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IRMÃOS MAYSLES

A DISCIPLINA DO OLHAR
apresenta

IRMÃOS MAYSLES
A DISCIPLINA DO OLHAR
30 NOV A 13 DEZ DE 2017

Caixa Cultural São Paulo


Desde 1861, a CAIXA está presente na história de cada brasileiro, seja na concessão
de crédito acessível, no financiamento habitacional, no desenvolvimento das cidades
-  por meio de investimento em projetos para infraestrutura e saneamento básico -
seja na execução e administração de programas sociais do Governo Federal.
 
Como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica
do Estado brasileiro, sua missão é atuar na promoção da cidadania e do
desenvolvimento sustentável do país.  A CAIXA vislumbra em sua atribuição a
motivação para estar presente em todos os momentos da vida do brasileiro,
aproximando-se das suas necessidades e anseios e participando das suas
realizações.
 
Nesse contexto, nada mais natural que a CAIXA se aproxime da cultura nacional,
propiciando acesso às mais variadas manifestações artísticas e intelectuais e
contribuindo para a preservação do patrimônio histórico brasileiro. Por meio de sua
programação nos espaços da CAIXA Cultural, presentes em sete capitais do país,
a instituição vem, ao longo das últimas décadas, viabilizando projetos que promovem
a formação intelectual e cultural da população. O Museu e o Programa Educativo
Caixa Gente Arteira complementam esse esforço na formação de público e na
difusão de saberes e práticas artísticas e culturais.  
 
É com essa conjuntura que a CAIXA patrocina a mostra de cinema “Irmãos Maysles
– A disciplina do olhar”, que vai fazer uma retrospectiva inédita no Brasil da
filmografia dos irmãos Albert e David Maysles, dois dos maiores documentaristas da
história do cinema mundial.
 
Com este projeto, a CAIXA ratifica a sua política cultural, a sua vocação social e o
seu propósito de democratização do acesso aos seus espaços e à sua programação
artística. Desta forma, ela cumpre seu papel institucional de estímulo à difusão
e ao intercâmbio do conhecimento, contribuindo para a valorização da identidade
brasileira bem como para o fortalecimento, a renovação e ampliação das artes no
Brasil e da cultura do nosso povo.
 
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
42 Filmes
43 PSYCHIATRY IN RUSSIA
43 RUSSIAN CLOSE-UP
44 SAFARI YA GARI
44 ANASTASIA
45 SHOWMAN
45 ORSON WELLES IN SPAIN
46 WHAT’S HAPPENING! THE BEATLES IN THE USA
Sumário 46 IBM: A SELF PORTRAIT
47 CUT PIECE
07 Apresentação 47 MEET MARLON BRANDO
48 WITH LOVE FROM TRUMAN
13 O cinema direto e os irmãos Maysles
48 CAIXEIRO-VIAJANTE
31 Entrevista a Jonas Mekas 49 GIMME SHELTER

34 Entrevista a João Moreira Salles 49 CHRISTO’S VALLEY CURTAIN


50 GREY GARDENS
50 RUNNING FENCE
51 MUHAMMAD AND LARRY
51 VLADIMIR HOROWITZ: THE LAST ROMANTIC
52 OZAWA
52 ISLANDS
What’s Happening! The Beatles in the Usa

53 HOROWITZ PLAYS MOZART


53 JESSYE NORMAN SINGS CARMEN
54 CHRISTO IN PARIS
54 SOLDIERS OF MUSIC: ROSTROPOVICH RETURNS TO RUSSIA
55 ACCENT ON THE OFFBEAT
55 UMBRELLAS
56 THE BEALES OF GREY GARDENS
56 THE GATES
57 SALLY GROSS – THE PLEASURE OF STILLNESS
57 IRIS, UMA VIDA DE ESTILO

60 Programação
Apresentação

Nos livros sobre documentário, o capítulo dedicado aos norte-americanos Albert e


David Maysles é quase sempre acompanhado por uma fotografia de making of onde
os dois cineastas são vistos em ação: Albert com uma câmera 16 milímetros no
ombro, ao lado de David, com um gravador de som Nagra e um microfone na mão.
A reincidência da foto nos materiais de divulgação dessa mostra – a primeira intei-
ramente dedicada a obra dos cineastas no Brasil – tem uma explicação: os filmes
realizados pelos Irmãos Maysles foram resultado de uma grande disciplina no tra-
balho em dupla, de um rigor com uma técnica de filmagem que desenvolveram nos
anos 1960 e que foi aplicada em praticamente todos os seus 43 filmes – resistindo à
morte precoce de David em 1988 e perdurando até o falecimento de Albert, em 2015.

Para quem terá seu primeiro contato com a filmografia dos Maysles, parece inevi-
tável uma breve localização histórica assim como um sobrevoo sobre as premissas
que orientaram a geração do cinema direto norte-americano. Em linhas gerais,
trata-se de um processo de realização – incluindo filmagem e montagem – base-
ado na crença de que é possível representar o mundo de uma forma radicalmente
objetiva, “um mundo sem consciência de estar sendo filmado”, como o documen-
tarista João Moreira Salles apontou certa vez. Na prática, nos anos 60, vestindo
seus pesados equipamentos, estes documentaristas se lançavam a acompanhar
personagens mantendo uma crença quase religiosa em sua capacidade de não
interferir de forma significativa na normalidade daqueles vidas. “Filmamos a rea-
lidade como ela é”, seguiria afirmando Albert em 2008, sem ponderar.

Ao longo das décadas, não foram poucas as acusações de purismo direcionadas aos
irmãos Maysles e aos seus compatriotas do cinema direto norte-americano, o que
teve início já nos anos 1960, quando dos notórios embates com a vertente francesa
do cinema vèritè. Pelo fascínio com a ideia de não-intervenção na realidade, os adep-
tos do cinema direto sempre correram o risco de terem seus filmes enquadrados
sob a redutora metáfora de quem filma como “uma mosca na parede” – expressão
cunhada exatamente por um cineasta militante do direto, Richard Leacock.

Realizar uma retrospectiva com 30 filmes dirigidos por Albert e David Maysles
é, por um lado, uma chance de ampliar o repertório dos espectadores brasilei-
ros acerca do documentário de observação, do qual os irmãos foram mentores

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e exímios praticantes. Por outro lado, ainda que seja patente a filiação estética
dos irmãos à vertente estadunidense do gênero, assistir e discutir essa obra em
profundidade nos permite destacar uma série de particularidades e de desvios
formais desses cineastas, superando as visões homogeneizantes em torno da pró-
pria tradição do cinema direto. Nesse sentido, além das sessões, a mostra sediará
uma masterclass com o professor norte-americano Jonathan B. Vogels, um dos
autores que mais se dedicou a obra dos Maysles nos EUA – cuja pesquisa ele re-
sume em um artigo publicado neste catálogo.

De partida, é importante anotarmos que a nossa revisão cronológica da carreira dos


Maysles se inicia antes mesmo da dupla ser formada, quando, nos 1950, Albert viaja
de motocicleta pela União Soviética e realiza dois curtas-metragens, e ainda um
terceiro no Quênia. Mesmo que nesse momento inicial a sua linguagem se aproxime
dos cinejornais da época, Albert não parece interessado em definir os países por
suas imagens típicas. Ao contrário, seu olhar de estrangeiro almeja despir-se dos
preconceitos com aquele país – o que é notável se considerado o contexto de pola-
rização cultural da Guerra Fria –, como alguém interessado em observar formas de
vida singulares sem, no entanto, tecer julgamentos sobre o que viu e ouviu. Essa
seria uma premissa inegociável durante toda a sua carreira cinematográfica.

Após um período de colaborações como operador de câmera em obras inaugurais


do cinema direto norte-americano, Albert se junta com seu irmão David e funda a
empresa Maysles Films – que ainda hoje é responsável pela preservação e difusão da
sua obra e cuja participação foi decisiva na produção dessa mostra. Juntos, os irmãos
mergulharam no sonho de retratar a vida das pessoas “como ela é”. Porém, é funda-
mental notar que em seus primeiros retratos o que se vê não são pessoas quaisquer:
Orson Welles, Marlon Brando, Yoko Ono, os Beatles, os Rolling Stones. Em geral, os
Maysles e outros documentaristas dos primeiros tempos do direto começaram se in-
teressando por celebridades políticas, atores, músicos, dançarinos, escritores, artis-
tas plásticos, esportistas, ou criminosos no corredor da morte – pois em muitos casos,
tanto quanto as figuras célebres, interessava-os a existência de uma “crise”.

Como lembra Vogels, esses tipos de escolhas ajudam a compreender melhor a


crença de não-intervenção tão proclamada pelos pioneiros do “direto puro”. Muito
porque a maior parte das situações e dos personagens retratados eram, por essên-
cia, já midiáticos, fazendo da câmera e do gravador de som uma presença menos

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extraordinária – era não apenas previsível, como por vezes desejada. Assim, po-
demos nos perguntar em que medida a pretensa invisibilidade alcançada pelas
equipes norte-americanas não se deu, em contraponto, como reflexo de uma so-
ciedade ávida por novos dispositivos de hipervisibilidade, já naquela época.

Imersos nesse contexto midiático e correndo risco de realizar filmes que se tor-
nassem meras reproduções de uma patologia sociocultural, os Maysles estavam
atentos à necessidade de dar um passo atrás. Em seu primeiro média-metragem,
Showman (1963), em determinado ponto da narrativa os enquadramentos de Albert
se desviam do então protagonista, o produtor de cinema Joe Levine, e passa a se
concentrar na forma obsessiva como as mãos dos personagens manipulam seu
objeto de desejo: uma estatueta do Oscar. De forma ainda mais evidente, What’s
happening! The Beatles in the USA (1964), para além de um registro dos bastidores
da sua primeira turnê na América – o que poderia simplesmente alimentar a devo-
ção histérica aos Beatles – resulta em um poderoso e bem humorado documentá-
rio sobre a ironia com que a banda tratava a sua própria fama. Ainda na seara dos
“rockumentaries”, em Gimme Shelter (1970), mais do que um testemunho sobre o
assassinato de um fã em um show dos Rolling Stones, o filme é visto por muitos
como um prenúncio do declínio da contracultura simbolizada por Woodstock. Pois
quando mergulhavam no universo pop-midiático, além de uma tentativa recor-
rente de humanizar as celebridades, os Maysles se dedicavam a destrinchar cada
um dos desejos ali ativados, seja pelos meios de comunicação, seja pelas próprias
personalidades na construção de suas imagens públicas.

Nos muitos retratos artísticos realizados pelos irmãos, destacam-se os documentá-


rios dedicados a acompanhar de perto processos criativos em música e dança, des-
de os lendários maestros Vladimir Horowitz e Seiji Ozawa até a complexa montagem
de um espetáculo que misturou jazz e ballet, em Accent on the Offbeat (1994). Nesse
trabalho de registrar bastidores, sua relação mais complexa e duradoura foi estabe-
lecida com o casal de artistas visuais Christo e Jeanne-Claude, com quem colabo-
raram em seis documentários. Em todos eles, falar em “colaboração” parece mais
justo do que simplesmente trata-los como “registros” do processo de concepção e
da montagem das suas esculturas sobre o espaço. Isso porque, dada a efemeridade
das intervenções propostas pelo casal – depois de montadas sobre um espaço, suas
obras duravam poucas semanas de pé –, cada um dos documentários resultantes
adquiria uma importância seminal para eternização daquela forma de arte. Mais do

9
que isso, por se tratarem de interferências radicais em paisagens e monumentos,
a atenção dos Maysles nestes filmes se volta sobretudo para as relações humanas
que os artistas precisavam travar afim de terem suas montagens autorizadas e,
tanto quanto, reconhecidas pelos cidadãos comuns como obras de arte. Intervir ou
não na realidade “como ela é”, mesmo de forma passageira: de alguma forma, a
discussão que marcou o cinema documentário nos anos 1960 é reeditada a cada
filme-processo dos Maysles com Christo e Jeanne-Claude.

Como explicou David em uma entrevista de 1964 incluída neste catálogo, talvez
seja possível dizer que nenhum dos seus personagens tenha colaborado tão dire-
tamente para a estética cinematográfica dos Maysles como Truman Capote, retra-
tado por eles em um curta-metragem de 1966. A partir de Caixeiro-viajante (1968),
declaradamente inspirados pela linguagem do jornalismo literário, os Maysles
assumem um estilo de montagem capaz de construir arcos dramáticos muito pró-
ximos à cartilha do cinema clássico de ficção. Em verdade, tal era a importância
da montagem para ressignificação do seu material bruto que, em todos os seus
filmes mais emblemáticos, as montadoras – Charlotte Zwerin, Susan Froemke,
Ellen Hovde e Deborah Dickson – assinam também como diretoras.

Não por acaso, Caixeiro-viajante tornou-se um marco do cinema direto ao cons-


truir um tipo de densidade dramática e um acesso a intimidade dos personagens
até então inexploradas pelo documentário, tendo como matéria-prima não mais
celebridades em situações de crise, mas as agruras cotidianas de pessoas co-
muns – no caso, quatro incansáveis vendedores de bíblia nas periferias dos EUA.
Contudo, para os Maysles, a sua capacidade de registrar a intimidade alheia não
dependia de algum tipo de invisibilidade diante dos personagens. Albert, que era
formado em psicologia, tinha uma estratégia própria para naturalizar a sua pre-
sença: “quando você olha para uma pessoa e sente uma empatia por ela, você tem
certeza de que conquistaria a confiança desta pessoa. Isto está no olhar. [...] Nesse
sentido, então, se elas interagem conosco, nós somos apenas mais um fator na-
tural”, como disse a Salles na outra entrevista anexada nesse volume. David, por

Running Fence
sua vez, ainda nos anos 1960, foi mais claro: “diante das pessoas não agimos como
moscas, tampouco como paredes”.

Engana-se quem supõe que essa foi uma frase isolada. Trata-se de uma negação
reiterada pelos Maysles quando seus métodos eram sumariamente associados à

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tradição do cinema direto. Cabe à mostra “Irmãos Maysles – A disciplina do olhar”
a tarefa de se dedicar a investigação do interior nos filmes, tendo o discurso dos
realizadores como uma dentre tantas referências para se pensar a sua obra. Para
tal, será realizado um debate sobre as singularidades do cinema dos Maysles a
partir de noções como empatia e dramaticidade.

De certo que Grey Gardens (1975) virá a tona nessa discussão. Pela primeira e
única vez, uma imagem como a que se vê na capa deste catálogo foi parar dentro
de um filme dos Maysles, e logo na abertura. Para os puristas, a revelação da sua
presença por trás da imagem e do som pode ser entendida como uma incoerência
com seus discursos. Em Grey Gardens, os agora “famosos Maysles” (uma bela in-
versão de papeis, quando os próprios irmãos são alçados pelas suas personagens
ao patamar de celebridades) visitam Edie e Edith Beale, uma mãe e uma filha que
vivem há anos isoladas em uma mansão insalubre. Diante de suas performances
efusivas e ininterruptas para a câmera, cantando, dançando e dialogando com os
cineastas, o espectador poderá enfim ter contato com os bastidores do processo
artístico de ninguém menos que os próprios documentaristas. Quando, de tão im-
previsível, a realidade “como ela é” acabou por se sobrepor e desmontar os seus
métodos, os Maysles não hesitaram em cometer indisciplinas.

Angelo Defanti e Felippe Schultz Mussel, curadores

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O Cinema Direto e os Irmãos Maysles
Jonathan B. Vogels

Um desejo por autenticidade


No final da década de 1950, um impetuoso grupo de jovens cineastas liderados
por Robert Drew e Richard Leacock passou a defender uma nova abordagem para
o cinema de não-ficção. Rejeitando o autoritarismo dos voice overs e o didatismo
dos roteiros, onde o formato “problema-solução” imperava, estes realizadores al-
mejavam capturar a vida “enquanto ela acontecia”. Para tal, lhes interessavam os
drama “reais” e “autênticos”, e não mais as histórias pré-fabricadas por boa parte
dos documentários até então. Abster-se dos enredos preconcebidos e do controle
sobre seus personagens não significava, contudo, abdicar dos temas de interesse
geral. Como a ideia de dirigir a percepção do espectador lhes parecia uma mal-
dição, estes realizadores vislumbraram praticar um cinema que não dissesse ao
público o que ele deveria sentir sobre o que assistiu, ou mesmo o que deveria ser
feito para solucionar um problema social.

As novidades tecnológicas – incluindo as câmeras mais leves, mas sobretudo os


gravadores de som sincrônicos – tornaram possível esse novo estilo de filmar.
Com os equipamentos portáteis, os operadores de câmera poderiam ir além dos
planos fixos e gerais, assim como aos diretores era possível realizar as suas pró-
prias tomadas sem necessariamente recorrer a bancos de imagem. Em seu li-
vro de memórias, Richard Leacock assim descreve essa nova liberdade: “A coisa
mais importante é que estávamos experimentando. Todas as regras eram novas.
Na verdade, estávamos desenvolvendo uma nova gramática que era inteiramente
diferente do cinema silencioso e dos filmes de ficção”1. Como parte dessa “nova
gramática”, os operadores de câmera aderiram ao close-up, explorando o rosto
dos personagens, assim como se tornaram mais frequentes as longas tomadas
(e os planos-sequência) a espreita de uma reação emotiva. A novidade do som
significou poder filmar alguém falando com a mesma sincronia da vida real, e
Grey Gardens

muitas vezes de forma improvisada. Ouvindo diretamente a voz das pessoas na tela,
o espectador decidiria por si mesmo sobre a integridade e credibilidade de quem
falava. Um cinema “sem mediações”, um “cinema direto”, um estilo que foi parti-
cularmente bem adaptado para retratar histórias individuais, tendo como referência

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temporal “um dia na vida” de alguém (muitas vezes, alguém famoso). O seu gosto
pela espontaneidade exigia paciência e diligência, o que levava os cineastas a ro-
dar horas e horas de película para que a sua história enfim emergisse. Procurando
evitar qualquer forma de intervenção, como bem explicou na época o cineasta e
historiador James Blue, estes realizadores norte-americanos passaram a “culti-
var uma passividade alerta. Eles pretendem apagar a si próprios. Eles querem que
o personagem se esqueça que eles estão ali”2.

Essa nova abordagem exigiu ainda o estabelecimento de um princípio narrativo.


A maneira mais comum foi a organizar o material filmado através de uma “estru-
tura de crise”, na qual o sujeito ou os sujeitos filmados enfrentariam um momento
particularmente difícil de suas vidas, ou onde a situação retratada alcançaria in-
variavelmente um clímax dramático. Em Crisis: Behind a Presidential Commitment
(1963), um dos primeiros trabalhos de Robert Drew, sua equipe de filmagem
acompanhou o embate entre Robert Kennedy e George Wallace sobre um caso
de integração racial na universidade do Alabama. Stephen Mamber, um dos mais
antigos e articulados defensores daquela nova linguagem documental, assim dis-
criminou as três vantagens dessa estrutura de crise:
a) Porque ele ou ela está tão absorto na crise em curso, que o sujeito se
torna menos consciente da câmera.
b) O drama inerente a uma crise fornece emoção para aquele que geral-
mente é um tipo de filme mais lento e menos estruturado.
c) Um personagem revela sua identidade “verdadeira” ou o seu “caráter”
quando posto à prova em uma situação de crise.
Atraído por essa estrutura dramática, o cineasta deve então escolher um sujeito
cuja vida possa fornecer episódios de conflito, ou deve procurar situações onde
uma crise seja iminente; onde seu personagem será, inevitavelmente, vencedor
ou perdedor. Essa estrutura se baseia ainda na escolha de um sujeito que, quando
sob pressão, reaja na tela; o herói de crise ideal é o que Mamber se refere como
“homem de ação”. Para Drew, a estrutura da crise era o que proporcionava ao
espectador algo atraente e revelador sobre os sujeitos filmados.³
A crescente popularidade da televisão desempenhou ainda um papel significativo
na ascensão desse novo estilo de observação documental. O próprio Drew, por
exemplo, se considerava um jornalista dedicado a usar aquela nova tecnologia

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de transmissão audiovisual em prol da objetividade da informação. Drew estava
interessado em um jornalismo televisivo capaz de proporcionar “algo absoluta-
mente único” através da “experiência de estar em outro lugar e ver por si mesmo
a evolução dramática das pessoas envolvidas em importantes acontecimentos”4.
O imediatismo e a intimidade desse estilo funcionaram bem na televisão e, nos
primeiros anos do movimento, as emissoras se encorajaram em levar ao ar no-
vos tipos de programas documentais. A série Omnibus exibiu três colaborações
de Robert Drew e Richard Leacock, enquanto outros dos seus filmes apareceram
em programas de variedades como The Ed Sullivan Show e Tonight Show. A dupla
produziu ainda quatro documentários de uma hora de duração para o programa
Close-up da ABC em 1960 e 1961.

Com esta ampla exposição, os primeiros filmes produzidos pela Drew Associates
acabaram por estabelecer os parâmetros de um estilo próprio de cinéma vérité
norte-americano. Filmes como Primary, um olhar sobre a disputa presidencial en-
tre Hubert Humphrey e John Kennedy, em 1960; Yanky No! (1960) sobre a ascensão
de Fidel Castro ao poder em Cuba; e The Chair (1963), que retratou o caso de um
condenado a morte, sobrevivem até hoje como três exemplos clássico do estilo.
Importante notar que esses documentários diferiram de outras obras do cinéma
vérité que emergiu simultaneamente na França e no Canadá. Nesses países, os
documentários realizados por Jean Rouch e Chris Marker, por exemplo, emprega-
ram uma abordagem muito mais assertiva e auto-reflexiva. Eric Barnouw, histo-
riador de cinema documentário, descreveu muito bem as suas diferenças:

“O documentarista no cinema direto levava sua câmera para uma situação de ten-
são e esperava avidamente por uma crise, já o cinéma vérité de Rouch tentava, ele
próprio, precipitar uma. Os artistas do cinema direto aspiravam à invisibilidade;
o artista adepto do cinéma vérité de Rouch era frequentemente um participante de-
clarado [...] O cinema direto encontrou sua verdade em eventos que estavam ao al-
cance da câmera. O cinéma vérité estava comprometido com um paradoxo: o de que
circunstâncias artificiais poderiam trazer à superfície uma verdade escondida”5
Para além das transformações estéticas e técnicas, Drew e seus associados tor-
naram-se grandes entusiastas de uma mudança mais ampla nos rumos da cul-
tura norte-americana. Durante os anos 1960, “verdades” de todo tipo eram ques-
tionadas e, com frequência, desacreditadas. Aqueles que se viram consternados

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e perplexos com a submissão da sociedade norte-americana a Guerra Fria, pas-
saram então a aspirar uma forma superior de autenticidade, o “realmente real”,
como alguns o chamaram. Um diversificado leque de críticos como Susan Sontag,
Norman Mailer e Paul Goodman, frustrados pela percepção de que uma enor-
me burocracia sem rosto e uma elite tecnológica gananciosa tinham conduzido os
norte-americanos para um estupor materialista, estes e outros pensadores pas-
saram a defender formas de vida baseadas em “experiências mais imediatas”.
Armados com novas abordagens teóricas, uma corrente de cientistas sociais e
historiadores passaram a reunir e apresentar informações sobre os povos e os
acontecimentos do mundo de uma maneira que acreditavam ser menos tenden-
ciosa; menos influenciada pelos seus próprios pressupostos culturais. Estudantes
universitários, defensores dos direitos civis, feministas e políticos idealistas tra-
balharam em paralelo para tornar o processo democrático americano acessível a
um maior número de pessoas.6

No final dos anos 1950 e início dos anos 60, fazendo uso de diferentes mídias, mui-
tos artistas e ativistas compartilhavam desses objetivos. Rejeitando todo forma
de coação intelectual típica do contexto Guerra Fria, eles concentraram seus es-
forços na tentativa de representar o mundo de mais “autêntica”, fosse através da
diversificação dos assuntos tratados, fosse através de modos mais controversos e
gráficos de representação. Como algumas vanguardas europeias dos anos 1920 e
30, ou mesmo os beats e os expressionistas abstratos do início dos anos 1950, os
artistas deste período se contrapunham diretamente a “era da ansiedade”, alme­
jando um fluxo livre de expressão liberto das barreiras culturais das gerações an-
teriores. O historiador Daniel Singal identificou algumas das principais caracterís-
ticas dessa produção artística: a “celebração do componente animal na natureza
humana, a busca por espontaneidade e autenticidade, o desejo de destruir todos
os dualismos e preconcepções. [...] A busca da ‘totalidade’, e o esforço para expan-
dir a consciência e descobrir novos modos de experiência”.7
Os realizadores adeptos do cinema direto também opunham a criação pura e a
manipulação, a antítese do autêntico. Também eles em busca do realmente real.
No entanto, sua ânsia por autenticidade acabou conduzindo-os por um caminho
um pouco distinto de outros artistas da sua época. Em vez de advogar por algu-
ma transformação social específica, os cineastas optaram por permanecer como
observadores, mostrar ao invés de proclamar. Mesmo quando uma questão social

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era apresentada, como em The Children Were Watching (de Robert Drew, 1960), sobre
um caso de racismo e desagregação escolar em Nova Orleans, não há nenhuma
mensagem específica ou tomada de posição por parte dos cineastas, tampouco uma
resposta clara sobre o fazer para “resolver” aquele problema. Sobre isso, Drew ar-
gumentava que “a postura correta de um documentário é levantar mais questões do
que aquelas que ele pode satisfazer, mais perguntas do que ele pode responder”8.
Nesse sentido, as formas de embate produzidas pelo cinema direto eram mais dis-
tanciadas e sugestivas, o que pode ser tomado como reminiscência de certas abor-
dagens modernistas norte-americanas das década de 1920 e 30, como The Sun Also
Rises, de Hemingway, ou as paisagens pintadas por Charles Burchfield.

A fé de Albert e David
A inquietação de Albert Maysles por meios mais autênticos de filmar a vida cotidia-
na das pessoas o conduziu por um caminho singular. Com a sua câmera, Al (como
era chamado pelos mais próximos) acreditava ter se convertido em uma “testemu-
nha confiável” (“truthful witness”) do mundo a sua volta.9 Como fotógrafo contrata-
do da Drew Associates, sua habilidade para capturar momentos reveladores e seu
estilo altamente técnico rapidamente lhe conferiu notoriedade e reconhecimento
no início dos anos 1960. Com Drew, ele trabalhou em Eddie (1960) e Yanki, No!
(1960), se tornando famoso entre os seus contemporâneos pelo que talvez seja o
plano mais comentado na história do cinema direto: em Primary (1963), realizou
uma tomada de quatro minutos quase contínua acompanhando John Kennedy em
sua caminhada através de uma multidão de eleitores. Em 1964, não por acaso
Jean Luc-Godard o chamou de “o maior operador de câmera da América”10. Nessa
época, com uma reputação admirável, Albert cria então a sua própria produto-
ra cinematográfica com seu irmão mais novo, David (que havia trabalhado como
assistente de produção em Hollywood). Um dos principais porta-vozes do emer-
gente cinéma vérité norte-americano, Albert Maysles foi um dos responsáveis por
cunhar o termo “cinema direto”, uma vez que o considerava o mais indicado para
tratar do imediatismo almejado por seus filmes.11 Mesmo sem formação acadêmi-
ca em cinematografia, Al se debruçou de maneira fervorosa nos aspectos tecnoló-
gicos ao ponto de desenvolver ele mesmo um modelo de câmera ainda mais leve
(com 13,6 quilogramas), propondo ainda o reposicionamento do seu visor afim de
ter maior flexibilidade para observar o que ele estava filmando; avanços estes que
revolucionam a forma como os filmes de não-ficção eram feitos.12

17
Não obstante a sua sofisticação tecnológica, uma forte base filosófica e artística
colaborou para a estética distinta alcançada pelos Irmãos Maysles, eternizando
seus filmes para além de meros exercícios técnicos. Parte dessa estética resultou
da busca dos irmãos por formas mais genuínas de se expressar e de interagir com
o mundo ao seu redor. Quando, por exemplo, Al viajou para a União Soviética para
investigar os hospitais psiquiátricos públicos, ele não escreveu um relatório das
suas descobertas, como muitos cientistas sociais teriam feito. Em vez disso, resol-
veu que fazer um filme sobre aquela situação “seria a maneira mais autêntica” de
apresentar o que tinha visto. Da mesma forma, David, que na dupla com o irmão
era responsável pelo som direto e pela supervisão da montagem, muitas vezes
falou sobre como editava os filmes “com um mínimo de estruturação dos eventos
pelo cineasta” e de ser “fiel com o que se passou diante de nossos olhos”.13

Esse desejo por criar filmes mais “fiéis” acabou se convertendo em um componente
quase espiritual na forma como eles celebravam e exploravam a humanidade de
seus personagens. Ambos os irmãos chegaram a descrever seus filmes como “atos
de fé”, falando frequentemente sobre crer em si mesmos ou nos seus processos14.
Seus contemporâneos costumavam dizer que Albert tratava “as questões cinema-
tográficas como um fanático religioso”; “tanto um professor poderoso como um
missionário”; um homem que poderia “construir uma religião ou uma seita sobre o
simples ato de olhar.”15

A formação acadêmica de Albert em psicologia ressaltou esse seu grande interesse


pelo comportamento humano. Porém, ambos os irmãos foram descaradamente oti-
mistas em afirmar que seus filmes constituíam as melhores e as mais diretas investi-
gações do que significa “ser humano”, mais do que qualquer pesquisa em ciências so-
ciais, incluindo os estudos em psicologia. Durante toda a sua carreira, havia uma forte
tensão antiacadêmica em seus discursos públicos, sobretudo por parte de Albert:
“Quando as pessoas me perguntam sobre o meu passado na psicologia eu tenho que
dizer que eu não acho que tenha algo a ver com os nossos filmes. Eu acho que, na
verdade, o raciocínio, a intelectualidade, é provavelmente o maior inimigo da arte, e
seria o inimigo do nosso modo de fazer filmes”16. Em contraponto, ele argumentava
que se o “conteúdo humano” dos seus filmes era “tão forte e tão convincente, [é] por-
que a minha concentração é sobre o que eu sinto que tenho de capturar da pessoa, ao
invés de alguma coisa artística que eu esteja tentando provar”17. Da sua parte, David
sustentava que “este tipo de cinema pode ser o mais envolvente emocionalmente”18.

18
Ainda assim, a busca dos Maysles por autenticidade se provou um tema complexo.
Ao contrário de outros cineastas do seu grupo, eles reconheceram que “não existe
essa ideia de ser estritamente objetivo quando alguma coisa tem um fundo artístico.
A objetividade é apenas uma integridade pessoal: ser essencialmente fiel ao assunto
e capturar a sua essência”19. Eles acreditavam que um filme verdadeiramente autên-
tico criava “algum tipo de relação entre verdade, beleza e arte”20. Ao reconhecer tan-
to os limites inerentes e as vantagens estilísticas de seu cinema direto, os Maysles
imbuíram seus filmes com o que James Blue identificou como uma “objetividade-
-subjetiva”, na qual “ética e estética são interdependentes e onde a beleza começa
com a honestidade”21. Daí talvez provenha a admiração dos irmãos por escritores
como Hemingway, Thomas Wolfe, Eugene O’Neal, Norman Mailer, Truman Capote e
o fotógrafo Bruce Davidson, todos eles diretamente comprometidos com a realidade
enquanto produziam obras de reconhecido mérito artístico. Para eles, a chave era
a confiança em si mesmos como cineastas sensíveis, nos seus personagens como
“pessoas reais” dotadas de algo interessante e humano a ser revelado. Imaginavam
que assim poderiam colocar a sua fé em ação, usando “nossas habilidades para
criar uma intimidade entre os sujeitos filmados e o público.”22

Nesse sentido, os irmãos Maysles não foram tão fanáticos quanto outros docu-
mentaristas na recusa das tradicionais convenções do cinema de não-ficção da
época. Como a maior parte dos diretores de cinema direto, eles e seus co-edi-
tores evitavam, quando possível, o uso de narrações, cross-cutting (falseamento
de planos e contra-planos), trilha sonora, enquadramentos estilizados, som não-
-sincrônico e entrevistas. Ao contrário, sua preferência era pelo que Al chamava de
“justaposições espontâneas da vida real”. Contudo, havia o entendimento de que
as vezes deveriam recorrer a norma, fosse para produzir algum efeito de destaque
que enfatizasse as ideias principais do filme; fosse para sublinhar minimamente a
sua estrutura dramática. Utilizando-as de forma comedida e despretensiosa (isso
é, sem atrair demasiada atenção para si próprias), as convenções permitiriam ao
produto final “atingir um maior grau de veracidade”22.
Em suma, Albert e David Maysles queriam ser o mais distanciados e objetivos possí-
veis durante as filmagens, permitindo que as pessoas fossem “elas mesmas”, sem
a direção ou a orientação deles. Ainda assim, não hesitaram em moldar seus fil-
mes (ou em permitir que os seus editores moldassem) em uma estrutura dramática
clássica, em pincela-los com as convenções documentais ou mesmo com as suas

19
próprias aparições nos filmes. “Qualquer coisa que funcionar!”, Al Maysles respon-
deu certa vez, meio brincando, quando perguntado quais as técnicas que ele gostava
de aplicar em seus filmes.23 Através dessa abordagem ad hoc os irmãos alcançaram
o que Richard Barsam identificou como um “modelo altamente estruturado de rea-
lidade” em que os cineastas criam ordem a partir do caos através da edição.24

Os irmãos Maysles e o modernismo ( N.T.1)


A flexibilidade dos Maysles na realização de seus filmes os ajudou a engendrar um
tipo singular de estética cinematográfica que inclui muitos atributos da arte moder-
nista. A peculiaridade desse modernismo adotado pelos Maysles, envolto pelo tipo
específico de autenticidade que os inspirava, se desdobra em uma produção artísti-
ca fundada por um processo colaborativo de edição que muitas vezes envolvia um ou
mais co-editores. Esse seu tipo particular de estética é ainda mais evidente em seus
trabalhos mais tardios, mas as suas raízes filosóficas se manifestam de forma mais
ou menos clara em todos os filmes.

No início do século XX, quando o modernismo então emergiu, ele desafiou dire-
tamente vários pressupostos da era vitoriana, incluindo a “crença em um univer-
so previsível”; a noção de que “a humanidade foi capaz de chegar a um conjunto
unificado e fixo de verdades sobre todos os aspectos da vida”; e a ideia de que
existiriam “padrões absolutos baseados na dicotomia radical entre o que era con-
siderado ‘humano’ e o que era considerado ‘animal’”.25 Influenciados pelas teorias
científicas de Darwin, Freud, e, mais tarde, por Einstein, os modernistas estavam
empenhados em ver e compreender o mundo organizando-o de forma distinta.

1 Nota da tradução: Na cultura anglo-saxã, notadamente nos estudos ligados a história da arte, “mo-
dernismo” designa o amplo fluxo de transformações da arte nas primeiras décadas do século XX. O
termo em português equivalente poderia ser “vanguardas”, porque modernismo (como art nouveau
em francês) é usado majoritariamente quando nos referimos a um estilo do final do século XIX, em
certa medida precursor da “modernidade” artística, mas de modo algum identificado com ela. Contudo,
Vogels distingue o “modernismo” em geral das “vanguardas”, ampliando o conceito para além delas.
Devido ao seu uso reiterado na versão original em inglês, e também pela falta de um termo diretamente
equivalente em português, achamos por bem mantê-lo na tradução, tendo sempre em mente que não
corresponde ao nosso tradicional conceito de “modernismo”, estando mais próximo do que chamamos
de “arte moderna” do século XX, da qual as vanguardas artísticas são entendidas como precursoras.

20
Na arte, o modernismo implicou, acima de tudo, num afrouxamento dos limites
até então ditados pelos modos clássicos de representação. Rompendo com visões
do realismo superficial, a arte passou a refletir um mundo que parecia cada vez
mais estilhaçado e fraturado, especialmente à luz da devastação da Primeira Guerra
Mundial. Um modernista tardio, Michelangelo Antonioni, em uma conhecida reflexão,
afirmou que “nada se parece consigo mesmo em um mundo onde nada é estável.
A única coisa certa é a existência de uma violência secreta que torna tudo incerto”.26

O modernismo no cinema norte-americano se manifesta pela primeira vez na dé-


cada de 1920, quando as obras surrealistas de Man Ray, Marcel Duchamp, Charles
Sheeler e Luis Buñuel foram exibidas para públicos restritos, porém dedicados,
em Paris, Berlim e Nova York. Seus filmes utilizavam técnicas de narrativa não-
-convencionais e recorriam majoritariamente ao impressionismo. “Não-ficções”
no sentido mais amplo da palavra, esses filmes tampouco poderiam ser chama-
dos de “documentários”; eles eram, como um romance de Joyce ou uma pintura
cubista: autônomos, autorreferentes. Alheios as estruturas narrativas tradicio-
nais, eles evitavam os roteiros lineares em nome da experimentação, explorando
as maneiras como o cinema poderia estar a serviço de um novo tipo de estética
visual. Muitos deles, enquanto membros de uma vanguarda artística, defenderam
inclusive uma postura militante das artes, proclamando que os sistemas políticos
fossem contestados e derrubados, e que os artistas deveriam tomar a iniciativa.27
Os documentaristas que reclamavam por autenticidade na década de 1960 guar-
dam suas afinidades com aqueles realizadores dos anos 1920 e 1930. Tal como
eles, muitos cineastas dos anos 1960 nos EUA reconheciam a verdade como um
conceito ao mesmo tempo complexo e relativo. Ainda assim, eles acreditavam que
seus filmes poderiam alcançar a verdade de forma mais eficaz e autêntica do que
os outros meios audiovisuais emergentes. Nos EUA, essas ideias de autenticida-
de foram desenvolvidas em pelo menos duas direções estéticas. Em uma delas,
realizadores experimentais como Stan Brakhage e Jonas Mekas manipulavam a
próprio mídia fílmica afim de criar uma forma de “suspensão da realidade”. A so-
breposição de imagens proposta por Brakhage, a luz distorcida ou os rabiscos
feitos diretamente sobre negativos dos seus filmes ressaltavam a ideia de que a
realidade, tal como ele percebida, era uma matéria processável, um experimento
altamente maleável e subjetivo. Em paralelo, outros diretores da época buscaram
sua autenticidade partindo do princípio de que a câmera era um observador do

21
mundo. Levada ao extremo, essa filosofia gerou às obras hiper-realistas de Andy
Warhol: em Sleep (1963) e Empire (1964), o artista simplesmente posiciona uma
câmera e a deixa gravando por horas a fio, sem qualquer edição no produto final.
Já o cinema direto recorreu a uma abordagem menos “crua” e conceitual do que
Warhol, fazendo uso da montagem como base para criar uma narrativa que alme-
java ser mais envolvente.

Os irmãos Maysles, por sua vez, se localizaram no meio do caminho entre o experi-
mento puro e a pura observação. Enquanto muitos modernistas em várias escolas
trabalharam no sentido de evidenciar os seus próprios processos, revelando a ilusão
de uma realidade alternativa por eles mediada, os Maysles, em geral, não trabalharam
nessa linha. Na verdade, seus primeiros filmes se esforçam para eliminar a revelação
dos processos; tanto quanto possível, os cineastas deveriam permanecer ocultos. Só
gradualmente, conforme sua carreira progrediu e eles foram assumindo alguns riscos
artísticos (muitos divergentes da tradição do cinema direto), os Maysles enfim rom-
peram essa barreira. Até a realização de Caixeiro-viajante, eles foram guiados por um
traço distinto do modernismo, o qual pesquisadores como David Hollinger e Raymond
Carney poderiam associar ao pragmatismo filosófico de John Dewey e até mesmo a
William James. De acordo com Hollinger “o que torna este modernismo particular é a
sua fé na ciência, um entendimento de que, o que a nossa civilização precisa para se
salvar de si mesma virá, mais provavelmente, da comunidades de conhecedores (kno-
wers) do que de uma linhagem de artistas-heróis.” É assim que Hollinger distingue
os “conhecedores” dos “artistas”, que normalmente são associados ao modernismo,
argumentando que estes últimos “aspiravam organizar a cultura em torno das capa-
cidades cognitivas dos seres humanos.”28 Ray Carney, em seus estudos dedicados ao
cineasta independente John Cassavetes, também se apoiou em John Dewey. Ambos
Dewey e Cassavetes, segundo Carney, “desidealizaram a arte, [...] seu trabalho, seus
personagens e seus modos de expressão representavam atos de engajamento com o
mundo. A arte não está em outro lugar; está na vida, e segue em absoluta continuidade
com ela”. Enquanto muitos artistas intelectualizavam a arte ao ponto de conduzi-la
para fora do âmbito das experiências humanas, um modernista pragmático era aquele
que encontrava sentido apenas quando a arte e a experiência interagiam.29

Os irmãos Maysles seguiram nessa direção, em um percurso artístico que era de-
cididamente pragmático. Mesmo quando optaram pela auto-reflexividade e pela
exposição do seu próprio processo (culminando em Grey Gardens, o seu filme mais

22
direta e tradicionalmente modernista), eles sempre consideraram a arte e a ex-
periência como profunda e intrinsicamente interligadas. Desta forma, os ideais
humanistas por eles defendidos se fundiram com as suas ambições artísticas que
associamos ao modernismo, permitindo-lhes cavar seu próprio nicho no cinema.

Como muitos modernistas, os irmãos frequentemente defendiam que a compre-


ensão total de uma realidade é ilusória, algo fora do alcance do artista e do público
com quem ele se comunica. No entanto, um filme “autêntico” é aquele capaz de
conduzir o espectador, ao lado do cineasta, alguns passos em direção à verdade,
sempre hesitantes. Seu objetivo não é chegar a uma solução; o que interessa é o
esforço empregado. Para os irmãos Maysles, seu processo criativo envolvia um
tipo de jornada como essa, buscando formas de apresentar essa jornada nos fil-
mes, mas negando constantemente que esse trajeto alcançaria alguma “verdade
universal”, a não ser verdade como eles viram e filmaram.

Albert e David Maysles por muitas vezes tiveram que defender seus filmes diante
de espectadores confusos, das reprovações de críticos, do desdém dos teóricos de
cinema e até de outros cineastas que não apreciavam nem entendiam a sua estéti-
ca. Seus críticos frequentemente consideravam contraditórias as suas tentativas de
equilibrar objetividade e subjetividade – uma ambiguidade que para eles era basilar.
Pois não foram poucas as vezes que os Maysles foram ridiculizados como represen-
tantes do grupo de idealistas do cinema direto, cujos anseios por um “cinema puro”
eram considerados, no mínimo, ingênuos. Foram inclusive acusados de manipular
o público, escondendo-se por detrás de um processo pretensamente autêntico. Em
resposta, suas defesas e explicações muitas vezes se faziam de forma pouco articu-
lada ou mal direcionada, nunca afirmaram de forma clara ou consistente como “mo-
dernistas” ou qualquer outra coisa, mas apenas como cineastas dedicados. Não por
acaso, no início da década de 1970 os irmãos Maysles foram tomados por um sen-
timento de rejeição à etiqueta do “cinema direto”, uma vez que se faziam raros os
pensamentos críticos sobre cada filme em si ou sobre cada cineasta em particular.

De certo que havia um grau de otimismo cego e ingênuo pautando o entusiasmo


daqueles documentaristas nos primeiros tempos. Os Maysles e os outros prati-
cantes do cinema direto esperavam capturar a vida como ela acontecia, mas evi-
dentemente a vida raramente “aconteceu” em sua forma normal diante das suas
câmeras. Não importa quão discretos fossem os operadores de som e de câmera,

23
e independentemente de sua tecnologia, o simples ato de filmarem já alterava a
realidade e a substituía por um tipo diferente de realidade: uma realidade filmada.
Afinal, apontar uma câmera para alguém não é um ato apenas objetivo. A ideia de
que, como disse certa vez David, “não impomos nada às pessoas que filmamos.
Nós somos servos de nossos personagens e não o contrário”30, simplesmente não
se sustenta. A vida será sempre revertida em performance para aqueles que tem
suas existências gravadas. Esse tipo de cinema pode ter sido “direto”, mas tam-
bém foi, apesar das suas melhores intenções, dirigido.

Mesmo tentando suprimi-las, ou por vezes evitando as discussões, os realizadores


do cinema direto imprimiam autoridade nas suas imagens. O operador de câmera
escolhia sobre o que ou sobre quem focar, sendo a própria câmera uma figura
de autoridade que nunca era questionada. Ocultar essa relação autoritária que
constitui um documentário levaria qualquer cineasta a ser rotulado como “falso”,
“hipócrita” e até mesmo “desonesto” – palavras que em algum momento foram
usadas para descrever os irmãos Maysles e sua abordagem. Além disso, o papel
essencial relegado ao editor – tão importante quanto o diretor de fotografia ou o
técnico de som – acabou por levantar questionamentos em torno de sua crença
cega na objetividade do cinema direto. Isso porque, nos filmes dos irmãos, Albert
fazia quase todo o trabalho de câmera, enquanto o grosso do trabalho da edição
era sempre repassado para outras pessoas, geralmente com David supervisionan-
do e contribuindo no processo. Al se retirava de propósito da fase de edição, tanto
porque ele considerava extremamente enfadonho quanto porque sentia que isso
poderia prejudicar a sua habilidade como operador de câmera. “Se eu começasse
a planejar muito a minha fotografia, então o filme seria um desastre”, argumentou
ele; aceitava, assim, que os editores mais tarde impusessem qualquer estrutu-
ra que fosse necessária, confiando que “preservariam uma espécie de qualidade
espontânea” no filme.31 Ellen Hovde, que trabalhou em Caixeiro-viajante, Gimme
Shelter, Christo’s Valley Curtain e Grey Gardens (e é creditada como co-diretora nos
dois últimos), descreveu o processo de edição como “moldar, formar e estruturar
o material”, criando uma “história dramática” de quase duas centenas de horas
de filmagens.32 Como disse Al Maysles em uma entrevista de 1964, “esse tipo de
filmagem é verdadeiro [porque] é impossível para o operador de câmera que está
filmando tão rápido confabular, inventar”. Mais do que isso, porque ele não parti-
cipava do processo de edição dos filmes, onde a “manipulação da verdade”33 teria

24
ocorrido, Albert ele se dava ao luxo de falar como o “mais puro dos puros” (uma
expressão irônica do teórico de cinema Brian Winston).

Ainda que, efetivamente, o cinema direto permitisse aos seus espectadores tira-
rem as suas próprias conclusões sobre o que estava acontecendo na tela, este
nunca foi um estilo de filmagem livre das manipulações. Na sua potência, o cine-
ma direto ressaltava a hipocrisia dos personagens, revelava o vigor de uma perso-
nalidade e os seus desvios de caráter, ou ainda era capaz de lançar luz sobre fatos
até então não acessíveis. Mas, na sua utopia, muitas vezes a câmera propunha um
jogo de esconde-esconde, esperando o momento em que as pessoas baixassem a
guarda. E porque o cinema direto operava sob o véu da autenticidade, seu público
poderia crer que estava vendo “o real” sem, no entanto, se dar conta da miríade de
elementos atenuantes. Nesse sentido, o cinema direto talvez tenha sido, ironica-
mente, mais manipulador do que os documentários educativos ou os abertamen-
te subjetivos. Mesmo as pessoas filmadas que aparentam sentir-se confortáveis
diante da câmera, também estas acabam induzidas a uma enganosa cumplicidade
com o cineasta, sempre observador e paciente. Nos filmes dos Maysles são mui-
tos os momentos em que um personagem revela algo importante sobre si mesmo
de uma forma tão pessoal, e tão confessional, que o espectador se vê em uma
posição desconfortável e até um pouco culpada em assistir aquilo. Seria esse seu
voyeurismo – a câmera olhando pelo “buraco da fechadura” – uma violação da
privacidade dos sujeitos, como alguns críticos afirmaram?

Na maior parte das vezes os Maysles foram capazes de driblar esse problema po-
tencial, graças sobretudo a crença reiterada em três componentes do seu cinema
direto. Em primeiro lugar, eles respeitavam e eram sensíveis aos sujeitos filma-
dos. Esse alto grau de sensibilidade significava que eles evitavam tanto condes-
cender como fazer piada das pessoas em seus filmes (apesar das críticas existen-
tes sobre Caixeiro-viajante e Grey Gardens). Como resultado, seus filmes almejam
enobrecer seus protagonistas ao invés de degrada-los. Diante da fragilidade, a
identificação dos espectadores com as pessoas filmadas tendia sempre a crescer.
Nos momentos em que o público poderia sentir pena ou desprezo, o cinema dos
Maysles buscavam converter esses sentimentos em empatia.

Em segundo lugar, os irmãos Maysles apostavam em um processo colaborativo atípi-


co para realizar seus filmes. Ao contrário de muitos diretores de não-ficção, na linha

25
do cinéma vérité ou não, Albert e David não se encarregavam sozinhos da edição ou
mesmo da direção de seus filmes. A partir de Caixeiro-viajante, todos os filmes fo-
ram feitos coletivamente e com o trabalho essencial de pelo menos um editor-diretor.
Os irmãos acreditavam que a colaboração era não apenas uma maneira desejável de
se conectar com outras pessoas, mas também uma estratégia para alcançar um pro-
duto final mais confiável. Albert assim explicou esse nível de confiança: “No [nosso]
caso, é quase a mesma relação que com as pessoas filmadas. Eu confio nelas e elas
têm uma grande independência. O produto final realmente depende de todos nós”.34
Um terceiro fator envolvia a fé dos irmãos em seus espectadores. Eles conside-
ravam que seu público das salas de cinema tinha um certo grau de sofisticação
que não lhes parecia necessário explicar cada detalhe nem tampouco explicar
cada ideia didaticamente. Seus filmes refletiam a complexidade da vida, e eles
acreditavam que não frustrariam nem assustariam seus espectadores. Às ve-
zes, como Albert argumentava, “um artista opta pelo caminho mais longo”; eles
acreditavam que o público os acompanharia voluntariamente: “Nós podemos
colocar no filme algo que nenhum roteirista pode inventar. As coisas tal como
elas acontecem na vida real são muito mais emocionantes do que qualquer coisa
que você poderia inventar ou encenar... A nossa emoção provém do fato de que
algo foi revelado diante dos nossos próprios olhos. Nós tentamos transferir essa
emoção para o espectador”35. Essa era também uma questão prática; o públi-
co de documentários já era escasso, e os irmãos Maysles tinham que tomar o
cuidado de não produzir uma obra tão distinta, tão vagamente estruturada (ou
não-estruturada) que pudesse distanciar ou confundir a maioria dos seus es-
pectadores, não obstante a sua confiança na sofisticação de quem pagava o in-
gresso. Pois nunca foi sua intenção imitar Brakhage ou Warhol. Eles acreditavam
que estavam na vanguarda de um novo e contagiante tipo de cinema que atrairia
um público significativo e interessado. Porém, as suas expectativas não foram
de todo confirmadas; somente Caixeiro-viajante e Gimme Shelter tiveram ampla
distribuição e foram, na melhor das hipóteses, sucessos modestos. Os outros en-
traram em cartaz por tempo muito curto ou enfrentaram obstáculos legais que
impediram sua exibição para um público mais amplo. Ainda assim, como eles
tentavam equilibrar a captura de momentos espontâneos com histórias atra-

Islands
entes e emotivas, os irmãos Maysles acabaram estabelecendo uma legião de
seguidores leais e entusiastas.

26
Durante sua carreira conjunta, Albert e David se ocuparam de alguns problemas
elementares dos Estados Unidos no final do século XX. Apesar da concepção esti-
lística do cinema direto supostamente impedir os Maysles de tomarem partido so-
bre as questões sociais abordadas, o seu modernismo pragmático os libertou das
premissas firmadas nos filmes da Drew Associates, permitindo a adoção que um
ponto de vista próprio sobre a sociedade norte-americana. Desde sempre, eles de-
safiaram a insensatez no culto às celebridades e os meios de comunicação que os
promoviam (Meet Marlon Brando, Gimme Shelter, What’s Happening!), exploraram
a solidão e o esfacelamento familiar das elites (Grey Gardens), questionaram os
efeitos desumanizantes do capitalismo e sua lógica “tudo por dinheiro” (Showman,
Caixeiro-viajante), e celebraram a arte, o espanto e a rejeição no seu encontro com
o Outro (nos filmes com Christo). Fiéis a um certo espírito de autenticidade, embo-
ra não possuam um trabalho tão extenso quanto alguns de seus contemporâneos,
os irmãos Maysles expandiram os fronteiras estéticas do cinema de não-ficção,
especialmente em obras como Caixeiro-viajante, Gimme Shelter e Grey Gardens.
Notas

1. LEACOCK Richard: “Richard Leacock Remembers the 11. A origem do termo “cinema direto” é ainda hoje deba-
Origins of ‘Direct Cinema” in MCDONALD Kevin, COUSINS tida. Ao tratar do assunto, Albert declarou que “classificar
Mark, Imagining Reality (Londres, 1996), p. 253-254. essas coisas é uma espécie de pecado. No entanto, as pes-
soas nos forçam a dar um nome. Por isso o termo ‘direto’
2. BLUE James: “Thoughts on Cinéma Vérité and a surgiu talvez apenas porque as pessoas se revoltaram pelo
Discussion with the Maysles Brothers” in Film Content uso do termo ‘vérité’. Eu acho que a palavra ‘direto’ tem
(1964), p. 23. menos paixão. Nós vamos direto às coisas enquanto elas
3. MAMBER Stephen: “Cinema Verite in America: Studies in acontecem apesar de nós, isso porque estamos comprome-
Uncontrolled Documentary” in Film Content (1973), p. 71. tidos em criar um produto mais verdadeiro. (KOLKER Robert
Philip, “Circunstantial Evidence: An Interview with David and
4. DREW Robert: “An Independent with the Networks” Albert Maysles” in Sight and Sound (1971), p. 185). Al pode
in ROSENTHAL Alan, New Challenges for Documentary ter usado pela primeira vez o termo em uma entrevista pu-
(Berkeley, 1988), p. 393. blicada na Film Comment, em 1964: “Se você tiver que usar
um rótulo, eu acho que “cinema direto” é o mais apropriado.
5. BARNOUW Erik. Documentary: A History of Non-fiction Film
O que nós fazemos é direto de todas as formas.” (HALEFF
(Nova Iorque, 1993) p. 254-255.
Maxine: “The Maysles Brothers and Direct Cinema”, p. 22).
6. Sobre questões ligadas a autenticidade ler ROSSINOW
12. REYNOLDS Charles: “Focus on Al Maysles” in JACOB
Doug, The Politics of Authenticity: Liberalism, Christianity,
Lewis: The documentar tradition (Nova Iorque 1979),
e the New Left in America; CMIEL Kenneth, The Politics of
p. 400-405.
Civility; FARBER, David, The Sixties: From Memory to History;
e BERMAN Marshall, The Politics of Authenticity: Radical 13. HALEFF: op. cit. p. 19 e 22; KOLKER: op. cit. p. 186.
Individualism and the Emergence of Modern Society. Para
as críticos sociais, ler SINGAL Daniel Joseph, Towards a 14. Para citar um exemplo: “Tudo isso é baseado na fé...
Definition of American Modernism; MATUSOW Allen J., The a mais sublime fé.” (Citado em VAN GELDER Lawrence:
Unraveling of America: A History of Liberalism in the 1960s; “Maysles: Filming the Impossible” in New York Times, (1987).
No campo das ciências sociais ler GEERTZ Clifford, The 15. BLUE: op. cit., p. 24.
Interpretation of Cultures: Selected Essays, e CLIFFORD
James, The Predicament of Culture. 16. KOLKER: op. cit. p. 184.

7. SINGAL: op. cit. p. 20. 17. ROSENTHAL op. cit., p. 82.

8. DREW: op. cit. p. 393. 18. KOLKER: op. cit. p. 185; HALEFF, op. cit. p. 19.

9. NAFICY, Hamid “Truthful Witness’: An Interview with Albert 19. BLUE: op. cit., p. 24.
Maysles” in Film Quarterly (Chicago, 1982), p. 156, 157.
20. PRYLUCK Calvin “Seeking to Take the Longest Journey:
10. BLUE: op. cit., 23. A Conversation with Albert Maysles”, in Journal of the
University Film Association (1976) p. 13.

28
21. BLUE, op. cit., p. 22;

22. KOLKER, op. cit. p. 184.

23. NAFICY, op. cit. p. 168.

24. BARSAM Richard M.: American Direct Cinema: The Re-


Presentation of Reality (1986), p. 140 e 146 [grifos do autor].

25. SINGAL, op. cit. p. 4.

26. Como citado por PEREZ Gilberto: The Material Ghost:


Films and Their Medium (Londres 1998), p. 369.

27. LE GRICE Malcolm: Abstract Film and Beyond


(Cambridge, 1977) p. 47.

28. HOLLINGER David: The Knower and the Artificer, p. 43 e 49.

29. CARNEY Ray: The Films of John Cassavetes: Pragmatism,


Modernism, and the Movies (Cambridge, 1977), p. 163-164, 95.

30. KOLKER: op. cit. p. 185.

31. KOLKER: op. cit. p. 184.

32. ROSENTHAL Alan “Ellen Hovde: An Interview” in Film


Quarterly (1978) p. 9.

33. BLUE: op. cit. p. 24. Até Stephen Mamber, geralmente


amigável com o cinema direto, reconhece que “editar pode
ser uma forma de ‘ficcionalização’, como escrever ou atuar.
Geralmente ela é mais difícil de identificar, possivelmente
mais insidiosa, e às vezes muito pouco crível” (MAMBER,
op. cit. p. 166).

34. NAFICY, 166. Entrevistas com os colaboradores dos


Maysles confirmam essa opinião: JAFFE Susan, Editing
Cinéma Vérité; ROSENTHAL, Ellen Hovde: An Interview;
ROSENTHAL, Charlotte Zwerin: An Interview.

35. BLUE, op. cit. p. 29.

29
30
Entrevista a Jonas Mekas

Em março de 1966, o cineasta e crítico de cinema JONAS Revendo os seus três primeiros filmes –
Jonas Mekas realizou esta entrevista publicada origi- Showman, What’s Happening! The Beatles in the
nalmente no semanário nova-iorquino Village Voice. USA e Meet Marlon Brando – me parece natural
Na época, os Irmãos Maysles ainda não tinham rea- vocês acabarem se deparando agora com Truman
lizado alguns dos seus filmes mais notórios – como Capote: o estilo de sangue frio de vocês no Cinema
Caixeiro-viajante, Gimme Shelter e Grey Gardens Direto é muito próximo ao que Capote faz em seu
– mas o seu estilo próprio já começava a ser assimi- livro. Você vê essa conexão?
lado. Nessa conversa, os irmãos declaram sua inspi-
DAVID Sim, nós nos interessamos por poesias ad-
ração na estética de Truman Capote e buscam traçar
vindas da não ficção. O que nós fazemos é um para-
paralelos entre as linguagens do cinema direto e do
lelo direto na forma de cinema do que Capote faz na
jornalismo literário.
forma literária. A única diferença é que nesse livro
JONAS MEKAS Vocês costumam trabalhar juntos em particular, ele teve que retroceder a momentos
nos filmes, há alguma divisão de tarefas entre vocês? antes dos eventos se desenrolarem. Em outras pa-
lavras, o assassinato aconteceu, então ele teve que
DAVID MAYSLES Al é responsável pelo desenvol-
descobrir o que aconteceu, como aconteceu.
vimento dos equipamentos. Ele está trabalhando,
Ele teve que retroceder e reconstruir— algo que
por exemplo, já há mais de três anos, em construir
nós não fazemos. Mas pode muito bem acontecer
uma nova câmera que vai facilitar o trabalho com
que o próximo romance não ficcional que ele es-
as filmagens que fazemos. Ele também é respon-
creva não seja sobre um assassinato e sim sobre
sável por toda a filmagem. Eu sou responsável pelo
algo que começa no momento em que ele começa
som, produção, e pela supervisão da edição. É mais
a escrever, e tudo vai acontecendo enquanto ele vê.
ou menos assim que funciona.
Ele mesmo declarou que o nosso trabalho é a coi-
ALBERT MAYSLES Eu prefiro não me envolver na sa mais próxima do dele. Há um elo comum, entre
edição pois acho que sou muito apegado as ima- nossos estilos e nossas abordagens. Teve uma par-
gens que faço. Só atrapalho. Mas quando você fala te da conversa que tivemos que foi particularmente
“divisão de tarefas”, na nossa profissão, isso pode fascinante e empolgante para nós. Quando ele es-
induzir ao erro. Os nossos trabalhos se sobrepõem. tava falando sobre o tema escolhido, e quando es-
Nós não dirigimos no sentido convencional. Nós távamos discutindo que história ele queria fazer a
dois, por exemplo, escolhemos e trocamos ideias seguir, como alguém escolhe um tema — ele disse
Gimme Shelter

entre nós dois. Enquanto estamos filmando, troca- que o assunto criminal nunca foi particularmente
mos ideias aqui e ali — o que devemos filmar e o interessante pra ele. Nem mesmo quando começou
que não devemos filmar. Então é uma direção atra- a abordá-lo. O que foi interessante pra mim é que
vés de seleções. você escolhe um tema para abordar, e a princípio

31
você pode não ver muito sentido nessa escolha — se intrometer durante um depoimento, para fazer
mas assim que você começa a desenvolvê-lo, e qualquer tipo de intromissão. É por isso que ele não
assim que vê algo de si naquilo — você embarca. toma notas. Pela mesma razão nós tentamos cons-
O que Capote descobriu nessa pesquisa foi Perry. truir nosso próprio equipamento de forma discreta.
Perry era parecido com Capote, ele era muito sen- Nós tentamos criar uma espécie de intimidade, algu-
sível. Em outras palavras, você acha algo na histó- ma relação com a pessoa filmada, como o Capote faz.
ria, no indivíduo abordado, que, inconscientemente, Para estabelecer essa relação, nós desenvolvemos
começa a fasciná-lo. uma câmera que não faz barulho. Isso nos ajuda a
obter esse tipo de espontaneidade, de envolvimento,
MEKAS Capote procurava seus temas nos jornais.
sem a pessoa ficar inibida por causa do equipamento.
Como você escolhe os seus temas?
E também, nós trabalhamos para estabelecer uma
ALBERT No caso do filme sobre Capote, a emissora relação humana equilibrada antes de começarmos
NET estava fazendo uma série sobre romancistas, a filmar — você tem que ganhar a total confiança da
e escolhemos o Capote porque ele era particular- pessoa que está sendo filmada.
mente interessante para nós. E foi um trabalho fei-
MEKAS Tem alguém, além de vocês e Leacock, pro-
to por amor, porque a NET não dá incentivos finan-
duzindo algo digno de nota no Cinema Direto, aqui
ceiros, como você deve saber.
ou no exterior?
MEKAS Até agora, vocês concluíram quatro filmes. ALBERT Capote nos inspirou mais do que qualquer
Vocês veem uma evolução no seu estilo? Com qual um. Ou 8 1/2; ou Hustler.
dos filmes vocês ficaram mais satisfeitos?
MEKAS Por que Hustler?
DAVID Ficamos mais satisfeitos com o Showman,
na verdade. ALBERT A sua simplicidade, talvez. A história, na
verdade. A estrutura da história era tão simples.
MEKAS Por que motivo? Algo que nós poderíamos fazer em uma situação
real. Nós não assistimos muita TV nem cinema.
DAVID Pensando agora, porque eu não tenho muita
Estamos totalmente por conta própria. Mesmo.
certeza, diria que embarcamos nesse filme como um
Leva tempo para fazer filmes. Demoramos três
escritor que escreve uma história curta. O seu cres-
anos para nos livrarmos de Showman, financeira-
cimento é mais orgânico, multifacetado e complexo.
mente. Nós fizemos como queríamos, mas tivemos
Porque são muitos sentimentos diferentes, humores,
que lidar com os prejuízos. Pode ser exibido, em
situações ambíguas – onde a personalidade do ho-
algum momento, mas por enquanto ainda não se
mem é apresentada de uma forma mais complexa.
encaixou no apetite do canal.
O retrato de Capote é muito mais simples, mas nós
também gostamos disso. Mas falando ainda sobre as MEKAS Você filmou seu filme sobre Capote em
técnicas do Capote e as nossas, existem outros para- Nova York. Mas tem um tomada de um cemitério
lelos. Ele, por exemplo, é muito cuidadoso para não em Kansas. Foram imagens de arquivo?

32
ALBERT Ah, não! Nós fomos para Kansas fazer
aquela única tomada. Nós achamos que era preciso.
A propósito, enquanto filmávamos, para nos auxiliar,
estávamos com um pequeno toca-fitas, com a voz de
Capote gravada, lendo aquela parte. Para dar a au-
tenticidade do sentimento.

MEKAS Estão planejando algum outro filme?

DAVID Estamos procurando uma boa história que


se sustente por uma hora e meia. Vamos filmar as-
sim que acharmos uma. É engraçado— nós traba-
lhamos da mesma maneira, o Capote e nós dois.
Compramos jornais, revistas, lemos todas as ma-
térias. Uma coisa é certa: essa história vai ter algu-
ma coisa que os outros filmes que nós fizemos até
agora não tiveram, não será sobre um “famoso”.
Vai ser sobre uma pessoa e uma história da qual
ninguém ainda sabe nada a respeito.
Mick Jagger e Albert e David Maysles

33
Entrevista a João Moreira Salles

Em fevereiro de 2006, João Moreira Salles realizou uma


entrevista em vídeo com Albert Maysles em Nova York.
O material foi incluído nos extras dos DVDs de Caixeiro-
viajante e de Grey Gardens lançados no Brasil na
ocasião. Agradecemos ao João e a VideoFilmes pela
autorização de uso e edição do conteúdo original des-
sa conversa.

JOÃO MOREIRA SALLES Quando você e seu irmão


tiveram a ideia de fazer Caixeiro-viajante, qual foi a
forma de contrato estabelecida entre vocês e estes
quatro homens? Qual foi a forma de acesso a eles?

ALBERT MAYSLES Foi bastante informal. A gente


sabia da existência dessas quatro pessoas e que o
filme poderia ser a história delas, ou talvez de um
ou dois, ou só de um. Não sabíamos. Mas tínhamos
a ideia de que um caixeiro-viajante sozinho batendo
de porta em porta constituiria um drama a partir da
interação entre o vendedor e esta nova pessoa. Um
deles teria que bater em muitas portas de manei-
ra que as chances seriam muito boas e teríamos
situações bem interessantes. Porque se tratava da
Bíblia, porque se tratava de donas de casa, porque
se tratava de um homem em uma situação de tudo
Caixeiro-viajante

ou nada. Uma coisa típica da cultura americana que


mostraria amplamente o que é a América, de ver-
dade. Tudo que você vê no filme é disparado no mo-
mento em que o caixeiro-viajante visita o cliente. E
é isso que você assiste. É isso que você vê na tela.

JMS Houve qualquer tipo de direção? Aquelas coi-


sas embaraçosas, como pedir para não olharem
para a câmera?

34
AM Eles não tinham ideia do que significava ser quando eu era garoto, tinha grande dificuldade de
tema de um filme. Talvez tivéssemos avisado para falar. Não sei até hoje qual era exatamente o pro-
não olhar para a câmera. Talvez, não tenho certeza, blema mas, neste processo, eu me tornei um ex-
mas eles se adaptaram logo e não houve necessi- celente ouvinte e isto me ajudou muito a filmar e
dade de qualquer treinamento. E talvez o mais sur- registrar exata e profundamente as experiências de
preendente tenha sido o fato de nunca termos dado uma pessoa a tal ponto que acabo achando que sou
quaisquer instrução às pessoas. Nem sei se pedía- um pouco aquela pessoa que aparece na tela. Você
mos para eles esperarem. Era tão importante para se identifica com aquela pessoa e também acha
nós que as pessoas não sentissem que estávamos que está presente naquele exato momento. Estes
dirigindo porque, quando se começa a controlar a si- são os dois principais dons de um bom documen-
tuação de minuto em minuto, vem a pergunta: “O que tário. Por isso evito entrevistar pessoas. Registrar
fazemos agora? O que quer que eu faça agora?” suas experiências é o que precisamos realmente.
E isto acaba estragando tudo.
JMS E filmar com simplicidade... Não descrever a
JMS E nunca lhe veio a vontade de dizer: “Repita”. cena, e sim deixá-la acontecer.

AM Não, eu nunca faria isto. AM Sim. Claro.

JMS E foi esta disciplina você aprendeu com Robert JMS Sobre o processo de edição, quanto tempo le-
Drew ou...? vou para editar Caixeiro-viajante?

AM Sim. Mas acho também que, pelo fato de ter es- AM A edição não me lembro exatamente. Deve ter
tudado psicologia, não necessariamente como um durado pelo menos seis meses. Contávamos com
terapeuta, mas sim a ciência da psicologia, tenho Charlotte Zwerin, uma das melhores editoras. Foi ela
um grande respeito pela observação e não tento que também editou Gimme Shelter.
influenciar um estudo por preconceito ou qualquer
JMS E foi a partir de Caixeiro-viajante que o editor
outra coisa.
passou a ter o título de diretor em seus filmes. Por
JMS O que o tornou perfeito para cinema direto, que decidiu fazer isso?
uma vez que a grande força deste cinema reside no
AM Acho que uma palavra melhor do que “diretor”
fato de prestar atenção.
seria “realizador cinematográfico”. Pessoas que
AM Você tem que ser um bom observador, um bom editam o filme, como Charlotte, que é tão impor-
ouvinte. Eu ouço e observo, e as pessoas que eu fil- tante para a realização do filme, certamente mere-
mo se encarregam de falar, de agir, e eu acho que cem o título de realizadores. Sob um certo ponto de
a maior parte das pessoas prefere falar e agir, se- vista, era importante para eles se firmarem como
rem observadas e registradas. As pessoas não são diretores. Portanto se você usa o termo diretor em
muito inclinadas a ouvir mas esta é a minha espe- um documentário, uma vez que esta pessoa é, em
cialidade e o que mais gosto de fazer. Na verdade, grande parte, responsável pelo filme, então o uso é

35
apropriado. Eu não gosto do termo, porque sugere Quero dizer que toda a cena é uma espécie de pre-
um controle do que está ocorrendo, e a palavra- monição do que vai acontecer mais tarde.
-chave para descrever um bom documentário é o
JMS As mãos de Paul Brennan?
descontrole. De forma que esta titulação é um tanto
ilusória. Cada pessoa, seja ela o produtor, o câmera AM Isso mesmo, Paul Brennan. Trata-se de um re-
ou o editor, é de tal importância para o filme que o curso muito empregado em literatura e que funcio-
próprio caráter do referido filme é modificado pela nou muito bem neste filme. E, sem seguida, a me-
sua contribuição. Então esta pessoa merece o título nina vai até o piano e espontaneamente começa a
de realizador cinematográfico. tocar. Não creio que Beethoven pudesse compor
algo mais apropriado do que aquele tipo deprimen-
JMS Uma pergunta específica sobre a edição de
te de música que reflete tão magistralmente o es-
Caixeiro-viajante. Mais do que os “jump cuts”, vocês
tado de espírito de Paul Brennan.
sempre preferem usar “cut aways”. Houve alguma
discussão técnica ou filosófica sobre a natureza des- JMS Você conta com a chance? A chance é uma
tes “cut aways” em termos da ilusão que eles criam? grande diretora.
Porque vocês só usaram uma câmera, não é?
AM Sim. A “chance” ou outra palavra talvez ainda
AM Uma única câmera. Creio que, se examinar- mais apropriada seria o “acaso”. Que é a carac-
mos o filme detalhadamente, alguns dos melhores terística primordial da realidade de maneira que,
enquadramentos foram feitos de tal forma que os para sermos verdadeiros e realistas, temos que de-
cortes foram desnecessários. Porque a câmera se pender do acaso.
movimenta o tempo todo de um personagem para
outro. E quando se faz isso o enquadramento ganha JMS E saber aonde ir com a câmera, uma vez que
uma continuidade que, tenho certeza, a plateia não as coisas não param de acontecer à sua volta. E es-
percebe a edição. colher o momento em que...

JMS De forma que você prefere não usar os “cut AM Exatamente. Temos que estar predispostos
aways” e sim os “long shots”? para qualquer novidade.

AM Sim. A cena inicial de Caixeiro-viajante é uma JMS Tratando-se de você e seu irmão, houve al-
das melhores cenas que já filmei, e foi editada de gum tipo de liderança? Você era o câmera e quando
uma forma primorosa. A tomada se inicia com as olhava...
mãos do caixeiro esfregando a capa da Bíblia... AM 99% das vezes eu estava consciente dos passos
JMS E vemos as veias da mão e a artrose... que deveria tomar quando usava a câmera. Certa
ocasião, em Gimme Shelter, eu não havia reparado
AM Isso. Na verdade, revendo hoje em dia o filme, que Keith Richards estava usando umas botas ma-
vemos que os dedos são ligeiramente tortos e, de ravilhosas de pele de cobra. Enquanto eu filmava
fato, ele morreu de artrose, como revela a imagem. outra parte da cena meu irmão sussurrou: “Dê uma

36
olhada nas botas de pele de cobra!”. E, no momen- encomendado a vocês um filme sobre a região dos
to certo, eu as filmei. E foi um maravilhoso achado Hamptons...
que eu teria deixado passar se meu irmão não ti-
AM Sim, sobre a infância dela nos Hamptons.
vesse chamado minha atenção.
JMS Poderia nos falar sobre isso?
JMS Nos filmes de vocês, foi exercida alguma dis-
ciplina específica para manter a invisibilidade da AM Nos começamos filmando Lee. Na verdade, an-
câmera? tes mesmo de começar a filmagem, ela nos apre-
sentou sua ideia e nos deu quarenta sugestões de
AM Na verdade, não existe uma maneira de você se
coisas que poderíamos filmar. Uma delas, acho que
esconder totalmente. Você está presente, de forma
o item 34, era “tia e prima excêntricas”.
que faz uso da sua presença pra incutir, sem a ne-
cessidade de falar nessa afinidade, conquistando a JMS As Beale.
confiança dos personagens a ponto de eles senti-
rem que tudo está bem e que devem continuar nes- AM Isso. Mas nós já estávamos filmando outras coi-
ta mesma linha, que não tem importância a nossa sas da vida de Lee e já tínhamos um material mui-
presença. Muitas pessoas já me elogiaram, achan- to bom. Então houve um dia ela telefonou para Edie
do que eu fosse “uma mosca na parede”. Ora, uma Beale, e Edie lhe disse que ela e a mãe estavam ten-
mosca na parede é algo sem coração ou alma, logo, do problemas com a vigilância sanitária. Lee disse:
não é nada parecido com aquilo que nós fazemos. “Vou lá tentar ajudar. Querem vir comigo e levar a
O coração e a alma que possuímos tem que atingir câmera?”. Dissemos que sim e começamos a filmar.
a pessoa que nós estamos filmando e a imagem, de JMS Foi aí que o senhor conheceu as duas?
forma que você seleciona de acordo com o que está
sentindo, de maneira que esta ideia de mosca na AM Sim. Pouco depois Lee nos pediu para ver al-
parede acabaria sendo um desastre. Seria comple- gumas cenas e nós incluímos uns trechos da vista
tamente diferente, embora a maioria das pessoas as Beale, e ela deve ter achado as cenas fortes de-
ache: “Que coisa maravilhosa esta capacidade de mais. Ficou arrasada e perdeu interesse.
capturar tudo aquilo e ninguém perceber a presen- JMS Cancelou o projeto?
ça de uma câmera”. As pessoas dizem que esque-
cem a presença da câmera mas existe uma certa AM Sim. Mas nós fomos em frente, e alguns meses
consciência de que ela está registrando. Se esta depois fizemos o filme por nossa conta, pagando do
pequena coisa não estivesse ligada e continuasse nosso bolso.
a rodar não haveria a interação que o operador de
JMS Qual era a natureza do contrato que vocês fize-
câmera tem com o objeto filmado.
ram com as Beale? Quanto tempo vocês ficariam lá?
JMS Em Grey Gardens, sei que existe uma história
AM Não tínhamos prazo definido. No fim, acabamos
que antecede o filme. Sobre Lee Radziwill, irmã de
ficando umas seis semanas.
Jacqueline Kennedy e parente das Beale, que havia

37
JMS E elas foram pagas, não? filmar alguém por querer protegê-lo. Excesso de
proteção. Proteção demais então não é bom para
AM Sim. Fizemos um contrato que dava a elas uma
a pessoa que está sendo filmada, tanto quanto pre-
porcentagem dos lucros. Mas na verdade nunca
judicá-la mostrando-a num momento embaraçoso.
pudemos pagar nada a elas, porque o filme nunca
deu lucro. Provavelmente algum dia ainda vai dar, e JMS E o senhor sentiu isso em Grey Gardens?
nesse caso deve haver algum parente delas admi-
nistrando o espólio… AM Mas não houve… Será que houve? Não lembro
de nenhum momento em que tive de parar de fil-
JMS E, depois que o filme ficou pronto, quem assis- mar. Mas, muitos cineastas e críticos diriam assim,
tiu, e em que condições? só de estar com aquelas mulheres, com os gatos,
os guaxinins e toda a hostilidade entre elas: “Não,
AM Ninguém queria exibi-lo na televisão. Levou 25 não queremos prejudicá-las. Não podemos filmar
anos até chegar na TV. Na verdade, nós o projeta- isso.” Eles traçariam o limite antes da hora.
mos no Cinema Paris, um cinema muito bom de
Nova York, e a resenha mais importante, a do New JMS Houve alguma mudança no método de traba-
York Times, foi arrasadoramente negativa. lho pelo fato de vocês estarem na casa com as duas
pessoas que começaram a interagir com a câmera?
JMS Por que? O que é diferente de Caixeiro-viajante e de todos os
filmes anteriores... O senhor acha que muda algu-
AM Walter Goodman, o crítico, obviamente tinha
ma coisa fundamental do método?
uma enorme dificuldade em aceitar pessoas não-
-convencionais e também se sentiu ultrajado com AM Bem, em Caixeiro-viajante as pessoas interagem.
a idade delas. Acho que ele viu filmes de Hollywood Nesse sentido, então, se elas interagem conosco, nós
em excesso, filmes em que mulheres tem no máxi- somos apenas mais um fator natural. A interação não
mo 35 anos. Aliás, ele disse textualmente: “Por que é algo que tentamos manter sob controle. Nós quere-
estão nos mostrando tantas pelancas?”. Ele achou mos simplesmente continuar a observação. Vou dizer
que invadimos a vida delas, que nós as exploramos isso de outra forma: seria uma violação do cinema
e, sem dizer isso explicitamente, era óbvio que direto se nós produzíssemos um material que fosse
achava as duas malucas demais para serem filma- tão afetado pela nossa presença que elas deixariam
das com o devido respeito e que o simples fato de de ser elas mesmas. E, eu lembro, que chegávamos
filmá-las já era desrespeitoso. É interessante ver em Grey Gardens, parávamos o carro atrás da sebe
como algumas pessoas traçam um limite – e onde (para ele não ser visto) e, enquanto passávamos in-
o traçam –, para separar quem deve e quem não seticida no corpo para espantar as pulgas, ouvíamos
deve ser filmado, e em quais circunstâncias. A meu a conversa das duas, e era exatamente igual ao que
ver, tão importante quanto evitar chegar ao ponto filmávamos. É muito, muito difícil, pelo modo como
de prejudicar a pessoa, filmando-a em determina- nos comportamos com as pessoas, é muito difícil que
das circunstâncias, é evitar chegar ao ponto de não elas consigam fingir para nós. Então, até hoje eu acho

38
que nós a retratamos no filme de uma forma muito, JMS Mas, de certa forma, o senhor se exibe no es-
muito próxima do que elas são verdadeiramente. De pelho, e nós vemos a equipe, vemos o senhor e seu
minha parte, então, não acho que tenhamos violado irmão, o que leva ao tema da reflexibilidade, um
os princípios do nosso cinema. tema que aparece o tempo todo em livros sobre o
documentário. O fato de conhecermos, de vermos
JMS Por outro lado, me parece que se elas dessem isso não seria uma mudança, uma diferença básica
um show, se fossem teatrais, também seria sincero, que altera a natureza do filme, se o compararmos
porque é o jeito delas. Não seria um problema. Mas, com Caixeiro-viajante?
diferente de Caixeiro-viajante e de todos os outros fil-
mes que vi, existe aqui a preocupação de que vocês AM Para dizer a verdade, a editora e meu irmão
estão presentes, e há uma ou duas cenas em que o achavam que havia alguma coisa na relação entre a
senhor filma a si mesmo explicitamente, no espelho. Sra. Beale e esse homem que nós não estávamos
captando e, a meu ver, nós só captaríamos se provo-
AM Sim. cássemos. E eu era contra isso, porque não acredito
JMS Ou seja, é como se tivessem decidido que vocês nesse tipo de coisa, mas eles achavam necessário
também faziam parte da história. Houve essa decisão que eu participasse, e essa é a única cena que nós
de aparecer? E nós também ouvimos a voz de vocês… realmente nos afastamos das regras do nosso jogo.

JMS O que é uma coisa boa.


AM Bem, no começo do filme você vê uma foto de
nós dois. Achamos que essa foto e a tomada do es- AM Funcionou bem…
pelho eram importantes porque quem assistisse ao
filme ficaria extremamente nervoso se não tivesse JMS Nem sempre é o caso seguir as regras.
alguma imagem da nossa presença e, ao nos apre- AM Sim, mas eu também me senti muito descon-
sentarmos daquela maneira, essa tensão diminui- fortável depois que fiz aquilo, naquela única vez
ria e o público voltaria a se concentrar nas Beale. em que a filha explodiu e ficou tão furiosa comigo.
O que me parece muito diferente neste filme é que Lembra disso?
pela primeira vez você de fato penetra profunda-
mente numa relação que, como qualquer psicólogo JMS Sim.
pode confirmar, é a relação humana mais profunda
AM Ela nunca teria ficado furiosa comigo se eu ti-
que existe: entre mãe e filha. E o que também me
vesse seguido as minhas próprias regras.
parece muito estimulante, com toda a psicologia
que estudei, é que Freud falou muito sobre o com- JMS A câmera deixa de ser só observadora e se tor-
plexo de Édipo, sobre a relação entre mãe e filho, só na também catalisadora.
que, a meu ver, nunca entendeu essa outra relação.
AM Sim, sim, exatamente.
Mas, este filme o entendeu, e mostrou de uma for-
ma muito, muito profunda. Uma forma perturbado- JMS Pensando na relação vocês estabeleciam com
ra e reveladora. seus personagens, poderia me dizer o que entende

39
por empatia e por que ela é tão importante para os nestas pessoas. Descobrir coisas que são boas a
seus filmes? respeito delas. Na verdade já me disser

AM Você sabe que dizem que o amor é cego. É ver- AM “É? E que tal uma pessoa como Hitler?” Acho
dade, mas também não é. O que me agrada nesta que daria uma oportunidade para ele também.
expressão, “o amor é cego”, é que eu acho que o Conheci um artista, um sujeito muito famoso, que
amor é cego ao preconceito. Digamos que você não morreu há uns anos, me lembro que ele me contou
use mais a raiva ou a vingança como um instrumen- que costumava ir a uns cafés em Berlim e Viena,
to para selecionar aquilo que você está filmando. frequentados por pintores copistas. Em diversas
Com o amor, isto passa a ser um relacionamento ocasiões em que ele estava presente aparecia um
aberto, em que você aceita aquela pessoa pelo que sujeito que se sentava a uma mesa vazia e parecia
ela é. Isto é a melhor força da vida e a melhor força estar bem-disposto. Mas, com o passar do tempo, o
para realizar um filme. homem ia ficando mais e mais deprimido e até pa-
recia envergonhado de si mesmo. Este sujeito era
JMS Em que sentido ele o ajuda?
Adolf Hitler. Todas as pessoas que lidam no campo
AM Ajuda você a descartar seus preconceitos, suas da compreensão da violência dizem que, por trás de
premonições e ir até a essência do caráter de uma uma pessoa violenta, existe um ser envergonhado
pessoa. É completamente o oposto do enfoque de a quem falta amor-próprio. De maneira que con-
Michael Moore, cujo objetivo é destruir as pessoas. seguir colocar isto em um filme seria uma forma
Quando faço um filme, eu quero compreender as de entender melhor a origem da intensiva violência
pessoas, e amando-as, posso ter empatia por elas, desta pessoa.
posso entendê-las. Através desta compreensão,
JMS Você também já falou sobre o olhar, a manei-
aumentar meu amor por elas.
ra de olhar para uma pessoa. O que significa este
JMS Minha pergunta seguinte é um tanto traiçoei- olhar e de que forma isto o ajuda?
ra. Seria capaz de fazer um filme sobre um adver-
AM Quando você olha para uma pessoa e sen-
sário seu, ou sobre um inimigo?
te uma empatia por ela, você tem certeza de que
AM Na realidade, eu adoraria enfrentar este de- conquistaria a confiança desta pessoa. Isto está no
safio. Por isso me ofereci para filmar o presidente seu olhar. Aparece imediatamente, tudo dá certo, e
Nixon, me ofereci para filmar Oliver Stone, duas você passa a filmar. Em 1960, eu fui pra Cuba. Sabia
pessoas de quem discordo filosoficamente. Me tanto de Cuba quanto qualquer outra pessoa, muito
ofereci para fazer isto ainda que fosse para provar pouco. Pulei em um taxi e perguntei ao motorista
a mim mesmo que eu poderia dar a elas o mes- onde estava Fidel Castro e ele disse que estava em
mo tipo de generosidade e empatia que eu daria a um auditório fazendo uma palestra para um grupo
qualquer outra pessoa. E durante este processo, de mulheres. Eu fui pra lá e cheguei o mais perto
creio, descobrir o que há de bom e o que há de mau possível dele, isto é, uns 6 ou 9 metros. Coloquei

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minha lente zoom da câmera e, enquanto eu levava JMS Sim, mas ele não tinha…
a câmera até os meus ombros ele, na sua costu-
AM Ah! Seria melhor?
meira, eloquente e violenta forma de falar, olhou
em minha direção e nossos olhos se cruzaram, e JMS Kertész, que saía diariamente para fotografar
eu percebi pela forma como ele olhou pra mim que em Nova York e que recebia negativos de filme da
tudo estava bem. Firmei a câmera nos ombros e Kodak, o quanto quisesse. Ele disse em um filme
consegui uma maravilhosa imagem dele. E depois que eu vi, que sempre saía com um único cartu-
houve dias em que eu passei 24 horas com ele. cho porque cada fotografia que ele tirava era tirada
porque ele não tirava 30 ou 40 outras, o que queria
JMS Eu nunca vi este filme. É um filme de Drew, não?
dizer que devo escolher aquilo que quero ver.
AM Sim, chama-se Yankee, no!
AM É exatamente o tipo de disciplina que Henri
JMS Sobre este filme, eu li em algum lugar que Cartier-Bresson praticava. E é a mesma disciplina
você disse que, se tivesse se preparado mais, não que eu pratico.
teria conseguido um material tão bom. E cito o que
você disse: “Quanto mais eu conheço uma pessoa,
mais eu fico em desvantagem”. Isto é um tipo de
“boutade” ou você quis dizer isto mesmo?

AM Não acho que seja bem assim. Isto seria forçar


um pouco a barra. Mas existe uma vantagem em não
conhecer uma pessoa, em não saber o que ela tem
de bom ou de mau. Durante o processo de filmagem,
chegamos a uma conclusão com a mente aberta.

JMS Se você fosse filmar Caixeiro-viajante com uma


câmera de vídeo, seria um filme fundamentalmen-
te diferente, uma vez que existe também uma certa
disciplina que a filmagem em 16 milímetros impõe…

AM Eu não vejo qualquer diferença, mas, por favor,


fale…

JMS Acho que é porque em película não se pode


filmar interminavelmente.

AM Minha resposta para isso seria: Henri Cartier-


Bresson estaria mais bem servido com uma Rolleyflex
de 12 exposições do que com uma Laika de 35? Diga.

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Filmes

PSYCHIATRY IN RUSSIA, 1955 - EUA (13min.) RUSSIAN CLOSE-UP, 1957 - EUA (33min.)
Classificação 14 anos Classificação Livre
Formato DCP Formato DCP
Dirigido e escrito por Albert Maysles Dirigido e filmado por Albert Maysles
Sinopse Em 1955 Albert Maysles viajou de motoci- Sinopse Diário visual de Albert Maysles com pessoas
cleta pela Rússia. Durante a viagem ele gravou seu e lugares encontrados ao longo de um passeio de
primeiro filme, uma visão sem precedentes dos hos- moto pela União Soviética no final da década de 1950.
pitais psiquiátricos soviéticos.
Cut Piece

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SAFARI YA GARI, 1961 - EUA (10min.) ANASTASIA, 1962 - EUA (8min.)
Classificação Livre Classificação Livre
Formato DCP Formato Digital
Direção Albert Maysles Direção Albert Maysles e David Maysles
Edição Nell Cox Produção Bo Goldman
Som Gerald Feil Sinopse Trabalho do início da carreira dos irmãos
Produzido em parceria com Bob Drew Associates, Inc. Maysles para a emissora NBC. Produzido no auge da
Sinopse Este é o primeiro filme de viagem de Albert Guerra Fria pelo aclamado roteirista Bo Goldman,
Maysles, feito em uma estação de trem do Quênia, e aborda a vida de Anastasia Stevens, uma dançarina
capta uma performance musical improvisada. Alguns americana no Ballet Bolshoi.
passageiros se juntam fervorosamente, enquanto ou-
tros dormem - felizmente sem saberem o que ocorre
ao seu redor.

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SHOWMAN, 1963 - EUA (53min.) ORSON WELLES IN SPAIN, 1963 - EUA (10min.)
Classificação Livre Classificação Livre
Formato Digital Formato DCP
Direção e produção Albert Maysles e David Maysles Direção David Maysles e Albert Maysles
Câmera Albert Maysles Sinopse Frente a uma audiência de poderosos me-
Edição Daniel Williams com Tom Bywaters e Betsy Powell cenas, Welles pontifica sobre o estado do cinema, o
processo cinematográfico e a arte das touradas.
Narração Norman Rosten
Sinopse Showman segue o produtor cinemato-­
gráfico Joe Levine durante a promoção do filme
Two Women, com a performance vencedora

Acordeonista russo - foto de Albert Maysles (detalhe)


do Oscar de Sophia Loren.
WHAT’S HAPPENING! THE BEATLES IN THE USA, IBM: A SELF PORTRAIT, 1964 - EUA (35min.)
1964 EUA (70min.) Classificação Livre
Classificação Livre Formato DCP
Formato Digital Direção Albert Maysles e David Maysles
Direção Albert Maysles e David Maysles Câmera Albert Maysles
Edição Daniel Williams, Howard Milkin e Kate Glidden Produzido por IBM
Produção associada Stanley Hirson Sinopse Através do estilo intimista dos irmãos
Mixagem de som Dick Vorisek Maysles, o documentário capta o futuro dessa gigante
Produção Maysles Films Inc em associação com da informática na fase inicial do seu desenvolvimento.
Granada Television
Sinopse Um relato humorístico e encantador da pri-
meira viagem dos Beatles à América.

46 Christo’s valley curtain


CUT PIECE, 1966 - EUA (8min.) MEET MARLON BRANDO, 1966 - EUA (27min.)
Classificação Livre Classificação 12 Anos
Formato DCP Formato DCP
Direção e produção Albert Maysles e David Maysles Direção Albert & David Maysles
Sinopse Filmado no Carnegie Hall, em Nova York, Edição Charlotte Zwerin
Cut Piece documenta uma das peças conceituais Sinopse Jornalistas de toda a América encontram
mais poderosas de Yoko Ono. Realizado pela própria Marlon Brando em um quarto de hotel de Nova York
artista, Ono fica imóvel no palco depois de convidar o para entrevistá-lo sobre seu novo filme, Morituri. Um
público a subir e cortar suas roupas em um desenla- retrato encantador e inusitadamente sincero dessa
ce da reciprocidade entre vítima e agressor. estrela de cinema mundialmente famosa.

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WITH LOVE FROM TRUMAN, 1966 - EUA (29min.) CAIXEIRO-VIAJANTE, 1969 - EUA (90min.)
Classificação 14 Anos Classificação 12 Anos
Formato Digital Formato DCP
Direção e Edição David Maysles, Albert Maysles e Direção Albert Maysles, David Maysles e Charlotte
Charlotte Zwerin Zwerin
Sinopse Este filme retrata um encontro íntimo com o Produção Albert Maysles and David Maysles
renomado autor Truman Edição Charlotte Zwerin
Capote em sua casa à beira-mar, onde Capote com- Contribuição na edição Ellen Giffard [Hovde]
partilha sua personalidade “autosuficiente” Assistente de edição Barbara Jarvis
com filosofia de boteco e piadas calculadas. Mixagem de Som Dick Vorisek
Segunda Câmera Haskell Wexler
Sinopse Quatro implacáveis caixeiros-viajantes lidam
com rejeição constante, nostalgia e o desgaste ine-
vitável ao atravessar os EUA vendendo bíblias caras
para famílias católicas de baixa renda.

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GIMME SHELTER, 1970 - EUA (91min.) CHRISTO’S VALLEY CURTAIN, 1974 - EUA (28min.)
Classificação 12 Anos Classificação 12 Anos
Formato 35mm / Digital Formato DIGITAL
Câmera David Maysles e Albert Maysles Direção David Maysles, Albert Maysles,
Direção David Maysles, Albert Maysles e Charlotte Ellen Giffard [Hovde]
Zwerin Edição Ellen Giffard [Hovde]
Edição Charlotte Zwerin Assistente de edição Susan Froemke
Contribuição na edição Ellen Giffard (Hovde), Produtor associado Thomas Handloser
Robert Farren, Joanne Burke e Kent McKinney Fotografia adicional Edward Lachmann,
Produtor associado Porter Bibb Roger Brown, Bill Trautvetter
Fotografia adicional Peter Adair, Baird Bryant, Sinopse Nomeado ao Oscar, esse documentário cele-
Joan Churchill, Ron Dorfman, Robert Elfstrom, bra a dramática caminhada do artista búlgaro Christo
Elliott Erwitt, Bob Fiori, Adam Giffard, sobre uma gigantesca cortina laranja instalada entre
William Kaplan, Kevin Keating, Stephen Lighthill, duas montanhas no Colorado.
George Lucas, Jim Moody, Jack Newman,
Pekke Niemala, Robert Primes, Eric Saarinen,
Peter Smokler, Paul Ryan, Coulter Watt, Gary Weiss,
Bill Yarrus
Som Michael Becker, John Brumbaugh,
Howard Chesley, Pepper Crawford, Stanley Cronquist,
Paul Deason, Tom Goodwin, Peter Pilafin, Orly Lindgren,
Walter Murch, Art Rochester, Nelson Stoll,
David Thompson, Alvin Tokunow
Sinopse O documentário sobre o histórico e trágico
concerto gratuito dos Rolling Stones no Altamont
Speedway em 6 de dezembro de 1969.
49
GREY GARDENS, 1976 - EUA (94min.) RUNNING FENCE, 1978 - EUA (57min.)
Classificação 12 Anos Classificação 12 Anos
Formato DCP Formato Digital
Direção David Maysles, Albert Maysles, Ellen Hovde Direção Albert Maysles e David Maysles
e Muffie Meyer Edição Charlotte Zwerin
Câmera Albert Maysles, David Maysles Assistente de edição Donald Klocek
Produtor associado Susan Froemke Câmera Albert Maysles e David Maysles
Edição Susan Froemke, Ellen Hovde e Muffie Meyer Som Lee Dichter e Nelson Stoll
Som Lee Dichter Fotografia adicional Stephen Lighthill
Sinopse Em 1973, um escândalo ocupou as manche- Música original Jim Dickinson
tes dos jornais americanos. Alegando falta de condi- Sinopse O documentário retrata a longa luta dos
ções sanitárias, autoridades locais tentaram expulsar artistas Christo e Jeanne-Claude para construir uma
mãe e filha de Grey Gardens, uma mansão decadente cerca de 40 quilômetros de tecido branco sobre as
no balneário de luxo de East Hampton. Seria uma colinas da Califórnia que desaparecem no Pacífico.
notícia banal, não fossem elas as ex-socialites Edith O custo: 3 milhões de dólares.
Bouvier Beale e sua filha Edie, respectivamente tia
e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos
depois, Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas,
abrem as portas para os documentaristas Albert e
David Maysles.

50
MUHAMMAD AND LARRY, 1980 - EUA (27min.) VLADIMIR HOROWITZ: THE LAST ROMANTIC
1985 - EUA (88min.)
Classificação 14 Anos
Formato Digital Classificação Livre
Direção Albert Maysles e David Maysles Formato Digital
Produção executiva Marvin G. Towns Jr. e Direção Albert Maysles, David Maysles,
Clifton Towns Sr. Susan Froemke, Deborah Dickson e Pat Jaffe
Produção Keith R. Vyse e Deerlake Company Produção executiva Peter Gelb
Edição Kate Hirson, Janet Swanson Produção Susan Froemke
Assistente de câmera Robert Richman e Câmera Albert Maysles, David Maysles e Don Lenzer
David Gasperik Edição Deborah Dickson, Patricia Jaffe
Sinopse Com três títulos mundiais na categoria su- Som Lee Dichter and Lawrence Loewinger
perpesado, porque Muhammad Ali lutou com Larry Música original Jack Pfeiffer
Holmes pelo quarto em 1980? O que ele queria provar? Sinopse Horowitz explora sua última paixão - Mozart
- durante sua primeira gravação de estúdio em mais
de 35 anos. Sagacidade, sabedoria e uma performance
de maestro.

51
OZAWA, 1985 - FRA / JAP / ALE (56min.) ISLANDS, 1986 - EUA (56min.)
Classificação Livre Classificação 12 Anos
Formato DIGITAL Formato Digital
Direção David Maysles, Albert Maysles, Direção Albert Maysles, David Maysles e
Susan Froemke, Deborah Dickson Charlotte Zwerin
Câmera Albert Maysles e David Maysles Câmera Albert Maysles e David Maysles
Edição Deborah Dickson Edição Kate Hirson
Produção executiva Peter Gelb Música original Scott Cossu
Produção Susan Froemke Produção (Instalação Miami) Susan Froemke,
Direção de iluminação Michael Lesser Joel Hinman
Engenheiro de som Larry Loewinger Câmera Subaquática Jeff Simon
Câmera adicional Robert Leacock e Bob Richman Som Lee Dichter e Roger Phenix
Produção Maysles Films Inc. Production, em copro- Assistente de Câmera Bob Richman, Erich Roland e
dução com AT2 (França), CBS/SONY, NHK (Japão) e Rob Peterson
ZDF (Alemanha) Sinopse Em maio de 1983, por apenas duas sema-
Sinopse Uma imersão nos bastidores de uma das nas, a obra de Christo e Jeanne-Claude intitulada
figuras mais conhecidas e menos compreendidas “Surrounded Islands” brotou nas águas da baía de
da música clássica. Ozawa é diretor da Boston Biscayne, na Flórida. Onze ilhas de pinheiros foram
Symphony desde 1973 e, como um dos melhores ma- cercadas por 6 milhões de metros quadrados de
estros do mundo, apresenta-se em capitais musicais tecido rosa brilhante. Foi uma luta de três anos, um
como Berlim, Paris e Milão. drama político entremeado por outros dois projetos
em andamento: o embrulho da Pont Neuf, em Paris,
e o Reichstag, em Berlim.

52
HOROWITZ PLAYS MOZART, 1987 - EUA (50min.) JESSYE NORMAN SINGS CARMEN,
Classificação Livre 1989 - EUA / FRA (57min.)
Formato Digital Classificação Livre
Direção Albert Maysles, Charlotte Zwerin, Susan Formato Digital
Froemke Direção Susan Froemke, Albert Maysles,
Produção Susan Froemke, Peter Gelb Peter Gelb e Charlotte Zwerin
Edição Pam Wise Câmera Albert Maysles e Martin Schaer
Câmera Albert Maysles with Don Lenzer, Vic Losick e Produção Susan Froemke e Peter Gelb
George Bottos Produtores associados Nell Archer e Anne Cauvin
Produção Executiva Peter Gelb Co-produtores Maysles Films Inc., Antenne 2, BBC,
Assistente de Câmera James McCalmont, LA SEPT, NOS, Philips Classics, Radio France, ZDF
Christophe Lanzenberg, Franco Ceccarell, Sinopse O conto épico de sedução e traição conhe-
Franco Rosignoli cido como “Carmen” repaginado em uma nova e ra-
Sinopse Em março de 1987, o pianista Vladimir diante interpretação quando o grande talento, Jessye
Horowitz iniciou um projeto extraordinário. Pela Norman, interpreta-o pela primeira vez.
primeira vez em 35 anos ele concordou em gravar
com uma orquestra sinfônica em um estúdio. Ele
escolheu o maestro, Carlo Maria Giulini, a orquestra,
Filarmônica La Scala, e a localização, o estúdio de
gravação Abanella de La Scala, em Milão.

53
CHRISTO IN PARIS, 1990 - EUA (58min.) SOLDIERS OF MUSIC: ROSTROPOVICH
Classificação Livre RETURNS TO RUSSIA, 1991 - EUA (88min.)
Formato DIGITAL Classificação 12 Anos
Direção Albert Maysles, David Maysles, Deborah Formato DIGITAL
Dickson e Susan Froemke Direção Albert Maysles, Susan Froemke, Peter Gelb
Produção Susan Froemke e Bob Eisenhardt
Câmera Albert Maysles e David Maysles Câmera Albert Maysles e Ed Lachman com Wolfgang
Edição Deborah Dickson Becker e Martin Schaer
Câmera adicional Don Lenzer e Bruce Perlman Edição Bob Eisenhardt
Produtores associados Nell Archer e Valery Gaillard Produtor associado Nell Archer
Música original Wendy Blackstone Produção Susan Froemke e Peter Gelb
Sinopse Christo e Jeanne Claude em seu primeiro Co-produção Maysles Films Inc., with Channel Four,
projeto urbano de grande escala, envolvendo a pon- Nos, ORF, PBS, Sony Classical, ZDF
te mais antiga de Paris, a Pont Neuf, mesma ponte Sinopse Quando o violoncelista e maestro Mstislav
onde Christo cortejou Jeanne-Claude. O casal levou Rostropovich voltou para a União Soviética, depois de
10 anos para obter autorização da prefeitura de Paris 16 anos no exílio, mal conseguiu conter suas lágri-
para poder envolvê-la com tecido. mas, ou risadas.

54
ACCENT ON THE OFFBEAT, 1994 - EUA (56min.) UMBRELLAS, 1994 - EUA (81min.)
Classificação Livre Classificação Livre
Formato Digital Formato Digital
Direção Susan Froemke, Deborah Dickson, Direção Albert Maysles, Henry Corra e
Peter Gelb e Albert Maysles Grahame Weinbren
Produção Susan Froemke e Peter Gelb Direção de fotografia Albert Maysles e
Câmera Albert Maysles Robert Richman
Edição Deborah Dickson Trilha sonora original Phillip Johnston
Sinopse O documentário apresenta o processo de Co-produção Deborah Dickson
criação e a estreia do espetáculo Jazz, composto pelo Produção Henry Corra
virtuoso trompetista Wynton Marsalis e coreografado Fotografia adicional Gary Steele, Robert Leacock,
pelo corpo de ballet de Peter Marting, do New York Don Lenzer, Richard Pearce, Martin Schaer
City Ballet. O foco do filme é o incrível contraste – nos Produção associada Douglas Graves
bastidores, do temperamento, estilo e processo cria- Som Merce Williams, Ronald Yoshida, Peter Miller,
tivo – entre Martins e Marsalis, e como eles aproxi- Bruce Perlman e Roger Phenix
maram os distintos universos do jazz e do ballet. Edição Grahame Weinbren
Assistente de edição Sakae Ishikawa
Sinopse A controversa história da grandiosa obra de
arte do artista Christo que culminou na morte trá-
gica de dois espectadores no Japão e na Califórnia.
Ganhador do Grande Prêmio do Festival de Cinema
de Montreal, foi exibido no Museu de Arte Moderna da
NY e no Louvre, em Paris.

55
THE BEALES OF GREY GARDENS THE GATES, 2007 - EUA (94min.)
2006 - EUA (90min.) Classificação Livre
Classificação 12 Anos Formato Digital
Formato Digital Direção Antonio Ferrara, Albert Maysles,
Direção Albert Maysles, David Maysles e David Maysles e Matthew Prinzing
Ian Markiewicz Produção Antonio Ferrara, Maureen Ryan e
Produção Tanja Meding Vladimir Yavachev
Câmera Albert Maysles e David Maysles Direção de fotografia Albert Maysles e
Edição Ian Markiewicz Antonio Ferrara
Assistente de edição Caitlin Harris e Annie Venesky Edição Antonio Ferrara e Matthew Prinzing
Sinopse Uma declaração de amor aos fãs do filme Edição on-line Pat Kelleher
original (Grey Gardens) e às duas mulheres retrata- Edição associada Sabine Kertscher
das, construído inteiramente a partir de materiais Colorista Jane Tolmachyov
inéditos do arquivo dos irmãos Maysles. Direção 2ª unidade Andrew Kirst
Som Andrew Kirst, Roger Phenix e Matthew Prinzing
Supervisão de pós-produção Sabine Kertscher
Assistente de câmera Kit Pennebaker e Judy Hoffman
Sinopse Documentário sobre o processo de criação
e montagem da maior instalação artística pública
já feita em New York, uma obra de Christo e
Jeanne Claude.

56
SALLY GROSS – THE PLEASURE OF STILLNESS, IRIS, UMA VIDA DE ESTILO, 2014 - EUA (80min.)
2007 - EUA (52min.) Classificação 14 Anos
Classificação Livre Formato Blu Ray
Formato Digital Direção Albert Maysles
Direção Albert Maysles e Kristen Nutile Produção Laura Coxson, Rebekah Maysles e
Produção Tanja Meding Jennifer Ash Ruddick
Música Robert Poss Co-produção Paul Lovelace
Direção de fotografia Albert Maysles Edição Paul Lovelace
Edição Kristen Nutile Câmera Albert Maysles, Nelson Walker III e
Som Timothy Anderson e Andres Arredondo Sean Price Williams
Sinopse Documentário sobre a vida e o processo Som Mike Kara
artístico da aclamada dançarina e coreógrafa nova- Trilha Steve Gunn e Justin Tripp
-iorquina Sally Gross, que esteve envolvida em inú- Créditos Steve Powers e Jennifer Basnayt
meros movimentos artísticos nos últimos 50 anos e Elenco Iris Apfel, Carl Apfel, Billy Apfel, Alexis, Bittar,
ainda hoje influencia as novas gerações. Mickey Boardman, Linda Fargo, Tavi Gevinson,
David Hoey, Naeem Khan, Harold Koda, Jenna Lyons,
Duro Olowu, Margaret Russell, Dries Van Noten e
Bruce Weber
Sinopse A vida de uma lenda da moda e decoração, a
novaiorquina Iris Apfel, que aos 93 anos ainda acon-
selha modelos e pechincha com os compradores.

57
58
Participantes

Academia Internacional de Cinema (2015/16). Dirigiu


o longa-metragem Em busca de um lugar comum
Masterclass (2012), exibido em mais de 30 festivais no Brasil e no
exterior. Roteirizou e co-dirigiu com Maria Augusta
Jonathan B. Vogels
Ramos o curta metragem Ritos (2014), episódio da
Autor do livro The Direct Cinema of David and Albert
série documental A Copa do Mundo passou por aqui. É
Maysles, a maior publicação inteiramente dedicada à
responsável pelo som de mais de 30 filmes brasilei-
obra dos cineastas nos EUA e ainda inédita no Brasil.
ros produzidos na última década.
Doutor pela Universidade de Boston, é diretor da
Upper School na Colorado Academy, em Denver, onde
João Moreira Salles
leciona cinema e teatro, além de manter profícua
Diretor, roteirista e produtor cinematográfico, é um
atividade como dramaturgo.
dos maiores documentaristas do Brasil. Notícias de
uma Guerra Particular (1999), Nelson Freire (2003),
Debatedores
Entreatos (2004) e Santiago (2007) são alguns dos
Angelo Defanti seus principais documentários. Em 1987, fundou
Formado em Cinema, atua como diretor, roteirista e com seu irmão e também cineasta Walter Salles a
produtor. Dirigiu seis curtas, dentre eles Borá, Feijoada produtora VideoFilmes. Foi produtor de obras como
completa, Maridos, amantes e pisantes e Um dia. Dirigiu Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho,
ainda a série HQ - Edição especial com exibição na Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz, e Edifício
HBO. Atualmente, prepara seu primeiro longa-metra- Master (2002), de Eduardo Coutinho. Atua ainda como
gem de ficção, O clube dos anjos, e finaliza o docu- jornalista, tendo criado em 2006 a revista Piauí, para
mentário Verissimo, sobre o escritor gaúcho. Assinou a qual colabora na editoria e na realização de repor-
a curadoria das mostras As muitas vidas de Robert tagens e ensaios.
Altman (CCBB RJ, SP e DF), A elegância de Woddy
Allen (CCBB RJ e SP), Errol Morris, a vida real cabe no Patrícia Mourão
bolso (Caixa RJ) e Palavra em movimento - Filmes e Doutora em cinema pela Universidade de São
The beales of Grey Gardens

roteiros de Jorge Furtado (Caixa RJ e Recife). Integrou Paulo, com bolsa sanduíche na Columbia University.
comitês de seleção do Festival do Rio e Curta Cinema. Programou mostras no Brasil e no exterior, entre
Coordenou as 5 edições do Festival do Júri Popular. as quais: Intégrale Andrea Tonacci (Cinéma du Réel,
2017), Visões da Vanguarda (CCBB, 2016), Cinema
Felippe Schultz Mussel Estrutural (Caixa Cultural, 2015), Jonas Mekas (CCBB,
Cineasta, técnico de som e professor. Possui 2013), Harun Farocki: por uma politização do olhar
Mestrado em Estudos do Cinema e Audiovisual pela (Cinemateca Brasileira). Também atua como profes-
Universidade Federal Fluminense e foi coordena- sora e já lecionou no IMS-SP, MASP, MAM-SP e no
dor do Curso de Realização em Documentário da Instituto Tomie Ohtake.
30/11 Quinta 7/12 Quinta
16h00 Christo’s Valley Curtain (1974) 28’ + 16h00 Running Fence (1978) 57’ + Islands (1986) 56’
Christo in Paris (1990) 58’ 18h30 Umbrellas (1994) 81’
18h30 The Gates (2007) 94’
8/12 Sexta
1/12 Sexta 16h00 Vladimir Horowitz: The Last
16h00 Muhammad and Larry (1980) 27’ + Romantic (1985) 88’
Showman (1963) 53’ 18h30 Soldiers of Music: Rostropovich
18h30 The Beales of Grey Gardens Returns to Russia (1991) 88’
(2006) 90’
9/12 Sábado
2/12 Sábado 16h00 Sessão de Curtas:
16h00 Masterclass com Jonathan Vogels Psychiatry in Russia (1955) 13’ +
“O duradouro legado dos irmãos Maysles” Safari Ya Gari (1961) 10’ +
23h30 Gimme Shelter (1970) 91’ Anastasia (1962) 8’ +
Exibição especial em 35mm Orson Welles in Spain (1963) 10’ +
IBM: A Self Portrait (1964) 35’ +
3/12 Domingo
Cut Piece (1966) 8’ +
16h00 Grey Gardens (1976) 94’ Meet Marlon Brando (1966) 27’ +
18h30 Caixeiro-viajante (1969) 90’ Russian Close-Up (1957) 33’
4/12 Segunda 18h50 Grey Gardens (1976) 94’
23h30 What’s Happening! The Beatles
16h00 With Love From Truman (1966) 29’ +
in the Usa (1964) 70’
Jessye Norman Sings Carmen
(1989) 57’ 10/12 Domingo
18h30 Sessão de Curtas: 16h00 Christo’s Valley Curtain (1974) 28’ +
Psychiatry in Russia (1955) 13’ + Christo In Paris (1990) 58’
Safari Ya Gari (1961) 10’ + 18h30 Muhammad and Larry (1980) 27’ +
Anastasia (1962) 8’ + Showman (1963) 53’
Orson Welles in Spain (1963) 10’ +
IBM: A Self Portrait (1964) 35’ + 11/12 Segunda
Cut Piece (1966) 8’ + 16h00 Accent on the Offbeat (1994) 56’ +
Meet Marlon Brando (1966) 27’ + Sally Gross - The Pleasure of Stillness
Russian Close-Up (1957) 33’ (2007) 52’
18h30 The Beales Of Grey Gardens
5/12 Terça
(2006) 90’
16h00 Iris, Uma Vida de Estilo (2014) 80’
18h30 What’s Happening! The Beatles 12/12 Terça
in the Usa (1964) 70’ 16h00 Caixeiro-viajante (1969) 90’
18h30 Debate “Nem moscas nem paredes:
6/12 Quarta
empatia e dramaticidade no cinema
16h00 Horowitz Plays Mozart (1987) 50’ + dos Irmãos Maysles”,
Ozawa (1985) 56’ com João Moreira Salles e Patrícia Mourão
18h30 Accent on the Offbeat (1994) 56’ + e mediação de Felippe Mussel
Sally Gross – The Pleasure of Stillness
(2007) 52’ 13/12 Quarta
16h00 With Love From Truman (1966) 29’ +
Jessye Norman Sings Carmen (1989) 57’
18h30 Gimme Shelter (1970) 91’
IRMÃOS MAYSLES
A DISCIPLINA DO OLHAR
Realização Boulevard Filmes
Coordenação Geral Letícia Friedrich
Curadoria Angelo Defanti, Felippe Schultz Mussel e Nina Kopko
Produção Henrique Schuck
Produção Executiva Letícia Friedrich e Lourenço Sant’Anna
Design Gráfico Marcellus Schnell
Assistente de Produção Alessandro Danielli
Revisão de texto Felippe Schultz Mussel
Masterclass Jonathan B. Vogels
Debatedores Angelo Defanti, Felippe Schultz Mussel,
João Moreira Salles e Patrícia Mourão
Tradução e legendas All Dubbing / Felippe Schultz Mussel
Legendagem eletrônica Grupo 4 Estações
Vinhetas Alessandro Danielli
Assessoria de Imprensa Sinny Assessoria
Site Diversa / Silvana Andrade
Agradecimentos Barbara Defanti, Emílio Domingos,
Isabel Monteiro, Maya Da-Rin, Silvio Da-Rin e VideoFilmes

mostramaysles.com.br | facebook.com/mostramaysles

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