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Cipriano C, Luckesi nna Publicagdo (CIP) jvro, SP, Brasil) AVALIACAO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR DEDALUS - Acervo - EERP ONAN A 10400001227 IF edigéo ol SESioRA CAPITULO 1x Avaliagao da Aprendizagem Escolar: um ato amoroso Durante muitos anos de trabalho com a avaliago da aprendizagem escolar, dediquei-me a desvendar as tramas nas quais essa pritica se constitui e vem sendo exercitada em nossas escolas: uma prética ameacadora, autoritétia e seletiva Portanto, ao longo desse tempo, vim denunciando 0 processo de exelusdo que a pritica da avaliacao da aprendizagem escolar exercita, melhor dizendo, tem exercitado em relagio aos edu. ¢andos, no pasado e no presente, Ainda que em todas as minhas falas e escritos tenha me preocupado tanto com a dentincia da situaco escolar concreta quanto com © antincio de possibilidades de agdo, parece que tenho ressaltado mais 0 aspecto negativo da avaliagao da aprendizagem escolar. Desejo, nesta oportunidade, essencial- mente, abordar os seus aspectos positivos. Quero clarificar como 0 ato de avaliar a aprendizagem, por si, é um ato amoroso, Entendo que o ato de avaliar é constitutivamente, Amoroso, Convido leitor a viajar comigo nesta meditagio. Provas/exames © avaliagio da aprendizagem escolar A pritica escolar usualmente denominada de avaliagao da aprendizagem pouco tem a ver com avaliagao, Ela constit-se 168, mnuito mais de provas/exames do que de avaliacio. Provasfexa- mes {2m por finalidade, no caso da aprendizagem escolsn eriicar o nivel de desempenko do educando em determninade tarnae {entendendo por contetido o conjunto de informagées, babilidades motoras, habilidades mentais, conviegées, cristivi, dade ete.) & classificd-lo em termos de aprovacio/reprovagio (Para tanto, podendo utilizar-se de niveis variados, tals como, Superior, médio-superior, médio, médio-inferior, inferior, sem. Daxcimento; ou notas que variam de 0 a 10, ou coisa semelhante), Hesse modo, provas/exames separam os “eleitos” dos “ni eleitos”. Assim sendo, essa prética exclui uma parte dos alunos « admite. como “aceitos”, uma outra. Manifesta-se, pois, como uma pritica seletiva Essa caracterfstica das provas/exames no é graciosa, Ela esti comprometida, como tenho denunciado em textos ¢ falas, com © modelo de pritica educativa e, conseqiientemente, com © modelo de sociedade, 20 qual serve. A prética de provas/exa imes ‘escolares que conhecemos tem sua origem na escola fmodema, que se sistematizou a partir dos séculos XVI ¢ XVII, com a ‘crstalizago da sociedade burguesa. AS. pedagogias Jesuitica (s6e. XVI), comeniana (séc. XVID), lassalista (fine do século XVI e inicios do XVIII) so expressdes das experiéncias edagdgicas desse periodo ¢ sistematizadoras do modo de agit com provas/exames. A prética que conhecemos é herdeira desea época, do momento histérico da cristalizacéo da sociedade burguesa, que se constitui pela exclustio ¢ marginalizagdo de grande parte dos elementos da sociedade. A sociedade burguesa é uma sociedade marcada pela exclustio © marginalizagao de grande parte de seus membros. Ela nio se constitu; num modelo amoroso de sociedade. Seria sua negacdo. Basta observar que os slogans da Revolugao Francesa (revolugio burguesa Por exceléncia), por si, eram amorosos, mas nenhum deles pode ser traduzido em pritica hhistérica concreta dentro dessa Sociedade. A liberdade © igualdade foram definidas no limite da lei; evidentermente, no limite da lei burguesa. E a fraternidade Permaneceu como palavra que o vento levou. Praticar a fra. emidade seria negar as possibilidades da sociedade burguesa, due tem Por base a exploragio do outro pela apropriagéo do excedente do seu trabalho, ou seja, pela apropriagdo da parte 169 € € 6 C « € € ¢ t € ¢ € t € ¢ € € € € & ¢ © 6 & CS e e € « « e e - ‘ndo-paga do trabalho alheio'. Neste contexto, o ato pedagégico , ainda menos, 0 ato das provasexames poderiam ser um ato amoroso. Para serem amorosos esses atos opor-se-iam 20 modelo de sociedade do qual emergem e no qual se sustentam. Para servir & sociedade burguesa, como servem, deveriam ser, como tém sido, atos antagdnicos, autoritérios, seletivos; e, por vezes, rancorosos”. ‘A denominagao avaliagio da aprendizagem é recente. Ela € atribuida a Ralph Tyler’, que a cunhou em 1930. © proprio ‘Tyler reivindica para si essa autoria em texto recentemente publicado e os pesquisadores norte-americanos da rea de avaliagao da aprendizagem reconhecem a Tyler 0 direito dessa patemidade, definindo 0 perfodo de 1930 a 1945 como o perfodo “tyleriano” da avaliagao da aprendizagem, Mudou-se a denominacao, mas a prética continuou sendo a mesma, de provas e exames. Tyler inventou a denominagio de avaliagio da aprendizagem e militou na prética educativa defendendo a idéia de que a avaliagio poderia ¢ deveria subsidiar um modo eficiente de fazer o ensino. Outros, no mundo todo, ao seu lado ou um pouco depois, militaram na mesma perspectiva. Porém, no geral, a pratica escolar de acompanhamento do proceso de crescimento do educando continuou sendo de provas ¢ exames. Libaneo, em seu estudo sobre a pritica pedagégica dos professores das escolas piiblicas 1. A obra de Marx & uma profunda andlise da sociedade capitlista © 00 primeizo lio de O capital os estudos sobre a mais-valia absoluta ¢ relativa no ‘deixam dividas sobre os fundamentos da constiuigso da sociedade burguesa; a rmais-valia nada mais representa do que a exploragio do homem pelo homem para garatir 0 capital, que ¢ a base da sociedade burguesa. 12, A experiéncia educacional escolar, genericamente falando, di-se como se ‘© professor tivesse todos os alunos como seus inimigos e os alunos tivessem, previamente, 0 professor como seu inimigo. Esse antagonismo se mostra na sua {ntegralidade, quando 0 tema sio provas © exames. O professor deseja “pegar (8 alunos pelo pe ¢ 08 alunos desejam manobrar 0 professor. Os sujeitos ‘educador ¢ educando no se colocam como atiados da construsio bem-sucedida dda aprendizagem — 0 que seria © ideal. 3. Ralph Tyler & um edveador norte-americano, que se dedivou a questio ‘de um ensino que fosse eficiente, No Brasil, ele & canhecido pelo seu liveo Principios basicot de curriculo ¢ ensino, wadurido ¢ publicado pela editors Globo, Porto Alegse, 1974, 170 de Sao Paulo, reconhece que a avaliagdo da aprendizagem é (© Ambito da ago pedagdgica em que os professores so mais resistentes A mudancat, Essa prética € dificil de ser mudada devido ao fato de que a avaliagio, por si, € um ato amoroso e a sociedade na gual est sendo praticada no € amorosa e, dal, vence a sociedade e néo a avaliagdo. Em nossa pritica escolar, hoje, uusamos a denominagdo de avaliagio e praticamos provas e exames, uma vez que esta € mais compativel com o senso comum exigido pela sociedade burguesa e, por isso, mais facil € costumeira de ser executada, Provas e exames implicam julgamenio, com conseqiiente exclusio; avaliagdo pressupde acolhimento, tendo em vista a transformagdo. As finalidades e fungées da avaliagdo da aprendizagem sio diversas das fina- lidades e funges das provas e exames. Enquanto as finalidades « fungGes das provas ¢ exames so compativeis com a sociedade burguesa, as da avaliagio a questionam; por isso, torna-se Gificil realizar a avaliag4o na integralidade do seu conceito, no exercicio de atividades educacionais, sejam individuais ou coletivas. Avaliagdo da aprendizagem escolar como um ato amoroso © alo amoroso aquele que acolhe a situago, na sua verdade (como ela €). Assim, manifesta-se 0 ato amoroso consigo mesmo © com os outros. O mandamento “ama o teu prGximo como a ti mesmo” implica 0 ato amoroso que, em primeiro lugar, inclu a si mesmo e, nessa medida, pode incluir ‘5 outros. O ato amoroso é um ato que acolhe atos, agdes, alegrias € dores como eles sio; acolhe para permitir que cada coisa seja 0 que é, neste momento. Por acolher a situagdo ‘como ela €, 0 ato amoroso tem a caracteristica de nao julgar. Julgamenros aparecerio, mas, evidentemente, para dar curso & vida (@ agio) © no para excluf-la. Na passagem de Maria 4, José Carlos Libineo, Tendéncias pedagégicas dos professores das escolar iiblicas de $d0 Paulo, Tese de Mestrado, PUC-SP, 1982. im Madalena, Jesus Cristo incluiu-a no seio dos seres humanos ‘comuns, enfrentando os fariseus com a frase: “Atire a primeira pedra, quem no tiver pecado”. Com essa expressio, ele a acolheu; e, porque acolhida, Madalena foi curada no corpo & na alma, © acolhimento integra, 0 julgamento afasta. Todos necessitamos do acolhimento por parte de nés mesmos ¢ dos outros. $6 quando acolhidos, nos curamos. O primeiro paso para a cura é a admissio da situagdo como ela é. Quando no nos acolhemos e/ou ndo somos acolhidos, gastamos nossa energia nos defendendo e, a0 longo da existéncia, nos acos~ tumamos as nossas defesas, transformando-as em nosso modo permanente de viver’. Em sintese, 0 ato amoroso € acolhedor, integrativo, inclusivo. Defino a avaliagdo da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliacdo, por si, € um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliagio de julgamento. O julgamento € um ato que distingue 6 certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo 0 segundo, ‘A avaliagdo tem por base acolher uma situagio, para, entio (e 86 entio), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-the suporte de mudanga, se necessério’, A avaliagao, como ato 5, 0 acolhimento € condigéo da cura. Nés cfiamos nossos mecanismas de defesa como estratégias de sobrevivéncia, No decorer da vida, necessitévamos sobreviver e tivemos nos defender das "intempésie". A nossa defesa, por vezes, Tornou-se crOnica, petdendo 2 flexblidade de expandir e contrat, eriando, deste ‘modo, um mecanismo de defesa ctGnico (necessitamos ter mecanismos de defesa ‘gaanti 4 nossa sobrevivéncia, porém cles godem e devem ser flexveis; ‘io erdnicos). Vivendo e sobrevivendo na defesa, nem nds mesmos somos mais Capazes de nos acolhermos. Entio, no hf camino para a cura. O posto de putida para toda cura € 0 reconkecimento acolhedor do que existe. Nossos mecanismos de defesa nos prendem ao patsado e, muitas vezes, nos obrigamm a assumir attudes regressivas (que aio sto adults). O sto amoroso é um ato “adulto”, € um ato de quem esté reagindo em conformidade com os dados da realidade presente © ndo em conformidade com experitncias regressivas. Ver Withelm Reich, A fingao do orgaemo, Sto Paul, Brasliense, 1984, 6, Estou fazendo uma distingSo ene julgameato ¢ avaliaglo, no sentido de ‘que o julgamento define ma situ, do panto de vista do sim © do nso, do Certo e do errad; a avaliagdo acolhe alguma coisa, ato, pessoa ou situagdo ¢, entlo, reconhece 2 eon € (dingndstca), para una tomada de decisio sobre a possibilidade Je ui melhoria de sua qualidade; para a avaligio nfo hé uma. Scparayio eife © certo e ertado; hi o que existe © esta situagio que existe € acolhida, para ser modifieads, Na avaliag%o, nto hd exclusio, In? diagnéstico, tem por objetivo a inclusio € ndo a exclusio; a incluso endo a selecdo (que obrigatoriamente conduz & exclusio). O diagnéstico tem por objetivo aquilatar coisas, atos, situagdes, pessoas, tendo em vista tomar decisées no sentido de criar condigdes para a obtencdo de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo. Transportando essa compreensio para a aprendizagem, podemos entender a avaliagdo da aprendizagem escolar como um ato amoroso, na medida em que a avaliacdo tem por objetivo diagnosticar e incluir 0 educando, pelos mais variados meios, no curso da aprendizagem satisfatéria, que integre todas fas suas experiéncias de vida. A pritica de provas exames exclui parte dos alunos, por basear-se no julgamento, a avaliag3o pode inclu‘-los devido 10 fato de proceder por diagndstico e, por isso, pode oferecer-Ihes condigdes de encontrar 0 caminho para obter melhores resultados na aprendizagem’ Simbolicamente, podemos dizer que a avaliagéo, por si, & acolhedora e harménica, como 0 cfrculo € acolhedor ¢ harménico. Quando chamamos alguém para dentro do. nosso circulo de amigos, estamos acolhendo-o. Avaliar um aluno com dificuldades € criar a base do modo de como inclaf-lo dentro do circulo da aprendizagem; 0 diagnéstico permite a deciséo de direcionar ou redirecionar aquilo ou aquele que esta preci- sando de ajuda. 7, Talvex um exemplo ajude @ compreender 0 que esté sendo exposto. O cexame vestibular (nfo vamos entrar aqui na discusso de sua validade educacional ‘0 social) seleciona, ov seja, dentre os muitos demandantes, ele seleciona uma pare. Ai nde tems selecdo; alguns #80 acolhides, outs sto exclidos. Os alunos ‘que foram acolhidos ingressam na Universidade e vamos dizer que um grupo Ade ins aluoy compos una (una, wo pescuiso da atividade de casino, eso alunos no deveriam mais ser selecionados, mas sim avallados, © que significa {gue eles deveriam ser euidados para que viessem a aprender © a se desenvotver. ‘Assim sendo, © vestibular nio pratica avaligea0 educaclonal, como estamos compreendendo, mas sim seleedo; a sala de aula aio pode pratcar seleggo, mas sim avaliagio, s esté de fato, voltada para 0 crescimento do educando. 173 PRRAAABAAAPAMMAADTIDINIDVDDID MDD DD PSPFPF SPV SS see See eee see eee eee ee Uso escolar da avaliagéo da aprendizagem A avaliagdo da aprendizagem na escola tem dois objetivos auxiliar 0 educando no seu desenvolvimento pessoal, a partir do processo de ensino-aprendizagem, e responder & sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado. De um lado, a avaliacdo da aprendizagem tem por objetivo auxiliar 0 educando no seu crescimento e, por isso mesmo, nna sua integracdo consigo mesmo, ajudando-o na uprupriayao dos contetidos significativos (conhecimentos, habilidades, habi- tos, convicges). A avaliagio, aqui, apresenta-se como um meio constante de fornecer suporte a0 educando no seu proceso de assimilagdo dos contetidos e no seu processo de constituicao de si mesmo como sujeito existencial ¢ como cidadao. Diag- nosticando, a avaliagdo permite a tomada de decisio mais adequada, tendo em vista 0 autodesenvolvimento € 0 auxilio externo para esse processo dé autodesenvolvimento. Por outro lado, a avaliago da aprendizagem responde a uma necessidade social. A escola recebe 0 mandato social de educar as novas geragdes ¢, por isso, deve responder por esse mandato, obtendo dos seus educandos a manifestagdo de suas condutas aprendidas e desenvolvidas. O ,histérico escolar de cada educando é 0 testemunho social que a escola dé a0 coletivo sobre a qualidade do desenvolvimento do educando. Em fungio disso, educador e educando tém necessidade de se aliarem na jornada da construgao da aprendizagem. Esses dois objetivos s6 fazem sentido se caminharem juntos. Se dermos atencao exclusivamente ao sujeito indivi- dual, podemos cair no espontanefsmo; caso centremos nossa tengo apenas no segundo, chegaremos ao limite do auto- ritarismo. © caminho € 0 do meio, onde 0 crescimento individual do educando articula-se com 0 coletivo, no no sentido de atrelamento & sociedade (estar a servigo da sociedade), mas sim no sentido de responsabilidade que a escola necessita ter como educando individual e com o coletivo social (com as pessoas que compdem a sociedade, com suas, preciosas vidas). ‘A escola testemunha as pessoas a qualidade do desenvolvimento dos educandos ¢ cada um de nds aceita esse testemunho 174 acatando cettificados ¢ diplomas escolares. Sempre desejamos saber seo profissional que utilizamos é formado ¢ como é formado, Esse testemunho € dado pela escola. Assim sendo, a avaliagdo da aprendizagem escolar auxilia 0 educador e o educando na sua viagem comum de crescimento, © a escola na sta responsabilidade social. Educador e educando, aliados, constroem a aprendizagem, testemunhando-a a escola, e esta a sociedade. A avaliagio da aprendizagem neste contexto € um ato amoroso, na medida em que inclui o educando no seu curso de aprendizagem, cada vez com qualidade mais satisfatéria, assim como na medida em que o inclui entre os bem-sucedidos, devido ao fato de que esse sucesso foi construido a0 longo do processo de ensino-aprendizagem (0 sucesso néo vemn de graca). A construgio, para efetivamente ser construgdo, necessita incluir, seja do ponto de vista individual, integrando aprendizagem € 0 desenvolvimento do educando, seja do ponto de vista coletivo, integrando 0 educando num grupo de iguais, 0 todo da sociedade. lados necessdrios com a pratica da avaliagao agem escolar No que se refere &s fungdes da avaliagio da aprendizagem, importa ter presente que ela permite o julgamento e a conseqiiente classificago, mas eséa ndo é a sua fungdo consttativa,E importante estar atento & sua funcdo ontolégica (constitutiva), que € de diagnéstico, e, por isso mesmo, a avaliagio cria a base para a tomada de decisio, que 6 0 meio de encaminhar os atos subse- Giientes, na perspectiva da busca de maior satisfatoriedade nos resultados'. Articuladas com esta funcdo bisica esto 8. As observagdes que se sequem, especialmente no que se refere As Fungées a avaliagio © a0s elementos necessirios da construgio de insirumentos. de avaliagko da aprendizagem, foram inspiradas no capitulo "Testes como auxiio & aprendizagem”, de Norman Grounlund, do seu lio Elaboragdo de testes. de ‘aproveitamento escolar, Sto Paolo, EPU, 1974. Grounlund € um teznopedagogo. mas, neste texto, manifestase auth e sensfvel &s questdes bésicas da avaliagio como subsidiétia de decisoes fundamentais para 0 ensino. 175 a) a fungio de propiciar a autocompreensdo, tanto do ‘educando quanto do educador. Educando e educador, por meio dos atos de avaliagdo, como aliados na construgdo de resultados satisfat6rios da apreadizagem, podem se autocompreender no nivel € nas condigdes em que se encontram, para dar um salto a frente. $6 se autocompreendendo € que esses sujeitos do processo educative podem encontrar o suporte para 0 desen- volvimento. Em primeiro lugar, é necessério ter consciéncia de onde se esté, tendo em vista escolher para onde ir. Por meio dos instrumentos de avaliagio da aprendizagem, 0 edu- cando poderd se autocompreender com a ajuda do professor, mas este também poderé se autocompreender no seu papel pessoal de educador, no que se refére ao seu modo de ser, as suas habilidades para a profissao, seus métodos, seus recursos didaticos etc. Como aliados do processo ensino-aprendizagem, educador e educando podem se autocompreender a partir da avaliagao da aprendizagem, o-que traré ganhos para ambos para o sistema de ensino; b) a fungdo de motivar 0 crescimento. Na medida em que ocorre 0 reconhecimento do limite e da amplitude de onde se esté, descortina-se uma motivagao: para prosseguimento no percurso de vida ou de estudo que se.esteja realizando. A avaliagao motiva na medida mesmo em que diagnostica e cria © desejo de obter resultados mais satisfat6rios. Tradicionalmente, a avaliagio da aprendizagem tem sido desmotivadora. Os educandos se sentem mal com os comentérios desabonadores feitos pelos educadores no momento de devolver-lhes 05 re- sultados de seus trebalhos. Muitas vezes so comentérios ne- gativos € desqualificadores. Assim se desmotivam. Contudo, avaliagdo pode € deve ser motivadora para 0 educando, pelo reconhecimento de onde esté e pela conseqiiente visualizagio de possibilidades; ©) a fungdo de aprofundamento da aprendizagem. Quando se fiz um exerefcio para que a aprendizagem seja manifestada, fesse mesmo exercicio jf € uma oportunidade de aprender 0 contetido de uma forma mais aprofundada, de fixd-lo de modo mais adequado na mem@ria, de aplicé-lo ete: O exercicio da avaliagdo apresenta-se, neste caso, como uma das miltiplas 176 oportunidades de aprender. Fazer um exercicio a mais, se exeroicio € suficientemente significativo, é um modo de aprender mais. A assimilagdo dos contetidos escolares se dé pela recepcio da informaao e por sua assimilagio ativa, por meio de exercfcios que organizam a experiéncia e formam as habilidades € 05 hdbitos. As atividades na pritica da avaliagao da apren: dizagem tém o destino de possibilitar a manifestacio, a0 educador © a0 préprio educando, da qualidade de sua possivel aprendizagem, mas possibilita também, ao mesmo tempo, o aprofundamento da aprendizagem. Os exercfcios que sao executados na pritica da avaliagdo podem e devem ser tomados como exercicios de aprendizayem. 4) a fungiio de auxiliar a aprendizagem. Creio que, se tivermos em nossa frente a compreensio de que a avaliagdo auxilia a aprendizagem, e 0 coragao aberto para praticarmos este princfpio, sempre faremos bem a avaliagao da aprendizagem, juma vez que estaremos atentos as necessidades dos nossos educandos, na perspectiva do seu crescimento. Entdo, estaremos fazendo o melhor para que eles aprendam e se desenvolvam, Para cumprir as fungdes acima especificadas da avaliagao da aprendizagem, importa estarmos atentos a alguns cuidados com 05 instrumentos utilizados para operacionalizé-la: 1. ter cigncia de que, por meio dos instrumentos de avaliagao da aprendizagem, estamos solicitando ao educando que manifeste a sua intimidade (seu modo de aprender, sua aprendizagem, sua capacidade de raciocinar, de poetizar, de criar est6rias, seu modo de entender e de viver etc.) Nao podemos, pois, aproveitar essa sua manifestagdo para “tomar posse” dele. Temos de respeitar essa sua intimidade e cuidar dela com carinho, utilizando-a como suporte de diagnéstico, da troca dialégica e da possfvel reorientagdo da aprendizagem tendo em vista 0 desenvolvimento do educando”; 2. construir os instrumentos de coleta de dados para a avaliagdo (sejam eles quais forem), com atengdo aos seguintes pontos: 9. # imeressante ver as observagoes de Miche! Foucault, em Vigiar e punir, Peardpolis, Vozes, 1979, na parte relativa 8 disciplina na escola, em que discute 1 questio do significado dos exames numa sociedade marcada pela disciplina 17 2? PATA AMRAARAMINAA FRRRIARAAT + articular o instrument com os contetidos planejados, ensinados ¢ aprendidos pelos educandos, no decorrer do periodo escolar que se toma para avaliar. Nao se pode querer que 0 educando manifeste uma aprendizagem que no foi proposta nem realizada; * cobrir uma amostra significativa de todos os contetidos ensinados © aprendidos de fato. Caso os contetidos sejam essenciais, todos devem ser avaliados; contetidos que nio slo essenciais ndo devem nem mesmo ir para 0 planejamento, quanto mais para o ensino e, menos ainda, para a avaliacao. + compatibilizar as habilidades (motoras, mentais, imagi- nativas...) do instrumento de avaliagio com as habilidades trabalhadas ¢ desenvolvidas na pritica do ensino-aprendizagem. Nao se pode admitir que certas habilidades sejam utilizadas nos instrumentos de avaliaeio caso no tenham sido praticadas no ensino;, + compatibilizar os niveis de dificuldade do que esté sendo avaliado com os niveis de dificuldade do que foi ensinado © aprendido. Um instrumento de avaliagao da aprendizagem ndo tem que ser nem mais fécil nem mais dificil do que aquilo gue foi ensinado e aprendido. © instrumento de avaliagao deve ser compativel, em termos de dificuldade,.com o ensinado; + usar uma linguagem. clara e compreensfvel, para salientar © que se deseja pedir. Sem confundir a compreensio do educando no instrumento de avaliagao. Para responder ao que pedimos, o educando necessita saber com clareza o que estamos solicitando. Ninguém responde uma pergunta, caso nao a com- preenda; + por tiltimo, construir instrumentos que auxiliem a apren- dizagem dos educandos, seja pela demonstragdo da essencia- lidade dos conteddos, seja pelos exercicios inteligentes, ou pelos aprofundamentos cognitivos propostos. Caso 0 educador tenba o desejo de verificar se os educandos sto capazes de saltos maiores do que aquilo que foi ensinado, poderé. construir algumas questées, itens ou si- tuagées-problemas que exijam para além do ensinado e do aprendido, porém n&o deverd considerar 0 desempenho do 178 ‘educando nesses elementos para efeito de aprovacdo/reprovagao (Caso se esteja trabalhando com tais pardmetros), mas tio-so- mente como diagnéstico do desenvolvimento possivel dos edu- candos"® Por dltimo, entre os cuidados no processo de avaliagao da aprendizagem, € preciso estarmos atentos ao processo de correcio e devolugio dos instrumentos de avaliagao da apren- dizagem escolar aos educandos: ) quanto & corregéo: no fazer um espalhafato com cores berrantes. Nao tenho nada contra 0 vermelho, considero-o uma cor forte. Por isso mesmo € utilizado para chamar a atengao. Bla € carregada de expresses negativas do cotidiano: “estou operando no vermelho"; “obtive uma nota em vermelho”, “o boletim do meu filho, neste més, teve trés notas em vermelho”.. Pode-se usar um lépis; nao é necessério borrar 0 trabalho do aluno, desqualificando-o. Tendo um afeto positive, cada pro- fessor saberé a melhor forma de cuidar da correcéo dos trabalhos dos seus educandos!'; b) quanto a devolugio dos resultados: penso que o professor deve, pessoalmente, devolver os instrumentos de avaliazo de aprendizagem aos educandos, comentando-os, auxiliando o edu- cando a se autocompreender em seu proceso pessoal de estudo, aprendizagem e desenvolvimento. Creio que no devemos man- dar alguém entregar os instrumentos apés a corregao, Nés recebemos das mios de cada aluno; qual seria a razio para ‘do entregarmos de volta as mios de cada um? Mandar eatregar € uma forma de suprimir a possibilidade de um proceso dial6gico © construtivo entre 0 educador ¢ 0 educando, 10, Norman Grounlund, tratando desta questdo em seu lio Blaboragdo de testes para o ensina, Sio Paulo, Pioneira, 1979 sugere que um meso teste trabathe com dominio e com 0 desenvalvimento, para a avliagao do primeito, utliza-se a avaliago por eritéro, e, para a do segundo, a avaliapfo por norma, Neste processo sé se levaria em eonsderasio, para a promagéo do educando, a parte do teste relativa a0 dominio. A parte celativa & norma seria ulizada para ‘iagnosticar as possibilidades de avangos dos educandos pare além 40 minimo ecesssrio, Nesta perspectiva, vale a pena ver esse texto. 1. Adsiana de Oliveira Lima, em seu liv Avaliagdo escolar: juigamento consirugdo, PetrSpois, Vozss, 1994, oferece consideragdes ineresanes sobre 4 pritica escolar de comesto dos instrumentas de avaliagEo da aprendizagem, 179 Concluindo © ato de avaliar, por sua constituiggo mesma, nfo se destina a um julgamento “definitivo™ sobre alguma coisa, pessua ou situagio, pois que no € um ato seletivo. A avaliagdo se destina ao diagnéstico e, por isso mesmo, 2 inclusio; destina-se a melhoria do ciclo de vida. Deste modo, por si, € um ato amoroso. Infelizmente, por nossas experiéncias hist6rico-sociais e pessoais, temos dificuldades em assim compreendé-la € praticé-la, Mas... fica 0 convite a todos nés. E uma meta a ser trabalhada, que, com 0 tempo, se transformard em realidale, por meio de nossa ago. Somos responsaveis por esse proceso. RUSP/2005 Proc. 06.1.175.22.3 Livraria Tecmedd Itda N.Fiseal: 32952 RS 13,93 Curso: Enfermagem Noturno ROOM OADAMOMAMANIATAD eee

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