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Título: Fase Oral e Obesidade

Não há como se falar sobre a temática proposta sem algumas considerações prévias de alguns conceitos da
Psicanálise.

Dentro de toda a teoria Psicanalítica proposta por Freud, certamente suas considerações a respeito do
Desejo, Libido e Sexualidade são, indiscutivelmente, junto com suas tópicas, o conteúdo básico para qualquer
entendimento a respeito do tema.

Dado o contexto da época no qual falar de sexualidade era falar sobre sexo; Freud foi corajoso ao expressar
suas ideias para o mundo, quebrando o tabu e demonstrando que a sexualidade a qual se referia, não era o
sexo propriamente dito, mas ia muito além disso.

A conceituação de sexualidade para Freud envolve toda a formação da personalidade e subjetividade do


sujeito, o fluxo e dinâmica das pulsões e a relação entre as estruturas psíquicas (Ics/Pcs/Cs e
ID/Ego/Superego).

Não há como entender a dinâmica psicosexual e suas implicações, sem um conceito primordial que é a libido.

Do latim desejo/prazer o libido é a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica do sujeito. Pode-se dizer
que é uma energia direcionada para que o sujeito “se mova” e conquiste algo prazeroso.

Freud propõe que as fases de desenvolvimento da libido podem ser organizadas em cinco etapas: fase oral,
fase anal, fase fálica, período de latência e fase genital.

Conceitualmente e didaticamente essas fases são bem divididas e estruturadas, e, apesar de


cronologicamente serem uma sequência, elas não são lineares nem possuem período exatos
pré-determinados de duração para cada uma delas. Um indivíduo pode permanecer mais ou menos tempo
em cada uma dessas fases, avanços ou retrocessos; além de ser possível um pouco de mistura entre elas; ou
seja, características de mais de uma fase ocorrendo ao mesmo tempo.

Importante notar que cada fase pode marcar a psique do sujeito de forma permanente.

Essas marcas são visíveis no decorrer das fases psicosssexuais, a que Freud nominou como pontos de
fixação.

Ao longo de seu desenvolvimento, por conta das experiências subjetivas vividas, há a possibilidade de
instalarem-se conflitos que vão de encontro ao curso de desenvolvimento considerado como “normal”.

Gera-se com isso os “pontos nodais” que fixam-se em um estágio do desenvolvimento e podem ser
retomados quando uma nova crise (representação emocional) acontecer na vida do sujeito.

Essa fixação acontece na infância e pré adolescência mas suas implicações; as fixações em alguma dessas
fases, pode retornar a qualquer momento na vida do sujeito, ocasião em que ocorreria uma regressão a uma
dessas fases.

Cada movimento de regressão tem referências e comportamentos diferentes que podem ter referência nas
diversas fases do desenvolvimento psicossexual.

Como citado anteriormente, as fases do desenvolvimento da libido propostas por Freud são cinco e para
melhor compreensão do tema Obesidade, vamos focar na fase oral.

Fase Oral
Tem duração aproximada que vai do nascimento até os 02 anos de idade. A zona erógena é a boca; ou seja,
é a boca que recebe o direcionamento da energia libidinal. Nessa fase é a boca que está atrelada ao prazer.

Além do direcionamento dessa busca pelo prazer, a boca também tem a função de incorporação e
identificação. Trata-se de uma fase auto-erótica, na qual as próprias experiências corporais do bebê vão
sendo registradas subjetivamente em sua mente.

Pode ser vista como uma fase em que o bebê vivencia novamente a proteção que tinha no útero da mãe;
sendo a boca uma zona que remete à proteção, segurança, alimentação, conhecimento e claro, prazer. Nessa
fase o bebê é completamente dependente.

Importante ressaltar que apesar da boca ser a protagonista, todos os outros sentidos fazem-se necessários,
coadjuvantemente, para o contato e comunicação com o mundo externo.

Comportamento muito característico dessa fase é o do bebê levar objetos à boca, “colocá-los para dentro”,
como uma tentativa de identificação.

Duas subdivisões dessa fase são possíveis: SUCÇÃO e ORAL-CANIBALÍSTICA

Na sucção (fase oral passivo-receptiva) o bebê recebe os conteúdos na boca (leite). Há uma busca pela
incorporação tanto física quanto psíquica.

A oral-canibalística (fase oral auto-incorporativa) o bebê já dispõe de certa autonomia sendo capaz de agarrar
objetos espontaneamente e levá-los até a boca. Ocorre aproximadamente quando do surgimento dos dentes.

A fixação na fase oral pode manifestar-se através de comportamentos, nos adultos, como falar demais/ser
bom orador, comer muito, beber, fumar, mascar chicletes (atividades que tem a boca como fonte de prazer)
além de dependência, medo do desamparo e baixa tolerância à frustração.

Essa regressão pode ser motivada tanto por conteúdos gratificantes como “traumáticos”.

Nesse sentido, e colhendo também alguns conceitos dos módulos estudados até então, devemos lembrar que
a pulsão libidinal é dirigida a uma determinada zona erógena, dependendo da fase do desenvolvimento da
libido.

A organização psíquica do sujeito se dará com todas essas vivências e dinâmicas das fases, e como estamos
com foco na fase oral, é de se esperar que a seja dirigida para boca. Há os movimentos de introjeção e
projeção, pelos quais a criança começa a entender o mundo que a rodeia, uma forma de se comunicar com o
mundo.

Porém, nessa fase inicial o bebê ainda não tem a capacidade cognitiva de diferenciar que estímulos fazem
parte da satisfação dos seus desejos; se são de origem interna ou externa. Nesse contexto, a mãe passa a
ter o papel de gerir as pulsões da criança.

Quando há um “descompasso” nessa gestão, podem surgir conflitos psíquicos enquanto da formação da
psique da criança, que pode desenvolver uma compulsão alimentar como um sintoma dessa “falta” que sofreu
na fase oral.

A relação entre sujeito e comida não explica sozinha e por completo os reais motivos de comer em excesso e
por isso, é importante que cada caso seja estudado em particular, pois a libido pode, enquanto sintoma, ser
direcionada para qualquer objeto; e com isso, a relação entre sujeito e objeto deve ser também esclarecida
pelo analista.

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