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7 para 8 anos. Não tinha ideia do que era embreagem. Mas sabia que queria
um carro e que, para que um dia pudesse sentir os cabelos ao vento enquanto
ao ano. Moeda na época: cruzeiro. O real ainda não existia (ele foi instituído
em 1994). As pessoas precisavam de muitas notas de um dinheiro
Foi nesse contexto que aconteceu algo que mudaria o rumo da minha e,
dia, durante nossos papos filosóficos, uma das meninas, a mais abastada de
– Meu pai abriu uma poupança para me dar um carro de presente quando
eu fizer 18 anos.
somos – três meninas. Me pareceu óbvio que meu pai também tinha aberto
uma poupança para que eu tivesse um carro aos 18. Assim como para minhas
irmãs.
E a resposta foi:
– HAHAHAHAHAHA.
Hoje, pensando naquele dia, fico imaginando o que deve ter passado pela
cabeça do meu pai. Seu Luiz, engenheiro civil que trabalhava – e ainda
trabalha – muito e mantinha a família sem privações, mas sem luxos, não era
o tipo de pessoa que passasse a mão na cabeça das filhas. “Tirou boas notas?
Não fez mais do que a obrigação.” Minha mãe, dona Neusa, psicóloga e dona
de casa, não trabalhava fora para gerenciar a tropa. A grana ficava por conta
do meu pai. Em casa, nunca tive mesada. Jamais ganhei presente caro nem
fora de época – era só no Natal, no aniversário, no Dia das Crianças e tchau.
Até por isso, aprendi que, se quisesse alguma coisa, eu mesma teria que
batalhar para conseguir. Acho que a frase que mais ouvi na infância e na
adolescência foi: “Cresça e apareça. No dia em que você tiver o seu dinheiro,
poderá fazer tudo o que quiser.”
a partir de então.
Se meu pai não tinha aberto a poupança, eu mesma teria que fazer alguma
coisa para comprar meu carro quando completasse 18 anos. Mais de
enriquecer: a autodisciplina.
“Eita, acho que não vim com esse treco aí, não!”, você pensou. (Sim, eu
consigo ler os balõezinhos com seus pensamentos.)
aprende-se. E quanto mais cedo você aprender, melhor será a sua vida
financeira. Vai por mim.
Nooooosssssa, falei bonito agora! Sabia que um dia eu ia botar isso num
livro.
Ok, voltando…
Eu não precisava que ninguém me dissesse para guardar dinheiro. Para ser
Admito que foi pura sorte eu ter um grande objetivo aos 7 anos. Afinal,
quando se tem um grande objetivo na vida financeira, tudo fica mais fácil,
inclusive (e principalmente) poupar.
1. Guardar dinheiro;
O primeiro ponto era um desafio e tanto. Se eu não tinha nem mesada, como
conseguiria dinheiro para comprar um Escort conversível vermelho?
De vez em quando, meu pai me dava 2 reais para comprar o lanche na cantina
da escola. A essa altura, já estávamos em 1994; com a moeda brasileira
valorizada, não era pouco dinheiro. Quase tudo o que ele me dava
eu guardava para comprar meu carro. Eu tinha um cofre, desses de lata com
um cadeado que quase toda criança tem, e o levava muito a sério. Para evitar
furtos da minha irmã mais nova, comecei a anotar os valores em código e
deixava o papel com anotações codificadas junto do dinheiro. Se alguém
mexesse no meu cofre, eu saberia. (É isso que dá ficar pondo a criança para
dava aquela “filada” básica no biscoito dos colegas. Às vezes, quando não
conseguia nenhuma doação generosa de alimento, eu comprava um rissole
gorduroso da cantina. Custava 80 centavos. O restante ia para o cofrinho.
vai demorar bem mais de 10 anos para alcançar meu objetivo.” (Claro que
naquela época eu ainda não conhecia o conceito de juros compostos, então
era na unha mesmo, real a real.) Se quisesse mesmo um carro aos 18 anos,
teria que arranjar mais dinheiro. E assim foi: no Natal, no Dia das Crianças e
no meu aniversário eu sempre pedia dinheiro, nunca presente, e todos me
atendiam. Também fui beneficiada pela resistência da minha mãe à
Obrigada por fazer de conta que não percebia minha traquinagem, mãe!
alguma simpatia, de modo que eu não era cobrada depois. Mas eles nunca
souberam dos meus planos de comprar o carro. E assim eu ia engordando
meu
cofrinho.
O segundo ponto – saber quanto custava o carro dos meus sonhos – era
fácil. Meu pai assinava um jornal diário e todo fim de semana eu lia os
classificados de automóveis. Afinal, era necessário saber quanto eu deveria
poupar. Talvez estivesse guardando menos do que precisaria; tinha que
encontrar um parâmetro. Mas, a essa altura, eu já havia entendido que
dificilmente ainda desejaria aquele Escort conversível quando tivesse 18
anos.
Também percebi que seria melhor encontrar um carro mais barato, de valor