Você está na página 1de 12

 ANÁLISE DO PERSONAGEM DO FILME MR. JONES.

Mr. Jones é um homem branco, tem por volta de 35 anos de idade, bem
arrumado, estiloso e sorriso largo. Na cena inicial, está pedalando sua bicicleta
num parque, com uma música de fundo popular e agitada (I Feel Good de
James Brown, em português o título significa “Eu me sinto bem”), música essa
que acaba sendo associada com o estado de humor que ele apresenta.
Podemos ver que ele está entusiasmado, pela sua postura ao longo do
caminho, sorrindo e pedalando entre outros ciclistas de forma amigável, além
de não se preocupar com o trânsito de carros.
O personagem então chega a um local onde está sendo realizada uma reforma
numa grande construção e se oferece para trabalhar como marceneiro. A
princípio, o responsável pela obra nega o emprego, no entanto, o personagem
desenvolve uma conversa com o gerente de obra de forma que este se sente
cativado e persuadido a aceita-lo para o serviço com as condições
apresentadas por Mr. Jones. Desde aí podemos perceber que Mr. Jones
demonstra características acentuadas, como a persuasão, proatividade,
raciocínio acelerado, uma postura cativante, além de aparente bom humor.
Com isso, chegando ao seu lugar de trabalho, já se apresenta a um dos
trabalhadores de modo bastante entusiasmado, chegando no momento em que
ambos martelam em seus serviços de forma rítmica, assim Mr. Jones cativa o
também funcionário chamado Howard.
A obra em que estão trabalhando é próxima a um aeroporto, portanto, o fluxo
de aviões é constante. Mr. Jones, encantado por este fato, desvia a atenção de
sua tarefa em vários momentos para observar os aviões. Em certo momento,
de forma inesperada, Mr. Jones afirma que Howard tem família, lhe oferece
dinheiro para levar seus filhos para jantar fora, dizendo que encontrou na rua e
fala naturalmente, relatando que uma voz lhe disse para entregar para ele;
Howard, ao perceber a boa vontade de Jones, aceita o dinheiro.
inda muito entusiasmado com os aviões, Mr. Jones sobe na parte mais alta da
construção sem nenhuma proteção ou qualquer indício de medo e começa a
andar e a discursar sobre física, comentando com Howard sobre a
possibilidade de ser livre e voar, nos fazendo notar mais uma vez que sua
inteligência está preservada e que consegue organizar pensamentos
complexos. Howard imaginando que poderia ocorrer uma tragédia, começa a
conversar com Jones ao mesmo tempo em que já toma a iniciativa de salvar o
colega de trabalho. Podemos perceber que uma ambulância chega no local e
Howard, garantindo o mínimo de segurança para si mesmo, segura Jones,
agarrando-o e evitando um acidente ou possível suicídio.
Em seguida, o filme já se passa em um hospital psiquiátrico onde a chefe está
explicando aos funcionários que devido a problemas estruturais e financeiros,
iriam atender apenas casos de caráter emergencial: avaliando, medicando e
liberando os quais chegavam em crise. Jones, após o episódio no telhado da
construção, é internado no sanatório tendo como sintomas alucinações
auditivas e delírio, sendo sedado por medicamento com alta dosagem para
amenizar sua agitação. O médico residente plantonista lhe dá o diagnóstico de
esquizofrenia, sendo neste momento apresentado para a psiquiatra Dra. Libbie
(outra personagem principal do filme) e demais funcionários recém chegados. A
Dra. lhe faz as perguntas comuns de avaliação de estado mental/identificação
do paciente, sobre qual seu nome e o dia da semana com o intuito de examinar
o grau de consciência de realidade/ racionalidade do indivíduo, e Jones sob
efeito medicamentoso só consegue responder a primeira pergunta e conforme
o médico relata e também é perceptível no decorrer do filme, o personagem
principal é uma pessoa solitária e sem familiar algum.
Avançando no filme, vemos Jones observando com certa paixão uma pessoa
com asa-delta no céu e, em seguida, vemos que o mesmo ainda se encontra
no hospital. Acaba encontrando com a Dra. Libbie e agindo de forma
entusiasmada como no início da trama, percebemos que ele acaba por tomar
para si o papel de médico e começa a dialogar com a Dra. de igual para igual e
nessa conversa Jones demonstra seu interesse por música clássica. Dra.
Libbie, porém, por trabalhar na área, consegue identificar e bem o motivo de
seu comportamento, tenta convencê-lo a fazer uma sessão de terapia, mas ele
desconversa e vai embora, pois já havia recebido alta do hospital.
Posteriormente, Dra. Libbie em uma reunião com outros profissionais afirma
que o diagnóstico de Jones estava errado e pelo comportamento observável,
segunda ela Jones é expansivo, impulsivo, além de apresentar euforia
acentuada, este portanto, deveria receber o diagnóstico de psicótico maníaco-
depressivo.
Jones, agitado, chega em um banco no qual possui conta, solicita que feche a
conta e a atendente lembra-o que esta foi aberta na semana anterior. Nesse
instante o mesmo faz cálculos mentais explicando o porquê deveria fechar a
sua conta poupança no banco, demonstrando rapidez no raciocínio. Mais uma
vez, utilizando do seu charme e persuasão, convence não só a atendente a
fechar a sua conta e seguir os critérios de recebimentos estabelecidos pelo
mesmo, como também a convence a sair com ele.
Em companhia desta mulher sai para aproveitar a tarde e gastar
deliberadamente todo o dinheiro que tinha em sua conta bancária. Sendo
horário
de almoço da atendente, ambos param numa barraca de cachorro-quente e
Jones acaba pagando pela refeição muito mais do que seria necessário, sem
se importar com o dinheiro. Também vão a uma loja de instrumentos musicais
e Jones compra um piano de forma impulsiva, além de apresentar algumas
alucinações auditivas. Ele também aluga um quarto num hotel de luxo,
gastando todo o seu dinheiro, demonstrando atos exagerados de
generosidade. Durante a noite e ainda com a atendente como acompanhante,
chegam em um teatro, e conversa com a moça sobre ter estudado música e ter
tido uma namorada musicista, mas que esta havia falecido. Ao adentrarem o
teatro para assistir a orquestra, Jones parece reconhecer a sinfonia e de modo
desinibido tenta assumir o papel do maestro, sobe no palco e começa a
orquestra sem qualquer controle inibitório. Devido este segundo episódio,
Jones é levado ao mesmo hospital psiquiátrico ainda em crise maníaca, sendo
internado novamente, onde fica falando em voar e repete números
aleatoriamente.
Ainda em crise, Jones pede pela presença da Dra. Libbie, que ao chegar ajuda
a acalmá-lo, o convence a tomar a medicação e lhe dá o diagnóstico de
psicose maníaco depressivo. Jones não aceita e diz que está acostumado com
esse processo, pois passou vinte anos entrando e saindo de hospitais, ou seja,
é possível analisar através desse diálogo que, já passou por inúmeros
episódios semelhantes de crises e internações decorrentes.
Na cena seguinte, Jones aparece em um tribunal onde estão decidindo se ele
deve ou não ser internado por tempo indeterminado. Dra. Libbie afirma que
Jones tem distúrbio bipolar (psicótico maníaco-depressivo), que vivencia ciclos
alternados e que precisa de uma intervenção para prosseguir com o
tratamento. Relata os dois episódios que o levaram ao hospital e enfatiza que
ele tem ideias desordenadas, perigosas para si, vive em um estado de euforia
seguido por ciclos depressivos com descontrole, desespero e sem qualquer
capacidade de sentir prazer. No entanto, Jones com sua capacidade
argumentativa apresenta- se de maneira convincente e consegue ser liberado
pela juíza.
Na saída do tribunal pede carona para a Dra. Libbie e também pede para ela
lhe pagar um lanche, conseguindo se aproximar da mesma. Ela reforça que
está preocupada com sua situação e ele pergunta “me sinto extasiado e você
quer me curar disso?”. Mais adiante no filme Jones vai buscar suas
ferramentas na casa de Howard e é convidado para jantar na casa desse
amigo. No momento em que estão jantando Jones apresenta sinal de tristeza e
melancolia por ver a família de Howard reunida e feliz, o que se confirma no
momento posterior em que uma das crianças está fazendo uma atividade
escolar de matemática e lhe pede ajuda, Jones que anteriormente fazia
cálculos com rapidez e incrível capacidade de raciocínio, demonstra estar
atordoado. Subsequente a este momento, ele aparece em meio a alucinações
visuais, auditivas e mesmo sensoriais relacionada a música e aprendizes.
No dia seguinte, Jones aparece em pé na rua, todo desarrumado parecendo
não ligar para sua aparência, estático observando o trânsito, se movimenta
sem demonstrar preocupação alguma, então passa a caminhar pela cidade
sem ter um destino determinado, voltando para casa de noite ainda mais sujo,
cansado e aparentando profunda melancolia, encontra a Dra. Libbie o
aguardando em seu apartamento, e relata: “eu não consigo acabar com a
tristeza”, em seguida desaba vulnerável em frente a médica. Jones parece
reconhecer que precisa de tratamento. Dra. Libbie lhe diz que tem dois
problemas, um químico
e o outro é emocional, questionando se ele pode colaborar com empenho para
desenvolver da melhor maneira possível esse processo. Então, Jones inicia o
tratamento no hospital psiquiátrico com terapia de grupo, tratamento
medicamentoso, terapia ocupacional (pintura) e terapia individual.
Passado um período de tratamento os medicamentos começam a surtir efeito,
fazendo com que Jones recuse tomá-los e entre em surto manifestando o
desejo de encerrar o processo, mas não o faz. Em um momento da sessão
terapêutica Dra. Libbie identifica que a origem do seu transtorno está para além
do aspecto orgânico, mas também está relacionado a sua história de vida.
Após dar início a investigações, Dra. Libbie descobre que a namorada que ele
afirmou ter morrido, na verdade não suportou se manter por perto por conta de
suas constantes crises, sendo assim, o deixou. Diante dessa confrontação,
Jones acaba surtando, discutindo com a Dra., sentindo-se violado por ter tido a
sua vida vasculhada.
Devido Dra. Libbie ultrapassa seu papel profissional iniciando uma relação
afetiva com o protagonista, acaba tendo que se afastar do caso e Jones é
transferido para outro hospital, mas foge e sai pelas ruas em meio a um surto.
Sai chutando os baldes de lixos, ameaça as pessoas nas calçadas, beija uma
mulher sem seu consentimento e sai correndo. Em uma conversa rouba uma
motocicleta de um homem, sai em alta velocidade, vai na casa de Howard e
pega suas ferramentas, retornando em seguida à construção do início do filme.
Howard nota a alteração do amigo e entra em contato com a Dra. Libbie e
ambos vão de encontro a Jones. Na obra já concluída, Jones sobe no telhado
igualmente ao início, demonstrando novamente sua vontade de voar, caminha
com passos firmes para a beirada do telhado, sorrindo e nesse momento passa
um avião muito próximo a ele. Jones estende os braços para cima nos dando a
entender que irá pular. No entanto, Dra. Libbie aparece estende as mãos a ele
que retribui o ato, sendo recebido por um abraço, verbalizando a sua angustia:
“eu queria tanto poder voar, mas eu não posso”.

DIAGNÓSTICO
Considerando o histórico de Mr. Jones, de acordo com Dalgalarrondo (2019) e
embasado no DSM-V (2014), podemos levantar a hipótese diagnóstica de
Transtorno Bipolar tipo I, com episódio atual ou recente maníaco com
características psicóticas congruentes com o humor (F31.2), pois o caso
apresenta especificações concretas para o mesmo.
Dalgalarrondo (2019, p. 638) afirma que “no caso do TB tipo I, deve haver
episódios depressivos intercalados com fases de normalidade e pelo menos
uma (mas geralmente várias) fases maníacas bem caracterizada”, fato esse
que nos é evidente no personagem que apresenta episódios maníacos do
início ao meio do filme e episódios depressivos a partir da cena em que
aparece andando pelas calçadas, aparentando desatenção e apatia.
Nos quadros maníacos, segundo Dalgalarrondo (2019, p. 639), o paciente
apresenta aceleração das funções psíquicas, no caso de Mr. Jones é possível
observar loquacidade, pensamento acelerado, exaltação e agitação
psicomotora, por exemplo. “[...] verifica-se, em geral, pensamento com
conteúdo ‘alegre, grandioso e impreciso’, que tende a ser superficial e
inconsequente.”, características essas que visualizamos nas cenas no telhado
da construção na
qual Mr. Jones se propõe a trabalhar, quando ele divaga sobre equilíbrio,
estabilidade e a possibilidade de voar, colocando-se numa situação de risco.
Dalgalarrondo (2019, p. 640) cita que “A atitude geral do paciente pode ser
alegre, brincalhona, eufórica ou, também, muito frequentemente, irritada,
arrogante e, às vezes, agressiva.”; ao longo das cenas durante crises
maníacas, é possível perceber características de euforia e impulsividade no
comportamento de Mr. Jones, reação agressiva aos medicamentos.
Suprindo a exigência de sintomas para a classificação nesta hipótese,
podemos dizer que Mr. Jones apresenta: diminuição da necessidade de sono,
loquacidade, logorreia, alterações formais do pensamento, distrabilidade,
agitação psicomotora, envolvimento excessivo em atividades potencialmente
perigosas ou danosas (seja para si mesmo ou para patrimônio próprio/de
terceiros), desinibição social e sexual; supre o critério de apresentar pelo
menos mais de três sintomas.

EXAME DO ESTADO MENTAL


O seguinte exame busca apresentar de forma direta o que foi possível observar
sobre as características do estado mental do personagem Mr. Jones. Portanto,
foi verificada sua conduta ao longo do filme e não somente quando estava em
atendimento e, será dividida quando encontrava-se na fase maníaca e
depressiva, desse modo fica mais claro o entendimento e a hipótese
diagnóstica passa a ser melhor sustentada.

1 – ASPECTOS DO PACIENTE
1.1 – Aparência:
Jones, um homem que tem por volta de 35 anos de idade, dados os indícios
provavelmente concluiu o colegial, estudou música clássica e tem
conhecimento sobre construção civil. Mora só e não apresentou ou mesmo
falou sobre contato com os familiares.
No início do filme estava bem apresentável, geralmente usava camisas sociais
ou de algodão bem passadas, casacos, calças jeans ou sociais e sapatos
socias, tudo muito bem limpo e elegante. Seus cabelos grisalhos com corte que
seguia a moda dos anos noventa estavam limpos e parcialmente arrumados
(não estava alinhado devido o estilo e tipo de cabelo, um tanto ondulado), era
sorridente, sua fala era acelerada, mostrava-se sempre amigável, olhava e
falava com todos olhando diretamente nos olhos, fato esse que cativava todos
que desejava, sua postura era firme e demonstrava extrema confiança sobre si.
Seu estado de humor era alegre, mas tanto sua alegria como expressões eram
eufóricas.
Passada essa fase expansiva, Jones passou a se descuidar de sua aparência,
andava desarrumado e não se importava com sua higiene. Sua postura era
agora encurvada, mostrava-se apático, seus pensamentos e fala ficaram lentos
e aparentava ter mais idade.
1.2 – Atividade Psicomotora e Comportamento:
Quando estava com o humor elevado apresentava uma grande agitação, de
modo que suas atividades motoras era bem articulas e condiziam com sua
verbalização. Não conseguia ficar quieto e certos momentos repetia a mesma
palavra de modo acelerado.
Já quando estava com o humor reduzido tanto seu modo de falar como sua
motricidade e gesticulação eram lentas ou mesmo não existiam.
1.3 – Atitude Frente ao Examinador:
Apesar de ser a princípio bem comunicativo, Jones fala pouco sobre si,
geralmente devolve as perguntas, apresenta características sedutoras, induz o
outro a falar sobre suas vidas e quando confrontado mostra-se hostil. No
entanto, quando se encontra na fase depressiva passa a ser mais aberto e
colaborador no processo terapêutico.
1.4 – Comunicação com o Examinador (atividade verbal):
Jones apresenta verbalização acelerada e imediata, vocabulário extenso e
compreensivo, bem como discursos envolventes devido sua boa capacidade
intelectual. Em momentos em que seu humor está reduzido sua fala é lenta e
sem motivação.
1.5 – Sentimentos Despertados:
Vendo a história de vida de Jones e como o mesmo lida consigo a respeito do
transtorno que apresenta, nos vem sentimento de tristeza acompanhado de
irritação, devido as pessoas que o abandonaram e pelo mesmo não saber ao
certo como é seu funcionamento, com isso nos é despertado o interesse em
ajudá-lo de forma eficaz.

2 – FUNÇÕES MENTAIS
2.1 – Consciência:
Apresenta lucidez, responde aos estímulos de forma esperada, tem
consciência de si e do ambiente externo.
Quando se encontra na fase depressiva sua capacidade de lucidez torna-se
parcialmente nula, não responde aos estímulos de forma adequada e nem tem
consciência de si ou dos outros, passando a apresentar confusão em todas as
esferas psicológicas.
2.2 – Atenção:
Seu nível de atenção na maior parte do tempo é satisfatório, conseguindo focar
no que está realizando ou quando há necessidade de dividi-la tem êxito, desde
que não esteja na fase depressiva e sempre se encontra nos extremos
(hipervigil ou hipovigil).
2.3 – Sensopercepção:
Em todas as vezes em que foi internado no hospital Psiquiátrico era aparente o
descontrole de Jones, sofrendo de graves manifestações de delírio e
alucinações auditivas, como especificados pelos profissionais que o atendiam.
2.4 – Orientação:
Pode ser observado na cena de sua segunda internação na clínica psiquiatra,
onde a Dra. Libbie faz questionamentos com o intuito de testar a capacidade de
inteiração de Jones com a realidade presente, parafraseando: “Qual é o seu
nome?” e “Que dia é hoje?”, mas dada a sua condição de crise, o mesmo
responde apenas a primeira pergunta realizada pela médica, sendo notório a
sua desorientação com relação ao tempo e ao espaço.
2.5 – Memória:
Em momentos em que enfrentava episódios maníacos, era possível observar a
incrível habilidade de raciocínio de Jones, sendo rápido no estabelecimento de
suas ideias e convicções, coordenando bem o processo de aquisição,
estocagem e recuperação da memória. Porém quando se encontrava em
episódios depressivos tinha tal habilidade retardada drasticamente.
.
2.6 – Inteligência:
Mr. Jones apesar de suas limitações dado o transtorno, é sem dúvida alguma
um homem com grande capacidade intelectual, visto no decorrer do filme
através de sua: habilidade de raciocínio, relacionamento interpessoal, memória,
atenção, persuasão e compreensão sobre diversos assuntos, como por
exemplo: Matemática e piano. Sendo visível durante as contas matemáticas
realizadas mentalmente e sua habilidade ao tocar piano.
2.7 – Afetividade e Humor:
Sobre as relações afetivas do indivíduo, apesar de sua alta habilidade
interpessoal, sente dificuldades aparente de vinculação com as pessoas,
sentindo-se sozinho e abandonado durante boa parte da trama, criando
estratégias de recalque para não lidar com esta frustração, como por exemplo:
Afirmar que sua ex-namorada Ellen havia falecido.
Durante seu período maníaco, mostrava bom-humor exacerbado, eufórico,
Loquaz, comunicativo e sorridente. Já em período depressivo, era tomado por
um inefável sentimento de vazio, tristeza, descontrole e incapacidade de sentir
qualquer prazer.
2.8 – Pensamento:
Analisando a partir dos três aspectos avaliativos para estabelecer o exame do
estado mental: a produção, curso e conteúdo de seus pensamentos. Estes se
encontram alterados em ambos os episódios, sendo que no primeiro,
predomina a incomum capacidade de pensamentos e falas aceleradas; e
durante o seu episódio depressivo, tendo uma drástica regressão da sua
capacidade de pensamento lógico, refletindo e verbalizando com dificuldade,
além de subsequentemente ter sua capacidade de atenção, inteligência e
memória também alterados.
2.9 – Juízo Crítico:
Jones tem muitas dificuldades de estabelecer senso crítico, dada a disfunção
apresentada pelo mesmo, tendo entre os dois episódios (maníaco e
depressivo) uma visão distorcida de si e do mundo ao seu redor. Exemplos:
Quando em um tribunal nega ser portador do transtorno Bipolar, refutando as
consequências desta patologia sobre a sua vida; afirmando inicialmente a Dra.
Libbie ser uma pessoa normal e sem qualquer tipo de adoecimento, negando
assim o tratamento; e gastando deliberadamente o seu dinheiro. Porém quando
aceita as sessões de terapia, se propõe a compreender o que se passa
consigo, para então, lidar de uma maneira menos catastrófica com a
bipolaridade (insight).
2.10- Conduta:
O personagem cultivava comportamentos/conduta excessivamente eufóricos e
impulsivos em meio a episódios maníacos, como por exemplo: O momento em
que invade o palco e tenta reger a orquestra que estava sendo apresentada e
tendo facilidade de se comunicar com outras pessoas. Já durante os episódios
depressivos, havia uma drástica redução de sua agitação, pensando,
verbalizando e se movendo com aparente lentidão e sem vigor algum; é
observável também pelo fato de ter tentado se suicidar em alguns momentos
da trama.
2.11- Linguagem:
Referente a sua comunicação, Jones tem uma boa expressão facial e
vocabulário, conseguindo estabelecer uma boa relação com os demais, apesar
de tais características se manifestarem de modo exacerbado, como vistos no
episódio maníaco. Enquanto nos episódios depressivos, por ter sua capacidade
de atenção, memória e raciocínio reduzidas, acaba por também ter dificuldades
aparentes de estabelecer seus pensamentos, falas (disartria, bradilalia e
afasia), hesitante em suas colocações e gestos.

3 – FUNÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS
3.1 – Sono: Não é possível observar a rotina de sono do personagem,
entretanto, seguindo a hipótese diagnóstica Transtorno Bipolar Tipo I, nos
episódios maníacos a necessidade de sono é reduzida; podemos observar
agitação constante no personagem durante o episódio maníaco, como na cena
inicial, quando está pedalando, ou durante a primeira cena em que sai do
hospital psiquiátrico, agitado e dançando. Durante o episódio depressivo, são
características a perda de energia e a fadiga, sintomas que são observáveis
pouco antes da internação voluntária de Mr. Jones, na cena com a Dra. Libbie
em seu apartamento.
3.2 – Apetite: Seguindo as crises episódicas, é possível observar um momento
durante o episódio maníaco no qual Mr. Jones compra cachorro-quente, porém,
não é possível observar cenas nas quais ele se alimenta. Ainda assim, pelo
vigor e disposição física apresentado, é possível hipotetizar que o personagem
se alimenta ao menos o suficiente. Durante o episódio depressivo, é provável
que Mr. Jones tenha reduzido sua alimentação, já que aparenta estar abatido
tanto emocionalmente quanto fisicamente.
3.3 – Sexualidade: Ao longo dos episódios maníacos é possível observar
aumento do desejo e dos níveis de excitação do personagem (ex.: Quando
flerta com duas moças na calçada; quando convida a atendente do banco e se
envolve com ela amorosamente; quando beija uma moça na rua sem ter
permissão e corre risco de danos). Durante os episódios depressivos,
aparentemente, há uma queda acentuada na excitação do personagem.

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
De acordo o DSM-V (2014) os episódios de humor de Mr. Jones preenchem
significativamente os quatro critérios referentes a Transtorno Bipolar tipo I, com
episódio atual ou recente maníaco com características psicóticas congruentes
com o humor (F31.2):
“A. Um período distinto de humor anormal e
persistentemente elevado, expansivo ou irritável
[...]
B. [...] três (ou mais) dos seguintes sintomas
(quatro se o humor é apenas irritável) estão
presentes em grau significativo e representam
uma mudança notável do comportamento habitual:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade; 2. [...];
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para
continuar falando; 4. [...]; 5. [...]; 6. Aumento da
atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no
trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação
psicomotora [...]; 7. Envolvimento excessivo em
atividades com elevado potencial para
consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em
surtos desenfreados de compras, indiscrições
sexuais ou investimentos financeiros insensatos).
C. A perturbação do humor é suficientemente
grave a ponto de causar prejuízo acentuado no
funcionamento social ou profissional ou para
necessitar de hospitalização a fim de prevenir
dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem
características psicóticas.
D. O episódio não é atribuível aos efeitos
fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra
condição médica.
[...] Durante episódios maníacos, o conteúdo de
todos os delírios e alucinações é consistente com
os temas maníacos típicos de grandiosidade,
invulnerabilidade, etc.” (DSM-V, 2014)

Dalgalarrondo (2019) ainda nos alerta que mesmo havendo períodos de


remissão, o transtorno bipolar é um transtorno mental grave, pois, devido suas
implicações a qualidade de vida do sujeito é diretamente afetada, trazendo
prejuízos a níveis biopsicossociais, e não tendo um suporte adequado seja por
familiares e/ou profissionais de saúde (de todas as esferas) é comum o índice
de suicídio.

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Antes de ser receitado determinado tratamento medicamentoso, é necessário a
realização de exames específicos para evitar a piora de doenças e propensões a
doenças de acordo com efeitos colaterais produzidos por certas medicações.
Comorbidades também devem ser verificadas no quadro de Mr. Jones, com a
finalidade de prevenir o desenvolvimento de complicações ao iniciar a
medicação. Os mesmos devem ser dosados acompanhando os fatores biológicos
(como idade e níveis hormonais) para que não ocorra algum tipo de desequilíbrio
no sistema orgânico do paciente, devendo ser prescritos de acordo com o
momento – se ele faz uso de outro medicamento, verificar os componentes deste,
modificar ou suspender o uso.
É comum a utilização de antipsicóticos, anticonvulsionantes, antidepressivos e/ou
estabilizadores de humor. Segundo Baloch (2011) os estabilizadores,
principalmente à base de lítio, são os mais indicados no tratamento do
Transtorno Bipolar por seu histórico de eficácia em relação aos estados de humor
apresentados nesse quadro. O lítio também é o único estabilizador que
comprovadamente reduz o risco de suicídio e apresenta melhoras significativas
em relação a prevenção de recaídas. Há também a indicação do estabilizador
valproato, um anticonvulsionante, que possui eficácia maior no tratamento de
estados mistos do Transtorno Bipolar. Existem outros medicamentos que devem
ser verificados para que o melhor tratamento medicamentoso seja aplicado ao
paciente.

TRATAMENTO PSICOTERÁPICO
O tratamento psicoterápico indicado a Jones é a Psicoterapia grupal, visto que ao
se relacionar com uma amostra de pessoas que enfrentam as mesmas
demandas que ele, poderá desenvolver o que Peluso, Baruzzi e Blay (2001, p.
345) apresentam como vantagens “a interação com os colegas também parece
ser importante fator para o estabelecimento de novas relações interpessoais e
sociais, diminuindo o isolamento social”, incentivando-o assim a ampliar o seu
funcionamento social, emocional e ocupacional, criando um movimento de
cooperação intrínseca entre os integrantes, para assim, com a mediação do
psicoterapeuta de base psicanalista estabeleça-se uma relação de referência
familiar, onde um auxilia ao outro a lidar com suas problemáticas e a dar
continuidade no tratamento. Segundo Zimerman (1999) apud Rosal (2017, p.
125): “Essa reunião de pessoas constitui nova identidade, a identidade grupal.
Essa [...] deve respeitar e preservar as identidades individuais dos participantes
do grupo. É esse comportamento que permitirá o acolhimento de cada um que
compõe o grupo.”
O acompanhamento psicoterápico grupal também auxilia o paciente a dar
continuidade ao tratamento medicamentoso, visto que, muitos ao observar uma
melhorar significativa em seu quadro, acabam por interromper o uso dos
medicamentos receitados pelo psiquiatra, como indicado na cena em que Mr.
Jones estava sob tratamento no hospital psiquiátrico, assistindo uma animação,
enquanto a enfermeira insiste em medicá-lo, sendo que em um ato impulsivo o
mesmo derruba a bandeja com todos os remédios. Sendo assim, é
imprescindível que o terapeuta tenha uma participação ativa e um bom manejo
do grupo, para então ajudar os seus pacientes a absorverem o fato de que a
doença se encontra controlada por conta da adesão ao medicação e
psicoterapia, não podendo se tornar inexistente, ou seja, os objetivos do
psicoterapeuta grupal são, auxiliar seus pacientes a: exercitar um melhor manejo
de emoções negativas relacionadas ao seu passado; trabalhar a Psicoeducação
do seu público- alvo, para que os mesmos compreendam, aceitem e convivam da
melhor maneira possível com a sua realidade patológica; Trabalha o
fortalecimento emocional dos pacientes em nível individual e grupal, para que
cada integrante, incluindo Jones, aprenda a lidar com as adversidades que
venham surgir, tendo como consequência uma maior estabilidade e qualidade de
vida; e trazer a compreensão de que a autossabotagem pode contribuir para que
posteriormente os episódios de crises retornem com maior frequência e
intensidade.
CONCLUSÃO (Prognóstico, Prevenção e encaminhamentos)

Devido ao histórico de Mr. Jones mencionado no filme, é provável que o


desenvolvimento de seu estado bipolar se dê por condições genéticas, orgânicas
e psíquicas, atrelada a influência ambiental – Comprova-se na cena em que o
personagem cita que passou a dar entrada em hospitais psiquiátricos por volta
dos 20 anos, sendo que, o paciente possui aproximadamente 35 anos
‘atualmente’. Provavelmente o mesmo iniciou tratamentos farmacológicos e
psicoterápicos anteriormente, tendo interrompido o processo em todas as vezes,
dando espaço para recaídas. O ciclo apresentado por Mr. Jones é misto, pois
podemos observar tanto a ocorrência dos episódios maníacos quanto
depressivos.
Deve ser realizado encaminhamento para um médico psiquiatra para que o
tratamento seja efetivo, sabendo que o Transtorno Bipolar Tipo I possui bases
biológicas, compreendendo a necessidade e importância da avaliação médica e
prescrição de medicamentos adequados ao caso específico.
A psicoterapia grupal com base psicanalítica foi indicada como a mais viável para
Mr. Jones não pelas possíveis mudanças estruturais, e sim adaptativas.
Melhorando sua relação com pessoas que se assemelham a ele, há a
possibilidade maior no alívio dos seus sintomas, preparando-o assim para uma
inserção mais ajustada a nível social.
Por se tratar de uma doença crônica, é recomendável que o tratamento
psicoterápico e medicamentoso sejam realizados em consonância durante toda a
vida do paciente, visando um maior controle sobre a sintomatologia apresentada,
diminuindo assim, os riscos de reencidências pelo paciente.
REFERÊNCIAS

BALOCH,

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos


mentais [recurso eletrônico] / Paulo Dalgalarrondo. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2019.

DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [recurso


eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês
Corrêa Nascimento... et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli... [et
al.]. 5ª ed. – Dados eletrônicos. - Porto Alegre: Artmed, 2014.

PELUSO, E. T. P.; BARUZZI, M.; BLAY, S. L. A. A experiência de usuários


do serviço público em psicoterapia de grupo: estudo qualitativo. Rev. Saúde
Pública, 2001.

Rosal, Anna Silvia Rosal de. Teorias e técnicas psicoterápicas gerais –


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2017.

SITES:
https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/transtornos-psiqui
%C3%A1tricos/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/antipsic%C3%B3ticos
– Acesso em 02 de junho de 2020 às 16h03.

https://www.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/3161/anticonvulsivantes.h
tm – Acesso em 02 de junho de 2020 às 16h30.

https://www.medicinanet.com.br/conteudos/biblioteca/3169/antidepressivos_e_
esta – Acesso em 02 de junho de 2020 às 17h05.

http://revista.fmrp.usp.br/2017/vol50-Supl-1/SIMP8-Transtorno-Bipolar.pdf –
Acesso em 02 de junho de 2020 às 17h26.

https://www.sanarmed.com/transtorno-afetivo-bipolar – Acesso em 02 de junho


de 2020 às 18h00.

Você também pode gostar