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196.01 história
sinopses
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original: português
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196
196.00 história
O porto do Rio de
Janeiro no contexto das
reformas urbanas de fin
du siècle (1850-1906)
Paulo Cesar dos Reis
196.02 restauro
Casa Bonomi
Atemporalidade
arquitetônica
Fábio Chamon Melo
196.03 cinema
De outros cinemas
Oasis Collage, Archigram, Ron Herron Ellen de Medeiros Nunes
Imagem divulgação [Archigram Archives]
196.04 urbanismo
Habitação social como
Imersos em um Universo prático em que as atenções teimam em se voltar urbanismo
para a execução e fotografar o que já fora polido e permanece de pé, as Proposta pedagógica
ideias parecem encafuar-se junto às fundações para lá perdurarem para um mestrado
enquanto, sobre seus ombros tortos escoram as vigas e vidraças límpidas a profissional em desenho
refletir as esparsas nuvens no céu ou as tempestades chuvosas a que não urbano
deixam de estar sujeitos os engenhos. O presente artigo busca, nas Zeca Brandão
próximas páginas, trazer à superfície tais ideias e sujeitá-las às
intempéries do tempo, situando-as no contexto arquitetônico e social 196.05 tipologia
sobre o qual cresceram e a que deram origem. Numa breve amostra deste Niemeyer e o modelo do
objetivo, elegemos o grupo Archigram (1), famoso pela radicalidade semi-duplex
análoga à sua época (1960’s) e cerne de ideais claramente utópicos e Uma inovadora proposta
desmembrados da responsabilidade construtiva, para reter seu peso e habitacional na década
avaliá-lo quanto aos dias de hoje (2010’s). dos cinquentas
Alejandro Pérez-Duarte
Archigram Fernández e Talita
Silvia Souza
O homem pisa na lua, é possível avistá-lo do sofá de casa. Capacete 196.06 reciclagem
grande, roupa branca, um tanto desajeitada, a abrigar numerosos tubos e Preexistência
conectores, uma bandeira em mãos e algo indecifrável ao fundo, designado industrial-ferroviária
“Módulo Lunar Apollo XI”. Na imensidão negra em que tais imagens se à margem de Ouro Preto
projetam, a certeza vinda da TV a cores de que o futuro se adiantara para Da fábrica de tecidos
o presente. Dentro dos limites atmosféricos, sons de guitarras elétricas ao museu de Paulo
e pedaleiras passam a ecoar com mais frequência e a rebeldia juvenil Mendes da Rocha
ganha novos cortes de cabelo, trajes circenses e sapatos plataforma. A Bruno Tropia Caldas
Terra parece girar um tanto mais rápido que na década anterior. Os
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Beatles, que até então, entoavam “Love Me Do” vestidos de terno e 196.07 urbanismo
gravata, dão lugar a excentricidade psicodélica de “Lucy In The Sky With Desenho ambiental e
Diamonds” aposentando o paletó e a candura infantil. forma urbana
O caso do bairro de
Riverside
Evy Hannes
196.08 critic
Architectural Zeitgeist
in Latin America
And its architecture of
gravity
Andrés Felipe Calderón
Composta por Peter Cook, Ron Herron, David Greene, Dennis Crompton,
Michael Webb e Warren Chalk, dentre outros contribuintes esporádicos, a
revista se apresentou entre 1961 e 1974 munida de uma estética semelhante
à Pop Art, movimento artístico pós-moderno dos anos 60, caracterizado
pelas cores vibrantes e aspecto massivo de ênfase publicitária, e
inúmeras ideias doidivanas, tais como as “Walking Cities”, mistos de
cidades-robôs, dotadas de inteligência própria e incríveis recursos
tecnológicos a lhes permitir transitar sobre oceanos e conectarem-se,
metamorfoseando dentre pequenos arraiais tecnológicos às extravagantes
megalópoles móveis, idealizadas por Ron Herron (1930-1994) ou a “Plug-in
City”, projetada pelo principal expoente do Archigram, Peter Cook (1936),
uma megaestrutura em constante mutação, enraizada nas lógicas capitalista
e “high-tech” que expandiam-se de modo vertiginoso, agregando valores
individuais e a trivialização do consumo orientado para a rápida
obsolescência dos produtos às novas gerações. Assim como Herron, Cook
expandira junto à “Plug-in City” (1964), o conceito nômade segundo o
qual, o futuro deverá ser nada mais que um composto de lapsos temporais,
cada vez mais curtos, a serem constantemente repaginados para dar espaço
ao novo. Suas estruturas são transitórias e flexíveis baseadas em módulos
de encaixe, facilmente substituídos. No entanto as ideias futurísticas
carregam, além da clara influência mercantilista, uma inspiração física
recente. Em seu livro Archigram: arquitetura, sem arquitetura (2) Simon
Sadler, professor da Universidade da Califórnia, sugere que “A estética
do incompleto, evidente em todo o sistema plug-in, e evidente nas
megaestruturas precedentes, pode ter derivado das obras de construção que
acompanharam a reconstrução econômica da Europa”.
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. David Greene, Warren Chalk, Peter Cook, Mike Webb, Ron Herron e Dennis
Crompton, Grupo Archigram
Imagem divulgação [Archigram Archives]
Plug-In Office Stacks And Housing For Charing Cross Road, Archigram, Peter
Cook, 1963
Imagem divulgação [Archigram Archives]
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revelando a interpretatividade do discurso e os infinitos significados
sob os quais se podem transitar em uma mesma “verdade”. Nasce a partir de
então o intento desconstrutivista, replicado fortemente pelo grupo
Archigram, segundo o qual objetos de estudo recebem novos significados e
são recaracterizados mantendo seu fim existencial e trazendo à luz
paradoxos e contradições ocultas, que ampliam seus sentidos e revelam
novos usos. O sitio urbano, desta forma, até então entendido como espaço
delimitado, estático e relacionado à terra se engrandece diante das novas
regras às quais se submete, dotadas de um novo significado que fora
adiado antes e infindáveis significados a serem adiados posteriormente,
compreendida por tanto no conceito de “diferência” elucidado por Derrida
(5).
Ainda que não tenham erguido nenhum edifício ou habitado oceanos durante
o período da Archigram, Peter Cook e Ron Herron executaram obras um tanto
quanto extravagantes em memória à revista, patenteando a exequibilidade
do imaginário como forma palpável. Cook, professor de arquitetura, ainda
em atividade na Universidade de Harvard, reuniu-se em 2006 com Gavin
Robotham, idealizador do projeto de interior do Magna Center em
Rotherham, para dar origem ao Studio CRAB – Cook Robotham Architectural
Bureau (7). Dentre suas obras mais peculiares destaca-se o museu
Kunsthaus Graz, projetado em 2003, antes da união com Gavin, na cidade de
Graz na Áustria, a incorporar grande parte do espírito da magazine em
suas curvas blob ferozmente destoantes do entorno plácido e regimental
sobre o qual parece se expandir. Herron, também catedrático, na
University of East London, apesar de não entoar em suas obras posteriores
o espírito tecnológico sob o qual idealizou “Walking City”, manteve em
seus trabalhos a estética orgânica e indefinida trabalhada pela
Archigram. Em sua edificação mais aclamada, “Imagination Headquarters”,
Ron ergue, sobre uma escola de fachada vitoriana, em tração inusual, uma
cobertura tencil, promotora de uma conversa entre as linhas eruditas e o
ideal contemporâneo plástico que parece flutuar trespassado pela luz que
se contem ao encarar as paredes.
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É nítida a proliferação de inúmeras vanguardas artísticas e
arquitetônicas, no século XX, que tinham como escopo, manifestos e
eventos a sublinhar e definir as propostas e os ideais de cada novo grupo
artístico. A Archigram, no entanto, surge como pivô na suspensão desse
rito fazendo do projeto, método estritamente objetivo, o roteiro
principal na promoção de uma utopia crítica e abstrata.
Conclusão
A utopia, como apontado por Reinhould, não se vale de seu fim, mas de seu
meio (10). A fantasia por trás das experiências teóricas propostas por
grupos arquiteturais, dentre eles o Archigram, apontam para um percurso
possível, sem destino final e limitações práticas. O campo da teoria, por
onde caminham, revela-se demasiadamente plástico, dispensa limites
executórios e materiais, é exclusivamente desejo e pretensão. Sua causa
está, não na linha de chegada, mas cá, antes do traço de partida, um
esboço por onde se pode caminhar.
Como coloca Reinhould, a utopia não é lugar nenhum ao mesmo tempo que é
todo lugar. Esse período de experimentações utópicas que não se limita à
Archigram, se compreende em tentativas de traçar caminhos para o momento
histórico que viviam. E por isso entendemos a direção para o qual o homem
apontará seus anseios e tentará alcançar. Sua inexequibilidade é a
consequência do ideal e ainda que não tenha erguido aparatos físicos, foi
de importância fundamental para que agentes do espaço, posteriores, o
fizessem, abraçando seus princípios. Logo, a repercussão de ideais
teóricos e práticos não está à margem da arquitetura, e sim num misto de
elementos que compreendem seu núcleo e nos permitem reinventá-la numa
indagação perene.
notas
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1
Sobre o Archigram, ver: UNIVERSITY OF WESTMINSTER. The Archigram Archival
Project. Disponível em: <http://archigram.westminster.ac.uk/>; ARCHIGRAM,
Grupo. A Guide to Archigram 1961-1974. Londres, Academy Editions, 1994; SILVA,
Marcos Solon Kretli da. Redescobrindo a arquitetura do Archigram. Arquitextos,
São Paulo, ano 04, n. 048.05, Vitruvius, maio 2004
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.048/585>.
2
SADLER, Simon. Archigram: Architecture Without Architecture. Cambridge, MIT
Press, 2005.
3
NIETZSCHE, Friedrich. Fragmentos póstumos. Rio de Janeiro, Forense, 2012;
MARTINS, Jason da Silva. A vida como fenômeno estético: Schiller e Nietzsche.
Revista Humus, São Luís (Maranhão), v. 2, n. 6, 2012
<www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/view/1553>.
4
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
5
Sobre Jacques Derrida, ver: DORFMAN, Beatriz Regina. Arquitetura e
representação: as casas de papel, de Peter Eisenman e textos da desconstrução,
de Jacques Derrida, anos 60 a 80. Tese de doutorado. Orientador Fernando Fuão.
Porto Alegre, FA UFRGS, 2009.
6
CABRAL, Cláudia Piantá Costa. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo
Horizonte, v. 11, n. 12, , dez. 2004 p. 247-263.
7
CRAB Studio. Projects/About. Disponível em <www.crab-studio.com>.
8
COOK, Peter. In GAMAL, Ahmed; SHAWKY, Ahmed; HAMMOUDA, Kareem; ABDULKARIM,
Mazin; FAISSAL FARID, Moataz. Zawia, v. 2, n. 1 (Utopia) Cairo, 2013. Tradução
dos autores. Texto original: “Back to Archigram, I think we were all people
that were very interested in architecture and pushing it forward and for it to
do better things and that was it. OUR Utopianism, if that’s what it was, was
pushing architecture to do more. To be more acquisitive of what was around. We
enjoyed enjoying that! We enjoyed saying: That is not just some highfalutin
thing discussed in academia. Lets go out there and show what we can do!”.
9
COLEMAN, Nathaniel. Utopias and Architecture. Nova York, Routledge, 2005.
10
REINHOLD, Martin. In NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura.
São Paulo, Cosac Naify, 2010.
sobre os autores
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