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Sarees 202 hpi p.brsimposiovil2017) A apropriacao da modinha por Villa-Lobos nas Bachianas Brasileiras n° 1 — Preladio (Modinha) Guto Brambilla Bolsista FAPESP Universidade de Sao Paulo gutobrambilla@usp.br Resumo: A proposta deste artigo & especular como Villa-Lobos se apropriou do género modinha ao compor 0 2° movimento das Bachianas Brasileiras n° ! ~ Prelidio (Modinha). Para isso, serd feita uma comparagdo estrutural entre essa obra especitica de Villa-Lobos com um conjunto de obras representantes do género, compostas a0 longo dos séculos XVIML, XIX ¢ XX, tomando-se como base para esse estudo informagSes obtidas nos livros Modinhas do Brazil (LIMA 2001), Modinkas Imperiais (ANDRADE 1980) e transerigées de modinhas do repert6rio de Catulo da Paixio Cearense Palavras-Chave: Modinha; Bachianas Brasileiras; Anslise Musical; Villa-Lobos. Introdugio uitos autores empenharam esforgos para descobrir a origem da modinha, porém quase sempre esbarrando na falta de documentagées precisas. Em Modinhas do Brazil, Edilson Lima (2001) inicia o seu livro citando alguns destes pesquisadores que se debrugaram nesta empreitada, tais como: Sflvio Romero, Mozart de sobre Araijo, Fernando Lopes, José Ramos Tinhordo, entre outros, cada qual com a sua te a origem da modinha ¢ cada qual também com suas dificuldades comprobatérias.! © exiguo material brasileiro que ilustra alguns livros de viagem ou que aparece no Jornal de Modinhas editado em Lisboa entre 1792 e 1795 é, por assim dizer, um material de segunda mio, algo deformado pelos acompanhamentos “classicos” dos _mestres contrapontistas de entdo, ou ja transfigurado pelo artficialismo das verses cruditas que esse material sofreu, a0 ser transerito para 0 penlagrama, Comegaria, alids, por essa época, a se pronunciar um outro fator de deformagao: a italianizagao dda modinha (ARAUJO 1963, pp. 47-8 apud TINHORAO 1974, p. 14). Tinhorao defende que no caso de Domingos Caldas Barbosa esta influéncia nao teria ocorrido, pois 0 mesmo teria moldado a sua miisica entre “mestigos, negros e pandegos em geral ¢ tocadores de viola”, ¢ nunca com mestres de miisica erudita”, além de sua formagao ter transcorrido no acanhado meio urbano da colonia. Mario de Andrade cita reflexdes de virios autores: [...] Morais Filho a fixa “como descendente em linha reta da melodia italiana...” [..] Friedenthal reconhece em algumas delas parecenga extrema com Mozar [...], Spix € Martius, & sua monumental “Reise in Brasilien”, por vezes se julgaria perceber reminiscéncias de Gluck (ANDRADE 1980, p. 6) * Lima 2001, p. 13. * Bruno Kiefer descarta ais por serem puramente hipotéticas. (KIEFER 1977, p. 14) Anais do II Simpésio Villa-Lobos ISBN ee TET suse 223 vitta- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) Kiefer’ propde a indagagdo: “teré havido realmente esta simplicidade original da modinha? ”. Todavia, as pesquisas até aqui empreendidas constatam que Caldas Barbosa foi © primeiro grande nome do género que se tem noticia. Apés a virada do século XVII para o XIX, enquanto a modinha sai de cena lentamente em Portugal, no Brasil © género conquistou cada vez mais espago na sociedade, resistindo até as primeiras décadas do século XX, sendo ao lado do Lundu, uma das principais rafzes da musica brasileira* Com sucesso alcangado no final de século XVIII, a modinha brasileira passaria a ter um maior interesse pelos mi isicos de escola, o que daria ao género um ar cameristico, confundindo-o com arias de Speras italianas: © que ia acontecer com a modinha, a partir dos dltimos anos do século XVII, até a segunda metade do século seguinte, era o fato de que passando a interessar aos miisicos de escola, 0 novo género acabaria realmente se transformando em cangio ccameristicatipicamente de salo, precisando aguardar depois o advento das serenatas luz de lampides de rua, nos tltimos anos do século XIX, para entdo retomar & tradigao de género popular, pelas mos dos mestigos tocadores de viol. (TINHORAO 1974, p.15) Segundo © autor, tal transformagdo seria fruto de equivocos dos miisicos e compositores trazidos pela corte de D. Jodo VI em 1808 e posteriormente dos ligados ao Conservatério de Miisica da capital do Império, todos de tradigdo erudita e operistica’. Apesar da sociedade brasileira em alguns aspectos e aos poucos ir se tornando mais complexa, este perfodo inaugura a formagao de uma classe média nacional, uma burguesia que teria grande influéncia politica e principalmente cultural®, fator este que implicaria na ampliagdéo no repertério musical brasileiro Desta forma, a modinha passaria a ser cultivada no Rio de Janeiro por nomes como Francisco de Paula Brito, José de Alencar, Gongalves Dias, Machado de Assis, Casimiro de Abreu e na Bahia, este processo se daria em igual forma, unindo pela boémia intelectuais e trovadores, entre eles, Castro Alves e José Bruno Correia, além de tocadores de violio como Cazuzinha Xisto Bahia, um dos maiores nomes do género na segunda metade do séc. XIX [..-] tal como mais tarde aconteceria no Rio de Janeiro com Catulo da Paixdo Cearense = conseguia superar com a forga da sua personalidade a marca de classe > KIEFER, 1977, p. 18. “LIMA, 2001, p. 16. *-TINHORAO, 2013, p.25, © KIEFER, 1976, pp. 6465 Anais do II Simpésio Villa-Lobos ISBN ee TET suse 224 vitta- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) impressionando as camadas médias e a propria elite com a beleza da miisica ¢ a dighidade que emprestava d interpretago de suas modinhas. (TINHORAO 2013, pp. Com relagao ao séc. XX, Uliana Dias Campos Ferlim (2006) e (2011), explora detalhadamente © papel de Catulo da Paixiio Cearense e a questo cultural, cujas discussées sobre a identidade nacional, a identidade social de artistas, miisicos, jornalistas e intelectuais ganham o centro das atengées, além crescimento de um novo mercado de bens culturais que se desenvolvia principalmente na Capital Federal. Uliana também analisa como Catulo utilizou a poesia e a literatura para se firmar entre os eruditos e a mtisica para se popularizar, procurando se diferenciar dos demais compositores ao afastar-se do /undu, classificando as suas composigdes de polea, valsa, x6tis, quadritha ou tango, pois para ele, esses es das modinhas (FERLIM, 2011, pp. 184-5). Neste contexto, Lisboa Jinior afirma: los faziam parte do universo ‘Catulo da Paixto Cearense foi um dos artistas que mais se beneficiaram com o inicio das gravagbes em disco no Brasil, tendo praticamente todo o seu repertério gravado pelos nossos mais importantes intérpretes, popularizando-o ainda mais, ¢ tomsando-o uum artista nacionalmente conhecido, pois, com a distribuigio dos discos, sua obra além de ser lida, passou a ser ouvida em todo o pais, consolidando-o como 0 nosso ‘mais importante lerista de modinhas, (LISBOA JUNIOR, 2016, p. 64), © foco deste trabalho serd analisar obras do género modinha em suas diversas fases até as primeiras décadas do século XX; com isso, intentamos verificar como se deu a apropriagao da modinha por Villa-Lobos no 2° movimento das Bachianas Brasileiras n° 1 — Prehidio (Modinha). Para isso, os recortes selecionados para esta pesquisa foram as obras Modinhas do Brazil de Edilson Lima e Modinhas imperiais de Mario de Andrade, como modelos de modinha respectivamente dos séculos XVIII e XIX. Para representar o género no século XX, foram feitas transcrig6es a partir de fonogramas da Casa Edison de obras de Catulo da Paixo Cearense, que além de ser um dos principais fcones do género, foi muito préximo de Villa-Lobos. A partir dos estudos bibliogrdficos sobre a modinha, criou-se uma espécie de arvore genealdgica do género, com alguns de seus principais compositores (Fig. 1). Provavelmente muitos outros nomes ficaram de fora desta representaco gréfica, porém foram escolhidos os que de alguma forma representam os recortes adotados € suas épocas, além das suas ci recorrentes pelos pesquisadores do género.” No grafico abaixo, os campos em branco representam autores ndo citados nesta pesquisa Anais do II Simpésio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) Spivorase Boe 225 VitLA-COBDS. Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) Séeulo XVI Domingos Caldas Barbosa (1740 - 1800) Pe, José Mauricio ‘Nunes Garcia (1767 1830) Marcos Portugal (1762 — 1830) Francisco Manuel da Silva (1795 ~ 1865) Sigismund ‘Newkomm (1778-1858) ‘Domingos Rocha ‘Mussurunga (1307-1856) Gabriel Fernandes (18002 - 1854) pena Tanuirio da 8. Arvellos Filho (1836 - 1890) Século XIX Xisto Bahia (1841 - 1894) Chiquinta Gonzaga (1847 — 1935) Eiuardo das Neves (874 1919) : Trineu de Almeida (1873-1916) Cazuzinha (1819 - 1904) “Toto Luis de A. Cunha (18302 - 18902), “Anacleto de Medeiros (1866 - 1907) Luis de Souza “A a865- 1920) ‘Edmundo Octivio Ferreira (1870-1920) Seoulo XX. Catulo da Paixio Cearense (863 - 1946) FIGURA 1: ARVORE GENEALOGICA DA MODINHA Modinha Brasileira no séc. XVIII: Anilise Em LIMA (2001), a anélise das 30 modinhas foi dividida nos seguintes tépicos: acompanhamento; Andlise melédic: Anélise harménica; Anélise morfolégica; Anélise prosédica; Concluso, Para ef de padronizagao, principalmente para a comparagao de tais Anais do II Simpésio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) Speoweacgeiea 226 vilta-CO0S.- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) aspectos com as obras dos séculos subsequentes, iremos desde jd substituir 0 termo “andlise” por “estrutura”, sendo que o termo “acompanhamento” sera substitufdo por “instrumentacdo. Assim, os dados extraidos das anilises do autor constam nas tabelas abaixo. [ACOMPANHAMENTO [TRANSCRICAO DO [NUMERO DA MODINHA, TOTAL ORIGINAL ACOMPANHAMENTO. Violio/Viola Violio/Viola 1,2,3,4, 5,6, 7, 11, 12, 16, 18, 19,20, 21, 22, [18 23,25,27 Teclado Violao/Viola 8,9, 13, 15, 17626 6 Teclado Teclado 10, 14, 24, 28, 29 € 30 6 TABELA 1: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001) - FINAL DO SEC. XVIII: INSTRUMENTACAO. ‘ASPECTOS | CARACTERISTICAS Forma Simples [2 modinhas Forma Bindria [21 modinhas, apesar do autor destacar apenas 11 modinhas. Forma Ternéria| 4 modinhas [Forma Livre _ [3 modinhas: N° 28, 29 e 30; Geralmente sem repetigées de frase, dificultando uma esquematizagao precisa| TABELA 2: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001 MORFOLOGICA FINAL DO SEC. XVIII: ESTRUTURA ASPECTOS _[CARACTERISTICAS Tessitura De 6° 13%, sendo 9 e 11 mais comuns. Arpejos Pouca utilizagao Intervalos | Pequenos motivos, com preferéncia para graus conjuntos, Pequenos saltos, geralmente dentro melédicos _| do mesmo acorde em anacruses; Finalizago de /Comum a finalizagdo de frases com saltos. Fins com suspensio, geralmente uma voz. sustenta melodias at Finais femininos, tanto no final do tema quanto em finais de frase Antecipagées so comuns, porém no em cadéncias finas, Intervalo entre | Todas as modinhas sao eseritas & duas vores (dois sopranos); vozes Tergas paralelas (total de 10 modinhas). N° 5, 6, 7, 10, 15, 19, 24, 25, 26 e27; Combinagao de tergas e sextas paralelas. (Total de 11).N* 1,2, 4,8, 12, 13, 14, 17, 18, 20 € 21; smbinagSes livres: tergas, sextas, movimento contrdrio e contrapontos. Total N°3,9, 11, 16, 22, 23, 28, 29 © 30 Omamentagdes |Apojaturas longas: mais utilizada nesta colego, possui fungao harménica, podendo ser superior ou inferior, sendo mais frequentes em finais de frases ou semifrases. /Apojatura curta: menos frequente, possui fungo melédica; |Grupeto e Trinados: pouco utilizadas, estes ornamentos so utilizados em $ modinhas. Slide: pouco utilizado. O autor cita apenas uma modinka. TABELA 3: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 200 FINAL DO SEC. XVIII: ESTRUTURA MELODICA. Anais do II Simpésio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) Spivorase Boe 227 vilLA-t060S Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) [ASPECTOS | CARACTERISTICAS Ténica 10 modinhas, geralmente com formas mais curtas Dominante Ténica Grupo de 20 modinhas onde a fungdo subdominante & utilizada estruturalmente, no Subdominante | desenvolvimento da pega e ndo apenas na cadéncia final; Dominante _| Em muitos casos o acorde est na 2" inversio, uma espécie de acorde de quarta e sextas por ordadura; Nem todas possuem baixo arpejado e muitas possuem cifras. Este grupo possui a linha de baixo ‘melhor elaborada, através de inversbes; [Modulaso —_/11 modinhas possuem algum tipo de modulagao, em geral simples; “Modulagao mais frequente para a Ténica Relativa; Modulagio para a Dominante em apenas 2 casos: N° 2 26; ‘Apenas a modinha N° 11 executa a modulagdo para a Subdominante: (G— C); Apenas a modinha N° 10 executa @ modulagao para o tom homénimo: (F + Fm); Harmonia As modinhas. N° 28, 29 e 30 apresentam esquema modulatério mais elaborado, ritmo harménico sequencial ‘mais intenso, baixo cantante e melodicamente desenvolvido. ModulagSes curtas e uso mais intenso de Dominantes Individuais; Pedal Uso muito comum e diversificado; Pedais de longa duragao, provavelmente pela caracteristica do instrumento acompanhador, a Viola de Arame ou pelo gosto por acordes Ténicas em 2* inverse; [Acordes ‘Uso de inversies & muito frequente nesta colegio de pegas; Invertidos © autor conelui que em muitos casos as inversbes de acordes parecem ser uma opgio consciente, estilistica e ndo uma limitagao instrumental, pois tais acordes poderiam ser executados facilmente na posigo fundamental, tanto 20 viol, quanto a viola, ‘Tonalidade: | 15 modinhas em tonalidade Maior e 15 em menor, sendo que: /Maior/ Menor | 8 em Mi menor, 3 em Dé menor, 3 em Fa menor ¢ | em L4 menor; 6 em Fé Maior, 5 em Sol Maior, 3 em La Maior e | em Dé Maiar; Tonalidades muito comuns ao Violao, exceto Fa menor; FFinalizagdes | 12 modinhas com finalizagdes suspensivas, na Dominante e algumas com uma vor sustentando a sétima da Dominante, A maioria destas preparando o retorno para o inicio da pega. TABELA 4: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001) ~ FINAL DO SEC. XVIII: ESTRUTURA HARMONICA, ASPECTOS CARACTERISTICAS Compasso [23 modinhas em compasso binério simples, detetminando uma forte caracteristica do género; 2 em compasso bindrio composto e 3 em compasso ternario simples. A de N° 15 foi eserita no original em quaternario simples, porém transcrita em bindrio simples. A de N° 29 possui mais de uma férmula de compasso: inicia em binério simples ¢ finaliza em ternério compasto. Sincopa | Quatro tipos; , Aad . Ad AD |Geralmente como elementos motivicos nas modinhas de divisdo bindria simples. 20 modinhas uilizam sincopas de forma estrutural, produzindo ora retardos, ora antecipagdes. Das 10 Jmodinhas que nao utilizam sincopas, 3 sio ternérias simples, 2 bindrias compostas, e § bindrias simples, TABELA 5: AS MODINHIAS DO BRASIL (LIMA 2001) - FINAL DO SEC, XVII: ESTRUTURA RITMICA Anais do II Simpésio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) Speoweacgeiea 228 vilta-CO0S.- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) A Modinha Brasileira no século XIX: Andlise Utilizou-se como fonte para andlise musical da modinha do sée. XIX o livro Modinhas Imperiais de Mario de Andrade, com um total de 14 obras. Além das partituras c tantes na publicagao, Andrade expde alguns comentérios e andlises sobre outras obras ¢ autores do perfodo. Desta forma, algumas de suas anélises foram revistas ¢ expandidas para este trabalho, cujos dados esto formatados nas tabelas abaixo. [CARACTERISTICA, Todas as modinhas foram transcritas para voz e piano, exceto uma, TABELA 6: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XIX: INSTRUMENTAGAO, [ASPECTOS _ | CARACTERIS Forma Simples __| Sem exemplos Forma Binéria | 11 modinhas Forma Temiria [4 modinhas, Duas estrofes e Sirefto ou as vezes A B—D. A uilizagio do Sireito foi muito ‘comum nas Modinhas Imperiais. Influencia erudita adotada por compositores populares, sendo comum a alterasio de andamento e ds vezes uma modulacao. ANDRADE (1980, p. 8-9, n° 11). Forma Livre Sem e emplos TABELA 7: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XIX: ESTRUTURA MORFOLOGICA [ASPECTOS [CARACTERISTICAS, Tessitura 11 das 15 modinhas com tessituras de 10* ¢ 11 Arpejos Pouco utilizados Intervalos melédicos | 11 modinhas com melodias construidas por graus conjuntos e apenas 4 utilizam saltas nas construgdes melédicas Finalizago de /Predomindncia de finais femininos com movimento de 2* para \6nica, tanto para frases melodias ‘quanto para as melodias Tntervalo entre vozes | Todas as modinhas foram transcritas para uma voz acompanhada de piano; Omamentagdes [13 modinhas foram transcritas com poueas ormamentagdes, ocorrendo um equilibrio entre apojaturas longas, curtas e grupetos. TABELA 8: AS MODINHAS DO BRASIL. (LIMA 2001), SEC. XIX: ESTRUTURA MELODICA ‘ASPECTOS |CARACTERISTICAS Compasso |8 modinhas em 4/4; 3 modinhas em 2/2; 3 modinhas em 3/4; 1 modinha em 6/8; 1 modinha com’ ‘mais de uma FC: quateréria e teria. Sincopa _ [Pouco utilizada. TABELA 9: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XIX: ESTRUTURA RITMICA. ASPECTOS| CARACTERISTICAS [Ténica Dominante 6 modinhas Anais do II Simpésio Villa-Lobos ISBN ee TET suse 229 vilta-CO0S.- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) Ténica 9 modinhas Subdominante/Dominante /Modulasao ANDRADE (1980, p. 10) afirma a prevaléncia de modulagSes paralelas (entre o ‘modo menor e Maior da mesma tonalidade) e no tons relativos, citando exemplos que ndo constam na publicago, Assumiremos essa como uma caracteristica do género na época, porém verificamos que 7 modinhas, modulam para modos relativos a maioria finalizando na tonalidade inicial; 5 modinhas sem modulagio; 3 com modulagSes entre modo Maior e menor da mesma tonalidade, com periodos mais longos: Verificamos algumas poucas modulagées curtas para a Dominante ¢ subdominant, Harmonia sequencial Sem exemplos Pedal Pouca utilizagao [Acordes Invertidos Uso de inversies é muito frequente nesta colegio de pegas; |Apenas 4 pegas nio fazem uso sistemtico de inversdes Subdominantes: poucas inversées. Preferéncia para a 1* inv Tonica: inversées frequentes. Equilibrio entre 1* e2* inv. Dominant: inversdes frequentes. Equilibrio entre 1* e 2° inv. Tonalidade: Mario de Andrade cita uma certa preferéncia para o modo menor. ANDRADE /Maior / Menor (1980, p. 10): Verificamos que 7 modinkas iniciam em modo maior ¢ 8 em menor; ‘Tonalidades utlizadas G=1;Ab=1;A=1; Bb= 1; Eb=2;C=1 Gm = 1; Am = 1;Dm=3; Em= 1; Fm=2, Finalizagdes Em 10 modinhas onde ocorre algum tipo de modulagao, 9 terminam no tom original, tados em acordes ténicos — P° grau TABELA 10: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC, XIX: ESTRUTURA HARMONICA. Modinhas Bras iras do Século XX: Andlise Para efeito de anélise, foram transcritas 14 modinhas de Catulo da Paixto Cearense, procurando-se um equilfbrio entre os anos em que as obras foram compostas e também um equilibrio entre composiges com letra e miisica de sua autoria e composigdes feitas em parceria. Assim, tendo Catulo da Paixdo Cearense como eixo central do género no sée. XX, amplia-se este retrato, uma vez que a sua modinha, de certa forma também é a modinha dos seus parceiros.*® Com relagao A instrumentagao, a maioria das modinhas foi gravada com acompanhamento de violio, entretanto esse fato ndo garante que tais obras foram compostas para este instrumento, principalmente com relagao as composigGes feitas em parceria * Lisboa Jinior apresenta uma relago de composigdes de Catulo, das quais 43 sio classificadas como modinhas ¢ estas, aproximadamente metade eserita em parceria com outros compositores (LISBOA JUNIOR, 2016, pp. 595- 599), Anais do Il Simp ISBN 978-885-7208. iio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) pa 230 vilta-CO0S.- psfpsinira. usp br/simposiovlls2017 TUL AUTOR ANG Sentimento ovulto (Benzinho) | Anacleto de Medeiros / Catulo da. Cearense | 1904 0 talento e a formosura (Julinha) | Edmundo Otivio Ferreira / Catulo da P, Cearense | 1904 Rouxinol e Colibri Emesto Nazareth / Catulo da. Cearense 1908 Missa de Amor Luis de Souza / Catulo daP. Cearense 1906 Perdoa (Predileta) ‘Anacleto de Medeiros / Catulo da P, Cearemse | 1906 “Feu nome ‘Artur Camilo / Catulo daP, Cearense 1906 0 que & “Anacleto de Medeiros / Catulo da P. Cearense | 1907 O regato Famundo Otavio Ferreira / Catulo da P, Cearense [1910 ‘Ao verte Edmundo Velho / Catulo da P, Cearense 1910 0s olhos dela Tringu de Almeida / Catulo da P. Cearense 910) Fechei o meu jardin Catulo da P, Cearense 1915 Faseinagio por teus Thos Cupertino de Menezes Catilo da Cearense | 1914 (2) Salve Irineu de Almeida / Catulo da P. Cearense 1916 (02) [[Cabocta bonita [[Catulo da P. Cearense 1920 TABELA 11; AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XX; RELAGAO DE OBRAS TRANSCRITAS - CATULO DA PAIXAO CEARENSE ‘ASPECTOS —[CARACTERISTICAS Forma Binéria [8 modinhas [Forma Ternéria [6 modinhas TABELA 12: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XX: ESTRUTURA MORFOLOGICA, ASPECTOS| [CARACTERISTICAS, Tessitura [Caracteristica bem variada, Das 14 modinhas transcritas: 2 = 8:3 =9 3te1= 14" Arpejos| 8 modinhas com arpejos em suas melodias; Intervalos 8 modinhas com saltos de 4 a 6 em suas melodias; 6 modinhas com melodias formadas melédicos por 2e 3", 10 modinhas com frases iniciadas por anaeruse. Finalizagio de melodias 7 modinhas com finais de frases em tempo forte; nas demais ocorre um equilibrio entre finais em tempos fortes e fracas e movimentos de 2's, ascendentes e descendentes. Intervalo entre ‘Nao hi. Todas as modinhas so compostas por apenas uma voz. Omamentagies 5 modinhas apresentam poucas omamentages, Passagens cromaticas TABELA [Compasso [Das 14 modinhas transcritas, 2 so em 2/4, 4 em 3/4 8 em 4/4 13: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC. XX: ESTRUTURA MELODICA [ASPECTOS/ CARACTERISTICAS Sincopa [Pouca utilizagio TABEL ‘A IH: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC, XX: ESTRUTURA RITMICA. Anais do II Simpésio Villa-Lobos (ECA/USP 2017) Sass esse 231 Vitta-COBDS. Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) ASPECTOS CARACTERISTICAS ‘Ténica/Dominante [6 modinhas possuem estrutura harménica de tGnica e dominante ‘Ténica/ Sub/Dom _ | 8 modinhas passuem ao menos uma parte onde a fungi subdominante é estrutural Modulasao 5 modinhas no possuem modulagao: Padres modulatérios: Formas binarias: 2 s80 A (I) B (vi)e 1 A (vi) B (Ds Formas Temnérias: 3 sao A (I) B(V) C (IV); 2A (DB (vi) UV) e LAMBA) CW) Harmonia sequencial Sem ocorréncias Pedal Sem ocorréncias ‘Acordes Invertidas | 13 modinhas utilizagao inversdes; Tonalidade! 12 em modo Maior; 2 em menor. Maior / Menor Finalizagdes Todos 0s finais so em ténicas e no tempo forte TABELA 15: AS MODINHAS DO BRASIL (LIMA 2001), SEC, XX: ESTRUTURA HARMONICA, A evolucao estrutural da modinha Com rela o & estrutura morfoldgica, percebe-se que até o séc. XIX houve uma predilegdo pelas formas binérias. No recorte das obras do séc. XX, ocorre um equilibrio entre formas bindrias € terndrias, sugerindo uma maior sofisticagao formal no perfodo. Quanto a estrutura melédica, pode-se verificar que houve uma pequena expansdo da tessitura nas obras do séc. XX e uma presenca maior de arpejos e saltos na melodia, além de uma gradativa redugdo da utilizagio de oramentagdes. Uma caracterfstica que parece ter permanecido durante o tempo é a questao das finalizagGes de frases e melodias, com a presenga significante de finais femininos ¢ movimentos de 2" descendentes, No caso das obras do sée. XX, ha também uma presenga importante finalizagdes com movimentos de 2* ascendente nas finalizagdes. Outro fato importante a se destacar & que, desde o sée. XIX, a modinha a duas vozes caiu em desuso. A estrutura harménica apresenta um equilibrio ao longo do tempo de pegas compostas por progressées de Ténica e Dominante e aquelas que se possuem a acordes subdominantes com fungao estrutural e nao apenas em cadéncias, Nesse t6pico, verificou-se que ao longo do tempo os compositores de modinha passaram a adotar modulagées cada vez mais sofisticadas. Quanto as tonalidades das pegas, hd um equilfbrio entre os modos menor € maior nos séculos XVIII e XIX, entretanto no séc. XX, 0 recorte da pesquisa apresentou uma ampla opgao pelo modo maior. Anais do II Simpésio Villa-Lobos ISBN ee TET suse 232 vilta-CO0S.- Hp: ipaineira. usp brsimposiovils2017) Na estrutura rftmica, ocorreu uma profunda mudanga ao longo dos séculos, pois a sincopa passou a ser pouco explorada e passou a ocorrer uma preferéncia para os compassos quaternérios e terndrios, em detrimento do bindrio. Bachianas Brasileiras n° 1 — Preliidio (Modinha), Andante: Descrigio, comparacio e andlise Os dados estruturais levantados até agora serdo comparados com os mesmos pariimetros da obra de Villa-Lobos, afim de se tentar compreender quais foram as suas influéncias estilisticas e como elas se revelaram estruturalmente. ‘As Bachianas Brasileiras n° 1 - Prelidio (Modinha) € constituida pot uma pequena forma ternéria (SCHOENBERG, 2015, p. 151), com introdugdo e segdes A, Be A’, forma esta que passa a ser proporcionalmente mais adotada pelos compositores de modinha ao longo do tempo, apesar da predomindncia da forma binétia. Com relagdo a estrutura melédica da modinha de Villa-Lobos nas Bachianas n° I, a utilizagao de graus conjuntos, poucos saltos melédicos, a auséncia de arpejos e principalmente a auséncia de sincopas aponta para uma influéncia maior das obras do séc. XIX, contudo, 0 desenvolvimento do tema principal na seco A’ é feito 4 duas vozes, procedimento tipico do séc. XVIII. Enquanto na seco A o tema possui finais femininos de frases e semifrases, através de segundas ascendentes, na sego A’, o desenvolvimento do tema principal contém finais masculinos através de segundas descentes (Fig. 2). Quanto as ornamentagées, as bordaduras possuem um papel estrutural na construgdo das frases das segdes A e A’, sendo também uma referéncia as modinhas anteriores ao séc. XX. Na segdo B hé um maior destaque para passagens cromaticas (Fig. 3).

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