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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

HL127A- Introdução às Ciências da Linguagem


Professor: Ricardo Campos Castro
Alunas: Criscyane Lorrany Lacerda Lima, RA: 237189 e Helena Bridi Lona, RA:237228.

Resumo do Artigo: “Estruturas causativas, reflexivas, recíprocas e anticausativas na língua


Tenetehára-Guajajára (família tupí- guaraní)”, de Ricardo Campos Castro e Quesler Fagundes
Camargos.

Como o próprio título já deixa claro, o objetivo do artigo é analisar as estruturas causativas,
reflexivas, recíprocas e anticausativas na língua Tenetehára. Essa língua, como veremos, possui três
morfemas: {mu-}, {-kar} e {ze-} responsáveis por causativizar ou tornar a estrutura reflexiva,
recíproca e anticausativa.
Os morfemas que causativizam os verbos são os afixos: {mu-} e {-kar}, sendo que o primeiro
causativiza verbos intransitivos e o segundo, predicados transitivos. Além disso, o prefixo introduz
uma causação direta e o sufixo, uma indireta. Veja os exemplos retirados do artigo:

u-zahak kwarer a’e = “O menino banhou”


u-mu-zahak kuzà kwarer a’e = “A mulher banhou o menino” (CAMARGOS, 2013, p. 146)

u-zuka kuzà zapukaz a’e = “A mulher matou a galinha”


u-zuka-kar awa zapukaz kuzà ø-pe a’e= “O homem fez a mulher matar a galinha” (CAMARGOS, 2013, p. 170)

Visto que o morfema {mu-} produz somente causação direta, há alguns verbos intransitivos que ele
não é capaz de causativisar, como “amadurecer”, visto que trata-se de um verbo que não aceita uma
causação direta. Exemplo disso é a frase “O homem amadureceu a banana”, essa ação seria
impossível em uma situação comum.
Há, contudo, a possibilidade da coocorrência dos dois morfemas ( {mu-} e {-kar}). Nesse caso, a
frase teria causadores diretos e indiretos, como mostra o exemplo abaixo, também retirado do texto
original:

a- u-mu-zahak kuzà kwarer a’e = “A mulher banhou o menino”


b- u-mu-zaha(k)-kar awa kwarer kuzà ø-pe a’e = “O homem fez o menino tomar banho por meio da mulher” ou “O homem
fez a mulher banhar o menino”

Nesse exemplo (b), a mulher é a causadora direta do evento, ou seja, sua ação tem impacto
imediato no menino, enquanto o homem representa o causador indireto, porque sua ação é mais
distante do evento causado, ainda que ele seja um causador.
Por sua vez, o morfema {ze-} pode denotar três vozes verbais: a reflexiva, a recíproca e a
anticausativa. Na voz reflexiva, o morfema se junta a verbos transitivos, diminuindo sua valência e
fazendo com que o agente do verbo seja também seu paciente.
Na voz recíproca, ao adicionar o morfema {ze-}, o verbo se torna ponte entre sujeito e objeto, que
são ao mesmo tempo agente e paciente reciprocamente. Quando nessa função, o morfema pode ser
comparado ao {jo-} do Kamaiurá (língua que tem dois morfemas diferentes para a voz recíproca e
reflexiva) e pode ser entendido como a partícula indicadora de que os indivíduos praticam a ação
sobre si.
Na voz anticausativa, {ze-} aparece em verbos que não têm agente, mas apenas um ente que sofre
a ação segundo a causatividade direta ou indireta. Por sua vez, esse é o caso que corresponde ao
morfema {je-} no Kamaiurá.

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Por sua versatilidade, {ze-} na forma reflexiva pode convergir em sentido com {mu-} e {-kar},
que denotam causatividade. Os eventos dentro da causação podem também ser reflexivos, o causador
pode ser alvo do evento causado. Para tanto, deve-se adicionar o morfema {ze-}, o {mu-} e/ou {-kar}
ao verbo. Sendo que o primeiro faz seu papel reflexivo, o segundo introduz a causação direta e o
terceiro a indireta. Como no exemplo do artigo:

u-mu-ze-mu-puràg kuzà kuzàtài a’e = “A mulher fez a menina se embelezar” (causação direta)
u-mu-ze-mu-puràg-kar kuzà kuzàtài a’e = “A mulher fez a menina se embelezar” (causação indireta)

Esta construção permite polissemia, e a alteração da ordem dos afixos pode alterar esses sentidos,
bem como a valência do verbo (que pode ser transitivo ou não). Podem, além disso, funcionar como
recuperadores de passagens anteriores (retomada anafórica).
Em conclusão, no artigo pode-se descobrir as funções de três partículas do Tenetehára, que
alteraram o período se adicionados ao verbo, mexendo com a causatividade e com a valência dos
mesmos, oferecendo tanto uma reiteração do que se diz quanto uma retomada do que se foi dito.

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