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1 - Na ADPF 46, rel p/ acórdão Min Eros Grau, foi estabelecida uma sistematização bastante

lúcida sobre a diferença entre:


a) atividade econômica em sentido estrito e
b) prestação de serviço público.
Ambas são espécies do gênero atividade econômica em sentido amplo. 
2 - Eros, em sua principal obra sobre o tema e no julgamento da ADPF, funda a distinção no
próprio texto constitucional. A atividade econômica em sentido estrito está prevista no art.
170 da CF e a prestação de serviços públicos nos arts. 20 e ss, 175. 
3 - A distinção não é meramente topográfica. O regime jurídico de ambas é totalmente
diverso.
A atividade econômica em sentido estrito é o espaço próprio da iniciativa privada. É onde
incidem os princípios da liberdade de iniciativa e da livre concorrência.  É onde o poder
público só está autorizado a atuar diretamente de forma excepcional, para atender imperativos
de segurança Nacional ou relevante interesse coletivo (art 173)  Justamente por ser o espaço
da iniciativa privada, que quando o poder público decide participar (intervenção por
participação) deste ambiente, não pode conceder privilégios às suas empresas que não sejam
extensíveis às do setor privado (Art. 173, P. 2) 
A prestação de serviço público, por outro lado, é o espaço por excelência do poder público.
Vejam o art. 175: "incumbe ao poder público... a prestação de serviços públicos". Aqui,
quando a iniciativa privada atua, não faz sob os influxos da liberdade de iniciativa ou livre
concorrência. Precisa de concessão, permissão, autorização e recebe regulação estatal. 
4 - Sendo o espaço do poder público, é constitucionalmente autorizado que o estado atue sob
um regime de privilégios, n extensíveis às empresas privadas. Alguns ex: imunidade tributária
recíproca das empresas estatais prestadoras de serviço público, execução por precatório etc 
5 - E o monopólio. Onde fica? O monopólio é uma intervenção do estado na atividade
econômica. A mais drástica de todas. Só há intervenção quando se atua em esfera alheia.
Ninguém intervém no espaço que lhe é próprio, mas sim de outrem.  Ora, se o monopólio é
uma intervenção, ele ocorre na atividade econômica em sentido estrito, campo da iniciativa
privada, não na prestação de serviços públicos. 
6 - E os Correios? Aí é que esta a chave a questão. A EBCT não atua em atividade econômica
em sentido estrito mas sim na prestação de serviços públicos. Logo, os Correios NÃO
ATUAM SOB MONOPÓLIO. 
O regime de exclusividade dos Correios em relação ao serviço postal é um regime de
PRIVILÉGIO, típico de prestadores de serviço público. É a mesma razão pela qual tem
imunidade tributária recíproca, prazo processual diferenciado e outros privilégios típicos da
Fazenda Pública. 
7 - Em que pese essa sistematização ter ficado muito clara na ADPF 46, depois da
aposentadoria do Min Eros, tanto o STF quanto o STJ passaram a confundir os conceitos.
Natural que o presidente da Câmara também o faça. 
8 - Daí ser normal encontrarmos vários julgados que uma hora diz que correios prestam
serviço público, conferindo-lhe privilégios da Fazenda pública e outra que exercem atividade
em monopólio, algo totalmente contraditório.

Fim. 
Depois do fim, sempre tem um recomeço.rsrs.

10 - O art. 9 da lei 6.538/78 se refere a alguns serviços postais como monopólio: entrega de
cartas pessoais, cartões postais, malotes. O art. 42 da lei diz que é crime violar esse
monopólio. Talvez esteja aí a causa da confusão. 
11 - A APDF 46 promoveu uma releitura desse artigo de modo que não seria
monopólio, mas sim privilégio. Uma interpretação conforme a constituição. 
12 -Em reforço a essa tese, observem que por ser uma intervenção por absorção da
atividade econômica em sentido estrito, o monopólio só poderia ser previsto na própria
constituição e o serviço postal não está elencado no art. 177.

S.M.J

Fim de verdade. 

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