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Talvez uma das principais razões desta situação seja que a geometria tem muitos
aspectos e, em consequência, não foi encontrada - e talvez nem sequer exista - uma via
simples, clara, linear, "hierárquica" desde os primeiros passos até às realizações mais
avançadas da geometria. Diferente do que ocorre na aritmética e na álgebra, ainda os
conceitos básicos em geometria, tais como as noções de ângulo e distância, devem ser
reconsideradas em diferentes etapas desde diferentes pontos de vista.
Desta forma, o ensino da geometria não é de nenhuma forma uma tarefa fácil. Porém,
em vez de tratar de enfrentar e superar os obstáculos que emergem no ensino da geometria as
práticas escolares atuais em muitos países simplesmente omitem estes obstáculos excluindo
as partes mais demandantes, e com frequência sem nada que as substitua. Por exemplo, a
geometria tridimensional quase desapareceu ou foi confinada a um papel marginal no currículo
da maioria dos países.
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sociedade, e a falta de atenção de seu papel no currículo escolar, o ICMI sente que há uma
urgente necessidade de um estudo internacional cujos propósitos principais sejam:
2. Aspectos da geometria
A Geometria como a ciência do espaço. Desde suas raízes como uma ferramenta para
descrever e medir figuras, a geometria tem crescido até compor uma teoria de ideias e
métodos mediante as quais podemos construir e estudar modelos idealizados tanto do mundo
físico como também de outros fenômenos do mundo real. De acordo com diferentes pontos de
vista, temos a geometria euclidiana, a afim, a descritiva e a projetiva, assim como também a
topologia ou as geometrias não euclidianas e combinatórias.
A Geometria como uma maneira de pensar e entender e, em um nível mais alto, como uma
teoria formal.
A Geometria como uma ferramenta em aplicações, tanto tradicionais como inovadoras. Estas
últimas incluem, por exemplo, gráficos por computador, processamento e manipulação de
imagens, reconhecimento de padrões, robótica, investigação de operações.
Outra distinção poderia ser feita com respeito a diversas aproximações (abordagens) de
acordo ao que se pode resolver com Geometria. Em termos gerais, são possíveis as
aproximações (abordagens): Manipulativas, Intuitivas, Dedutivas e Analíticas.
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3. Existe uma crise no ensino de Geometria?
Durante a segunda metade deste século, a Geometria parece ter uma perda
progressiva de sua posição formativa central no ensino das matemáticas da maioria dos
países. Este decaimento foi tanto qualitativo como quantitativo. Os sintomas desta redução se
encontram por exemplo, nas recentes enquetes [e testes] nacionais e internacionais sobre o
conhecimento matemático dos estudantes. Com frequência a Geometria é totalmente ignorada
neles, ou somente são incluídas muito poucos itens de Geometria. Em último caso, as
perguntas tendem a ser confinadas a alguns "fatos" elementares sobre figuras simples e suas
propriedades, e reproduz um desempenho relativamente pobre.
No período desde aproximadamente 1960 até 1980, se deu uma pressão geral no
currículo matemático contra tópicos tradicionais, devido à introdução de outros novos (por
exemplo: probabilidade, estatística, ciências computacionais, matemáticas discretas). Ao
mesmo tempo o número de horas escolares dedicadas às matemáticas foi sendo reduzido. O
"movimento das matemáticas modernas" contribuiu - ao menos indiretamente - para reduzir o
papel da Geometria euclidiana favorecendo outros aspectos da matemática e outros pontos de
vista para seu ensino (por exemplo: teoria de conjuntos, lógica, estruturas abstratas). A
declinação tem involucrado em particular o papel dos aspectos visuais da Geometria tanto a
tridimensional como a bidimensional, e todas aquelas partes que não se encaixaram dentro da
teoria dos espaços lineares como, por exemplo, o estudo das seções cônicas e de outras
curvas notáveis.
Em anos mais recentes tem havido um retorno aos conteúdos mais tradicionais em
matemáticas, com uma ênfase específica sobre atividades de planejamento e resolução de
problemas. De qualquer maneira, as tentativas de restabelecer a Geometria euclidiana clássica
- o que a princípio e em muitas partes do mundo foi a matéria principal na Geometria escolar -
não têm tido muito êxito. A questão é que nos cursos tradicionais de Geometria euclidiana o
material é usualmente apresentado aos estudantes como o produto final e como um fato final
da atividade matemática. Assim, esta apresentação, não se encaixa dentro do currículo atual
onde se espera que os alunos tomem uma parte ativa no desenvolvimento de seu
conhecimento matemático.
Na maioria dos países a porcentagem de jovens que alcança o nível médio superior tem
aumentado muito rapidamente durante as últimas décadas. Assim, a forma tradicional de
ensinar Geometria abstrata a uma seleta minoria tem-se tornado mais difícil e inapropriada
para as expectativas da maioria de estudantes das novas gerações. Ao mesmo tempo, a
necessidade de mais professores tem causado, em média, uma redução em sua preparação
universitária, especialmente no que diz respeito às partes mais demandantes das matemáticas,
em particular da geometria. E como os professores mais jovens tem aprendido matemáticas
apenas por meio de um currículo em que a Geometria tem sido descuidada, lhes fazem falta
bons antecedentes neste campo, o que gera neles a tendência de continuar a descuidar do
ensino da Geometria de seus alunos.
A situação é ainda mais dramática naqueles países onde há pouca tradição escolar. Em
alguns casos a geometria está completamente ausente em seus currículos de matemática.
A lacuna entre a concepção da geometria como uma área de investigação e como uma
matéria a ser ensinada nas escolas parece estar sendo cada vez mais ampliada; porém não
parece se encontrar um consenso em como superar esta lacuna, nem ainda se poderá (ou
deverá) ser superada por meio da introdução de mais tópicos avançados nos graus iniciais do
currículo escolar.
4. A Geometria em Educação
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Assegurar que os pontos de vista dos professores e dos estudantes sejam consistentes
em um dado estudo. Por exemplo, levar em consideração que distintas escalas de
distância podem envolver diferentes concepções e processos adotados pelos
estudantes mesmo quando a situação matemática seja a mesma: Em um "espaço de
objetos pequenos", a percepção visual pode ajudar a fazer conjecturas e identificar
propriedades geométricas; quando se está tratando com o espaço onde usualmente nos
movemos (por exemplo, a sala de aula, auditório, etc.) todavia resulta fácil obter
informação local, porém pode ser difícil obter uma visão global; em um "espaço de
grande escala" (como é o caso da geografia ou da astronomia) onde as representações
simbólicas são necessárias a fim de analisar suas propriedades.
Não é necessário dizer que todas estas dimensões estão interrelacionadas umas com as
outras e que também deveriam ser relacionadas adequadamente às diferentes idades e níveis
escolares: pré-primário [educação infantil], primário, secundário, médio superior (onde se
começa a diferenciar as vocações acadêmicas e técnicas), e universitário, incluindo a formação
de professores.
Os computadores podem também ser usados para obter uma compreensão mais
profunda das estruturas geométricas graças a softwares especificamente projetados para fins
didáticos. Os exemplos incluem a possibilidade de simular as construções tradicionais com
régua e compasso, ou a possibilidade de mover os elementos básicos de uma configuração
sobre a tela enquanto são mantidas fixas as relações geométricas existentes, o que pode
conduzir a uma apresentação dinâmica de objetos geométricos e favorecer a identificação de
suas invariantes.
Até agora, a prática escolar foi apenas marginalmente influenciada por estas inovações.
Porém no futuro próximo é possível que ao menos alguns destes tópicos encontrem seu
caminho dentro dos currículos. Isto implicaria em grandes termos os seguintes
questionamentos:
Nesta seção listamos explicitamente algumas das questões mais relevantes resultantes
das considerações delineadas nas seções anteriores. Cremos que um esclarecimento destes
aspectos poderia contribuir para uma promoção significativa no ensino da geometria. É claro,
não afirmamos que todos os problemas esboçados sejam solúveis e menos ainda, que as
soluções sejam únicas e tenham uma validez universal. Ao contrário, as soluções podem variar
segundo os diferentes níveis escolares, os diferentes tipos de escolas e os diferentes
ambientes culturais.
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6.1. Propósitos
- Quais dos seguintes podem ser considerados como os propósitos mais relevantes do ensino
da geometria?
6.2. CONTEÚDOS
- No caso de uma resposta afirmativa à segunda questão indicada acima, quais tópicos
deveriam ser incluídos no temário correspondente aos diferentes níveis escolares?
- E no caso de uma resposta negativa, por que se pensa que os professores ou as autoridades
locais deveriam ser deixadas em liberdade para escolher (eleger) os conteúdos de geometria
de acordo com seus gostos pessoais (este ponto de vista é comum em outras disciplinas de
matemáticas ou é algo peculiar da geometria)?
- A Geometria deveria ser ensinada como uma matéria específica e aparte ou, deveria surgir
dos cursos de matemáticas gerais?
Parece haver um acordo muito difundido de que o ensino da Geometria deve refletir as
necessidades atuais e potenciais da sociedade. Em particular, em todos os níveis escolares
deveria ser colocada ênfase na Geometria do espaço tridimensional tanto como nas relações
desta com a Geometria bidimensional. Como poderia e deveria ser modificada a situação atual
(onde apenas é favorecida a geometria bidimensional)?
6.3. MÉTODOS
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Qualquer tópico em geometria pode ser localizado em alguma parte entre os extremos
de uma aproximação "intuitiva" e uma aproximação "formal" ou "axiomática". Apenas uma
destas duas aproximações deveria ser privilegiada em cada nível escolar ou, deveria haver
uma interação dialética entre elas, ou, ainda mais, deveria ocorrer uma mudança gradual da
primeira à segunda conforme se aumenta a idade e o nível escolar dos estudantes?
Iniciando desde um certo nível escolar, deveríamos provar cada estatuto geométrico ou,
deveriam ser selecionados para demonstração apenas alguns teoremas? No último caso,
deveríamos eleger estes teoremas pela sua importância no interior de um marco de trabalho
teórico, ou pelo grau de dificuldade da demonstração? E deveriam ser privilegiadas as
afirmações intuitivas ou as contra intuitivas?
Parece ser que há uma crescente tendência internacional para o ensino dos métodos
analíticos nos graus mais iniciais, a custo de outros (sintético) aspectos da Geometria. Se
supõe que a Geometria analítica apresente os modelos algébricos para as situações
geométricas. Porém, logo que os estudantes são introduzidos a estes métodos novos, eles são
empurrados repentinamente para dentro de um mundo de cálculos e símbolos no qual são
rompidas as conexões entre as situações geométricas e seus modelos algébricos e com
frequência são omitidas as interpretações geométricas dos cálculos numéricos.
Consequentemente, em que idade e em que nível escolar deveria ser iniciado o ensino da
Geometria analítica? Quais atividades, métodos e marcos de trabalho podem ser usados para
restabelecer as conexões entre as representações algébricas do espaço e as situações
geométricas que estas simbolizam?
São os livros texto tradicionais tão apropriados como quiséramos que fossem para o
ensino e a aprendizagem da geometria?
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Que problemas e limitações podem surgir do uso de tais ferramentas e como poderiam
ser superados?
Como o uso das calculadoras, computadores e softwares específicos podem influir nas
análises dos conteúdos, organização e critérios de avaliação das respostas dos estudantes?
O que é exatamente que deveria ser avaliado e considerado para uma qualificação: a
solução? O processo de solução? As formas de pensamento? As construções geométricas?
Quais os recursos para o ensino (livros, vídeos, softwares) deveriam estar disponíveis
para a capacitação de professores em serviço, com o fim de favorecer uma aproximação
flexível e de amplo critério para o ensino da Geometria?
Com muita frequência, o êxito (ou fracasso) de uma reforma curricular e/ou inovação
metodológica para um certo sistema escolar é valorizada sobre a base de apenas um curto
período de observação de seus resultados. Mais ainda, usualmente não há estudos
comparativos sobre os possíveis efeitos laterais de mudanças de conteúdos ou métodos.
Reciprocamente, seria necessário observar e analisar também o que ocorre a longo prazo.
Por exemplo:
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- A educação visual desde uma idade bem jovem tem algum impacto sobre o pensamento
geométrico em idades mais avançadas?
- Como influi sobre a intuição visual dos estudantes uma introdução bem cedo dos métodos
analíticos no ensino da Geometria? Quando os estudantes já são profissionais/especialistas,
eles se apoiam mais na intuição ou nos aspectos racionais do ensino da Geometria à que
foram expostos?
6.8. REALIZAÇÃO
No ICME 5 (Adelaide, 1984) J. Kilpatrick lançou uma pergunta provocadora: “O que sabemos
acerca da educação matemática em 1984 que não sabíamos em 1980?”
O mesmo assunto foi retomado recentemente no estudo do ICMI: "O que se investiga em
educação matemática, e quais são seus resultados".
Vagn Lundsgaard HANSEN (Mat. Inst., Technical Univ. of Denmark, Lyngby, Dinamarca)
Rina HERSHKOWITZ (Dept. of Science Teaching, Weizmann Inst. of Science, Rehovot, Israel)
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