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GUIA DE ESTUDOS

IMERSÃO NO PENSAMENTO PENTECOSTAL REFORMADO


Ciclo Básico
Lição 01 | Uma confluência de Azusa com Genebra

Perguntas:
Você se identifica como pentecostal ou como reformado? Explique o porquê.
Para você, o que é um pentecostal reformado?

1) Introdução
O pentecostalismo é uma das maiores expressões da fé evangélica. Sua vertente
moderna nasceu em 1906, no que é conhecido como o avivamento da Rua Azusa
(logradouro de uma pequena igreja situada em Los Angeles, EUA), onde William Seymour
liderou reuniões de oração e despertamento espiritual, que culminaram no envio de
missionários (como A.G. Garr, avô materno do Bispo Walter McAlister) por todo o mundo.
O fervor missionário pentecostal se alastrou por toda a América, chegando ao Brasil no
início do século XX e arrebatando milhares de seguidores, que chegaram a Cristo através
do movimento do Espírito Santo, que impulsionou os pentecostais em perseverante
evangelização por muitos anos.
O movimento reformado, com origens que remontam há mais de quinhentos
anos, teve vários desdobramentos, mas as doutrinas da graça, desenvolvidas por, dentre
outros, o teólogo e pastor João Calvino, na cidade de Genebra na Suíça no século XVI,
formam a espinha dorsal da visão reformada da salvação. Esta compreensão, também
conhecida como calvinismo, tem experimentado um crescimento nos últimos anos em
todo o mundo. Na última Assembleia Geral da Comunhão Reformada Mundial,
constatou-se que um dos três países que mais mostram um crescimento extraordinário
nas doutrinas da graça é o Brasil.

2) Uma denominação pentecostal reformada


Essas duas tradições fundamentam a espiritualidade e teologia da ICNV. Para
muitas pessoas, isso é algo inconcebível, dadas as diferenças doutrinárias entre o
pentecostalismo (acentuadas pelos excessos promovidos pelos neopentecostais) e a
teologia reformada. Mas ao longo de nosso estudo, vamos analisar a dialética que tem
desenvolvido aquilo que podemos chamar de teologia pentecostal reformada.
O Bispo Walter McAlister, pioneiro no Brasil em promover e articular essa reflexão
em sua obra O Pentecostal Reformado (Edições Vida Nova), afirma: “De uns anos para
cá, por falta de categoria histórica para descrever meu posicionamento teológico, tenho
me declarado um “pentecostal reformado”(...) (Não) posso negar minhas experiências
com Deus, ditas “pentecostais”, ao longo da vida e ministério. Por isso, continuo a insistir
em minha identidade pentecostal. Por outro lado, estou plenamente convicto dos
fundamentos bíblicos da fé reformada”. Em um empenho de mais de vinte anos, a ICNV
tem se identificado com este posicionamento de seu bispo primaz e se alinhado com a
teologia pentecostal reformada.
Pergunta: Quais as maiores diferenças doutrinárias entre pentecostais e reformados?

3) Uma junção necessária


A confluência de Azusa com Genebra, da espiritualidade pentecostal com a
teologia reformada tem sido cada vez mais observada como necessária por respeitados
teólogos e pregadores. Hernandes Dias Lopes, em uma entrevista que teve grande
circulação no YouTube, declarou que “a junção da teologia reformada com o fervor
pentecostal é algo fenomenal”. O teólogo reformado I. John Hesselink é assertivo ao
concluir que: “É provável que os reformados presbiterianos sejam limitados na
experiência da realidade, da alegria e da plenitude do Espírito. É provável que aos
pentecostais esteja faltando uma compreensão bíblica adequada da obra do Espírito.
Assim, uns precisam dos outros e podem se complementar”.

Pergunta:
Você se avalia como um cristão mais em busca de experiências sobrenaturais ou de
compreensão bíblica?

4) Conclusão
Os objetivos do nosso estudo são:
1. Entender o que é propriamente um pentecostal e o que é o pentecostalismo, ou
pelo menos o que ele se tornou ao longo desses últimos cem anos;
2. Entender a diferença entre pentecostal e neopentecostal, e entre pentecostal e
carismático;
3. Mostrar qual o ponto de partida para se abraçar a teologia reformada;
4. Explicar o que é absolutamente imprescindível para alguém poder se declarar
reformado;
5. Explicar o que não significa necessariamente ser reformado, mostrando as
distinções existentes dentro da tradição reformada;
6. Trabalhar alguns pontos de convergência, de divergência e de redefinição entre as
tradições reformada e pentecostal, como:
a. a continuidade dos dons espirituais;
b. a escatologia;
c. o governo da igreja;
d. a igreja e a política;
e. a teologia pactual;
f. o batismo nas águas – incluindo-se o de infantes (pedobatismo) ou o exclusivo para
adultos convertidos (credobatismo);
g. a doutrina do batismo no Espírito Santo;
h. a espiritualidade individual e coletiva da igreja.
7. Mostrar como a Reforma Protestante nos força a repensar certos conceitos,
doutrinas e práticas pentecostais;
8. Mostrar como o pentecostalismo contribui para o mundo evangélico e reformado.
Lição 02 | Afinal, o que é um Cristão Pentecostal?

Perguntas:
Qual é sua visão do que é um cristão pentecostal?
O que você entende por cristão evangélico?

1) Introdução
Para muitos, os pentecostais são heréticos ou, na melhor das hipóteses,
histéricos. Devido a tantos escândalos e controvérsias oriundos do vasto universo
pentecostal, é um desafio definir bem este termo, até pelo fato de assumirmos essa
identidade de pentecostal reformado. Precisamos estar prontos para responder a
pergunta: “Que tipo de pentecostal é esse?”
Primordialmente, o pentecostal é um cristão, um rótulo abrangente que sofreu
mudanças ao longo de praticamente dois milênios de história. Nos quatro primeiros
séculos depois de Cristo, ser um cristão era algo bem simples, pois assumir-se como um
seguidor de Jesus podia custar a vida. Quem não fosse um autêntico cristão não ousava
afirmar a mesma fé dos que eram perseguidos e martirizados. Hereges se levantaram no
meio dos cristãos fiéis, mas o consenso quanto ao que era ortodoxia e ao que era heresia
era predominante.
O que separa o cristianismo de todas outras religiões do mundo é a confissão que
define a igreja, resumindo a fé cristã no conhecido Credo Apostólico:
Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador dos ceús e da terra, e em Jesus Cristo,
seu único filho, nosso Senhor,
o qual foi concebido por obra do Espírito Santo,
nasceu da virgem Maria. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos;
foi crucificado, morto e sepultado, e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos,
subiu aos céus e está assentado à destra de Deus Pai, Todo Poderoso,
De onde há de vir para julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo, na santa igreja de Cristo,
Na comunhão dos santos, na remissão dos pecados,
Na ressurreição dos mortos e na vida eterna.
O cristão protestante, além de afirmar o Credo Apostólico, afirma os cinco Solas,
que resumem as crenças que o distinguem dos cristãos ligados à Igreja Católica
Romana. Os cinco Solas são: sola fide (somente a fé), sola gratia (somente a graça),
solus Christus (somente Cristo), sola Scriptura (somente as Escrituras) e soli Deo gloria (a
Deus somente a glória).
Como desdobramento histórico do protestantismo, surge o cristianismo
evangélico. Embora haja um desgaste do uso do termo, o cristão evangélico é, acima de
tudo, alguém que crê no evangelho, crendo em Cristo Jesus como Deus encarnado, cuja
morte e ressurreição nos comprou e livrou do pecado e da morte. O evangélico afirma a
necessidade de uma conversão pessoal a Cristo pelo poder do Espírito Santo, e que a
Bíblia é a suficiente, inspirada e inerrante Palavra de Deus.
2) As vertentes do Pentecostalismo
Em toda a história da Igreja, existiram movimentos enfatizando a vida piedosa e as
experiências sobrenaturais que se alinham com o pentecostalismo moderno, assim como
manifestaram dons e uma certa ebulição mais entusiasmada, aspectos bastante
identificados com o movimento pentecostal moderno. Mas vale destacar que antes do
século XX nunca houve outro movimento como o identificado como
pentecostal-carismático, que historicamente é analisado em três “ondas”:
A “primeira onda” de pentecostais nasceu, como vimos em nossa primeira lição,
em 1906 e seguiu vigorosamente por toda a primeira metade do século XX. Seu
crescimento numérico superou todas as outras épocas da história do cristianismo. Neste
período, surgiram várias denominações: A Assembleia de Deus, a Igreja de Deus, a Igreja
de Deus em Cristo e grupos paraeclesiásticos como a ADHONEP.
A “segunda onda” do pentecostalismo surgiu nos Estados Unidos no fim da
década de 1960. O marco deste período foi a abertura à experiência pentecostal entre
denominações protestantes tradicionais, como a Igreja Episcopal, a Igreja Luterana e a
Igreja Metodista. Parte desta mesma “onda”, foi o surgimento da Renovação Carismática
Católica, que entre os católicos romanos fomentava a busca pelo batismo do Espírito
Santo com a evidência do falar em outras línguas.
A “terceira onda” do pentecostalismo mundial foi marcada pelo nascimento de
novas igrejas e denominações, com ênfase maior no exercício e continuidade dos dons
espirituais do que na segunda bênção do Espírito Santo. A denominação que mais se
destacou nessa última onda pentecostal foi a Igreja Vineyard, fundada por John Wimber,
nos Estados Unidos.
No Brasil, essas ondas foram um pouco diferentes. A primeira onda teve início
com a missão evangelística pioneira dos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que
trouxeram para o Brasil as Assembleias de Deus. A segunda onda por aqui ainda foi
muito pautada pelo que podemos chamar de “pentecostalismo clássico” – igrejas que,
além da busca pelo batismo no Espírito Santo, deram muito destaque à cura divina, à
expulsão de demônios e à profecia. É neste período que surgem denominações como a
Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil Para Cristo, Deus é Amor, Igreja Missionária
Evangélica Maranata e a Nova Vida. No limiar das décadas de 1970 e 1980, emergiu a
terceira onda do pentecostalismo brasileiro, mais conhecida como neopentecostalismo.
Embora no início fossem fiéis às suas raízes pentecostais clássicas, em poucos anos
ocorreu uma mudança significativa em sua mensagem e em suas práticas. O emprego de
objetos, o uso de frases de efeito e sistemas de culto, com o intuito de mobilizar e
operacionalizar a fé culminavam em uma forte ênfase na “lei de semeadura”, um princípio
do que se convencionou a denominar teologia da prosperidade, segundo o qual a
generosidade para com a obra de Deus implicava em retorno direto, abençoando
financeiramente a vida do ofertante. As denominações neopentecostais que mais se
destacaram foram a Igreja Universal do Reino de Deus e a Internacional da Graça de
Deus, seguidas pela Renascer em Cristo, Projeto Vida Nova e Sara Nossa Terra.
Pergunta:
Quais as características de cada uma das três ondas do pentecostalismo mundial?
No Brasil, o que difere o pentecostalismo clássico do neopentecostalismo?

3) Definindo os Termos
Como observamos anteriormente, é importante definirmos os termos, pois eles
costumam ser entendidos de várias maneiras. O que é um pentecostal para uns, não o é
para os demais, e até entre os pentecostais há muitos sentidos diferentes para um
mesmo termo ou expressão.
O cristão, portanto, é aquele que confessa a Deus Pai como Criador, Jesus Cristo
como Salvador e o Espírito Santo como Santificador. É quem confessa a fé bíblica
resumida no Credo Apostólico. O protestante evangélico é aquele que se destaca como o
cristão que afirma as máximas e as doutrinas – os cinco solas – que o distinguem do
católico romano. O pentecostal é, minimamente, aquele que busca uma espiritualidade
pautada em vida piedosa e na experiência sobrenatural. O neopenteocostal difere do
pentecostal pelo fato de ter se distanciado do evangelho como referência principal e
central da fé cristã, relacionando-se com Deus como alguém que concede favores a
partir de algum tipo de troca. O carismático (termo mais associado no Brasil à Renovação
Carismática Católica) é aquele que está aberto à manifestação dos dons espirituais e
engaja-se na busca e no exercício destes dons, na sua individualidade e na comunhão da
igreja.

4) Conclusão
Onde fica o pentecostal reformado nesta definição? O pentecostal reformado é
pentecostal em sua espiritualidade, mas adepto dos antigos mestres da fé reformada no
que tange à sua doutrina. Como tal, ele se afasta de algumas das doutrinas mais
associadas ao “pentecostalismo clássico” (como a doutrina da segunda bênção e a
evidência inicial) e repudia as tendências dos neopentecostais. É também alguém que
anseia e ora por avivamento, mas igualmente anseia e ora por uma nova reforma da
igreja.
Lição 03 | A Essência Pentecostal

Perguntas:
Cite uma doutrina defendida pelos pentecostais clássicos.
O que você entende por arminianismo?

1) Introdução
Um argumento que serve de base para o nosso estudo é que o pentecostalismo
não é uma escola doutrinária-teológica de maneira restrita, embora tenha sido
caracterizado por três doutrinas principais defendidas pelos pentecostais clássicos.
A primeira e mais óbvia é o arminianismo – doutrina relacionada à salvação,
proposta por Jacó Armínio e historicamente oposta à visão reformada da salvação. A
segunda doutrina afirmada pelos pentecostais clássicos é a da “segunda bênção”,
também conhecida como “batismo no Espírito Santo”, evidenciado pelo falar em outras
línguas. O terceiro e último fundamento doutrinário do pentecostalismo é uma
hermenêutica que desemboca numa escatologia dispensacionalista.
É possível ser pentecostal sem afirmar essas três doutrinas? A resposta depende
de que tipo de pentecostal estamos descrevendo. Na vasta gama de pentecostais
clássicos ou tradicionais, o ponto em comum que serve como diapasão para dentre as
bases doutrinárias acima mencionadas é o arminianismo. É evidente, portanto, que o
pentecostal reformado se vê forçado a repensá-las, por serem incompatíveis com a
teologia reformada.

2) A Espiritualidade Pentecostal
O filósofo e teólogo James K. A. Smith, que tem sua origem no cristianismo na
Assembleia de Deus e hoje se identifica como carismático, afirma que o pentecostalismo
é melhor definido como uma espiritualidade, e não como uma tradição doutrinária, por
tratar-se de algo que antecede a formulação teológica.
Para entender a espiritualidade pentecostal, é importante compreender o termo
imaginário social, amplamente divulgado pelo filósofo canadense Charles Taylor e
adaptado ao campo do pensamento cristão pelo acima citado K. A. Smith. O imaginário
social é algo muito parecido com o termo “cosmovisão”, só que mais abrangente, longe
de ficar restrito ao âmbito intelectual apenas, e, por isso, mais complexo. O imaginário
social descreve os conceitos elementares, as crenças, as convicções e o conjunto de
valores de um povo, uma nação, ou, no nosso caso, de uma tradição cristã ou
denominação.
Entender o conceito do imaginário social é fundamental para entender qualquer
grupo, povo ou nação. Torna-se muito mais importante ainda para entender o que é de
fato um pentecostal. O pentecostalismo é um movimento plural, com inúmeras práticas e
crenças que não necessariamente representam ou são sustentadas por todos os que
integram o movimento.
Pergunta: Defina o que é imaginário social.
3) Os seis aspectos do imaginário social pentecostal
Por existir um espectro enorme dentro do pentecostalismo – que vai dos mais
tradicionais aos mais excêntricos – é necessário adotar certo reducionismo para
descrever o que é comum a todos os pentecostais. Para esse fim, vamos observar os
seis principais aspectos do imaginário social pentecostal. Tais aspectos são fontes tanto
das nossas virtudes mais louváveis quanto dos nossos vícios mais perigosos:
O primeiro aspecto consiste no fato de que o pentecostal preza pela Bíblia como
autoridade divina, inspirada por Deus e, por isso, inerrante e infalível. Somos um povo
que ama a Bíblia e a tem altíssima estima. Tal valorização da Bíblia nem sempre se
manifesta numa hermenêutica correta, como veremos em lições adiante. Contudo, o
pentecostal a considera a Palavra de Deus, a ponto de frequentemente errar por excesso,
ou seja, adotar uma postura biblicista. O biblicismo é uma doutrina que defende a Bíblia
como a única referência de fé, sendo resistente e por vezes opondo-se a outros materiais
como credos, confissões, catecismos, comentários bíblicos e livros teológicos em geral.
O segundo aspecto do imaginário social dos pentecostais diz respeito a serem
radicalmente abertos a um mover de Deus. Como exemplo disso podemos exemplificar a
relação do pentecostal com a leitura da Bíblia. O pentecostal lê as Escrituras com a
expectativa do Espírito Santo lhe falar por meio delas. Ao relatar o que entendeu de sua
leitura, o pentecostal costuma iniciar seu relato declarando: “Deus me falou...”. Isso
acontece porque ele vê a iluminação de uma passagem como uma aplicação feita pelo
próprio Espírito e por Ele transmitida diretamente, de modo que o pentecostal vê a leitura
do texto sagrado como um encontro pessoal com Deus.
O terceiro aspecto do imaginário social pentecostal é a crença em “uma teologia
de um mundo encantado”. Trata-se de uma compreensão de que doenças, aflições ou
quaisquer males sofridos são parte de um mundo natural entrelaçado ao mundo
espiritual. Essa noção definimos como “teologia de um mundo encantado”. É claro que
não vemos o Diabo por trás de cada febre ou Deus nos castigando a cada espirro. Isso
seria infantil. Nosso imaginário social entende o mundo como algo que é tanto natural
quanto espiritual. A passagem de Efésios 6.10-20 é importante neste aspecto, por afirmar
que a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades, os
dominadores deste mundo tenebroso.
O quarto aspecto do imaginário social pentecostal, resultando do aspecto anterior,
é a existência de uma relação de causa e efeito entre os dois mundos. O pentecostal crê
que a oração move montanhas, expulsa demônios e cura enfermos. A relação permanece
um mistério, mas é algo em que todo pentecostal crê. Porém, infelizmente, tal relação
entre as duas realidades (natural e espiritual) é por vezes exagerada e acaba levando à
doutrinas espúrias, como a teologia da prosperidade e algumas crenças que cercam a
tão celebrada “guerra espiritual”. Não são ideias que nascem de uma boa interpretação
das Escrituras, mas de referências bíblicas isoladas aplicadas ao gosto da audiência e
transmitidas por testemunhos e corinhos.
O quinto aspecto do imaginário social pentecostal diz respeito à forte ênfase nas
experiências. Não vemos a teologia como fonte de nossa fé, mas, como explicação de
nossa experiência com Deus. Isso é problemático, pois o próprio Cristo se preocupou
mais em discursar a partir da Lei e dos Profetas aos discípulos no caminho a Emaús do
que apenas se mostrar a eles (Lucas 24.13-35). Pentecostais tendem a ser movidos por
testemunhos e experiências pessoais mais do que pelo estudo cuidadoso da Bíblia.
Cremos que um homem que tem uma experiência sabe mais, ou é mais forte, do que um
homem que tem uma explicação. Em outras palavras, a experiência é mais crível do que
a teologia. O grande perigo dessa tendência é fazer da experiência a regra hermenêutica
que servirá de lente através da qual leremos a Bíblia. Sem o devido preparo para
entender as Escrituras, elas se tornam um instrumento na mão do cristão, e não uma
autoridade sobre a sua vida.
Como a experiência é uma das principais vias para a formação de conceitos, o
sexto aspecto do imaginário social pentecostal consiste no fato de o movimento
pentecostal ser majoritariamente populista. Sua premissa é que qualquer pessoa pode ter
uma experiência com Deus. Para o pentecostal, mais importante do que um doutor em
teologia é alguém que teve uma revelação pessoal de Deus. Isso faz dos pentecostais
pessoas que em geral são anti-hierárquicas e antiacadêmicas. Por definição, somos
populistas. É deste aspecto que nasce boa parte das práticas e conceitos estranhos,
pois, se alguém tem um dom de falar, um jeito cativante e uma boa história, a tendência
penteocstal é dar mais ouvidos a essa pessoa.

Pergunta: Com qual aspecto do imaginário social pentecostal você mais se identifica? Por
quê?

4) Conclusão
Analisando esses aspectos, chegamos à conclusão que o retorno à leitura
disciplinada das Escrituras por meio da teologia reformada é crucial para o cristão
pentecostal. Não temos de abandonar o pentecostalismo em si, mas arrumar a casa.
Apenas se nos submetermos à Bíblia como autoridade máxima nas questões de fé e
prática seremos preservados. Para isso precisamos voltar a estudar, lendo a Bíblia na
esperança que Deus fale conosco, não somente para receber uma palavra para hoje.
Temos de estudar as Escrituras para compreender sua mensagem até a volta de Cristo.
Lição 04 | A Essência Reformada

1) Introdução
Se por um lado a espiritualidade pentecostal emerge de um imaginário social, por
outro, a essência reformada é pautada por sua cosmovisão. Tal cosmovisão é a teologia
reformada em si, uma tradição que tem fundamentos filosóficos, teológicos e,
principalmente, bíblicos. Ela foi elaborada a partir de pressupostos claros, cuja síntese
encontra-se nos grandes catecismos e confissões da fé reformada, como, por exemplo, o
Catecismo de Heidelberg, a Confissão Belga, os Cânones do Sínodo de Dort e a
Confissão de Westminster.
Em resumo, os pressupostos da teologia reformada redundam na glória do Deus
triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. Nesta lição vamos concentrar nossa atenção nos
pontos cardeais que distinguem a teologia reformada.

Pergunta: O que você entende por cosmovisão? O que isso afeta em sua vida?

2) Os pontos cardeais que distinguem a teologia reformada:


A – Deus existe por si mesmo e é suficiente em si mesmo
Deus criou tudo o que existe como um ato de sua livre e soberana vontade. Isso
quer dizer que não teve de criar o que quer que fosse. Deus é suficiente em si mesmo e
não criou a nós ou ao mundo por haver nele algum tipo de lacuna ou carência. Ele não
nos criou porque estava só ou porque podíamos lhe oferecer algo que Ele não teria em
nossa ausência. Como diz Atos 17.24,25:

O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra, não
habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido por mãos
humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é ele mesmo quem dá a
todos a vida, a respiração.

Deus é absolutamente completo em si e, portanto, não muda nem precisa mudar.


Como diz Tiago 1.17: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto e descem do Pai
das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”. E como disse C.S. Lewis:
“Ele [Deus] pode conceder o bem, mas não pode necessitá-lo ou obtê-lo. Nesse sentido
todo o seu amor é infinitamente desprendido por sua própria definição; ele tem tudo a dar
e nada a receber”.

B – Deus é triúno
Embora a palavra “Trindade” não exista nas Escrituras, os pais da igreja sempre
reconheceram que Deus é único, mas existe de uma maneira que nunca vamos
compreender completamente, em três pessoas: o Pai Criador, o Filho Salvador e o
Espírito Santo Santificador. Ao longo de dois mil anos de história, o conceito da
Santíssima Trindade foi elaborado, estudado e discutido por Tertuliano, Agostinho, os
chamados Pais Capadócios (Basílio, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo), Tomás
de Aquino e muitos outros. A doutrina da Trindade é de especial importância à luz da
enorme ênfase sobre a pessoa do Espírito Santo em círculos pentecostais. É necessário
entender que Deus não pode ser compreendido como alguém que tenha três “agendas”
separadas. Pelo contrário, as três pessoas agem em total união de propósito, como a
célebre passagem do batismo de Jesus nos mostra em Mateus 3.13-17.

Como já abordamos antes, o propósito único de Deus, como bem resume a


teologia reformada é a sua própria glória, que se manifesta pela criação do mundo, a
queda do ser humano, sua redenção na cruz e a reconciliação de todas as coisas em
Jesus Cristo (Cl 1.15-18). O Filho age em total e absoluta harmonia com o Pai, como Ele
mesmo disse em João 5.19b: “Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode
fazer por si mesmo, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz
também”. Concomitantemente o Espírito Santo segue na mesmo linha única de propósito
em missão, como Jesus declara na passagem de João 16.5-16.

C – A glória de Deus é seu propósito final


O objetivo da criação e da redenção operadas por Deus na história é muito claro
na Bíblia. De fato, Deus fez, faz e ainda fará muitas coisas ao longo de toda história da
redenção. Entretanto, fim de todas elas é um só: a própria glória de Deus. A glória de
Deus é o objetivo de propósito de tudo o que ele faz, como Paulo diz em 1Coríntios
15.25-28:
Porque é necessário que ele reine até que tenha posto todos os inimigos debaixo
de seus pés. E o último inimigo a ser destruído é a morte. Pois sujeitou todas as
coisas debaixo de seus pés. Mas, quando diz: Todas as coisas lhes estão sujeitas,
é claro que isso não inclui quem lhe sujeitou todas. E, quando todas as coisas lhe
estiverem sujeitas, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe
sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.

Esta compreensão deve nos levar à reconhecer que Deus é o centro de tudo, e
que Ele não vive em torno de nossas necessidades. Existimos para a glória de Deus.

D – Deus é absolutamente soberano sobre sua criação


Tudo existe, de fato, porque foi criado por Deus a partir do nada (Hebreus 11.3).
Além de Deus e de sua criação, nada existe. Conforme escreveu João: “No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito
existiria” (João 1.1-3). Nas palavras do apóstolo Paulo: “porque nele foram criadas todas
as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações,
sejam principados, sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16).
Deus criou tudo o que há e tem absoluto direito de fazer com sua criação o que
bem entender. Para a visão reformada, isso é absolutamente fundamental. A
aplicabilidade desse princípio desemboca no processo de quem é salvo e de quem se
perde para sempre. Sobre isso, Paulo afirma em Romanos 9.19-22:

Então me dirás: Por que Deus ainda se queixa? Pois, quem pode resistir à sua
vontade? Mas quem és tu, ó homem, para argumentares com Deus? Por acaso a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou o oleiro não
tem poder sobre o barro, para com a mesma massa fazer um vaso para uso
honroso e outro para uso desonroso? "E que direis se Deus, querendo mostrar a
sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da
ira, prontos para a destruição."

Pergunta:
Cite atitudes práticas com as quais podemos glorificar a Deus em nossas vidas.
Quais são as implicações da Soberania de Deus para a nossa visão a respeito dos
acontecimentos do cotidiano?

3) Conclusão
Lembre-se: o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Jó 28.28; Pv 9.10).
Especular sobre Deus ou tentar reduzi-lo a nosso nível, julgando-o por padrões humanos,
é um dos erros de quem tenta compreendê-lo sem uma dependência abosoluta das
Escrituras Sagradas. Isso requer reflexão e rendição à autoridade absoluta da Bíblia. Não
podemos formular uma doutrina de Deus a partir das nossas percepções democráticas,
de nossa noção contemporânea supervalorizada do homem, independente de Deus. Ele
é nosso Criador e, como tal, deve ser compreendido à luz da revelação de si mesmo nas
Escrituras. Sobre esses alicerces construiremos um conceito sólido do que seja a
teologia reformada, sempre na dependência da Palavra de Deus e em submissão a ela.
Lição 05 | As Doutrinas da Graça

1) Introdução
O termo calvinismo pode ser compreendido de duas maneiras. A primeira refere-se
ao conjunto geral de ensinamentos de João Calvino. A segunda diz respeito aos cinco
elementos que coletivamente são conhecidos como as “doutrinas da graça”. Esses cinco
pontos tratam exclusivamente da forma como um reformado enxerga a salvação.
Em nosso estudo usaremos os mesmos termos que o teólogo e pastor James
Montgomery Boice aplicou aos cinco pontos das doutrinas da graça: depravação radical,
eleição incondicional, redenção particular, graça eficaz e graça perseverante.

2) Pano de fundo histórico


Embora os cinco pontos estejam presentes nos escritos de João Calvino, ele
nunca foram organizados dessa maneira por ele, nem em sua obra mais famosa obra, as
Instututas da Religião Cristã. Foi seu sucessor na regência da Academia de Genebra
(seminário teológico fundado por Calvino em 1559, que foi berço da Universidade de
Genebra), Teodoro de Beza, que elaborou os cinco pontos do Calvinismo.
Jacó Armínio, um ex-aluno de Beza, já na condição de pastor e professor em
Amsterdã, na Holanda, levantou vários pontos de divergência com Beza. Após sua morte,
alunos de Armínio escreveram um manifesto teológico contrário ao ensino de Beza -
conhecido como remonstrância – e o enviaram às autoridades civis holandesas, que
naqueles dias debatiam e legislavam questões do âmbito teológico. A resposta calvinista
a esta argumentação resultou nos Cânones de Dort, nos quais estão compilados os
cinco pontos.
Anos depois, a doutrina de Armínio foi revista e abraçada por muitos grupos
evangélicos diferentes como os metodistas, batistas e, bem mais tarde, os pentecostais.
Nesse sentido, vemos claramente que o pentecostal reformado não pode ser
considerado um pentecostal clássico ou tradicional, pois rejeita os ensinamentos de
Armínio e afirma os Cânones de Dort. A resposta à remonstrância, ou ao arminianismo
como tal doutrina é mais conhecida, acha seu resumo nos cinco pontos, isto é, nas
doutrinas da graça.

3) As Doutrinas da Graça
Depravação Radical
O primeiro ponto diz respeito ao fato de o homem ter morrido, moral e
espiritualmente, no momento de sua desobediência no Éden, tornando-se incapaz de
escolher o bem, pois tal capacidade se perdeu. Assim como um ser humano pode
escolher viver no fundo do mar, mas é incapaz de fazê-lo, pois não consegue respirar
debaixo d'água, o homem não consegue sequer enxergar o bem, e portanto, não tem
como escolher o bem. As coisas de Deus lhe são loucura, pois seu entendimento foi
obscurecido. Mesmo após Cristo já ter completado a sua obra na cruz, o homem não
regenerado ainda continua cego e morto.
Pergunta:
Leia Jeremias 17.9; João 6.44; Romanos 3.10-12 e 1Coríntios 2.14. À luz destes textos,
como você define o efeito da queda na humanidade?

Eleição Incondicional
Esta doutrina afirma que Deus escolhe a quem salvar e os escolheu desde de
antes do início de tudo, independentemente de qualquer previsão de fé ou boas obras de
nossa parte (Romanos 9.11-13). A consequência de Deus ter escolhido alguns (aqueles a
quem quer salvar) implica em Deus não ter escolhido outros, que estão fadados à
perdição (1Pedro 2.8; 2Pedro 2.1-3). Tal eleição dos que foram, são e ainda serão salvos,
vale relembrar, não foi baseada em mérito humano. De fato, as razões não fazem parte de
sua autorrevelação. Contudo, a eleição divina não é um capricho de Deus. Antes, ela é
movida pelo seu amor soberano, como Paulo elucida em Efésios 1.3-6: Bendito seja o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nas regiões celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele, antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos
predestinou para si mesmo, segundo a boa determinação de sua vontade, para sermos
filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, para o louvor da glória da sua graça, que nos
deu gratuitamente no Amado.

Redenção Particular
Dos cinco pontos, o menos discutido e até o menos conhecido é este. Ela traz a
resposta a uma pergunta aparentemente fácil de responder: Por quem Jesus morreu?
Sua resposta está contida na correlação das outras doutrinas da graça – a começar por
seu fundamento, que é a soberania de Deus. Contudo, veremos também que ela se
encontra exposta claramente nas Escrituras.
Deus não tenta fazer o que quer que seja. Tudo o que ele se determina a fazer, ele
faz. Como bem disse o profeta Isaías: “...agindo, eu, quem impedirá?” (Isaías 43.13). Sua
soberania implica no fato de que Deus é absolutamente poderoso e capaz de realizar
toda a sua vontade, sem que nada nem ninguém possa frustrá-lo. Por isso, Deus não
desperdiça esforços. Seus desígnios e desejos são cumpridos até a última vírgula. Isso
quer dizer que tudo o que fez em Cristo Jesus, Deus fez completamente. Seus propósitos
eternos foram perfeitamente cumpridos na obra de Cristo na cruz. Não houve excesso,
nem carência nos atos de Deus, que se cumpriram ao pé da letra em Cristo Jesus.

Pergunta:
Leia Isaías 53.8; Mateus 1.21; João 10.11; Romanos 8.28-32. Agora responda o que
Cristo realizou na cruz?

Graça Eficaz
Podemos dizer que esta doutrina é o outro lado da moeda da depravação radical.
A contrapartida de que o homem é incapaz de escolher o bem, é que quando Deus age,
não cabe ao homem escolher a salvação, pois sua graça é irresistível, como esta doutrina
da graça é historicamente conhecida. A graça eficaz refere-se à obra que o Espírito Santo
efetua em nós, transformando nossa natureza. Nosso arrependimento e nossa conversão
são expressões necessárias dessa nova natureza. Em outras palavras, Cristo nos salva e
passamos a agir como pessoas salvas, com fé, arrependimento e o abandono de obras
mortas. Essa ação direta do Espírito no coração humano é conhecida como
“regeneração”. A regeneração antecede a fé, que é a consequência necessária da
regeneração.

Graça Perseverante
Para muitos essa doutrina se resume ao chavão “uma vez salvo, salvo para
sempre”. Jesus afirma que aqueles que o Pai lhe deu “jamais perecerão”. É uma
promessa e uma certeza, pois aquilo que Deus faz ninguém desfaz. Podemos ter essa
certeza, então? Podemos ter certeza de nossa salvação? Para quem já compreendeu os
primeiro quatro, este último ponto é um conclusão lógica e teológica inevitável. Temos
convicção de que ainda pecamos, e por isso, precisamos confessar nossos pecados ao
Senhor e lutar contra eles sempre – até o fim de nossa vida ou até a volta de Cristo.
Todavia, essa luta é sinal de que o Espírito Santo age em nós. Quem não dá a mínima
para o pecado não tem o Espírito Santo agindo em sua vida.

Pergunta:
Leia João 10.27-30; Romanos 8.31-29 e Filipenses 1.6. Baseado nestas passagens,
responda: o que garante a perseverança na fé dos eleitos?

4) Conclusão
Estes cinco pontos são fundamentados na graça soberana de Deus. Nossa
eleição, nossa fé, nossa perseverança – tudo se deve à graça de Deus. Ao adentrarmos o
céu, ninguém poderá dizer: “Cheguei”. Sua confissão terá de ser: “Cheguei até aqui com
a ajuda de Deus”. E assim deve confessar também todo aquele que se diz um
pentecostal reformado.
Lição 06 – Os Cinco Solas

Pergunta:
Qual a sua visão a respeito do catolicismo romano? Que pontos doutrinários dos católicos
você conhece?

1)Introdução
Como vimos na Lição 02, existe um conjunto de crenças fundamentais que nos
distingue da Igreja Católica Romana. Dentro da tradição reformada e, consequentemente,
da dialética pentecostal reformada, é necessário estabelecer essas diferenças, pois isso
envolve a centralidade do evangelho. É necessário, portanto, rever as cinco questões –
conhecidas como os “cinco Solas”- que nos separam de maneira irreconciliável de
Roma.
Assim como Calvino não foi o organizador dos cinco pontos do calvinismo,
tampouco podemos atribuir os “cinco Solas” a um único teólogo. É claro que todos
esses pontos podem ser encontrados nas obras de vários autores reformados, a
começar por Lutero e o próprio Calvino. A lista dos cinco Solas não aparece como uma
confissão única ou característica da tradição protestante e reformada, apesar de estar
presente nas confissões de fé oriundas da Reforma protestante. Da mesma forma que as
doutrinas da graça são o divisor de águas entre cristãos reformados e cristãos
arminianos, assim o é com os cinco Solas entre cristãos protestantes e católicos
romanos.

2) Os Cinco Solas
Sola Fide
A salvação é um presente que Deus nos dá e isso se efetiva somente por meio da
fé, jamais pelas obras humanas. Lutero compreendeu que não eram as penitências,
sacrifícios ou compra de indulgências que podiam livrar o homem da condenação eterna,
mas a graça de Deus, através da fé (Efésios 2.8). Após meditar no texto de Romanos
1.17, que diz: “O justo viverá pela fé”, Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus
nessa passagem é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé, e não uma
conquista humana. Nesta perspectiva, nossa salvação depende de sermos justificados
perante Deus. A dívida pelos nossos muitos pecados tem de ser quitada, paga e zerada.
Somos justificados pela fé e pela fé somente.

Sola Gratia
O Salmista Davi, numa oração de profunda busca por Deus, declara: “Porque a tua
graça é melhor que a vida; os meus lábios te louvam” (Sl 63.3). Sim, a graça de Deus é a
única ponte que cruza o abismo entre a depravação total do ser humano e a casa do Pai,
onde Jesus foi preparar-nos lugar. Ninguém pode ser salvo por mérito próprio, por obras,
penitências, sacrifícios ou compra de indulgências. Somente pela fé o ser humano pode
ser salvo. E até mesmo a fé, que habilita o ser humano a receber o dom da graça, é dado
por Deus (Ef 2.8). Nenhuma obra, por mais justa e santa que possa parecer, poderá dar
ao homem livre acesso a salvação e ao reino dos céus. Isso somente ocorrerá pela graça
de Deus.
Até mesmo protestantes erram por fazer distinção entre pessoas aparentemente
espirituais e cristãos aparentemente menos espirituais. Julgam que uns parecem mais
merecedores do céu, enquanto outros chegarão lá “só pela graça”. Entretanto, tal
conceito é carnal e não tem fundamento nas Escrituras. O mundo imagina que muitos
irão para o céu porque são pessoas boas. Isso mostra o quanto a igreja protestante
precisa voltar às suas bases e reafirmar a salvação pela fé somente e pela graça
somente. Essa graça só tem um endereço: Cristo. Isso nos leva ao terceiro Sola.

Solus Christus
Sobre este tema, a Declaração de Cambridge diz: “Reafirmamos que nossa
salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem
pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação
com o Pai. O homem nada poderá fazer para sua salvação, pois Jesus Cristo realizou a
obra da redenção ao ser sacrificado na cruz do calvário, vertendo o seu sangue como
sacrifício por nossos pecados”. Como Pedro pregou, cremos que "não há salvação em
nenhum outro, pois debaixo do céu não há outro nome entre os homens pelo qual
devamos ser salvos." (Atos 4.12). Contrariando um senso comum, não é verdade que
todos os caminhos levam a Deus. De certo modo até levam, se considerarmos o fato de
que todos terão que se apresentar diante do trono do juízo final, para ouvir o veredito
sobre seu destino eterno. No entanto, somente Jesus é o caminho para a salvação.

Sola Scriptura
Cremos que as Escrituras Sagradas são a única regra de fé e de prática. É isso
que lemos em 2Timóteo 3.16-17: "Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa
para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem
de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra.". Entendemos
que as tradições, as bulas, as decisões dos concílios e os escritos papais não possuem
autoridade e não podem servir de instrumento de fé e prática para o rebanho de Cristo.
Somente as Escrituras Sagradas estão habilitadas para isso. Elas foram escritas por
homens inspirados por Deus, são instrumentos de revelação da vontade de Deus para
nossa vida. Ao lê-la somos iluminados pelo Espírito Santo para entendê-la.

Soli Deo Gloria


Este é um dos pilares da Reforma Protestante, afirmando que o homem foi criado
para a glória de Deus. Fomos criados para dar glória a Deus em tudo que fazemos e
destinados à glória de Deus. O plano eterno de salvação dos homens já contemplava a
glória de Deus (Efésios 1.4-6). Soli Deo Gloria é o princípio pelo qual toda glória é dada a
Deus no processo de salvação, mas também que, durante nossa vida neste mundo,
nenhum ser humano é digno de glória. A vida do cristão é vivida diante de Deus e sob
sua autoridade. Isso é para a glória de Deus. Atribuímos toda virtude, todo o bem, todo o
poder, toda a glória, toda a majestade a Ele somente. Enfim, soli Deo gloria.

Pergunta:
Qual deve ser a relação entre Sola Scriptura e a vasta produção literária no ramo da
Teologia? Estudar tais livros é ferir Sola Scriptura?

3) Conclusão
A afirmação dos cinco Solas é fundamental para a cosmovisão protestante e
reformada. O pentecostal que está em processo de reforma precisa voltar a essas fontes
para melhor entender as bases e fronteiras de sua fé. Não somos anticatólicos no sentido
beligerante. Contudo, não há como negar que, à luz dos cinco Solas e das Escrituras
Sagradas, reconhecemos no conjunto de crenças e práticas católicas romanas elementos
suficientes para considerar a Igreja Católica Romana um grupo que não é inteiramente
cristão. Com isso, temos de reconhecer que não há meios de reconciliar as duas igrejas
com base apenas em um suposto “mover” do Espírito, como alguns cristãos
pentecostais afirmam de forma enfática. Um católico verdadeiramente cristão em algum
momento virá a ser um ex-católico ou, no mínimo, um católico inconformado com sua
tradição.
Precisamos, contudo, reconhecer que há muitos que estão na Igreja Católica
Romana que desconhecem ou não avaliaram de forma detalhada todas as implicações
dos dogmas de Roma. Por isso, podemos concluir que muitos católicos conhecem a
Cristo, nem que seja somente em parte, assim como conhecem sua própria igreja em
parte. Nem todos os católicos precisam se converter a Cristo – apesar de muitos
carecerem de uma genuína conversão –, mas todos precisam renunciar aos acréscimos
da Igreja Católica que representam um evangelho falso e estranho às Escrituras
Sagradas.
Lição 07 | Nem Tudo é Calvinismo

Perguntas:
O que o termo “Reformado” significa pra você?
Você acha que “Reformado” e “Calvinista” são a mesma coisa?

1) Introdução
Muito da dificuldade de entender o conceito do Pentecostal Reformado vem da
própria ideia pré-estabelecida na mente das pessoas do que pode ser considerado um
Pentecostal, e do que pode ser considerado um Reformado. E, nesse ponto, muitos
acabam confundindo os termos “Reformado” e “Calvinista”, tratando-os como termos
sinônimos e intercambiáveis, quando, na verdade, possuem diferenças substanciais.
Precisamos entender que o movimento Reformado não é monolítico e uniforme em
todas as suas proposições teológicas: nem todo reformado é calvinista (o movimento
recebeu influências de outros além de Calvino), e, de forma mais ampla, nem todo cristão
protestante é reformado (vide o exemplo dos Luteranos). A Teologia Reformada não
representa a totalidade da teologia presente na Reforma Protestante, muito menos está
restrita aos pensamentos e escritos de um teólogo, como Calvino.
Para demarcar essas diferenças, vamos tratar de alguns pontos de divergências
dentro do movimento Reformado:

2) Dons Espirituais
Há uma tendência em se afirmar que a Teologia Reformada pressupõe o
Cessacionismo, ou seja, a afirmação de que os dons espirituais mencionados no Novo
Testamento foram restritos aos apóstolos, não sendo mais válidos para os dias de hoje.
Muito dessa posição é baseada em palavras dos reformadores, que na época estavam
reagindo ao movimento anabatista, que alegavam para si uma espécie de “revelação”
adicional às Escrituras. O receio de que tais manifestações ameacem a integridade
bíblica faz com que muitos rejeitem a atualidade dos dons até hoje.

Perguntas:
Qual deve ser o critério para avaliação dos dons espirituais hoje?
Será que é necessário rejeitarmos a ocorrência deles em prol da integridade da Palavra de
Deus?

Cabe mencionar que, mesmo dentro do círculo reformado, há pastores e teólogos


que reconhecem a ação dos dons espirituais na atualidade (como Wayne Grudem, C.J.
Mahaney, Sam Storms), de forma que o cessacionismo não é unanimidade dentro do
pensamento reformado.
3) Escatologia
No que tange ao tema do milênio em Apocalipse, muitos costumam associar o
movimento Reformado a posições como o amilenismo (principalmente) ou mesmo o
pré-milenismo histórico e o pós-milenismo (em menor grau, mas representados),
enquanto que o Pentecostalismo é fortemente associado ao pré-milenismo
dispensacionalista (a visão presente no filme “Deixados para trás”, por exemplo).
O Dispensacionalismo faz uma divisão severa entre Israel e a igreja, sendo essa a
característica mais marcante dessa corrente, mais do que as próprias dispensações
presentes nesse pensamento. Já as demais escolas milenaristas tendem a rejeitar essa
divisão severa feita pelo dispensacionalismo, enxergando uma continuidade entre Israel e
a Igreja.

Perguntas:
Você consegue diferenciar o pré-milenismo histórico, o pós-milenismo e o amilenismo?
(Aqui cabe uma “resposta padrão” para um norte ao professor)
Se a Bíblia tem uma só mensagem, porque temos mais de um pensamento a respeito
desse tema?

Não existe uma posição unânime dentro do movimento reformado a esse respeito.
Nem mesmo o pentecostal reformado busca fazer isso. O que é certo é o fato de que o
dispensacionalismo carece de maiores fundamentações bíblicas, enquanto que as
demais correntes, com suas variações e argumentos próprios, caracterizam-se como
opções viáveis dentro do pensamento pentecostal reformado.

4) Governo da Igreja
Semelhantemente aos outros temas, não há unanimidade no movimento
reformado quanto à forma de regência da igreja. A mais conhecida é a forma de governo
presbiterial – sistema baseado na liderança por um grupo de membros que representa
toda a igreja – os presbíteros. Esse é o exemplo aplicado na Genebra de João Calvino,
ganhando mais notoriedade a partir da Assembleia de Westminster, ocorrida no século
XVII.
Apesar disso, há alas reformadas que aplicam o sistema congregacional – sistema
que se baseia numa condução democrática com participação de toda a congregação,
mediante assembleia de membros. Existe, ainda, uma aplicação do governo episcopal
dentro do movimento reformado – sistema baseado na regência dos bispos. Tal sistema
encontrou sua maior expressão na Igreja Anglicana.

Perguntas:
Quais são os pontos fortes e fracos de cada sistema de governo? (Cabe uma resposta
padrão para os professores)
Baseado na resposta anterior, podemos afirmar que existe um modelo ideal de regência
da igreja?
5) Teologia Pública
Assim como nos assuntos já mencionados, não existe uma única resposta que
reflita o pensamento do movimento Reformado quanto à extensão e os limites do
envolvimento da igreja com a vida pública e a política.
Geralmente, os reformados têm uma visão positiva a respeito do engajamento
público e cívico da igreja, baseado em conceitos como o mandato cultural, graça comum
e glorificar a Deus em todas as esferas da vida (cabem definições dos termos). Porém, a
forma como essa expressão pública é operacionalizada tem sido objeto de diferentes
visões – algumas igrejas dão enfoque ao engajamento social, enquanto outras lutam na
esfera política, e outras ainda na área intelectual.
É preciso diferenciar o papel principal da igreja – a pregação fiel do Evangelho –,
com a inevitável influência que ela traz à sociedade. Sabendo separar essas duas coisas,
conseguimos fugir de uma utopia social e política e de seu outro extremo, a total
descrença no bem da sociedade.

Perguntas:
Qual deve ser a relação entre o Evangelho e a ação social ou ação política?
Qual deve ser o limite para que uma igreja não se torne uma ONG ou movimento de
caridade apenas?

6) Conclusão
Diante da constatação de que o movimento Reformado não se trata de um
movimento uniforme e impenetrável, torna-se possível e logicamente coerente a junção
do imaginário social pentecostal com a cosmovisão reformada, a fim de se estabelecer
uma oportunidade de diálogo entre as tradições, apegando-se às virtudes de cada um,
de forma que o Pentecostal Reformado seja alguém fiel à Palavra de Deus e ao contexto
em que está inserido.
Lição 08 | A Hermenêutica Reformada

1) Introdução
O fundamento da igreja é a Bíblia. Porém, de forma paradoxal, existem seitas que
também se reportam às Escrituras Sagradas para formular suas doutrinas e crenças.
Entre os cristãos, há várias escolas teológicas, cada uma com sua maneira de interpretar
a Bíblia. Portanto, sua leitura e interpretação nascem de uma orientação fundamental que
serve de lente pela qual as Escrituras são lidas. Essa lente se chama hermenêutica.

2) A Estrutura de Interpretação
Antes de entrarmos nos pormenores das lentes reformadas para lermos as
Escrituras, é importante entendermos a importância da estrutura. Pense nos animais, por
exemplo. Cada um tem uma estrutura diferente, embora as partes que a compõem
possam ser bem parecidas com as de outros animais. Os mamíferos têm órgãos
semelhantes em geral. Mas o que nos ajuda a diferenciar uns dos outros é sua forma,
especialmente sua estrutura óssea. Pelos esqueletos encontrados em explorações
arqueológicas, cientistas identificam os vários tipos de dinossauros. Sua estrutura faz
com que seja possível identificar as partes encontradas e entender como estas se
relacionam a outras partes de seu corpo.
Assim também, para entender as partes da Bíblia, e como cada uma se relaciona
às outras, temos de ter uma noção de sua estrutura, de seu “esqueleto”, por assim dizer.
Temos de discernir a espinha dorsal da Bíblia. Cada livro seria uma vértebra dessa
espinha dorsal, uma parte de um todo.
Isso é verdade porque a Bíblia é um livro único, composto por 66 partes. Todas as
partes têm um só autor e, consequentemente, um fio condutor único. Esse fio condutor é
a história da redenção, que tem seu ápice e cumprimento na pessoa de Jesus Cristo.
Após sua ressurreição, ele encontrou dois discípulos arrasados. Quando falavam de sua
tristeza, ele respondeu:

Ó tolos, que demorais a crer no coração em tudo que os profetas disseram! Acaso
o Cristo não tinha de sofrer essas coisas e entrar na sua glória? E, começando por
Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a seu respeito em todas as
Escrituras.
(Lc 24.25b-27)

Perguntas:
Cite passagens do Antigo Testamento que apontem para a vinda do Messias.
Como o reconhecimento de uma "espinha dorsal” na história da Bíblia pode colaborar
para a defesa de sua inerrância e veracidade?
3) A Leitura Pactual e Progressiva das Escrituras
Toda a Escritura aponta para Jesus Cristo. A Bíblia é a história da salvação em
Cristo Jesus. Porém, trata-se de uma história só, de modo que a Bíblia não é composta
por uma série de épocas ou dispensações desconexas. Do início ao fim, Deus revela seu
poder, sua graça e seus propósitos. Tudo achará sua conclusão na redenção de todas as
coisas, quando Jesus Cristo retornar com poder e glória à terra para inaugurar os novos
céus e a nova terra. Ele mesmo proclamou e inaugurou o reino de Deus.
A perspectiva da hermenêutica reformada, a espinha dorsal da Bíblia, como vimos
anteriormente, portanto, consiste numa história aliancista ou pactual. Em cada pacto
contido na narrativa bíblica, contemplamos a progressão dos planos de Deus por meio
de alianças estabelecidas entre ele e sua criação, particularmente a raça humana.
Compreendendo esse princípio, entenderemos como as diferentes partes se relacionam
com o enredo maior da Bíblia.
Sua regência foi sinalizada primeiro por meio de Adão, que fracassou. Ela
continuou por meio de um homem, Abraão, e de seus descendentes, o povo de Israel,
que também fracassaram. Em Davi, Deus estabeleceu um rei segundo seu propósito para
abençoar seu povo e, por meio deste povo, todos os povos da terra. Contudo, a antiga
aliança só se consumou na nova aliança em Jesus Cristo, o verdadeiro Rei, perfeito e
eterno.
Quando João Batista começou seu ministério, sua mensagem foi absolutamente
coerente com a expectativa presente na Bíblia: “Arrependei-vos, porque o reino do céu
chegou” (Mateus 3.2). Esse reino englobaria o mundo todo. Os filhos do reino – inseridos
na aliança pela graça mediante a fé em Cristo, o Rei prometido – seriam os novos
corregentes com o novo e eterno Rei, Jesus Cristo. As alianças bíblicas encontram
conclusão e manifestação plena em Cristo somente. Como bem concluiu o autor aos
Hebreus: Por isso, recebendo um reino inabalável, sejamos gratos e, dessa forma,
adoremos a Deus de forma que lhe seja agradável, com reverência e temor. (Hb 12.28)

Pergunta:
De acordo com o que vimos até aqui, qual é o grande elo entre Antigo e Novo
Testamentos?
De que forma essa leitura das Escrituras contribui para nossa visão a respeito de Deus,
principalmente em relação à sua soberania e graça?

4) Conclusão
Essa visão da estrutura da Bíblia é fundamental para sua boa interpretação e,
portanto, para a formulação da sã doutrina. O entendimento da espinha dorsal da Bíblia
fundamenta uma série de considerações doutrinárias, como o papel das leis do Antigo
Testamento em nossos dias e a questão do batismo nas águas, como examinaremos
mais detalhadamente em nossa próxima lição.
Lição 09 | Em Defesa do Credobatismo Reformado

Perguntas:
O que você entende por batismo?
Quais devem ser os requisitos para alguém se batizar?

1) Introdução
Em relação ao assunto do batismo, o movimento Reformado historicamente tem
apoiado, em sua maioria, uma posição favorável ao pedobatismo, qual seja o batismo de
bebês, como um sinal da entrada daquele infante no povo da Aliança separado por Deus.
Essa visão é apoiada por Confissões dos séculos XVI e XVII, como o Catecismo de
Heidelberg e a Confissão de Fé de Westminster, por exemplo.
Porém, podemos afirmar que, dentro desse mesmo movimento, existiram
iniciativas que trabalharam com uma visão diferente a respeito do assunto. Os maiores
exemplos estão presentes nas Primeira e Segunda Confissões de Fé Batista, ambas no
século XVII – tais documentos guardavam uma perspectiva reformada, muito embora
defendessem a prática do credobatismo – batismo exclusivo para os discípulos
professos de Jesus Cristo. O pentecostal reformado se alinha à perspectiva credobatista
reformada, baseada nas seguintes afirmações:

2) As Escrituras ordenam somente que os discípulos professos de Jesus sejam batizados


Não existe um mandamento direto (ou mesmo indireto) que aponte para o batismo
de bebês – a doutrina é baseada em pressupostos doutrinários, apelando para o
“argumento do silêncio”. Enquanto isso, vemos que em Mateus 28.18-20, na Grande
Comissão, que Jesus ordena que façamos discípulos, batizando-os em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. Em todas as 261 ocorrências da palavra “discípulo” no Novo
Testamento, vemos a ideia de “seguidor comprometido com o senhorio de Cristo”.
Vemos ainda em Atos 2.38,39 a pregação de Pedro, na qual ele diz:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo”, o que
pressupõe uma necessidade de consciência prévia de seus próprios pecados, o que,
logicamente, não está presente em bebês.

Perguntas:
Por que é importante que o candidato ao batismo tenha consciência de seu ato?
Leia 1 Pedro 3.21. Qual é o propósito do batismo expresso nessa passagem?

3) As Escrituras relatam somente discípulos professos de Jesus sendo batizados


Temos vários exemplos, como: os três mil convertidos no Pentecostes (At 2.41); os
convertidos em Samaria (At 8.12); o eunuco etíope (At 8.36-38); o grupos dos coríntios
(At 18.8); discípulos de João Batista (At 19.5); o Apóstolo Paulo (At 22.16); Gaio e Crispo
(1 Co 1.14). Os próprios defensores do pedobatismo reconhecem a falta de evidências
diretas de batismo infantil no Novo Testamento.
Alguns deles argumentam a respeito dos “batismos familiares”, indicando que em
certas passagens podemos entender que todos os membros daquela casa foram
batizados, o que poderia incluir os bebês. Porém em todos os exemplos citados há a
presença de ações que pressupõem uma consciência do ato do batismo. Por exemplo:
na casa de Cornélio, eles se arrependeram de seus pecados (At 10.44-48 / 11.15-18); na
casa do carcereiro, eles creram e então foram batizados (At 16.31-34); na casa de Crispo,
da mesma forma, fé seguida de batismo (At 18.8). Tratam-se, portanto, de conversões
familiares que se tornaram batismos familiares.

Perguntas:
Qual o perigo de assumirmos doutrinas que não encontram evidências relevantes nas
Escrituras?
Por que não podemos afirmar que a fé do chefe da família autorizaria o batismo de toda a
família?

4) As Escrituras não trazem evidências convincentes da prática do pedobatismo


O pedobatismo se pauta principalmente em três passagens bíblicas: em primeiro
lugar, uma conjugação de Gn 17.7,8 com At 2.38,39 – mostrando que haveria uma
continuidade entre a prática da circuncisão no Antigo Testamento com o batismo de
bebês no Novo Testamento; em segundo lugar, Mc 10.13-16, dizendo que a benção de
Jesus sobre as crianças indicava a inserção delas no povo da Aliança; e, por último, 1
Coríntios 7.14, apontando a santificação dos filhos pelo procedimento de seus pais.
Analisando as passagens mencionadas, vemos que o texto de Atos expressa
claramente a necessidade de arrependimento, como já visto anteriormente; o texto de
Marcos não nos dá indicação alguma a respeito dos pais de tais crianças, não podendo
afirmar que se tratavam de judeus piedosos; em relação ao texto de 1Coríntios, a
extensão do argumento dos filhos ao cônjuge incrédulo expõe a lacuna lógica no
argumento pedobatista.

Perguntas:
De que forma o pedobatismo pode afetar a necessidade de individualização da salvação?
De que forma os pais podem influenciar na salvação de seus filhos?

5) As Escrituras não ensinam a correspondência exata entre a circuncisão e o batismo


O pedobatismo afirma que o batismo representa no Novo Testamento exatamente
o que a circuncisão representava no Antigo Testamento. Contudo, o único texto bíblico
que menciona as duas palavras simultaneamente parece ensinar exatamente o contrário.

No texto de Colossenses 2.11,12, Paulo faz um paralelo e coloca em oposição a


circuncisão física praticada na Antiga Aliança, em contraste com uma circuncisão interna,
espiritual, realizada por Cristo na Nova Aliança, e representada pelo batismo, que
pressupõe, inclusive, a fé do regenerado, conforme aponta o v. 12.
Perguntas:
Leia 1 Co 7.19 e Gl 5.6. Por que Paulo se refere à circuncisão dessa forma?
Como podemos definir então a relação entre circuncisão e batismo nas águas? (Cabe
uma resposta padrão para os professores).

6) Conclusão
Apesar de ser amplamente atrelado a movimentos e vertentes fora do âmbito
reformado, é integralmente possível conciliar o pensamento reformado com a doutrina do
credobatismo. Toda a exposição feita, somada ao testemunho histórico das Confissões
de Fé Batistas sustentam essa visão defendida pelo pentecostal reformado.
Reconhecemos a importância e essencialidade de cada indivíduo confessar e professar a
fé no Senhor Jesus Cristo para então ser batizado e se tornar membro da família de
Deus.
Lição 10 | Batismo no Espírito Santo

Perguntas:
Você é batizado no Espírito Santo?
Na sua visão, o que significa ser batizado no Espírito Santo?

1) Introdução
Falar do batismo no Espírito Santo talvez seja uma das tarefas mais difíceis em
nossos dias, pois tal doutrina têm dividido a igreja, especialmente após o advento do
movimento pentecostal, no início do século XX. Para entender como o pentecostal
reformado aborda essa questão, precisamos falar do testemunho histórico dessa
doutrina, passando pelas evidências bíblicas e, por fim, analisando implicações dessa
doutrina na vida da igreja.

2) Testemunho histórico
A grande dúvida a respeito do batismo no Espírito Santo repousa sobre a seguinte
pergunta: Esse batismo é uma experiência de iniciação para todos os crentes, por
ocasião de sua conversão a Cristo, ou é uma experiência posterior à conversão a Cristo,
de aprofundamento espiritual, para alguns cristãos somente?
A segunda hipótese é amplamente difundida pelo pentecostalismo clássico,
acrescentando-se ao fato a ideia de que tal batismo é necessariamente acompanhado
pela evidência física do dom de línguas. Dessa forma, criou-se a cultura de uma busca
especial pós-conversão por esse tipo de batismo, como um requisito essencial de
espiritualidade e intimidade com Deus.

Perguntas:
A evidência do dom de línguas no batismo no Espírito Santo valoriza esse dom acima dos
outros? Se essa segunda bênção é necessária para a espiritualidade, como aqueles que
não forem batizados devem proceder diante de Deus? Eles são menos espirituais?

3) Evidências bíblicas
A primeira referência ao batismo no Espírito Santo é relacionado ao ministério de
João Batista (Mt 3.11 / Mc 1.8 / Lc 3.16 / Jo 1.33). A promessa feita por João Batista
aponta claramente para a vinda de Cristo e sua obra na terra. Seu batismo de
arrependimento era uma transição para a Nova Aliança, na qual o Espírito Santo estaria
disponível a todo aquele que crê – não servindo, portanto, essas passagens para
fundamentar esse batismo como uma segunda bênção.
A segunda referência diz respeito diretamente ao dia de Pentecostes (At 1.5 /
11.16). Tal acontecimento foi único e representou o nascimento da igreja (no capítulo 11
acontece como que um espelhamento desse evento em relação aos gentios, incluídos no
povo da Nova Aliança) – dessa forma, não podemos fazer da experiência dos discípulos
uma experiência normativa para nós.
A última referência diz respeito ao texto de 1 Coríntios 12.12,13, que possui
diversas interpretações, inclusive em prol da segunda bênção. Contudo, no contexto
apresentado, Paulo parece falar de uma experiência comum a todos os membros da
igreja – sendo o “batismo” e o “beber” do Espírito duas metáforas expressivas para
descrever a experiência que nos une no Corpo de Cristo.

Perguntas:
Como devemos interpretar os textos de At 19.1-7 e At 8.4-24? (Cabe uma resposta
padrão)
De acordo com os versículos lidos, qual deve ser a nossa visão a respeito do batismo no
Espírito Santo?

4) Batizados no Espírito, e agora?


Se o batismo no Espírito Santo descreve a experiência comum a todos os cristãos,
por ocasião de sua conversão a Cristo, o que resta a fazer após isso? Não há nada que
devemos buscar de Deus e do Espírito após a conversão? A Escritura nos mostra que,
após a experiência do batismo no Espírito Santo na ocasião da conversão, devemos
buscar a “plenitude” ou o “preenchimento” do Espírito Santo, uma experiência contínua e
crescente de submissão ao Espírito e apropriação da vida no Espírito.
Há um único batismo, mas há inúmeros preenchimentos. Precisamos no encher do
Espírito (Ef 5.18). Ser cheio do Espírito significa refletir uma maturidade de caráter, sendo
a condição ideal de todo crente.

Perguntas:
Qual a diferença entre buscar o batismo no Espírito Santo e a plenitude do Espírito
Santo?
Como a busca por esse preenchimento do Espírito pode influenciar a sua caminhada de
fé?

6) Conclusão
O pentecostal reformado entende a terminologia do “batismo no Espírito Santo”
como algo exclusivo à experiência da conversão e a universalidade desse batismo na
conversão de todos os crentes. Contudo, não deixamos de admitir a necessidade de
experiências posteriores com o Espírito, ao longo da jornada cristã. Devemos zelar para
que o termo “batismo no Espírito” seja usado conforme sua aplicação bíblica.
Contudo, de forma alguma a rejeição à doutrina da segunda bênção desqualifica
as experiências de irmãos que tiveram preenchimentos do Espírito e os nomeiam como
“batismo no Espírito”. Acima de tudo, devemos buscar uma comunhão maior com o
Espírito, a fim de sermos capacitados para fazer a obra de Deus neste mundo.
Lição 11 | Dons Espirituais

Perguntas:
Quais são os dons espirituais que você conhece?
Existe algum dom mais importante ou relevante que outro?

1) Introdução
Uma das áreas de maior confusão no meio cristão, principalmente o pentecostal, é
o assunto dos dons espirituais. Há muitos equívocos e excessos em relação a eles,
portanto é necessário retornar às Escrituras a fim de examinarmos o que ela fala a
respeito dos dons. Analisaremos as principais passagens no Novo Testamento a respeito
desse assunto:

2) O dom de línguas
a) Marcos 16.15-20: essa passagem é amplamente utilizada para atestar o que
seria um ministério pentecostal. Contudo, há divergência entre os Pais da Igreja quanto
ao texto – alguns, como Eusébio e Jerônimo, afirmam que esse trecho não estava nos
manuscritos mais antigos, mas Irineu o reconhece. Dessa forma, essa passagem não
pode ser utilizada, em si mesma, como uma prova cabal e argumento suficiente para a
continuidade do dom de línguas. Contudo, eles atestam minimamente a expectativa da
apresentação dos dons em relação com a pregação do evangelho, mesmo na era
pós-apostólica.
b) Atos 2.1-13: uma vez que a pluralidade de línguas causou confusão e
afastamento em Babel (Gn 11.1-9), agora no Pentecostes essa variedade de línguas
agregou os diferentes povos, resultando na conversão de 3 mil pessoas. Uma Babel às
avessas. Como se trata de um evento único na história da redenção, dificilmente
podemos extrair dele regras sobre o dom de línguas com base unicamente nessa
ocorrência.
c) Atos 10.23-46: é importante mencionar como esse evento é peculiar, tendo
como principal motivação mostrar a Pedro e aos judeus que o Evangelho também
chegaria aos gentios – dessa forma, fazendo com que eles desenvolvessem o dom de
línguas até mesmo “fora de ordem” (antes do batismo), para mostrar que é o Espírito
quem conduz a vida da igreja.
d) Atos 19.1-7: os discípulos conheciam apenas o batismo de João. Ouviram o
Evangelho de Cristo e receberam o Espírito Santo. Contudo, a fórmula também não
segue as anteriores, pois a expressão desse recebimento do Espírito se manifestou em
dom de línguas, mas também de profecia.

Perguntas:
O livro de Atos busca estabelecer uma forma rígida de expressão do dom de línguas? Por
quê? O que essa diferença entre as situações com o dom de línguas nos revela sobre o
Espírito Santo?
3) O dom de línguas em Corinto
“A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (1 Co
12.1). Paulo começa a abordar o tema dividindo-o em duas partes neste capítulo: a
primeira apenas lista os diferentes dons, e mostra que a espiritualidade de alguém não
depende exclusivamente da manifestação de um desses dons, mas da confissão de
Cristo como Senhor. A segunda parte demonstra a importância de entender a igreja
como um corpo, uma unidade. Nos versículos 29 e 30, ele passa a fazer diversas
perguntas retóricas.
A resposta óbvia a elas é “Não”. E isso se torna problemático para o
pentecostalismo clássico, uma vez que entendem que o dom de línguas é evidência
necessária do batismo no Espírito Santo. A ideia de Paulo, no entanto, é a de que o dom
de línguas não é para todos, e se trata de um dom como qualquer outro – não há uma
hierarquia de dons espirituais!
Já em 1 Coríntios 14.2 vemos a definição de propósito do dom de línguas: falar
com Deus – é uma linguagem de oração. Paulo afirma categoricamente que o lugar do
dom de línguas não é a expressão pública no culto, como os coríntios estavam fazendo
de forma confusa, mas um contato individual entre o cristão e Deus (seja em casa, na
igreja, onde for). Paulo proíbe a manipulação e o eventual protagonismo desse dom no
culto, mas protegeu e incentivou sua prática de forma pessoal pelos cristãos (o que pode
ser manifestado individualmente nos momentos de comunhão com Deus, até mesmo no
culto, desde que em sua individualidade).
No versículo 15, ele afirma que quem fala em outra língua “fala em mistérios”, o
que aponta para um idioma desconhecido, porém não um mero balbucio, uma vez que
seria possível uma interpretação (v. 13). Trata-se de uma linguagem compreensível ao
Espírito, mas não à razão humana. O próprio Paulo afirma que falava em línguas mais que
todos eles (v. 18). Por que ele precisou dizer isso? Pois sua expressão se dava de forma
particular, sem propaganda ou alarde para quem quer que seja. Mais do que expressão
de uma pretensa espiritualidade, o dom de línguas é parte de uma relação individual com
Deus.

Perguntas:
Por que o dom de línguas não deve ter protagonismo no culto público?
Qual deve ser o critério para considerar alguém espiritual? Você acha que falar em línguas
é essencial para a construção de uma espiritualidade?

4) O dom de profecia
Ainda no capítulo 14 do livro de 1 Coríntios, Paulo faz uma declaração de
propósito do dom de profecia, registrada no versículo 3: “Mas quem profetiza, fala aos
homens para edificação, exortação e consolação”. Esses são os três objetivos da
profecia, e toda “profecia” que não gerar alguma dessas três situações, está fadada a ser
extrabíblica. É interessante que essas três aplicações do dom de profecia são também
atreladas à própria Palavra de Deus, o que nos leva a entender que o dom de profecia
precisa estar intrinsecamente ligado e coerente com o ensino bíblico (1 Co 14.29). A
Bíblia é o referencial, o filtro, a peneira pela qual a verdadeira profecia deve passar, e na
qual as falsas profecias são descobertas e rejeitadas.
O grande problema a respeito da contemporaneidade do dom de profecia é o fato
de que o mundo pentecostal sofreu uma grande influência da cultura da vidência.
Pessoas querem ser “reveladas”, buscam gurus que vão adivinhar seu futuro e dizer
coisas boas a seu respeito. Porém, devemos aprender que o abuso e o mau uso não
devem justificar o desuso. Não é porque os dons estão sendo mal utilizados que
devemos abandoná-los; antes, devemos resgatar o seu sentido bíblico e utilizá-los de
forma fiel às Escrituras.

Perguntas:
Após estudarmos o propósito da profecia em 1 Co 14.3, podemos afirmar que uma
pregação bíblica da Palavra de Deus pode ter um caráter profético?
Como a visão de Paulo a respeito da profecia desmonta o estereótipo do imaginário
pentecostal a respeito da figura do “profeta”?

6) Conclusão
O pentecostal reformado entende que há uma continuidade dos dons espirituais
aos nossos dias, e que o Apóstolo Paulo nos incentiva a buscá-los (1Co 12.31/1Co 14.1).
Os dons existem e são vivenciados em sua plenitude onde há um ensino equilibrado,
submissão mútua, disciplina coletiva e um compromisso de andar em união.
Numa igreja saudável, os dons são distribuídos segundo a vontade do Espírito e
para o bem da igreja. Os dons são uma expressão da graça de Deus, e devem estar
inseridos em um contexto de vida piedosa, oração e amor ao próximo. Tudo isso vem de
Deus, e devemos honrá-lo ao utilizar bem os dons que Ele tem concedido a cada um de
nós.
Lição 12 | A Alma Pentecostal Reformada (Parte 1)

Perguntas:
O que é um alicerce? Qual sua importância para uma construção?
Leia Efésios 2.19-22. Por que Paulo afirma que Cristo é o alicerce (pedra angular) da
igreja?

1) Introdução
É crucial que a igreja tenha seus pés firmados em uma teologia sã e verdadeira.
Por meio da teologia, a igreja se ajusta, se acerta e se dimensiona. Tudo o que a igreja faz
– sua prática, proclamação, seu culto – é um reflexo de sua identidade em Deus,
encarnado na pessoa de Jesus Cristo. O objetivo dessas últimas lições é abordar temas
da teologia prática, consequências diretas do que já foi tratado até aqui.

2) O culto público
Em primeiro lugar, para entender o culto público, é necessário voltar ao
entendimento do que significa ser igreja, a assembleia dos santos. A Reforma Protestante
afirmou que a igreja se distingue pelo ensino correto das Escrituras, ministração correta
dos sacramentos e aplicação correta da disciplina. Porém, entendemos que o Apóstolo
Paulo sugeriu ainda outros parâmetros, que não invalidam os já mencionados: uma
dimensão intencionalmente espiritual, uma dependência de uma ação milagrosa de Deus
(Fp 3.3) e o imperativo ao discipulado (Mt 28.18-20).
Dessa forma, para o pentecostal reformado, o culto público é um instrumento de
discipulado – o contexto na qual as pessoas aprendem a ser cristãs. Isso requer um culto
centrado na Palavra de Deus e conduzido de forma que pessoas sejam treinadas a ser
discípulos de Cristo. O culto não se torna, principalmente, um espaço de expressão da
espiritualidade, mas de formação de uma espiritualidade saudável, uma maturidade no
corpo, conforme afirma Efésios 4.11-16.

Perguntas:
Por que o culto não pode ser centrado nas necessidades humanas? Qual o perigo dessa
prática?
De que forma podemos contribuir para que o culto se torne uma oportunidade de
aprendizado?
De acordo com Efésios 4.11-16, qual é o “antídoto” para não sermos levados por “ventos
de doutrina”? Como esse “antídoto” se expressa no culto?

Como isso funciona na prática?


O culto deve começar com a leitura das Escrituras e oração. Suas músicas devem
ser absolutamente fiéis às verdades bíblicas – para isso será necessário reexaminar e
descartar algumas músicas que cantamos. O momento de dízimos e ofertas deve ser
enquadrado no contexto de que Deus é o dono de tudo, e o que temos é dádiva dele. A
pregação ser expositiva e fiel às Escrituras. Sempre que possível, deve incluir a
ministração da Santa Ceia, o anúncio visual da centralidade do Evangelho, muitas vezes
acompanhado da reafirmação da fé nas doutrinas centrais do Cristianismo, presente nos
antigos credos, como, por exemplo, o Credo Apostólico.
O culto forma a nossa mente. Por sua pontualidade, aprendemos o valor de ser
alguém de palavra; por sua ordem, aprendemos a submissão mútua; pela presença das
Escrituras, aprendemos a viver de “toda palavra que procede da boca de Deus”; pelas
orações, aprendemos a pensar de forma mais coletiva; pelas músicas, gravamos
verdades no coração; pela pregação, aprendemos a direcionar nosso pensamento em
consonância com o de Cristo.
Por fim, precisamos reconhecer que o culto depende também da ação do Espírito
Santo. O culto é um lugar de encontro real com Deus. Nele as pessoas podem ser
curadas, transformadas, libertas e convertidas ao Senhor. Por conta disso, a preparação
ao culto deve ser regada de oração – desde a escolha das músicas até a preparação do
esboço da pregação – somente o Espírito convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo
16.8). O verdadeiro culto não é um local de convencimento humano, mas de
manifestação sobrenatural do poder de Deus. Nesse sentido, cada culto precisa ser um
milagre.

Perguntas:
Qual a importância de cultuar a Deus coletivamente? Como isso edifica a igreja?
No meio pentecostal, “depender do Espírito” no culto envolve uma dose de improviso e
“espaço” para o Espírito agir. Como em nossos cultos podemos depender do Espírito
sem nos exceder?
Qual a relevância da pregação expositiva para o crescimento da igreja?

3) Conclusão
O pentecostal reformado entende que o culto é uma oportunidade única de
comunhão, aprendizado mútuo, maturidade e entendimento da obra de Cristo exposta
nas Escrituras. Nenhum outro momento é tão sublime para contemplar as grandezas de
Deus juntos aos nossos irmãos. Portanto, precisamos valorizar o culto público, de forma
a considerar que são oportunidades de termos um encontro real com Deus e entender
seu precioso Evangelho dado a nós. Valorizar o culto é crescimento consistente,
fundamento no alicerce, a pedra angular, que é o próprio Cristo.
Lição 13 | A Alma Pentecostal Reformada (parte 2)

Perguntas:
Quais são as consequências de defender uma teoria sem a sua consequente prática?
Leia Tiago 2.14-26. Como se expressa o equilíbrio entre fé e obras? (Cabe uma resposta
padrão)

1) Introdução
Na última lição, começamos a abordar os aspectos da teologia prática vivenciada
pelo pentecostal reformado. A ênfase ao culto público e suas repercussões na vida do
cristão individualmente, e na vida da igreja coletivamente foram abordadas e discutidas.
Nesta lição, complementamos o assunto abordando outros aspectos, como a oração, o
culto familiar e o evangelismo/missões.

2) A oração
É essencial que estejamos em um diálogo constante com Deus. Orar sem cessar
não significa um monólogo ininterrupto, mas a expressão das diversas formas de contato
com Deus, quais sejam a adoração, ação de graças, súplicas e confissões. A vida de
oração constante nos torna mais sensíveis ao Espírito Santo, de forma que aprendemos a
ouvi-lo de forma mais satisfatória.
Para tanto, cada dia deve incluir um tempo para a leitura das Escrituras, pois nela
Deus nos fala mais claramente. Ler a Bíblia é uma forma de renovar a mente (Rm 12.2)
nesse mundo tão atolado de informações e tecnologias. A oração é igualmente
fundamental. Mas como orar? Essa foi a pergunta dos discípulos, e a resposta de Jesus
a ela foi uma escola de oração: O Pai Nosso.
No Pai Nosso, começamos pedindo a Deus que glorifique o seu nome e faça sua
vontade na terra – e isso inclui nossa vida, lar, igreja e país – assim como é feita no céu.
Em seguida, pedimos o pão de cada dia, perdão dos pecados e proteção de Deus –
contra as tentações e todo o mal. Nesse ímpeto, oramos pelas pessoas que prezamos. O
que essa oração nos mostra é que precisamos planejar nossa vida de oração.
Cremos ainda que a oração “move montanhas”. Mais que apenas edificação
pessoal, cremos que Deus age em nossos dias. Oramos por enfermos, por governos, por
um avivamento, crendo que Ele pode fazer todas as coisas, de acordo com sua perfeita e
agradável vontade. Boa teologia sem piedade é como um vale de ossos secos, todos em
seu devido lugar, mas sem vida.

Perguntas:
Quais têm sido os desafios para o cultivo da vida devocional? Como você pode melhorar
nisso?
Que lição da escola de oração do Pai Nosso é mais difícil de ser aplicada? Por quê?
2) O culto familiar
Para muitos evangélicos, a vida espiritual concentra-se em sua expressão no culto
público aos domingos e, quando muito, num encontro no meio da semana. Para alguns
outros, há ainda uma vida devocional individual. No entanto, muitas famílias têm perdido
a maravilhosa oportunidade de expressar sua espiritualidade no contexto dos cultos
familiares.
Desde a Reforma Protestante, passando pelos puritanos, foi dada uma grande
importância da adoração no lar. Eles criam que sem uma reforma na família seria
impossível reformar a igreja. Para tanto, cada lar era considerada uma pequena igreja;
cada pai, um pequeno sacerdote; cada família, um pequeno rebanho.
Infelizmente, nossos lares deixaram de ser centros de formação moral e espiritual,
tornando-se centros de lazer e entretenimento mundanos. Gastamos mais tempo com as
distrações da tecnologia do que com o investimento familiar na Palavra de Deus. De
acordo com A.W. Tozer, “a família que não louva a Deus sete dias por semana não o
louvará um único dia na semana”.

Perguntas:
Leia Dt 6.4-9. Que princípios extraímos sobre a importância de cultuar em família?
Segundo Sl 78.3-7, qual a importância de pregar o Evangelho às futuras gerações?

3) Evangelismo e missões
Ninguém resumiu de melhor forma o imperativo evangelístico e missionário da
igreja, por meio de seus ensinos e sua própria vida, do que o Apóstolo Paulo. Ele aponta
a urgência desse tema em Romanos 10.14,15. E no capítulo seguinte ele nos ensina que
o Senhor é soberano e seus caminhos são inescrutáveis (Rm 11.33-36). Dessa forma, ele
equilibra o tema e desfaz o estigma de que aqueles que seguem as doutrinas da graça
não possuem ênfase missionária.
Pelo contrário, muitas vezes a noção da Depravação Radical, se bem entendida,
pode ainda catalisar o impulso evangelístico da igreja, uma vez que o homem precisa
totalmente de Deus, não tendo oportunidade de salvar-se a si mesmo, por alguma coisa
que possa fazer. Como John Piper resume: “As missões existem porque a adoração a
Deus ainda inexiste em muitos cantos da terra”. O pentecostal reformado deve ser rico
tanto no ministério de evangelização quanto no de compaixão, submissos à Grande
Comissão (Mt 28.18-20), fiéis à Palavra para a glória de Deus.

Perguntas:
Leia Mt 28.18-20. Quais são os elementos essenciais da Grande Comissão? (Cabe uma
resposta padrão).
Você consegue resumir em poucas palavras o que é o Evangelho? (Cabe uma resposta
padrão).
4) Conclusão:
Vivemos dias sombrios e terríveis, a começar pela situação da própria igreja.
Somos hoje uma sombra do que já fomos um dia. Contudo, na absoluta soberania de
Deus, são nesses tempos de maior escuridão na história que a luz de Deus brilha mais
forte. Como pentecostais reformados, cremos que Deus pode realizar mudanças nesse
cenário. Oramos e trabalhamos para isso. Aconteça o que acontecer, a glória será,
sempre, toda para Ele.

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