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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

JOÃO GUILHERME DE OLIVEIRA RODRIGUES


MARCELA DE JIÁCOMO MACHADO
TAÍSA ROCHA BACOCINA

DIMENSIONAMENTO DE BARRAGEM DE PEQUENO PORTE

APUCARANA
2021
JOÃO GUILHERME DE OLIVEIRA RODRIGUES
MARCELA DE JIÁCOMO MACHADO
TAÍSA ROCHA BACOCINA

DIMENSIONAMENTO DE BARRAGEM DE PEQUENO PORTE

Projeto de dimensionamento de uma pequena


barragem, elaborada na disciplina de Obras
Hidráulicas (OH68A) do curso de Engenharia
Civil, Campus Apucarana, da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná.
Professora Dr.: Andrea Sartori Jabur

APUCARANA
2021
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 3
2. OBJETIVO .............................................................................................. 3
3. MEMORIAL DE CÁLCULO ..................................................................... 4
3.1.DADOS INICIAIS..................................................................................... 4
3.2.DESARENADOR DE FUNDO ................................................................. 5
3.2.1.Vazão Ecológica ............................................................................... 6
3.2.2.Desarenador de Fundo ..................................................................... 6
3.3.VERTEDOR ............................................................................................ 7
3.3.1.Geometria do vertedor ...................................................................... 9
3.3.2.Canal extravasor............................................................................. 10
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 13
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 13
3

1. INTRODUÇÃO
Barragem nada mais é do que uma estrutura dimensionada como reservatório
para contenção e acumulação de substâncias líquidas ou de mistura de líquidos e
sólidos.
As barragens podem ter diversas finalidades, servindo para navegações,
turismo, hidrelétricas, contenção de águas e controle de enchentes. No caso de
pequenas barragens, a maioria são feitas de terra devido a sua facilidade construtiva,
constituída apenas de solo, esse tipo de barragem possui grande volume, pois
funcionam com o peso do aterro e possuem base larga, para distribuir o peso e
aumentar a seção de percolação e convêm fazê-las para que se tenha uma gestão
adequada dos recursos hídricos da bacia em questão.

2. OBJETIVO
O projeto em questão tem como objetivo fazer o dimensionamento de uma
barragem de porte pequeno, localizado em Santa Cruz do Rio Pardo- SP, como pode
ser observado na figura 1 a seguir:

Figura 1- Microbacia utilizada no projeto

Fonte: Software Google Earth, 2021


4

3. MEMORIAL DE CÁLCULO
Para o dimensionamento da barragem no local mostrado, foram definidos a
delimitação da bacia e o exultório da mesma, mostrados também na figura 1. A partir
dessa definição, foram seguidos alguns passos até que a barragem estivesse
totalmente dimensionada, dimensionados a estrutura “bruta” da pequena barragem, o
desarenador de fundo, o vertedor e o canal extravasor da jusante. Como material de
auxílio foi utilizado o capítulo 4 do Livro “Projeto de pequenas barragens”, fornecido
pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).

3.1. DADOS INICIAIS


A princípio, foram escolhidas algumas dimensões da barragem de terra, de sua
estrutura em si. Foram elas a altura (𝐻) formada pela lâmina d’água do lago de
inundação da montante, de 8m, e a folga vertical, de 1m, totalizando 9m; a largura
(𝐿𝑐) da crista da barragem, a qual será utilizada como via de transporte de mão dupla,
com 10m; a inclinação do talude de montante (𝑇𝑚) e de jusante (𝑇𝑗), de 1 metro na
vertical por 3 e 2 metros na horizontal, respectivamente.
𝐻 = 9𝑚 (1)
𝐿𝑐 = 10𝑚 (2)
𝑇𝑚 = 1: 3 𝑚: 𝑚 (3)
𝑇𝑗 = 2: 3 𝑚: 𝑚 (4)

Com o conhecimento da altura da barragem, foi possível, com auxílio do


Software Google Earth, localizar e medir a área alagada (𝐴𝑙) da montante, buscando
o caminho pelo qual a elevação das bordas da barragem, obtida pela soma de 9m a
elevação do fundo de vale, persistia, e por consequência a largura (𝐶𝑏) da própria
barragem.
5

Figura 2 – Área alagada pela barragem.

Fonte: Google Earth, 2021.

𝐴𝑙 = 47.860𝑚² (5)
𝐶𝑏 = 272𝑚 (6)

Figura 3 – Disposição da barragem (em amarelo) e perfil de elevação.

Fonte: Google Earth, 2021.

3.2. DESARENADOR DE FUNDO


O desarenador de fundo é um canal, nesse caso circular, responsável pela
alimentação constante da jusante, de modo que, em períodos de escassez de água,
a jusante ainda tenha alguma vazão, mesmo que pequena. Para seu
dimensionamento é necessário que se conheça a vazão ecológica da região e a área
da bacia, inicialmente.
6

3.2.1. Vazão Ecológica


A vazão mínima, ou ecológica 𝑄7−10 é a vazão mínima de 7 dias de duração
e 10 anos de tempo de recorrência. Existe também a vazão 𝑄95% que é a vazão
mínima esperada em 95% do tempo, mas a vazão ecológica utilizada no presente
relatório foi a 𝑄7−10 do Rio Pardo, que tem ligação com a bacia em questão, medida
em 2017 e disponibilizada no “Relatório de situação dos recursos hídricos da bacia
hidrográfica” pelo comitê da bacia hidrográfica do pardo.

𝐴 = 2,35𝑘𝑚² (7)
𝐿
𝑄95% = 3,337 𝑠.𝐾𝑚2 . 2,35𝑘𝑚² (8)

𝑄95% = 0,007841 𝑚3 /𝑠 (9)

Onde:
• 𝐴 é a área da bacia;

3.2.2. Desarenador de Fundo


O desarenador é um canal que cruza toda a extensão da barragem entre a
montante e a jusante em sua base. Ele serve pra que em épocas de seca a jusante
não fique com vazões críticas e é dimensionado como orifício pequeno:

𝑄 = 𝐶𝑑 ∗ 𝐴𝑜 ∗ √2 ∗ 𝑔 ∗ ℎ (10)

Como existe supressão na saída da tubulação, é necessário que se aplique um


coeficiente de descarga (𝐶𝑑) modificado por um parâmetro de supressão. Sendo
assim, tem-se que:
𝜋 .𝐷𝑜2
𝐶𝑑′ = 𝐶𝑑 ∗ (1 + 0,15 ∗ 𝐾) ∗ ∗ √2 . 𝑔 . ℎ (11)
4

𝐶𝑑 = 0,61 (12)
𝐾 = 0,25 − 𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑒çã𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 (13)
𝜋∗ 𝐷𝑜2
𝐴𝑜 = (14)
4

Onde:
• 𝐶𝑑 ′ é o coeficiente de descarga modificado;
7

• 𝐾 é o parâmetro de supressão da seção;


• 𝐴0 é a área da seção circular do desarenador;
• 𝐷0 é o diâmetro do desarenador;
• 𝑔 é a gravidade;
• ℎ é a altura da barragem;

Portanto:
𝜋 .𝐷𝑜2
𝑄95% = 𝐶𝑑 ∗ (1 + 0,15 ∗ 𝐾) ∗ ∗ √2 . 𝑔 . ℎ (15)
4
𝜋 .𝐷𝑜2
0,007841 = 0,61 ∗ (1 + 0,15 ∗ 0,25) ∗ ∗ √2 . 9,81 . 9 (16)
4

𝐷𝑜 = 35,57𝑚𝑚 (17)

Nesse caso, como o diâmetro do desarenador foi menor que 800mm, deve ser
adotado o diâmetro mínimo de 800mm e posicionada uma comporta em sua saída, de
forma a realizar a manutenção do lago de enchente da montante em períodos de
cheia.

3.3. VERTEDOR
O dimensionamento do vertedor, que é o canal de passagem de água à crista
da barragem se dá primeiramente ao cálculo da vazão de projeto do local.
Para o cálculo da vazão, é necessário primeiramente ter a intensidade
pluviométrica da cidade em questão. Como o grupo não encontrou informações sobre
a intensidade pluviométrica de Santa Cruz do Rio Pardo, utilizou-se as informações
da cidade de Cambará- PR, que fica a um raio de 62,5km de Santa Cruz do Rio Pardo.
A intensidade pluviométrica (I) de Cambará (Frierich,1992) está especificada abaixo.

1772,96 ∙𝑇𝑟 0,0126


i= (𝑡𝑐+17)0,867
(18)

Sendo:
1/3
𝐿2
𝑡𝑐 = 5,3 ∙ ( ) (19)
𝐼

Onde 𝐿 é o maior comprimento axial da bacia hidrográfica (2,21 km) e 𝐼 a


declividade média da área da bacia (4,5 m/m) e 𝑡𝑐 é o tempo de escoamento da bacia,
8

que deve ser, para projeto, maior que 10 minutos. Adotando então o tempo de retorno
(𝑇𝑟) de 100 anos, temos que:
1
2,212 3
𝑡𝑐 = 5,3 ∙ ( ) = 5,4467 min → 𝑡𝑐 = 10 𝑚𝑖𝑛 (20)
4,5

1772,96 ∙1000,0126
i= (10+17)0,867
= 181,85 𝑚𝑚/ℎ (21)

Para iniciar o dimensionamento, é necessário o cálculo da vazão máxima que


pode passar pelo local, utilizou-se a fórmula do método racional modificado para tal:

𝑄 = 0,278 ∗ 𝐶 ∗ 𝑖 ∗ 𝐴0,9 (22)

Onde:
𝑄 - Vazão (m³/s);
𝐶 - Coeficiente de escoamento superficial;
𝐴 - Área da bacia (km²).

De acordo com Franco (2004), o coeficiente de escoamento superficial (C), é o


valor adimensional que demonstra a quantidade de água da chuva que é transformada
em escoamento superficial. Desta forma, o valor é dado por uma série de fatores,
como o tipo de solo e a bacia em questão.
Assim, para definir o coeficiente C, analisou-se as zonas identificadas na bacia
e definiu-se os valores para estas áreas com base em notas de aulas e com os
conhecimentos dos projetistas sobre a região. Com estes, realizou-se uma média
ponderada de acordo com as áreas relativas a partir da equação 4 abaixo, obtendo o
quadro 1 a seguir.

∑ 𝑨𝒏 ×𝑪′𝒏
𝐶= (23)
∑𝑨𝒏

Onde:
𝐶 - Coeficiente de escoamento superficial de projeto;
𝐶′ - Coeficiente de escoamento superficial relativo;
𝐴 - Área da zona respectiva.
9

Quadro 1 – Valores de C de acordo com a bacia do projeto


Zona Área (km²) Coeficiente C Adotado
Área Industrial com alta permeabilidade 0,72 0,35
Vegetação Rasteira / Gramínea 1,63 0,25
Total ponderado 2,35 0,28064
Fonte: Os autores.

Com o coeficiente final adotado (𝐶 = 0,28064), o valor da vazão de projeto


será:

𝑄 = 0,278 ∗ 0,28064 ∗ 181,85 ∗ 2,350,9 (24)


𝑸 = 𝟑𝟎, 𝟔𝟏 𝒎³/𝒔 (25)

3.3.1. Geometria do vertedor


Para o cálculo das dimensões do vertedor, foi adotada uma altura (ℎ𝑙) de lâmina
d’água no vertedor de 0,5m e utilizada a seguinte formulação:

𝑄 = 𝜇 ∗ 𝐿𝑣 ∗ ℎ𝑙 ∗ √2 ∗ 𝑔 ∗ ℎ𝑙 (26)
𝜇 = 0,35 (𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑎) (27)
30,61 = 0,35 ∗ 𝐿𝑣 ∗ 0,5 ∗ √2 ∗ 9,81 ∗ 0,5 (28)
𝐿𝑣 = 60,55𝑚 (29)

Onde:
• 𝜇 é coeficiente de dimensionamento fornecido pelo DAEE;
• 𝐿𝑣 é o comprimento do vertedor;
• ℎ𝑙 é a altura de lâmina d’água no vertedor;

As paredes do vertedor são de concreto e tem sua espessura (𝑒) dimensionada


por:
2
𝑒 = 3∗𝐻 (30)
2
𝑒 = 3 ∗ 0,5 = 0,333𝑚 (31)

𝑒 = 33,33𝑐𝑚 ≅ 35𝑐𝑚 (32)


10

3.3.2. Canal extravasor


Já com todas as dimensões da barragem e do vertedor, é possível verificar com
auxílio do Software Google Earth a questão do canal extravasor, que nada mais é que
o canal que conduzir a água passante pelo vertedor até o curso natural, novamente.
Dessa forma, verificou-se as cotas verticais de entrada (𝐻𝑖) e saída (𝐻𝑓) e o
comprimento (𝐿𝑐) do canal utilizado.

Figura 4 – Disposição e perfil de elevação do Canal extravasor.

Fonte: Google Earth, 2021.

𝐻𝑖 = 505𝑚 (33)
𝐻𝑓 = 493𝑚 (34)
𝐿𝑐 = 224,61𝑚 (35)

Com isso, foi possível verificar a inclinação (𝐼) do canal:

𝐻𝑖−𝐻𝑓 505−493
𝐼= = = 0,0534 𝑚/𝑚 (36)
𝐿𝑐 224,61

Com uma folga de 0,5m, o canal foi dimensionado retangular, com concreto no
fundo e pedra argamassada em suas laterais, obtendo um coeficiente de rugosidade
(𝑛) de 0,025. Sendo assim, os dados foram jogados no Software Canal afim de serem
obtidas informações relevantes como velocidade de escoamento (𝑉), lâmina d’água
no canal extravasor (𝛾𝑚 ) e número de Froude (𝐹𝑟).
11

Figura 5 – Disposição de dados no Software Canal.

Fonte: Software Canal, 2021.

Figura 6 – Relatório emitido pelo Software Canal.

Fonte: Software Canal, 2021.

𝑉 = 2,978𝑚/𝑠 (37)
𝛾𝑚 = 0,184𝑚 (38)
𝐹𝑟 = 2,216 (39)
12

Com a verificação do alto número de Froude, constatou-se que seriam


necessários dissipadores de energia ao longo do canal extravasor. Adotando-se um
dissipador semelhante a uma escadaria, com quedas (degraus) de 0,15m múltiplas e
seguidas, com auxílio do Software Siscooh, obteve-se um número de quedas de 9,074
e, por isso, foram adotadas 10 quedas separadas por uma distância de 3,5m,
composta pela largura do ressalto hidráulico do sistema e o comprimento da queda
de água, calculados pelo programa e mostrados a seguir.

Figura 7 – Disposição de dados no Software Siscooh.

Fonte: Software Siscooh, 2021.

Figura 8 – Visualização do escoamento ao longo de um degrau do dissipador.

Fonte: Software Siscooh, 2021


13

Figura 9 – Dados obtidos pelo Software.

Fonte: Software Siscooh, 2021.

4. CONCLUSÃO
Após todos os cálculos feitos, chegou-se ao perfil final da barragem de pequeno
porte, que consiste em uma estrutura basicamente de terra, com uma altura de 9,0m,
contando com a folga de 1,0m. A sua área alagada é de 47,86 m² e largura total de
272 m. O desarenador de fundo foi estimado com um diâmetro de 800mm, já que é o
mínimo a ser considerado. O vertedor tem um comprimento de 60,55 m com paredes
de concreto com a espessura de 0,35 m, a inclinação do canal retangular do vertedor
é de 0,0535 m/m. Devido ao alto número de Froude, foi necessário a colocação de um
dissipador de energia, que consiste em uma escadaria com 10 quedas de 0,15 m,
espaçadas em 3,5 m entre uma e outra.

REFERÊNCIAS

GOMES, Matheus de Oliveira; TEIXEIRA, Rafael Lemos. ANÁLISE E


DESENVOLVIMENTO DE PROJETO CONSTRUTIVO DE UMA PEQUENA
BARRAGEM DE TERRA NO CÓRREGO DA CAVA – MORRINHOS/GO, COM
FOCO NA SEGURANÇA. 2017. 51 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Civil,
Departamento de Áreas Acadêmicas, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Goiás – Ifg, Aparecida de Goiânia, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ifg.edu.br/bitstream/prefix/126/3/tcc_Matheus%20Gomes_Rafael%
20Teixeira.pdf. Acesso em: 14 maio 2021.

BS, Fernando (ed.). Quando construíram as barragens no mundo? Como


criar um histograma no R: aprenda a utilizar histogramas no r para extrair
14

informações como quando as barragens ao redor do mundo foram construídas.


Aprenda a utilizar histogramas no R para extrair informações como quando as
barragens ao redor do mundo foram construídas. 2018. Disponível em:
http://2engenheiros.com/2018/01/30/barragens-histograma-no-
r/#:~:text=Por%C3%A9m%2C%20o%20marco%20da%20constru%C3%A7%C3%A3
o,barragens%20de%20armazenamento%20de%20%C3%A1gua. Acesso em: 14
maio 2021.

VALE. O que são barragens. Disponível em:


http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/servicos-para-comunidade/minas-
gerais/atualizacoes_brumadinho/Documents/PT/entenda-as-barragens-da-vale-
pt.html. Acesso em: 14 maio 2021.

Governo do Estado de São Paulo. Banco de Dados Hidrológicos. 2021.


Disponível em: http://www.hidrologia.daee.sp.gov.br/. Acesso em: 14 maio 2021.

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