
       Estudos indicam que gestantes expostas ao estresse dão a luz
significativamente mais cedo, e a bebês com peso ao nascer,
inferior à média dos nascidos de mães não expostas ao estresse
(CONDE; FIGUEIREDO, 2003; ARAÚJO; PEREIRA; KAC, 2007;
AUSTIN; LEADER, 2000; LOBEL; DUNKEL-SCHETTER; SCRIMSHAW,
1992; WADHWA et al., 1993). Existe uma associação entre a
ansiedade materna durante a gravidez e aumento da resistência
do índice da artéria uterina, o que poderia explicar as associações
entre a ansiedade materna e o baixo peso ao nascer (MANCUSO,
et al., 2004; DIEGO et al., 2006; TEXEIRA; FISK; GLOVER, 1999).
       O estresse materno na fase pré-natal pode também causar

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complicações obstétricas, risco de pré-eclâmpsia, mecônio no


liquido amniótico e asfixia fetal (CORREIA; KURKI et al., 2000;
BURSTEIN et al., 1974; BHAGWANANI et al., 1997), além da
depressão no período gestacional, indicativo para ansiedade e
depressão puerperal (CURY; MENEZES, 2006; O’CONNOR;
HERON; GLOVER, 2002; BROUWERS; VAN BAAR; POP, 2001; ROSS
et al., 2003).    
       Pretende-se neste trabalho responder a duas questões: Como
é o nível de estresse no terceiro trimestre de gestação? Há
diferença entre primigestas e multíparas quanto ao estresse
apresentado

Objetivos
       O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o estresse de
gestantes no terceiro trimestre de gestação e investigar se existe
diferença no nível de estresse entre primigestas e multíparas.

Método
       Este trabalho tem caráter de pesquisa exploratória, onde os
dados foram analisados usando o programa estatístico SPSS 17.0.
Realizando-se análise descritiva e estatística.

Participantes:
       Participaram desta pesquisa, 147 gestantes, usuárias do SUS
(Sistema Único de Saúde), que estavam no terceiro trimestre de
gestação. Das participantes 58% eram primigestas e a idade
média foi de 21 anos para primeigestas e 27 para as multíparas.
Quanto ao estado civil das primigestas, 66% residiam com o pai

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do bebê, 17% estavam namorando e 17% não estavam mais com


o pai do bebê. Já as multíparas, 79% residiam com o pai do bebê,
16% estavam namorando e 5% não estavam mais com o pai do
bebê.
       Em relação a escolaridade das primigestas, 13% tinham o
ensino fundamental incompleto, 27% fundamental completo,
53% ensino médio completo e 7% ensino superior.  A
escolaridade das multíparas era de, 34% ensino fundamental
incompleto, 20% fundamental completo, 43% médio completo e
3% superior.

Local:
       A coleta de dados foi feita em um Núcleo de Saúde Central,
de uma cidade de médio porte, do interior paulista.

Materiais:
       Foi utilizada uma Entrevista Inicial, elaborada para esse
estudo, para a coleta de informações demográficas das
participantes e informações sobre a gestação.
       Para a avaliação de sintomas de estresses utilizou-se o
Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) (Lipp, 2000) para
adultos acima de 15 anos. O inventário é composto por quatro
quadros (quadro 1: 24 horas; quadro 2: uma semana e quadro 3:
um mês). Este instrumento pode ser aplicado em grupo de até
20 pessoas ou individualmente. O ISSL contém 15 itens para o
quadro 1, sendo 12 itens relacionados a Sintomas Físicos e três
itens relacionados à Sintomas Psicológicos; outros 15 itens para o
quadro 2, sendo 10 itens relacionados à Sintomas Físicos e cinco

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itens relacionados à Sintomas Psicológicos e 23 itens para o


quadro 3, sendo 12 itens relacionados à Sintomas Físicos e 11 itens
relacionados à Sintomas Psicológicos. A aplicação obedeceu às
instruções do Manual.

Procedimento
a) Para coleta dos dados:
       Todas as gestantes, no terceiro trimestre, foram identificadas
no Núcleo de Saúde, junto ao setor de agendamento no dia em
que estas tinham consulta marcada com o obstetra ou
ecografista. Eram então, convidadas a participar do presente
projeto. O projeto era, explicado e dirimidas as dúvidas. Em caso
de aceite, depois de cumpridos os protocolos éticos previstos
pelo CONEP (1996) Assinatura do Consentimento Livre e
Esclarecido, elas respondiam ao Inventário de Sintomas de Stress
de Lipp (ISSL) e a Entrevista Inicial, antes da consulta médica. Ao
final da aplicação estas foram informadas quanto ao resultado.

b) Para análise dos dados


       A tabulação dos dados do ISSL foi realizada a partir das
respostas das participantes. Para chegar aos escores brutos
somam-se por quadro as respostas P (Psicológicos) e F(Físicos)
separadamente, de modo que se obtiveram três escores físicos e
três psicológicos, em um total de seis. Em seguida, somam-se os
escores P + F por quadro, de modo que se tenham três escores
um para cada quadro do inventário. Se qualquer dos subescores
de P + F atingir o critério para o quadro pertinente, pode concluir-
se que a pessoa tem estresse.

Rafaela de Almeida Schiavo 20


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

      Para a análise estatística usou-se o programa SPSS 17.0, com o


objetivo de verificar se há diferença significativa entre o estresse,
a fase do estresse e os sintomas de estresse apresentados por
primigestas e multíparas, a partir do Test t (student), para
amostras independentes.

Resultados
     Os dados coletados na Entrevista Inicial sobre aspectos da
gestação indicou que, 12% das primigestas tinham história de
aborto anterior, 9% tiveram ameaça de aborto, 15%
apresentavam problemas de saúde durante a gestação e 41%
planejaram a gravidez. Quanto às multíparas, 28% tinham
história de aborto anterior, 8% tiveram ameaça de aborto, 13%
apresentaram problemas de saúde durante a gestação e 34%
planejaram a gravidez.
     Observa-se que a frequência de abortos anteriores foi maior
para o grupo das multíparas, enquanto que as primigestas
planejaram mais esta gestação do que as multíparas. Nas demais
variáveis analisadas não se observou diferenças entre os grupos.
     A Tabela 1 mostra o resultado da avaliação do estresse de
gestantes no terceiro trimestre de gestação. Os dados indicam
que 85% das participantes apresentaram estresse no terceiro
trimestre de gestação, sendo mais frequente nas multíparas
(95%).

Rafaela de Almeida Schiavo 21


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

        O teste t para amostras independentes indicou que há


diferença significativa (p<0.05) entre a manifestação do estresse
no terceiro trimestre, entre primigestas e multíparas, indicando
que, este segundo grupo parece mais vulnerável ao
desenvolvimento de estresse t (145) = 2.940; p= 0,004.
       É apresentado na Tabela 2, as fases do estresse onde as
participantes desta pesquisa foram classificadas no terceiro
trimestre de gestação.
       Nota-se que nenhuma primigesta foi classificada na fase de
alerta, 57% (n=49) foram classificadas na fase de resistência, 19%
(n=16) na fase de quase exaustão e 2% (n=2) na fase de exaustão.

        Entre as multíparas 5% (n=3) estavam na fase de alerta, 61%


(n=37) na fase de resistência, 28% (n=17) na fase de quase exaustão
e 2% (n= 1) na fase de exaustão.
       Das 125 gestantes, 86% da amostra, que apresentaram
estresse, foram analisados os níveis do mesmo e, observou-se
que 69% delas se encontraram na fase de resistência, e 27% na
fase de exaustão. Analisando cada grupo observou-se que a

Rafaela de Almeida Schiavo 22


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

maior frequência foi das primigestas 73% na fase de resistência, e


em quase exaustão, foram as multíparas 29%. Nas fases de alerta
e exaustão a frequência foi pequena para os dois grupos.
      Houve diferença significativa na fase de estresse que se
encontram primigestas e multíparas de acordo com o teste t
(p<0.05), é possível dizer que a fase mais predominante do
estresse de gestantes é o da fase de resistência e a fase que
aparece com menor frequência é a de alerta, quando no terceiro
trimestre de gestação.
      Observa-se que na Tabela 3, analisando os sintomas de
estresse apresentado pelas participantes desta pesquisa no
terceiro trimestre de gestação, que 9% (n=8) das primigestas
manifestaram sintomas físicos de estresse, enquanto que 66%
(n=57) apresentaram sintomas psicológicos e 2% (n=2)
apresentaram igualmente sintomas físicos e psicológicos.

        Já as multíparas 13% (n=8) manifestaram sintomas físicos, 71%


(n=43) apresentaram sintomas psicológicos e 12% (n=7)
apresentaram sintomas físicos e psicológicos.
       Embora se observe que o sintoma psicológico é o que

Rafaela de Almeida Schiavo 23


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

aparece com maior frequência no terceiro trimestre de gestação


(80%), a análise estatística revela uma diferença significativa
quando comparamos os sintomas apresentados por primigestas
e multíparas (p<0.05), onde primigestas apresentam uma
pequena frequência dos sintomas físicos e menor frequência
ainda quando classificadas igualmente com sintomas físicos e
psicológicos. Já as multíparas apresentam uma frequência
consideravelmente acima das primigestas na manifestação de
sintomas físicos e dos sintomas igualmente físicos e psicológicos.

Conclusão
         Com os resultados encontrados é possível afirmar que
grande parte das gestantes no terceiro trimestre de gestação,
estão estressadas. Ser mãe de pelo menos um filho é uma
condição favorável ao aparecimento dos sintomas de estresse. A
fase de resistência é a mais frequente entre as gestantes que
apresentam estresse no terceiro trimestre e a fase de alerta é a
que surge com menor frequência, sendo os sintomas
psicológicos o mais presente no estresse manifestado pelas
gestantes.
        É possível dizer que há diferença significativa entre o estresse
apresentado por primigestas e multíparas, sendo as multíparas
mais propensas a manifestação do estresse, verificou-se também
que a fase de resistência é mais frequente em primigestas e a
fase de quase exaustão é mais frequente em multíparas. Os
sintomas de estresse manifestados por primigestas e multíparas
são significativamente diferentes, sendo as multíparas mais
propensas a apresentar sintomas físicos e físicos e psicológicos

Rafaela de Almeida Schiavo 24


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

concomitantemente.
       Tais resultados apontam a grande necessidade de que mais
pesquisas em relação ao estresse na gestação, sejam realizadas
em nosso país, é importante que haja trabalhos que investiguem
os motivos pelos quais gestantes apresentam estresse no ultimo
trimestre, existem muitos trabalhos que levantam alguns pontos
que em geral, levam grávidas a apresentarem alterações do
humor, mas há poucos trabalhos que investigaram quais
poderiam ser os possíveis eventos estressores durante a gestação.
       É importante frisar que há poucos estudos psicológicos
nacionais que investigam o estresse gestacional, mas há muita
literatura estrangeira, principalmente apontando os prejuízos que
o estresse pode causar na mãe, no feto, e ao longo do ciclo vital
do sujeito que foi exposto na vida uterina ao estresse materno.
       Pesquisas estrangeiras não revelam números tão altos de
participantes com estresse, como os encontrados neste trabalho.
Algumas hipóteses em relação aos possíveis eventos estressores
no final da gestação poderiam ser o fato, de que existe uma
preconcepção sociocultural sobre o parto, onde as mulheres
imaginam que sentirão uma dor terrível, o medo da mudança da
rotina de vida após nascimento do bebê, a alta ansiedade,
preocupação financeira, profissional, conjugal, entre outras.
       Infelizmente no Brasil não é dada a devida atenção pré-natal,
às gestantes, o pré-natal psicológico não é realizado na maioria
dos atendimentos. Sabe-se hoje que a maternidade é um
período potencial para o desenvolvimento de crise, mas parece
que a maioria dos profissionais da saúde, tem negligenciado este
fato, a fase onde mais há ocorrências de internações e

Rafaela de Almeida Schiavo 25


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

desencadeamento de problemas psiquiátricos em mulheres, é


durante a gravidez e pós-parto.
      O ideário de que a maternidade é uma fase “linda e
maravilhosa” na vida das mulheres, pode ser um dos fatores que
contribuem para esta ser negligenciada por parte dos
profissionais da saúde.
      O mito que foi criado historicamente em torno da
maternidade, como sendo uma “Benção de Deus”, “O desejo de
toda mulher”, entre outros, faz com que a própria gestante ao ter
sentimentos hostis em relação a gravidez, ou em relação ao
próprio bebê, sinta um forte sentimento de culpa, o que pode
levar ao desenvolvimento do estresse, principalmente se a
mulher já é mãe e engravida novamente, em um momento não
apropriado.
      Este ideário construído coloca em risco a saúde da gestante, e
a do bebê, pois, os próprios profissionais da saúde, não estão
preparados para ouvir que ela não está feliz com a gravidez
naquele momento, ou qualquer outro evento desagradável que
possa ter ocorrido. Muitas são mal compreendidas pela equipe
que a atende, os profissionais recebem alta demanda de
pacientes e não dispõem de tempo hábil para um atendimento
clínico mais atencioso e humanitário.
      É de máxima importância e urgência que o atendimento à
gestante ganhe nova atenção. Já é sabido que o ciclo gravídico
puerperal é marcado por alterações emocionais, características
desse período, no entanto, há possibilidade de desencadear
transtornos psíquicos significativos comprometendo a saúde
mental da mulher.

Rafaela de Almeida Schiavo 26


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

      A fase de gestação, é um período potencial para o


desenvolvimento de crise, existe um número alto de pesquisas
que apontam porcentagem considerável de mulheres que
apresentam transtornos psiquiátricos nesta fase do
desenvolvimento.
     Havendo tantas pesquisas, nacionais e internacionais
apontando números alarmantes de mulheres com sua saúde
mental comprometida, durante o período gestacional, não é
mais possível e aceitável que os profissionais da saúde continuem
a negligenciar a importância de se fazer um acompanhamento
psicológico da grávida.
     Por meio do pré-natal médico e psicológico, é que se poderá
prevenir, os riscos a saúde materno-infantil, tais como; o
nascimento prematuro, abaixo do peso, complicações
obstétricas, atrasos no desenvolvimento infantil, ansiedade e ou
depressão pós-parto, psicose puerperal, entre outros.
     Organizar programas de atenção à gestante poderia minimizar
o estresse da grávida. Os programas de atenção à gestante têm
entre seus objetivos o informar a gestante, familiares ou casais
grávidos, quanto aos aspectos biopsicossociais da gestação, parto
e puerpério, além de proporcionar um espaço para que os
integrantes possam partilhar sua experiência gestacional, suas
angústias, dúvidas, necessidades etc.
     Tais programas são comumente chamados de Cursos para
Gestante, de Psicoprofilaxia, de Pré-natal Psicológico, de
Preparação para o Parto, entre outros nomes. Em geral os
encontros são ministrados por profissionais da saúde.
     Pesquisas sugerem que medidas de prevenção como o

Rafaela de Almeida Schiavo 27


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

oferecimento de programas de atenção à gestante e apoio


psicossocial poderiam, minimizar os problemas decorrentes de
estresse na gravidez, contribuindo para uma vivência mais
saudável da gestação, prevenindo perturbações obstétricas e
patológicas, para a mãe e bebê.

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SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Estresse no terceiro
trimestre de gestação
        Gestantes que são expostas por longo prazo a eventos
estressores, são candidatas potenciais a apresentarem riscos à
sua saúde e a do feto, tais como, nascimento prematuro, baixo
peso, complicações obstétricas, pré-eclâmpsia, mecônio, asfixia
fetal, depressão no período puerperal, entre outras.
        O objetivo deste trabalho foi avaliar o estresse de gestantes
no terceiro trimestre de gestação. Para esta pesquisa utilizou-se o
Inventário de Stress de Lipp. As 135 gestantes participantes foram
identificadas em uma Unidade Básica do Sistema Único de
Saúde de uma cidade do interior paulista, sendo 81 primigestas e
54 que já tinham pelo menos um filho. Os resultados indicaram
que 84% (114) apresentaram estresse e 15% (21) não apresentaram
sintomas de estresse. Das que apresentaram sintomas de
estresse 3% (3) estavam em fase de alerta, 66% (75) em fase de
resistência, 28% (33) na fase de quase exaustão e 3% (3) em fase
de exaustão, destas 11% (13) apresentaram sintomas físicos, 82%
(93) sintomas psicológicos e 7% (8) apresentaram igualmente
sintomas físicos e psicológicos.
        Com os resultados obtidos é possível afirmar que no terceiro
trimestre de gestação grande parte das grávidas encontra-se
estressadas, em sua maioria na fase de resistência com
prevalência de sintomas psicológicos. Tais resultados apontam

Rafaela de Almeida Schiavo 34


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

para um problema que deve ser alvo de políticas públicas


eficientes considerando os danos que o estresse vivenciado na
gravidez pode causar a gestante e ao feto, no parto e pós-parto e
ainda, possível prejuízos ao filho em idades mais avançadas.

Rafaela de Almeida Schiavo 35


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Estresse na gestação
um problema de saúde pública
        Gestantes que são expostas por longo prazo a eventos
estressores, são fortes candidatas a apresentarem riscos à sua
saúde (complicações obstétricas, pré-eclâmpsia, além da
depressão no período puerperal) e à do feto (mecônio no líquido
amniótico e asfixia fetal, nascimento prematuro e/ou abaixo do
peso). O objetivo deste trabalho foi avaliar o estresse de gestantes
no terceiro trimestre de gestação. Foram avaliadas 135 gestantes,
identificadas em uma Unidade Básica do Sistema Único de
Saúde, que estavam no terceiro trimestre de gestação, onde 81
eram primigestas e 54 já tinham pelo menos um filho.
        Para esta pesquisa exploratória utilizou-se o Inventário de
Stress de Lipp (ISSL). Os resultados encontrados indicaram que,
das 81 primigestas, apenas 18 (22%) não apresentaram sintomas
de estresse e das 54 gestantes que já tinham pelo menos um
filho, apenas 3 (6%) delas não apresentaram sintomas de
estresse. Das primigestas que apresentaram sintomas de
estresse, 45 (56%) estavam na fase de resistência, 16 (20%) na fase
de quase exaustão e 2 (2%) na fase de exaustão, sendo que 54
(67%) apresentavam sintomas psicológicos, 6 (7%) sintomas
físicos e 3 (4%) apresentaram sintomas físicos e psicológicos. Das
gestantes que já tinham pelo menos um filho e que
apresentaram sintomas de estresse, 3 (6%) estavam na fase de
alerta, 30 (56%) na fase de resistência, 17 (31%) na fase de quase

Rafaela de Almeida Schiavo 36


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

exaustão e 1 (1%) na fase de exaustão, sendo que, 39 (72%)


apresentavam sintomas psicológicos, 7 (13%) sintomas físicos e 5
(9%) sintomas psicológicos e físicos.
       Os resultados sugerem que mães de pelo menos um filho,
apresentam mais estresse do que as que estão grávidas pela
primeira vez. A fase de resistência é prevalente em ambos os
grupos, os sintomas psicológicos são o mais presente para
ambos os grupos. Medidas de prevenção como o oferecimento
de programas de atenção à gestante e apoio psicossocial
poderiam minimizar os problemas decorrentes de estresse
durante a gravidez, contribuindo para uma vivência mais
saudável da gestação, prevenindo perturbações obstétricas e
patológicas, para a mãe e para o bebê.

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SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Sintomas de Estresse,
Ansiedade e Depressão no
Terceiro Trimestre de
Gestação
        O ciclo gravídico puerperal é marcado por alterações
emocionais características desse período, mas em alguns casos
podem ocorrer alterações emocionais significativas,
comprometendo a saúde mental da mulher.
        Encontram-se na literatura vários estudos referentes á
depressão puerperal, com índices de 10 a 15% de mulheres com
depressão pós-parto, em vários países, no entanto, os distúrbios
psíquicos que acometem a mulher durante gestação, seja a
depressão, a ansiedade ou o estresse, têm sido pouco estudados
e precisam ser melhores investigados pelas consequências que
podem ter para o parto e puerpério.
        Este trabalho, de delineamento transversal, teve por objetivo
avaliar sintomas de estresse, ansiedade e depressão em
mulheres no terceiro trimestre de gestação. Foram avaliadas 301
gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde, em três cidades
do interior paulista. A avaliação ocorreu nos locais onde as
gestantes realizavam o pré-natal.

Rafaela de Almeida Schiavo 38


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

       Elas eram convidadas a participar da pesquisa e, as que


aceitavam, assinavam o termo de consentimento livre e
esclarecido e respondiam ao Inventário de Sintomas de Stress de
Lipp (ISSL), Inventário de Ansiedade Traço/Estado (IDATE) e
Inventário de Depressão de Beck (BDI).
        Os resultados indicaram que 182 (60,5%) apresentaram
sintomas de estresse, 8 (4,4%) estavam na fase de alerta, 147
(80,7%) na fase de resistência, 24 (13,2%) na fase de quase
exaustão e 3 (1,6%) na fase de exaustão, 48 (26,4%) apresentavam
sintomas físicos, 120 (65,9%) sintomas psicológicos e 14 (7,7%)
ambos os sintomas.
        Com relação à ansiedade, 107 (35%) apresentaram alta
ansiedade traço, 102 (34%) alta ansiedade estado e 72 (24%)
apresentaram sintomas de depressão.  Os resultados mostram
um alto número de gestantes com sintomas de estresse, a
maioria na fase de resistência, com uma prevalência de sintomas
psicológicos.
        Nota-se também alta a porcentagem de grávidas com
sintomas de ansiedade e de depressão. Avaliar a ansiedade, a
depressão e o estresse durante a gestação, no momento em que
um alto número de grávidas comparecem aos serviços de pré-
natal, pode ajudar a prevenir possíveis prejuízos ao
desenvolvimento do bebê, tais como o nascimento prematuro e
baixo peso, já associados á saúde mental materna.
        Há experiências descritas na literatura de programas de
atenção à gestante que, além de informá-la, aos familiares ou
mesmo aos casais grávidos dos aspectos biopsicossociais da

Rafaela de Almeida Schiavo 39


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

gestação, parto e puerpério, proporcionam um espaço para que


os integrantes possam partilhar sua experiência gestacional, suas
angústias e dúvidas, com benefícios para a saúde mental da
mulher.

Rafaela de Almeida Schiavo 40


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Depressão Gestacional
um estudo exploratório
        Sintomas de depressão são comuns durante a gestação, e
podem ser indicativos de depressão pós-parto. O objetivo desse
trabalho foi avaliar sintomas de depressão em gestantes usuárias
do Sistema Único de Saúde e associar com variáveis de uma
entrevista.
        Participaram 34 gestantes usuárias do Sistema Único de
Saúde de uma cidade do interior paulista. As participantes foram
identificadas junto o setor de agendamento de uma Unidade
Básica de Saúde no dia de consulta pré-natal, não houve critério
de exclusão para participar da pesquisa, as gestantes que
aceitaram contribuir assinaram um termo de consentimento livre
e esclarecido e foram informadas quanto à ausência de ônus para
sua participação e sobre o sigilo das informações por elas
prestadas.
        Após responderem ao instrumento, essas foram informadas
sobre o resultado do teste e as que apresentaram sintomas
significativos de depressão, foram orientadas a procurarem um
profissional da saúde mental. Para a coleta de dados utilizou-se o
Inventário de Depressão de Beck (BDI) e uma Entrevista para
coleta de informações sociodemográficas e da gestação.
        Os resultados indicaram que 24% (n=8) apresentaram
sintomas significativos de depressão. Das participantes 47% (n=16)
eram primigestas e 53% (n=18) multíparas, 9% (n=3) estavam no

Rafaela de Almeida Schiavo 41


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

primeiro trimestre, 23% (n=8) no segundo trimestre e 68% (n=23)


no terceiro trimestre, 85% (n=29) eram adultas e 15% (n=5)
adolescentes.
       Das primigestas 25% (n=4) manifestaram sintomas
significativos de depressão e das multíparas 22% (n=4). Das que
estavam no primeiro trimestre 66% (n=2) apresentaram sintomas
significativos de depressão, no segundo trimestre 37% (n=3) e no
terceiro trimestre 13% (n= 3) apresentaram sintomas significativos.
        Das adultas, 28% (n= 8) manifestaram sintomas depressivos e
das adolescentes nenhuma manifestou. Quanto a escolaridade,
das que apresentaram sintomas significativos de depressão, 63%
(n=5) cursaram até o ensino fundamental e 37% (n=3) concluíram
o ensino médio ou superior. E quanto ao desejo da gestante pela
gravidez 62% (n=5) das que não desejaram a gestação,
manifestaram sintomas significativos de depressão e das que
desejaram 38% (n=3) apresentaram sintomas.
         Os resultados apresentados ainda que com uma amostra
pequena da população, indica que o índice de mulheres que
apresentam sintomas significativos de depressão na gestação é
elevado, quando se leva em consideração que pesquisas
internacionais apontam que esse índice é de 15 a 20%. Outro
resultado que se destaca é que nenhuma gestante adolescente
manifestou sintomas depressivos, nota-se também que há uma
tendência às mulheres com baixa escolaridade, apresentar
sintomas depressivos na gestação, bem como se observou
também prevalência desses sintomas em mulheres que não
desejaram a gravidez.
        Pode-se concluir, portanto, que, durante a gestação é

Rafaela de Almeida Schiavo 42


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

possível já se observar sintomas depressivos no comportamento


materno, podendo esses sintomas ter relação com a
manifestação de depressão-pós-parto. Pesquisas indicam que o
Brasil apresenta índices elevados de mulheres que manifestam
depressão pós-parto, mas ainda é escassa a literatura a respeito
da depressão gestacional, sendo importante que pesquisas iguais
a essa com participação de uma amostra maior sejam realizadas.

Rafaela de Almeida Schiavo 43


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Ansiedade, Estresse e
depressão no terceiro
trimestre da gravidez
        Na gravidez, a ansiedade é uma das desordens mentais
comuns (SILVA et al., 2010) com índices superiores aos do
puerpério (SCHIAVO; RODRIGUES, 2011; BREITKOPF et al., 2006).
Altos níveis de ansiedade na gestação podem, desencadear
depressão no período gestacional (ROSS et al., 2003; HERON et
al., 2004) além de ser indicativo para ansiedade e depressão
puerperal (FAISAL-CURY; MENEZES, 2006; ROSS et al., 2003;
HERON et al., 2004).
        Já o estresse na gestação, em geral, está associado a eventos
específicos como aborrecimentos diários no inicio da gravidez e
ao medo do parto em meados da gestação (BUITELAAR et al.,
2003). Segundo Esper e Furtado (2010) a média de eventos
estressores durante a gestação é de cinco eventos por gestante e
o quadro pode se agravar se no contexto familiar houver situação
econômica difícil, violência doméstica, uso de drogas, depressão,
pânico e complicações pré-natais (COSTA, et al., 1999; SEGATO et
al., 2009; WOODS et al., 2010). Pesquisas apontam que mais de
75% das gestantes, apresentam sinais significativos de estresse
(SCHIAVO; RODRIGUES, 2010; SEGATO et al., 2009; WOODS et al.,
2010).

Rafaela de Almeida Schiavo 44


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

       A depressão pode estar presente antes do nascimento do


bebê. Para Pereira; Lovisi; Lima; Legay (2010), sintomas de
depressão são comuns durante a gestação, principalmente
quando a gestante ainda é uma adolescente. Para eles os
principais fatores associados são: história anterior de depressão,
sangramento anômalo e hospitalização na atual gravidez,
história de acidente, incêndio ou catástrofe e maus-tratos
durante a vida. Há indícios que mostram que a depressão na
gestação pode ter relação com a presença de depressão pós-
parto. Uma pesquisa longitudinal realizada por Faisal-Cury e
Menezes (2012) com 831 gestantes por meio do Self Report
Questionnaire (SRQ - 20) indicou que entre 219 mães que tinham
sintomas depressivos no pós-parto, quase 50% já haviam
apresentado sintomas depressivos durante a gravidez. Este
trabalho teve por objetivo, avaliar a saúde mental de gestantes
no terceiro trimestre de gestação.

Método
        Participaram da pesquisa 205 gestantes usuárias do Sistema
Único de Saúde SUS, todas estavam no terceiro trimestre de
gestação. Os dados foram coletados em Unidades Básicas de
Saúde de três cidades do interior paulistanas. Aplicou-se uma
Entrevista Inicial para obter dados sociodemográficos. Para a
avaliação de ansiedade foi utilizado o Inventário de Ansiedade
Traço/Estado - IDATE. Para a avaliação de stress foi utilizado o
Inventário de Sintomas de Stress de Lipp – ISSL e para a avaliação
de depressão foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck –
BDI.

Rafaela de Almeida Schiavo 45


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Procedimentos de coleta de dados


        As gestantes no início do terceiro trimestre foram
identificadas junto ao setor de agendamento das Unidades
Básicas de Saúde das cidades e foram convidadas a participar da
pesquisa. Receberam todas as informações pertinentes em
relação às atividades realizadas, sendo informadas sobre o sigilo
das informações por elas fornecidas quando da apresentação
dos dados em eventos e publicações da área.
        Explicou-se também, quanto à ausência de qualquer ônus
para a participação na pesquisa, assim como da manutenção dos
demais serviços por elas usufruídos no SUS, em caso de
desistência, ou recusa em participar da pesquisa. A partir do
aceite e redimidas todas as dúvidas, as participantes assinaram
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com
a Resolução 196/96 do CONEP. Procedimento de avaliação: Os
dados foram analisados seguindo os respectivos manuais de
aplicação e correção dos testes IDATE; ISSL e BDI e para análise
quantitativa utilizou-se o programa Statistical Package for the
Social Sciences for Windows 17.
        Os resultados indicaram que 78% das gestantes entrevistas
moram junto com o parceiro, 15% eram solteiras e 6% apenas
namoravam. Quanto a escolaridade, 21% possui ensino
fundamental incompleto, 28% ensino fundamental completo,
48% ensino médio completo e 3% ensino superior completo. A
renda familiar para 40% das entrevistas foi de até um salário
mínimo, 56% de um a três salários, 4% de 3 a 6 salários e 1%
acima de seis salários. Quanto a Ansiedade traço 38% das
gestantes são geralmente ansiosas e 36% apresentaram alta

Rafaela de Almeida Schiavo 46


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

ansiedade-estado, no momento da entrevista.


       Quanto aos estresse 62% das gestantes o manifestaram, 5%
estavam na fase de alerta, 82% estavam na fase de resistência,
12% estavam na fase de quase exaustão e 2% na fase de
exaustão. Quanto aos sintomas de estresse, observou-se que 25%
apresentaram sintomas físicos, 67% sintomas psicológicos e 8%
apresentaram ambos os sintomas. Quanto a depressão 21% das
gestantes apresentaram sintomas depressivos significativos.

Discussão
        Os resultados apresentados indicam que a maioria das
gestantes entrevistadas, moram junto com o parceiro, possuem
ensino médio completo e renda familiar entre um e três salários
mínimos. É possível observar também que uma porcentagem
considerável de gestantes apresentam alta ansiedade no terceiro
trimestre da gravidez. Em relação ao estresse observamos que
esse é um fenômeno marcante no terceiro trimestre de gestação,
mais da metade das participantes apresentaram estresse em
alguma fase, sendo a de maior frequência a fase de resistência
com marcante presença de sintomas psicológicos.
        Já em relação aos sintomas depressivos, observamos que há
também uma porcentagem considerável de gestantes que
apresentam sintomas de depressão, pesquisas indicam que 10 a
20% das mulheres manifestam Depressão Pós-Parto (HANNA;
JARMAN; SAVAGE, 2004; RIGHETTI; BOUSQUET; MANZANO,
2003) e com os dados encontrados nessa pesquisa é possível
pensar que essa porcentagem também vale para mulheres ainda
gestantes, o que sugere que a depressão pós-parto realmente

Rafaela de Almeida Schiavo 47


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

não é mais provável do que a depressão gestacional como já


defendido por Evans et al., (2009).

Conclusão
       Podemos concluir que o terceiro trimestre de gestação
merece atenção especial por parte da equipe de saúde que
atende a gestante, uma vez que temos alta frequência de
grávidas que apresentam algum problema de saúde mental
nesse período como exposto aqui. Programas de atenção a
gestante poderiam ser implantados nas Unidades Básicas de
Saúde, tais programas poderiam ajudar não só no diagnóstico e
encaminhamento para tratamento como também para
prevenção de tais problemas de saúde mental na gestação.

Referência
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gestação e pós-parto. J. Obstet. Gynaecol. Psychosom., v.27, n.3,
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Rafaela de Almeida Schiavo 48


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Ansiedade, estresse e depressão

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Ansiedade, estresse e depressão

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na Segur. Públ., 2° Enc. Nac. de Qual. de Vida no Serv. Públ. Porto
Alegre: ISMA, 2010. 1 CD-ROM. Disponível
em:http://www.ismabrasil.com.br/tpls/163.asp?
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Rafaela de Almeida Schiavo 50


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Ansiedade, estresse e depressão

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Rafaela de Almeida Schiavo 51


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

Fatores de Risco para


Depressão Gestacional de
Mulheres Usuárias do
Sistema Único de Saúde
(SUS)
        Os índices atuais de depressão no Brasil, em diferentes
momentos da vida, que atingem sujeitos de diversas faixas
etárias, faz com que seja considerado um problema de saúde
publica que necessita de programas de intervenção para
remediar e prevenir seus efeitos no individuo e nas pessoas que o
cercam. Durante o Ciclo Gravídico Puerperal, marcado por várias
alterações emocionais e aumento da sensibilidade da mulher, a
depressão pode influenciar o desenvolvimento da gestação,
assim como o bem-estar e saúde materno-infantil.
        Há vasta literatura sobre a depressão-pós-parto (FONSECA;
SILVA; OTTA, 2010; PEREIRA; LOVISI, 2008; GOMES et al., 2010),
mas, estudos recentes  mostram que  a depressão pode estar
presente antes do nascimento do bebê e que  sintomas de
depressão são comuns durante a gestação (PEREIRA, et al., 2010).
Pesquisas indicam que a depressão na gestação está associada a

Rafaela de Almeida Schiavo 52


SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

depressão pós-parto (COX; CONNOR; KENDEL, 1982; EVANS et


al.,2009 ) e a depressão gestacional é mais comum que a
puerperal (PEREIRA; LOVISI, 2008; EVANS, 2009), criando a
necessidade de conhecer os possíveis fatores de proteção e de
risco para planejar sua prevenção e tratamento.
       O Objetivo deste trabalho foi o de identificar a possível
associação de variáveis sociodemográficas de gestantes à
manifestação de Depressão Gestacional.

Metodologia
        Participaram da pesquisa 131 mulheres, no terceiro trimestre
gestacional, usuárias do Sistema Único de Saúde, que foram
contatadas em uma Unidade Básica de Saúde de uma cidade do
interior paulista quando em sala de espera para o pré-natal ou
ultrassom obstétrico. As gestantes responderam a uma Entrevista
Inicial para coleta de dados sociodemográficos, de saúde e sobre
suas expectativas em relação ao parto e ao filho e ao Inventário
de Depressão de Beck- BDI.
        Para analisar os resultados empregou-se analise descritiva e
estatística, utilizando os testes Qui-quadrado, Teste F de Fisher e
adotou-se o nível de 5% de significância.
        Os resultados indicaram que, da amostra como um todo
42% das gestantes eram primigestas; 76% moravam junto com o
parceiro, 49% tinham ensino fundamental completo ou
incompleto, 47% ensino médio completo e 4% superior
completo, 73%  estavam desempregadas. A maioria das
mulheres tinha uma baixa renda familiar, para 41% delas era de
até um salário e 53% tinham uma renda de 2 a 3 salários.

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SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

       Em relação a saúde 5% disseram ter algum problema crônico


de saúde física ou mental e 23% contaram que  desenvolveram
problemas de saúde durante a gestação atual, 13% disseram ser
fumantes, 19%  tinham alguém da família com problemas de
saúde mental. 21% disseram já ter tido algum abortamento e 7%
relataram ameaça de aborto, 61% das gestantes e 68% dos
parceiros das entrevistadas desejaram o bebê. Em relação à
depressão, 21% apresentaram depressão gestacional.
        Houve associação significativa entre algumas variáveis
sociodemograficas, de saúde e as expectativas da gestante e a
manifestação de depressão gestacional: escolaridade (p = 0,01),
problemas de saúde física ou mental da gestante (p = 0,04),
ameaça de aborto na gestação atual (p <0,001) e não desejo da
gestante pela gravidez (p = 0,01).

Conclusões
        Neste estudo, gestantes com menor escolaridade, com
problemas de saúde física ou mental, que passaram no início da
gestação atual por ameaça de abortamento e que não
desejavam a gestação, tinham mais chance de apresentar
depressão gestacional, sendo estas variáveis, potenciais fatores
de risco.
        Outros estudos já haviam demonstrado que dificuldades
financeiras, baixa escolaridade, desemprego, dependência de
substâncias, violência doméstica e ambivalência com relação ao
feto são fortes fatores de risco para depressão durante a gravidez
e no pós-parto (ENGLE, 2009) e sugerem algumas direções para o
planejamento dos serviços de saúde.

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SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO
Ansiedade, estresse e depressão

       Em primeiro lugar, aumentar e facilitar a oferta de serviços de


atendimento à gestante que permita assiduidade ao pré-natal,
ajudando a evitar problemas físicos durante o período, assim
como abortos prematuros. Em segundo lugar, para a prevenção
ou não agravamento dos sintomas depressivos no período
gestacional, colocar em prática atendimentos em saúde focados
em medidas socioeducativas, como serviços psicológicos, onde a
gestante possa falar sobre suas dúvidas e conflitos com relação à
gestação, evitando-se que os sintomas depressivos apresentados
evoluam para o pós-parto, com todas as consequências que esse
quadro possa causar na mulher e no desenvolvimento do seu
filho.

Referências
COX, J. L; CONNOR, J. L. C. Y; KENDELL, R. E. Prospective study of
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Ansiedade, estresse e depressão

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GOMES, L. A et al. Identificação dos fatores de risco para


depressão pós-parto: importância do diagnóstico precoce. Rev.
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gravidez, em adolescentes atendidas em unidade básica de
saúde. Revista de Psiquiatria Clínica. São Paulo, v.37, n.5, p.216-222,
2010.

Rafaela de Almeida Schiavo 56

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