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Rev.

educo confino CRMV-SP / Continuous Education Journal CRMV-SP' ISSN 1516-3326


São Paulo, volume 4. fascículo 2, p. 60 - 64, 200/.

orno e quando intervir


no parto de cadelas
How and when to intervene Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia - UNESP

in the parturition of bitches Campus de Botucatu


Departamento de Reprodução Animal
e Radiologia Veterinária
Distrito de Rubião Júnior, s/n
CEP 18.61 B-OOO - Botucatu - São Paulo
Nereu CarlosPrestes -CRMV-sP-n° 2839 Fone/Fax: (0**14) 6802-6249
End. Eletrôn.: rarv@fmvz.unesp.br

Prof. Adjunto da Disciplina de Obstetrícia Veterinária


FMVZ - UNESPlBotucatulSP.

RESUMO
Este artigo tem por objetivo caracterizar a fisiologia do parto normal das cadelas, apresentando as
formas mais freqüentes das distocias de causa materna e fetal e as alternativas básicas de como e
quando fazer a intervenção.

Palavras-chave: cadela, parto, distocia.

Introdução sultados com o uso de corticóides e, nos eqüinos, com


a utilização da ocitocina ou sua associação com pros-
tempo empírico de gestação das cadelas é de 63 taglandinas.
dias, com variação de 56 a 72 dias, quando calcu- A indução do parto na espécie canina não tem apli-
lado da data da primeira cobertura. Essa grande cabilidade prática e rotineira, em razão da característica
variação deve-se ao longo período de comporta- do ciclo estral e do cio, alta viabilidade do esperma depo-
mento estral. A duração da prenhez, endocrinologica- sitado no trato genital e do momento da ovulação, o que
mente calculada, é muito menos variável, ocorrendo o caracteriza um período de gestação bem típico para esse
parto 65 ± I dias do pico pré-ovulatório de LH, isto é, grupo animal. Sabe-se que a administração de glicocorti-
63 ± I dias do momento da ovulação. Variações gesta- cóides estimula a produção de estrógeno e de prosta-
cionais foram descritas relacionando-se ao porte e à glandina pela unidade feto/placentária. A aplicação de
raça dos animais, porém essas observações não estão dose única de corticóide não é eficiente para induzir o
bem documentadas (LINDE-FORSBERG e ENERO- parto nas cadelas, embora a dexametasona, quando ad-
TH,1998). ministrada duas vezes ao dia, durante 10 dias, começan-
Ainda não se conhece, de forma clara e definitiva, do um mês após a ovulação, redunda em abortamento. O
qual o fenômeno indutor do início do trabalho de parto e mecanismo de ação é ainda desconhecido, porém repeti-
por que, ao término do período gestacional, desencadeia- das aplicações de altas doses torna o método impraticá-
se a seqüência de eventos endócrinos que, aliados aos vel no uso rotineiro das clínicas.
estímulos nervosos e forças mecânicas, determinam a O primeiro estágio do parto dura de 6 a 12 horas,
expulsão dos produtos. caracterizando-se por relaxamento cervical e vaginal,
A indução do parto ao final da gestação é um por eventual mobilidade dos produtos, alterando a está-
procedimento utilizado, em situações particulares, em tica fetal, e por ligeira queda de temperatura corporal.
algumas espécies animais. Nos bovinos, obtêm-se re- Na segunda etapa, com duração de 3 a 12 horas (rara-

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PRESTES, N. C. Como e quando intervir no parto de cadelas / Ho'H/ and whe" 10 intervene in lhe parturilion of birches./ Rev. educo contin. CRMY-SP / Continuous Education
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mente 24 horas), ocorre a expulsão dos filhotes pela rência de diarréia nas cadelas que ingerirem os anexos
ação das contrações das musculaturas abdominal e ute- fetais, e a involução uterina integral acontece em 12 a l5
rina. A temperatura volta ao normal ou permanece li- semanas pós-parto.
geiramente abaixo.
No terceiro estágio, acontece a expulsão das pla- Distocia: É definida como uma dificuldade de nas-
centas se os anexos não forem eliminados concomitante cer ou a inabilidade materna em expelir os fetos pelo ca-
ou logo após ao respectivo filhote. A secreção puerperal nal do parto, sem assistência. É mais freqüente nas ca-
imediata tem coloração esverdeada para as cadelas e delas que nas gatas e, de modo geral, apresenta incidên-
vermelha ou marrom para as gatas. É esperada a ocor- cia de 5%, podendo atingir a 100% em algumas raças,

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sendo mais comum nos animais de alta linhagem, quando em resposta aos estímulos endógeoos característi-
comparados aos sem raça. cos do parto. Síndrome do feto único, excesso de
líquidos fetais, fetos absolutos ou relativos grandes,
Inércia uterina: é subdividida em primária e se- distúrbio nutricional, infiltração de gordura, disfun-
cundária, com a seguinte definição: ção hormonal ou doenças sistêmjca materna, entre
Primária: quando o útero falha em contrair, outras.

Figura 1. Massa tumoral no corpo uterino, bloqueando a expulsão Figura 4. Prolapso lOtaI de um corno uterino, durante o parto
dos filhotes. normal.

Figura 2. Imagem do útero aberto, exibindo os filhotes mortos Figura 5. Prolapso parcial de ambos os cornos uterinos. durante a
e alteração na coloração dos líquidos fetais. fase expulsiva em cadela. A área anelar mais escura, representa o local
da justaposição placentária.

Figura 3. Torção uterina, evidenciando-se início de necrose, em Figura 6. Sinais de hemorragia na via fetal mole, com emissão de
cadela submetida à cesariana. coágulos em cadela em trabalho de parto.

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Secundária: devido à exaustão do miométrio, cau- Operação cesariana


sada por obstrução do canal do parto.
Cuidados especiais devem ser tomados ao utibzar Indicações:
ocitocina. Em alguns animais, promove contrações pro- • Inércia uterina primária completa, que não responde
longadas que podem ocasionar a separação precoce da ao tratamento;
placenta, a estenose cervical e mesmo a ruptura uterina. • Inércia uterina primária parcial, refratária ao medica-
Ergotarninas de longa ação nunca devem ser utibzadas mento;
durante o parto. • Inércia uterina secundária;
O emprego de fórceps em Medicina Veterinária é • Estenoses pélvicas ou da via fetal mole;
extremamente limitado. Para os pequenos animais, parti- • Fetos absolutos ou relativos grandes;
cularmente para cadelas, sua utilização é desencorajada • Excesso ou deficiência de líquidos fetais;
por se tratar de um procedimento sem controle visual e • Defeitos de apresentação, posição ou atitude;
com indicações restritas aos fetos absolutos e relativos • Morte fetal! decomposição;
grandes ou outras situações especiais. Os profissionais, • Toxemia da gestação ou doenças da parturiente;
de forma geral, utilizam-se da cesariana como meio de • Negligência;
finalizar um parto laborioso. • Profilática.

SUMMARY

The objective of this paper is to characterize tbe physiology of normal parturition in bitches. Special
emphasis is given to the more common maternal and fetal dystocias as weU as to the basic alternati-
ves on how and when to intervene.

Key words: bitch, parturition, dystocie.

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