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1955
Impresso nos Estados UnW!os do Brasil
Printed in The United States of Brazil
BIBLIOTECA PEDAGóGICA BRASlLEIHA
THALES DE AZEVEDO
da Fac. lle Filosofia do. Unlvcrsldude da Bahia
AS ELITES A
DE COR
Um estudo de ascensão sociol
PREFACIO
DO PROF. CHARLES WAGLEY
(Columbla Unlversity, N. Y.)
DO MESMO AUTOR
nesta mesma Coleção Brasiliana:
Edi~ ão da
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
Rua dos Gu s m i'>es, 639
SÃO PAULO
SUMÁRIO
CHARLES W AGLEY
Columbia University, N. Y.
INTRODUÇÃO
--
-erã"sil.
0 plano da pesquisa que serviu de base ao
relatório incluiu 1) um inquerito sobre a partici-
pação das pessôas de côr, geralmente descendentes
de africanos ou da miscegenação destes com por-
tuguêses, nos grupos sociais c profissionais de
prestígio c, de modo geral, nos estratos superiores
da estrutura de classes local; 2) uma análise dos
processos de mobilidade vertical daquelas pessôas,
e 3) o exame das opiniões e atitudes dos bahianos,
\ brancos c de côr, em referência ao problema da
aquisição de status e de prestígio por parte dos
últimos.
O trabalho de campo teve início na segunda
quinzena de fevereiro de 1951, cxtendendo-se até
outubro seguinte, sob a minha responsabilidade.
A composição dos grupos sociais e profissio-
nais, segundo os tipos físicos dos seus integrantes,
fez-se por observação direta de situações reais eril
toda a cidade da Bahia, particularmente durante
14 THALES DE AZEVEDO
2
18 TliALES DE A7.EVEOO
cultura.
A realização deste projeto foi uma iniciativa
da UNESCO, (JUe a financiou e tornou possível
graças a um convênio firmado com a Fundação
para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, den-
tro de cujo Programa de Pesquisas Sociais Estado
da Bahia - Columbia University foi levada a
efeito. E' um grato dever para mim agradecer
aos meus .prezados amigos, prof. Charles \Va-
gley, da Columbia University, de New York, pela
esclarecida colaboração que deu á organização do
plano da pesquisa e pelo apoio que á mesma pro-
porcionou como Diretor do aludido Programa, e
prof. Anisio S. Teixeira, pela lúcida discussão de
alguns temas do trabalho e pelo valioso ap.oio que
deu a êste na sua qualidade de Secretário Geral
da Fundação. Cumpre-me tambem mencionar.
o eminente prof. Alfred Métraux, quem, como um
dos Diretores do Departamento de Ciências So-
ciais da UNESCO, aprovou os planos da pesquisa
e a minha Pscolha para dirigi-la, c a quem devo
a gentileza de haver lido as minhas notas de
campo, discutindo comigo vários problemas em
estudo e auxiliando-me com os seus comentários
críticos e a sua autorizada orientação. Registro
igualmente e agradeço a excelente cooperação re-
cebida das minhas assistentes de pesquisa, prof.
:\Im·ia Amelia C. Leite, da Escola de Serviço So-
cial da Bahia, Josildeth S. Gomes e Terêza Car-
doso, minhas alunas do curso de Antropologia da
Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahiu
20 THALES DE A7.EVEDO
TllALES DE AZEVEDO
Janeiro de 1952.
ADDENDUM
Escrita em janeiro de 1952 e publicada no ano seguin-
te, em francês, em edição da UNESCO sob o título de Les
Elites de Cou/eur dans une Ville Brésilienne, esta monogra-
fia é agora editada em seu original de língua portuguêsa
após revisão para atualizar, em notas, alguns dados e
acrescentar indicação mais minuciosa das fontes de infor-
mação.
Não julguei necessário reelaborar ou introduzir mo-
dificações naquele manuscrito, apesar de vir acompanhando
de perto o problema da ascenção social das pessôas de côr.
Nos três anos que decorreram desde a pesquisa em que se
fundamentou a monografia, a situação racial baiana conser-
vou-se essencialmente inalterada. E' assim que os episódios
AS ELITES DE CÔR 21
narrados no texto são anteriores a 1952, a não ser quanc\'
expressamente indicada uma data posterior.
Se nas páginas deste estudo puder ser identificada
alguma pessoa, mencionada por sua destacada atuação na
sociedade baiana, atribua-se aquilo unicamente ao espírito
científico com que foi feito o mesmo trabalho. Omitir qual-
quer caso importante de ascensão social ou de projeção in-
telectual, artística, política, importaria em sacrificar a exa-
tidão com que procurei descrever e analizar a dinâmica
social da Bahia, e até poderia representar uma injustiça
para com algum dos que triunfaram das dificuldades acaso
atribuíveis ao seu tipo físico e que' foram reconhecidos em
nosso meio em virtude dos seus merecimentos. Penso que,
e o riscos de ue se venha a modifi-
car ue não tem na a de 1m o e
remoto se não estivermos vi[ilªj;;~~· a situa ão rac1a 1-
l~a!Hã='êemo gm S:.o ___ lo ou em qu ~r outra
parte, deve ser tratada com objetividade para que possa
ser compreendida no que tem de bom e de máu e, assim
compreendida, seja preservada e aperfeiçoada. Não acredito
que o tratamento científico do problema possa agravá-lo e
muito merios deva molestar àquele envolvidos no mesmo e
que seriam os mais prejudicados se a situação, por desco-
nhecimento da realidade em todos os seus aspetos, viesse a
mudar, por pouco que fôsse, em sentido negativo.
· Creio mesmo necessário que a sociedade baiana, ou pelo \
menos os orientadores da educação, da política, das rela- ·
ções humanas em todos os setôres de atividade e particular-
mente os antropólogos e sociólogos, que estudam a sua cul-
tura, conheçam bem como o problema das relações inter-ra-
ciais se processa na Bahia e no resto do Brasil para quo
possam colaborar para que a nossa terra possa sempre ser
apontada como uma daquelas raras, em todo o mundo ho-
dierno, em que pessôas de origens étnicas diferentes con-
vivem de modo bastante satisfatório sem embargo da di-
versidade e até do contraste entre seus tipos físicos.
Agosto de 1954. T. A.
OS 1,IPOS lt'rNICOS BAIANOS
3
1.'IIALES DE AZEVEDO
Denominações A B c D
B1·ancos 19 14 21 {)
Brancos da terra 1 11 2
Morenos 4 6 19
Mulatos 6 5 1 5
Nota; A, o Autor; B, moça branca; C, estudante
mestiça; D, funcionário mestiço.
~
A locução "pr.~to de alma Jn:.ru1~1." é tão em-
pregada na Bahia quanto -rio resto do mundo I
onde se crê que um prelo pm:a ser bom deve te1·
\ j
as qualidades do branco. O mais significativo
é que essa concepção tem adeptos mesmo entee rn
a gente de côr. ()
c:)
A mãe, morena, de uma informante diz que '>
"o negro é preto por dentro e por fora" e que ()
ela, se tivesse de casar novamente, não o faria
com um homem como o seu marido. Na publi-
~·
o
cação com que uma associação de pretos come-
morou, fazem vinte anos, o primeiro centenúrio
m
ffi
da sua fundação, lê-se, Jogo á primeira página, r
que "se percorrermos o arquivo da Sociedade, õ~
folheando os seus livros, encontraremos o con- m
traste da sociedade, homens pretos com ideais o)>
nobilissimos, caratéres perfeitos, sentimentos
irreprovaveis, sobretudo projetos de futuros im-
portantíssimos" (39). Felizmente há tambem os
que negam a inferioridade intelectual e moral do
v
negro. Num artigo anexo aos estatutos de outra
organização de gente de côr explica-se que "o
que acontece, porém, é que o negro por ser pobre
falta-lhe a tranquilidade espiritual necessária, a
que se dê no seu espírito a evolução do pensa- ;
5
THALES DE AZEVEDO
6
82 THALES DE AZE\'EDO
O CO~lÉR.CIO
7
!)8 TH,\LES DE AZEVEDO
8
114 THALES DE AZEVEDO
10
OS ESPORTES
68.8
Heotlços
30.0
Prdos
1.1
Engenheiros civis 518 72.8 26.8 0.3
Médicos 1. 712 81.1 16.9 2.0
Farmaceuticos 173 82.0 14.4 3.6
11
162 TIIALES DE AZEVEDO
J~
178 THALES DE AZEVEDO
QUADRO I
TIPOS FíSICOS DOS SóCIOS DE UM CLUBE
RECREATIVO DE "CLASSE ALTA"
Profi~sõrs
I Bran~os I
- - --
Morenos I ~!ulntos I
Totais
N.• lrorcent. N.o lporcent. N.o lporcent.
I
Comérciot agricultura,
indústria ............... 396 76,89 85 16, r;o 34 6,60 515
Funcionários públicos ..... 40 68,96 11 18,96 7 12.06 58
.\1ilitnrcs., ................. 12 57,10 5 23, ao 4 19,00 21
Artista~, Professores ...... 3 i'iO, 00 3 i'iO,OO 6
TCcnicos (Qufmiro•, Agrt>-
nomos. De~r nhi~tas,
Protelicos, Tradutor etc) 2:1 62,10 11 29, 70 3 8,1 Si
Profis~õcs liberais:
A~tvogados ............. 96 58 13 167
l\!~dico>, Dentistas,
Farmaceuticos ....... 142 62,03 79 30,05 20 7,90 24!
Engenheiros civis ...... 71 34 11 116
Estudantes ............. 24C 95 26 SGl
QUADRO 11
TIPOS FíSICOS DOS SóCIOS DE UM CLUBE RECREA-
TIVO DO GRUPO SOCIAL INTERMÉDIO
........
Profissões
Brancos I
Morenos
----- -----
I
Mulatos Pretos I Totais
I
N. 0 lporcent. N.• lporcent. N. 0 lporccnt. N.o lrorrcnt.
Comerciantes,
empregados
no comercio .. 246 36,28 267 39,38 1fl3 24,04 2 0,29 678
Funcionários
públicos ••.•. 81 41,96 74 38,34 38 19,68 193
Militares ....••. 6 28,56 11 52,37 4 19,04 21
Artistas, IJrole-
ssores ....... 4 17,39 11 47,82 7 30,43 1 4, 34 23
T~cnicos ...•••. 8 33,66 5 to, 51 12 40,74 2 7, 40 27
Prol. liberais,
estudantes .••.. 79 45,66 31 17,91 61 il5, 26 2 1. 15 17:}
QUADRO IH
TIPOS FfSICOS DOS MEMBROS DE UMA IRMANDADE
RELIGIOSA DA "CLASSE ALTA"
~-· .
···- .. ·--·-
Profissões IBrancos I
Morenos Mulatos I
N.o lporcent. N.o lporcent. N.o lporcent.
Totais
I
Comércio agricultura,
industria •.....• ••.... . • 419 84,98 59 11,98 15 S,04 493
Funcionários público• • .. . . 57 81,42 12 17,14 1 1,42 70
Militares ..•..•.... . . . .....• 6 85,71 1 14,29 7
/I rtistns, Professores ....... :J 60,00 40,00 5
Técnicos ... .. ..... . ........ 14 93, 33 21 1 11,67 15
Profissões liberai• .. . . . . . . . 192 79,01 48 19,75 s 1, 23 243
Eatud11ntes .. . ......... . .. . . 64 82,05 10 12,82 4 5,12 78
Padres, inclu1ive 6 bispos 14 48, 27 15 51, 7S 2!1
Profissões nl!o indicadas ..• 49 76.56 10 16,62 5 7,81 64
BIBLIOTÊC;