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Sobre interpretação

Antes de mais nada, parece ser importante discutir como devemos interpretar a Bíblia. A resposta
mais intuitiva parece ser a de que a Bíblia deve ser lida literalmente. Porém, não parece ser o caso,
visto que o mesmo Jesus, como se verá, não interpretou a Bíblia de modo literal. Defenderemos aqui
que a Bíblia deve ser interpretada conforme a Verdade, não conforme o sentido literal. Digamos, por
exemplo, que estamos lendo um texto datado do século XVI, onde não haviam noções de Química.
Neste texto, está escrito “isto é água”. Nós, lendo, não vamos supor que água é H2O? Mesmo que o
autor sequer saiba disso, nem expresse isto, não podemos mesmo assim negar que água é e sempre foi
H2O. Essa interpretação, portanto, não é literal. Se fosse literal, e procurar somente o que está escrito,
suporiamos que água seja algo distinto de H2O, já que não houve referência literal a isto. Para que
assim seja, procuraremos então procurar a Verdade das Escrituras, e não meramente lê-las, como se
fosse uma receita de bolo.
A Leitura de Jesus da Bíblia:
Diante da tentação no deserto, parece-nos que Jesus implica uma leitura completamente não-literal.
Que isso quer dizer? Que ele imputava o sentido que quisesse às Escrituras? Não, mas Ele, por ser a
Verdade, sabia também o que cada parte da Escritura dizia, mesmo que os próprios autores sagrados
não soubessem quando escreviam.
Um exemplo nos basta, afinal, foi o próprio Jesus quem o deu, em Mateus 4,7: Jesus lhe
respondeu: “Também está escrito: ’Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’”
Ora, a citação original que Jesus usara é a seguinte: Não porás à prova a Yahweh, teu Deus,
como o experimentaste em Massá. (Deut 6:16)
Agora, para que se prove nosso ponto, vejamos o contexto, pois, como os literalistas sempre
dizem, é necessário, perante o texto, ter em conta o contexto para não gera pretexto, não é mesmo?
O contexto original, como se vê por todo deuteronômio 6, é a observância das leis. Mas, ora, que
tem a ver a observância das Leis com o diabo tentado Jesus? Poder-se-iam nos responder que o diabo,
ao tentar Jesus, está ferindo a lei quanto ao respeitar o Senhor sobre todas as coisas. Porém, a isso
respondemos: Não parece ser o caso, visto que mesmo o diabo está usando das Escrituras para tentar
Jesus. E como Jesus responde? Usando um contra-exemplo. Mas, ora, se as Escrituras são a Palavra de
Deus, e o diabo, ao que aparenta, está usando-na corretamente, por que Jesus dá o contra-exemplo?
Como já dissemos, por um motivo muito simples: A Verdade é o que Jesus procura, não a mera
expressão.
Ademais, se verá casos parecidos onde os apóstolos citam o velho testamento, ou o mesmo Jesus,
contra os judeus, também cita. Nunca se verá um contexto sendo respeitado por Jesus ou pelos
apóstolos, pois eles sabiam que a Verdade está além do contexto. Outro caso parecido está na agonia de
nosso Senhor na Cruz, onde ele exclama: Pai, por que me abandonastes? Que é o mesmo dito pelo
salmista no salmo 22, 1. E vejamos seu contexto:

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das
palavras do meu bramido? Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não
tenho sossego. Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel. Em ti
confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti
confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos
homens e desprezado do povo.Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os
lábios e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem
prazer. Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de
minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha
mãe.

Ora, o que vemos ai é um cantor de louvor a Deus, não o oferecimento do sofrimento de um Deus
encarnado ao Deus pai. Nem se trata, muito menos, de profecia. Logo, como vimos, Jesus usa de
passagens sem respeito ou com mínimo respeito ao contexto, donde se vê que o literalismo parece ser
um erro. E por que? Porque uma coisa é a palavra, e outra é a coisa significada pela palavra, isto é, a
realidade ou verdade fora da mente do falante ou escritor.
E bem, Deus sabia que, e sabe, que esses significados são difíceis de se atingir. O que ele fez pra
nos ajudar, então? Vejamos as seguintes passagens contidas em Atos 8, 27 em diante.

Ele se levantou e partiu. No caminho encontrou um eunuco etíope, um oficial importante,


encarregado de todos os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera a
Jerusalém para adorar a Deus e, de volta para casa, sentado em sua carruagem, lia o livro
do profeta Isaías. E o Espírito disse a Filipe: "Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-
a". Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe
perguntou: "O senhor entende o que está lendo? " Ele respondeu: "Como posso entender
se alguém não me explicar? " Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se ao seu lado. O
eunuco estava lendo esta passagem da Escritura: "Ele foi levado como ovelha para o
matadouro, e como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua
humilhação foi privado de justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua
vida foi tirada da terra". O eunuco perguntou a Filipe: "Diga-me, por favor: de quem o
profeta está falando? De si próprio ou de outro? " Então Filipe, começando com aquela
passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas novas de Jesus.

Se fosse somente pela atenção ao contexto e às expressões, como os literalistas creem, seria tão
fácil ler a bíblia, mas, mesmo assim, o etíope precisou de ajuda. Ajuda de quem? De Felipe, que estava
próximo de Jesus geograficamente, historicamente e linguisticamente. Para comprovar o que digo:
Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por
epístola nossa. (2 tess 2, 15).
Então houve, além das Escrituras, ensinamentos orais, que passaram de Jesus aos apóstolos, e dos
apóstolos a seus discípulos e propugnadores que Deus ajuda a manter a verdadeira interpretação da
Escritura. Mas por que? Porque, como se sabe, hoje a única maneira de ler a Escritura no texto original
grego da septuaginta, é usando do Grego Koiné, que é uma reconstrução feita por cientistas linguistas,
a maioria sendo ateu, do grego bíblico. E que faremos nós? Confiar nessa reconstrução da chamada
ciência, dominada pelo império satânico do ateismo, ou na tradição oral dada pelos apóstolos aos
discípulos? Para que se comprove que essa tradição perdurará até o fim dos tempos:
As profecias messiânicas do Antigo Testamento prevêem um vínculo eterno entre Deus e Seu povo
(Is. 55. 3; 61, 8; Jr. 32, 40) e um reino eterno indestrutível (Is. 9, 7; Dn. 2. 44 ; 7, 14). O trono de Davi
deve existir para sempre como o sol e a lua (Salmos 88, 37 e segs.). Essas profecias se referem a Cristo
e ao Seu reino, ou seja, a Igreja.
O anjo Gabriel proclamou: "Ele reinará para sempre na casa de Jacó (Lucas 1, 32 em seguinte).
Cristo construiu Sua Igreja sobre uma rocha para dar a ela um fundamento seguro em todas as
tempestades (Mt. 7, 24 em seguinte), E prometeu-lhe "as portas do Inferno não prevalecerão" (Mt. 16,
18). Nisto a imperecibilidade e indestrutibilidade da Igreja é claramente expressa, quer se entenda pelas
portas do Inferno, o poder da morte ou o poder do Maligno. Para a era subsequente à Sua ida para o lar
do Pai, Jesus prometeu a Seus discípulos outro Paráclito, que deve permanecer com eles para sempre, o
Espírito da Verdade (João 14, 16). Enviando Seus apóstolos ao mundo, Ele lhes assegurou: "Eis que
eu :. convosco todos os dias até à consumação do mundo »(Mt. 28, 20). O Reino de Deus na terra
continuará até o fim do mundo, e esse reino deve ser o de ajuda, o de paráclito, onde as verdades
transmitidas continuarão sendo transmitidas. Paulo atesta que a Eucaristia é celebrada em memória da
morte do Senhor "até que Ele volte a brilhar" (I Cor. II, 26).
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Sobre a Lei
Nos perguntemos: se a Lei do Antigo testamento é diferente da do Velho Testamento
E parece que não, pois, embora Paulo distingua ambas (Rm 3, 27), dizendo que uma é lei das
obras e outra é lei da fé, parece coaduná-la depois dizendo que, todos estão provadas pelo testemunho
da fé (Hb 11, 39), referindo-se aos patriarcas e profetas. Logo, a lei das obras também é lei da fé, donde
parece que não há distinção entre elas. E mesmo a lei nova, ou Evangelho, parece admitir obras, como
se vê em Mt 5,44, logo, mais uma razão para não crer que há distinção entre lei nova e antiga.
Em contrário, diz Hebreus 7:12, mudado que seja o sacerdócio, é necessário que se faça a
mudança da Lei. Logo, parece que a Lei mudou.
Solução: A Lei de Deus, como qualquer Lei, ordena a vida humana para um fim. Ora, as coisas
que se ordenam para um fim podem se distinguir entre si de duplo modo: 1) quanto ao fim em si
mesmo, assim, a lei penal se distingue da lei tributária pois ordenam coisas distintas, isto é, têm fins
distintos. 2) podem distinguir-se também pela distância ao fim almejado, assim, podemos dizer que
uma lei de um país de primeiro mundo é diferente de uma lei de terceiro mundo na medida em que são
eficientes em alcançarem seu fim. Sendo assim, do primeiro modo, a lei nova não distingue-se da
antiga, pois o fim de ambas é Deus, e o Deus do velho e do antigo testamento é o mesmo, porém, se
distinguem quanto à eficiência desse fim. Pois, onde Deus não havia se apresentado em carne era mais
difícil que houvesse amor à Deus verdadeiro, e, assim, nos dizeres do apóstolo, é como que pedagogo
de crianças (Galatas 3,24). Então, a lei nova está para a antiga como o carro real está para o projeto do
carro. Para ser ainda mais claro, a Lei antiga mudou na nova nas coisas que eram figurativas do futuro.
Por exemplo, as cerimônias que eram figurativas foram abolidas, como a circundação, que é figurativa
de Cristo. Ora, uma vez Cristo feito carne, não é necessário uma lei que figure Cristo.
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A alma existe?
E parece que sim, pois diz a Escritura (2Cor 4, 16): Essa é a razão por que não desfalecemos; mas
ainda que se destrua em nós o homem exterior, todavia o interior se vai renovando de dia em dia. Ora, o
que no homem é interior é a alma. Logo, há alma no homem. Ademais, se diz em Gênesis (2,7) que se
inspirou no seu rosto um assopro de vida e, ora, qual o princípio de vida no corpo material? Só pode ser
o imaterial, que chamamos de alma, logo, a alma existe.
Em contrário, diz a Escritura também (Ecl 3, 19): todos respiram da mesma sorte, e o homem tem
nada de mais do que o bruto. Ademais, o ditos de Gênesis não contribuem para existência da alma, mas
apenas de um sopro material que Deus nos dá, como ar de vida, não imaterial.
Solução: Os dizeres de Salomão, quanto que o homem nada tem de distinto do bruto, is to é, do
animal, deve ser explicado. Ora, seria absurdo que o dito por essa passagem deva ser entendido sob o
significado literal e absoluto, afinal, é obvio que somos diferentes dos animais, do contrário, não
haveria razão para Deus preferir a nós que animais. Logo, como nem Deus nem os escritores sagrados,
influídos pelo Espírito Santo, se contradizem nem erram, devemos buscar o significado verdadeiro da
passagem. O que Salomão faz ai é um caso de metonímia, isto é, quando se toma a parte como um
todo, onde a carne do homem é chamado de homem, tal como muitas vezes chamamos um objeto por
sua marca (coca ao invés de refrigerante). Uma vez resolvido isso,
Proximo passo seria lidar com a afirmação que o sopro de vida que Deus nos dá seja material. Para
resolver tal problema, deve-se entender antes que Gênesis, nem mesmo a Bíblia inteira, procura ser um
compêndio científico de fatos, mas sim uma forma eficiente de transmitir verdades aos leitores. Assim,
é necessário que fosse usado de imagens, alegorias, analogias e tantas outras formas discursivas. Logo,
não é porque, como já dissemos, que está escrito sopro que significa literalmente sopro como
entedemos hoje. Mas o sopro deve ser entendido como o seguinte: Princípio ativo do corpo. Ora, o que
é princípio do corpo não é o mesmo que o corpo, pois não pode algo ser princípio de si mesmo, todo
movimento deriva de outra coisa que lhe precede. Ora, o mover de nosso braço, depende de fibras
materiais, que depende por sua vez de ligações nervosas do nosso cerebro, material também, que por
sua vez depende de idéias. Ora, não se pode medir nem pesar uma ideia, muito menos apontar para
algum lugar do cerébro e falar que a idéia está ali. Um pensamento, como se vê, é imaterial. Ora, ao
vaso imaterial recipiente de ideias chamamos de alma. Logo, a alma existe. Aliás, uma vez aceito que a
alma não existe, abrimos as portas para teorias da evolução dentro da bíblia, o que é absurdo. Ademais,
a negação da alma, que é onde reside suas idéias, do homem, é a negação do que há de mais especial
nele, logo, parece levar a todo tipo de pessimismo e materialismo.
Ora, Deus é puro espírito, como se diz em Jo 4, 24 e 2 Cor 3,17, que quer dizer que Deus têm todas
as ideias de todas as coisas, pois Ele é arquiteto e criador de todas essas coisas, logo, a imagem e
semelhança do homem está justamente no espírito do homem, em sua alma. Ademais, porque Paulo
contraria tanto alma e espírito (Rom 7, 14, em sequência), se alma não existe? Ademais, em Mateus 10,
18 se comprova também a imortalidade da alma, contra o que alguns dizem.

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Do destino da alma após a morte
Ora, como já vimos, a alma existe e ela é eterna. Cabe, agora, saber o destino da alma após a
morte. Assim sendo, parece que a alma dorme após a morte. Essa noção se depreende de uma série
de versículos, como Jo 11, 11 e Mc 5, 39. Ademais, em eclesiastes 9,5, até versículo 10, confirma que
os mortos não sabem nada dos vivos.
E parece que não: Há diversas outras passagens em que se fala de felicidade ou tormento (como
Lucas 16:23 e 25) após a morte. Ora, felicidade e tormento são estados conscientes, logo, almas
conhecem após a morte.
Solução: A solução está num fato da vida de Cristo: A pregação aos espíritos em prisão (1 Pe 3:19).
Que isso quer dizer? Quer dizer que os justos que não foram transladados (i.e., assuntos) para Cristo
(como Enoque, que se vê em Gn 5:24) tiveram suas almas em união com Cristo. E isso se vê pelo resto
da passagem: no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram,
quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas
algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, Essa pregação foi dada aos justos
(porém pecadores) do Antigo Testamento, que, esperando Cristo, não tinham ciência nem consciência.
Não quero dizer com isso com os justos do Antigo Testamento estavam no inferno, mas, que estavam
em um estado intermediario por não conhecerem o Deus encarnado que só viria séculos depois. Após
isso, como se vê em inumeríssimas e incontáveis passagens do Novo Testamento, é ao deixar o corpo
que se vive com o Senhor (2 Co 5:8), que morrer por Cristo é bom pois é estar com Ele (Fp I, 23), e,
principalmente, as almas que morreram durante a tribulação cantam junto com Deus no seio de abraão
(i.e., Céu, vide Ap 6:9).
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Sobre a Oração
Nos perguntemos: Se devemos orar a somente a Deus
E parece que sim, Cristo orava sempre e exclusivamente ao Seu Pai (Mt 11:25 e 26; 26:39, 42; Lc
23:34, 46; Jo 12:27 e 28; 17:1-26). Quando indagado por Seus discípulos a respeito de como deveriam
orar, Ele os ensinou a também se dirigirem diretamente ao Pai (ver Lc 11:1-4; Mt 6:5-13). Mas, além
disso, os discípulos foram instruídos a orarem ao Pai, em nome de Cristo. Em João 15:16 o próprio
Cristo afirmou: “…a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda.” E João
16:23 complementa essas palavras com a declaração: “Em verdade, em verdade vos digo, se pedirdes
alguma coisa ao Pai, Ele vo-la concederá em Meu nome.”.
Em contrário: Paulo orou aos mortos, como se vê em 2 Timóteo 4:19. A casa de Onesíforo, citada,
foi a única “casa” que Paulo mencionou, indicando que era tudo o que restava de Onesíforo, “sua casa”.
Todas as evidências apontavam para a conclusão de que Onesíforo havia morrido; nada disso aponta
para a ideia de que ele ainda estava vivo. Anteriormente, Paulo se referiu a Onesíforo no pretérito: "O
Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me renovou e não se
envergonhou da minha prisão" (2 Timóteo 1:16). Neste versículo, encontramos Paulo se referindo à
casa de Onesíforo (novamente implicando que Onesíforo não estava mais lá, que ele estava morto) e,
em seguida, referindo-se a Onesíforo no pretérito. Esses são dois indicadores de que Onesiphorus havia
morrido. Então, em 2 Timóteo 1:18, Paulo diz: "Conceda o Senhor que ele [Onesíforo] obtenha
misericórdia dEle [o Senhor] naquele dia.". Isto me parece provar mais que perfeitamente que a oração.
Ademais, os santos no céu oram a Deus como nós (Apocalipse 6: 9-10).
Solução: Aqui, a principal dificuldade está numa má compreensão da jurisdição, se assim posso
dizer, de Cristo. Digamos que eu descreva um ato: “Ele enfiou a faca na barriga de um homem, e
abriou-o”. Pode parecer, num primeiro momento, que estou falando do crime de um violador de corpo,
não? Mas posso estar falando, também, de um médico. Ou digamos que eu diga “Tomou o dinheiro
dele a força, mesmo contra sua vontade, pois, sabendo que se não pagasse, seria levado à prisão”.
Parece que estou descrevendo um roubo com ameaça de carcere privado, não? Mas posso estar também
descrevendo o direito tributário sobre cobrança de impostos. Posso também dizer: matou-o. Posso estar
falando de um assassinato, mas posso também falar de legítima defesa ou da aplicação da punição por
um agente da lei. Assim, os negadores da oração aos santos esquecem que a oração ao santo é também
uma oração a Deus, tal qual a morte causada por um agente da lei é a própria lei. Para que se
exemplifique isso, sistematizemos segundo dois princípios; Todo ato tem forma e conteúdo. Assim
como um ato tem um conteúdo, como matar, pode ter duas formas distintas: uma segundo a lei e outra
contra a lei. Assim, vejamos o caso da oração aos santos.
Oração pode ser determinada? Pode. De que modo? É por mera quantização? Não, pois uma
oração a Baal, uma oração a Deus e outra aos santos certamente não se diferem apenas por meros
conteúdos, afinal, posso pedir uma mesma coisa para Deus ou para Baal. As orações se distinguem na
forma mesma da oração.

Podemos traçar sua natureza analogamente ao falar, isto é, transpor os pensamentos a alguém
fisicamente presente, usando orgãos vocais, ou ostensivamente (como apontar para algo ou fazer outros
gestos) ou simplesmente mandando uma carta ou mensagem. A oração é diferente do falar pois sua
finalidade não é a expressão de algo que está fisicamente presente, senão que é a expressão à algo que
de alguma forma tem contato com meu espírito, por isso que a Bíblia diz que apenas Deus tem
contato com o mais íntimo do nosso coração. Pois o que é espiritual só se distingue pelo Espírito. Ora,
como no discurso usa-se os orgãos da boca, na oração usa-se a fé, que não se vê, logo, é imaterial, e
sendo imaterial reside em algo também imaterial, que chamamos de alma, pois deve se ter que algo que
não está entre nós fisicamente receba nossa presse. E novamente, a unica coisa que pode apreender a fé
é aquele que sabe tudo e enches tudo.

O básico para uma boa oração, então, é a propria vontade de expressar atos pensativos para o Pai.
Dessa forma, uma oração à Baal não é propriamente uma oração, pois ela falha em sua propria
natureza, isto é, em comunicar para algo espiritual para algum espírito. Baal sequer existe, em si, senão
que existe como mero demônio. Ainda sim, não seria isso também a destruição das orações aos santos?
Se a oração é por sua propria natureza algo para Deus e por Deus, não seria a oração aos santos outro
tipo de oração falha? Não! Como já foi exposto, a oração aos santos tem Cristo como mediador, o
Espirito Santo como tradutor e o Pai como fim, tendo então o necessário para ser considerado uma
oração. Entretanto, a oração é determinável, pois há algo que distingue a oração aos santos e a oração
diretamente a Deus, do contrário seriam a mesma coisa e teriam um único nome únivoco: Oração.
Como essa matéria da oração [expressar espiritualmente um ato noematico para o Pai, tendo Cristo
como mediador e o Espírito como tradutor] pode ainda ser determinável? Como pode a oração a Deus
difererir da oração aos santos? Os nossos adversários podem falar que a oração aos santos ferem a
Cristo se e somente se a oração aos nossos irmãos aqui na terra também ferirem a Cristo, o que seria
absurdo. O único argumento contra a oração aos santos é que estes, como mortos, não sabem de nada
da terra, mas isto já resolvemos também. Logo, percebemos que os que negam nossa tese caem em
erros profundos, e vivem em um sonho de uma noite de verão.

As orações diferem-se, pois, na forma. Essa forma reside no grau da mediaticidade em que a
oração chega ao Pai. Ora, uma oração a Deus é certamente mais imediata que uma oração aos santos,
pois o Espírito Santo, por meio de Cristo, traduz imediatamente a oração ao Pai. Poderiam nos acusar:
Pra que então praticar uma oração que “demorará” mais para chegar ao Pai, que uma oração
diretamente ao Pai? Ora, novamente, lhes pergunto: Pra quê então pedir orações a qualquer irmão aqui
na terra? Pois é exatamente isso que fazemos aos santos, e os que dizem o contrário são mentirosos.
Peguemos um exemplo. Quando eu peço para um irmão da minha igreja orar para mim, eu o faço
com o intento de que a oração dele por mim chegue ao Pai. Ainda sim, esse pedido, por mais que tenha
a causa final [de que chegue ao pai] e causa eficiente [pois tenho fé de que ele orará por mim e que
Deus ouvirá] não possuem o ad intra da oração, é uma expressão física, para fora, ad extra, e por essa
razão, não chega a ser uma oração. Ainda sim, usarei esse exemplo como uma analogia para a oração
aos santos. A oração aos santos há o princípio material de ser uma expressão ad intra, há o intento de
que ela chegue finalmente ao pai e é feita na fé. Entretanto, ela é formalmente semelhante aquele
pedido de oração a um irmão, pois ela é formalmente um pedido de oração à alguém que não está aqui.
Os santos no céu oram a Deus como nós (Apocalipse 6: 9-10). Eles são a grande nuvem de
testemunhas que nos encoraja a correr a corrida da fé (Hebreus 12: 1). Eles são aqueles que se alegram
"no céu por um pecador [na terra] que se arrepende" (Lucas 15: 7). “As pessoas estão destinadas a
morrer uma vez, e depois disso enfrentar o julgamento” (Hebreus 9:27). Depois que um cristão morre,
sua alma está no céu (Lucas 23:43, Filipenses 1:23 e 2 Coríntios 5: 6, 8); ele está no céu, esperando que
seu corpo encontre sua alma no último dia. Os santos no céu ainda vivem na fé e na esperança,
esperando pelo reencontro de corpo e alma.

Mas isso vai acontecer mesmo sem nossas orações, podem nos endagar! Então, por que se
preocupar em orar por eles? (Também pode ser erroneamente concluído que não devemos orar por
nada aqui. Afinal, sabemos “que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam”
[Romanos 8:28], mesmo sem nossas orações). Parece que o desprezo da oração aos santos despreza
também a caridade entre irmãos cristãos aqui na terra.

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Ademais, algumas indagações, reflexões e questões.

Aquele que não pode mentir, disse, principalmente em Deut 5, 8-10, que idolatria é pecado, mas
também o disse em outros lugares, como Deut 6:4; 6:13; 4:12; Ex 34:18; Salmos 96:7. Para justificar o
por quê da idolatria ser errado, poderiamos usar João 5: 37, em porquê não vimos sua forma.
Semelhantemente define Paulo em Atos 17:29. Mas, em contrário aos que nos acusam de idolatria,
dizemos: Venerar não é adorar. Venerar é prestar honras, adorar, por outro lado, é oferecer tudo,
inclusive a vida, o trabalho, a família, e todas as coisas, à algo. E eis as razões:
Se a razão pelo uso de imagens ser idolatria é que ele não tem forma, não é, porém, isso que Jesus
veio mudar? Não quero dizer que idolatria deixou de ser pecado, mas quero dizer que certa ocorrência
deixou de ser, tal como, já explicamos acima, do caso da lei e do crime sob uma mesma descrição. Seu
nascimento da virgem, seu batismo no jordão, sua transfiguração no Tabor, sua liberdade na morte, os
milagres e a ressurreição, tudo isso, é a satisfação da Lei. Ora, Abraão venerou (como já explicamos,
venerar é prestar honras) coisas criadas em Gen 23:7, e Esau também em Gen 33:3; Hebreus 11:21;
Gen 47:31; 47:7-10. Josué (joshua) venerou o anjo do senhor. Em Salmo 131:7 há a veneração de um
lugar. Ou a veneração em Genesis 42:6. Logo, venerar outros que não Deus não pode ser considerado
um erro em sentido absoluto. Há de existir, portanto, uma verdade implícita nas Escrituras, pois, se lê-
mos-la explicita e literalmente, acabamos achando que Deus se contradiz, o que é um absurdo e seria
profunda ofensa à maior produção literária da História.
Que é uma imagem? Uma imagem é algo que se parece de um arquétipo ao mesmo tempo que se
distancia dele sob outros aspecto. E.g., uma foto, que obviamente se parece com um arquétipo, isto é, a
pessoa fotografada, mas se distancia dessa pessoa, na medida em que obviamente não é essa pessoa. Há
inúmeros tipos de imagens. Há, por exemplo, as imagens da memória, que obviamente não são as
mesmas coisas que as coisas lembradas, afinal, seria um absurdo dizer que na lembrança de uma pedra
se encontra a pedra realmente em nossa memória.
Acontece que a imagem é muitas vezes usada por Deus mesmo. Como o relance de Moisés ao ver
a sombra de Deus é uma imagem de Deus. Com certeza a sombra de Deus não é Deus, mas, ainda sim,
aquela sombra foi capaz de deixar Moisés repleto de luz. Vê-se então que de fato a sombra era uma
imagem de Deus, na medida em que se aproxima de Deus sob algum aspecto (de dar verdadeiras luzes
a Moisés) e se distinguem dele por outra (ora, a sombra é algo criado, Deus, no entanto, é incriado).
Deus usou de imagens pois sabia que nos não somos capaz de vê-Lo como Ele é, senão que precisamos
de analogias, de degraus para chegar até ele. Não só isso, como em Romanos 1:20 se atesta que toda a
criação e a natureza é também imagem de Deus. Não só, como nós mesmos, desde genesis, somos ditos
ser a mais perfeita imagem e semelhança de Deus, pois somos livres e intelectivos. Deus também usa
de imagens da imaginação em Exodo 25:10-16 para mostrar o dever de Noé de construir sua arca (ora,
a arca na imaginação de Moisés não é a mesma coisa que a arca, tal qual a ideia que nós temos de um
barco não é a mesma coisa de um barco. Há também imagens das coisas do passado. Há também,
imagens do passado, como quando Deus mandou que uma jarra fosse feita em memorial 9:4. Portanto,
vê-se que o mandamento não trata de proibir toda e qualquer imagem, do contrário, seria contra Ele
mesmo, e Deus sendo perfeitíssimo não pode se contradizer. Há, portanto, que se encontrar uma via
média, onde tanto o mandamento como todas as coisas ditas aqui sejam verdadeiras. Ora, por que ele
pediu para que se fizessem querubins por mãos humanas? Querubins, por mais angelicais que sejam,
são ainda criaturas, criadas por Deus.
Resolve-se assim. Deus é infinito sob todo e qualquer aspecto, e, portanto, não tem barreiras, não
tem limites. É impossível fazer, segundo as leis da geometria, uma imagem de algo que não tem limites
e, obviamente Deus sabe disso, não? Deus, então, sabendo que seria impossível que se fizesse por mãos
humanas uma imagem dEle, ordenou que se fizesse de querubins, que por serem criaturas, criadas por
Deus, são, portanto, finitas, e sendo assim, suscetível à geometria e arte humana. Em Hebreus 8:5 se
fala do quão bom são as coisas feitas, por mãos humanas, segundo a Lei. Aliás, a propria Lei, segundo
o Apóstolo, é uma sombra (como já dito anteriormente) e, portanto, imagem (Hebreu 10:1). Então,
aqueles que nos dizem que os casos do antigo testamento seriam certos só porque Deus mandou, na
verdade, é o contrário: Deus mandou porque sabiam que os homens não conheciam ainda sua forma.
Nem mesmo Moisés pode o ver! Apenas Cristo mostrou a verdadeira natureza divina no monte Tabor.
Porém, agora, Deus se fez carne. Torna-se, agora, circuscrito. E isso nos liberta! Dessa forma, há a
correção da Lei. Agora, venera-se, sim, a matéria, ou acaso o corpo que morreu na cruz não era feito de
matéria? Ou seria a ressurreição uma mera ilusão de ótica? Aqueles que creem que a realidade é uma
ilusão, não fazem mais que desrespeitar a Cristo, que, amando-nos tanto, fez-se carne, fez-se matéria.
Se a matéria fosse algo ruim e desprezível, como Deus, que é sumamemente bom e não pode cometer
nenhum erro, se fez matéria? Os dois unicos resultados desse pensamento é que, ou Deus é mal e por
isso se fez matéria, ou não se fez matéria, e Jesus foi só uma ilusão. Claramente, as duas posições são
absurdas e devem ser rechaçadas imediatamente.
Veja os dizeres de Paulo para aqueles que são tão apegados na lei e no legalismo: Gal 5:2,4. É claro
que, nenhuma dessas imagens, tais quais os anjos sobre a arca, não são para adorar, mas para nos
lembrar de coisas grandes já feitas. Ora, todos nós ja vimos o filme A Paixão de Cristo, e todos nós
concordamos que ele tem grande utilidade de símbolo de coisas grandes já feitas na história, e portanto,
cultivantes da vida espiritual de inúmeras pessoas. Por que não gravar em imagens os milagres ou a
vida de Jesus, também?
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E o caso de Samuel? O caso de Samuel é um interessantíssimo, e que creio ter chegado a uma
conclusão igualmente interessante.

Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher disse a Saul: Por que me
enganaste? Pois tu mesmo és Saul.

Respondeu-lhe o rei: Não temas; que vês? Então, a mulher respondeu a Saul: Vejo
um deus que sobe da terra.

Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está
envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em
terra e se prostrou.

Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul:
Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se desviou
de mim e já não me responde, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por
isso, te chamei para que me reveles o que devo fazer. Então, disse Samuel: Por que,
pois, a mim me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo?
Porque o SENHOR fez para contigo como, por meu intermédio, ele te dissera; tirou
o reino da tua mão e o deu ao teu companheiro Davi.

Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR e não executaste o que ele, no furor da
sua ira, ordenou contra Amaleque, por isso, o SENHOR te fez, hoje, isto. O
SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e
teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas
mãos dos filisteus.

De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo por causa das
palavras de Samuel; e faltavam-lhe as forças, porque não comera pão todo aquele
dia e toda aquela noite. (1 Sm 28: 12-20)
A mulher tinha um espírito familiar e muita gente deduz erroneamente que por isso seria um demônio
se passando por Samuel. No entanto a Bíblia nos afirma que era Samuel.

É importante refletir que mesmo que Deus em sua soberania tenha usado Samuel para entregar uma
mensagem. A mulher nem precisava ter essa capacidade...o importante é que a Bíblia afirma
explicitamente que era Samuel

“por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra
do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma
necromante" (1 Samuel 28:1-25; 1 Crônicas 10:13-14)

“Amado pelo Senhor seu Deus, Samuel, o profeta do Senhor, instituiu um novo
governo, e ungiu príncipes entre o seu povo. [...] Depois disso, adormeceu e
apareceu ao rei, e lhe mostrou seu fim (próximo); levantou a sua voz do seio da
terra para profetizar a destruição da impiedade do povo." (Eclesiástico 46, 16.23)

Aqui vemos que Samuel não apareceu por causa da Necromante, mas por Deus, que quis mostrar a seus
fiéis que não se deve consultar os santos por algo que não é santo. Um necromante só conversa com
demônios, não com santos. É mais uma exortação de Deus a nós para não confundir nossas práticas
com as pagãs. Nossa raiz é Cristo, o único verdadeiramente Santo em si mesmo, por isso somos santos
e nossas ações devem ser santas. Logo, como se vê no caso de Samuel, Deus quis que um certo morto
justo aparecesse aos vivos.

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