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1
Advogado, Jurista na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e doutorando em Direito
Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. O presente texto corresponde, com alterações,
ao relatório apresentado no âmbito do seminário especializado “Contratos Duradouros” do Curso de
Doutoramento em Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, da responsabilidade do
Professor Doutor Francisco Manuel de Brito Pereira Coelho.
Keywords: sole remedy clauses, limitation and exclusion of liability clauses, penal
clause, distribution contracts, compensation
Esta influência do sistema de common law na prática contratual hodierna nos países
com sistemas de civil law – resultante, em larga medida, da posição liderante dos países
com sistemas de common law em termos económicos2 – concita muitas vezes dificuldades
resultantes da diversa natureza dos sistemas jurídicos em presença3. Tais problemas serão
particularmente premente quando o direito aplicável ao contrato seja um direito da família
de civil law e/ou os tribunais competentes para conhecer de qualquer litígio emergente do
contrato sejam tribunais desse sistema. Veja-se, entre nós, o caso das cláusulas de
garantia, igualmente típicas da contratação de matriz anglo-saxónica, que foram já objeto
de apreciação jurisprudencial4.
No quadro deste movimento de importação – tantas vezes de forma acrítica ou, pelo
menos, pouco fundamentada – das técnicas e institutos contratuais típicos da common
law, trataremos a figura das cláusulas de sole remedy ou exclusive remedy5, procurando,
2
A. Barreto Menezes Cordeiro, Do Trust no Direito Civil, Almedina, Coimbra, 2016, 53.
3
Para uma síntese da evolução histórica e traços principais do sistema de common law, v. A. Barreto
Menezes Cordeiro, Cit., 65 ss..
4
V. acórdão do STJ de 1 de março de 2016 (Rel. Cons. Fernandes do Vale), disponível em
http://www.dgsi.pt. Sobre estas cláusulas de garantia, cfr. Fábio Castro Russo, “Das cláusulas de garantia
nos contratos de compra e venda de participações sociais”, Direito das Sociedades em Revista, setembro
2010, Ano 2, Vol. 4, 115-136, António Pinto Monteiro/ Paulo Mota Pinto, “Compra e venda de empresa.
A venda de participações sociais como venda de empresa (share deal)”, Revista de Legislação e
Jurisprudência, Ano 137º, n.º 3947 (novembro-dezembro 2007), 76-102, maxime 93-94; Paulo Câmara/
Miguel Brito Bastos, “O Direito da aquisição de empresas: uma introdução”, Aquisição de Empresas,
Coimbra Editora, Coimbra, 2011, 13-64, maxime 38-42; António Teles/ João Carmona Dias, “Garantia na
Alienação de Empresas”, Aquisição de Empresas, Coimbra Editora, Coimbra, 2011, 65-105, maxime, 93-
100.
5
Este tipo de cláusulas são referidas como “sole remedy”, “single remedy”, “exclusive remedy” ou mesmo
“sole and exclusive remedy” (cfr. Enrico Gabrielli, “Autonomia privata ed esclusione dei rimedi
contrattuali. (Brevi spunti di reflessione sulla clausola di exclusive remedy)”, Rivista del Diritto
1. Definição. Tipologias.
Podemos definir as cláusulas de sole remedy como aquelas pelas quais as partes
determinam ou limitam os meios de reação6 ao seu dispor perante uma qualquer
perturbação contratual7, seja excluindo expressamente a faculdade de recurso a algum
ou alguns dos remédios legais disponíveis para as partes em caso de verificação de
determinada perturbação contratual (ou determinadas perturbações contratuais), seja
prevendo, em caso de ocorrência de qualquer perturbação do contrato, o recurso a apenas
um remédio, expressamente definido enquanto tal. Por perturbação contratual
entendemos, neste contexto, a mora, o incumprimento definitivo, a perda de interesse, a
perda de confiança, a alteração das circunstâncias e também invalidade do negócio por
vícios da vontade (v.g. por erro ou dolo).
Commerciale e del Diritto Generale delle Obbligazioni, Anno CXLVI, 2018, 2, 215). Por conveniência de
exposição, adotaremos a nomenclatura “sole remedy”.
6
Sobre o conceito de remedy (remédio), sua polissemia e dificuldade de definição v. Enrico Gabrielli, Cit.,
210-211 (e bibliografia aí citada). Cfr. igualmente, sobre os remedies for non-performance, Christian Von
Bar/Eric Clive (Edtors), Principles, Definitions and model Rules of european Private Law – Draft Common
Frame of Reference (DCFR) – Full Edition, Volume I, Sellier – European Law Publishers, 2009, 772 ss..
7
Catarina Monteiro Pires, Aquisição de Empresas e de Participações acionistas, Almedina, Coimbra, 2019,
81.
No que respeita ao tipo de remédio, o mesmo poderá ter natureza pecuniária (fixando
como remédio único o direito a uma indemnização, previamente quantificada ou apenas
quantificável) ou não pecuniária (v.g. a previsão da faculdade de resolução do contrato,
independentemente de estar em causa apenas uma situação de mora ou cumprimento
defeituoso não suscetível de afetar a manutenção do vínculo contratual).
Tal como referido supra, as cláusulas de sole remedy têm origem no direito anglo-
saxónico, tendo surgido, tanto quanto nos é dado saber, no âmbito dos contratos de
compra e venda. Tiveram especial desenvolvimento nos casos de compra e venda de
empresas, intimamente ligadas com as representations ans warranties9, normalmente
associadas a tais contratos.
Como é bom de ver, as cláusulas de sole remedy, atenta a sua definição, são
suscetíveis, em teoria, de aplicação à generalidade dos contratos.
8
Idem, Ibidem.
9
Cf. Paulo Câmara/ Miguel Brito Bastos, Cit., 42; Catarina Monteiro Pires, Cit., 81.
10
V. o recente caso julgado pelo britânico Court of Appeal – Scottish Power UK Plc v BP Exploration
Operating Company Ltd & Ors (Court of Appeal - Civil Division, November 01, 2016, [2016] EWCA Civ
1043), disponível em https://court-appeal.vlex.co.uk/vid/a3-2015-3357-652522929.
11
V. o caso julgado pelo Tribunal de Nova Iorque sobre uma cláusula de sole remedy num contrato entre
sociedades financeiras do mesmo grupo - Morgan Stanley Mtge. Loan Trust 2006-13ARX v Morgan Stanley
Mtge. Capital Holdings LLC, disponível em https://law.justia.com/cases/new-york/appellate-division-first-
department/2016/653429-12-154.html.
12
V. o “Target2-Securities Memorandum of Understanding” celebrado entre o Banco Central Europeu, os
Bancos Centrais (incluindo o Banco de Portugal) e as centrais de valores mobiliários do Eurosistema
(incluindo a Interbolsa), em 16 de julho de 2009 (cláusula 5.5., com a seguinte redação: “With the exception
of Clause 6 com a epígrafe Confidentiality, the rights to withdraw and to exclude, as the case may be, set
forth in this Clause 5 shall be the sole remedy that a party shall have against any other party under this
MoU, including for breach of contract, and no further claim shall be asserted under this MoU. As a matter
of exception, in case a party breaches its oblegations under Clause 6, the other party shall be entitled to
any additional rights or remedies tht a party may have under the applicable statutory law.”), disponível
em https://www.ecb.europa.eu/paym/target/t2s/html/index.en.html.
Ora, da definição supra apresentada de cláusula de sole remedy, resulta evidente que
estamos perante uma modalidade de fixação contratual dos direitos do credor e, por
conseguinte, uma figura próxima das cláusulas limitativas e de exclusão da
responsabilidade civil (previstas no artigo 809.º do Código Civil13), bem como, no que
respeita às cláusulas de sole remedy de natureza pecuniária, da cláusula penal (art. 810.º).
Importa, assim, ainda que de forma breve, ter em conta os traços essenciais destes
institutos no Direito português.
O artigo 809.º determina que é nula a cláusula pela qual o credor renuncia
antecipadamente a qualquer dos direitos que lhe são facultados nas divisões anteriores14
nos casos de não cumprimento ou mora do devedor, salvo o disposto no n.º 2 do artigo
800º”15.
13
Todas as disposições legais mencionadas ou citadas no texto sem expressa indicação da sua fonte são do
Código Civil.
14
São esses direitos, o direito à indemnização por incumprimento ou pela mora, o direito ao cumprimento,
o direito de resolução e o commodum de representação.
15
O artigo 800º regula a responsabilidade do devedor pelos atos dos seus representantes legais ou das
pessoas que utilize para o cumprimento da obrigação. No seu n.º 2, estabelece-se a admissibilidade da
exclusão ou limitação convencional do devedor pelos atos destes terceiros, mediante acordo prévio e desde
que tal não colida com qualquer norma imperativa. No presente estudo não abordaremos esta importante
exclusão à regra ínsita no artigo 809º. Não obstante, sobre a interpretação desta exclusão, com a relevante
distinção entre auxiliares dependentes e independentes, v. António Pinto Monteiro, Cláusulas Limitativas
e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Almedina, Coimbra, 2003, 257 ss. (maxime 273 ss.).
16
António Pinto Monteiro, “As cláusulas limitativas e de exclusão de responsabilidade sob o olhar da
jurisprudência portuguesa recente”, Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 138º, n.º 3956 (maio-
junho 2009), 292.
17
António Pinto Monteiro, “As cláusulas limitativas e de exclusão de responsabilidade sob o olhar da
jurisprudência portuguesa recente”, Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 138º, n.º 3956 (maio-
junho 2009), 293.
18
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, 12ª Edição Revista e Actualizada, Almedina,
Coimbra, 2018, 787.
19
Quanto a esta modalidade de cláusula limitativa da responsabilidade, a mesma traduz-se na convenção
pela qual as partes estabelecem que certos acontecimentos, a ocorrerem, exonerarão o devedor da sua
obrigação de indemnizar. Uma cláusula desta natureza – “que em certos casos poderá ter o alcance de
equiparar a simples dificuldade à impossibilidade da prestação” (António Pinto Monteiro, Cláusulas
Limitativas e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Cit., 109) – permitirá ao devedor liberar-se da
responsabilidade pelo não cumprimento, cumprimento defeituoso ou mora, resultante de circunstâncias
convencionadas. Ora, como defende ANTÓNIO PINTO MONTEIRO, a validade deste tipo de cláusulas de
penderá, por um lado, do facto de os acontecimentos equiparados pelas partes a casos de força maior serem
suficientemente determinados e precisos, e, por outro lado, de os mesmos não serem imputáveis à parte
inadimplente, sob pena de, se cair num venire contra factum proprium (António Pinto Monteiro,
Idem,ibidem).
20
Para um elenco exemplificado, v. Ana Prata, Cláusulas de Exclusão e Limitação da Responsabilidade
Contratual, Almedina, Coimbra, 2005.
21
Como nota ANTÓNIO PINTO MONTEIRO, “se, ao invés, o valor declarado tiver sido estabelecido como o
valor que, em qualquer caso, determinará o quantum indemnizatório, estaremos já perante uma figura
mais próxima da cláusula penal do que da cláusula limitativa da indemnização strictu sensu. É que então
tratar-se-á, na ótica das partes, de fixar à forfait o quantitativo da indemnização, de liquidar
antecipadamente o dano, e não de lhe ficar apenas um limite máximo”. (Cfr. António Pinto Monteiro,
Cláusulas Limitativas e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Cit., 105).
22
Ainda que o fundamento principal seja, como é bom de ver, o princípio da liberdade contratual, maxime
na sua dimensão de liberdade de conformação do conteúdo contratual. Cfr., por exemplo, Mário Júlio de
Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 230 ss., maxime 240 ss..
23
Cfr. Inocêncio Galvão Telles, Direito das Obrigações, 7.ª Edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2014, 430-
435; Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª Edição, Coimbra Editora, 2005, 601-
605; Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 789 ss.; Pedro Romano Martinez,
Cumpreimento Defeituoso, em especial na Compra e Venda e na Empreitada, Almedina, Coimbra, 1994,
502-506; Joaquim de Sousa Ribeiro, “Responsabilidade e garantia em cláusulas contratuais gerais”, Direito
dos Contratos – Estudos, Almedina, Coimbra, 2007, 144 ss.; Francisco Manuel de Brito Pereira Coelho, A
Renúncia Abdicativa no Direito Civil, Coimbra Editora, Coimbra, 1995, 21 (nota 30) e 144 (nota 404);
Nuno Manuel Pinto de Oliveira, Cláusulas Acessórias ao Contrato – Cláusulas de Exclusão e de Limitação
do Dever de Indemnizar e Cláusulas Penais, 3ª Edição, Almedina, Coimbra, 2008, 33; Mafalda Miranda
Barbosa, “Os contratos de adesão no cerne da proteção do consumidor”, Estudos de Direito do Consumidor,
Centro de Direito do consumo, FDUC, n.º 3, 2001, 389 ss. (maxime 407-408); Bruno Neves de Sousa, “O
problema da admissibilidade das cláusulas limitativas e exoneratórias da responsabilidade civil em face do
artigo 809º do Código Civil”, O Direito, 2009, II, 377-410.
24
Vejam-se, ad exemplum, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 9 de maio de 1996 (Cons Rel.
Sousa Inês) e o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 15 de novembro de 2007 (Des. Rel. Jorge
Leal), ambos disponíveis em www.dgsi.pt.
25
Cfr. António Pinto Monteiro, Cláusulas Limitativas e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Almedina,
Coimbra, 2003.
26
João de Matos Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, 6.ª Ed., Vol. II, Almedina, Coimbra, 2000,
197, nota n.º 2.
27
Idem, 136‑137.
28
Idem, 138.
29
Pires de Lima/ Anrunes Varela, Código Civil Anotado, vol. I, 4.ª Edição, Coimbra Editora, Coimbra,
1986, 73.
30
Em abono da sua posição, PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA invoca a intenção do legislador histórico,
resultante do confronto entre os trabalhos preparatórios de VAZ SERRA e o texto do artigo 809.º, na sua
redação final. Com efeito, nos trabalhos preparatórios de VAZ SERRA, era proposto que a disposição
estabelecesse que “as convenções que excluem ou limitam a responsabilidade do devedor por dolo ou culpa
grave são nulas, ainda que apenas estabeleçam o máximo a que a indemnização a pagar pelo devedor ou
a inversão do encargo da prova” (cfr. nota anterior). Quanto ao anteprojeto de VAZ SERRA, V. Adriano
Vaz Serra, “Cláusulas Modificadoras da Responsabilidade. Obrigação de Garantia Contra a
Responsabilidade por Danos a Terceiros”, Boletim do Ministério da Justiça, n.º 79, Outubro de 1958, 105
ss.
31
Fernando Pessoa Jorge, “A Limitação Convencional da Responsabilidade Civil”, Boletim do Ministério
da Justiça, n.º 281, Dezembro de 1978, 5 e ss.
32
António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil IX (Direito das Obrigações), 3ª Edição revista e
aumentada, Almedina, Coimbra, 2017, 437-441.
33
Ana Prata, Cláusulas de Exclusão e Limitação da Responsabilidade Contratual, Almedina, Coimbra,
2005, 453 ss..
34
Luís Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Vol. II, Almedina, Coimbra, 2002.
35
Jorge Ribeiro de Faria, Direito das Obrigações, 2, 1980, pp. 404-405 (nota 2).
36
GALVÃO TELLES, distingue entre renúncia total e renúncia parcial, considerando que o termo renúncia
do artigo 809.º deve ser entendido como renúncia total, apenas proibindo, consequentemente, “a renúncia
do direito na sua plenitude; a sua eliminação” (Inocêncio Galvão Telles, Direito das Obrigações, Cit.,431-
432).
37
ALMEIDA COSTA considera “limitado o alcance da cláusula à culpa leve, não pode afirmar‑se, sem mais,
que o credor renuncia a tal direito, pois ele apenas aceita que a responsabilidade do devedor fique
condicionada a determinado grau de culpa (dolo ou culpa grave), ou seja, a uma culpa qualificada.
Verifica-se, portanto, uma restrição dos pressupostos da responsabilidade, ao nível da culpa do devedor,
e não propriamente uma renúncia à indemnização.” (Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das
Obrigações, Cit., 734).
38
António Pinto Monteiro, Cláusulas Limitativas e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Cit., 228.
O artigo 810.º, n.º 1, contém a seguinte definição de cláusula penal: cláusula pela
qual as partes fixam por acordo o montante da indemnização exigível. No entanto, como
ensina o Professor PINTO MONTEIRO42, o artigo 810.º, n.º 1, prevê, apenas, uma das
possíveis espécies de cláusulas penais – a cláusula de fixação antecipada da
indemnização –, sendo que outros tipos de cláusulas penais são passíveis de convenção
pelas partes (ao abrigo do princípio da liberdade contratual, previsto no artigo 405.º) – a
39
Idem, ibidem.
40
António Pinto Monteiro, Cláusulas Limitativas e de Exclusão da Responsabilidade Civil, Cit., 248.
41
Sobre o recurso à exceção de não cumprimento, mas com argumentos extensíveis à resolução do contrato,
e à eventual função ou finalidade de compelir ou incitar a parte à realização da prestação, v. Maria de Lurdes
Pereira, Conceito de Prestação e Destino da Contraprestação, Almedina, Coimbra, 2001, 138.
42
Cfr. António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, Almedina, Coimbra, 2014 (reimpressão),
474 ss. V. também, António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil, IX, Direito das Obrigações, Cit.,
442-503.
43
A partir da proposta do Professor Pinto monteiro, na sua dissertação de doutoramento, mencionada na
nota anterior, superou-se a o tradicional modelo unitário da cláusula penal, que propugnava a tese da dupla
função da cláusula penal ou da essencialidade das duas funções (a função indemnizatória e a função
compulsória), sendo que a cláusula penal visaria, simultânea e necessariamente, uma função indemnizatória
e uma função compulsória.
44
Com a superação do modelo unitário tradicional, o Direito Português passou a estar alinhado com as
soluções alemã (BGB (§§ 336-345 e 309) e francesa (art. 1231-5 do Code Civil) e, com as devidas
diferenças, com os sistemas de common law (onde se observa a tradicional distinção entre a penalty clause
e a liquidated damages clause).
45
V., na jurisprudência, os acórdãos do STJ de 3 de Novembro de 1983 (Rel. Cons. Santos Silveira,
disponível em BMJ, nº 331, pp. 489 ss.), de 3 de Novembro de 1983 (Rel. Cons. Santos Silveira, disponível
em www.dgsi.pt,), de 29 de Abril de 1998 (Rel. Cons. Almeida e Silva, publicado no Boletim do Ministério
da Justiça, nº 476, p. 422), de 22 de Outubro de 2008 (Rel. Cons. Bravo Serra, disponível em www.dgsi.pt,),
de 27 de Setembro de 2011 (Rel. Cons. Nuno Cameira, Revista de Legislação e Jurisprudência, ano 141º,
nº 3972, 2012, pp. 177ss.), de 24 de Abril de 2012 (Rel. Cons. Helder Roque, disponível na Colectânea de
Jurisprudência-Acórdãos do STJ, XX, tomo II, 2012, pp. 73 ss.), de 27 de Janeiro de 2015 (Rel. Cons.
Maria Clara Sottomayor, disponível em www.dgsi.pt), de 3 de Novembro de 2015 (Rel. Cons. Júlio Gomes,
disponível em www.dgsi.pt)
46
No mesmo sentido, António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil, IX, Direito das Obrigações,
cit., 492.
47
António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, Cit., 601 ss..
48
António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit., 730 ss. No mesmo sentido, Acórdãos do
STJ de 27 de setembro de 2011 (v. nota anterior) e de 12 de Outubro de 1999 (Cons. Rel. Afonso Melo, in
http://www.dgsi.pt)
49
PINTO MONTEIRO defende que o artigo 812.º é, igualmente, aplicável ao sinal (cfr. António Pinto
Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit., 195 ss.), por entender que o referido artigo 812º encerra
um princípio de alcance geral destinado a corrigir excessos ou abusos decorrentes do exercício da liberdade
contratual, ao nível da fixação contratual dos direitos do credor.
50
Como bem alerta PINTO MONTEIRO, não é a cláusula penal – como reza o artigo 812.º – que pode ser
reduzida, ao abrigo do artigo 812º, mas sim a pena. A cláusula penal, como qualquer outra cláusula, poderá
ser reduzida, sim, mas em caso de invalidade parcial e ao abrigo do artigo 292º (Cfr. Carlos Alberto da
Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, Cit., 632 ss.), o que não é manifestamente o caso da previsão do
artigo 812º (António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit., 724 ss.).
51
António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit. 724 ss..
52
Uma breve nota para salientar que diferente é o critério previsto no artigo 19.º, al. c), do Decreto-Lei nº
446/85, de 25 de outubro, sendo este aplicável exclusivamente aos contratos de adesão. Neste caso, o
critério legal é o de as penas serem “desproporcionadas aos danos a ressarcir”. De igual modo, é diversa
a sanção (nulidade). Não obstante, o artigo 812.º tem, igualmente, aplicação às cláusulas penais ínsitas em
contratos de adesão na medida em que o juízo ínsito no referido artigo 19.º, al. c), do Decreto-Lei nº 446/85,
de 25 de Outubro é um juízo que deve fazer-se em abstrato, ao passo que o juízo inerente ao artigo 812.º é
um juízo que deve fazer-se em concreto.
53
Tais como a gravidade da infração, o grau de culpa do devedor, as vantagens que, para este, hajam
resultado do incumprimento, o interesse do credor na prestação, a situação económica dos contraentes, a
sua boa ou má fé, a índole do contrato e as condições em que o mesmo foi negociado.
54
Cfr. António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit., 732. No mesmo sentindo, Nuno Pinto
de Oliveira, Cláusulas acessórias ao contrato: cláusulas de exclusão e de limitação do dever de indemnizar
e cláusulas penais, Cit., 173 ss..
55
Para maiores desenvolvimentos, cfr. António Pinto Monteiro, Cláusula Penal e Indemnização, cit., 717
ss., maxime 724 ss..
56
Para PINTO MONTEIRO, mesmo que os contraentes tenham estabelecido uma redução convencional,
para os casos de cumprimento parcial da obrigação, ainda assim o artigo 812º terá aplicação (António Pinto
Monteiro, Cláusula penal e indemnização, cit., 724 ss., 746-747).
57
Cfr. António Pinto Monteiro, “Artigo 811º, nº 3, do Código Civil: requiem pela cláusula penal
indemnizatória?” - Anotação ao Acórdão do STJ de 24 de Abril de 2002, Revista de Legislação e
Jurisprudência, Ano 142º, nº 3976, 2012, pp. 67 ss.; António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil
Português, II, Parte Geral, Negócio Jurídico, 4ª Edição, Almedina, Coimbra, 2014, 670-671 (ponto V).
58
Acórdão do STJ de 12 de Junho de 2007 (Cons. Rel. João Moreira Camilo, in Coletânea de Jurisprudência
-Acórdãos STJ, ano XV, tomo II, pp. 107,ss), no qual pode ler-se que “deve ser, em regra, de valor superior
aos danos a ressarcir, sob pena de frustrar a finalidade compulsória referida”; no mesmo sentido,
afirmando que a cláusula penal pode constituir “poderoso meio de pressão” para o devedor cumprir “desde
que o montante da pena seja fixado numa cifra elevada, relativamente ao dano efectivo”, o Acórdão do
STJ, de 2 de Março de 2004 (Cons. Rel. Afonso Correia, in Coletânea de Jurisprudência -Acórdãos STJ,
ano XII, tomo I, pp. 93,ss, p. 98.
59
António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, Almedina, Coimbra, 2004, 34.
60
Na formulação de ENGRÁCIA ANTUNES, “contratos, típicos e atípicos, que disciplinam as relações
jurídicas entre p produtor e o distribuidor latu sensu com vista à comercialização dos bens e serviços do
primeiro” (José A. Engrácia Antunes, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, 435).
61
Com uma visão crítica da categoria jurídica, Cfr. Fernando Ferreira Pinto, Contratos de Distribuição
Comercial - Da tutela do distribuidor Integrado em face da cessação do vínculo, Universidade Católica
Editora, Lisboa, 2013, 17 ss.. Com efeito, sublinha este autor que “de acordo com a orientação dominante,
a locução ‘contratos de distribuição’ designa uma genérica categoria doutrinal, cujas principais
modalidades são os contratos de agência, de concessão e de franquia. Trata-se de um conjunto de negócios
que têm em comum uma determinada função económica – sendo o espaço intersticial entre eles preenchido
pela ideia de promoção negocial – e que partilham, até certo ponto, determinadas características
tipológicas. Os conceitos em torno dos quais se constrói a categoria e que permitem a delimitação dos
diferentes subtipos que a mesma abarca estão muito longe de alcançar um grau de precisão que viabilize
uma expedita qualificação dos espécimes negociais que se detectam na vida real e a determinação rigorosa
do seu regime jurídico.” (Fernando Ferreira Pinto, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 48).
Ainda do mesmo autor, chamando a atenção para o facto de a referida categoria não ser unânime na
doutrina, nem poder ser considerada “fechada”, Fernando Ferreira Pinto, “A indemnização de clientela no
âmbito dos contratos de distribuição”, Revista de Direito Comercial, 2019, 2.
62
António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, cit., 75; José A. Engrácia Antunes, Cit.,
435-467. Referindo-se à categoria enquanto “distribuição indireta integrada”, António Menezes Cordeiro,
Direito Comercial, 4ª Edição, Almedina, Coimbra, 2016, 770 ss., maxime 772.
63
V. António Pinto Monteiro, Contrato de Agência, 8ª edição atualizada, Almedina, Coimbra, 2017;
António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, cit., 76-104; António Menezes Cordeiro,
Direito Comercial, cit., 776-793; José A. Engrácia Antunes, Cit., 439-445; Fernando Ferreira Pinto,
Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 49-58.
64
V. António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, cit., 105-116; António Menezes
Cordeiro, Direito Comercial, cit., 794-803; José A. Engrácia Antunes, Cit., 446-451; Fernando Ferreira
Pinto, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 58-65; José Alberto Vieira, O Contrato de Concessão
Comercial, Coimbra Editora, Coimbra, 2006; Maria Helena Brito, O Contrato de Concessão Comercial,
Almedina, Coimbra, 1990.
65
António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, cit., 117-127; António Menezes Cordeiro,
Direito Comercial, cit., 804-815; José A. Engrácia Antunes, Cit., 451-458; Fernando Ferreira Pinto,
Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 66-82; Maria de Fátima Ribeira, O Contrato de Franquia
(Franchising) – Noção, Natura Jurídica e Aspectos Fundamentais de Regime, Almedina, Coimbra, 2001;
Miguel Pestana de Vasconcelos, O Contrato de Franquia (Franchising), Almedina, Coimbra, 2010.
2. Regime
66
José A. Engrácia Antunes, Cit., 463-465
67
José A. Engrácia Antunes, Cit., 458-463;
68
V. Mafalda Miranda Barbosa, “A Lei do Contrato de Agência no contexto mais amplo da distribuição
comercial e do direito privado, em especial o problema dos promotores bancários”, Distribuição Comercial
nos 30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Instituto Jurídico, Coimbra, 2017, 269-306.
69
Acórdão do STJ de 14 de janeiro de 2010, com sumário disponível em www.dgsi.pt.
70
Cfr. Francisco Brito Pereira Coelho, “Cessação dos contratos duradouros: regime específico e contrato
de agência”, Distribuição Comercial nos 30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 225-244.
71
Cfr. António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 69-74.
72
Sobre os problemas que se colocam quanto à aplicação de normas de contratos (legalmente) típicos a
contratos inominados, v. Francisco Manuel de Brito Pereira Coelho, Contratos Complexos e Complexos
Contratuais, Coimbra Editora, Coimbra, 2014, 29 ss..
73
V., por todos, António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 71-72 e “Revisitando
a Lei da agência 30 anos depois”, Distribuição Comercial nos 30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit.,
74-78. Na jurisprudência cfr., por exemplo, o acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 04.11.2003 (Proc.
n.º 022025), disponível em http://www.dgsi.pt.
74
Para uma descrição acerca dos antecedentes e evolução histórica desta figura contratual, V. António Pinto
Monteiro, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 76-84 e António Menezes Cordeiro, Manual de
Direito Comercial, Cit. 804 ss..
75
Estamos, obviamente, a referir-nos à tipicidade social dos contratos de concessão e de franquia. Sobre a
tipicidade dos contratos, v. Rui Pinto Duarte, Tipicidade e Atipicidade dos Contratos, Almedina, Coimbra,
2000, 17 ss..
76
Em geral, sobre a primazia das estipulações contratuais enquanto fonte do regime jurídico dos contratos
inominados, v. Rui Pinto Duarte, Tipicidade e Atipicidade dos Contratos, Cit., 17 ss..
77
Cfr., por todos, João de Matos Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, I, Cit., 272-275.
3.1. A denúncia
78
Sobre as formas de cessação dos contratos de distribuição, V. António Pinto Monteiro, Contratos de
Distribuição Comercial, Cit., 129 ss..
79
Defendendo que o regime da cessação do contrato previsto na Lei do Contrato de Agência constitui um
possível regime-padrão da cessação dos contratos duradouros, V. Francisco Brito Pereira Coelho,
“Cessação dos contratos duradouros: regime específico e contrato de agência”, Distribuição Comercial nos
30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 226.
80
António Pinto Monteiro, “Revisitando a Lei da agência 30 anos depois”, Distribuição Comercial nos 30
Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 60.
81
Sobre a denúncia nos contratos de distribuição, V. António Pinto Monteiro, Contratos de Distribuição
Comercial, Cit., 134-142.
82
Francisco Brito Pereira Coelho, “Cessação dos contratos duradouros: regime específico e contrato de
agência”, Distribuição Comercial nos 30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 230.
83
Sobre a denúncia V. Paulo Videira Henriques, A desvinculação unilateral ad nutum nos contratos civis
de sociedade e mandato, Coimbra Editora, Coimbra, 2001.
3.2. A resolução
84
António Pinto Monteiro, “Revisitando a Lei da agência 30 anos depois”, Distribuição Comercial nos 30
Anos da Lei do Contrato de Agência”, Cit., 80-81.
85
V. Carlos Alberto da Mota Pinto, Op. Cit., 618-620 e António Pinto Monteiro, Contrato de Agência,
Cit., 133-136. Sobre a resolução infundada do contrato, em geral, V. Joana Farrajota, A Resolução do
Contrato sem fundamento, Almedina, Coimbra, 2015.
86
Cfr. Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 147-148. Perfilhando o mesmo entendimento, Acórdão
do Tribunal da Relação do Porto de 13.03.1997, in Colectânea de Jurisprudência, ano XXII, tomo II, pp.
289 ss.
87
Uma das dimensões axiais da liberdade contratual, a par da liberdade de celebração do contrato e da
liberdade de escolha do outro contraente. V., por todos, Carlos Alberto da Mota Pinto, Cit., 107 ss..
88
Sobre a categoria dos contratos mistos, V. Francisco Manuel de Brito Pereira Coelho, Contratos
Complexos e Complexos Contratuais, Cit., 239 ss..
89
V., quanto a esta matéria, João de Matos Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, I, Cit., 279-300.
90
Sobre estas figuras e seu regime jurídico, V. Carlos Alberto da Mota Pinto, Cit., 504-529; Diogo Costa
Gonçalves, Erro Obstáculo e Erro Vício – Subsídio para a determinação do alcance normativo dos artigos
247.º, 251.º e 252.º do Código Civil, AAFDL, Lisboa, 2004.
Certo é que não está aqui em causa a aplicação do disposto no artigo 809.º, na medida
em que não estamos perante qualquer dos direitos cuja renúncia antecipada aquele
preceito veda, conforme referido supra (II.2.2.1.). Com efeito, a resposta à questão
formulada depende de considerarmos o regime da anulabilidade prescrito nas normas
mencionadas.
Como ensina a boa doutrina, os direitos potestativos apenas são renunciáveis depois
de nascidos na esfera jurídica do seu titular, não antes. Com efeito, não se pode admitir
como válida a renúncia a um direito que o titular não tem como saber, no momento em
que emite a declaração, que existe. Aliás, no caso do dolo, tal solução não seria
consentânea com os princípios fundamentais do sistema jurídico, na medida em que
representaria um claro benefício do infrator.
91
Na perspetiva do direito italiano, no quadro do qual as regras respeitantes à invalidade do vínculo
contratual são inderrogáveis por acordo das partes, em razão da indisponibilidade da matéria, V. Enrico
Gabrielli, Cit., 215.
92
Rel. Cons. Araújo Barros, disponível em http://www.dgsi.pt.
Em suma, não é válida a cláusula de sole remedy da qual conste a renúncia ao direito
a requerer a anulação do contrato com fundamento em erro ou dolo.
93
Cfr., sobre esta disposição, João Calvão da Silva, Sinal e Contrato Promessa, 14ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2018 (reimpressão).
94
Estamos aqui a referir-nos, evidentemente, à falta de cumprimento e mora imputáveis ao devedor (artigos
798º-812º).
95
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 1042.
96
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 1043-1048
97
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 1048-1056
98
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, Cit., 1059-1063.
99
Sobre este instituto, v., por todos, João Calvão da Silva, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória,
Cit., 353 ss..
100
António Pinto Monteiro, “As cláusulas limitativas e de exclusão de responsabilidade sob o olhar da
jurisprudência portuguesa recente”, Cit., 306.
101
Incluímos no direito ao cumprimento o direito a exigir do devedor o cumprimento, por via extrajudicial,
bem como o direito a fazê-lo por via judicial, através da ação de cumprimento ou, quando possível, da
execução específica (sobre este instituto, maxime no quadro do contrato-promessa, V., por todos, João
Calvão da Silva, Sinal e Contrato-Promessa, cit., 137 ss.).
102
Artigo 794.º: “Se, em virtude do facto que tornou impossível a prestação, o devedor adquirir algum
direito sobre certa coisa, ou contra terceiro, em substituição do objeto da prestação, pode o credor exigir
a prestação dessa coisa, ou substituir-se ao devedor na titularidade do direito que este tiver adquirido
contra terceiro.”; artigo 803.º: “1. É extensivo ao caso de impossibilidade imputável ao devedor o que
dispõe o artigo 794º. 2. Se o credor fizer valer o direito concedido no número antecedente, o montante da
indemnização a que tenha direito será reduzida na medida correspondente.”.
103
Tal como vimos supra, o artigo 809.º deve ser objeto de interpretação restritiva no que respeita às
cláusulas de exclusão da responsabilidade e da indemnização por culpa leve.
104
Cfr. SILVA, João Calvão da, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, Cit., pp. 410-414.
105
Cfr. Luís Menezes Leitão, A Indemnização de Clientela no Contrato de Agência, Almedina, Coimbra,
2006, 91-100.
106
V., quanto a este ponto, António Pinto Monteiro, Contrato de Agência, Cit., 141-153; António Menezes
Cordeiro, Manual de Direito Comercial, Cit., 790-793; Luís Menezes Leitão, A Indemnização de Clientela
no Contrato de Agência, Cit., 45-56.
107
Carolina Cunha, A Indemnização de Clientela do Agente Comercial, Coimbra Editora, Coimbra, 2003,
148.
108
Diretiva do Conselho 86/653/CEE, de 18 de dezembro de 1986, transposta para o nosso ordenamento
através do Decreto-lei n.º 118/93 de 13 de abril, que alterou a LCA.
109
António PintoMonteiro, Contratos de Distribuição Comercial, cit., 155; André Lipp Pinto Basto Lupi,
“A Lei de Agência de Portugal e a Lei de Representação Comercial no Brasil: análise comparativa à luz da
jurisprudência”, Distribuição Comercial nos 30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 21 ss., maxime
37-38.
110
Note-se que a invalidade de uma cláusula de renúncia antecipada à indemnização de clientela resulta do
disposto na própria LCA e não da aplicação do disposto no artigo 809º.
111
Com uma perspetiva distinta, admitindo a imperatividade “relativa” da norma, V. Jorge Morais
Carvalho, Os limites à liberdade contratual, Almedina, Coimbra, 2016, 158 ss. (maxime, 160-162).
112
Acompanhando a doutrina maioritária, entendemos que, embora não seja de excluir à partida essa
possibilidade, muito dificilmente poderá o franquiado reclamar uma indemnização de clientela (v., por
todos, António Pinto Monteiro, “Revisitando a Lei da agência 30 anos depois”, Distribuição Comercial nos
30 Anos da Lei do Contrato de Agência, Cit., 69-73). Assim, a questão colocar-se-á, com muito maior
relevância prática, ao contrato de concessão, razão porque centraremos, no texto, a análise a este tipo
contratual.
113
Em sentido contrário veja-se o acórdão do STJ de 12 de maio de 2011 (Rel. Cons. Granja da Fonseca),
que considerou que o direito do concessionário à perceção de uma indemnização de clientela tem natureza
imperativa, por força do cariz inderrogável do artigo 33º da LCA.
114
V. nota 103. Contra a extensão da indemnização de clientela tanto ao concessionário como ao franquiado
v. Fernando Ferreira Pinto, Contratos de Distribuição Comercial, Cit., 690-737, maxime 724-737.
115
Apenas o concessionário e já não o franquiado, pelas razões aduzidas supra.
116
Mutatis mutandis, julgamos também válida a exclusão, por via de uma cláusula de sole remedy, da
indemnização devida pelo desrespeito do prazo legal de aviso prévio em caso de denúncia, nos casos dos
contratos de distribuição que não o contrato de agência.